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Noções Básicas de Teologia Moral Apostila

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NOÇÕES BÁSICAS DE MORAL 
 
 
 
Antônio Lopes Ribeiro 
 
Abril de 2008 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 1
ÍNDICE 
 
I – MORAL 
 
1. Etmologia: moral e ética............................................................................ 6 
2. Moral é: ........................................................................................................ 7 
3. Moral não é: 
 3.1. Moralismo .......................................................................................... 8 
 3.2. Moralidade ......................................................................................... 9 
4. Origem da moral ......................................................................................... 9 
5. Importância da moral hoje ......................................................................... 10 
 
II – TEOLOGIA MORAL 
 
 
1. Definição ..................................................................................................... 12 
 1.1. Teologia ............................................................................................. 12 
 1.2. Teologia moral ................................................................................... 12 
2. Fontes da teologia moral ........................................................................... 13 
 2.1. A Sagrada Escritura .......................................................................... 13 
 2.1.1 Antigo Testamento ............................................................... 13 
 2.1.2 Novo Testamento .................................................................. 13 
 2.2. A Sagrada Tradição ........................................................................... 14 
 2.3. O Magistério da Igreja ........................................................................ 15 
 
III – OS ATOS HUMANOS 
 
 
1. Definição ...................................................................................................... 16 
2. Divisão do Ato Humano ............................................................................. 16 
3. Elementos do Ato Humano ....................................................................... 17 
 3.1. A Advertência .................................................................................... 17 
 3.2. O Consentimento .............................................................................. 17 
 3.2.1. O Ato voluntário indireto – de duplo efeito ........................ 18 
 3.2.1.1. Licitude de um ato voluntário indireto................... 18 
 3.2.2. Ato voluntário de duplo fim.................................................. 19 
4. Obstáculos ao Ato Humano ....................................................................... 19 
 4.1. Obstáculos por parte do conhecimento: a ignorância .................. 19 
 4.1.1. Ignorância Vencível .............................................................. 19 
 4.1.2. Ignorância Invencível ........................................................... 20 
 4.1.3. Alguns princípios morais acerca da ignorância ................ 20 
 4.2. Obstáculos por parte da vontade ..................................................... 21 
 4.2.1. Obstáculos por parte das paixões ...................................... 21 
 4.2.1.1. Alguns pontos a considerar acerca das paixões.. 21 
 4.2.1.2. Ilustrando o que foi dito .......................................... 21 
 4.2.2. Obstáculos por parte dos hábitos ...................................... 22 
5. A Moralidade do Ato Humano .................................................................... 22 
 5.1. O Objeto .............................................................................................. 23 
 5.2. As Circunstâncias .............................................................................. 23 
 5.2.1. Influxo das Circunstâncias na Moralidade ......................... 24 
 5.3. A Finalidade ........................................................................................ 24 
6. O que determina a Moralidade do Ato Humano ....................................... 25 
 6.1. A Ilicitude de agir só por prazer ........................................................ 25 
 6.2.1. Liberdade e responsabilidade ............................................. 26 
 2
 6.2.2. A liberdade humana na economia da salvação ................. 26 
 
IV – A LEI MORAL 
 
 
 
1. Definição e natureza de Lei Moral ............................................................. 27 
2. Definição e divisão da Lei 27 
 2.1. Lei ........................................................................................................ 27 
 2.2. Divisão da Lei ..................................................................................... 28 
3. A Lei Eterna ................................................................................................. 28 
 3.1. Definição ............................................................................................. 28 
 3.2. Propriedades da Lei Eterna ............................................................... 29 
4. A Lei Natural ................................................................................................. 29 
 4.1. Preceitos da Lei Natural .................................................................... 29 
 4.2. Propriedades da Lei Natural .............................................................. 30 
 4.3. Ignorância da Lei Natural .................................................................. 31 
5. A Lei Divina Positiva ................................................................................... 31 
6. As Leis Humanas ........................................................................................ 32 
 
V – CONSCIÊNCIA MORAL - 33 
 
 
1. Conceituação de Consciência Moral ......................................................... 34 
 1.1. Nos Documentos da Igreja ................................................................ 34 
 1.2. Em outros autores .............................................................................. 35 
2. Natureza da Consciência ............................................................................ 35 
3. Regras Básicas da Consciência ................................................................ 36 
4. Regras para um Juízo Moral Correto ........................................................ 36 
5. Tipos e Estados da Consciência ............................................................... 37 
 5.1. Consciência Habitual ou Atual ......................................................... 37 
 5.2. Consciência Antecedente, Concomitante ou Consequente .......... 37 
 5.3. Consciência Reta ou Distorcida ....................................................... 38 
 5.4. Consciência Certa ou Duvidosa ....................................................... 39 
 5.5. Consciência Verdadeira ou Errônea ................................................ 39 
6. Formação da Consciência ......................................................................... 40 
 
VI – VERACIDADE, VERDADE E A MENTIRA – 42 
 
 
1. Veracidade ................................................................................................... 42 
2. Verdade ........................................................................................................ 43 
 2.1. O homem é chamado a viver na verdade ........................................ 44 
 2.2. Ocultação da verdade ........................................................................ 45 
 2.2.1. Licitude em ocultar a verdade ............................................. 45 
 2.2.2. Ocultando a verdade pela restrição mental ....................... 46 
3. A Mentira ...................................................................................................... 46 
 3.1. Princípios moraisacerca da mentira ............................................... 47 
 3.2. Divisão da mentira ............................................................................. 48 
 
VII – O PECADO – 49 
 
 
1. A questão do Pecado Original ................................................................... 50 
2. Definições clássicas do pecado ................................................................ 51 
3. Elementos constitutivos do pecado .......................................................... 51 
 3
4. Distinção dos pecados ............................................................................... 52 
5. Classificação do pecado ............................................................................ 53 
 5.1. Por sua origem ................................................................................... 54 
 5.2. Por sua prática ................................................................................... 54 
 5.3. Por seu aspecto ................................................................................. 54 
 5.4. Por sua causa ..................................................................................... 54 
 5.5. Por seu modo ..................................................................................... 54 
 5.6. Por sua gravidade .............................................................................. 55 
6. O Pecado Mortal .......................................................................................... 55 
 6.1. Definição ............................................................................................ 55 
 6.2. Implicações do Pecado Mortal ......................................................... 55 
 6.2.1. Em relação a Deus ................................................................ 55 
 6.2.2. Em relação ao homem .......................................................... 55 
 6.3. Condições para haver Pecado Mortal ............................................. 56 
7. Pecado Venial .............................................................................................. 57 
 7.1. Definição ............................................................................................. 57 
 7.2. Implicações do Pecado Venial .......................................................... 57 
 7.3. Condições para haver Pecado Venial .............................................. 58 
8. Pecados Especiais ...................................................................................... 58 
 8.1. Pecados contra o Espírito Santo ...................................................... 58 
 8.2. Pecados que bradam aos céus ......................................................... 60 
 8.3. Os Pecados Capitais .......................................................................... 60 
9. Causas do Pecado ....................................................................................... 61 
 9.1. Causas Internas .................................................................................. 61 
 9.2. Causas Externas ................................................................................ 61 
10. As Tentações ................................................................................................ 62 
 10.1. Meios para vencer as tentações ........................................................ 62 
11. A Ocasião de Pecado ................................................................................... 63 
 11.1. Próxima ................................................................................................ 63 
 11.2. Remota ................................................................................................. 64 
 11.3. Princípios morais acerca da Ocasião de Pecado ............................. 64 
 
VIII – OS HÁBITOS E AS VIRTUDES – 65 
 
 
1. Os hábitos ..................................................................................................... 65 
 1.1. Conceito ............................................................................................... 65 
 1.2. Elementos que conotam os hábitos .................................................. 65 
 1.3. Divisão dos hábitos ............................................................................ 65 
2. Hábitos operativos ....................................................................................... 66 
 2.1. Principais hábitos operativos ............................................................ 66 
 2.2. Origem e desenvolvimento do Hábito Operativo ............................. 67 
3. Princípios morais acerca dos hábitos adquiridos .................................... 67 
4. As virtudes .................................................................................................... 67 
 4.1. Etimologia de virtude ......................................................................... 68 
 4.2. Definição de virtude ............................................................................ 68 
 4.3. As virtudes na Doutrina da Igreja ...................................................... 69 
 4.4. São propriedades das virtudes .......................................................... 70 
 4.5. Alguns princípios acerca das virtudes ............................................. 70 
5. Classificação das virtudes .......................................................................... 70 
 5.1. Virtudes naturais ou adquiridas (humanas) ..................................... 70 
 5.1.1. Virtudes Intelectuais ............................................................. 71 
 5.1.2. Virtudes Morais ..................................................................... 71 
 4
 5.1.3. Virtudes Sobrenaturais e os Dons ...................................... 71 
 5.1.3.1. Virtudes Teologais ................................................... 71 
 5.l.3.2. Os Dons do Espírito Santo ...................................... 71 
6. Virtudes Intelectuais .................................................................................... 72 
7. Virtudes Morais (Cardeais) 
 7.1. A Prudência ......................................................................................... 72 
 7.2. A Justiça .............................................................................................. 73 
 7.3. A Fortaleza ........................................................................................... 73 
 7.4. A Temperança ..................................................................................... 73 
8. As Virtudes Sobrenaturais (Teologais) 
 8.1. A Fé ...................................................................................................... 74 
 8.2. A Esperança ........................................................................................ 74 
 8.3. A Caridade ........................................................................................... 75 
9. Os Dons e os Frutos do Espírito Santo 
 9.1. Os Dons do Espírito Santo ................................................................. 76 
 9.2. Os Frutos do Espírito Santo .............................................................. 76 
 
IX - Bibliografia .................................................................................................. 77 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 5
NOÇÕES BÁSICAS DE TEOLOGIA MORAL 
 
 
I - MORAL 
 
E o jovem rico perguntou a Jesus: “Bom 
Mestre, o que devo fazer para ter a vida 
eterna?” (Mc 10, 17), ao que Jesus responde: 
“Tu conheces os mandamentos: Não mates, 
não cometas adultério, não roubes, não 
levantes falso testemunho, não defraudes 
ninguém, honra teu pai e tua mãe” (Mc 10, 
19). 
 
