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Material I Teoria Geral do Dir. Civil Idocx

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FEPI – Centro Universitário de Itajubá
Caro Aluno, ATENÇÃO: o material escrito disponibilizado pelo professor, não representa todo o conteúdo da disciplina. Todas as inferências e explicações dadas durante as aulas devem ser anotadas de forma clara, pois as mesmas são também conteúdos de avaliações. 
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I
EMENTA
Princípios e conteúdo do Direito Civil. As Pessoas: conceito, personalidade e direitos da personalidade. Pessoa Natural – conceito; capacidade jurídica da pessoa natural. Incapacidade absoluta e relativa. Cessação da incapacidade. Estudos de casos. Extinção da personalidade natural. A ausência: curadoria dos bens do ausente. A sucessão provisória e a sucessão definitiva. Pessoa Jurídica: conceito, natureza jurídica; classificação das pessoas jurídicas. Começo da pessoa jurídica; capacidade da pessoa jurídica. Responsabilidade civil das pessoas jurídicas. Domicílio: conceito, importância da noção de domicílio. Residência. A pluralidade de domicílios. Espécies de domicílio. Domicílio das pessoas jurídicas. Bens: conceito; das diferentes classes de bens. Bens considerados em si mesmos: imóveis, móveis, fungíveis, consumíveis, divisíveis, singulares e coletivos. Bens reciprocamente considerados: públicos e particulares. Estudos de casos. Fatos Jurídicos: conceito. Classificação dos fatos jurídicos. Validade do negócio jurídico. Os poderes de representação. A condição, o Termo e o encargo.
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BIBLIOGRAFIA BÁSICA
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral. 8.ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 559 p.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 12.ed. São Paulo: Atlas, 2012. 618 p.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ASSIS NETO, Sebastião José. Curso básico de direito civil: parte geral. Niterói: Ímpetus, 2009. 259 p.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: Parte Geral. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 2007. 498 p.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil: parte geral. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 206 p.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: Introdução ao direito civil - teoria geral de direito civil. 21.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. 718 p.
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral. 34.ed. São Paulo: Saraiva, 2007. 354 p.
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Introdução ao Estudo do Direito Civil
Direito Civil
Etimologicamente CIVIL refere-se ao CIDADÃO. 
Direito comum a todas as pessoas.
Ramo do Direito Privado.
Visa regular as relações dos indivíduos, estabelecendo direitos e impondo obrigações. 
Atua em toda a vida do indivíduo, pois disciplina todos os campos de interesses individuais. 
Trata-se do conjunto de normas jurídicas que regem os vínculos pessoais ou patrimoniais entre entidades/pessoas privadas, sejam elas singulares ou jurídicas, de caráter privado ou público. 
O seu objetivo consiste em proteger e defender os interesses da pessoa na ordem moral e patrimonial
Codificação
O código reúne em um só texto, disposições relativas a uma ordem de interesse, podendo abranger a quase totalidade de um ramo, como o Código Civil, ou alcançar apenas uma parcela menor da ordem jurídica, como é a situação, por exemplo, do Código de Defesa do Consumidor. 
Não é a quantidade de normas que identificam o Código, podendo este apresentar maior ou menor extensão. Há leis que são extensas e que não constituem códigos. 
Fundamental é a organicidade, que não pode deixar de existir. O Código deve ser um todo harmônico, em que as diferentes partes se entrelaçam, se complementam.
Antecedentes Históricos
Direito Romano – Codificação de Justiniano, o Artífice e responsável, mesmo após a queda de Roma, pela publicação do denominado Corpus Juris Civilis principal compilação do direito romano. Teve grande influência na formação do direito atual, refletindo-se na redação dos modernos códigos e, em especial, no Código Civil francês de 21 de Março de 1804 e no Código Civil alemão, de 1900;
