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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Medicina Veterinária Ana Letícia Puretz Ramos INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA (IRC) Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário. Professor Orientador: Dr. Ricardo Maia Orientador Profissional: Drª. Suely Nunes Esteves Beloni CURITIBA 2006 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todos que estiveram presentes em minha vida durante os cinco anos de minha graduação e, de alguma forma, me apoiaram em minhas decisões e compartilharam momentos comigo. AGRADECIMENTOS Agradeço à minha mãe Tânia L. P. Ramos, pelo apoio em toda a minha vida. Agradeço a todos os meus amigos, que sempre me ajudaram quando precisei. Agradeço ao meu orientador Dr. Ricardo Maia, por tudo o que me ensinou, dentro e fora da sala de aula. SUMÁRIO LISTA DE TABELAS......................................................................... i RESUMO............................................................................................ ii ABSTRACT........................................................................................ iii 1 INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA............................................... 1 2 CONCLUSÃO.................................................................................. 17 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................... 18 1. INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA (IRC) A insuficiência renal ocorre quando a função do rim deteriorou-se a tal ponto que os rins não podem mais realizar suas funções normais de excretar resíduos, manter o equilíbrio de água e eletrólitos e produzir hormônios. A insuficiência renal ocorre nas formas aguda e crônica. A insuficiência renal aguda é de início recente e potencialmente reversível. Ao contrário, insuficiência renal crônica esteve presente por meses a anos no momento do diagnóstico e é irreversível. Os cães e gatos com insuficiência renal crônica não podem ser curados, mas seus sinais clínicos freqüentemente podem ser tratados com sucesso (ETTINGER e FELDMAN, 2004). Ocorre insuficiência renal quando aproximadamente 75% dos néfrons de ambos os rins param de funcionar (NELSON e COUTO, 1998). A insuficiência renal crônica, a doença renal mais comum em cães e gatos, é definida como a insuficiência renal primária que persistiu por um período prolongado, em geral de meses a anos (ETTINGER e FELDMAN, 2004). A insuficiência renal crônica (IRC) é caracterizada pela incapacidade dos rins funcionarem adequadamente devido à perda progressiva de função por um período de meses a anos (SMEAK, 1998). MERCK, em 1996, também caracterizou-a da mesma forma. As alterações fisiopatológicas produzidas pela IRC resultam da incapacidade renal em realizar a função excretora, reguladora e de síntese normais. A incapacidade em realizar funções reguladoras leva a alterações no equilíbrio eletrolítico, acido base e hídrico. Se houver falha na produção de eritropoietina, ocorrera a anemia não regenerativa. Já a redução da conversão de vitamina D em seu metabolismo ativo causa prejuízo da absorção intestinal de cálcio e, conseqüentemente, prejuízo na eficácia do paratormônio no osso, e hiperparatireoidismo secundário renal (SMEAK, 1998). Alguns hormônios também podem ter a sua concentração plasmática aumentada, como a insulina, a gastrina e o glucagon, o que ocorre por não haver degradação de polipeptídios pelas células tubulares proximais (CHEW e DIBARTOLA, 1992). Embora freqüentemente seja considerada doença de animais mais velhos, a IRC ocorre com freqüência variada em cães e gatos de todas as idades. Em um inquérito que envolveu 170 pacientes caninos e 36 felinos com IRC, a idade média do diagnóstico foi de 7 anos para os cães e de 7,4 anos para os gatos. Em outro estudo de 119 cães com IRC, a idade média do diagnóstico foi de 6,5 anos. Em uma revisão de insuficiência renal em gatos, 53% dos animais acometidos tinham mais de 7 anos, mas a idade dos gatos variou de 9 meses a 22 anos. Em um estudo de 80 gatos com IRC, a idade média foi de 12,6 anos. A insuficiência renal foi identificada com maior freqüência em gatos das raças Maine Coon, Abissínia, Siamesa, Azul da Rússia e Birmanesa. Embora a insuficiência renal ocorra menos comumente em cães do que em gatos, sua incidência aumenta de forma semelhante com a idade. Dezoito por cento dos cães com insuficiência renal tinham menos de 4 anos, 17% estavam entre 4 e 7 anos, 20% entre 7 e 10 anos e 45% tinham menos de 10 anos (ETTINGER e FELDMAN, 2004). A IRC pode ser produzida por questões congênitas ou adquiridas. Quando há a ocorrência da mesma em animais jovens, suspeita-se de defeitos congênitos/familiares (tabela 1). Porém, na maioria dos animais a IRC consiste em uma doença adquirida. As causas para a IRC adquirida podem ser varias, mas em muitas vezes a causa subjacente especifica não e identificada. Qualquer que seja a causa do dano ao néfron, a IRC e uma doença geralmente progressiva e sempre e irreversível (SMEAK, 1998) TABELA 1 - Doenças familiares e congênitas que causam IRC em cães e gatos. RAÇA NEFROPATIA Gato Abissinio Amiloidose renal Basenji Disfunção tubular renal Beagle Agenesia renal unilateral Caim Terrier Nefropatia policistica Cocker Spaniel Fibrose tubulointersticial Hipoplasia cortical renal Doberman Glomeruloesclerose Gatos de pelo longo domestico e persas Nefropatia policistica idiopatica Displasia renal Lhasa Apso Fibrose tubulointersticial Elkhound Norueguês Telangiectasia Pembroke Welsh Corgi Atrofia glomerular Samoieda Displasia renal Shih Tzu Displasia renal Fonte: BICHARD, S.J. e SHERDING, R.G. Manual Saunders: Clinica de Pequenos Animais. São Paulo: Roca, 1998, p. 906-10. Segundo Ettinger e Feldman (2004), a IRC adquirida pode resultar de qualquer processo patológico que cause lesão aos glomérulos, aos túbulos, ao interstício e/ou à vasculatura renal e cause perda irreversível suficiente dos néfrons funcionais para resultar em insuficiência renal primária. Independentemente do diagnóstico patológico, os fatores responsáveis pelo início da IRC permanecem obscuros na maioria dos cães e dos gatos. As glomerulopatias foram relacionadas a uma variedade de processos inflamatórios, neoplásicos, metabólicos, infecciosos e não-infecciosos (ETTINGER e FELDMAN, 2004). Algumas das afecções infecciosas e inflamatórias produzem primariamente doenças tubulointersticiais e outras produzem primariamente lesões renais glomerulares. Porém todas as estruturas glomerulares estão comprometidas uma vez estando desenvolvida a IRC (SMEAK, 1998). A leptospirose e a peritonite infecciosa felina (PIF) são algumas das doenças infecciosas que causam nefrite intersticial que pode evoluir para IRC. Outra causa comum de IRC em cães e gatos e a glomerulonefrite crônica, sendo que esta geralmente ocorre secundariamente à doença em outros órgãos. As lesões glomerulares são causadas por deposição de imunocomplexos. As doenças inflamatórias que podem causar glomerulonefrite que evolui para IRC são numerosas (SMEAK,1998). Umacausa pouco freqüente de IRC é a amiloidose. Nos cães a amiloidose renal é tipicamente uma lesão glomerular que produz proteinuria, que por sua vez leva a síndrome nefrotica e/ou IRC. Por outro lado, nos gatos os depósitos de amiloidose se formam principalmente no tecido intersticial medular renal, levando finalmente a IRC (SMEAK, 1998). Outra causa da IRC pode ser uma neoplasia, como o linfossarcoma renal (principalmente em gatos), o carcinoma renal e o mieloma múltiplo (SMEAK, 1998). A IRC pode ser produzida pelas nefrotoxinas, como o etilenoglicol, antibióticos aminoglicosideos e a hipercalcemia, devido a exposição de nível baixo subaguda ou crônica ou a conseqüência da insuficiência renal aguda (SMEAK, 1998). A IRC é considerada uma moléstia de cães idosos freqüentemente, porém ocorre com freqüência variável em cães e gatos de todas as idades (POLZIN et al, 1992). A maior parte dos sinais da IRC não resultam das próprias lesões renais, e sim dos efeitos da perda de função renal. O espectro dos sinais clínicos que surgem da IRC e bastante amplo (POLTZIN et al, 1992) O grau de insuficiência renal e a causa subjacente fazem com que haja variação nos sinais clínicos da IRC (SMEAK, 1998). Outros achados considerados precoces: perda de peso variável, aumento de queda de pelos com pelagem em mal estado, letargia e apetite seletivo. Em estados mais avançados, a IRC esta associada à uremia. Já na IRC avançada, a anorexia, depressão grave, perda de peso, vômito, diarréia, desidratação, ulcerações orais, alteração da cor e necrose da língua, hemorragia (principalmente gastrintestinal), palidez de membranas mucosas e conjuntivas escleróticas injetadas são manifestações comuns e podem estar presentes. Em gatos o vomito e pouco freqüente. A palpação abdominal pode-se encontrar um rim pequeno e irregular, porém estes podem estar aumentados ou mesmo normais de acordo com a causa da IRC. A dimensão renal reduzida pode refletir a perda de néfrons com conseqüente substituição por tecido conjuntivo. O aumento renal pode estar associado com a doença renal policística, obstrução urinaria crônica ou neoplasia renal (POLZIN et al, 