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AN02FREV001 28 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DIREITO CIVIL – PARTE GERAL Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001 29 CURSO DE DIREITO CIVIL (PARTE GERAL) MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001 30 MÓDULO II 2 DIREITO CIVIL E AS PESSOAS 2.1 EVOLUÇÃO DO DIREITO CIVIL Na era medieval o Direito Civil identificou-se com o direito romano, contido no corpus juris. O termo Direito Civil significava, para os romanos, o direito do cidadão, ou seja, o termo utilizava-se de forma a designar todo o direito dirigido aos cidadãos de Roma, fosse público ou privado. O nosso sistema jurídico é de raiz romana, ainda que com influências germânicas e com grandes inovações introduzidas a partir dos princípios do século XIX. Na idade média os intérpretes da lei começaram a estudar e adaptar ao seu tempo o Direito Civil, utilizando-se dos institutos romanos para regular as relações privadas. A partir daí é que o termo Direito Civil vai circunscrevendo o seu âmbito ao direito privado. Com o tempo e a evolução das letras jurídicas, o direito foi se especializando e sendo dividido em ramos. Foi, então, que o termo Direito Civil passou a designar ramo do Direito Privado. Sendo assim, o Direito Civil passou a ser um dos ramos do direito privado, o mais importante por ter sido a primeira regulamentação das relações entre particulares. A partir do século XX toma um sentido mais estrito para designar as instituições disciplinadas no Código Civil. 2.1.1 Objeto e Regulamentação O Direito Civil tem por objeto o estudo e a regulamentação dos direitos AN02FREV001 31 e obrigações de ordem privada concernentes às pessoas, aos bens e às suas relações. Os principais diplomas legais brasileiros que regulamentam matérias pertinentes ao Direito Civil são a Constituição Federal de 1988; o Código Civil de 1916, que foi revogado pelo CC de 2002; a Lei 8.069/90 – ECA; a Lei 8.245/91 – Locação, a Lei 9.610/98 – Direito do Autor e a Lei 4.904/64 – Estatuto da Terra. 2.2.2 A Constitucionalização do Direito Civil A Constituição Federal colaborou muito para a evolução do Direito Civil, fazendo uma completa releitura de seus velhos institutos, para colocá-los de acordo com o princípio da dignidade da pessoa humana. Nossa Constituição Federal trata de matérias pertinentes ao Direito Civil em diversos dispositivos, destacando-se especialmente as constantes no art. 5°, como por exemplo, a igualdade entre homens e mulheres em direitos e obrigações, gratuidade para registro civil de nascimento e da certidão de óbito, a proteção à família, à criança, ao idoso, etc. Sendo assim, a CF serviu de tábua dos valores sociais mais relevantes, para orientar o Direito Civil. Foram tantas as modificações sociais ocorridas nas últimas décadas que após a CF, por exemplo, um novo Direito de Família surgiu, regulando as relações jurídicas em virtude do casamento, da união estável, etc. Tudo isso nos mostra que o Direito Civil foi efetivamente transformado pela normativa constitucional. 2.2.3 Princípios Basilares do Direito Civil Os princípios basilares que norteiam todo o conteúdo do Direito Civil são: AN02FREV001 32 Da personalidade, ao aceitar a ideia de que todo ser humano é sujeito de direitos e obrigações, pelo simples fato de ser homem; Da autonomia da vontade, pelo reconhecimento de que a capacidade jurídica da pessoa humana lhe confere o poder de praticar ou abster-se de certos atos conforme sua vontade; Da liberdade de estipulação negocial, devido à permissão de outorgar direitos e de aceitar deveres, nos limites legais, dando origem aos negócios jurídicos; Da propriedade individual, pela ideia de que o homem pelo seu trabalho pode exteriorizar a sua personalidade em bens móveis ou imóveis que passam a construir patrimônio; Da intangibilidade familiar, ao reconhecer a família como uma expressão imediata de seu ser pessoal; Da legitimidade da herança e do direito de atestar, pela aceitação de que entre os poderes que as pessoas têm sobre seus bens, incluindo o poder de transmiti-los total ou parcial a seus herdeiros; Da solidariedade social, ante a função social da propriedade e dos negócios jurídicos, a fim de conciliar as exigências da coletividade com os interesses particulares. 