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Interpretação das Normas Constitucionais I

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Direito Constitucional I
Aula –	Interpretação da Norma Constitucional
No entendimento clássico de Savigny, interpretação é a reconstrução do conteúdo da lei, sua elucidação, de modo a operar-se uma restituição de sentido ao texto viciado ou obscuro. Noutras palavras, trata-se de operação lógica, de caráter técnico, através do qual se busca investigar o sentido exato da norma jurídica imprecisa ou não muito clara.
Reis Friede adverte que “os problemas de interpretação constitucional, em certa medida, são mais amplos e complexos do que aqueles afetos à lei comum, até porque, sob certa ótica, também repercutem sobre todo o ordenamento jurídico”.[1: 20 FRIEDE, Reis. Lições Objetivas de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 73.]
Hermenêutica Constitucional: "a hermenêutica tem por objeto investigar e coordenar por modo sistemático os princípios científicos e leis decorrentes, que disciplinam a apuração do conteúdo, do sentido e dos fins das normas jurídicas e a restauração do conceito orgânico do direito, para efeito de sua aplicação e interpretação; por meio de regras e processos especiais procura realizar, praticamente, estes princípios e estas leis científicas; a aplicação das normas jurídicas consiste na técnica de adaptação dos preceitos nelas contidos assim interpretados, às situações de fato que se lhes subordinam". (Vicente Ráo).[2: APUD O Direito e a Vida dos Direitos. São Paulo: Max Limonad, 1952, p. 542, vol. 2]
A palavra intérprete tem origem latina - interpres - que designava aquele que descobria o futuro nas entranhas das vítimas. Tirar das entranhas ou desentranhar era, portanto, o atributo dos intérpretes, de que deriva para a palavra interpretar com o significado específico de desentranhar o próprio sentido das palavras da lei, deixando implícito que a tradução do verdadeiro sentido da lei é algo bem guardado, entranhado, portanto, em sua própria essência.
O conflito entre direitos X bens constitucionalmente protegidos.
Bens Jurídicos protegidos pela Constituição proteger certos bens jurídicos:
		- Saúde Pública
		- Segurança
		- Liberdade de Imprensa
		- Integridade Territorial
		- Defesa Nacional
		- Família, Idosos, Índios, etc.
Conflito ou Colisão dos bens = solução = hermenêutica constitucional
Distinção entre regras e princípios: As normas, inclusive as constitucionais, subdividem-se em duas modalidades distintas, quais sejam, regras e princípios. Muito se discute sobre a distinção entre as referidas modalidades normativas, o que foi sintetizado da seguinte forma por Canotilho:
Grau de abstração: Os princípios são normas com grau de abstração elevado, enquanto as regras possuem uma abstração relativamente reduzida;
Grau de determinabilidade na aplicação do caso concreto: Os princípios por serem vagos e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras (do legislador, Juiz etc.), enquanto as regras são susceptíveis de aplicação direta;
Caráter de fundamentabilidade no sistema de fontes do direito: Os princípios são normas de natureza ou com papel fundamental no ordenamento jurídico devido à sua posição hierárquica no sistema das fontes ou a sua importância estruturante dentro do sistema jurídico;
Proximidade da ideia de direito: os princípios são standarts juridicamente vinculantes radicados na exigência de justiça, as regras podem ser normas vinculativas com um conteúdo meramente funcional;
Natureza normogenética: Os princípios são fundamentos das regras, isto é são normas que estão na base ou constituem a ratio de regras jurídicas, desempenhando por isso uma função normogenética fundamentante. 
Analisando a Doutrina de Ronald Dworkin, cuja contribuição é essencial para a compreensão da distinção entre regra e princípios, pode-se sintetizar a diferença das seguintes formas:
Regras: relativos descritivos a partir dos quais, mediante subsunção, havendo enquadramento do fato à previsão abstrata, chega-se à conclusão. Diante de um conflito de regras, apenas uma prevalece dentro da ideia do tudo ou nada. Complementa Alexy que as regras são normas que sempre são satisfeitas ou não satisfeitas. As regras contêm, portanto, determinações no âmbito daquilo que é fática e juridicamente possível. 
Princípios: a previsão dos relatos se dá de maneira mais abstrata, sem se determinar a conduta correta, já que cada caso concreto deve ser analisado para que o intérprete dê o exato peso entre os eventuais princípios em choque. Complementa Alexy que Princípios são mandamentos de otimização, que são caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus variados e pelo fato de que a medida devida de sua satisfação não depende somente das possibilidades fáticas, mas também das possibilidades jurídicas. O âmbito das possibilidades jurídicas é determinado pelos princípios e regras colidentes. 