1992). Mesmo consideradas relativamente raras, a IRC moderada a severa pode ter como manifestações: pneumonite urêmica, pericardite urêmica, insuficiência cardíaca congestiva, sinais neurológicos (irritabilidade neuromuscular, convulsões, estupor, coma), osteodistrofia renal clinicamente detectável. A osteodistrofia renal grave tem como sinais clínicos a descalcificação esquelética (fratura patológica), lesões ósseas proliferativas císticas, retardo no crescimento, dentes abalados, síndrome da mandíbula de borracha e dor óssea (POLZIN et al, 1992). A uremia é a síndrome clínica fisiopatológica que acompanha a insuficiência renal. Ela resulta da retenção de substâncias normalmente removidas por rins saudáveis. Na maioria dos casos, a uremia é o estado clínico para o qual todas as doenças convergem, e os sinais associados são mais semelhantes do que dessemelhantes. Diversos achados clínicos e laboratoriais caracterizam a uremia e enfatizam a natureza polissistêmica da IRC (ETTINGER e FELDMAN, 2004). As complicações gastrintestinais estão entre os sinais clínicos mais comuns e proeminentes da uremia. Anorexia e perda de peso também são achados comuns e inespecíficos que podem preceder outros sinais de uremia em cães e gatos. A anorexia parece ter origem multifatorial. O apetite do paciente pode ser seletivo para certos alimentos e pode oscilar no decorrer do dia. Os fatores que promovem a perda de peso e a má nutrição incluem anorexia, náusea, vômito e subseqüente redução no aporte de nutrientes, distúrbios hormonais e metabólicos e fatores catabólicos relacionados à uremia, particularmente a acidose (ETTINGER e FELDMAN, 2004). O vômito é um achado freqüente, porém inconsistente, na uremia. Ele resulta dos efeitos das toxinas urêmicas ainda não identificadas sobre a zona medular ativadora do quimiorreceptor emético e da gastrenterite urêmica. A gravidade do vômito correlaciona-se grosseiramente com a magnitude da azotemia. Como a gastrite urêmica pode ser ulcerativa, pode ocorrer hematemese. O vômito pode ser um queixa mais freqüente nos cães urêmicos do que nos gatos. Apesar disso, o vômito é encontrado em um quarto a um terço dos gatos com sinais clínicos de uremia (ETTINGER e FELDMAN, 2004). Disfagia e desconforto bucal ocorreram em 7,7% dos gatos urêmicos e em 38,5% dos gatos com insuficiência renal terminal. Observou-se doença periodontal em 30,8% dos gatos urêmicos e em 34,6% dos gatos com IRC terminal. Foi relatada halitose em 7,7% dos gatos em ambos os grupos. A IRC de moderada a grave pode resultar em estomatite urêmica caracterizada por ulcerações bucais, coloração acastanhada da superfície dorsal da língua, necrose e esfacelo da porção anterior da língua e odor amoniacal. As mucosas também podem se tornar ressecadas (ETTINGER e FELDMAN, 2004). Na anamnese, a historia familiar, a possibilidade de exposição a toxinas e doenças infecciosas, além da administração de certos fármacos, podem sugerir a causa da IRC. Qualquer nefropatia ativa que possa contribuir para a evolução da IRC deve ser identificada. As doenças tratáveis que podem ser associadas a IRC são: pielonefrite, nefrolitiase, hipertensão, linfossarcoma renal, uropatia obstrutiva e nefropatia hipercalcemica (SMEAK, 1998). Entre as manifestações clínicas mais comuns e mais precoces da IRC estão o aparecimento de poliúria, polidipsia e, algumas vezes, noctúria relacionadas à redução de capacidade de concentração da urina. A polidipsia foi o único sinal clínico mais comumente relatado em um estudo de 80 gatos com IRC. Os proprietários dos gatos identificaram a polidipsia com freqüência mais de duas vezes maior que a poliúria (ETTINGER e FELDMAN, 2004). A anemia não regenerativa é freqüentemente revelada no hemograma. Ocorre hiperproteinemia no caso de algumas afecções infecciosas e neoplasias (SMEAK, 1998). A anemia hipoproliferativa progressiva é característica de cães e gatos com IRC de moderada a avançada. Embora afetados pela idade do paciente, pela espécie envolvida, pelo diagnóstico renal específico e pelas doenças concomitantes, a gravidade e a progressão da anemia, bem como os sinais clínicos, correlacionam-se com o grau de insuficiência renal e pioram progressivamente com a insuficiência renal tanto nos cães quanto nos gatos. A anemia nos pacientes com IRC é multifatorial e pode ser exarcebada por doença concomitante. A deficiência de eritropoietina é a principal causa de anemias em humanos e animais com IRC. Diversas hipóteses foram propostas para explicar a deficiência de eritropoietina na IRC: diminuição da massa renal resultando na capacidade celular insuficiente para a síntese de novos hormônios, ponto de ajuste mais baixo para a resposta ao estímulo hipóxico e aumento da atividade proteolítica do plasma resultando na degradação acelerada de eritropoietina. Outras causas clinicamente importantes de anemia em cães e gatos com IRC são deficiência de ferro e perda gastrintestinal crônica de sangue (ETTINGER e FELDMAN, 2004). A diminuição da capacidade de concentração da urina resulta de diversos fatores, incluindo sobrecarga de solutos por néfron sobrevivente, ruptura da arquitetura medular renal e do sistema multiplicador contracorrente pela doença e comprometimento primário da responsividade renal ao hormônio antidiurético (ADH). A perda da responsividade renal ao ADH pode resultar do aumento na taxa de fluxo glomerular distal renal, o que limita o equilíbriodo fluido tubular com o interstício medular hipertônico. A polidipsia, naturalmente, é compensatória para a poliúria. Se o aporte de fluido não acompanhar a perda urinária de fluidos, instala- se a desidratação, por causa da incapacidade de conservar a água por intermédio de concentração urinária. A desidratação subseqüente ao aporte inadequado de fluidos parece ser um problema comum nos gatos com IRC (ETTINGER e FELDMAN, 2004). Supõe-se que a hipertensão arterial situe-se entre as complicações mais comuns da IRC. Sua ocorrência é relatada em cerca de dois terços dos gatos e 50% a 93% dos cães com insuficiência renal. Os cães com doenças glomerulares estão particularmente sujeitos à hipertensão. Por definição, há hipertensão quando existe elevação persistente da pressão sangüínea sistólica ou diastólica ou quando um paciente está recebendo medicação anti-hipertensiva (ETTINGER e FELDMAN, 2004). A insuficiência renal crônica em geral causa concentrações aumentadas do fosfato sérico e normais do cálcio sérico. Contudo, tanto a hipocalcemia como a hipercalcemia podem ocorrer nos animais com insuficiência renal crônica. As concentrações séricas do cálcio ionizado dos animais com insuficiência renal normalmente são de normais baixas a baixas (ETTINGER e FELDMAN, 2004). A azotemia é definida como um excesso de uréia ou de outros compostos nitrogenados no sangue. A perda de função renal leva ao acúmulo de uma ampla variedade de compostos que contêm nitrogênio, incluindo uréia e creatinina. Muitos produtos de degradação do catabolismo protéico são excretados primariamente por filtração glomerular. Assim, os pacientes com insuficiência renal primária têm diminuição na capacidade de excreção de metabólitos proteináceos por causa da redução marcante na taxa de filtração glomerular (ETTINGER e FELDMAN, 2004). A anamnese identifica os fatores que sugerem a causa de IRC, incluindo história familiar, possibilidade de exposição a toxinas e doenças infecciosas e administração de drogas anteriores. Ao exame físico deve-se avaliar o estado de hidratação através da avaliação da turgidez cutânea e da umidade das membranas mucosas, examina-se a cavidade oral quanto às úlceras que freqüentemente ocorrem no caso de uremia, e também à palidez, que sugere anemia. O abdômen deve ser palpado para determinar o tamanho renal. Rins pequenos, firmes e “encaroçados-esburacados” são típicos de IRC. No entanto, algumas doenças podem associar-se a rins aumentados de volume. Ao hemograma, freqüentemente há a revelação de anemia não-regenerativa. Hiperproteinemia ocorre no caso de algumas doenças infecciosas e neoplásicas. A uréia e a creatinina revelam-se aumentadas na IRC, porém aproximadamente 75% dos néfrons devem se encontrar não-funcionais antes das concentrações de uréia e creatinina séricas aumentarem. A urinálise mostra uma urina inadequadamente concentrada, freqüentemente na variação isostenúrica (1,008 a 1,013). Pode-se observar proteinúria significativa nos pacientes com glomerulopatias (BIRCHARD e SHERDING, 1998). A radiografia simples pode ser utilizada para avaliar o tamanho renal e identificar urólitos radiopacos. A urografia excretora pode ser útil na avaliação das afecções que acometem o trato urinário superior, no entanto esta técnica é limitada pela redução da função renal excretora. A ultra-sonografia pode ser empregada para a identificação de urólitos, hidronefrose e nefropatia policística. Considera-se a biópsia renal quando as informações assim obtidas puderem alterar as recomendações do medicamento (como no caso de glomerulopatia, por exemplo) (SMEAK, 1998). A perda severa de tecido renal provoca uma incapacidade permanente, porém, com apenas uma fração do tecido normal, os animais podem sobreviver por longos períodos. O tratamento varia de acordo com os sinais (MERCK, 1996). Dietas com