Essa passagem nos mostra que para ganharmos a vida eterna devemos seguir 
certos preceitos, no caso do jovem rico, os mandamentos entregues a Moisés noMonte Sinai. O que devo fazer, que caminho devo seguir, que preceitos devo 
observar, nos dias de hoje, para ter uma vida moral correta e significativa? 
A resposta a essa pergunta pode ser encontrada tanto na filosofia quanto na 
teologia, pois essas duas disciplinas são as únicas que se preocupam em dar 
sentido à vida e em orientar o agir humano “mediante a justificação das escolhas, 
determinando-as de maneira obrigatória”.1 A parte da filosofia que se dedica a isso 
chama-se ÉTICA e da teologia, chama-se MORAL. 
 
1. ETIMOLOGIA: MORAL E ÉTICA 
 
Em termos etimológicos, Moral tem o mesmo sentido de Ética. Moral vem da 
palavra moss - moris, em latim, que significa costume ou costumes. Ética vem do 
grego ethos, que significa a mesma coisa. A explicação que se dá é que Cícero2, 
com o propósito de enriquecer a língua latina, inventou a palavra “moral”, para não 
ter que usar a palavra ética em grego. Desta forma, como os gregos derivam a ética 
de ethos = costume, assim também podem fazer os romanos derivando moralis, 
moral, de mos, costume em latim.3 
Por muitos anos, na história do pensamento, os termos ética e moral foram 
usados como palavras sinônimas, indistintamente para designar tudo aquilo que se 
refere ao correto procedimento humano. Porém, segundo o idealismo, que as 
diversificou, a moral constituía-se no conjunto de valores vividos no âmbito 
individual, e a ética, referia-se ao comportamento no âmbito social. 
Dom Benedito Beni dos Santos, Bispo de Lorena (SP), assim se expressa 
sobre ética e moral: “Na prática são equivalentes. Teoricamente, porém, são 
distintas. A moral é uma atividade prática. Designa o conjunto de normas referentes 
à reta conduta humana, ou seja, o bem a ser feito e o mal a ser evitado. A ética, por 
sua vez, é a teoria da moral, o modo de conceber a moral: a sua origem, a sua 
natureza, os seus objetivos”; diz ainda que a moral é prescritiva, referindo-se ao 
dever, enquanto que a ética é descritiva, não emitindo, como a moral, juízo de valor, 
mas um juízo de realidade. 
 
1 BRUNO FABIO PIGHIN, Os fundamentos da moral cristã – Manuel de ética teológica, Editora Ave-
Maria. 
2 Marcus Tullius Cícero, em latim. Foi filósofo, orador, escritor, advogado e político romano. Nasceu 
no ano 106 a.C. 
3 Cf. ANTONIO HORTELANO, Moral Alternativa – Manual de Teologia Moral, Paulus. 
 6
A Ética pode se distinguir da moral, mas não se contrapõe à mesma. Na justificação 
das escolhas, a ética se fundamenta sobre a verdade atingível utilizando somente a 
razão, ao passo que a moral, utiliza não só a razão, mas também a fé. A expressão 
ética refere-se prioritariamente à razão e o termo moral, privilegia a referência a uma 
fé. 
 
Uma melhor explicação é dada pelo autor Bruno Fábio Pighin4, segundo o 
qual, ética e moral são sinônimos, “porque em ambas as hipóteses se procede por 
juízos de valor a respeito do comportamento”, sendo a ética “uma elaboração 
racional que diz respeito ao campo do agir justificado, efetuada em nome do 
homem, prescindindo das ‘fés’ genéricas (teísmo) e das religiões reveladas 
(deísmo)” e a moral é sempre uma reflexão crítica do homem sobre o agir, mas é 
efetuada à luz da fé em Deus, que fundamenta a verdade a respeito do homem”. 
Embora hajam aqueles que preferem fazer a distinção entre os dois termos, em 
muitos dos escritos atuais, tanto de filosofia quanto de teologia, os substantivos 
Moral e Ética se equivalem, como sinônimos, vez que tem um único objeto que, 
como vimos, é o comportamento humano. 
 
 
2. MORAL É: 
 
O conjunto ordenado de normas, regras e princípios que orientam o homem 
a perseverar na justiça, regulando o comportamento entre um e outro indivíduo e 
de ambos para com a sociedade.5 Moral são todos os valores e princípios a 
serem seguidos por aqueles que procuram alcançar a santidade e a justiça 
através de boas obras. É o progresso espiritual do homem, sob a graça de Deus. 
É a total adequação do homem à vontade divina e sua cooperação à realização do 
seu Plano de Salvação. 
A moral nos leva antes de mais nada, a fazermos aquilo que é objetivamente 
bom, independentemente das vantagens ou desvantagens que disso possa 
decorrer. 
 
Sócrates assim se expressou a respeito: prefiro ser vítima da injustiça do que 
cometer a injustiça. Quando a pessoa assume essa postura existencial, não só os 
seus atos são bons, mas ela mesma se torna boa moralmente. Torna-se uma boa 
árvore, que produz sempre bons frutos. Em outras palavras, torna-se uma pessoa 
virtuosa.6
 
A moral nos leva a praticar tudo o que é digno do ser humano em oposição ao 
que é indigno. 
 
Ser fiel é digno do ser humano. Ser infiel é indigno. Defender a vida de um 
inocente é digno do ser humano. Tirar a vida a um inocente, é indigno.7 
 
4 Autor do livro “Os fundamentos da moral cristã” – Manual de ética teológica, Editora Ave-Maria 
5 A moral, nesse sentido é historicamente mutável, vez que não são invariáveis e nem perenes, mas 
mudam de acordo com as exigências da sociedade. Segundo Engels "As idéias do bem e do mal 
diferem de povo para povo, de geração para geração, e, não poucas vezes, chegam a se contradizer 
abertamente". Exemplo disso é a mudança de poligamia para monogamia em algumas sociedades 
primitivas. 
6 Cf. com texto de autoria de Dom Benedito Beni dos Santos, intitulado “Religião e Moral”, publicado 
na seção A palavra dos Pastores, da revista ARAUTOS DO EVANGELHO, nº 64, Abril 2007. 
7 Idem. 
 7
A moral nos leva a praticar atos que estejam não só de acordo com o dever, 
mas que são feitos por respeito ao dever. 
 
Se um comerciante vende sempre pelo preço justo para não perder a 
freguesia, ele não coloca um ato moral, porém, se vende pelo preço justo por 
respeito ao dever, seu ato é moral, pois foi sua consciência que exigiu isso.8 
 
Segundo Fabio Pighin, “o conceito de moral refere-se sobretudo à elaboração 
das escolhas livres, isto é, à ‘moral vivida’, que implica necessariamente os 
seguintes elementos”: 
 
 Uma pessoa humana como sujeito do pensamento e do agir moral 
 Um processo interior (efetuado pela consciência) desse indivíduo capaz 
de avaliar e de determinar as próprias decisões. 
 Decisões caracterizadas pela liberdade – para terem valor moral, as 
escolhas não devem ser determinadas nem por coação externa e nem 
interna. 
 Princípios de ação que tornam possíveis escolhas significativas (Lei 
moral). A moral refere-se aos “princípios objetivos” tendo em vista que a 
determinação livre de uma pessoa acontece sempre entre alternativas: na 
escolha entre dois caminhos diversos a serem percorridos. 
 A responsabilidade: escolher com responsabilidade significa fazer uma 
escolha “justa” que permita à pessoa o desenvolvimento da sua vida da 
maneira mais significativa possível, em relação aos princípios de ação 
vistos acima, ou seja, a Lei Moral. 
 
A escolha responsável não está ligada à arbitrariedade, mas sim ao conceito de 
dever moral, o qual não deve ser confundido com a necessidade física de agir, que 
eliminaria a liberdade de realizar tanto as escolhas justas quanto as escolhas 
erradas. Agindo por necessidade física e desconsiderando o dever moral de agir, 
realiza-se a categoria do pecado, sinal negativo do comportamento humano, ou seja, 
a irresponsabilidade9. 
 
 
 
3. MORAL NÃO É: 
 
3.1. MORALISMO 
 
Atualmente, aqueles que desconhecem o significado de moral atribuem-lhe 
uma significação com conotação negativa, contrária àquilo que ela é, denominando-
a de maneira depreciativa, com o termo MORALISMO, que seria, uma tendência a 
considerar de modo exagerado, os aspectos morais, na apreciação dos atos 
humanos. Moralismo sugere sempre “uma prescrição injustificada e externa a uma 
situação, sem qualquer esforçopara compreender os problemas reais e novos que 
ela apresenta. Por isso, é sublinhada a “falsidade” da própria prescrição”.10 
 
 
 
8 Idem. 
9 BRUNO FABIO PIGHIN, Os fundamentos da moral cristã – Manuel de ética teológica, Editora Ave-
Maria. 
10 Idem 
 8
Na linguagem comum, isso se traduziria na seguinte frase: “não venha com moral 
pra cima de mim!”. 
 