2.2.4 Direito Civil Podemos definir o Direito Civil como o ramo do direito que visa, hoje, regular as relações privadas, nas quais prevalece o interesse dos particulares. Assim, o Direito Civil é o ramo do direito privado que estuda, disciplina e regulamenta as relações de natureza privada referente às pessoas, aos bens e às demais questões, matérias e convivência jurídicas de essência civil. Segundo Clóvis Beviláqua, o Direito Civil é AN02FREV001 33 O complexo de normas jurídicas relativas às pessoas na sua constituição geral e comum (direitos da personalidade), nas suas relações recíprocas de família (direito de família) e em face dos bens considerados em seu valor de uso (direito das coisas e das obrigações). (BEVILÁQUA, 2010). O Direito Civil regula as relações jurídicas entre particulares, sendo diferente do Direito Processual Civil, que é o ramo do Direito Público que rege o processo pelo qual se reivindica judicialmente uma pretensão. Concluímos, então, que o Direito Civil estabelece que o credor tem direito de receber o que lhe é devido pelo devedor. Mas e se o devedor não pagar, o credor recorrerá ao Direito Processual Civil, para se inteirar do processo que deverá seguir, a fim de forçar o devedor a saldar a dívida. O Direito Civil é comum a todas as pessoas, por disciplinar o seu modo de ser e de agir, sem quaisquer referências às condições sociais ou culturais. Rege as relações mais simples do cotidiano. Destinado a gerir relações familiares, patrimoniais e obrigacionais que se formam entre indivíduos encarados como tais, ou seja, enquanto membros da sociedade. Iremos analisar a parte geral do Direito Civil, que com base nos elementos do direito subjetivo apresenta normas concernentes às pessoas, aos bens, aos fatos jurídicos, atos e negócios jurídicos, desenvolvendo a teoria das nulidades e princípios reguladores da prescrição e decadência. 2.2 DAS PESSOAS Quando analisamos o direito subjetivo vimos que os homens têm a autorização de usar a faculdade de fazer ou deixar de fazer alguma coisa, de acordo com a lei. Portanto, essa titularidade confere ao homem em sociedade o atributo do exercício de direitos, pois não podemos compreender a existência do direito sem um titular que o exercite. E quem exercita direitos se chama “pessoa”, que é o sujeito de direito. AN02FREV001 34 Sujeito de direito é aquele que é sujeito de um dever jurídico, de uma pretensão ou titularidade, sendo este o poder de fazer valer, por meio de uma ação, o não cumprimento do dever jurídico, ou melhor, o poder de intervir na produção da decisão judicial. Pessoa é o ente individualizado, dotado de capacidade que pode ser exercida por si só ou mediante representação ou por meio de assistência, tudo possibilitando ao ente adquirir ou contrair obrigações. Para ser pessoa basta que o homem exista, e para ser capaz, o ser humano precisa preencher os requisitos necessários para agir por si só, como sujeito ativo ou passivo de uma relação jurídica. 2.3 ESPÉCIES DE PESSOAS As pessoas podem ser titulares de direitos e passíveis de deveres, dividindo-se em duas espécies básicas: Pessoa Natural Pessoa Jurídica Pessoa, portanto, é todo o ser humano, na sua individualidade (pessoa física ou natural) ou considerado coletivamente para o cumprimento de fins comuns (pessoa jurídica ou moral). 