restrição protéica diminuem a concentração de uréia e fósforo, minimizando alguns sinais e auxiliando no retardamento da progressão da insuficiência renal, a qual é inevitável. Alimentos como ovo e fígado, que têm alto valor protéico, podem ser fornecidos dentro de um nível de 2,0 g/kg de peso corporal ao dia para cães, no entanto existem no mercado formulações terapêuticas para cães e gatos com IRC. Caso a restrição dietética protéica for mal sucedida na manutenção de um nível sérico adequado de fósforo, agentes ligantes de fosfato sob a apresentação de gel contendo hidróxido de alumínio deverão ser administradas por via oral (MERCK, 1996). De acordo com Ettinger e Feldman (2004), as dietas recomendadas para cães e gatos com insuficiência renal são modificadas a partir das dietas de manutenção típicas de várias formas; aumento no conteúdo de vitamina B e da densidade calórica e um efeito neutro no equilíbrio ácido-básico. As dietas de insuficiência renal dos felinos são tipicamente suplementadas com potássio. As dietas caninas de insuficiência renal podem ter um índice maior de ácidos graxos poliinsaturados ω-3/ω-6. Não existem estudos em cães e gatos com IRC que indiquem claramente os critérios para o início do tratamento nutricional. Atualmente, o tratamento nutricional é recomendado por ocasião do diagnóstico da IRC, independentemente da gravidade da doença (ETTINGER e FELDMAN, 2004). Em animais com sinais severos de anemia, a fluidoterapia é especialmente necessária. Esteróides, anabólicos ou eritropoietina recombinante, tais como a nandrolona ou a oximetalona, são administradas no intuito de estimular a eritropoiese em animais anêmicos (MERCK, 1996). O tratamento específico para anemia é indicado quando o hematócrito for < 25% nos gatos e < 30% nos cães (SMEAK, 1998). Os andrógenos têm sido o esteio da terapia da anemia não-regenerativa associada à IRC, no entanto ainda não se registrou sua eficácia nos pequenos animais. Em geral, devemos administrar os andrógenos por vários meses antes de ocorrer efeito benéfico (BIRCHARD e SHERDING, 1998). O estanozolol (1 a 4 mg – VO – SID ou BID) e a oximetalona (1 mg/kg – VO – SID ou BID) têm sido administrados nos pequenos animais, com resultados variáveis (SMEAK, 1998). O decanoato de nandrolona (1 mg/kg IM e SC a cada 7 a 10 dias, até dose total de 40 mg em cães e 20 mg em gatos), parece ser mais efetivos que os andrógenos orais. Os efeitos colaterais da terapia com andrógenos incluem retenção de sódio e água, hepatopatia e prostatomegalia (SMEAK, 1998). A terapia de transfusão reserva-se aos pacientes com sinais clínicos atribuíveis à anemia. Administra-se sangue total fresco ou papa de hemácias para elevar o nível de hematócrito para pelo menos 25% (BIRCHARD e SHERDING, 1998). A eritropoietina humana recombinante (EPOHur) substituiu os andrógenos e a transfusão no tratamento da anemia não regenerativa em humanos com IRC. Ensaios preliminares que avaliam a segurança e eficácia deste tratamento em animais vêm sendo realizados com esperança de bons resultados (SMEAK, 1998). Embora ainda não se tenha provado que a hipertensão cause a progressão da IRC, ela é tratada devido às suas conseqüências potenciais. No entanto, evita- se o tratamento farmacológico, a menos que se possa monitorar as alterações da pressão sangüínea. A restrição no sódio dietético pode reduzir a pressão sangüínea em animais hipertensos (SMEAK, 1998). Se a restrição de sódio dietético não controlar a hipertensão, indica-se o tratamento farmacológico da mesma. Inicialmente usa-se a furosemida (1 a 2 mg/kg, VO, SID ou BID) (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Para compensar as perdas de vitaminas hidrossolúveis pela urina, pode-se administrar vitaminas do complexoB por via oral (MERCK, 1996). O vômito pode ser tratado com trimetobenzamida ou metoclopramida, que bloqueiam a zona de disparo de receptores, ou clorpromazina, que bloqueia o centro do vômito. A metoclopramida também aumenta a motilidade e o esvaziamento gástrico sem aumentar a secreção ácida gástrica, e é o agente preferido para o controle do vômito em pacientes associados à insuficiência renal. Uma solução viscosa de Xilocaína (0,5 a 1ml PO), fornecida antes da alimentação a cães muitas vezes reduz a dor associada a ulcerações bucais, estimulando o animal a comer (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Em um animal em fase de oligúria, deve-se realizar o cateterismo vesical. Utilizar-se de furosemida na dose de 2 mg/kg IV para controlar o volume urinário. Caso o animal não urine, utilizar a mesma droga em uma dose maior (4 mg/kg), e por ultimo associar furosemida na dose de 1 mg/kg IV + dopamina (1-3 mg/kg – min) + solução glicosada, administrar em 4 horas. Se mesmo após as 3 tentativas ainda não ocorrer diurese, o prognóstico é mau (SMEAK, 1998). A fluidoterapia se faz com Ringer Lactato de sódio com bicarbonato de sódio (mediante gasometria, no caso de acidose metabólica), gluconato de cálcio, insulina regular e glicose, sendo os últimos 3 itens realizados em casos de hiperpotassemia (SMEAK, 1998). A hemodiálise está sendo empregada com sucesso no tratamento da insuficiência renal de cães e gatos. Embora a aplicação mais óbvia da hemodiálise seja no tratamento de pacientes com insuficiência renal aguda, existem pacientes com IRC para os quais a hemodiálise pode ser considerada uma medida acessória apropriada para o tratamento clínico conservador. A hemodilise parece ser mais benéfica quando a concentração de nitrogênio da uréia sangüínea excede 90mg/dl e a concentração de cretinina sérica excede 8mg/dl. Estes pacientes parecem estar no limite eficaz do tratamento clínico conservador ou exceder esse limite. A hemodiálise intermitente pode promover o reforço excretor adicional necessário para promover uma qualidade de vida adequada (ETTINGER e FELDMAN, 2004). A hemodiálise também pode ter um papel importante no programa de transplante renal. Ela é útil como suporte pré-cirúrgico e no condicionamento dos pacientes que estão aguardando transplante renal. Após o transplante, a hemodiálise pode ser usada para dar suporte aos pacientes durante os episódios de rejeição aguda do transplante (ETTINGER e FELDMAN, 2004). 2. CONCLUSÃO É muito importante que a insuficiência renal crônica seja diagnosticada o quanto antes, pois sendo uma doença progressiva a capaz de causar danos irreversíveis aos rins, sendo muito tardiamente diagnosticada diminui as chances de sobrevida do paciente. Os sinais da IRC são provocados, em sua maioria, pela dificuldade que os rins têm em realizar a sua função normalmente. O tratamento é basicamente evitar o aparecimento destes sinais, até porque o tratamento para a insuficiência renal em si só seria possível se fosse realizado um transplante renal. Porém, tal operação ainda não pode ser considerada, pois já se sabe que o transplante renal em gatos e principalmente em cães é muito complicado, por muitas vezes ocorrer a rejeição do órgão recebido. O proprietário de um animal portador de IRC deve estar ciente de que seu animal irá precisar de tratamento e cuidados especiais o resto de sua vida e que, muitas vazes, poderá descompensar, provocando a necessidade de tratamento médico veterinário. Como os animais estão vivendo por mais tempo, e a IRC ocorre muito freqüentemente em animais mais velhos, a tendência é que a doença se torne mais comum ainda nos próximos anos. Porém, a medicina veterinária está avançando e é muito provável que novos tratamentos venham a ser instituídos, fazendo, dessa forma, que os animais insuficientes renais possam ter uma vida mais longa e com melhor qualidade. 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHEW, D.J.; DIBARTOLA, S.P. Diagnóstico e Fisiologia da Moléstia renal. In___: ETTINGER, Stephen J. Tratado de Medicina Interna Veterinária. São Paulo: Manole, 1992. p. 1975-2046. FELDMAN, Edward C. Distúrbios das Paratireóides. In___: ETTINGER, Stephen J.; FELDMAN, Edward C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 5 ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 1469. FENNER, William R. Doenças do Cérebro. In___: ETTINGER, Stephen J.; FELDMAN, Edward C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 5 ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 622. FORRESTER, S.Dru; LEES, George E. Nefropatias e Uteropatias. BIRCHARD, Stephen J.; SHERDING, Robert G. Clínica de Pequenos Animais. 1 ed. São Paulo: Roca, 1998. p.906-910. FRASER, C.M. Manual Merck de Medicina Veterinária: um manual de diagnóstico, tratamento, prevenção e controle de doenças para o veterinário. 7 ed. São Paulo: Roca, 1996. p. 2169. NELSON, Richard W.; COUTO, C. Guillermo. Insuficiência Renal In___: Medicina Interna de Pequenos Animais. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 493-499. NELSON, Richard W.; COUTO, C. Guillermo. Insuficiência Renal. In___: Medicina Interna de Pequenos Animais. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 487. POLZIN, David J. Apêndice 1 – Série de Informações ao Cliente. In___: ETTINGER, Stephen J.; FELDMAN, Edward C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 5 ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 2067. POLZIN, David J.; OSBORNE, C.A.; JACOB, F.; ROSS, S. Insuficiência Renal Crônica. In___: ETTINGER, Stephen J.; FELDMAN, Edward C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 5 ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 1721-1751. POLZIN, David J. Moléstias dos Rins e Ureteres. In___: ETTINGER, Stephen J. Text Book of Veterinary Medicine. 