Direito Canônico Medieval - Principal expressão jurídica da época o qual, através dos seus concílios e dogmas, delineava as questões concernentes à vida familiar. Nessa relação, são apresentadas “verdades absolutas” e “incontestáveis” que determinavam um modelo padrão de família, cuja consequência era a manutenção da mulher a um grau de inferioridade absoluta em relação ao homem.
Direito Germânico – Código Civil Alemão de 1900
Direito Francês - Código Napoleônico
Brasil-Colônia
Durante todo o período de colonização, o "direito brasileiro" se resumia ao que era posto pelas Ordenações Filipinas do Reino de Portugal publicadas no ano de 1603. 
 Regeram o ordenamento jurídico privado no Brasil por mais de 300 anos. Legislação portuguesa atrasada, retrógrada com tom patriarcalista e patrimonialista.
Nossos direitos civis não passavam de simples extensão dos direitos de nossos colonizadores.
CÓDIGO CIVIL DE 1916
Com a independência do Brasil em 1822, a Constituição do Império de 1824 estabeleceu que fosse organizado um código civil e também um criminal, em caráter de urgência. 
Em 1830 foi promulgado o Código Criminal do Império Brasileiro.
Após uma série de fases, somente quase um século depois é que o código civil foi elaborado, aprovado e promulgado em 1916. 
Entrou em vigor, em 1917 - refletia o pensamento dominante das elites europeias do século XIX, consubstanciado no individualismo e no liberalismo jurídico. 
Principais responsáveis pela elaboração do Primeiro Código Civil Brasileiro
Augusto Teixeira Freitas: Marco inicial em 1855, com o início da redação da Consolidação das Leis Civis com mais de 5.000 artigos que abriu caminho para a elaboração do Código Civil Brasileiro.
Clóvis Beviláqua: Principal idealizador do Projeto do Código Civil que resultou no Código Civil de 1916 contendo 1.807 artigos.
O Código de 1916, uma obra escrita ainda no século XIX, foi iluminado nessa esteira pelas ideias de um país, “cujos tentáculos da sociedade colonial foi baseada no trabalho escravo”.
	“O Brasil, na época que antecede a elaboração do Código, possuía uma população essencialmente agrícola, que, em 1872, era de 9.930.478 habitantes, sendo que um milhão e meio eram escravos, um milhão de índios e cinco milhões de agregados em fazendas e engenhos e trezentas ou quatrocentas mil pessoas pertenciam às famílias de proprietários de escravos, os fazendeiros, os senhores de engenho.”
CÓDIGO CIVIL DE 2002
Durante o século XX ocorreram relevantes mudanças sociais, elevando o desenvolvimento científico e tecnológico, o que certamente provocou gradativo descompasso com o Código Civil de 1916, que teve sua vigência até o início do século XXI (2003), vigorando por quase 100 anos no cotidiano da população brasileira.
Em 1967 é nomeada uma Comissão de Juristas coordenada por Miguel Reale para a elaboração de um novo código civil. Sendo, em 1972, apresentado pela comissão o anteprojeto do novo código civil brasileiro.
o Código foi reconstruído, durante quase 30 anos dentro do Congresso Nacional, ocasião em que também experimentou os novos paradigmas criados pela Constituição de 1988.
O Eminente Jurista MIGUEL REALE foi o principal responsável pelo Novo Código Civil Brasileiro de 2002
Publicado no Diário Oficial da União (DOU) em 10 de janeiro de 2002 – Lei 10.406.
Entrou em vigor em janeiro de 2003.
O CC é composto, inicialmente pela Lei de Introdução ao Código Civil (LICC), onde constam as regras gerais de compreensão e de abrangência dos dispositivos do Código, o que traz as bases que devem nortear a leitura e a interpretação em toda extensão dos seus artigos. 
Possui 2046 artigos, que tratam de variados temas das relações jurídicas no setor privado.
O Código Civil está dividido em duas partes:
	PARTE GERAL
	I
	Das Pessoas 
	onde indicam a capacidadedas  
pessoas, o patrimônio dos ausentes
	II
	Dos Bens 
	Regras gerais sobre patrimonial
	III
	Dos Fatos Jurídicos
	