 
 
 3.2. MORALIDADE 
 
Apesar de tratar-se de termos relacionados entre si, moral e moralidade não 
são a mesma coisa, vez que moralidade refere-se à dimensão interior da pessoa, 
tendo em vista sua responsabilidade, de forma livre e consciente, perante aos 
valores humanos. A moralidade, segundo Fábio Pighin, remete sempre à “moral 
praticada”, e conserva sempre o caráter da ambivalência: o comportamento positivo, 
se o agir da pessoa for coerente com a lei moral em uma determinada situação, e 
comportamento negativo, se for contrário à lei moral. Se nos fosse lícito, assim 
classificar, de acordo com a moralidade, poderíamos através de um juízo da 
consciência, qualificar uma pessoa como moralmente boa ou moralmente má, 
dependendo de seu comportamento, porém, assim estaríamos julgando e não cabe 
a ninguém julgar, a não ser a quem de direito ou a Deus, em sua infinita 
misericórdia. A moralidade no comportamento negativo, pode ser definida como 
imoralidade e o extremo da imoralidade, é caracterizado pela amoralidade 
(ateísmo). 
 
A imoralidade é caracterizada pela transgressão da lei moral. Ela aparece 
atualmente com forte aumento e toca pontos terríveis nas sociedades ocidentais, 
economicamente progressistas. Efetivamente, difundiu-se o ‘politeísmo dos valores’, 
isto é, a adoção por indivíduos de critérios diversos, mutantes e contraditórios pelas 
escolhas, assumidas com base em razões de comodidade11. 
 
Amoralidade – comportamento totalmente prescindido de princípios morais! Uma 
negação do sentido da vida. Uma vida vivida na indiferença em relação aos valores 
morais. As quedas negativas ocorrem tanto no plano pessoal, como também no 
plano social, porque toda sociedade se funda em última análise sobre valores 
morais, sem os quais caminharia para a decomposição12. 
 
 
4 – ORIGEM DA MORAL 
 
Antes de tudo, cabe salientar que é próprio do homem o senso moral. De 
acordo com o Dicionário Aurélio, o senso moral consiste numa faculdade de 
reconhecer intuitiva e infalivelmente o bem e o mal, sobretudo nos fatos concretos. 
Segundo Jean Piaget, o ser humano não nasce com uma moral, mas com aptidão 
para adquiri-la. 
 
A criança não nasce falando uma língua, mas já nasce com aptidão para 
aprender uma língua. 
 
Antônio Hortelano denomina esse senso moral, como sendo uma moral 
espontânea, uma “tendência inata existente em todo homem normal que o leva 
instintivamente a fazer o bem e evitar o mal”. Na Veritatis Splendor, João Paulo II 
 
11 Cf. Idem. 
12 Cf. Idem. 
 9
afirma que a instância moral atinge em profundidade, cada homem e compromete a 
todos (cf. nº 3). Portanto, essa tendência inata do homem o leva a agir, fazendo de 
sua ação moral uma proposta para fora de si mesmo, ou seja, em benefício do outro. 
O sociólogo Emílio Durkheim, parte da natureza social do ser humano para 
explicar a origem da moral. Para ele, a moral começa onde se dá início a uma vida 
em grupo, tendo em vista não ser possível a vida em grupo sem a existência de 
normas morais. Percebendo isso, o homem primitivo, aos poucos, foi criando normas 
de conduta, tendo como base seus usos e costumes tradicionais, que regiam suas 
relações e garantiam a própria sobrevivência do grupo. Essas normas, sustentadas 
ao longo dos séculos, transmitidas de geração a geração, foram paulatinamente se 
enriquecendo, com o acréscimo de novas idéias e regras, constituindo-se finalmente 
em normas morais. Dessa forma, nasceu a moral. 
 
 
5 – IMPORTÂNCIA DA MORAL HOJE 
 
Nos dias de hoje, a moral tornou-se questão de sobrevivência. Ou o homem 
toma consciência de uma vez por todas que tem o dever de agir segundo os 
preceitos morais, ou então estará fadado à sua própria destruição. Basta olharmos à 
nossa volta para percebermos como se torna latente a falta de moral no mundo. São 
guerras e mais guerras, totalmente desnecessárias; desrespeito aos direitos 
humanos e à natureza; o assunto da vez gira em torno da legalização do aborto e do 
casamento entre gays. Violência em cima de violência em que vemos filhos matando 
os pais e até pais matando filhos. A vida tornou-se algo obsoleto e igualmente, a 
própria natureza, cuja destruição poderá riscar o ser humano do mapa. 
O que vemos na TV, nos jornais, nas ruas e em todos os lugares, nos deixa 
estarrecidos. A política, que deveria se constituir numa arte de fazer o bem comum e 
proporcionar uma vida feliz para todos, transformou-se em politicagem, um 
verdadeiro trampolim para que os políticos que elegemos possam alcançar os 
próprios interesses e viverem nas mordomias, em detrimento dos interesses da 
população e da própria nação. O homem tornou-se desumano: lobo do próprio 
homem. A imagem de Deus, com a qual foi criado, aparece desfigurada. Tomado por 
diversos tipos de influências negativas, tornou-se um ser imoral. 
É do nosso saudoso para João Paulo II, essas palavras, sobre o que 
aconteceu com a humanidade no mundo de hoje: 
 
“A descristianização que pesa sobre povos e comunidades inteiras, outrora ricas de fé 
e de vida cristã, comporta não só a perda da fé ou de qualquer modo a sua ineficácia na vida, 
mas também, e necessariamente, um declínio ou um obscurecimento do sentido moral: e isto, 
quer pela dissipação da consciência da originalidade da moral evangélica, quer pelo eclipse 
dos próprios princípios e valores éticos fundamentais. As tendências subjetivistas, relativistas 
e utilitaristas, hoje amplamente difundidas, apresentam-se não simplesmente como posições 
pragmáticas, como prática comum, mas como concepções consolidadas do ponto de vista 
teorético que reivindicam uma sua plena legitimidade cultural e social” (VS 106). 
 
É preciso resgatar o senso moral no homem de hoje e isso somente será 
possível através de um trabalho árduo por parte da Igreja, a começar pela 
catequese, principal responsável pela formação moral do homem de amanhã, num 
trabalho de evangelização e de conscientização sobre os valores morais cristãos, 
principalmente sobre as três virtudes teologais: Fé, esperança e caridade. Impõe-se 
urgentemente “que o homem de hoje se volte novamente para Cristo, a fim de obter 
dele a resposta sobre o que é bem e o que é mal (VS 8)”13, já que essa noção de 
 
13 VERITATIS SPLENDOR (Esplendor da verdade), Nº 8 
 10
bem e mal parece esquecida nos dias de hoje e somente “Deus pode responder à 
questão sobre o bem, porque ele é o Bem” (VS 9) absoluto. Somente Jesus, fonte 
da felicidade do homem, será capaz de reconduzir o mesmo a praticar ações 
moralmente boas e agindo assim, reconhecer a Deus, “como única bondade, 
plenitude da vida, termo último do agir humano, felicidade perfeita” (VS 9). 
Portanto, faz-se urgente que obedeçamos a voz de Cristo, paradigma e modelo 
do reto agir moral, que ordenou à sua Igreja para ir ao mundo inteiro e anunciar a 
Boa Nova a toda criatura (Cf. c 16,15), através de uma evangelização revestida de 
um ardor missionário não só em seus métodos (catequese), como também em sua 
expressão (testemunho). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 11
II – TEOLOGIA MORAL 
 
1. DEFINIÇÃO 
 
1.1. TEOLOGIA: 
 
 É a ciência que tem Deus por objeto de seu estudo. 
 É a ciência a respeito de Deus. 
 Por extensão, é o estudo das questões que faz referênciaao conhecimento 
de Deus, de seus atributos e de suas relações com o mundo e com os 
homens. É o estudo racional dos textos sagrados, dos dogmas e das 
tradições do cristianismo.14 
 
1.2. TEOLOGIA MORAL: 
 
É a parte da Teologia que “estuda os atos humanos, considerando-os em 
ordem ao seu fim sobrenatural”.15 
 
É parte da Teologia porque: A moral, segundo Sto Tomás de Aquino, se ocupa do 
movimento da criatura racional para Deus, e como vimos, é a Teologia a ciência que 
se dedica ao estudo e conhecimento de Deus. 
Que estuda os atos humanos: daqueles atos que o homem executa com 
conhecimento e de livre vontade. 
Em ordem ao fim sobrenatural: Esses atos humanos não são considerados na sua 
mera essência ou constituição interna (o que é próprio da psicologia), nem em vista 
de moralidade puramente humana ou natural (o que corresponde à Ética ou Filosofia 
Moral), mas sim em ordem à moralidade sobrenatural, ou seja, na medida em que 
aproximam ou afastam o homem do seu fim sobrenatural eterno.16
 
Segundo Antônio Hortelano, é a ciência da moral humana, por meio de Cristo e 
através dele. Como vimos, Cristo é o paradigma, o modelo do agir cristão e somente 
através dele, que nos dá o Santo Paráclito17 é que conseguimos vencer o pecado e 
agir conforme a sua vontade. 
A Veritatis Splendor assim se refere à Teologia Moral: “A reflexão moral da 
Igreja, sempre realizada à luz de Cristo, o ‘bom Mestre’, desenvolveu-se também na 
forma específica de ciência teológica, chamada ‘teologia moral’, uma ciência que 
acolhe e interroga a Revelação divina e, ao mesmo tempo, responde às exigências 
da razão humana”. É Teologia Moral enquanto faz uma reflexão daquilo que se refira 
“à ‘moralidade’, ou seja, ao bem e ao mal dos atos humanos e da pessoa que os 
realiza, e neste sentido está aberta a todos os homens”. É teologia, “enquanto 
reconhece o princípio e o fim do agir moral naquele que ‘só é bom’ e que, doando-se 
ao homem em Cristo, lhe oferece a bem-aventurança da vida eterna”. 
 