3 ed. V. 04. Filadélfia/EUA: Saunders C.O. 1992, p. 2047. SMEAK, Daniel. Sistema Urogenital. In___: BIRCHARD, Stephen J.; SHERDING, Robert G. Clínica de Pequenos Animais. 1 ed. São Paulo: Roca, 1998. p. 901. UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Medicina Veterinária Ana Letícia Puretz Ramos TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C.) CURITIBA 2006 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Medicina Veterinária TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C.) CURITIBA 2006 Ana Letícia Puretz Ramos RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR Relatório de Estágio Curricular apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário. Professor Orientador: Dr. Ricardo Maia Orientador Profissional: Dra. Suely Nunes Esteves Beloni Curitiba 2006 Reitor Luiz Guilherme Rangel Santos Pró-Reitor Administrativo Carlos Eduardo Rangel Santos Pró-Reitora Acadêmica Profª Carmen Luiza da Silva Pró-Reitor de Planejamento Afonso Celso Rangel dos Santos Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Profª Elizabeth Teresa Brunini Sbardelini Secretário Geral Rui Alberto Ecke Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Prof. João Henrique Faryniuk Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária Neide Mariko Tanaka Coordenadora de Estágio Curricular de Medicina Veterinária Elza Maria Galvão Ciffoni Metodologia Científica Ana Laura Angeli CAMPUS CHAMPAGNAT RuaMarcelino Champagnat, 505 – Mercês Curitiba – Paraná Fone: (41) 3331-7600 APRESENTAÇÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.) apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário, é composto de um Relatório de Estágio, no qual são descritas as atividades realizadas durante o estário curricular no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina, localizado na cidade de Londrina, Paraná, no período de 01/08/2006 a 29/09/2006, e também uma monografia sobre Insuficiência renal crônica. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha mãe, Tânia Lebarbenchon Puretz Ramos, e a toda a minha família, com quem eu sempre soube que poderia contar. AGRADECIMENTOS Agradeço e Deus por estar aqui; Agradeço ao Caio pela paciência comigo; Agradeço à Camila, por ser a amiga de todas as horas; À Andréia, por passar junto comigo esses cinco anos de graduação e ainda passar dois meses em Londrina junto comigo; À Fer, por ter mostrado que em qualquer lugar podemos ter amizades e cultivá-las; Ao Professor Dr. Ricardo Maia, que sempre ensinou muito mais que a matéria dada em sala de aula; Agradeço à Professora Dra. Neide Mariko Tanaka, pela ajuda e confiança depositada. Às Dras. Mônica Thaís de Christo e Iracema Maria da Cruz, por terem me dado a oportunidade de aprender muito mais do que a teoria da Medicina Veterinária. À Professora Dra. Carmen Hilst, pela compreensão e maleabilidade. Aos residentes do Hospital Veterinário – UEL, por sempre ensinarem, incentivarem e explicarem o que fosse necessário com tanta boa vontade; Aos meus colegas estagiários do HV-UEL e aos alunos desta mesma instituição. "A mente que se abre a uma nova idéia jamais volta ao seu tamanho original." Albert Einstein SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS............................................................................................... i LISTA DE TABELAS.............................................................................................. ii RESUMO................................................................................................................. iii ABSTRACT............................................................................................................. iv 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 1 2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO............................................................. 3 3 RELATO DOS CASOS CLÍNICOS...................................................................... 13 3.1 ONCOLOGIA..................................................................................................... 13 3.1.1 Linfoma...................................................................................................... 13 3.2 OFTALMOLOGIA.............................................................................................. 28 3.2.1 Ceratoconjuntivite Seca................................................................................. 28 3.3 HEMATOLOGIA................................................................................................ 36 3.3.1 Anemia Aplásica............................................................................................. 36 3.4 TOXICOLOGIA................................................................................................. 43 3.4.1 Intoxicação por Chumbo................................................................................ 43 3.4.2 Intoxicação por Ivermectina.......................................................................... 52 3.5 HEPATOLOGIA................................................................................................ 59 3.5.1 Hepatite Infecciosa........................................................................................ 59 3.6 CARDIOLOGIA................................................................................................ 68 3.6.1 Insuficiência Cardíaca Congestiva................................................................ 68 4 CONCLUSÃO...................................................................................................... 82 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 83 1. INTRODUÇÃO O Estágio Curricular foi realizado no período de 01 de agosto a 29 de setembro de 2006, no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina – UEL. A orientadora no local de estágio foi a Profª Dra. Suely Nunes Esteves Beloni. Neste período, durante sete semanas o setor acompanhado foi o de Clínica Médica de Animais de Companhia, sendo que, dessas sete semanas, duas foram no acompanhamento dos animais internados e as outras cinco semanas foram no acompanhamento de atendimentos novos e dos retornos dos animais já atendidos anteriormente. Durante uma semana o acompanhamento foi realizado no serviço de emergências, quando o horário realizado era das 8:00 às 20:00 horas. O acompanhamento das emergências inclui o atendimento de todos os animais considerados pela triagem, que é feita sempre por um professor, como casos que não podem esperar pelo atendimento da rotina. Como o acompanhamento da emergência exige que o estagiário esteja presente um fim de semana, durante o mesmo pode haver a necessidade de acompanhar ou auxiliar em alguma cirurgia de emergência, como ocorreu em três ocasiões durante o período de estágio. O Hospital Veterinário da UEL, que funciona há 30 anos, permanece aberto 24 horas. Há o atendimento feito pela rotina, realizado das 8:00 às 12:00 horas e das 14:00 às 18:00, de segunda a sexta-feira, sendo atendidas no máximo seis novas consultas por período no setor de Clínica Médica de Animais de Companhia, e o animais são atendidos por ordem de chegada. Já o atendimento feito pelo serviço de emergência é realizado durante qualquer hora do dia ou da noite, e os casos considerados mais graves ou que o animal corre risco de vida têm prioridade no atendimento. As emergências são atendidas pelo residente responsável por este serviço até as 20:00 horas e das 20:00 às 8:00 do dia seguinte são atendidas por um professor plantonista. O estágio teve o objetivo de proporcionar conhecimento prático da teoria anteriormente estudada, mostrando a vivência da profissão e os procedimentos realizados em um hospital veterinário com recursos de diagnóstico laboratorial e por imagem, internamento e isolamento de animais com moléstias infecciosas. 