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Tipologia de Narradores Exemplos Diversos

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Universidade Católica de Brasília
Letras
Estudos Crítico-Teóricos da Literatura II
Prof. Robson André da Silva
TIPOLOGIA DE NARRADORES
(Exemplos Diversos)
Com base no texto “Teoria da Narrativa: Elementos Estruturais da Narrativa I – Plano da Enunciação e Tipologia de Narradores” (Salvatore D’Onofrio), são apresentados abaixo exemplos de trechos literários segundo os modos predominantes da presença do narrador:
Narrador Pressuposto: neutro, intruso, seletivo ou câmera; 
Narrador-Personagem: protagonista, secundário, testemunha ou narração dramática.
I. Narrador Pressuposto
1. Narrador Onisciente Neutro
“Era uma vez uma menina muito querida por todo o mundo que a co​nhecia, por sua bondade e simpatia, mas acima de tudo querida por sua avó, que seria capaz de se privar de tudo para favorecer a neta. Certa vez, deu-lhe um chapeuzinho de veludo vermelho, e a menina gostou tanto dele, que nunca mais usou outro chapéu. E acabou sendo apelidada de Chapeuzi​nho Vermelho e praticamente ninguém a chamava por seu verdadeiro nome.
(...)
A avó da menina morava no limiar da floresta, a meia légua da aldeia e logo que Chapeuzinho Vermelho entrou na floresta, um lobo a viu. A menina ignorava que perigosa criatura ele era, e não teve medo.” 
[GRIMM, Jacob (1785-1863) & GRIMM, Wilhelm (1786-1859). Chapeuzinho Vermelho. In: -. Contos de Grimm: obra completa. Tradução de David Jardim Júnior. Belo Horizonte: Itatiaia, 2008, p. 327-328.]
2. Narrador Onisciente Intruso
	“Não, senhora minha, ainda não acabou este dia tão comprido; não sabemos o que se passou entre Sofia e o Palha, depois que todos se foram embora. Pode ser até que acheis aqui melhor sabor que no caso do enforcado. 
Tende paciência; é vir agora outra vez a Santa Tereza. A sala está ainda alumiada, mas por um bico de gás; apagaram-se os outros, e ia apagar-se o último, quando o Palha mandou que o criado esperasse um pouco lá dentro. A mulher ia sair, o marido deteve-a, ela estremeceu.” 
[ASSIS, Machado de (1839-1908). Quincas Borba. 17.ed. São Paulo: Ática, 2002, cap. L, p. 61.]
	
3. Narrador Onisciente Seletivo
	“Ia [Ema Bovary], afinal, possuir as alegrias do amor, a febre da felicidade de que já desesperara. Entrava em algo de maravilhoso onde tudo era paixão, êxtase, delírio; uma imensidão azulada a envolvia, os píncaros do sentimento cintilavam sob a sua imaginação, e a vida cotidiana aparecia-lhe longínqua, distante, na sombra, entre os intervalos daquelas alturas.
Lembrou-se das heroínas dos livros que havia lido e a legião lírica dessas mulheres adúlteras punha-se a cantar em sua lembrança, com vozes de irmãs que a encantavam. Ela mesma se tornara como uma parte verdadeira de tais fantasias e concretizava o longo devaneio de sua mocidade, imaginando-se um daqueles tipos amorosos que ela tanto invejara antes. Além disso, Ema experimentava uma sensação de vingança. Pois não sofrera já bastante? Triunfava, todavia, agora, e o amor, por tanto tempo reprimido, explodia todo, com radiosa efervescência. Saboreava-o sem remorsos, sem inquietação, sem desassossego.” 
[(FLAUBERT, Gustave (1821-1880). Madame Bovary. Tradução de Araújo Nabuco. São Paulo: Abril Cultural, 1981, cap. IX, p. 120-121.]
	