2.3.1 Pessoa Natural Pessoa natural é o próprio ser humano dotado de capacidade. Ou seja, o ser humano, criatura que provenha da mulher. De acordo com o CC, pessoa natural é o ser humano considerado como sujeito de direitos e obrigações. Pessoa natural designa o ser humano tal como ele é. Importante lembrar que a expressão “pessoa natural” é substituída pela expressão “pessoa física”, como AN02FREV001 35 ocorre na legislação aplicável ao imposto de renda, onde a pessoa, mesmo natural, é chamada de contribuinte. A existência da pessoa física começa com o nascimento com vida e termina com a morte natural ou presumida. Morte presumida é o caso dos declarados ausentes. Somente produz efeitos patrimoniais, permitindo a abertura da sucessão definitiva. A ausência é um instrumento jurídico pelo qual são protegidos os interesses daquele que se afastou de seu domicílio, sem deixar procurador ou representante e do qual não há notícias. O ausente não é declarado morto, nem sua mulher é viúva, pois o vínculo matrimonial termina pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio. 2.3.2 Pessoa Jurídica Pessoas jurídicas são agrupamentos de homens ligados por interesses e fins comuns. Ou seja, no sentido jurídico, pessoa é a entidade titular de direitos e obrigações. É conhecida como pessoa moral, civil. Pode ser considerada como entidade constituída de homens e bens, ou só de bens (como a fundação), com vida, direito. Obrigações e patrimônios próprios. Pessoa quase jurídica é núcleo unitário de interesse, não personificado, ou seja, sem personalidade jurídica própria, como por exemplo, a massa falida, o espólio, a sociedade irregular ou de fato (sem registro), etc. A lei atribui a estes qualidades para estar em juízo, ativa e passivamente, sendo representados pela pessoa a quem couber a administração de seus bens. A pessoa jurídica poderá ser nacional ou estrangeira. A sociedade nacional é organizada conforme a lei brasileira e tem no país a sede de sua administração, conforme o art. 1126 do CC. Já a sociedade estrangeira, qualquer que seja seu objeto, não poderá, sem autorização do Poder Executivo, funcionar no país, ainda que por estabelecimentos subordinados, ressalvados os casos previstos em lei. Se autorizada a funcionar no Brasil sujeitar-se-á às leis e aos tribunais brasileiros, quanto aos atos aqui praticados, AN02FREV001 36 deverá ter representante no Brasil e poderá nacionalizar-se, transferindo sua sede para o Brasil, conforme o art. 1134 do CC. As pessoas jurídicas podem ser de direito privado, de direito público interno e externo. Conforme o art. 40 do CC, as pessoas jurídicas de direito público podem ser interno ou externo. As pessoas de direito público interno, segundo o art. 41, são: I - a União; II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III - os Municípios; IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada pela Lei nº 11.107/05. V - as demais entidades de caráter público são criadas por lei. (CC, art. 41). As de direito público externo ou internacional são os Estados estrangeiros e outras pessoas internacionais, segundo o art. 42 do CC. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público. Já as pessoas jurídicas de direito privado, conforme o art. 44 do CC, são: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) V - os partidos políticos (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) (CC, art. 44). As pessoas jurídicas de direito privado têm sua existência e funcionamento regulados por leis próprias. Começam com o registro público competente. Tais pessoas são representadas por seus titulares (sócios, gerentes, diretores). Sua existência termina pelo advento do prazo, quando previsto, ou pela dissolução judicial ou extrajudicial. AN02FREV001 37 2.4 PERSONALIDADE Segundo o art. 2° do CC, a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Personalidade é o conceito básico da ordem jurídica, que a estende a todos os homens, consagrando-a na legislação civil e nos direitos constitucionais de vida, liberdade e igualdade. Assim, a personalidade das pessoas naturais ou físicas começa no momento em que nascem com vida. Permanece por toda a existência da pessoa, que só a perde com a morte. O direito brasileiro protege o nascituro, que é o filho concebido mas que ainda não nasceu. Seus interesses estão preservados em lei. Assim, nascituro é o ser humano já gerado, mas