2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO Figura 1. Fachada de entrada do Hospital Veterinário – UEL. Fonte: RAMOS, Ana L. P., 2006. O Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina (UEL) está localizado no campus universitário da própria universidade, situado na Rodovia Celso Garcia Cid, Km 445, na cidade de Londrina, Paraná. O hospital possui uma secretaria, que conta com uma equipe de recepcionistas que atendem os telefonemas e, se necessário, anotam e passam os recados para os residentes ou professores, e uma sala de triagem, onde um professor responsável recebe o animal que vai passar por uma consulta será atendido pelo serviçode Clínica Médica, Cirúrgica ou de Emergência. As recepcionistas também são responsáveis por anunciar os residentes, professores, estagiários ou enfermeiros, caso eles sejam solicitados para algum serviço ou para atender alguma ligação. É na secretaria também que são marcados os retornos das consultas já realizadas ou necessitam de acompanhamento. A espera pelo atendimento é realizada em frente ao hospital veterinário, onde os animais e seus proprietários têm a sua disposição vários bancos e uma televisão. Quando são atendidos na secretaria, os proprietários recebem a ficha de seu animal e a colocam sobre uma mesa que fica na área de espera, junto com uma pequena placa que recebem junto com a ficha. Esta placa pode ser verde e ter a sigla C.M.A.C. (Clínica Médica de Animais de Companhia), amarela e ter a sigla C.C.A.C. (Clínica Cirúrgica de Animais de Companhia) ou vermelha e ter a palavra PLANTÃO, no caso de animais que serão atendidos pelo serviço de emergência, e um número, que fala a indica a ordem que deve ser feita o atendimento. É por essa pequena placa que os residentes e estagiários sabem quais daqueles animais deverão ser atendidos por eles ou não. Na ala anterior do hospital há quatro ambulatórios para o atendimento de casos da Clínica Médica de Animais de Companhia, dois ambulatórios para o atendimento de casos da Clínica Cirúrgica de Animais de Companhia, um ambulatório para atendimentos de emergência, um ambulatório para o atendimento de casos suspeitos ou confirmados de moléstias infecciosas, uma sala de procedimentos e uma sala para internamento dos animais atendidos pela Clínica Médica de Animais de Companhia, com 26 baias de diferentes tamanhos. Há também o isolamento, aonde são internados casos de moléstias infecciosas. Há uma sala onde ficam internados os animais com suspeita ou confirmação de Parvovirose e outra sala onde ficam os animais com suspeita ou confirmação de outras doenças infecciosas. Figura 2. Ambulatório padrão. Fonte: RAMOS, Ana L. P., 2006. Na ala posterior do hospital há um centro cirúrgico composto por quatro salas de cirurgias, sendo uma destinada a procedimentos cirúrgicos em pacientes atendidos pelo serviço de emergência. Há também um internamento para os animais atendidos pelo setor de Clínica Cirúrgica de Animais de Companhia. O hospital também conta com o auxílio dos serviços realizados nos laboratórios do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva (Anatomia Patológica, Microbiologia, Leptospirose, Virologia, Parasitologia, Preventiva, Micologia, Toxicologia e Protozoologia. O Hospital Veterinário da UEL também oferece, na área de animais de companhia, atendimento nos setores de Anestesiologia e Teriogenologia. Para o desenvolvimento destas e das demais atividades há uma equipe composta por 11 docentes, 12 residentes, seis assistentes de enfermagem, três técnicos de laboratório, dois técnicos de radiologia, uma Médica Veterinária anestesista e outros dez funcionários de secretaria, limpeza e centro cirúrgico. Figura 3. Isolamento do Hospital Veterinário – UEL. Fonte: RAMOS, Ana L. P., 2006. Figura 4. Sala de procedimentos cirúrgicos do serviço de emergência. Fonte: RAMOS, Ana L. P., 2006. A farmácia permanece aberta das 08:00 às 12:00 e das 14:00 às 18:00 horas de segunda a sexta-feira, possuindo a maioria dos medicamentos prescritos pelos professores e residentes para os pacientes internados, medicamentos de emergência e material para curativos. Fora do período em que ela está aberta, professores, residentes, estagiários e enfermeiros têm acesso a ela, podendo pegar os medicamentos prescritos. Figura 5. Farmácia. Figura 6. Sala de internamento da Clínica Médica. Durante o período de estágio foram acompanhados 153 casos, conforme a seguinte tabela: Tabela 1 – Casuística do Hospital Veterinário da UEL no período de 01/08 a 29/09/2006 Afecções/Achados Clínicos n° de casos % Gastroenterologia 37 24,18 Enterite 3 1,96 Gastroenterite 4 2,61 Gastroenterite hemorrágica 5 3,26 Êmese a esclarecer 6 3,92 Verminose 6 3,92 Megaesôfago congênito 1 0,65 Megaesôfago adquirido 1 0,65 Pancreatite aguda 3 1,96 Encefalopatia hepática 1 0,65 Hepatopatia Crônica 1 0,65 Hipoproteinemia 2 1,30 Colangite 1 0,65 Lipidose hepática 1 0,65 Insuficiência hepática aguda 1 0,65 Doenças Infecciosas 33 21,56 Cinomose 17 11,11 Complexo respiratório felino 1 0,65 Leptospirose 1 0,65 Parvovirose 10 6,53 Erlichiose 4 2,61 Respiratório 8 5,22 Traqueobronquite infecciosa canina 5 3,26 Pneumonia 2 1,30 Broncopneumonia 1 0,65 Neurologia 8 5,22 Convulsão 7 4,57 Hidrocefalia 1 0,65 Genitourinário 18 11,76 Obstrução uretral 5 3,26 Infecção do trato urinário 3 1,96 Piometra 1 0,65 Parto distócico 1 0,65 Aborto 1 0,65 Insuficiência renal crônica 7 4,57 Oncologia 7 4,57 Hemangiossarcoma 1 0,65 Linfoma 2 1,30 Neoplasia peniana 1 0,65 Neoplasia hepática 1 0,65 Neoplasia cerebral 1 0,65 Granuloma eosinofílico 1 0,65 Dermatologia 13 8,49 Dermatite por contato 1 0,65 Piodermite 4 2,61 Malassezia 1 0,65 Demodicidose 1 0,65 Escabiose 4 2,61 Astenia cutânea 1 0,65 Alopecia x 1 0,65 Otologia 4 2,61 Otite 4 2,61 Oftalmologia 2 1,30 Ceratoconjuntivite seca 2 1,30 Odontologia 1 0,65 Doença periodontal 1 0,65 Endocrinologia 4 2,61 Diabetes melito 4 2,61 Cardiologia 6 3,92 Insuficiência cardíaca congestiva 5 3,26 Cardiomegalia 1 0,65 Doença auto-imune 1 0,65 Meningite responsiva a corticosteróides 1 0,65 Outros 11 7,18 Intoxicação por organofosforados 1 0,65 Intoxicação por amitraz 1 0,65 Intoxicação por diclofenaco 1 0,65 Intoxicação por chumbo 2 1,30 Intoxicação por creolina 1 0,65 Choque elétrico 1 0,65 Fratura de membro torácico 1 0,65 Fratura de membro pélvico 2 1,30 Fratura de cauda 1 0,65 TOTAL 153 100 3. RELATO DOS CASOS CLÍNICOS 3.1 ONCOLOGIA 3.1.1 LINFOMA INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA Os linfonodos e o baço constituem as principais fontes de células imunológicas e mononucleares-fagocitárias no corpo. Tais estruturas linfóides estão em estado dinâmico constante, mudando continuamente de forma e tamanho em resposta a estímulo antigênico (NELSON e COUTO, 1998). Os linfonodos caninos e felinos são estruturas reniformes, encapsuladas e bem desenvolvidas responsáveis pela filtração da linfa e pela participação nas reações imunológicas. Ele é composto de cápsula, espaços subcapsulares, córtex, paracórtex e medula, e em cada um desses locais são contidas um tipo de célula de defesa (NELSON e COUTO, 1998). As duas principais funções dos linfonodos são filtrar o material particulado e participar nos processos imunológicos. O baço possui funções múltiplas, como hematopoese, filtração e fagocitose, remodelagem de hemácias e remoção de inclusões intraeritrocitárias, atuando como reservatório sanguíneo, no metabolismo do ferro e em funções imunológicas (NELSON e COUTO, 1998). O linfoma é a neoplasia hematopoiética mais freqüente que acomete cães e gatos, sendo definida como uma proliferação de células linfóides malignas que primariamente acomete linfonodos ou órgãos viscerais sólidos, como o fígado ou o baço (ETTINGER e FELDMAN, 2004). Segundo Nelson e Couto (1998), o linfoma pode ser definido como a malignidade linfóide que se origina de órgãos sólidos, sendo que isto é o que diferencia os linfomas de leucemias linfóides, que se originam na medula óssea. Os cães de meia-idadea mais idosos são primariamente afetados, sem predileção sexual. Pode ocorrer em qualquer cão de raça pura ou mestiço, mas pode ser mais prevalente nos pastores alemães, boxers, poodles, bassets e são bernardos. Nos gatos não há predileção sexual ou racial (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Em 1993, Dobson e Gorman escreveram que o linfoma corresponde de 5 a 10% de todas as neoplasias que acometem os cães. A etiologia do linfoma em animais de companhia é em sua maior parte desconhecida. Em gatos, determinadas variedades de linfomas estão relacionadas direta ou indiretamente com o vírus da leucemia felina e da imunodeficiência felina, porém em cães não existe nada que comprove a origem virótica para o linfoma em cães (ETTINGER e FELDMAN, 2004). De acordo com Nelson e Couto (1998), os linfomas caninos são considerados como de natureza multifatorial, já que nunca foi identificado nenhum agente etiológico. Um componente genético é evidente, já que a prevalência dessa neoplasia é elevada em determinadas linhagens sanguíneas. Há também acentuada predisposição racial para o linfoma nos cães de algumas raças, como Boxer, Basset Hound, Rottweiler, Cocker Spaniel e São Bernardo. A exposição a carcinógenos químicos, físicos e virais pode exercer um papel no desenvolvimento de muitos tipos tumorais (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Segundo a OMS, os esquemas de classificação para o linfoma foram avaliados no fenótipo citológico/histológico e no imunofenótipo. Tabela 2 - Classificação da organização mundial da saúde para animais domésticos com linfoma ESTÁGIO CRITÉRIOS I Apenas um linfonodo II Múltiplos linfonodos em uma região bem demarcada III Linfadenopatia generalizada IV Fígado e/ou baço (com ou sem estágio III) V O acometimento da medula óssea ou do sangue e/ou qualquer órgão não linfóide (com ou sem estágios I a IV) Subestágio a Sem sinais clínicos da doença b Com sinais clínicos da doença Fonte: World Health Organization: TNM Classification of Tumors in Domestic Animals. Genebra, World Health Organization, 1980. Nos cães, 80 a 85% dos casos são do tipo anatômico multicêntrico, apresentando-se no estágio III ou IV da OMS. A maioria dos linfomas em cães é do imunofenótipo de células B, com cerca de 20 a 30% sendo derivação de células T (ETTINGER e FELDMAN, 2004). Segundo Birchard e Sherding (1998), o linfoma pode ser classificado de acordo com o local anatômico. O Linfoma Multicêntrico é