 
 
 
 
14 Cf. com definição dada pelo Dicionário Aurélio. 
15 RICARDO SADA e ALFONSO MONROY – Curso de Teologia Moral 
16 Cf. Idem. 
17 Em grego: Parákletos; em latim: Paracletu. Trata-se de um designativo aplicado primeiramente a 
Cristo e posteriormente ao Espírito Santo, cujo sentido significa: Defensor, protetor, mentor (fonte: 
Dic. Aurélio). 
 12
2. FONTES DA TEOLOGIA MORAL 
 
Para cumprir seu papel de ciência do conhecimento de Deus, a teologia moral 
conta com as seguintes fontes, sobre as quais se baseia e se alimenta, que são: A 
palavra de Deus, contida na Bíblia, a tradição, que de geração em geração transmite 
a experiência cristã e o magistério da Igreja, que se coloca inquestionavelmente a 
serviço do povo de Deus. 
 
 
 2.1. A SAGRADA ESCRITURA 
 
É a fonte principal da Moral cristã, por constituir-se na própria Palavra de Deus. 
Já dizia Santo Agostinho: a Bíblia não é senão “uma série de cartas enviadas por 
Deus aos homens para os exortar a viver santamente”. 
Em todo o conteúdo da Bíblia, desde o Antigo Testamento até o Novo 
Testamento, encontramos diversos preceitos morais estabelecidos por Deus, tendo 
em vista a conduta humana. São normas que orientam o homem, com segurança, e 
isenta de erro, ao seu fim último, que é a visão de Deus, face a face. 
 
 
2.1.1. ANTIGO TESTAMENTO 
 
No AT encontramos três tipos de normas diferentes, as quais sejam:18 
 
 normas jurídicas: são prescrições que abrangem o direito civil, penal e 
processual (Ex 20-23 e Dt). 
 normas cultual-religiosas: afirmações sobre o que é puro e o que é 
impuro (Lv 1-15) e parcialmente também a “lei da santidade” (Lv 17-23). 
 normas éticas: São preceitos esparramados no Êxodo, no Levítico, no 
Deuteronômio, etc. 
 
O DECÁLOGO – Os dez mandamentos, baseia-se sobre estas palavras: “Eu sou o 
Senhor, teu Deus, que te fiz sair do Egito, de uma casa de escravidão. Não terás 
outro deus além de mim” (Ex 20,2-3). LER VERITATIS SPLENDOR, pg. 20. 
 
 
2.1.2. NOVO TESTAMENTO 
 
No NT, destaca-se principalmente o Sermão da Montanha, que segundo a 
Veritatis Splendor constitui a magna carta da moral evangélica, uma formulação 
mais ampla e completa da Nova Lei (cf. Mt 5-7), em que Jesus diz: “Não penseis que 
vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogá-la, mas completá-la” (Mt 5,17). Diz 
ainda que Cristo é a chave das Escrituras: “Vós esquadrinhais as Escrituras: elas 
dão testemunho de mim” (cf. Jô 5,39). Cristo “é o centro da economia19 da salvação, 
é a recapitulação do Antigo e do Novo Testamento, das promessas da Lei e do seu 
cumprimento no Evangelho; é o elo vivo e eterno entre a Antiga e a Nova Aliança”. 
(VS 15). 
No AT, o decálogo está unido “a uma promessa: o objeto da promessa, na 
Antiga Aliança, era a posse de uma terra onde o povo poderia viver uma existência 
 
18 Cf. BRUNO FABIO PIGHIN, Os fundamentos da Moral cristã – Manual de ética teológica, Ave-
Maria, 2005. 
19 Economia da salvação – São todos os meios que Deus disponibiliza para a salvação do homem. 
 13
em liberdade e conforme a justiça (cf. Dt 6,20-25); na Nova Aliança, o objeto da 
promessa é o “reino dos céus”, como Jesus afirma ao início do Discurso da 
Montanha” (VS 12). 
Em Jo 13, 14-15, Jesus se coloca como modelo, como paradigma moral a ser 
seguido. Seu comportamento e sua palavra, suas ações e seus preceitos, 
constituem a regra moral da vida cristã. (cf. VS 20). Ele resume o decálogo em um 
mandamento novo (Jo 13,34-35). Sobre essa nova Lei, S. Tomás escreveu que a 
mesma “é a graça do Espírito Santo dada pela fé em Cristo”. A Nova Lei além de 
dizer o que se deve fazer, no agir moral cristão, dá também a força “de praticar a 
verdade” (cf. Jo 3,21). 
Além das prescrições morais encontradas em todo o ensinamento de Jesus, 
“na catequese moral dos Apóstolos, a par de exortações e indicações ligadas ao 
contexto histórico e cultural, há um ensinamento ético com normas precisas de 
comportamento. Comprovam-no as suas Cartas que contêm a interpretação, guiada 
pelo Espírito Santo, dos preceitos do Senhor vividos nas distintas circunstâncias 
culturais (cf. Rm 12-15; 1Cor 11-14; Gl 5-6; Ef 4-6, Cl 3-4; 1Pd e Tg)”. (VS 26). 
Todas as prescrições morais do AT, que foram levadas à perfeição por Cristo, 
no NT, foi confiada à Igreja que por elas zela fielmente, conservando-as e 
atualizando-as permanentemente, nas diferentes culturas, ao longo da história, 
sempre zelosa e assistida pelo Espírito Santo. “Quem vos ouve é a mim que ouve” 
(Lc 10,16), portanto, devemos confiar em tudo aquilo que a Igreja nos ensina sobre a 
Moral teológica necessária para nos conduzir ao fim último do homem que é seu 
próprio Criador, Deus. 
 
Existem prescrições do AT, meramente cerimoniais ou jurídicas, que foram abolidas 
no NT, assim como existem prescrições no NT que tiveram finalidade meramente 
circunstancial e temporal e que já não obrigam seu cumprimento nos dias de hoje: a 
abstenção de comer carne de animais estrangulados, por exemplo. (At 15, 29). 
 
 2.2. A SAGRADA TRADIÇÃO 
 
João conclui seu evangelho afirmando: “Há, porém, muitas outras coisas que 
Jesus fez. Se fossem escritas uma por uma, creio que o mundo não poderia conter 
os livros que se escreveriam” (Jo 21,25), o que deixa em aberto a questão da 
tradição, fonte complementar da Sagrada Escritura. Essas palavras finais de João 
nos mostra que nem todas as verdades reveladas por Deus, estão escritas na Bíblia 
e muitas delas, de autoria do próprio Cristo ou dos Apóstolos, por inspiração do 
Espírito Santo, foram reveladas oralmente e pela Tradição, chegaram até nós. 
A Tradição a que nos referimos, “é a que vem dos apóstolos e transmite o que 
estes receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam pormeio do Espírito Santo. Com efeito, a primeira geração de cristãos ainda não 
dispunha de um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento atesta o 
processo da Tradição viva... Dela é preciso distinguir as ‘tradições’ teológicas, 
disciplinares, litúrgicas ou devocionais surgidas ao longo do tempo nas Igrejas 
locais. Constituem elas formas particulares sob as quais a grande Tradição recebe 
expressões adaptadas aos diversos lugares e às diversas épocas. É à luz da grande 
Tradição que estas podem ser mantidas, modificadas ou mesmo abandonadas, sob 
a guia do Magistério da Igreja”. (CIC nº 83). 
 
A Tradição chega até nós, pelos seguintes canais: 
 
 14
 Os Padres da Igreja20 (também chamados Santos Padres), dentre os quais se 
destacam quatro Padres orientais: Sto Atanásio, São Basílio, São Gregório 
Nazianzeno e São João Crisóstomo; e quatro Padres latinos: Sto Ambrósio, 
São Jerônimo, Santo Agostinho e São Gregório Magno. Em se tratando de 
matéria de fé, não se permite rejeição aos ensinamentos moralmente 
unânimes desses Padres, acerca de uma verdade. 
 Os teólogos: São autores posteriores à época patrística, que se dedicaram ao 
estudo científico e sistemático das verdades relacionadas à Fé e aos 
costumes. Dentre eles, destaca-se São Tomás de Aquino (1225-74), que foi 
declarado pela Igreja com o título de “Doutor Comum e Universal”, cuja 
doutrina foi absolvida pela Igreja, tornando-se base para o ensino tanto da 
Filosofia, quanto da Teologia. 
 A própria vida da Igreja, desde o início, através da Liturgia e do sentir do 
povo cristão. 
 
 
 2.3. O MAGISTÉRIO DA IGREJA 
 
Coube ao Magistério da Igreja, “o ofício de interpretar autenticamente a 
Palavra de Deus escrita ou transmitida... cuja autoridade se exerce em nome de 
Jesus Cristo” (DV 10), ou seja, “foi confiado aos bispos em comunhão com o 
sucessor de Pedro, o bispo de Roma” (CIC 85). O Magistério, que nunca está acima 
da Palavra de Deus, mas a serviço dela, não ensina “senão o que foi transmitido, no 
sentido de que, por mandato divino, com a assistência do Espírito Santo, piamente 
ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe, e deste único 
depósito de fé tira o que nos propõe para ser crido como divinamente revelado” (CIC 
86). 
A infabilidade do Magistério da Igreja, segundo Ricardo Sada, não incide 
somente em questões de Fé, mas também em questões de moral e, dentro desta, 
não exclusivamente nos princípios gerais, pois vai até a normas particulares e 
concretas. A Igreja ensina de modo infalível, normas morais contidas na Sagrada 
Escritura e na Tradição, tidas como permanentes e universais, especialmente os dez 
mandamentos. 
Como Mestra, a Igreja “não se cansa de proclamar a norma moral (...) De tal 
norma, a Igreja não é, certamente, nem a autora nem o juiz. Em obediência à 
verdade que é Cristo, cuja imagem se reflete na natureza e na dignidade da pessoa 
humana, a Igreja interpreta a norma moral e propõe-na a todos os homens de boa 
vontade, sem esconder as suas exigências de radicalidade e de perfeição” (VS 95). 
A Igreja jamais renunciará ao princípio da verdade e da coerência, não 
aceitando, portanto, chamar bem ao mal e mal ao bem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 Trata-se de um conjunto de escritores dos primeiros séculos da Igreja, que, pela sua antiguidade, 
doutrina, santidade de vida e aprovação pela Igreja, merecem ser considerados autênticas 
testemunhas da fé cristã. 
 15
III – OS ATOS HUMANOS 
 
 
 
1. DEFINIÇÃO DE ATOS HUMANOS 
 
O ser humano é o único ser que é dotado por duas faculdades essenciais, que 
são: a inteligência e a vontade. Por isso ele é livre nas escolhas dos atos que 
pratica. Portanto, os atos humanos são aqueles que procedem da vontade 
deliberada do homem, que os pratica com conhecimento e com livre vontade.21 
Dá-se o nome de atos humanos a multiplicidade das escolhas concretas realizadas 
por uma pessoa.22 Segundo o CIC, a liberdade faz do homem um sujeito moral e 
quando age de forma deliberada, ele é, por assim dizer, o pai de seus atos. 
A qualificação de “humanos” indica o agir livre próprio de cada pessoa, que 
representa um salto de qualidade em relação ao comportamento dos animais. 
Distingue-se atos humanos de atos do homem, que podem ser designados de atos 
meramente naturais, os quais não procedem de livre escolha: batimentos cardíacos, 
respiração, circulação do sangue, sentir dor ou prazer. 
 
