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A Reportagem - Teoria e Técnica de Entrevista e Pesquisa Jornalística - Nilson Lage (Capítulo Reportagem Especializada)

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REPORTAGEM ESPECIALIZADA
As reda~6es sao divididas em editorias, que correspondem aproxi-
madamente a areas de atividade de interesse jornalfstico: cidade,
polfcia, politica, esportes, economia, ciencia e tecnologia, artes e es-
petaculos ...
Se e assim, e se cada areadessas pressup6e algum conhecimen-
to espedfico, por que nao transformar especialistas (urbanistas,
criminologistas, cientistas polfticos, tecnicos de educa~ao ffsica, eco-
nom istas, cientistas, artistas, promotores culturais) em jornalistas, e
nao 0 contrario?
A questao tem sido repetida insistentemente e admite varias res-
postas.
A primeira delas ap6ia-se ao que poderfamos chamar d~ "teoria
da inocencia": a cren~a de que os rep6rteres, sendo agentes do pu-
blico, devem observar a realidade com os criterios do senso comum
que excluiriam a forma~ao especializada. Nao e muito consistente:
um professor de primeiro grau nao precisa ser crian~a para comuni-
Administrator
LAGE, NILSON. "A Reportagem: Teoria e Técnica de Entrevista e Pesquisa Jornalística". Rio de Janeiro: Editora Record, 2004. Págs 109-31
car-se com seus alunos nem um medico abandonar 0 que sabe para
expor um diagnostico a alguem ~ sejacientista nuclear ou dona-de-
casa.
.-A.s.eguod£J:~9_S!~f~~~~i~ __s_ent~~~:_C~9~_profissaotem sua
pro~~i~_~!i~~.~_~_~~~._~~~~~~_~_~~~porativos,fixados ao longo de uma
exeeri~n_ci~_~i~!?ric~.~~irl1,rnedicos sao impedidos de criti(,:_arpu-
blicamente outros medicos e advogados devem manter, perante
-----"-"'.'
jUlzes, promotores ou colegas, uma serie de cuidados de tratamen-
to. Isto significaque, transferidos par~-=,fun<;aode jornalistas, esses
profissionais teriam que abandonar os valores de suasatividades de
ongem.
--A-terceira r~s.Qo.?~J9-~JD'!-is_?entidoainda. Trata-se do fato de
(._-------- -,._ ...._--~-~.-
que a forma<;aode um bom especialista em cada area dessasenvol-
ve grande investimento intelectual. Aforma<;ao d~l.jm_bom jQrnalis-
ta, nas condi<;6esmodernasd~.exerdcio da profissa(),!ambem nao
e rapida. Nao haveria ganho, mas perda social, em se transformar,
por exemplo, um ffsico teorico em jornalista especializado em cien-
cia: suaforma<;aocomo ffsicofuncionaria para uma especi~ligacJ~s:jen-
tffica, a ffsica,e nao paraout@s(aj!Jda..riap~~c().!pore)(~rnPlo, numa
.--"'."."""'" .
reportagem sobre paleontologia). ~()r outro lado, muitas de suas
---._..:......--"---,-_ ..__ .~_ .•. _, ..".- ......•-----_.'"'- .,_-_.,._~-~.._---
habilidades,custosamente adquiridas, perdE:riamqualquE:rsentido Util,
ainda que se limitasse a noticiar pesquisCi?edescobertas da ffsica.
.._-,_." ...•.~~.__ ..
Ainda assim,e posslvel formar jornalistas em pos-gradua<;ao(des-
de que em cursos de mais de um ana que incluam asdisciplinas tec-
nicas necessarias); recuperam-se voca<;6estardias e deslocamentos
de areas de interesse. Mas a experiencia de pafsesem que essa for-
ma<;aoexiste mostra que ela e sempre subsidiaria.A situa<;aopredo-
minante, portoda parte, e a de jornalistas que se especializam para
cobrir areas de conhecimento.
o universo das notfcias (e, quase sempre, 0 da informa<;ao
jornalfstica em geral) e 0 das ap~encias do mun_~9.:0 noticiario nao
permite nem persegue 0 conhecimento essencialdas coisas, objeto
do estudo cientffico, da pratica teorica e de boa parte da cria<;aoar-
tfstica, a nao ser por eventuais aplica<;6esa fatos concretos. Por tras
das notfcias corre uma trama infinita de rela<;6ese percursos subjeti-
vos que elas, por defini<;ao,nao abarcam. Issoexplica 0 custo social
menor da especializa<;aodo jornalista, se comparado com a transfor-
ma<;aodo especialista em jornalista.
No caso mais comum, em seis meses ou um ana de leitura e
?bserva<;ao,qualquerjornalista competente e capaz de se adestrar
para cobrir areas tao esp~cfficasquanto 0 mercad() de capitais ou 0
setor de saude de uma metrop()I~. Evidentemente, 0 resultado sera
melhor (mais eficiente, democratico e conforme padr6es civilizados)
se houvertreinamento sistematico desses profissionais em cursos de
pos-gradua<;aobreves - no padrao de 360 horas previsto para cur-
sos universitcirios de especializa<;ao.
A Teoria da Cogni<;ao sustentaque, para transmitir.o g?llheci-
mento de alga, e preciso entender esse algo - isto e, construir um
modelo mental dele. Um modelo mental e uma estrutura incomple-
ta, aproximada e referida a um contexto cultural que e 0 acervo da
memoria. 1510 significaque um reporter de polfticanacional,por exem-
plo, nao precisa ser um cientista polftico (e, se for, usaraem seu tra-
balho muito pouco da ciencia polftica que aprendeu), mas deve dis-
por do maximo de informac;oessobre a historia recente, a organiza-
c;aodo Estado e a natureza dos fatos polfticos.
sendo comumente rompimento ou mudanc;a na ocorrencia nor-
mal dos fatos, pressupoe apresentac;ao bem mais sintetica e frag-
mentaria .