	PARTE ESPECIAL
	I
	Das Obrigações 
	Negócio jurídico firmado entre as partes
	II
	Do Direito de Empresa 
	Pessoa jurídica é constituída de patrimônio
	III
	Do Direito das Coisas 
	Trata-se de bem propriamente dito
	IV
	Do Direito de Família 
	
	V
	Das Sucessões
	
Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro
Anteriormente denominada Lei de Introdução ao Código Civil ou LICC), devido ao fato de não estar restrita somente ao ramo civilista, seu nome foi alterado pela Lei nº 12.376, de 2010, passando hoje a ser chamada de Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB).
Disciplina a aplicação das normas jurídicas brasileiras de uma maneira geral, sendo considerada uma norma sobre normas. 
Foi editada em 1942 como decreto-lei (n. 4657/42), e está em vigor até hoje.
PERSONALIDADE JURÍDICA
Da Pessoa Física (ou Pessoa Natural)
É todo “ser humano”, sujeito de direitos e obrigações. Para ser considerado PESSOA NATURAL basta que o homem exista. Todo homem é dotado de personalidade, isto é, tem CAPACIDADE para figurar numa relação jurídica, tem aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações.
Do Começo da Personalidade 
A personalidade começa com o nascimento com vida, o que se constata com a respiração (docimásia hidrostática de Galeno). Antes do nascimento não há personalidade, mas a lei, todavia, lhe resguarda direitos para que os adquira se vier a nascer com vida, tornando-se sujeito de direito, mesmo que venha a falecer minutos depois.
Em uma perspectiva constitucional de respeito à dignidade da pessoa, não importa que o feto tenha forma humana ou tempo mínimo de sobrevida. Assim, se o recém-nascido – cujo pai já tenha morrido - falece minutos após o parto, terá adquirido, por exemplo, todos os direitos sucessórios do seu genitor, transferindo-os para a sua mãe, uma vez que se tornou, ainda que por breves instantes, sujeito de direito.
“A personalidade jurídica está ligada à existência do indivíduo, e não à sua consciência ou vontade. Uma criança muito pequena, ou um louco, é uma pessoa. Entre as pessoas físicas não há qualquer diferença para a atribuição dos direitos civis. Por mais débil ou incapacitado que seja, todo ser humano é, e continua sendo, uma pessoa de direito”.
Da Extinção da Personalidade
A personalidade se extingue com a morte real, física. É o fim da existência da pessoa natural. 
A morte corresponde ao término das funções vitais do indivíduo. Logo morta a pessoa natural, extingue-se, automaticamente, a sua personalidade jurídica. 
A morte, à luz do direito, traz uma série de consequências: extinção do poder familiar; dissolução do vínculo matrimonial; a abertura da sucessão; casamento; extinção dos contratos pessoais; extinção das obrigações...; 
Morte Real 
É a declarada por médico em documento solene, o atestado de óbito que se constitui em garantia à família e à sociedade de que não há possibilidades de o indivíduo estar vivo, podendo ser processada legalmente o inventário. 
Ocorre também com o diagnóstico de paralisação da atividade encefálica declarada por médico e não pelos batimentos cardíacos para que se possa ser lavrada a certidão de óbito e que se proceda a notificação aos hospitais em caso de transplantes. 
Também se dá a Morte real, por justificação de óbito, às pessoas de quem não mais se tem notícias, desaparecidas em naufrágios, incêndios, inundações, maremotos, terremotos, enfim, em grandes catástrofes, podem ser reputadas mortas civilmente (morte real), por decisão judicial prolatada em procedimento especial iniciado pelo interessado (cônjuge ou companheiro sobrevivente ou mesmo um parente próximo).
	Dois são os requisitos fundamentais para que se tenha a declaração de morte nessas circunstâncias: prova de que a parte estava no local em que ocorreu a catástrofe e de que, posteriormente, não mais há notícias dela. 
Também reconhece hipóteses de morte real, ao reputar mortas, para todos os fins de direito, as pessoas desaparecidas em razão de participação, ou simplesmente acusadas de participação, em atividades políticas, no período compreendido entre 2.9.61 e 15.8.79 (época da ditadura militar brasileira), inclusive fazendo jus os seus familiares a uma indenização correspondente. 
	A doutrina majoritária demonstra que a morte sem declaração de ausência não pode ser considerada como morte real, por necessitar de processo de justificação do óbito. 
Morte Presumida 
Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. 
	O reconhecimento de morte presumida reclama que antes se proceda e se esgote todas as averiguações. Apenas após tais procedimentos está o interessado apto a pedir a declaração em juízo. Cabe a quem pedir a declaração provar que esgotou as buscas e averiguações. Na sentença virá fixada a data provável do falecimento. 
Morte Presumida com declaração de ausência, ou seja, de que o ausente desapareceu de seu domicílio sem dar notícia de seu paradeiro e sem deixar um representante, produz efeitos patrimoniais, permitindo a abertura da sucessão provisória e, depois, a definitiva. Na última hipótese, constitui causa de dissolução da sociedade conjugal.
	A declaração de ausência é composta de três fases: a) Curadoria; b) sucessão provisória e; c) sucessão definitiva. 
Morte Civil 
É quando o indivíduo (beneficiário) é excluído de receber a herança, como se ele "morto" fosse antes da abertura da sucessão (art. 1.816, CC). 
Os motivos para essa exclusão são (art. 1.814, CC): que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro; que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade. 
Na prática a Morte Civil não existe; a tendência é que ela desapareça do ordenamento. É um resquício do Direito Romano. No principado romano existia a capacidade jurídica (capacidade de direito) e pro romano ela dependia não do nascimento com vida mas também do pai da família e tal pai, portanto, poderia eventualmente retirar a capacidade jurídica de um filho. O filho então ficava sem a capacidade de direitos e deveres, ficava sem personalidade, o que caracteriza morte civil.
Comoriência ou Morte Simultânea 
Ocorre quando duas ou mais pessoas (quando houver entre elas relação de sucessão hereditária) falecem na mesma ocasião ou no caso de ausência, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. 
Exemplo: Falecem A e B, casados, sem deixar descendentes nem ascendentes. Um seria herdeiro do outro, se ocorrida a morte sucessiva. Mas se houve comoriência, como no caso de falecimento em desastre de avião, os bens que eram de A se transmitirão aos seus herdeiros colaterais, o mesmo se dando com relação aos bens deixados por B, mas em favor dos seus próprios parentes. 
CAPACIDADE
É a medida da personalidade. Pode ser de DIREITO ou de FATO
 