Princípio da Proporcionalidade ou razoabilidade: Trata-se de princípio (para alguns regra) de solução de conflitos de princípios no caso concreto, por meio da qual se busca equalizar os interesses colidentes, levando-se em consideração os seguintes aspectos:
Adequação: O meio escolhido deve atingir o objetivo perquirido, é adequado para a finalidade que se propõe;
Necessidade: A adoção de medida que possa restringir direitos só se legitima se indispensável para o caso concreto e não se puder substituí-la por outra menos gravosa;
Proporcionalidade em sentido estrito: Investiga-se, no caso concreto, se o s ato praticado supera a restrição a outros valores constitucionalizados. 
FONTE DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
a) Interpretação autêntica
Ocorre quando o legislador constituinte interpreta as normas constitucionais por ele mesmo elaboradas. “Nesta interpretação, o legislador constituinte busca extrair o verdadeiro significado da norma jurídica, revelando-nos o âmbito de sua atuação” 
b) Interpretação Doutrinária
É aquela levada a efeito pelos estudiosos do Direito Constitucional. Segundo Paulo Bonavides, a interpretação doutrinária é aquela que deriva da doutrina, dos doutores, dos mestres e teoristas do direito, dos que, mediante obras, pareceres, estudos e ensaios jurídicos intentam precisar, a uma nova luz, o conteúdo e os fins da norma, ou abrir-lhe caminhos de aplicação a situações inéditas ou de todo imprevistas”.[3: BONAVIDES, Paulo. Direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 1986. p. 270.]
c) Interpretação Judicial (ou Jurisprudenciais)
É aquela que resulta das decisões prolatadas pela justiça, esta interpretação resultará em efeitos práticos para a sociedade. É uma interpretação que emana do juiz, que se faz presente em sentenças, acórdãos, súmulas etc. Este tipo de interpretação tem o poder de influenciar o Poder Legislativo na criação de novas leis, já que revela os conflitos essenciais da lei com a realidade fática.
MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
- São as diferentes possibilidades de se analisar as normas constitucionais dentro de um plano metodológico. Pedro Lenza apresenta métodos interpretativos distintos, destacando:
Método tópico-problemático: Parte-se de um problema concreto para a norma. A Constituição é considerada um conjunto aberto de regras e princípios, dos quais o aplicador deve escolher aquele que seja mais adequado para a promoção de uma solução justa ao caso concreto que se analisa. O problema é que se pressupõe conceitos constitucionais acabados, o que não coaduna com a realidade constitucional ;
Método hermenêutico-concretizador: Parte-se da Constituição para o problema. Para compreender o sentido da norma o interprete arranca sua pré-compreensão do significado do enunciado, atuando sob a influencia das suas circunstâncias históricas, mas sem perder de vista o problema ;
Método científico-espiritual: A análise da norma constitucional não se fixa na literalidade da norma, mas parte da realidade social e dos valores subjacentes do texto da Constituição Enxerga-se a Constituição como um sistema cultural e de valores de um povo, cabendo a interpretação aproximar desses valoressubjacentes a Constituição. Esses valores, contudo, estão sujeitos à flutuações, o que torna complexa a interpretação elástica e flexível. ;
Método Normativo-Estruturante: O teor literal da norma deve ser analisado a luz da concretização da norma em sua realidade social. A norma terá que ser concretizada não só pela atividade do legislador, mas também pelo Judiciário, pelo Poder Executivo etc.
Método da comparação Constitucional: A interpretação se implementa mediante comparação nos vários ordenamentos. 
Método jurídico ou hermenêutico clássico: Nesse caso, a Constituição deve ser encarada como uma Lei, razão pela qual a interpretação deve levar em consideração os métodos tradicionais de hermenêutica, entre os quais cabe destacar:
Da Interpretação Gramatical (ou literal): Meio através do qual se busca aferir o significado literal da norma jurídica por meio de uma interpretação que leve em consideração o exame das palavras e das regras gramaticais vigentes à época da elaboração do texto legal. É meio fundamental como etapa preliminar a toda interpretação jurídica, não devendo ser utilizado unicamente, contudo, como meio de interpretação. O Juiz Black, da Suprema Corte dos Estados Unidos, foi um dos principais defensores da interpretação literal, dizendo que tal meio de interpretação visava restringir “o apetite de alguns juízes em extrapolar os limites constitucionais e impor suas próprias preferências, utilizando-se de argumentos retirados do direito natural ou do devido processo legal”.[4: ZIMMERMANN, 2002, p. 144.]