.AinfQrr:D.a~aojQr~~~.~_Q ..~~1?~)<?priy~e~i~?()?a__rc:e0rtagem
!=specializada.Uma peculiaridade dela e destinar-se a publicos mais
ou menos heterogeneos. A maxima heterogeneidade obtem-se na
audienciapresumfvel de uma emissora de televisao em circuito aberto
(audiencia de massa) e a mfnima heterogeneidade possfvel em jor-
nalismo encontra-se entre os leitores de magazines ou sftios de
Intemet destinados a aficionados de uma atividade pratica ou conhe-
cimento - sobre engenharia naval ou surfe, por exempl<:>.t~I~r.<?
que, quanto mais espedfico 0 publico, mais se pode particularizar a
Iinguagem._
Ha relac;aoentre interesse jornalfstico e abrangencia de publico')
I
para uma informac;ao. ~nto maior 0 interesse jornalfstico, maior al
abrangenciado publico a que a informac;~o se p()ssC3.destinar. Ja a \
comunidade envolvida naespecialidade sera motivada nao tanto pelo (
aspecto jornalfstico de uma informac;ao, mas por suas imPlicac;oes
jpuramente tecnicas. Assim, a conquista de um campeonato mundial
de natac;aoenvolve, para 0 publico em geral, curiosidade quanta a I
personalidade do atleta e ao ranking da disputa, enquanto, para 0
segmento dos especialistas em treinamento desportivo, sera parti- /.
cularmente relevante a preparac;ao do atleta, 0 ritmo das brac;adas
etc.
Material jornalfstico caracteriza-se, em tese, por su~tualidade,
universalidade, periodicidade (durabilidade Iimitada) e difusaQ,mas 0
' ..... , ~, ~_.""..~,.:".~
As notfcias de interesse geral relevantes - fatos novos - sac pou-
cas em relac;ao ao espac;o global destinado a materia jornalfstica:
circulam amplamente (em primeira mao, quando sac realmente no-
vas) no radio e na televisao, mais do que nos jornais e revistas; so
eventual mente aparecem nos documentarios e reportagens pro-
gramadas, que constituem a maior parte da produc;ao jornalfstica
moderna.
o conceito de notfcia - em que pese 0 uso amplo da palavra
news (notfcia) em ingles -- pode ser, assim, substitufdo pela ex-
pressao informafao jorna/fstica. Essaexpressao tem, af, sentido
peculiar; que coincide com 0 de reportagem (genero de text91.r:m~s,
eventualmente, assume a forma dg gljese chama de artigo, c~9..~I:-.
ca (polfti<::a,desp9[tiva)Qu crftic;a(.deilrtes, de espetacul()~2~~~()_e
apenas uma estruturac;ao de dados convenientemente t~§dos, _.
como na informatica ou na inteligencia militar; que opoe lf1f9.!:...~-
~ao (relato consistente, envolvendo analise) ainforme.(relato
episodico). Emais do qlje isso:e a exposic;ao que conibina interes-
s~ do assunto com Q maior numero possfvel de dados, formando
um todo compreensfvel e abrangente. Difere da notfcia porque esta,~~--_._------_._~_._,-_.,--~_._~--.
que mais 0 identifica e a estrutura~ao ret6rica em torno de pontos
de interesse jornalistico.
Em resumo, algumas distin~6es entre noticia e informa¢o jorna-
Ifstica(categoria que, com vimos, inclui a reportagem):2. POLITICA, ESPORTES, ARTES E ESPETACULOS
I. a notfcia trata de um fato, acontecimento que contem elementos
~e ineditismo, intensidade, atualidade, proximidade e identifica-
~o que 0 tornam relevante; corresponde, frequentemente, a
disfun¢o de algum sistema - a queda do aviao, a quebra da
normalidade institucional etc. Ja a informa¢o trata de um assun-
to, determinado ou nao por fato gerador de interesse;
2..a notfcia indepencle •.•.em ..regra" ..das. inten~6esdosior.nalistas;a
informa:¢()decorre de inten~ao, de uma "visao jornal.i~~~~:>~
fatos;
3. a notfcia e a informa¢o jornalistica contem, em geral!&iC3,L.l$..dife-
rentes de profundkJa.deno tratQ do assunto; a noticia e mais bre-
ve, sumaria, pouco duravel, presa a emergencia do evento que a
gerou. Ainforma¢o.,ema.isextensa, mais completa, mais rica na
trama de rela~6es entre os universos de dados;
4. a notfcia tfpica e da emergencia c!~.ur:r fa.tODOYO,de sua desco-
_', ··.. ,·· ,."·v.,·,,,., ,.''' 'r,..''"''''''' '.'
berta ou revela¢o; ainforma~~() tipica dei conta ~~urn_~..s.1~qQ..
ge-arte, isto e, da situa¢o momentanea em determinado campo
de conhecimento.
~liti~'...~~~~.~()~5>_<?.~~E.~~~!<3:s:l.~!!~_~rn.!ipode cobertura que
.~~~_~~.P<?d~..<:b.arna[.~iQl[?I~s.rn~r.l!~.9~.noticio~~'-Th~t~~;;Politica
.- .".".,".'-""".,." ...•'.,"'.~'",..,.
quanta em esporte, cada acontecimento pressup6e algo exterior a
ele e que Ihe da sentido: a "situa~ao politica", a "situac;aono campeo-
nato e no ranking'.