Capacidade de Direito: é própria de todo ser humano, que a adquire assim que nasce (começa a respirar) e só a perde quando morre; Em face do ordenamento jurídico brasileiro a personalidade se adquire com o nascimento com vida, ressalvados os direitos do nascituro desde a concepção. É a aquisição ou gozo de direito.
Capacidade de Fato: nem todos a possuem; é a aptidão para exercer, pessoalmente, os atos da vida civil (capacidade de ação). Sóse adquire a Capacidade de Fato com a plenitude da consciência e da vontade.
A pessoa tem a CAPACIDADE DE DIREITO, mas pode não ter a CAPACIDADE DE FATO.
 
Exemplo: os recém nascidos e os loucos têm somente a capacidade de direito, pois esta capacidade é adquirida assim que a pessoa nasce. Eles podem, por exemplo exercer o direito de herdar. Mas não têm capacidade de fato, ou seja, não podem exercer o direito de propor qualquer ação em defesa da herança recebida, precisam ser representados pelos pais ou curadores. 
 
	Se a mãe puder exercer o pátrio poder, comprovando a sua gravidez, pode ser investida judicialmente na posse dos direitos sucessórios que caibam ao nascituro. 
Capacidade Plena: é quando a pessoa tem as duas espécies de capacidade (de direito e de fato). É aquela exercida pessoalmente pelo titular do direito ou do dever subjetivo.
Exemplo: a capacidade plena que tem uma pessoa com mais de 18 anos para comprar um imóvel, assumindo dívidas em prestações, ou vendê-lo, posteriormente. 
Capacidade Limitada: Quando a pessoa possui somente a capacidade de direito. É aquela em que o titular não pode responder pessoalmente, necessitando ser substituído por um terceiro.
Exemplo: o menor com 12 anos pode ser proprietário de um imóvel, mas quem irá administrá-lo de fato, alugá-lo, dar quitação dos aluguéis... Serão os seus representantes legais, que poderão, no caso, ser seus pais. Estes o substituirão, no exercício do direito, tomando as providências jurídicas necessárias em seu nome.
DA INCAPACIDADE
No direito brasileiro não existe incapacidade de direito, porque todos se tornam, ao nascer, capazes de adquirir direitos.
 	A incapacidade de direito é a restrição legal imposta ao exercício da vida civil, imposta pela lei somente aos que, excepcionalmente, necessitam de proteção, pois a capacidade é a regra.
	Todo indivíduo tem a capacidade de gozo ou de direito, e presume-se a capacidade de fato ou de exercício.
	Somente por EXCEÇÃO, e expressamente decorrente de lei, é que se recusa ao indivíduo a capacidade de fato. 
	Ninguém tem a faculdade de abdicar da sua capacidade ou de se declarar incapaz.
Das Espécies de Incapacidade
Absoluta: Há proibição total do exercício do direito pelo incapaz, acarretando a nulidade se o realizar sem a devida representação legal.
Relativa: Os indivíduos podem praticar, por si, os atos da vida civil, desde que assistidos por quem de direito os represente.
Importante: A lei não institui o regime das incapacidades com o propósito de prejudicar os incapazes. O intuito da lei é oferecer aos incapazes proteção, aconselhando tratamento especial.
Da Incapacidade Absoluta
É absoluta a incapacidade quando a lei considera um indivíduo totalmente inapto ao exercício da atividade da vida civil. 
	Os absolutamente incapazes podem adquirir direitos, pois possuem a capacidade de direito. Mas não são habilitados a exercê-los, porque lhes falta a capacidade de exercício.
	Como são proibidos totalmente do exercício de qualquer atividade no mundo jurídico, nos atos que se relacionam com seus direitos e interesses, procedem por via de representantes, que agem, no caso, em nome dos incapazes. 
Causas de Incapacidade Absoluta
Menores de 16 anos: 
Devido à pouca idade, não atingiram o discernimento para distinguir o que podem ou não fazer, o que lhes é conveniente ou prejudicial. São chamados “Menores Impúberes”.
Os que, por Enfermidade ou Deficiência Mental, não Tiverem o Necessário Discernimento para a Prática desses Atos: 
Nesta expressão, o objetivo do Código Civil foi compreender aquele que não possui discernimento para a prática dos atos da vida civil, seja por enfermidade, seja por deficiência mental.
	Para que haja a interdição por este motivo, é necessário sentença judicial. Portanto, só depois de decretada judicialmente a interdição é que se recusa a capacidade de exercício. 
Os que, Mesmo por Causa Transitória, não Puderem Exprimir sua Vontade.
A incapacidade não dependerá exclusivamente da anomalia orgânica, mas de sua conjugação com a impossibilidade de se manifestar a vontade. Nesta hipótese se inclui aquele que transitoriamente não puder exprimir sua vontade, como o caso do paciente em estado de coma.
Da Incapacidade Relativa