Da Interpretação Lógica ou Racional: É aquela que, na lição de Paulo Bonavides, examina-se a lei em conexidade com as demais leis, investiga-lhe também as condições e os fundamentos de sua origem e elaboração, de modo a determinar a ratio ou mens do legislador. Busca, portanto reconstruir o pensamento ou intenção de quem legislou, de modo a alcançar depois a precisa vontade da lei.. Esse método está sintetizado pela locução “intenção do legislador”, subdividindo-se em cinco: [5: BONAVIDES, 1986, p. 272]
Mens legis – busca verificar o que o legislador realmente disse, independentemente de suas intenções; 
Mens legislatori – busca verificar, ao contrário do anterior, o que o legislador quis efetivamente dizer, independentemente do que acabou efetivamente dizendo; 
Ocasio legis – conjunto de circunstâncias que determinaram a criação da lei; 
O argumento a contrario sensu – componente da interpretação lógica que utiliza o fato de que a lei sempre faculta à conclusão pela exclusão, dada a regra hermenêutica que afirma que as exceções devem vir sempre expressas; e, por fim, 
O argumento a fortiori – pode ser resumido pela máxima do Direito segundo a qual “quem pode o mais pode o menos”. Este método de interpretação deve ser utilizado imediatamente após a interpretação gramatical ou literal, independentemente da aparente solução definitiva que esta possa ter sugerido ao intérprete.
Da Interpretação Sistemática: As normas jurídicas estão dispostas em capítulos, títulos, livros e artigos, onde se encontram indicados o assunto e, consequentemente, o direito tutelado. A interpretação sistemática, assim, consiste no propósito de resolver eventuais conflitos de normas jurídicas, examinando-as sob a ótica de sua localização junto ao direito que tutela. Com este método devemos interpretar a norma constitucional vendo-o como um todo lógico e harmônico. Destarte, a interpretação da Constituição deve ser feita de modo a se permitir que as normas constitucionais sejam compatíveis entre si.
Da Interpretação Histórica: Método através do qual o intérprete busca o conhecimento evolutivo (histórico) da ambiência em que se originou a lei e da linguagem utilizada na redação do texto legal, de modo a se chegar à essência do dispositivo normativo, o verdadeiro significado da lei.
Da Interpretação Sociológica ou Teleológica: Busca interpretar as leis com vistas a sua melhor aplicação na sociedade, de acordo com a finalidade da norma.
Princípios e regras interpretativas da Constituição Federal: Analisando a Constituição Federal, Raul Machado Horta aponta a precedência, em termos interpretativos, dos Princípios Fundamentais da República Federativa e da enunciação dos Direitos e Garantias Fundamentais, dizendo que "é evidente que essa colocação não envolve o estabelecimento de hierarquia entre as normas constitucionais, de modo a classificá-la em normas superiores e normas secundárias. Todas são normas fundamentais. A precedência serve à interpretação da Constituição, para extrair dessa nova disposição formal a impregnação valorativa dos Princípios Fundamentais, sempre que eles forem confrontados com atos do legislador, do administrador e do julgador". [6: APUD Estudos de Direito Constitucional, Belo Horizonte: Del Rey, 1995, p. 239/240]
A Constituição Federal há de sempre ser interpretada, pois somente por meio da conjugação da letra do texto com as características históricas, políticas, ideológicas do momento, se encontrará o melhor sentido da norma jurídica, em confronto com a realidade sociopolítico-econômica e almejando sua plena eficácia, razão pela qual se pode destacar os seguintes princípios interpretativos:
Unidade constitucional: A constituição de ser sempre ser interpretada em sua globalidade;
Efeito integrador: Deve-se dar primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a interação política e social e o reforço da unidade política. 
Máxima efetividade (eficácia): A norma constitucional deve ter a mais ampla efetividade social.
Conformidade funcional (respeito ao esquema organizatório-funcional originário): O interprete da Constituição não pode chegar a um resultado que subverta ou perturbe o esquema organizatório-funcional constitucionalmente estabelecido.
Harmonização (evitar o sacrifício total de um bem jurídico): Os bens jurídicos deverão coexistir de forma harmônica, buscando evitar o sacrifício total de um deles em relação a outro em choque. 
Força normativa da constituição: Adotar a interpretação que dê maior eficácia, aplicabilidade e permanência.
Princípio da Interpretação Conforme a Constituição: Diante de normas que possuem mais de uma interpretação, deve-se buscar a exegese que mais se aproxime da constituição. Leva-se em consideração os seguintes aspectos: 
Prevalência da constituição;
Conservação de normas;
Exclusão da interpretação contra legem;
Espaço de interpretação;
Rejeição de normas inconstitucionais;
Intérprete não pode atuar como legislador positivo. 
As regras devem ser utilizadas para se buscar a harmonia do texto constitucional com suas finalidades, adequando-a à realidade.
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