A noticia eSnt"'lrtivae 0 )'ogo ou a dl'sputa Del..", ••• ,."'1:'...... . .' as as pessoas to-
mam conhecimento assistindo ao espeticulo ou a partir de resumos
- os lances principals. Tudo mais e constituido de declarac;6es e
decis6es, tomadas num c1imade paixao, em tome das quais se pro-
p6em analisese progn6sticos - a cronica desportiva.
Cabe ao rep6rter de esportes documentar essasdeclarac;6ese
decis6es, atento ao contexte emocional em que se situam e a natu-
reza empresarial que hoje assume a atividade desportiva. Mas nao
deve perder de vista os aspectos eticos do esporte, seu poder de
catarseT catalisador de tens6es sociais - e a finalidade educativa
de sua pratica, que deve voltar-se para a saude ffsicae mental.
Quanto a politica, e precise acrescentar um detalhe. Ela toma
como fato 0 que ocorre em outras areas.A primeira noticia do golpe
de 1964 chegou atraves da mobiliza~ao dos medicos dos hospitais;
as investiga~6esdo caso Collor foram cobertas pela reportagem ge-
ral. 0 craque de /929 aconteceu na Boisade Valores, nao no parla-
mento; a Revolu~ao Russade /917 foi registrada antes nas ruas do
que na Duma de Sao Petersburgo; sac os sism6grafos que registram
a explosao de bombas atomicas.
Da mesma forma, uma manifesta<;aoem Brasniae fato urbano; a
falencia de bancos e a crise da balan<;acomercial sao fatos economi-
cos; a perda de popularidade do governo e fato estatfstico; as pres-
s6es externas pela modifica<;aode leis nacionais sac fato diplomaticos;
o desemprego e fato social; opera<;oes com tropas para reprimir tra-
ficantes de drogas sac fatos militares. Decisoes de governo, nomea-
<;oespara cargos sac fatos administrativos.
, Com exce<;aodos resultados eleitorais ou de vota~,?es,a repor-
tagem estritamente polftica baseia-se em entrevistas, com ou sem
identifica<;aodos entrevistad os. Essasentrevistas tratam de proces-
sos polfticos em si (denuncias, sempre abundantes e que se amiu-
dam em tempos de crise ou perto de elei<;oes; a organiza<;ao de
partidos; a constitui<;ao eo funcionamento de comissoes,parlamen-
tares etc.) ou reftetem questoes nao estritamente polftica~<§i.s<:9mo
problemas de saude publica, aspectos da administra<;ao,~d.Cl.e<;:qno-
mia etc. 0 nfvel de analise admitiqo consiste em cQntextuallzar de-
c1ara<;oese os fatos a que se reportam.
Existem dois outros nfveis a considerar: 0 dos conchavos ou
entendimentos mais ou menos rese rvados , a que jornalistas tem
acesso parcial e incerto, eo campo vasto dos grandes condiciona-
mentos sociais e hist6ricos, em que se movimenta a ciencia polftica
em si. A polftica e, portaQto, ulT1.di~curso que se reporta a realidade
de maneiraparticulat<; Nela, mais do que um eventosingular, impor-
ta 0 estabelecimento do quadro de situa<;ao,isto e, a apreensao de
um aspecto global de realidade que importa ou pressupoe progn6s-
ticos para 0 futuro.
Qualquer atividade social tem sua dimensao polftica. Existe uma
polftica cultural, outra desportiva, outra academica, outra militar, ou-
tra artfstica e assim por diante. g§:f!,gY!3Jgu~rjQrnalista t~~,e:m al-
gUrl1..r:nomento, que /idar com raciocfnios, interesses e manobras
polfticas envolvendo os fatos de sua area de atua<;ao.
A cronica polftica, guardando rela<;oescom 0 publicismo, e a for-
ma limite do jornalismo polftico, tal como a cronica esportiva do jor-
nalismo de esportes. Procura anteciparfatos e revelartendencias; isso
implica adotar postura um tanto diferente da que se tem no noticia-
rio comum e mesmo na reportagem. As rela<;oesentre os diferen-
tes nfveis de cobertura polftica foram resumidas em tres paragrafos
por Carlos Castello Branco. 0mais brilhante entre os jornalistas po-
Ifticos brasileiros da segunda metade do seculo xx. numa palestra
na Universidade Federal de Minas Gerais, em 1968:
o rep6rter que se obriga a contar 0 que viu e a transmitir 0
que ouviu, na notfcia impessoal, subordina-se a Iinhade objetivi-
dade narrativacomum atodos os setores da reportagem. Elenao
pode, ou pelo menos nao deve, interferir nos fates, masapenas
transmiti-Ios dentro do melhor processo tecnico, a partir do lead
Seu trabalho e evidentemente importante, mas nao e 0 su-
ficiente. 0 epis6dio politico tem conota<;6espr6prias e 0 fato se
insere num contexte que deve ser esclarecido. A noticia nua e
crua nao 0 revela em todas as suasnuan<;as.Eledeve ser didati-
carnente desmontado. Essencialmentedinamico, muda de aspec-
to de hora em hora. E impreciso e sinuoso e muitasvezesarnea<;a
ser e nao e. Esti em permanente elabora<;ao.0 que e /6gico: a
politica e uma constante divergencia e concilia<;ao,um intermi-
navel processo dialetico.