Não se deve confundir atos humanos com atos do homem, que procedem deste, 
mas a que falta quer a advertência - caso dos dementes, das crianças pequenas, ou 
a distração total), quer a voluntariedade (por coação física, etc), quer uma e outra 
(ex.: quem está dormindo). 
 
 
 
2. DIVISÃO DO ATO HUMANO 
 
Os atos humanos, livremente escolhidos após um juízo da consciência, são 
qualificados moralmente como sendo: 
 
 Bom ou lícito – quando em conformidade com a Lei moral (ex: dar 
esmola); 
 Mau ou ilícito – quando for contrário à Lei moral (ex: roubar); 
 Indiferente – nem contrário, nem conforme à Lei moral (ex: caminhar). 
 
Há ainda uma outra divisão dos atos humanos, em razão das faculdades que o 
aperfeiçoam, apontada por Ricardo Sada, que pode ser: 
 
 Interno – É realizado mediante as faculdades internas do homem, seja: 
entendimento, memória, imaginação, etc (ex., a recordação de uma 
ação passada, ou o desejo de algo futuro). 
 Externo – Quando intervêm também os órgãos e sentidos do corpo (ex. 
comer ou ler). O ato externo pode ser em comissão, quando realizamos 
um ato, ou omissão, quando nos recusamos a realizar um ato que deve 
ser feito. 
 
 
21 Cf. RICARDO SADA e ALFONSO MONROY – Curso de Teologia Moral 
22 Cf. BRUNO FABIO PIGHIN, Os fundamentos da Moral cristã – Manual de ética teológica, Ave-
Maria, 2005. 
 
 16
3. ELEMENTOS DO ATO HUMANO 
 
Como vimos, na definição de atos humanos, o mesmo exige a intervenção das 
faculdades essenciais que são a inteligência e a vontade. Os elementos que o 
constituem são a advertência, quanto à inteligência, e o consentimento, quanto à 
vontade. 
 
 
3.1. A ADVERTÊNCIA 
 
Pela advertência, o homem percebe a acão que irá realizar ou que já está 
realizando. Essa advertência pode se dar de forma plena ou semi-plena, conforme a 
ação seja advertida com toda a perfeição ou só imperfeitamente (p. ex. estando meio 
adormecido).23 
 
Todo ato humano requer necessariamente essa advertência, de forma tal que um 
homem que atue distraidamente e não repara minimamente no que está a fazer, 
não realiza um ato humano. 
 
Para que um ato seja imputado moralmente a alguém, não basta ter somente a 
advertência do ato em si. É necessário também que essa advertência relacione o ato 
com a moralidade (Ex: Quem tem consciência de comer carne vermelha, mas sem 
reparar que é quarta feira de cinzas, embora pratique um ato humano, o mesmo não 
lhe pode ser imputado moralmente).24 
 
Para que um ato seja imputado moralmente, a advertência tem que ser dupla: do ato 
em si e da moralidade do ato. 
 
 
3.2. O CONSENTIMENTO 
 
O consentimento é o que leva o homem a querer praticar um ato previamente 
conhecido pela advertência, procurando com isso um fim. Segundo São Tomás de 
Aquino, o ato voluntário ou consentido é aquele que procede de um princípio 
intrínseco, com conhecimento do fim que se almeja. 
Esse ato voluntário pode ser perfeito, se realizado com pleno consentimento, 
chamado também de ato voluntário direto. Pode ser imperfeito se realizado apenas 
com semi-pleno consentimento, sendo portanto, um ato voluntário indireto – de 
duplo efeito. 
 
 
Ato voluntário Perfeito: com pleno consentimento = ato voluntário direto. 
 
 Imperfeito: semi-pleno consentimento = voluntário indireto. 
 (deduplo efeito). 
 
 
 
 
 
23 Cf. RICARDO SADA e ALFONSO MONROY – Curso de Teologia Moral 
24 Cf. Idem. 
 17
3.2.1. O ATO VOLUNTÁRIO INDIRETO – DE DUPLO EFEITO 
 
Como vimos, o ato voluntário indireto, de duplo efeito, é aquele que é realizado 
apenas com consentimento semi-pleno, seja, parcial. Esse ato se dá quando ao 
praticar uma ação, além do efeito que de modo direto se procura com ela (o efeito 
bom), se segue um outro efeito adicional (um efeito mau), que não se pretende, mas 
apenas se tolera por vir unido ao primeiro. Como exemplo, para ilustrar o que está 
dito, temos o caso de Hiroshima: para destruir o inimigo e acabar com a guerra, o 
piloto tinha que bombardear a cidade, mesmo sabendo que morreria muita gente 
inocente. Diretamente, o que ele queria era destruir o inimigo – ato voluntário direto, 
e tolera a morte dos inocentes – ato voluntário indireto.25 
Outro exemplo de ato voluntário indireto: na área médica, quando uma paciente 
tem câncer no útero e está grávida, para salvar a mãe, o médico extirpa-lhe o útero 
(efeito bom) e acelera a morte do feto (efeito mau). 
Trata-se de um ato voluntário de que se segue um efeito bom e outro mau, seja, 
um ato voluntário de duplo efeito. Não se deve confundir este, com o ato de dupla 
finalidade. 
 
 
3.2.1.1. LICITUDE DE UM ATO VOLUNTÁRIO INDIRETO 
 
Existem casos, como os exemplos citados, de Hiroshima e da mãe com câncer, 
que se torna lícita a realização de ações com um efeito bom, seguido de outro mau. 
Porém, para que se possa praticar com licitude um ato voluntário que sigam dois 
efeitos, um bom (voluntário direto) e outro mau (voluntário indireto), é necessário que 
o mesmo esteja em conformidade com as seguintes condições: 
 A ação tem que ser boa em si mesma – jamais será lícito, por exemplo, 
mentir para proveito próprio ou alheio, pois mesmo que se alcance bons efeitos 
com a mentira, a mesma é uma ação má em si mesma. Vale lembrar aqui, o 
fim não justifica os meios. 
 O efeito imediato, o bom, deverá ser diretamente intencionado, e o mau 
efeito, uma conseqüência necessária, seja apenas tolerado – O efeito bom 
deve derivar diretamente da ação e não do efeito mau. Exemplo: jamais seria 
lícito abortar para salvar a honra de uma jovem, pois o primeiro efeito seria o 
ato do aborto. A regra do princípio anterior se aplica também aqui, seja, o fim 
não justifica os meios. 
 O sujeito da ação deve se propor sempre ao fim bom, seja, o bom efeito e 
não o mau, somente permitido – Caso procure o fim mau, embora através do 
bom, a ação será imoral, por causa da perversidade da intenção. O fim mau se 
tolera por ser impossível separá-lo do bom, no que haverá desgosto ou 
desagrado. Não é lícito intentar os dois efeitos, mas unicamente o bom, 
permitindo o mau somente por ser absolutamente inseparável do primeiro (ex. 
empregado ameaçado de morte que dá o dinheiro aos assaltantes, para salvar 
a vida e não para que roubem do patrão). 26 
 Deverá haver motivo proporcionado na ação para que se permita o efeito 
mau – O efeito mau, mesmo que esteja unido de modo indireto ao efeito bom, 
embora seja permitido, é sempre materialmente mau. Neste caso, em que não 
existe voluntariedade de pecar, se dá o pecado material que somente por 
 
25 Cf. Idem. 
26 Cf. RICARDO SADA e ALFONSO MONROY – Curso de Teologia Moral 
 18
causa proporcionada poderá ser permitido. Ex.: Jamais será lícito que para 
atingir um terrorista escondido, uma ação militar tenha que destruir uma cidade 
inteira, pois o motivo – atingir um terrorista – não é proporcionado ao efeito 
mau – destruição da cidade. 
 
3.2.2. ATO VOLUNTÁRIO DE DUPLO FIM 
 
Trata-se de um ato de dupla finalidade, não de duplo efeito, como vimos na 
definição de ato voluntário indireto. Neste caso, há uma ação com um fim próprio 
(imediato) e outro ulterior (mediato). Um exemplo clássico disso é o filme “Hobin 
Hood”, cujo personagem com o nome do título, realizava duas ações de fim duplo: 
rouba dos ricos (fim imediato), para dar aos pobres (fim mediato). Zorro é outro 
exemplo idêntico. Vale aqui a antiga regra: “o fim não justifica os meios”. 
 