Além dos absolutamente incapazes, destacam-se dentre os incapazes aqueles que não são totalmente privados da capacidade de fato. Entende o ordenamento jurídico que, em razão de certas circunstâncias, devem ser colocadas certas pessoas em um termo médio entre a incapacidade e o livre exercício dos direitos. Essa categoria de pessoas é denominada relativamente incapazes. Esses não são privados de ingerência ou participação na vida jurídica. 
Ao contrário, o exercício de seus direitos se realiza com a sua presença, exigindo, apenas, que sejam assistidos por seus responsáveis. Em suma, os relativamente incapazes são aqueles cuja manifestação de vontade é reconhecida pelo ordenamento jurídico, desde que eles sejam assistidos.
Causas de Incapacidade Relativa
Maiores de 16 anos e Menores de 18 anos
São chamados de menores púberes.
	Os menores púberes poderão, sem assistência dos responsáveis:
servir como testemunhas (art. 228, I);
fazer testamento (art. 1.860, parágrafo único);
ser mandatários - ser procuradores, ou seja, receber procuração - (art. 666);
ser responsáveis pelos prejuízos que causarem, se as pessoas por eles responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes (art. 928);
ser responsabilizados pelas obrigações que assumirem, quando dolosamente
ocultarem sua idade (art. 180).
Pródigos
	São os que dissipam desordenadamente seus haveres. A prodigalidade pressupõe a habitualidade de desperdícios e gastos imoderados. 
	É o indivíduo que, por ser portador de um defeito de personalidade, gasta imoderadamente seus haveres, dissipando o seu patrimônio com o risco de reduzir-se à miséria.
	Trata-se de um desvio da personalidade, comumente ligado à prática do jogo e à dipsomania (alcoolismo), e não, propriamente, de um estado de alienação mental.
	No Código Civil vigente, tem-se que ”a interdição do pródigo visa, em princípio, proteger sua pessoa e sua família porque, se ocorrer sua ruína, o perdulário irá tornar-se um ônus para a família e também para a sociedade”.
Os Ébrios Habituais, os Viciados em Tóxicos, e os que, por Deficiência Mental, Tenham o Discernimento Reduzido
	Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido são considerados relativamente incapazes. Assim, estamos diante de uma cláusula geral, visto que caberá ao Juiz, no caso concreto, analisar se o discernimento é total ou reduzido, já que no primeiro caso a pessoa será absolutamente incapaz e no segundo, relativamente.
Os Excepcionais, sem Desenvolvimento Mental Completo
	Nesta hipótese, não basta a excepcionalidade. Será preciso a demonstração da falta de desenvolvimento mental completo, para que a pessoa seja considerada relativamente incapaz.
Índio
	Em primeiro lugar, deve ser destacado que o novo Código Civil substituiu o vocábulo silvícola por índio, sendo que a capacidade passa a ser regulada por legislação especial. Atualmente, o Estatuto do Índio o considera relativamente incapaz.
	Há de observar-se que a legislação brasileira dá tratamento especial ao índio, enquanto este não se integrar à comunhão nacional, posto que, uma vez ocorrida a integração, o índio é um brasileiro como todos os demais, não tendo influência sua origem numa comunidade indígena.
Os índios são classificados em: 
Isolados: quando vivem em grupos desconhecidos; 
Em vias de integração: quando em contato intermitente ou permanente com grupos estranhos, conservando condições de vida nativa, mas aceitando algumas práticas e modos de existência comuns aos demais setores da comunhão nacional, da qual dependem cada vez mais para seu sustento; 
Integrados: quando incorporados à comunhãonacional e reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis, mesmo que conservem usos, costumes e características de sua cultura.
Cessação da Incapacidade
A incapacidade termina, em regra, ao desaparecerem as causas que a determinaram.
Exemplo: Aos 18 anos completos acaba a menoridade.
Maioridade:
A maioridade começa aos 18 anos completos, tornando-se a pessoa apta para as atividades da vida civil que não exigirem limite especial, como as de natureza política.
Cessa a menoridade no primeiro momento do dia em que o indivíduo perfaz os 18 anos. Se nascido no dia 29 de fevereiro de ano bissexto, completa a maioridade no dia 1º de março.
O critério é unicamente etário: leva-se em conta somente a idade, mesmo havendo, em determinados casos, maturidade precoce. Não há diferença de tratamento em relação ao sexo, aplicando-se o mesmo limite ao homem e à mulher.
Emancipação:
	É a aquisição da capacidade civil (de fato ou de exercício) antes da idade legal. 
	 Pode decorrer de concessão dos pais ou de sentença do juiz, bem como de determinados fatos a que a lei atribui esse efeito.
Espécies de Emancipação
VOLUNTÁRIA