o comentarista, afastando-se aparentemente da objetivida-
de narrativa, procura, na sua analise, e apesar da impressao em
contrario que possaproduzir; uma precisaomaior. Cabe-Ihe ten-
tar a capta<;aode todos os fatores, de todas ascircunstanciasem
que se desenrola e desdobra 0 acontecimento politico.
pressao artfstica, ja que todo produto cultural e comercializavel. S6
que a tarefa do jornalista nao e a venda do produto, e sim de um
padrao de gosto. Quer dizer: quem escreve a crftica sobre uma nova
~-"""-_"'----~"''''''--;''~'_'_,_.",-~_.~,-.,,,~.-
~~~~~~!~?.~o~~ u~._~!~~_<:'<?!!lico.~.~~~.~er
~~~S2.Q1_~.!~!:9,!-12~.9_.~.:?E.!"!.~.P.~.~.~_.~rn .~iou com aquele
ator em particular. _.... --- ..,,"-...-----_ ..- .....
A crftica ocupa •.oo jornalisl11q d~ artes e espetaculos,gpapel
correspondente as cr0':lis~~polftic,~.~gesp()rtiva. Original mente, tra-
tava-se de orientar 0 gosto do publico para socializa-Io em padr6es
esteticos considerados mais altos pela sociedade em geral: ensina-Io
a preferir a elegancia ao espalhafato au, pelo menos ostens[ya.men-
te, Wolfgang Amadeus Mozart a Johann Strauss. Hoje, cuida-s.e..so-
bretudo de orientar um aficionado, ou pretendente a aficionado, para
que se insira no padrao estetico mais elevado daquilo que se.chama
de tribo.
A cultura se fragmenta; desaparece, pelo menos na mfdia, a no-
<;§.ode hierarquia dos gostos. Cada tribo - dos apreciadores da da~a
c1assicae do bale moderno, dos TaS do rap ou da can<;aoromantica
- deve ser munida com a hist6ria particular de sua paixao e com o!>
valores culturais (concretos ou virtuais) que a sustentam. Dentro de
cada tribo dessase possfvel construiruma polftica cultural, com pro-
gressistase reacionarios, militantes e simpatizantes, nuc;leosde puristas
preconceituosos e periferias de praticantes dispostos ao ecletismo.
A reportagem tem, af, fun<;aoclara de socializa<;ao,que se pOe a
servi<;o do marketing- mesmo na mais sofisticada ou c1assicaex-
3. eIENCIA, TECNOLOGIA E PRODU<;AO
Assuntos de ciencia e tecnologia sac material jornalfstico cada vez mais
frequente nos meios de comunica<;ao. A principal razao disso e a
crescente aplica<;aode tecnologia, determinando mudan<;as,tais como
desemprego e aumento de produtividade; desaparecimento de pro-
fiss6es e surgimento de outras; inven<;ao de produtos de uso coti-
diano; novos processos de produ<;ao e trabalho a que as pessoas
devem adaptar-se; cria<;aode servi<;os; oferecimento de recursos
tecnicos que alteram a qualidade de vida.
Mas ha um segundo motivo, tambem relevante: 0 conflito en-
tre 0 que a d~ncia vai revelando e os conhedmentos entrincheirados
das pessoas - cren<;as que se incorporaram a va/ores religiosos
em muitas culturas e que se veem assim contestadas diretamente.
Eo caso, sem duvida, das pesquisas que tangenciam os fins ultimos
e as causas primeiras: a sempre surpreendente Teoria da Evo/u<;ao
de Darwin oposta ao criacionismo; a astronomia e a astroffsica
opostas, desde Gali/eu, ao geocentrismo e as teses que atribuem
ao homem 0 privilegio da inteligencia ou 0 parentesco exclusivo
com a divindade.
A tarefaJia rel?0r§g~'Il. e~~c:ializ_~(:I~~~l!:Lc:i~~nciCl.etecnologia e
transformar conhecimento cientffic9::t~c:!1016gico em informa~ao
•... , ,."".,..,.-,"."' .."; "'.,..-.•• ,, ..•-- -' ~'~.~-., -" , ,", -.,-,..,.."'-,., =._.,....''"_ ...,...,,--~.~""--- ..••
lO~alf~tjca.J~~;·~~"~pr~ende alguns objetivos espedficos: -,
cia pode ser basicaou aplicada: a matematica e a ciencia basica por
excelencia: mas tambem a ffsica nuclear; por exemplo, com rela~ao
aos estudos de fissao e fusao em que ela se aplica; a qufmica, com
rela~ao ao estudo qufmico aplicado aos poluentes da agua; a biolo-
gia, com rela~ao a boi:anicae a zoologia.
o conhecimento cientftico pressupoe grau de abstra~ao que e
tao maior quanta mais basica for a investiga~aocientftica. De modo
geral, 0 mecanismo da investiga~ao consiste na constru~ao de mo-
de/os te6ricos para os fenomenos, os quais deverao ser comprova-
dos por experimenta~ao. Modelos te6ricos sac configura~oes ou
esquemas mentais que procuram 0 maximo de aproxima~ao com a
realidade sem, no entanto, conhece-Ia total mente. Quando esse
conhecimento ocorre, deixamos de ter um modele te6rico (em
decorrencia, uma teoria) para ter um fato cientftico.