ainda está por nascer, ou seja, é o feto com possibilidade de nascer com vida e tornar-se uma pessoa natural. Então, todo ser humano é pessoa, do momento em que nasce até o momento em que morre. Como vimos, a personalidade é automática, bastando o nascimento com vida 2.5 DIREITOS DE PERSONALIDADE Os direitos de personalidade, direitos estes que são imprescindíveis para o desenvolvimento da personalidade, estão previstos nos artigos 11 a 21 do Código Civil. Portanto, são direitos comuns da existência, porque são simples permissões dadas pela norma jurídica, a cada pessoa, de defender um bem que a natureza lhe deu. Então, ao nascer com vida, surgem direitos típicos de personalidade e que são fundamentais, tais como: os direitos à vida, à saúde, ao nome, à liberdade, à imagem, à integridade física, à integridade moral, à educação, à justiça, etc. Como exemplo, os artigos 11 e 13 do Código Civil tratam de algumas espécies de Direito da Personalidade: “Art. 11 - Com exceção dos casos AN02FREV001 38 previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária”. Então, o artigo 11 nega a possibilidade de limitação voluntária do Direito da personalidade. Já o art. 13 diz que, “salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes”. Tal artigo proíbe a disposição do próprio corpo, salvo em caso de exigência médica ou no caso de doação de órgãos e tecidos post mortem. Em princípio, a pessoa pode dispor livremente de seu corpo, em vida. No entanto, se a disposição do próprio corpo em vida implicar diminuição permanente da integridade física ou contrariar os bons costumes, somente será autorizada mediante exigência médica. Por exemplo, o caso dos transplantes, conforme estabelecido em lei especial. Agora, a pessoa pode dispor livremente de seu corpo, para depois da morte, no todo ou em parte, desde que, o faça gratuitamente. Somente em fins do Século XX se pôde construir a dogmática dos direitos da personalidade. O reconhecimento dos direitos da personalidade é muito importante, sua ofensa constitui elemento caracterizador de dano moral e patrimonial indenizável, o que provocou uma revolução na proteção jurídica pelo desenvolvimento de ações de responsabilidade civil e criminal. Assim, o direito objetivo autoriza a pessoa a defender sua personalidade. Os direitos de personalidade poderão ser objeto de contrato, por exemplo, o de concessão ou licença para uso de imagem ou de marca. Pessoa famosa poderá explorar sua imagem na promoção de venda de produtos, mediante pagamento de uma remuneração. A personalidade é vitalícia, em regra, termina com o óbito de seu titular. Mas, certos direitos sobrevivem, pois sua honra, sua imagem e seu direito moral de autor são resguardados, conforme o art. 12 do CC. Apesar da grande importância dos direitos da personalidade, o Código Civil, mesmo tendo dedicado a eles um capítulo, pouco desenvolveu sobre tema tão relevante. É fácil de perceber que se protege não só a integridade física, ou melhor, os direitos sobre o próprio corpo vivo ou morto, conforme o AN02FREV001 39 art. 15, como também o direito à privacidade (art. 21). Há certos aspectos da vida da pessoa que precisam ser preservados de intromissões indevidas, mesmo que se trate de pessoa notória, referente à vida familiar, à correspondência, etc. Como se vê, destinam-se os direitos da personalidade a resguardar a dignidade humana, mediante sanções. 2.6 CAPACIDADE E INCAPACIDADE Capacidade é a aptidão que a pessoa tem de exercer direitos e contrair obrigações, ou seja, maior ou menor extensão da possibilidade de a pessoa exercer pessoalmente ou não os atos da vida civil. Somente mediante a representação ou a assistência é que poderão os incapazes exercer seus direitos ou realizar atos de seu interesse. A capacidade pode ser de direito ou de fato. Capacidade de direito, toda pessoa possui. Já a capacidade de fato, nem todas. Portanto, capacidade de fato é a aptidão reconhecida à pessoa para exercitar os seus direitos ou deveres, ou seja, é a