A emancipação voluntária é a concedida pelos pais se o menor tiver no mínimo 16 anos completos.
Deve ser concedida por ambos os pais, ou por um deles na falta do outro.
A impossibilidade de qualquer deles participar do ato, por se encontrar em local ignorado ou qualquer outro motivo relevante, deve ser devidamente justificada em juízo. Se divergirem entre si, a divergência será dirimida pelo juiz.
Para formalização da emancipação é expressamente exigido o instrumento público, independentemente de homologação judicial.
A emancipação voluntária só não produz o efeito de desobrigar os pais de indenizar as vítimas dos atos ilícitos praticados pelo menor emancipado (Responsabilidade Civil), para evitar emancipações maliciosas (STF).
JUDICIAL
A única hipótese de emancipação judicial (que depende de sentença do juiz) é a do menor sob tutela que já completou 16 anos de idade.
Deve ser submetida ao crivo do magistrado, para evitar emancipações destinadas apenas a livrar o tutor dos ônus da tutela e prejudiciais ao menor, que se encontra sob influência daquele, nem sempre satisfeito com o encargo que lhe foi imposto.
A emancipação só deve ser concedida em consideração ao interesse do menor.
LEGAL
        A emancipação legal é a que decorre das seguintes hipóteses expressamente previstas em lei:
Casamento 
O casamento acarreta o fim da incapacidade civil como natural consequência da constituição da família.
Não é razoável que as graves responsabilidades da vida doméstica sejam assumidas pela intervenção ou sob a fiscalização de um estranho, isto é, do pai ou tutor.
Desta forma, o casamento válido produz o efeito de emancipar o menor (art. 5º, parágrafo único, II) , sendo certo que se logo depois o casamento se dissolver pela viuvez ou separação judicial, não retornará o indivíduo à situação de incapaz.
Exercício de Emprego Público Efetivo
O fato de ter sido admitido no serviço público já denota maturidade e discernimento, principalmente quando a simples relação de emprego, com estabelecimento de economia própria, é suficiente para a emancipação.
Predomina o entendimento de que o dispositivo legal exige tratar-se de emprego efetivo, devendo ainda prevalecer o status de servidor público.
A regra inspira-se na ideia de que, “se o próprio Poder Público reconhece no indivíduo a maturidade para representá-lo, ainda que numa área pequena de sua atividade, incompreensível seria continuar a tratá-lo como incapaz”.
Colação de grau em instituição de ensino superior
O preceito, de absoluta justiça, é hoje de certo modo obsoleto, pois dificilmente uma pessoa consegue colar grau em curso de nível superior com menos de 18 anos de idade, a não ser os gênios, que se submeteram a procedimento especial para avaliação dessa circunstância junto ao Ministério da Educação.
Pelo estabelecimento civil ou comercial (ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha economia própria) 
A iniciativa do menor, nesse sentido, revela maturidade adequada para passar ao rol dos capazes.
Seria ilógico que, para cada um dos atos que tivesse que praticar, apresentasse ou devesse apresentar autorização de seus representantes legais.
	A subordinação aos pais, nestes casos, acarretaria dificuldades na gestão dos negócios ou no exercício do emprego particular.
IMPORTANTE
As emancipações Voluntária e Judicial devem ser registradas em livro próprio do 1º Ofício do Registro Civil da comarca do domicílio do menor, anotando-se também, com remissões recíprocas, no assento de nascimento do emancipado. Antes do registro, não produzirão efeito.
Quando concedida a emancipação por Sentença, deve o juiz comunicar, de ofício, a concessão ao oficial do Registro Civil. 
A emancipação Legal (casamento, emprego público etc.) independe de registro e produzirá efeitos desde logo, isto é, a partir do ato ou do fato que a provocou.
A EMANCIPAÇÃO, em qualquer de suas formas, é irrevogável.
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL
O homem por ser eminentemente social, não vive isolado. E do convívio em sociedade nascem as relações jurídicas, negociais e familiares.
Dessa forma, torna-se essencial que os sujeitos dessas diversas relações sejam individualizados, perfeitamente identificados, como titulares de direitos e deveres na ordem civil. 
Essa identificação interessa não só a eles, mas também ao Estado e a terceiros, para maior segurança dos negócios e da convivência familiar e social.
Os principais elementos individualizadores da pessoa natural são: 
NOME: 	designação que a distingue das demais e a identifica no seio da sociedade; 
ESTADO: que indica a sua posição na família e na sociedade política; 
DOMICÍLIO: que é a sua sede jurídica.
NOME
	É a designação pela qual a pessoa identifica-se no seio da família e da sociedade.
	