Na pesquisa cientftica, ct2.~~~rya.)aoe oprirneiro passo. Daf a
hip6tese que, sendo fruto da imagina~ao, da infcio ao trabalho cien-
tftico. Hi~~ese~~~o atirma~oes a priorique precisam ser provadas;
~-"'-"----""'-~-'~-'-"~--'~,"" --- _._- ..... .-."." ,.,,-. -,-, _.- .•..,.,. .. "'.'. ", -'"'''',,
co~:~~r:as_s~mcomprova~ao. Podem-se deduzir das hip6teses con-
c1us6esgue serao veriticadas: ou entao induzir de fenomenos parti-
C:;\Jlat~_s_l~isau prindpios geraisc!e.quas.e..Q!7duziraooutras conclus6es
'-"". ·~t,,·,,~
a serem comprovadas.
A experimenta¢o veritica a hip6tese. Ja teoria e mais do que
hip6tese: e explica~ao consistente (nao contradit6ria) sobre a essen-
cia de um fenorneno ou grupo de fenomenos. Uma teoria vale ate
ser refutada por experimenta~ao ou abrangida por outra teoria mais
convincente. A abstra~ao - 0 raciocfnio /6gico - condiciona 0
a) numa sociedade em que as pessoas tem forma¢o tecnico-pro-
fissional especializada, informar a cada um desses especialistas 0~..:... ..,,- .-' -."-,'.- ~._---
que ern sendo produzido, pensado ou especulado em areas de
conhecimento que nao aquelas do consumidor da informa~ao;
b) I?:[Q1Ilovera substitui~ao de antigas.por novas.tecnoJogias, man-
tendo 0 publico informado sobre os avan~ostecnico-cientfticos e
orientando-o quanta a escolhas relacionadas com a utiliza~ao de
servi~os, tais como assistenciamedica, acesso a informa~6es etc.;
c) complementar e atualizar a forma~ao basica generalista das pes-_ .•..~-'"---,..,.~~~,.,,-,_.---.~..._ ..,. ,.•.,..•.".-..".".
soas;
d) indicar areas de interesse que poderao serap'~ofunda~r:~.e~lo
-----. __ • -~ ... _.,,_ ..... ,., •... ,."~., •.... _., . .-.~ ..•..• - •.••.•....• .', .•. >~ .... , ...
consu;:;;o-aEi;produtos culturais mais especfficos, como Iivros e
cursos especializados;
~_[oIDecer insumos e modelos depensameDt2,p~~_~=~:xao~ais
atualizada sobre grandes temas, como a vida, 0 universe ou 0
futuro.
As ciencias (exatas, biol6gicas e da terra) procuram conhecer e
compreender 0 mundo natural, estabelecendo suas leis.A tecnologia
mobiliza esseconhecimento e compreensao para tins praticos. A cien-
metodo dedutivo ou metodo teorico e a observa~ao condiciona 0
metodo indutivo ou empfrico.
~I1JI2!ds9Jeporta-se a uma aparencia do fenomeno,
que e, em si, enganosa - quando, por exemplo, constatamos que
o Sol parece girar em torno da Terra. 0 mais das vezes, a experi-
menta~ao dispensa a observa~ao direta de um fenomeno. Por
exemplo, ninguem ate hoje viu em microscopio os dais atomos de
hidrogenio que se juntam a um chomo de oxigenio para formar a
molecula de agua: mas a formula H
2
0 e fato, nao modelo, porque a
qufmica analftica demonstra que ela so pode ser assim. Ja a Teoria
Atomica e um modelo porque a estrutura das partfculas do atomo
nao e completa e definitivamente conhecida.
A ciencia trabalha com altos nfveisde abstra~ao. A tecnologia, ao
aplicar conhecimentos da ciencia a uma escala de produ~ao, exige
tambem alguma abstrac;ao,embora com vistas a uma praticidade. Ja
a tecnica e essencialmente pratica.
Areportagem de ciencia e tecnologia cump~~al~~E!~~":,,!~.~~?es
basicas: informativa; educativa; social; cultural; economica: polftico-----~--""'~".~~.~-~~,..~."..' •._ ..-._~"'"'~ ... '"' . -,-.-,"" .. -., .. - .,_ ..
ideologica. Ao informar, complementa e atualiza conhecimentos e,
~~~~'sentido, educa; ao transmitir conhecimento, atua sobre a socie-
dade e a cultura. determinando escolhas economicas e, no fim, op-
c;6es polftico-ideologicas. A pouca divulgac;aoda atividade cientffica
brasileira, por exemplo, articula-se com uma representac;ao de atra-
so que nem sempre corresponde a realidade do pafs. mas serve a
objetivos polfticos e institucionais daros.
As fontes da rE:p~rtcigE:!nciE:l1tffi~.E:teC:DgJ9gj§~.~Q£i~Qtistas-?_~O_"
'~""""-""""-"""" .. " - , .' .' ..
pesguisad.2~e:~!".9§S:j~Oc:igbasicaou apJjC<3,gC1,"~omoengenheiros, ffsi-
,',- ,.., ' ".,", -"--.--
c2,s,q0r11i~<:J,s~rl1atematicos,biologos e outros especialistasdas cien-
~~,E:2$Sl:§.~Lt>iQIQ&c:e~E:9ate~ra,0 material de pesquisa,disserta~6es
(exigidas para a obten~ao do grau de mestre), teses (para os douto-
rados) e papers (textos de circula~ao restrita sobre pesquisas recem-
condufdas ou em andamento). Os objetivos do reporter e da fonte
-'"'-'''''-'"''"''''' __ w''¥'_'''
sao, quase sempre, distintos: enquanto 0 cientista ou pesquisadorse
~~~~~s~pelo desenvolvimento'de-pe'squ,sas;'rormando 0 conheci-
mento cientffic(), aojorpalista interessatransformar esseconhecimen-
to em material j()~n~IL~!iSg,~,
o texto jornalfstico nao e nem pretende ser exato. A exatidao,)
pelo contrario, e objetivo da pesquisa cientffica. Isso gera incom-l
I
preensao sistematica: (a) os reporteres consideram os cientistas ri-\
gorosos demais em materia de numeros, express6es e corpos de
ideias; (b) os cientistas consideram os reporteres superficiais, desin-
teressados pela exatidao e displicentes quanta a detalhes importan-
tes do ponto de vista cientffico.