 
4. OBSTÁCULOS AO ATO HUMANO 
 
Para que um ato humano seja considerado como tal, tem que haver a vontade 
livre do sujeito, devendo o mesmo ser espontâneo e não coagido ou forçado, com 
conhecimento do fim a que se propõe. Como vimos, o ato deve proceder do homem, 
com os elementos que lhe são essenciais: O conhecimento (advertência), quanto à 
inteligência e o consentimento, quanto à vontade. Existem porém alguns fatores que 
afetam os atos humanos, impedindo ao sujeito o devido conhecimento da ação ou 
de sua escolha voluntária. São causas que podem modificá-los, quanto à sua 
voluntariedade ou quanto à sua advertência e em conseqüência, quanto à sua 
moralidade; algumas delas pode até vir a afetar o elemento cognoscitivo do ato 
humano (a advertência) e outras, o elemento volitivo (o consentimento), fazendo 
com que um ato seja visto não como ato humano, mas sim como ato do homem. 
 
 
4.1. OBSTÁCULOS POR PARTE DO CONHECIMENTO: A IGNORÂNCIA 
 
A ignorância é o estado de quem ignora ou desconhece alguma coisa, é o 
desconhecimento de uma determinada obrigação. Do ponto de vista da Teologia 
Moral, a ignorância seria “a falta da devida ciência moral, num sujeito capaz de tê-la, 
do conhecimento moral que se poderia e deveria ter”.27 A ignorância pode ser 
vencível ou invencível. 
 
 
4.1.1. IGNORÂNCIA VENCÍVEL 
 
A ignorância vencível é aquela que caso o quisesse, o sujeito da ação poderia 
vencê-la e transpô-la através de um esforço razoável (pensando, estudando e até 
mesmo consultando a alguém com capacidade para instruí-lo). A mesma pode ser: 
 
 Simplesmente vencível - quando há um esforço considerável para sair 
dela, porém, de modo insuficiente ou incompleto. 
 Crassa ou supina (elevada) - quando o sujeito não faz nada ou 
praticamente nada para sair dela, incorrendo num grave descuido em 
aprender as principais verdades da Fé Cristã, os preceitos e normas da 
 
27 Cf. RICARDO SADA e ALFONSO MONROY – Curso de Teologia Moral 
 19
Moral, bem como seus deveres para com o outro e para com a sociedade, 
em geral. 
 Afetada – Neste caso, voluntariamente o sujeito escolhe nada fazer para 
vencê-la, a fim de pecar com maior liberdade. 
 
 
4.1.2. IGNORÂNCIA INVENCÍVEL 
 
A ignorância invencível é aquela que não pode ser superada pelo sujeito que 
dela sofre, ou pela falta de advertência da mesma (ex. a prática de infanticídio de 
gêmeos, entre os índios28), ou por se tentar em vão sair dela, através do estudo, ou 
perguntando. Esse tipo de ignorância é próprio de pessoas rudes e não-civilizadas. 
O esquecimento e a inadvertência podem, em certas ocasiões, equiparar-se à 
ignorância invencível (ex.: quem come carne em dia de quarta-feira de cinzas, sem 
saber, de forma tal que se o soubesse, não comeria). 
 
 
4.1.3. ALGUNS PRINCÍPIOS MORAIS ACERCA DA IGNORÂNCIA 
 
Os princípios que se segue, com relação ao obstáculo da ignorância, estão 
relacionados diretamente com a responsabilidade moral e do pecado em si, perante 
Deus: 
 A ignorância invencível retira toda e qualquer responsabilidade aos olhos de 
Deus, devido à falta de voluntariedade (ex.: uma criança faz algo errado 
sem o saber, não peca). Parte-se do princípio que “nada é desejado sem 
antes ser conhecido”.29 
 A ignorância vencível é sempre culpável perante Deus, em maior ou menor 
gravidade, conforme haja negligência na averiguação da verdade. A uma 
ação má realizada com ignorância “crassa ou supina”, imputa-se maior 
responsabilidade do que com ignorância “simplesmente vencível”, podendo 
ser pecado moral se depender degrave descuido. 
 A ignorância afetada, longe de diminuir, sempre aumenta a responsabilidade 
do sujeito perante Deus, por pressupor uma malícia maior, vez que se 
pratica um ato mau, com consentimento suficientemente deliberado. 
 
NOTA: Apesar da ignorância poder eximir de culpa e consequentemente de 
responsabilidade moral, em alguns casos, porém, há sempre o dever de conhecer a 
lei moral, para se adequar a ela as próprias ações. A busca pelo conhecimento da lei 
moral não deve limitar-se apenas a uma fase da vida da pessoa, mas à vida toda. 
Ganha especial atenção no que se refere às obrigações no campo profissional e 
também nos deveres civis de cada pessoa, o dever de sair da ignorância. 
4.2 – OBSTÁCULOS POR PARTE DA VONTADE 
 
Como vimos anteriormente, a vontade é uma das faculdades essenciais para 
que um ato seja considerado como Ato humano. No entanto, existem alguns 
 
28 Algumas tribos indígenas brasileiras praticam o infanticídio quando nasce gêmeos, pois acreditam 
ser algo proibido: um é mal e o outro é bom e devido à impossibilidade de saber qual dos dois é bom, 
sacrificam ambos. 
29 Um adágio escolástico, que no latim significa: “nibil volitum nisi praecognitum”, citado por R.Sada. 
 20
obstáculos que dificultam a livre escolha por parte da vontade. Esses obstáculos são 
as paixões e os hábitos maus (os vícios). 
 
 
4.2.1. OBSTÁCULOS POR PARTE DAS PAIXÕES 
 
Ao ser criado, Deus dotou o homem com algumas forças em sua natureza que 
o levam a agir. Essas forças são as “paixões”, movimentos do apetite sensitivo, que 
se traduz numa série de impulsos, tendências, afetos e sentimentos, que devido ao 
pecado original, ficaram desordenadas. Algumas dessas paixões, tais como: o 
medo, a ira, o ódio, o prazer, a violência, quando desordenadas, se constituem em 
obstáculos à livre escolha feita pela vontade. 
 
 
4.2.1.1. ALGUNS PONTOS A CONSIDERAR ACERCA DAS PAIXÕES: 
 
Paixões tais como a ira, o ódio e o prazer podem converterem-se em boas ou 
más, dependendo do objeto a que as mesmas se dispõem. Para não conduzirem o 
sujeito a agir mal, as mesmas devem ser dirigidas pela razão e regidas pela vontade. 
Exemplo: Quando a ira leva à defesa dos valores divinos, ela é santa (a ira de Jesus 
Cristo, ao expulsar os vendilhões do Templo – Mc 11,15-19); agrada a Deus o ódio 
ao pecado; é bom o prazer quando regido pela reta razão. “Se os objetos a que 
tendem as paixões forem maus, afastam-nos do fim último: tais são o ódio ao 
próximo, a ira por motivos egoístas, o prazer desordenado...” 30 
Se as paixões antecedem à prática da ação de forma influenciável, podem 
diminuir a liberdade por ofuscarem a razão. Em um acesso de intensa violência, por 
exemplo, podem chegar até a destruir a liberdade do indivíduo que se deixa arrastar 
por elas (ex.: um pai que se deixa levar pela ira até matar seu filhinho à pancada). 
Caso venham após o ato cometido e são diretamente provocadas, a 
voluntariedade aumenta (ex.: o sujeito que, com a finalidade de aumentar a ira e o 
desejo de vingança, fica a recordar as ofensas recebidas). 
Quando ocorre um movimento das paixões que nos inclina ao mal, a vontade 
pode atuar negativamente, de forma indiferente, não aceitando-o nem rejeitando-o 
ou pode atuar positivamente, aceitando-o, ou rejeitando-o num ato evidente.31 
 
 
4.2.1.2 - ILUSTRANDO O QUE FOI DITO 
 
 O medo – É um vacilar do ânimo, um sentimento de grande inquietação 
ante um perigo real ou imaginário, que influi na vontade do sujeito que atua. 
Ainda que intenso, em geral, o medo não destrói o ato voluntário, a não ser 
quando chega a perder o uso da razão, devido à sua intensidade. O medo 
não é razão suficiente para se cometer um ato mau, embora haja motivo 
considerável. (Ex: renegar a fé por medo do castigo ou da morte, ou usar 
meios contraceptivos por receio das conseqüências graves para a saúde, 
em caso de uma nova gravidez).32 
 
 A violência: É a reação a um fator externo, que leva o sujeito constrangido, 
moral ou fisicamente, a atuar contra a própria vontade, “saindo do sério”. 
 
30 Cf. RICARDO SADA e ALFONSO MONROY – Curso de Teologia Moral 
31 Idem. 
32 Idem. 
 21
Quando uma pessoa simples e pacata é insistentemente constrangida 
fisicamente por alguém, vai resistindo, vai resistindo, até não conseguir 
resistir mais, partindo em revide para a violência, nesse caso, o ato de 
revide praticado destrói a voluntariedade, vez que a pessoa resistiu 
interiormente para não consentir a prática do mal. Porém, no caso do 
constrangimento provocado por violência moral, a voluntariedade nunca 
será destruída, pois, a pessoa que está sendo constrangida, continua a 
todo instante senhora da sua liberdade, podendo interiormente acatar ou 
não a provocação sofrida (a pessoa só pode ferir alguém de fato, 
fisicamente, pois moralmente, cabe à vítima assimilar ou não a 
provocação). 
 
 
4.2.2. OBSTÁCULOS POR PARTE DOS HÁBITOS 
 
Os hábitos ou costumes, se dá pela repetição de atos e se definem como firme 
e constante tendência para agir de certa maneira. É como se fosse uma segunda 
natureza, positiva ou negativa, segundo os atos que realiza (...) Essa segunda 
natureza pode criar-se de modo espontâneo e inconsciente ou pode realizar-se 
consciente e programadamente”.33 Estão muito relacionados com o consentimento. 
Os mesmos podem ser bons = virtudes, ou maus = vícios. 
 