possibilidade do exercício de todos ou de certos atos da vida jurídica e de por eles ser responsável. A capacidade civil cessa quando uma pessoa morre, mas seus direitos se transmitem aos herdeiros. Há direitos, como por exemplo, à imagem, referentes ao próprio falecido, mas que podem, no entanto, ser pleiteados pelos herdeiros. Já a incapacidade é a restrição legal ao exercício de atos da vida civil, ou seja, falta capacidade de fato. Conforme o art. 3°: São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. (CC, art. 3°). Assim, a incapacidade jurídica pode ser absoluta ou relativa. Quando for absoluta, a pessoa não pode praticar atos da vida civil, mas não deixa de ter AN02FREV001 40 direitos, ou seja, será absoluta quando houver proibição total do exercício do direito pelo incapaz. Logo, os absolutamente incapazes têm direito, porém não poderão exercê-los direta ou pessoalmente, devendo ser representados, nesses casos, por seus pais, tutores ou curadores, que praticam o ato jurídico em nome do incapaz, pois não têm capacidade de fato, somente de direito. Por exemplo, os menores de 16 anos, devido à idade, não atingiram o discernimento para distinguir o que podem ou não fazer, o que lhes é conveniente ou prejudicial. Dado seu desenvolvimento mental incompleto carecem de orientação, sendo facilmente influenciáveis por outrem. Segundo o art. 4°: São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. (CC, art. 4°). Já, quando for relativa, a pessoa pode praticar determinados atos, devendo ser assistida por seus responsáveis, que se colocam ao lado do menor, auxiliando-o na prática do ato jurídico. Portanto, a incapacidade relativa diz respeito àqueles que podem praticar por si os atos da vida civil, desde que assistidos por quem de direito positivo encarregado deste ofício, em razão de parentesco, de relação de ordem civil ou de designação judicial. Como exemplo, temos os maiores de 16 e menores de 18 anos, sua pouca experiência e insuficiente desenvolvimento intelectual não possibilitam sua plena participação na vida civil, de modo que os atos jurídicos que praticarem só serão reputados válidos se assistidos pelo seu representante. A capacidade jurídica diferencia da capacidade de fato. A primeira toda pessoa tem, desde que nasce até a morte, já a segunda só a tem os plenamente capazes, ou seja, os maiores de idade, desde que não estejam interditos. O interdito perde o seu direito de própria atuação na vida jurídica, visto que a interdição é a desconstituição, total ou parcial, da capacidade em virtude de sentença judicial. Interdição é o ato judicial que declara a incapacidade real e efetiva de determinada pessoa maior, para a prática de certos atos da vida AN02FREV001 41 civil, na regência de si mesma e de seus bens, privada de discernimento. O processo de interdição inicia-se pelos pais, tutor, cônjuge, qualquer parente ou ainda pelo Ministério Público. A interdição é uma medida de proteção consistente em declarar, pelo Poder Judiciário, que em determinada pessoa não se verifica o pressuposto da plena capacidade para prover seus próprios negócios, falha que a inibe da prática de atos da vida civil. 2.7 CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE E A EMANCIPAÇÃO Como vimos, adquire-se plena capacidade jurídica aos 18 anos completos, quando termina a menoridade e o indivíduo se torna apto para todos os atos da vida civil. 2.7.1 Cessação Segundo o art. 5°, A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. (CC, art. 5º). Sendo assim, hoje, coincidem as idades em que cessam a menoridade civil e a penal. Assim, a incapacidade termina, em regra, ao desaparecerem as causas que a determinaram. Por exemplo, no caso da loucura, cessando a AN02FREV001 42 enfermidade que a determinou. 