o jornalismo procura grau distinto de precisao, determinado pela
amplitude de seu publico,que e extenso e disperso. 0 texto jor-
nalfstico traduz conhecimento cientffico em informac;ao jornalfstica
cientffico-tecnologica, procurando tornar conteudos da ciencia com-
preensfveis e atraentes. C1areza,simplicidade e compreensibilidade
sao virtudes que se esperam dos jornais e que os fazem ser lidos
mesmo por cientistas, que geralmente nada redamam quando nao
se trata de assunto de sua especialidade.
o texto - e 0 tratamento de imagens - jornalfstico pretende
t~cJ~jtura (ig@gavel et@qsrnitir selJ<:ont~_G,£ge~<:2,r:r',,QrIlinimo de
e§!onp de compreensao. Nem sempre isso e facil, mas e sempre
'~-""",.-~-,~.,~,~,..,....•.~.~....~".,,..-' ..--. '.... _. -,- .-. ,.
possivel; eventualmente, leva tempo. Um Iivro didatico da decada
de 1940 ded icavamais de cem paginaspara expor 0modelo do ato-
mo (Bohr), que hoje se expoe em pouco mais de uma pagina e de
maneira infinitamente mais clara; e que se ampliou 0 grau de com-
preensao do assunto.
Os graus de precisao sac distintos, quando se consideram 0 pu-
blico a que se destina 0 cientistae 0 publico a que se destina0 jornalis-
ta. Isto ocorre porque as rela<;6esdos publicos com 0 acontecimento
sac diferentes. Num exemplo objetivo: se sou medico e trato de um
paciente, a informa<;aode que ele tem um cancer e pouco satisfat6ria;
precise saber que tipo de tumor; onde se localiza equal seu esmgio
de desenvolvimento. Se se trata de colega de trabalho que se afas-
tou do servi<;opor doen<;a, a informa<;ao Neletem cancerNe. geral-
mente,satisfat6ria.
Em nenhum outre campo a compara¢o e mais relevante do que
na informa¢o cientifica. Aqui, quando lidamos com unidades desco-
nhecidas do publico (micron, ano-Iuz), grandezas fora da dimensao
humana corrente (milh6es de toneladas, milionesimos de segundo).
configura<;oes inexistentes no mundo aparente (cristaliza<;aode par-
ticulas. buracos negros) ou leis que nao admitem exemplos, ou 0
pressuposto da existencia (a lei de Newton. segundo a qual um cor-
po nao sujeito a qualquer for<;amantera seu estado de inercia ou
movimento). a compara<;ao e 0 unico meio de apreensao parcial de
uma realidade que se deseja transmitir:
A i1ustra¢o com narrativashist6ricasou aned6ticas e a forma mais
usual de humanizar a informa<;ao cientffica. Qiato de a descoberta
da penicilina por Alexander Fleming ter ocorri~~"~~~"~~~~~"~i; '~
relevante doponto de vista cientffico, mas contribuiu b~stante para a
rep,~~,::"~~~~~"c.c:~r:nte,jornalistica, da descoberta. Se Einstein gos-
tava de jazze os Curie tiveram tal ou qual vida conjugal tambem nao
significamnada para aTeoria da Relatividade e a experimenta¢o com
o Momo, mas fazem parte da aura jornalistica desses campos de
conhecimento.
oJ!,Q~~rnental num texto de informa~ao jornalistica cientifica e
fazer c~~preender ~.apr90iJilar 0 universe da ciencia do universe---" "~n:'~ue vive e pensa 0 consumidor'Cfa TnfQrma<;ao.Para isso recor-
rem-se a associa<;oes, relacionamentos, descoberta de conexoes.
Numeros adquirem muita for<;a, porque portam credibilidade, mas
a exa~idao- ate a quarta ou enesima casadecimal- e pouco rele-
vante. A base.gClJ()rrnu,I~,~?odo t~~9~Cl,,~Q1re,yi~ta: as perguntaS )
q~~ 0 j<;>rnalistafaz ao pesquisador e a PCl~i~n~~!Cldest~~~;~~~onde- /
las1por estrq,nhasougesiqforrnadas gue par~~;,~~,i'desinforma<;ao t)
n,a.o.".eap,enasdo rep6rter, e tambem do publico. Rep6rteres sac trei- !'
~a~os para nao ter vergonha de perguntar. .
Muitos cientistas surpreendem-se com a curiosidade por infor-
ma~oes ou dados de conhecimento geral em seu meio: teorias, as
vezes velhas, de mais de um secula, resultados de pesquisas ampla-
mente veiculadas em revistas cientfficas, conjeturas que se fazem ha
decadas em salasde aula. Pode acontecer de issotudo ser novidade
para 0 jornalista e para 0 publico. 0 novo e aquilo que 0 publico ain-
da nao conhece; 0 inedito, aquilo que nao faz parte do acervo de
informac;6es da imprensa.
N~m todo trabalho cientffico see.resta a informa~QjQIwlis.tica.