a forma mais comum no cão, tendo manifestação inespecífica, com aumento de volume do tamanho linfonodal, sendo comum também o envolvimento hepático e esplênico. O Linfoma Alimentar associa normalmente a vômito, diarréia e sinais inespecíficos. O Linfoma Mediastinal são comumente associados à hipercalcemia. O Linfoma Cutâneo envolve lesões cutâneas únicas ou múltiplas que podem variar muito de aparência, sendo que 50% dos casos desse tipo de linfoma são pruriginosos. Existem ainda as formas Extranodulares, que incluem o linfoma ocular, do sistema nervoso central, ósseo, cardíaco, renal, vesical e da cavidade nasal. Apenas 10 a 20% dos cães com Linfoma Multicêntrico apresentam-se clinicamente enfermos no momento da consulta. A maioria dos casos é observada em cães saudáveis com linfadenopatia generalizada casual. Em cães com manifestação clínica, os sinais não são específicos, podendo incluir inapetência, anorexia, perda de peso e letargia. Se, no estágio V da doença, o acometimento da medula for acentuado, podem ocorrer citopenias periféricas que resultam em sepse neutropênica, hemorragia trombocitopênica ou anemia (ETTINGER e FELDMAN, 2004). Gatos e cães com Linfoma Mediastinal geralmente apresentam dispnéia, tosse ou regurgitação de estabelecimento recente. Em cães com hipercalcemia concomitante com o linfoma mediastinal, é comum ocorrer poliúria e polidipsia. Os sinais respiratórios e do trato digestivo superior são provocados por compressão de linfonodos mediastinais anteriores aumentados de volume, embora o derrame pleural maligno possa contribuir para a gravidade dos sinais respiratórios (NELSON e COUTO, 1998). Gatos e cães com Linfoma Alimentar geralmente exibem sinais gastrintestinais como vômito, diarréia e perda de peso. Ocasionalmente a ruptura da massa linfomatosa pode provocar sinais compatíveis com obstrução intestinal ou peritonite. Ao exame físico, pode-se perceber massas intra-abdominais e espessamento das alças intestinais (NELSON e COUTO, 1998). Os Linfomas Extranodais provocam sinais clínicos e achados físicos variáveis e dependem da localização da(s) massa(s). o Linfoma Cutâneo é uma das formas extranodais mais comuns de apresentação no cão, porém é rara em gatos. Os sinais clínicos e as características das lesões são extremamente variáveis e podem mimetizar qualquer lesão cutânea primária ou secundária. Uma lesão característica em cães com essa forma de linfoma é uma massa dermoepidérmica, circular, erupta, eritematosa e em forma de rosquinha que contém pele normal no centro da lesão (NELSON e COUTO, 1998). De acordo com Ettinger e Feldman (2004), o exame físico completo deve incluir a palpação de todos os linfonodos acessíveis, incluindo o exame retal em cães. Deve-se levar em consideração a inspeção das mucosas em busca de palidez ou petéquias. A palpação abdominal pode revelar organomegalia, espessamento da parede intestinal ou linfadenopatia mesentérica. O exame oftalmológico, incluindo o exame de fundo de olho, revela anormalidades em cerca de um terço a metade dos caninos com linfoma. O hemograma completo, incluindo a contagem de plaquetas, é uma etapa necessária de qualquer avaliação em cães e gatos com suspeita de linfoma. As anormalidades hematológicas ocorrem na maioria dos casos com linfomas multicentricos. A anemia pode estar presente, sendo normalmente normocítica, normocrômica e arregenerativa. Os gatos com doença associada ao VLF podem apresentar anemia macrocítica (ETTINGER e FELDMAN, 2004). Segundo escrito por Nelson e Couto (1998), as anormalidades hematológicas mais comuns incluem anemia, leucocitose, neutrofilia, monocitose, presença de células linfóides anormais no sangue periférico, trombocitopenia, entre outras. A linfocitose é rara em cães e gatos com linfoma. As anormalidades da bioquímica sérica parecem ser mais comuns em cães do que em gatos com linfoma. A hipercalcemia é uma das anormalidades paraneoplásicas mais comuns em cães com linfoma, ocorrendo em aproximadamente 10 a 40% dos pacientes, sendo que esta parece ser mais elevada em cães com as formas multicêntrica, alimentar ou extranodal (NELSON e COUTO, 1998). As elevações no nitrogênio da uréia sanguínea e na creatinina sérica podem ocorrer secundariamente à infiltração renal com tumor, à nefrose hipocalcêmica ou à desidratação pré-renal. As elevações na enzima hepatoespecífica ou na bilirrubina podem resultar de infiltração parenquimatosa hepática (ETTINGER e FELDMAN, 2004). Segundo Birchard e Sherding (1998), a radiografia e a ultra-sonografia, embora não sejam diagnósticas para o linfoma, são freqüentemente úteis para a classificação ou determinação da extensão da doença. Metade dos cães com linfoma apresenta evidencias de aumento de volume dos linfonodos esternais e sublombares, do baço e do fígado. Porém, de acordo com Ettinger e Feldman (2004), o diagnóstico por imagem pode ser importante para o diagnóstico de linfoma, especialmente naqueles casos que não apresentam linfadenopatia periférica ou que estão limitados a regiões intracavitárias ou extranodais. O diagnóstico por imagem é igualmente importantepara a classificação clínica. A confirmação microscópica de linfoma é a base do diagnóstico tanto em cães como em gatos. A avaliação de aspirados com agulha fina por um patologista clínico qualificado pode ser adequada para se realizar o diagnóstico de linfoma em cães, as a confirmação histológica conclusiva é recomendada. A predominância de uma população homogênea de células linfóides imaturas é sugestiva de linfoma (ETTINGER e FELDMAN, 2004). Os linfomas podem ser diagnosticados citologicamente em cerca de 90% dos cães e 70 a 75% dos gatos (NELSON e COUTO, 1998). O diagnóstico diferencial para o linfoma varia de acordo com a forma anatômica da doença. A linfadenopatia generalizada tem como diagnóstico diferencial infecções generalizadas, distúrbios imunomediados, outros tumores hematopoiéticos e tumores com metástase em linfonodos. Na forma cutânea, tem- se como diagnóstico diferencial a dermatite infecciosa e a iunomediada e outras neoplasias cutâneas (NELSON e COUTO, 1998). Cães e gatos que não recebem tratamento geralmente vivem uma media de 4 a 6 semanas uma vez que o diagnóstico tenha sido estabelecido. Em geral o linfoma é uma doença sistêmica, que requer uma abordagem terapêutica também sistêmica. Exceções à regra ocorrem nos casos de linfomas extranodais ou em regiões isoladas, em que a terapia local envolvendo tanto a cirurgia como a radioterapia pode estar indicada (ETTINGER e FELDMAN, 2004). Nelson e Couto, em 1998, escreveram que a maioria dos gatos com linfoma tratados com protocolos quimioterápicos de agentes múltiplos em geral vivem 6 a 9 meses. Aproximadamente 20% dos gatos vivem além de 1 ano. Para a maioria dos cães com linfoma tratados de forma similar, espera-se que vivam de 12 a 16 meses; aproximadamente 20% dos cães vivem mais de 2 anos após o diagnóstico. O tratamento de cães e gatos com linfoma divide-se em diversas fases: indução ou remissão, intensificação, manutenção e reindução da remissão ou resgate. Imediatamente após o diagnóstico, um protocolo quimioterápico agressivo com ciclofosfamida, vincristina, citosina-arabinosídeo, prednisona é usado para induzir a remissão. Esta fase dura de 6 a 8 semanas, e durante ela o paciente passa por avaliações semanais e recebem injeção intravenosa de vincristina. Se o paciente for considerado em remissão completa ao final dessa fase, inicia-se a fase de manutenção, quando o paciente recebe clorambucil, metotrexato e prednisona por via oral, e passa a sofrer reavaliações a cada 6 a 8 semanas. Esta fase continua ate que haja recidiva do tumor, quando começa a fase de reindução, que é semelhante à fase de indução. Quando o paciente volta a ser considerado em remissão completa, a manutenção ainda é feita com os mesmos medicamentos, porém o metotrexato é substituído por Cytostar na dose de 200 a 300 mg/m², via subcutânea, em semanas alternadas. Se, ao fim da fase de indução, o paciente não estiver em remissão completa, é recomendada a intensificação com L-asparaginase antes de se iniciar a fase de manutenção (NELSON e COUTO, 1998). Segundo Ettinger e Feldman escreveram em 2004, as taxas de remissão do linfoma alcançam 80 a 90% quando utilizados protocolos combinados. Porém a maioria dos cães está sujeita à resistência múltipla dos fármacos, sofrendo recidiva em média um ano após o diagnóstico. Esquemas de protocolos combinados resultam em maior toxicidade para o animal, mas resultam em remissão e em tempo de sobrevivência mais prolongados do que os protocolos com agentes únicos. Fatores como idade, peso corporal e raça parecem não afetar a duração ou o sucesso da remissão ou da sobrevivência no caso de linfoma. O envolvimento da medula óssea associa-se à redução da sobrevivência. No caso dos gatos, quanto maior a classificação clínica, menores as taxas de remissão e o tempo de sobrevivência. O tempo de remissão e a sobrevivência são mais longos em cadelas. O prognóstico das formas alimentar e cutânea é pior do que para a forma multicêntrica (BIRCHARD e SHERDING, 1998). RELATO DE CASO 1 O animal Tofe, um canino macho de 14 anos e 15 kg, chegou ao serviço de clínica médica do H.V. – UEL no dia 05 de setembro de 2006 com queixa principal