2.7.2 Emancipação Aos 18 anos cessa a menoridade, mas a capacidade civil pode ser adquirida, antes, por meio da emancipação, conforme os incisos I, II, III, IV, V do CC. Essa emancipação é irrevogável e definitiva. Ou seja, não retorna à incapacidade civil quem se emancipou pelo exercício do comércio e depois faliu, nem o que se casou e depois ficou viúvo ou se divorciou, nem no caso de casamento putativo anulado, se estava de boa-fé. Portanto, com a emancipação, fica apta a exercer pessoalmente todos os atos civis antes de completar 18 anos. 2.7.3 Individualização da Pessoa Natural A identificação da pessoa se dá pelo nome, que a individualiza pelo estado, que define a sua posição na sociedade política e na família, como indivíduo e pelo domicílio, que é o lugar de sua atividade social. Segundo o art. 16 do CC, “toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome”. É um direito da personalidade, essencial para o exercício regular dos direitos e do cumprimento das obrigações. Em regra, dois são os elementos constitutivos do nome, o prenome (que é próprio da pessoa) e o sobrenome (comum a todos os que pertencem a certa família). O prenome pode ser livremente escolhido, desde que não exponha o portador ao ridículo. O sobrenome é o sinal que identifica a procedência da pessoa, indicando sua filiação ou estirpe. A lei e a jurisprudência têm permitido alterações no nome em casos tais como: erro gráfico evidente, nomes ridículos, exóticos ou ofensivos. Mas pode ser alterado AN02FREV001 43 em razão do casamento, da adoção, no divórcio, na separação judicial, etc. 2.8 DAS ASSOCIAÇÕES, FUNDAÇÕES E DO DOMICÍLIO 2.8.1 Associações Associação é uma reunião de pessoas que se organizam para fins não econômicos, inexistindo entre os associados direitos e obrigações recíprocas. Ou seja, a associação é uma modalidade de agrupamento, dotada de personalidade jurídica, sendo pessoa jurídica de direito privado, voltada à realização de finalidades culturais, sociais, religiosas, recreativas, esportiva, etc. Deverá ter um estatuto, que contenha obrigatoriamente a denominação da associação, os fins, a sede, os requisitos para admissão, demissão e exclusão de associados, os direitos e deveres, etc., conforme o art. 54 do CC. Em uma associação as pessoas se reúnem para uma finalidade que não é econômica, por exemplo, APAE, hospícios, orfanatos, etc. 2.8.2 Fundações Fundação é um patrimônio personalizado e afetado por seu instituidor a determinada finalidade, que somente pode ser, segundo o direito brasileiro, religioso, moral, cultural ou de assistência. As fundações privadas são fiscalizadas pelo MP, onde situadas. Se funcionarem no Distrito Federal, caberá o encargo ao MP Federal, se atuarem em mais de um Estado da federação, caberá o encargo em cada um deles, ao respectivo MP. Sendo assim, o Ministério Público é a autoridade competente para zelar pela AN02FREV001 44 constituição e funcionamento das fundações. Será chamado a opinar em qualquer ação que as envolva. Os bens das fundações são inalienáveis e impenhoráveis. Somente em casos especiais poderão ser vendidos, doados, trocados, hipotecados etc. Assim mesmo, com autorização judicial, ouvido o MP. As fundações particulares nascem a partir de um patrimônio, por exemplo, Xuxa separou uma parte de seu patrimônio, que foi atribuído para o surgimento da fundação Xuxa Meneghel. A fundação particular é uma dotação patrimonial para uma finalidade filantrópica. 2.8.3 Do Domicílio Domicílio é a sede jurídica da pessoa, onde ela se presume presente para efeitos de direito e onde exerce ou pratica, habitualmente, seus atos e negócios jurídicos. 2.8.4 Domicilio da Pessoa Natural Segundo o art. 70 do Código Civil, “o domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo”. Então, caracteriza o domicílio da pessoa natural dizendo ser ele o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo, ou seja, o centro de suas ocupações habituais, o ponto central de seus negócios. Ou ainda, domicílio é o lugar em que o homem atua na vida jurídica, pois o homem vivendo em sociedade, mantendo relações jurídicas com outros é necessário que um lugar haja onde possa ele oficialmente ser encontrado, para responder pelas obrigações que assumiu. A legislação