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criterio segundo 0 qual se organizam~RleO~jg,r:ne:?ee~s. Atualmen-
te, 0 jornalismo cientffico centra-se em quatro areas de conteudo: a
medicina, com enfase nas pesquisas sobre cancer; Aids, doenc;asda
velhice e da primeira infancia, obesidade, epidemias e surtos (estao
envolvid as,ai, a microbiologia, a fisiologia, a patologia, a endocrino-
Iogia, imunologia, entre os campos mais estritamente cientfficos; a
cardiologia, a geriatria, a pediatria etc. entre as especialidades medi-
cas); a cosmologia (investigac;aodo universe: astronomia, astroffsica,
tecnologias aeroespaciais etc.); biologia (principalmente ecologia e
genetica, inclufda a engenharia genetica); e as teorias da informac;ao,
inclufda a inteligencia artificial.
o jornalismo que trata de tecnica nao e jornalismo cientffico, mas 1.------"-~"-,.~-""-_...""', .._ ... _"_., ....,, ... ,.. ,.,,., '-"'", ..._,,-,.. , ..""',, " , ''',.".,-,,'.,~.,,---.
jornalismo de produc;ao - c0rTl<:>,p()re)(erT1p,lo,0 dos suplementos
-'--'~"_'~_V'~"~"'_"" ;,.,"'0, ~_", "", .... ,', ... ,_,_, .•. , ~.,_ .•
de informatica, do programa de teve Clabo Ruralou a revista que
tem 0 mesmo nome: em ambos os casos (informatica e agricultura),
o usuario das tecnicas nao e necessariamente um especialista e se
orienta em grande parte pelos vefculos jornalfsticos. Os jornais de
cooperativas agrfcolas, as revistas para microempresarios e, em ge-
ral, os magazines de trabalho sac outros exemplos: seu conteudo
sac informac;6es tecnicas e economicas ("como fazer", "como pro-
duzir", "quanto investir", "qual a lucratividade") - a divulgac;ao-valori-
za¢o de procedimentos e conhecimentos praticos que, incorporados
aos processos de produc;ao, tem 0 objetivo de gerar mercadorias.
.Q jornalismo de produc;ao difunde, no entantQAQllna¢.es.de
~~i~~SiCl:~!~S:Q()J~gla.Tomemo~~ do jornalismo rural, em que
as fontes sac profissionais de ciencias agrarias (engenheiros agrono-
mos, florestais, agrfcolas e de pesca, veterinarios etc.): ele pode vei-
cular materia explicando um fenomeno genetico (cientffica) ou sobre
inteligencia artificial aplicada a produc;ao automatizada de aves (tec-
nol6gica).
Ciencia e tecnologia sac forc;asprodutivas fundamentais no processo
de produC;aoda economia capitalista. Dos cinco fatores de produc;ao
listados por Joseph Schumpeter; os dois primeiros relacionam-se di-
retamente com a tecnologia e nenhum dos outros deixa de ter rela-
c;ao indireta com ela:
• fabricac;aode bens ainda desconhecidos pelos consumidores;
• utilizac;ao de novas tecnicas de produc;ao;
• ampliaC;aodo mercado;
• conquista de novas fontes de materias-primas;
• constituic;ao de novas organizac;6es.
Ha Iigac;aoconstante e necessaria entre jornalismo cientffico e
jornalismo economico. A tecnologia e 0 conhecimento desenvolvi-
do para materializar-se em produtos; "dominar a tecnologia" de um
produto significaconhecer seu processo de produ<;ao. As unidades
produtivas - estabelecimentos que geram mercadorias e servi<;os
dos setores primario (~ropecuaria), secundario (industria) e terciario
(come rcio , servi<;os)- sac formadas por dois tipos de capitais: for-
<;ade trabalho e meios de produ<;ao (maquinas, equipamentos e
insumos diversos consumidos no processo). A rela<;aoentre esses
dois capitais chama-se composi<;aoorganica do capital e e geralmen-
te representada em porcentagens conforme a destina<;ao:x% para
o pagamento de salarios, y% para 0 pagamento dos meios de pro-
du<;ao.
Paraelevar a produtividade (rela<;aoentre a unidade de produ-
<;aoeotempo necessario para produzir cada uma dessasunidades),
emprega-se intensivamente a tecnologia, que se torna componente
fundamental do processo produtivo, tendendo a substituir for<;ade
trabalho - por exemplo, com a robotiza<;ao de Iinhas de monta-
gem ou a informatiza<;aode oficinas graficas.Tecnologia existe sem-
pre, no entanto, mesmo nao sofisticada:os procedimentos da pesca
envolvem a tecnologia das redes ou dos anzois; das embarca<;6es
movidas a vela; dos sistemasde orienta<;aonautica, desde 0 sextante
ate a localiza<;aodos cardumes por satelites artificiais.
A concorrencia entre unidades prod utivasobriga ao emprego de
tecnologia; ela permite 0 acrescimo de produtividade, criando
handicap positivo na concorrencia. Dispor de tecnologia mais eficaz
significater condi<;6escompetitivas melhores. Essetipo de fenome-
no (envolvendo tecnologia, trabalho e produto) e normal mente co-
berto pelas editorias economicas.
No entanto, estamos, ate agora, falando da economia real, isto
e, daquela que se reporta a produ<;ao imediata de bens e servi<;osde
que os homens se utilizam. Existem outras dimens6es da economia,
que podem ser compreendidas a partir da Teoria da Utilidade Margi-
nal, formulada por Karl Menger no ultimo quarto do seculo XIX.