	Destacam-se, no estudo do nome, um aspecto público e um aspecto individual.
O aspecto público decorre do fato do Estado ter interesse em que as pessoas sejam perfeita e corretamente identificadas na sociedade pelo nome e, por essa razão, disciplina o seu uso na Lei dos Registros Públicos (Lei n. 6.015/73).
O aspecto individual consiste no direito ao nome, no poder reconhecido ao possuidor de por ele designar-se e reprimir abusos cometidos por terceiros. 
Elementos do Nome
Prenome: é o nome próprio de cada pessoa e serve para distinguir os membros de uma mesma família.
Sobrenome: é sinal que identifica a procedência da pessoa, indicando a sua filiação ou estirpe. O sobrenome é característico da família e transmissível por sucessão.
        Mesmo que a criança seja registrada somente com o prenome, o sobrenome faz parte, por lei, de seu nome completo, podendo o escrivão lançá-lo de ofício adiante do prenome escolhido pelos pais (art. 55 - Lei dos Registros Públicos).
	Em alguns casos, usa-se também o Agnome, sinal que distingue pessoas de uma mesma família (ex.: Jr., Filho, Sobrinho, Neto, etc.)
Imutabilidade do Nome
 
        O prenome é imutável, admitindo-se, todavia, a sua substituição nas seguintes hipóteses (Lei dos Registros Públicos e jurisprudência):
 
por apelidos públicos notórios;
em razão de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime, por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o MP;
evidente erro gráfico;
caso o nome exponha seu portador ao ridículo;
tradução de nomes estrangeiros;
adoção (nestes casos pode alterar o prenome e o sobrenome);
em outros casos, desde que não prejudique o prenome (que em princípio é definitivo e imutável, salvo as exceções mencionadas) e o sobrenome.
Atingida a maioridade civil, pode o titular alterar o nome por via administrativa. Após este prazo decadencial, somente por meio de ação judicial.
 
        O nome completo também pode sofrer alterações, como no casamento, noreconhecimento de filho, na união estável, na separação judicial e no divórcio.
Proteção Jurídica do Nome
 
        Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial (art. 18 - CC).
 
	Além disso, o nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória (art. 17 - CC).
 