civil admite, em seu art. 71, a pluralidade de domicílio. Se AN02FREV001 45 a pessoa natural tiver residência diversa onde alternadamente viva, qualquer uma delas é considerada seu domicílio. No tocante às relações profissionais, considera-se domicílio o lugar onde a pessoa natural exerça sua profissão e se esta for exercida em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações profissionais correspondentes. Se a pessoa natural não tiver residência, fica sendo domicílio o lugar onde for encontrada. Portanto, todos os sujeitos de direito devem ter, por livre escolha, ou por determinação da lei, um lugar, no espaço, de onde se irradie sua atividade jurídica. 2.8.5 Domicilio da Pessoa Jurídica A pessoa jurídica tem seu domicilio, que é sua sede jurídica, onde os credores podem demandar o cumprimento das obrigações Como não tem residência, é o local de suas atividades habituais, de seu governo, direção ou administração. Quanto às pessoas jurídicas o Código Civil preceitua o seguinte: I – o domicílio da União é o Distrito Federal; II – o dos Estados e Territórios, as respectivas capitais; III – o dos Municípios, o lugar onde funciona a administração municipal; IV – o das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou ato constitutivo. (CC, art. 35). O conceito de domicílio se distingue do de residência. Este representa uma relação de fato entre uma pessoa e um lugar, envolvendo a ideia de habitação, enquanto o de domicílio compreende o de residência, acrescido do ânimo de fazer o centro de sua atividade jurídica. Assim, domicílio é a sede jurídica da pessoa, onde ela se presume presente para efeitos de direito. É o lugar onde a pessoa estabelece a sua residência. A residência é, portanto, um elemento do conceito de domicílio. O domicílio da pessoa que não tem residência habitual, ou empregue sua vida em viagem, sem ponto central de negócios é o lugar em que for AN02FREV001 46 encontrada. E a mudança de domicílio ocorre quando a pessoa natural altera sua residência, com a intenção de transferir o seu centro habitual de atividades. Assim, os funcionários públicos reputam-se domiciliados onde exercerem, em caráter permanente, suas funções. O militar em serviço é o lugar em que servir. Os incapazes, ainda que só relativamente, têm por domicílio o de seus representantes. O preso no lugar onde cumpre a sentença, etc. Com relação aos critérios que o Código de Processo Civil estabelece para fixar a competência territorial do foro, isto é, onde deve ser proposta a ação, está o lugar do domicílio das partes da demanda, para a sua maior comodidade. 2.8.6 Responsabilidade Civil e Extinção da Pessoa Jurídica A pessoa jurídica de direito privado, tenha ou não fins lucrativos, responde civilmente pelos atos de seus prepostos, conforme o art. 1522 do CC. A responsabilidade da pessoa jurídica de direito público é objetiva, mas na modalidade do risco administrativo, o mesmo para as prestadoras de serviço público. Nesta modalidade a vítima não tem mais o ônus de provar a culpa ou dolo do funcionário, mas admite-se a inversão do ônus da prova e o Estado se exonera da obrigação de indenizar se provar culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou força maior. Em caso de culpa concorrente da vítima, a indenização será reduzida pela metade. Com relação à extinção, pode ser: Convencional, ou seja, por deliberação de seus membros; Legal - em razão de motivos determinados em lei, Administrativa - quando as pessoas jurídicas dependem de aprovação ou autorização do Poder Público e praticam atos nocivos ou contrários aos seus fins; Natural - resulta de morte de seus membros, se não ficou estabelecido que prosseguirá com seus herdeiros; Judicial - quando se configura algum dos casos de dissolução previstos AN02FREV001 47 em lei ou no estatuto e a sociedade continua a existir, obrigando um dos sócios a ingressar em juízo. ----------------------FIM DO MÓDULO II---------------------
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