de hiporexia, vômito e diarréia há cinco dias. À anamnese, o proprietário relatou que o animal havia apresentado hematoquezia há 15 dias e, levado ao Médico Veterinário, havia sido tratado com enrofloxacina e meticortem, porém não soube falar sobre as doses administradas. Relatou também que o animal estava apresentando vômito espumoso e diarréia com sangue e que atualmente estava sendo administrado pelo próprio proprietário Plasil Gotas, Anador, soro caseiro e Meloxicam. Como histórico de doença anterior, o animal já havia apresentado uma neoplasia de próstata, sendo que na ocasião o animal foi castrado e não passou por mais nenhum tipo de tratamento. O proprietário relatou também que o animal possui nódulos em pele há mais de dois anos, sendo que há cerca de 15 dias passou a apresentar nódulo na cauda com extravasamento de material purulento. Ao exame físico, o animal estava em decúbito lateral, temperatura corporal de 39,3°C, freqüência cardíaca de 120 bpm, freqüência respiratória de 36 mpm, TPC = 2 segundos e mucosas rosadas. Estava moderadamente desidratado. Foram notados nódulos de aproximadamente dois centímetros em região dorsal e um nódulo de aproximadamente seis centímetros na base da cauda, sendo que este estava ulcerado. À auscultação, não havia nenhuma alteração cardíaca, porem pôde-se perceber crepitação pulmonar bilateral. À palpação, animal apresentava sensibilidade abdominal e aumento de volume em região epigástrica. Diante do estado do animal, decidiu-se por deixá-lo internado para reestabelecer a hidratação e fazer alguns exames complementares. Animal ficou recebendo Ringer Lactato com KCl, manutenção diária de 3 vezes. Os exames complementares requisitados foram hemograma + avaliação de plaquetas, e os bioquímicos ALT, FA, uréia, creatinina e albumina, além de Raio X de tórax e abdômen, citologia do nódulo caudal e urinálise. O animal apresentou alterações nos exames bioquímicos. A ALT e a albumina foram os únicos exames que se apresentaram com os valores normais. A FA resultou em 3380 U/l, a uréia em 346,8 mg/dl e a creatinina em 9,58 mg/dl. O laudo radiográfico acusava aumento de volume com bordas arredondadas em fígado e/ou baço, aumento de volume no rim e nenhuma alteração significativa em pulmão. Na urinálise foi encontrada proteína (++), glicose (+), ausência de bilirrubina, urobilinogênio normal, células de descamação da bexiga raras, sangue (+) e presença de hemácias. A citologia aspirativa do nódulo caudal apresentou como resultado Linfoma. O animal, durante o internamento, ficou recebendo Plasil (0,3 mg/kg) – 0,9 ml, IV, TID, Ranitidina (3 mg/kg) – 1,8 ml, IV, TID, Tramal (1 mg/kg) – 0,3 ml, SC, TID e Enrofloxacina(5 mg/kg) – 3 ml, SC, BID. Ele apresentou alguns episódios de vômito e veio a óbito no dia 08 de setembro de 2006, quando os proprietários ainda decidiam se iriam optar pelo tratamento ou pela eutanásia. RELATO DE CASO 2 Raisa é uma canina fêmea da raça Rottweiler, de 6 anos de idade, que apresentou-se no serviço de Pronto Socorro do H.V. – UEL no dia 08 de agosto de 2006 com queixa principal de hiporexia há 3 semanas, fraqueza de membros pélvicos há duas semanas e disquesia há uma semana e meia. À anamnese, proprietário relatou que animal estava com poliúria e polidipsia. Apresentava também cansaço fácil. Não soube responder quando havia sido o ultimocio, nem se o animal já havia recebido alguma dose de vacina. Falou também que havia administrado vermífugo para o animal há cerca de 6 meses, mas não lembrava a quantidade nem a marca que havia dado. Negou a presença de pulgas e carrapatos. Como alteração oftalmológica, apresentava secreção ocular esverdeada e olhos vermelhos. A base de sua alimentação era ração e comida caseira. Proprietário relatou também que animal morava em uma casa, sem a presença de contactantes, ratos ou terrenos baldios na vizinhança. Ao exame físico o animal apresentava temperatura de 39,9°C, freqüência cardíaca de 96 bpm, freqüência respiratória de 52 mpm, TPC>2 segundos, mucosas rosadas e desidratação moderada. Animal alerta, dócil e nutricionalmente normal. Os membros pélvicos estavam atáxicos. Os olhos apresentavam secreção purulenta bilateral. Haviam nódulos generalizados na pele e aumento dos linfonodos pré-escapulares. O animal ficou internado para exames complementares. Ao hemograma feito no dia 07-08-2006, observou-se: hipocromia (++), poiquilocitose (+), policromasia (+), anisocitose(+). À urinalise, feita no mesmo dia, foram analisados 5 ml de urina amarela e ligeiramente turva. A densidade era de 1020, pH 5,0, e foram encontrados: proteína (+) e bilirrubina (+). O urobilinogênio estava normal. Resultado negativo para glicose, acetona e hemoglobina. Leucócitos e células da bexiga raras por campo e hemácias e cilindros ausentes. Foi feito também um raio X de abdome, cujo laudo foi presença de esplenomegalia e ausência de aumento uterino. O animal, durante o primeiro dia de internamento (dia 07/08/2006) ficou recebendo fluidoterapia com Ringer Lactato + KCl 10% + glicose 50%, manutenção diária de 2 vezes, e Cefalotina 30 mg/kg – IV – BID. No segundo dia de internamento, dia 08/08/2006, o animal passou a receber Enrofloxacina 2,5%, 5mg/kg – SC – BID. Foram feitos alguns exames bioquímicos, que resultaram em alterações na FA (116 U/l), uréia (154,9 mg/dl) e creatinina (2,9 mg/dl). A ALT resultou em níveis normais. Diante da suspeita de neoplasia, foi feita a citologia aspirativa dos nódulos cutâneos, cujo resultado foi compatível com Linfoma. Como o animal havia passado a apresentar crepitação pulmonar à auscultação, foi decidido fazer um novo Raio X, dessa vez de tórax. O laudo acusou quadro bronco-intersticial difuso severo, porém não havia sinais de metástase pulmonar. Animal permaneceu internado até o dia 10/08/2006, recebendo a mesma fluidoterapia e o mesmo medicamento que estava recebendo no dia 08/08/2006. Foi conversado com os proprietários sobre a hipótese de se fazer quimioterapia, porem eles não quiseram por causa dos custos, que seriam altos, e também porque o animal poderia ainda não responder ao tratamento. Além disso, como o animal não estava nem comendo e nem bebendo água e, portanto, não estava tendo qualidade de vida, foi decidido pela eutanásia, a qual foi realizada no mesmo dia. DISCUSSÃO As neoplasias são uma das principais causas atuais de morte em cães e gatos. Talvez isso se deva ao fato de que há uma maior quantidade de meios diagnósticos para descobrir a existência de tais neoplasias e também porque há um maior numero de tratamentos sendo realizados para outras enfermidades nesses animais. Desta forma, como eles vivem mais, eles têm maiores chances de desenvolver uma neoplasia, doença característica principalmente de animais de meia-idade a idosos. Também por viverem mais têm maiores chances de entrar e permanecer em contato com agentes carcinogênicos. O Linfoma não foge à regra: é mais comumente encontrado em animais de meia-idade e mais velhos, e assim ocorreu com os animais dos casos relatados: um deles tinha 14 anos, sendo considerado idoso, e o outro tinha 6 anos, o que, para um cão de grande porte, já é uma idade avançada. Além do fator idade, este último animal pertencia a uma raça considerada predisposta por Nelson e Couto em 1998, a raça Rottweiler. Os meios diagnósticos utilizados nos casos relatados são compatíveis com aqueles indicados pelas literaturas pesquisadas. O exame histológico poderia ter sido feito para determinar qual o tipo de linfoma de acordo com a classificação da OMS, porém em um dos casos o animal veio a óbito muito rapidamente. No caso da canina Raisa, o exame histológico poderia ter sido sugerido para o proprietário antes de ser feita a eutanásia. Apesar de que o animal já não estava mais se alimentando e, portanto, estaria perdendo qualidade de vida em pouco tempo, talvez a determinação do tipo de linfoma que com certeza acometia o animal facilitaria o tratamento e seria uma alternativa para o proprietário antes de ele optar pela eutanásia. O tratamento do linfoma costuma ter custos altos e as chances de recidiva são muito grandes, porém se um animal pode, como relatado por Nelson e Couto em 1998, sobreviver ainda de 12 a 16 meses após a remissão do tumor, valeria a pena a tentativa de tratamento, principalmente porque este período corresponde a cerca de 10% da vida do animal. 