        Em se tratando de morto, terá legitimidade para a adoção das medidas cabíveis o cônjuge sobrevivente ou qualquer parente em linha reta ou colateral até o quarto grau.
ESTADO
 
        A palavra “estado” provém do latim status, empregada pelos romanos para designar os vários predicados integrantes da personalidade. 
 
        Constitui assim, a soma das qualificações da pessoa na sociedade, hábeis a produzir efeitos jurídicos. É o seu modo particular de existir.
Aspectos
 
	O estado apresenta três aspectos:
 
Estado individual: É modo de ser da pessoa quanto a idade, sexo, cor, altura, saúde (são ou insano e incapaz), etc.
        
Estado familiar: É o que indica a sua situação na família, em relação ao matrimônio (solteiro, casado, etc.) e ao parentesco (pai, filho, etc.).
        
Estado político: É a qualidade jurídica que advém da posição do indivíduo na sociedade política, podendo ser nacional (nato ou naturalizado) e estrangeiro.
        No direito moderno sobreviveram apenas o estado familiar e o estado político, embora a distinção das três ordens de estado.
Características do Estado
 
        As principais características ou atributos do estado são:
Indivisibilidade: – ninguém pode ser, simultaneamente, casado e solteiro, maior e menor, etc. O estado é uno e indivisível, regulamentado por normas de ordem pública.  A dupla nacionalidade é uma exceção à regra da indivisibilidade do estado.
 
Indisponibilidade – trata-se de bem fora do comércio, sendo inalienável e irrenunciável. Isso não impede a sua mutação, diante de determinados fatos e preenchidos os requisitos legais: solteiro pode passar a casado, este pode tornar-se viúvo, etc.
 
Imprescritibilidade – não se perde nem se adquire o estado pela prescrição. É elemento integrante da personalidade e, assim, nasce com a pessoa e com ela desaparece.
DOMICÍLIO
 
	A noção de domicílio é de grande importância no direito. Como as relações jurídicas se formam entre pessoas, é necessário que estas tenham um local, livremente escolhido ou determinado por lei, onde possam ser encontradas para responder por suas obrigações.
 
Domicílio: é a sede jurídica da pessoa, onde ela se presume presente para os efeitos de direito, onde pratica habitualmente seus atos e negócios jurídicos. Sendo o local em que responde por suas obrigações.
Para o Código Civil, domicílio é o lugar em que a pessoa estabelece a sua residência com ânimo definitivo (art.70 - CC).
 
	Enquanto o domicílio é o lugar onde a pessoa estabelece a sua residência com ânimo definitivo, a habitação ou moradia é o local que a pessoa ocupa esporadicamente (ex.: casa de praia, casa de campo, etc.).
São espécies de domicílio:
 
Domicílio Voluntário
 
Domicílio Voluntário Comum:  fixado livremente.
  
Domicílio Voluntário Especial: fixado com base no contrato.
Domicílio Necessário ou Legal
 
	É o domicílio determinado pela lei, em razão da condição ou situação de certas pessoas.
 
Têm domicílio necessário (art. 76 e 77):
 
Incapaz: domicílio de seu representante legal.
 
Servidor público: tem por domicílio o lugar em que exerce permanentemente as suas funções, não perdendo, contudo, o domicílio voluntário, se o tiver (admite-se a pluralidade domiciliar).
Militar em serviço ativo: domicílio no local em que serve, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, na sede do comando a que se encontra imediatamente subordinado.
 
Marítimo: é o local em que o navio está matriculado.
 
Preso: o lugar em que se encontra cumprindo a sentença.
 
Agente diplomático: se, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem domicílio no país, será demandado no Distrito Federal ou no último ponto do país onde o teve.
  
        O Código Civil admite a pluralidade domiciliar, bastando para tanto que a pessoa tenha diversas residências em que alternadamente viva (art. 71 - CC).
Domicílio Profissional
 
	O domicílio profissional é também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar em que esta é exercida, admitindo-se a pluralidade de domicílios profissionais, caso a pessoa exercite a profissão em diversos locais, configurando-se cada um desses locais o domicílio para as relações que lhe corresponderem.
  
Domicílio sem Residência
 
        Ainda é possível alguém ter domicílio sem residência, como os ciganos, andarilhos, caixeiros viajantes; que passam a vida em viagens e hotéis e, por isso, não têm residência habitual, considerando-se domicílio o lugar onde forem encontrados (art. 73 - CC).

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