Segundo essa teoria, a,_Ql;J§:nti(:t?9<=.otirnade .um produtoe aquela
q~~~atisfaz a necessi.cJadeultima do consumiggr . .:?~r1~~assim, a
quesffio economica transfere-se, em grande parte, para a subjetivi-
dade do indivfduo que consome, 0 que implica considerar suasex-
pectativas e esperan<;as- em suma, bens simbolicos.
A essa concep<;aocorresponde pressao contfnua para elevar 0
consumo, ampliando necessidades existentes e criando novas, com
tecnicasde marketing. Mastambem 0 surgimento de uma economia
virtual, baseada em especula<;aosobre 0 futuro e cuja dimensao e
objeto de ampla discussao: ela chegou a ser calculada entre 10 e 50
vezes 0 volume global da economia real de bens e servi<;os.
Apos a Segunda Guerra Mundial, abandonado 0 lastro em aura
que antes limitava 0 volume de moeda, a inflac;aoem dolares - e a
constante exporta<;ao de dolares pelos Estados Unidos, com sua
balan<;ade pagamentos deficitaria - criou pelo mundo fortunas vir-
tuais que ancoram em regi6es onde nao se pagam impostos, os pa-
ralsos fiscais.
A situac;aoe tal que mesmo axiomas da economia - como a
tese de que as rela<;6eseconomicas determinam 0 universe polftico
e nao 0 contrario - parecem rejeitadas na pratica. A riqueza passaa----,s_erae~r~r1~ementede~(;;tlI1i.ll_C3:gg._Il~()2~~asfa;zendase fabricas, pelos
bancos e Com§E:jQo-JDas..pela.coDl:eot@~~S?~2~iDteligenciae poder.
-_.. , .. '-.~~~-"'''''~"'"''''''---.~''''~'''''''"-''-''<'''''''''''''''''''''~.''
E '?Jo~n~lis~()~~1?,n().f~~!r'?9~~sa era da in(or:'!lCff~o.
A area de cobertura da reportagem economica ampliou-se. Tra-
dicionalmente, estava centrada nos setores oficiais de planejamento
e economia, nos mercados de capitais e de commodities, nas enti-
(
dades de empresarios. Apropriava-se ainda das informa~6es capa-
zes de interferir no fluxo de mercadorias: cabia-Ihe interpretar, sob
esse prisma, relatos de pirataria, guerra e eventos c1imaticos.
Numa primeira expansao, a economia passou a interessar-se
"'~'->'--' ~.• .' '. ,..-"', '." .., .,_....",." '_,'•.,-, '",..,',,~"',,',c>' , ..-- •. ,. ~"."'\lll'~"\'"
tanto pela pesquisatecnol6gica quanta pelas rela~6esde trabalho-
--......---'-.....-----.- .••.•.• ,., .. _ ,_. ",' .'.',.-, .__ _,,~-_ " " , ' n, ._. -._.'"-~~ ">" .•• -_ ,."'~ •...._.~ ..•~~~.",._<.._..
sobrepondo~se·e·substTtuina6 a antiga cobertura sindical; expandiu-
se-~;~d~ para a area, antes·~stritamente publicitciria, dos neg6cios
'--------....- •..•••-0.,," .•. _~"'_'".""'_.'" • .' ~."," •••"w..•_.." < _.,_ •. , •. ~C'" ""'_.'".".".- "".' .,', -", ""- ..""""'-"~'_""_.'''f'~''''--'''--'''''
privados. Surgiu todo um setor de imprensa especializado em areas
de produ<;ao- revistase jornais de trabalho. Dentre esses,aqueles
voltados para atividades exercidas geralmente por nao especialistas,
como a agropecuaria e os diferentes usos da informatica.
finalmente, a reportagem economica ocupou-se tambem das
~'-"<.~-
ideiase costumes,artes, espetcic:ulose esportes.°que vaicaraderita-
••• .. ..--." •••.•••••••••••••••• '_" ••.• ,.·"r< •."""""~<,"" '""'~,_."•• ,'.'."•••,.•_., ,~,;<~;E<"< ..",.cpn· ",..'.'.<1'.,·•. ,.;.-.-.',:.:,:" ,_'-.'.,' :,-.~"O.-'J,"".-.,_'""' ••. ,•.•w ••..,'_"."
la, entao, ja nao e mais0 tema, mas 0'enfoque, voltado para as pos-
"'i·',.-''';;'''-''-'''''''.'·''"·,··,'''·· ..''' ••••.'''-.:··,,.,.'O-O;'.--,·,"'~ ••.~,,· .. '••••.,.....·'••... ~, .,;,>,. ,-- ······"''''.';·.',~II'l!"..",:)'It.'' ' •• 0''''".,.,'c"''''',.~,''': ..;.,.:t
sipIli~acIesde aprop~ia<;a9~Jl,J"S~9,:,
tradas pelo professor doutor Helio Ademar Schuch, em disciplinas
da Universidade Federalde SantaCatarina (SCHUCH, 1996); delas
reproduzi varios trechos. Sobre jornalismo Cientffico, recomenda-
se CALVO HERNANDO, 1997. A cita<;aode Carlos Castello Bran-
co e de CASTELLO BRANCO, 1978, p. 69-70; pode-se ler aindaa
revista Pauta Gera/, vol. 3. nO3, dedicada ao tema. Sobre reporta-
gem economica, entre outros, QUINTAO, 1987, e KUCINSKI,
1996.
Os segmentos "Notfcia e informa~ao jornalfstica" e "Ciencia, tec-
nologia e produ~ao" foram parcialmente baseados em aulas minis-

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