3.2 OFTALMOLOGIA 3.2.1 CERATOCONJUNTIVITE SECA INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA O globo ocular pode ser classificado anatomicamente nas seguintes regiões: túnicas externa, média e interna, vítreo, ângulo iridocorneal, nervo óptico, via óptica, pálpebras, membrana nictitante, músculos extra-oculares e aparelho de drenagem nasolacrimal. É na túnica externa que estão presentes a esclerótica, que é opaca, e a córnea, que é tranparente e é um poderoso meio refrativo. Possui quatro camadas: epitélio, estroma, membrana de Descemet e endotélio (CARNEIRO FILHO, 1997). As pálpebras são formadas pela pele, músculos, tarsus, estroma e conjuntiva palpebral; protegem o olho, produzem lágrimas através de suas glândulas especializadas, distribuem o filme lacrimal. A membrana nictitante também produz lágrima e ajuda as pálpebras a distribuir o filme lacrimal (CARNEIRO FILHO, 1997). O filme lacrimal é composto de três camadas transparentes de fluido: a mucosa, a lipídica e a aquosa. Ele proporciona lubrificação física corneana, bem como proteínas, vitaminas, fatores de crescimento epitelial e hormônios essenciais à córnea, que é avascular e necessita desses componentes para se manter transparente e saudável (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Anormalidades quali-quantitativas em componentes primários da lágrima podem alterar a dinâmica do filme lacrimal, comprometendo sua função. O filme lacrimal é composto por lipídios, uma fração aquosa e por mucoproteínas. A ceratoconjuntivite seca (CCS) é uma enfermidade freqüentemente diagnosticada em cães, caracterizada pela deficiência da fração aquosa do filme lacrimal, resultando em dessecação e inflamação da conjuntiva e córnea, dor, doença corneana progressiva e redução da visão (ALMEIDA et al, 2004) Segundo Birchard e Sherding, 1998, a ceratoconjuntivite seca ocorre quando a secreção de lágrimas é deficiente e a córnea e a conjuntiva ressecam. A deficiência de lágrima aquosa leva à formação de muco excessiva, à conjuntivite bacteriana secundária, úlceras cornenanas recorrentes, pigmentação, vascularização e ceratinização corneanas e cicatrizes corneanas densas. É uma das causas mais freqüentes de perda de visão canina. A ceratoconjuntivite seca é considerada na maioria dos animais idiopática ou imunomediada, e freqüentemente está associada a atopia, otite externa, hipotireoidismo, doenças reumáticas e salivação deficiente. Tembem pode ser causada por alacrimia congênita, sendo geralmente unilateral. A causa tambémpode ser neurológica, sendo associada a outros sinais neurológicos e a otite média. Há drogas que também podem induzir a ceratoconjuntivite seca, como a sulfadiazina, a sulfassalazina e a atropina, sendo ela geralmente transitória. A infecção por cinomose também tem como um de seus sinais a presença de ceratoconjuntivite seca (BIRCHARD e SHERDING, 1998). De acordo com Ettinger e Feldman (2004), também há uma predisposição hereditária para a etilologia da doença. A conjuntivite tende a ser um diagnóstico de exclusão: olho vermelho sem outros achados. Os vasos conjuntivais estão dilatados, mas não os esclerais. Os vasos conjuntivais são moveis e sofrerão empalidecimento com a fenilefrina. Os vasos episclerais são imóveis e não empalidecem com a administração de fenilefrina tópica. A maioria dos casos de conjuntivite crônica em cães são causados por ceratoconjuntivite seca (ETTINGER e FELDMAN, 2004). Para diagnóstico, indica-se o teste lacrimal de Schirmer em todos os animais suspeitos de ceratoconjuntivite, mesmo quando a cornea não parece seca. A fita de papel de filtro de TLS comercial de 5 x 30 mm deve ser colocada no fundo de saco medioventral por 1 minuto. Esta operação deve ser realizada antes da administração de qualquer colírio ocular. O umedecimento normal dos cães e dos gatos é de 20+ 5mm/min. Tipicamente, os casos de CCS umedecem menos de 10mm/min, com a maioria dos casos sintomáticos com menos de 5mm/min em testes repetidos. Pode-se fazer o diagnóstico de CCS quando ocorrerem valores de TLS reduzidos junto com conjuntivite mucopurulenta ou inflamação, ulceração ou deposição de pigmento corneanos (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Em 1997, Carneiro Filho escreveu, sobre a leitura do teste de Schirmer, que acima de 10mm/min o animal é normal, entre 8 e 10mm/min o animal é suspeito e abaixo de 8mm/min o animal é positivo para CCS. Tradicionalmente, o tratamento da CCS se concentra na reposição lacrimal, na conservação lacrimal e na estimulação lacrimal neurológica. O tratamento de escolha inicial é a ciclosporina tópica (BIRCHARD e SHERDING, 1998). A ciclosporina A é um metabólito polipeptídico cíclico do fungo Tolypocladium inflatum que prejudica gravemente a imunidade mediada por células. É benéfica em cães com ceratoconjuntivite seca e pannus (NELSON e COUTO, 1998). A ciclosporina oftálmica é um inibidor das células T não-citotóxico, utilizado primariamente no transplante de órgãos humanos. Ela parece interromper os processos patológicos nas glândulas lacrimais, permitindo que elas reassumam a produção lacrimal. A produção de lágrimas naturais constitui uma vantagem sobre as lágrimas artificiais, pois são conservados componentes importantes para a saúde corneana. A ciclosporina é um fármaco imunossupressivo, que reduz a vascularização, a granulação e a pigmentação corneanas e a inflamação conjuntival. No entanto, ela pode ser utilizada na presença de ulceras corneanas, pois ela não ativa a colagenase na presença das mesmas. Ela é administrada geralmente duas vezes ao dia em ambos os olhos. Pode-se utilizar antibiótico de largo espectro tópico, como a neomicina, 4 vezes por dia, em conjunto com a ciclosporina, para evitar que ocorra uma conjuntivite bacteriana secundária enquanto a ciclosporina faz efeito (BIRCHARD e SHERDING, 1998). O tratamento com a Ciclosporina, quando interrompido por 24 horas, faz com que o haja recidiva em 90% do cães tratados por mais de um ano. A reobtenção da eficácia da ciclosporina ocorre rapidamente, com o TLS aumentando aproximadamente 3 horas e a ceratite diminuindo, geralmente dentro de uma semana após se reassumir o tratamento (BIRCHARD e SHERDING, 1998). A suplementação com lágrimas artificiais ou metilcelulose e álcool polivinílico aumenta a viscosidade e a tensão superficial da lágrima artificial, o que aumenta o tempo de umedecimento da superfície ocular. Nos cães, preferem-se geralmente as pomadas às soluções, devido ao seu custo mais baixo e à redução da freqüência de dosagem. Também se preferem produtos sem preservativo. A aplicação pode ser de 4 a 12 vezes por dia, dependendo da severidade da doença e da obediência do proprietário (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Podem-se usar os estimulantes lacrimais ou a pilocarpina a 2% dosados a 1gota/5kg de peso corporal duas vezes por dia no alimento em uma tentativa de estimulação do suprimento parassimpático para a glândula lacrimal e maximizar a sua produção. Se a dosagem inicial for inefetiva, pode-se aumentá-la em uma gota por dia, até o efeito ou o desenvolvimento de intoxicação. O primeiro sinal de intoxicação por pilocarpina é hipersalivação, seguida por vômito e diarréia. O efeito da pilocarpina diminui com o tempo. Aproximadamente 20% dos cães respondem positivamente (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Birchard e Sherding, (1998), escreveram que pode-se aplicar topicamente mucolíticos ou solução de acetilcisteína a 5% 1 ou 2 vezes por dia para reduzir o acúmulo de muco forte no olho. Antibióticos de largo espectro tópicos são aconselhados sempre que se desenvolver uma úlcera corneana ou conjuntivite bacteriana secundária (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Corticosteróides podem ser fornecidos criteriosamente para reduzir os sinais inflamatórios. Antes da aplicação, avalia-se uma coloração com fluoresceína corneana para assegurar a ausência de ulceração corneana (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Quando o tratamento médico falhar, pode-se transpor cirurgicamente o ducto salivar parotídeo para a superfície conjuntival lateral (BIRCHARD e SHERDING, 1998). RELATO DE CASO A canina Pink, fêmea, 6 anos, da raça Fox Paulistinha, chegou ao serviço de Clínica Médica do HV-UEL com queixa principal de secreção ocular purulenta há mais de um ano. À anamnese, o proprietário relatou que o animal chegou a apresentar uma mancha no olho esquerdo, porém esta acabou sumindo sozinha. O quadro teve progressão lenta durante o período, sendo que anteriormente a quantidade de secreção era menor. Já havia tentado usar uma pomada e um colírio, cujos nomes não soube falar, ambos de farmácia humana, porém não obteve resultados. O proprietário negou que tivesse observado outras alterações no animal, a não ser pela mudança na quantidade e coloração da urina. Relatou que o animal tem pulgas de vez em quando, porém nunca teve carrapatos nem qualquer doença em pele. Em relação ao comportamento, foi relatado que o animal é dócil e ativo. Sua alimentação é baseada em comida caseira e ração. Foi vacinado com 3 doses de vacina nacional e é desverminado de 4 em 4 meses. Não tem acesso à rua, sendo que seu ambiente é um quintal cimentado. Já teve Parvovirose quando filhote. Ao exame físico, o animal apresentou-se pesando 4,650 kg, freqüência cardíaca de 130 bpm, freqüência respiratória de 28 mpm, TPC = 1 segundo, normohidratado. Todos os sistemas apresentavam-se normais, com exceção dos olhos, cujas alterações constam na ficha oftálmica: Olho Direito: Secreção mucopurulenta coagulada Schirmer: 5mm/min Opacidade e áreas de pigmentação em córnea Fluoresceína (-) Olho Esquerdo: Secreção mucopurulenta coagulada Schirmer: 4mm/min Opacidade em córnea Fluoresceína (-) O tratamento instituído no paciente foi com Lacrima Plus Colírio – uma gota em cada olho a cada duas horas até novas recomendações e Tobramicina – uma gota em cada olho, QID, até novas recomendações. DISCUSSÃO A ceratoconjuntivite seca e outros problemas que provocam olho vermelho e secreção ocular em cães e gatos são normalmente logo notados pelo proprietário.
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