 
4. Narrador-câmera
	“A primeira cena se desenrola muito rápido. Sente-se que ela já se repetiu muitas vezes: cada um sabe seu papel de cor. As palavras e gestos se sucedem, agora, de maneira branda, contínua, encadeando-se, sem interrupção, umas às outras, como elementos necessários a uma maquinaria bem lubrificada.” 
[ROBBE-GRILLET, Alain (1922-2008). Projeto para uma revolução em Nova Iorque. Rio de Janeiro: Americana, 1974, p. 1.]
II. Narrador-Personagem
1. Narrador-protagonista
	“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi.” 
[ASSIS, Machado de (1839-1908). Memórias Póstumas de Brás Cubas. 28.ed. São Paulo: Ática, 2002, cap. I “Óbito do autor”, p. 17.]
2. Narrador-personagem secundário
“Em Paris, logo depois do escurecer, numa noite tempestuosa do outono de 18..., gozava eu a dupla volúpia da meditação e de um cachimbo de espuma, em companhia de meu amigo C. Auguste Dupin, em sua pequena biblioteca, ou gabinete de estudos, no terceiro andar, do nº 33, da rua Dunot, bairro de St.-Germain. Durante uma hora pelo menos mantivemos profundo silêncio; ao primeiro observador casual, cada um de nós parecia atenta e exclusivamente ocupado com as espirais de fumaça que tornavam pesada a atmosfera do quarto. Quanto a mim, porém, examinava mentalmente certos tópicos que haviam constituído tema de conversa entre nós, logo no começo da noite. Refiro-me ao caso da rua Morgue e ao mistério ligado ao assassínio de Marie Rogêt. Considerava, por conseguinte, a espécie de relação existente entre eles, quando a porta de nosso apartamento foi escancarada e deu entrada ao nosso velho conhecido, o Sr. G..., chefe da polícia parisiense.” 
[POE, Edgar Allan (1809-1849). A Carta Roubada. In: -. Histórias Extraordinárias. Tradução de Oscar Mendes e Milton Amado. Rio de Janeiro: Globo, 1987, p. 226.]
3. Narrador-testemunha
	“....... Ao dar com o padre Teófilo falando a uma senhora, ambos sentadinhos no banco da igreja, e a igreja deserta, confesso que fiquei espantado. Note-se que conversavam em voz tão baixa e discreta, que eu, por mais que afiasse o ouvido e me demorasse a apagar as velas do altar, não podia apanhar nada, nada, nada. Não tive remédio senão adivinhar alguma cousa. Que eu sou um sacristão filósofo. Ninguém me julgue pela sobrepeliz rota e amarrotada nem pelo uso clandestino das galhetas. Sou um filósofo sacristão. Tive estudos eclesiásticos, que interrompi por causa de uma doença e que inteiramente deixei por outro motivo, uma paixão violenta, que me trouxe à miséria. Como o seminário deixa sempre um certo vinco, fiz-me sacristão aos trinta anos, para ganhar a vida. Venhamos, porém, ao nosso padre e à nossa dama. 
	(...) Agora a dama. No momento em que os vi falar baixinho na igreja, Eulália contava trinta e oito anos de idade. Juro-lhes que era ainda bonita. Não era pobre; os pais deixaram-lhe alguma coisa. Nem casada; recusou cinco ou seis pretendentes.” 
[ASSIS, Machado de (1839-1908). Manuscrito de um sacristão. In: -. Histórias sem Data. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1989, p. 138 e 140.]
4. Narração Dramática
	“– Conte os seus pecados, meu filho.
	– Pequei pela vista...
	– Sim...
	– Eu...
	– Não tenha receio, meu filho, não sou eu quem está te escutando, mas Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, que está aqui presente, pronto a perdoar aqueles que vêm a Ele de coração arrependido. E então.
	– Eu vi minha vizinha... sem roupa...
	– Completamente?
	– Parte...
	– Qual parte, meu filho?
	– Pra cima da cintura...
	– Sim. Ela estava sem nada por cima?
	– É...”
[VILELA, Luiz (1942-). Confissão. In: -. Tremor de Terra. 7.ed. São Paulo: Ática, 1980, p. 9-10.]

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