O hábito de pecar, que se constitui num vício arraigado, diminui a responsabilidade 
caso haja esforço por combatê-lo. Quem não luta para desarraigar um hábito mau 
contraído voluntariamente, torna-se responsável não só pelos atos que comete 
advertidamente, mas ainda pelos inadvertidos, seja, quando não se combate a 
causa, querer a causa é querer o efeito. Quem luta contra os seus vícios é 
responsável pelos pecados que comete com advertência, mas não pelos que 
comete inadvertidamente, pois não há na causa o elemento voluntário.34
 
 
5. A MORALIDADE DO ATO HUMANO 
 
Quando o homem age de forma deliberada, é, por assim dizer, o pai de seus 
atos. A liberdade faz dele um sujeito moral. Os atos humanos, livremente escolhidos 
após um juízo da consciência, são qualificáveis moralmente, como sendo bons ou 
maus (cf. CIC 1749). 
Para se qualificar moralmente um ato, necessita-se fazer uma reflexão a partir 
dos elementos que se constituem na fonte da moralidade: 
 O objeto do ato em si mesmo; 
 As circunstâncias que o rodeiam; e 
 A finalidade (ou intenção) que o sujeito se propõe ao realizar esse ato. 
 
5.1. O OBJETO 
 
É a matéria de um ato humano, o dado fundamental: do ponto de vista moral, é 
a ação mesma do sujeito. “O objeto escolhido é um bem para o qual se dirige 
deliberadamente a vontade”.35 
 
33 ANTONIO HORTELANO, Moral alternativa – Manual de teologia Moral – Paulus, 2000. 
34 Cf. RICARDO SADA e ALFONSO MONROY – Curso de Teologia Moral 
35 Cf. CIC nº 1751. “O objeto escolhido especifica moralmente o ato de querer, conforme a razão o 
reconheça e julgue estar de acordo ou não com o bem verdadeiro” 
 22
O objeto não é o ato puro e simples, mas o é juntamente com sua qualidade 
moral. Como nos exemplos a seguir, um mesmo ato físico pode ter vários objetos: 
 
 
ATO OBJETO 
Matar Assassínio 
Defesa própria 
Aborto 
Pena de morte 
 
Falar Mentir 
Rezar 
Insultar 
Abençoar 
Jurar 
Difamar 
 
 
Segundo Ricardo Sada, a moralidade de um ato depende principalmente do 
objeto: se o objeto é mau, o ato será mau; se o objeto é bom, o ato será bom se 
forem boas as circunstâncias e a finalidade. Ex: Por mais que as circunstâncias ou a 
finalidade sejam boas, jamais será lícito blasfemar, perjurar, caluniar, etc. 
 
Há atos que por não ter moralidade alguma (p.ex.passear), nesse caso, 
recebe-a da finalidade que a pessoa tenha em vista (ex., descansar e conservar a 
saúde), ou das circunstâncias que o acompanhem (ex., más companhias).36 
 
 
 
5.2 AS CIRCUNSTÂNCIAS 
 
As circunstâncias bem como as conseqüências são elementos secundários de 
um ato moral, que contribuem para agravar ou diminuir a bondade ou maldade moral 
dos atos humanos. As mesmas podem também atenuar ou aumentar a 
responsabilidade do agente (ex., agir por temor da morte). As circunstâncias não 
podem tornar boa ou justa uma ação má em si mesma. (cf. CIC 1752). 
Concretamente, podemos considerar as seguintes circunstâncias, que afetam 
o ato humano: 
 
 Quem pratica a ação, seja, o sujeito da ação (ex. a pessoa que tendo 
autoridade, dá mau exemplo, peca mais gravemente). 
 Que coisa – qualidade de um objeto (ex., o roubo de uma coisa sagrada) ou 
da sua quantidade (ex., a soma roubada); 
 Onde – o lugar em que a ação é realizada (ex., um pecado cometido em 
público é mais grave, pelo escândalo que provoca); 
 Com que meios se realizou a ação (ex. rezar com atenção ou 
distraidamente, castigar os filhos com excesso de crueldade); 
 
36 Segundo Sada, a Teologia Moral ensina que, embora possa haver objetos morais indiferentes – em 
si mesmos, nem bons nem maus -, na prática não existem atos indiferentes (a sua qualidade moral 
vem-lhes, neste caso, da finalidade ou das circunstâncias). Daí que, em concreto, qualquer ação ou é 
boa, ou é má. 
 23
 O modo como se realizou o ato (ex., se houve fraude ou engano, se se 
utilizou de violência); 
 Quando se praticou a ação (ex. comer carne em dia de abstinência).37 
 
 
5.2.1 INFLUXO DAS CIRCUNSTÂNCIAS NA MORALIDADE 
 
 Circunstâncias que acrescentam conotação moral ao pecado – Num só ato 
são cometidos dois ou mais pecados distintos (ex., quem rouba um cálice 
benzido, comete dois pecados: furto e sacrilégio). 
 Circunstâncias que mudam a espécie teológica do pecado – faz com que 
um pecado passe de mortal a venial ou o contrário (ex., a quantia de um 
roubo indica se um pecado é venial ou mortal, se for pequena, é venial, se 
for grande, é mortal). 
 Circunstâncias que agravam ou diminuem o pecado – sem lhe mudar a 
espécie (ex., dar mau exemplo às crianças, é mais grave que dar mau 
exemplo aos adultos).38 
 
 
5.3. A FINALIDADE 
 
A finalidade (intenção que o homem tem ao praticar um ato), é um elemento 
essencial na qualificação moral da ação. A intenção é um movimento da vontade em 
direção ao objetivo; ela diz respeito ao fim visado pela ação. É a meta do bem que 
se espera da ação praticada. 
Segundo Ricardo Sada, em relação à moralidade, o fim de quem atua pode 
influir de diversos modos: 
 se o fim é bom, junta ao ato bom nova bondade (ex., ouvir missa – objeto 
bom – em reparação pelos pecados – fim bom); 
 Se o fim é mau, vicia por completo a bondade de um ato (ex., ouvir missa – 
objeto bom - só para ver, com maus desejos, uma mulher – fim mau). 
 Quando o ato é, em si mesmo, indiferente, o fim transforma-o em bom ou 
mau (ex. passear diante de um banco – objeto indiferente – a fim de 
preparar o próximo roubo – fim mau); 
 Se o fim é mau, junta nova malícia a um ato mau em si (ex., roubar – objeto 
mau – para depois se embriagar- fim mau); 
 O fim bom de quem atua nunca pode converter em boa uma ação má em si 
mesma (ex., não se pode jurar falso – objeto mau – para salvar um inocente 
– fim bom; ou dar a morte a alguém para libertar do sofrimento; ou roubar 
ao rico para dar aos pobres). 
 
 
6. O QUE DETERMINA A MORALIDADE DO ATO HUMANO 
 
Ricardo Sada indica como princípio básico para fazer um juízo da moralidade 
do ato, o seguinte: 
 
37 RICARDO SADA e ALFONSO MONROY – Curso de Teologia Moral 
38 cf. Idem. 
 24
Para que uma ação seja boa, é necessário que os três elementos que a 
constituem, também sejam bons: o objeto, a finalidade e as circunstâncias; para que 
o ato seja mau, basta que seja mau qualquer um de seus elementos. “O bem nasce 
da retidão total; o mal nasce de um só defeito”. 
 
 
6.1. A ILICITUDE DE AGIR SÓ POR PRAZER 
 
Agir só por prazer é contra a moral. “A ilicitude de agir só por prazer é um 
princípio moral que tem na vida prática numerosas conseqüências”39. Algumas 
premissas sobre a ilicitude de agir só por prazer: 
 É da vontade de Deus que algumas ações sejam acompanhadas de prazer, 
devido à sua importância para a preservação do indivíduo ou da espécie. 
 Em vista disso, o prazer não tem em si mesmo razão de fim, sendo apenas 
um meio que facilita a prática desses atos: o deleite é em vista da operação 
e não ao contrário. 
 Colocar o deleite como fim de um ato implica trocar a ordem das coisas 
estabelecidos por Deus. Por isso, nunca é lícito operar somente por prazer 
(ex., comer e beber só pelo prazer é pecado; da mesma forma, é ilícito 
realizar um ato conjugal em vista somente do deleite (prazer) que o 
acompanha). 
 É lícito atuar por prazer, desde que o deleite não seja a realidade 
pretendida em si mesma (ex., é lícito comer e beber com gosto mas não 
exclusivamente por gosto; é lícito o prazer conjugal em ordem aos fins do 
casamento, mas não quando é procurado como finalidade única). 
 Para que os atos tenham retidão, é sempre bom referi-los a Deus, fim 
último do homem, ao menos de modo implícito: “Quer comais, quer bebais, 
fazei tudo pela glória de Deus” (1Cor 10,31). Se excluíssemos a intenção 
de agradar a Deus em algum ato, o mesmo seria pecaminoso, se o 
fizermos de maneira direta.40 
 
 
6.2. A LIBERDADE NO AGIR DO HOMEM 
 
Em Eclesiástico está escrito que “Deus deixou o homem nas mãos de sua 
própria decisão” (Eclo 15,14). Ao criá-lo dotado de razão, Deus o criou à sua 
semelhança, conferindo-lhe a dignidade de uma pessoa agraciada com a iniciativa e 
o domínio de seus atos. O homem é livre tanto para procurar seu criador, como 
também para negá-lo (Cf. CIC 1730). 
 
 
6.2.1 LIBERDADE E RESPONSABILIDADE 
 
A liberdade é entendida como o poder de agir ou não agir, baseado na razão e 
na vontade. A mesma deve estar ordenada para Deus. Enquanto não estiver 
definitivamente fixada em seu bem último, que é Deus, a mesma comporta a 
 
39 RICARDO SADA e ALFONSO MONROY – Curso de Teologia Moral 
 
40 Cf. Idem 
 25
possibilidade de escolher entre o bem e o mal, seja, de crescer em perfeição (na 
escolha do bem) ou de definhar e pecar (escolha do mal). (cf. CIC 1731). 
Como vimos anteriormente, a liberdade caracteriza os atos propriamente 
humanos, tornando-se fonte de louvor ou repreensão, de mérito ou demérito. Quanto 
mais a pessoa pratica o bem, mais ela é livre, porém, quanto mais pratica o mal, 
mais escrava ela é do pecado. 
A liberdade faz com que o homem se torne responsável pelos atos que pratica, 
na medida em que os mesmos forem voluntários, seja, todo ato diretamente querido 
é imputável a seu autor, ao passo que a imputabilidade e a responsabilidade de uma 
ação podem ficar diminuídas e até mesmo serem suprimidas dependendo de 
diversos fatores, tais como: a ignorância, inadvertência, violência, medo, hábitos, 
afeições imoderadas e outros fatores de ordem psíquica ou social. 
O direito ao exercício da liberdade é uma exigência inseparável da dignidade 
do homem, sobretudo em matéria religiosa e moral, porém, esse exercício não 
implica o suposto direito de tudo dizer e fazer. (cf. CIC 1732). 
 
 
6.2.2. A LIBERDADE HUMANA NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO 
 
 Liberdade e pecado – O homem pecou livremente ao recusar o projeto 
do amor de Deus, enganando-se a si mesmo e tornando-se escravo do 
pecado. Desde então, a história comprova os infortúnios e opressões 
advindos do mau uso da liberdade(cf. CIC 1739). 
 Ameaças à liberdade – O exercício da liberdade não implica o direito 
de dizer e fazer tudo. O homem não basta a si mesmo, tendo por fim a 
satisfação de seu próprio interesse no gozo dos bens terrenos. Ao fugir 
da lei moral, o homem prejudica sua própria liberdade, acorrentando-se 
a si mesmo, rompendo com a fraternidade com seus semelhantes e 
rebelando-se contra a verdade divina (cf. CIC 1740). 
 Liberdade e salvação – Por sua gloriosa cruz, Cristo obteve a salvação 
de todos os homens. Resgatou-os do pecado que os mantinha na 
escravidão. “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). Somos 
livres pelo Espírito que nos foi dado: “onde se acha o Espírito do 
Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17). Desde agora participamos da 
“liberdade da glória dos filhos de Deus”. 
 Liberdade e graça – A graça de Cristo não entra em concorrência com 
nossa liberdade quando esta corresponde ao sentido da verdade e do 
bem que Deus colocou no coração do homem. Pela obra da graça, o 
Espírito Santo nos educa à liberdade espiritual, para fazer de nós livres 
colaboradores de sua obra na Igreja e no mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 26
IV – A LEI MORAL 
 
Como vimos anteriormente, o que determina se um ato é bom ou mau, são: o 
objeto, a finalidade e as circunstâncias. Porém, quando dizemos que um ato é bom 
ou mau, o fazemos partindo de um critério, de um princípio, ou de uma premissa, 
seja, em relação a algo que define sua bondade ou malícia. Esse critério, princípio 
ou premissa, é a Lei Moral “que regula e mede os atos humanos em ordem ao seu 
fim último”.41 
 
1. DEFINIÇÃO E NATUREZA DE LEI MORAL 
 
Segundo Ricardo Sada, por lei moral se entende o conjunto de preceitos que 
Deus promulgou a fim de que, cumprindo-os, a criatura racional alcance o seu fim 
último sobrenatural. 
Ao analisarmos a definição acima, podemos destacar os seguintes elementos, 
de suma importância para entendermos o significado da Lei Moral: 
 A lei moral é um conjunto de preceitos – Não se trata de uma atitude ou 
uma decisão generalizada de agir de acordo com a opção de Cristo, mas 
sim a decisão de cumprir, na prática, preceitos concretos, derivados do 
preceito fundamental do amor de Deus. 
 Foi promulgada por Deus – A lei moral é dada ao homem por uma 
autoridade distinta dele próprio; não é o homem quem cria a lei moral, mas 
esta tem Deus por seu autor. 
 O objeto próprio da lei moral – mostrar ao homem o caminho para atingir 
o seu fim sobrenatural eterno. A mesma não pretende indicar metas 
temporais ou finalidades terrenas.42 
Obra da sabedoria divina, no sentido bíblico, a lei moral pode ser definida ainda 
“como uma instrução paterna, uma pedagogia divina. Ela prescreve ao homem os 
caminhos, as regras de comportamento que levam à felicidade prometida; proscreve 
os caminhos do mal, que desviam de Deus e de seu amor” (cf. CIC 1950). A mesma 
encontra em Cristo sua plenitude e sua unidade, vez que o próprio Cristo em pessoa 
é o caminho da perfeição. Jesus Cristo é o fim da lei, pois somente ele ensina e dá a 
justiça de Deus (cf. CIC 1953). 
 
 
2 – DEFINIÇÃO E DIVISÃO DA LEI 
 
2.1. LEI 
 
Na definição clássica de São Tomás de Aquino, Lei é a ordenação da razão 
dirigida ao bem comum, promulgada por quem tem autoridade. 43 
Elementos a se considerar nesta definição: 
 ordenação da razão – se apóia em considerações que a justificam. Não se 
trata de uma ordem arbitrária, não sendo portanto fruto de um simples 
capricho. 
 
41 RICARDO SADA e ALFONSO MONROY – Curso de Teologia Moral 
42 Cf. idem. 
43 Cf. idem 
 27
 dirigida ao bem comum – tem por fim o bem comum e não um bem 
particular. Apesar de a lei obrigar cada indivíduo a agir corretamente, se 
dirige a todos, tendo em vista o bem comum. Esse bem comum de todos é a 
plena felicidade, o próprio Deus, fim último do homem e do universo. 
 promulgada – a lei deve ser promulgada para ter força obrigatória, tem que 
se tornar pública, do conhecimento de todos, pois se dirige antes de tudo à 
inteligência e não pode ser obedecida se não for conhecida suficientemente. 
Promulgar 
 por quem tem autoridade – seja, não é um qualquer, mas alguém a quem 
compete ordenar para o bem comum: Deus, em primeiro lugar e depois, 
todos os que exercem autoridade em seu nome e que a Ele pertencem. 
 
2.2. DIVISÃO DA LEI 
 
A divisão da lei depende de seu autor, seja, de quem a promulga: 
Se o autor é Deus, chama-se Lei Divina e pode ser: 
 Eterna (encontra-se na mente divina) 
 Natural (lei divina impressa no coração dos homens); 
 Positiva (lei divina contida na Revelação) 
 
Se o autor é o homem, a Lei é humana e pode ser: 
 Eclesiástica; 
 Civil. 
 
 
3. A LEI ETERNA 
 
Todas as coisas criadas por Deus seguem leis naturais que lhes são próprias: a 
terra gira em torno do sol; existem quatro estações durante o ano, que influem na 
vida da natureza e do homem; os animais só se cruzam com os da sua espécie; o 
homem quando pratica o mal, sente remorsos pelo que fez. Deus, senhor de todas 
as coisas, ordenou-as de forma tal que cada uma cumpra a finalidade à qual foi 
criada, seja, os minerais, as plantas, os animais e o homem, cada um tem seu papel 
a desempenhar em seu curso natural de existência. 
 
 3. 1. DEFINIÇÃO 
 
A Lei Eterna nada mais é do que uma ordenação “racional estabelecida entre 
as criaturas, para seu bem e em vista de seu fim, pelo poder, pela sabedoria e pela 
bondade do Criador”. (CIC 1951). 
Santo Agostinho a define como sendo “a razão e vontade divinas que mandam 
observar e proíbem alterar a ordem natural” e para São Tomás, “o plano da divina 
sabedoria que dirige todas as ações e movimentos das criaturas em ordem ao bem 
comum de todo o universo”. 
Por fim, o Concílio Vaticano II nos recorda que “a norma suprema da vida 
humana é a própria Lei Divina, eterna, objetiva e universal, pela qual Deus ordena, 
dirige e governa o mundo, o universo e os caminhos da comunidade humana, 
segundo a sua sabedoria e seu amor. Deus faz com que o homem participe desta 
lei, de tal maneira que o homem, por disposição da divida Providência, pode 
conhecer cada vez mais a verdade imutável” (DH 3). 
 28
A Lei eterna é, portanto, o princípio primeiro de toda a Moral e quaisquer outras 
leis que venham a existir, tem que encontrar nesta, sua verdade primeira e última. 
 
 3.2. PROPRIEDADES DA LEI ETERNA 
 
Principais propriedades da Lei eterna: 
 É eterna – porque é anterior à criação, pensada e projetada por Deus, 
desde toda a eternidade. 44 
 É imutável – Como é expressão da própria vontade de Deus, com quem se 
identifica, a Lei Eterna jamais mudará. 
 É norma suprema de toda a moralidade – todas as outras leis devem estar 
em conformidade com a Lei Eterna. Devem refleti-la fielmente, não 
podendo ser justa e racional se for contrária à mesma. 
 É universal – todas as criaturas lhe estão sujeitas: umas, de modo 
puramente instintivo, outras, as criaturas livres, por submissão voluntária.45 
 
 
4. A LEI NATURAL 
 
Os minerais, as plantas e os animais, enquanto que são guiados por leis físicas 
e biológicas, sempre obedecem à lei de Deus. Diferentemente de todas as outras 
criaturas, Deus imprimiu no homem a inteligência para que viesse a conhecer a sua 
lei, dentro de si próprio. 
 
 
 
 
 
A lei natural não é outra coisa senão a própria lei eterna, gravada no coração do homem, 
como disse São Tomás de Aquino, “a luz da inteligência infundida em nós por Deus”, que 
leva o homem a perceber o que deve ou não fazer. 
Portanto, segundo Ricardo Sada, entende-se por lei natural a própria lei eterna 
enquanto participada na criatura racional. Ao criar o homem, Deus dota-lhe a 
natureza de uma ordenação concreta que lhe possibilite conseguir o fim para que foi

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