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A justiça distributiva entre o universalismo e o comunitarismo

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Justiça
- Por mérito : Por status (posição social), por valores morais. : "dar a cada um de acordo com seu merecimento". De acordo com Platão, era de acordo a posição social. A concepção de Platão ainda hoje é aceita, mas a questão de mérito não se liga mais as classes sociais. Depois das sociedades Pré-modernas, defendemos a idéia de que a sociedade é formada por seres livres e iguais. O merecimento fica vinculado a idéia de igualdade. Não é a meritocracia que define a igualdade, é a igualdade que define a meritocracia. Se você teve condições de disputas esses bens em condições de igualdade, posso falar em mérito. Se as pessoas não tiveram condições de igualdade para ter acesso a essas disputas, não posso falar em mérito.
- Comutativa : Igualdade formal. Tratamento idêntico para as partes envolvidas quando houver relação de poder equitativa. Concepção defendida por Aristóteles. 
- Distributiva: Tratar desigualmente aqueles que estão em situação de desigualdade, tratar na medida da desigualdade os desiguais. Concepção defendida por Aristóteles.
- Identificar a justiça como sinônimo das normas vigentes: Concepção defendida por Kelsen. Para Kelsen a aplicação da norma significa ser justo. Suas normas foram feitas dentro do procedimento legislativo, a aplicação da norma é justa. Aplicar o direito positivo é realizar justiça.
Gisele Citadino - Pluralismo, Direito e Justiça Distributiva - "A justiça distributiva entre o universalismo e o comunitarismo"
Existem três concepções de justiça: 
- Liberal (Raz, Rawls, Larmore)
- Comunitária (Taylor, Walzer)
- Procedimental. (Habermas)
a) Os liberais e a subjetividade das concepções individuais
- Universalismo liberal 
- Veem o pluralismo como uma concepção vinculada à figura do individuo, enquanto ser capaz de agir segundo a sua concepção sobre a vida digna. 
- Prioridade dos direitos fundamentais em detrimento da soberania popular. 
- Estado Neutro
- As concepções individuais sobre o bem não se confrontam no âmbito do espaço publico. 
- Joseph Raz : Sua concepção tem um caráter não-liberal. 
	Para Raz, o pluralismo possui um valor intrínseco. O pluralismo é celebrado e valorizado, porque, sem ele, não pode haver verdadeira autonomia pessoal. Só há verdadeira autonomia pessoal se os indivíduos puderem optar por um dentre as diversas formas de vida moralmente válidas, ainda que a validade moral dessas concepções seja independente do valor a elas atribuído pelos indivíduos que as adotam. 
	Sua dimensão perfeccionista e compreensiva está precisamente associada a ideia de que certas concepções sobre a vida digna são objetivamente melhores e mais valiosas que outras. Essa concepção assume um caráter não-liberal, a medida que possui uma dimensão de intolerância em relação àquelas visões de mundo que não são consideradas válidas enquanto suporte para o exercício da autonomia pessoal. 
	A maioria dos liberalistas contemporâneos se volta contra o perfeccionismo e sua ‘’dimensão moralista’’ ,ainda que possam divergir, quanto ao caráter politico ou compreensivo que o liberalismo pode assumir. 
- John Rawls : Pluralismo: a constatação que as pessoas razoáveis não compartilham uma mesma concepção compreensiva de bem. 
“Fato do pluralismo” : Em qualquer democracia, há uma enorme diversidade de interesses pessoais, da mesma forma que variadas perspectivas através das quais as pessoas observam e compreendem o mundo. 
	O pluralismo não garante a estabilidade de uma sociedade democrática. A característica permanente da cultura pública de uma sociedade democrática é a convivência de várias doutrinas compreensivas razoáveis, ou seja, o ‘’fato do pluralismo razoável’’. O pluralismo razoável não é uma mera conjuntura histórica que pode vir a desaparecer, trata-se, na verdade, de marca duradora, porque intrínseca, de qualquer regime democrático. 
	Rawls parte do pressuposto de que há uma ideia intuitiva básica que descreve a sociedade como um sistema equitativo de cooperação entre as pessoas livres e iguais. Desta ideia, decorrem outras duas: 
	1- ideia de ‘’sociedade bem ordenada’’ que pressupõe a existência de uma ‘’concepção politica de justiça’’ que a regula. Esta concepção de justiça deve ser independente das diversas doutrinas religiosas, filosóficas, ou morais professadas pelos indivíduos em uma sociedade democrática. Daí, a ideia de ‘’justiça como imparcialidade’’ que se situa exclusivamente no domínio do ‘’politico’’. 
	2- os indivíduos são pessoas livres e iguais. Livres devido suas capacidades morais e de razão, iguais porque possuem essas capacidades em grau necessário a que sejam plenamente cooperativos da sociedade. As capacidades morais são duas: 
 > a capacidade de ter um senso de justiça: capacidade de entender, de aplicar, de agir segundo a concepção publica de justiça. É esse senso de justiça que leva o individuo a agir em relação aos demais indivíduos segundo determinados princípios que podem ser aceitos publicamente por todos. 
> capacidade de adotar uma concepção de bem: capacidade de formar, revisar, e racionalmente buscar uma concepção racional do bem. 
	Existe uma compatibilidade entre a ideia de justiça e a ideia de bem, que garante a estabilidade de uma sociedade bem ordenada. Como o justo e o bem são compatíveis, o pluralismo é razoável. O pluralismo razoável, enquanto diversidade de doutrinas compreensivas razoáveis, é o resultado natural das atividades da razão humana em uma sociedade democrática. 
	A ideia de ‘’justiça como imparcialidade’’ se dá através de recursos fictícios (posição original, e véu da ignorância) para criar uma concepção de justiça que seja imparcial e que possa ser aplicada no mundo real. 
	A Posição Original é o ‘’momento constituinte’’ onde todas as pessoas se reúnem para pensar em um modelo de organização social que seja justo e que seja passível de que qualquer ser humano possa se desenvolver. 
	O véu da ignorância, é o mecanismo que cria as condições para que essas pessoas cheguem a uma concepção de justiça imparcial: Ele neutraliza o pluralismo, deixa as pessoas sem influencia de pré-compreensões. 
	A ideia de justiça como imparcialidade, enquanto concepção política, ancora-se em dois princípios : 
 1- Cada pessoa tem igual direito a um esquema plenamente adequado de direitos e liberdades básicas iguais que seja compatível com um esquema semelhante de liberdades para todos ;
 2- As desigualdades sociais e econômicas tem que satisfazer duas condições:
>Devem se relacionar com postos e posições abertos para todos em condições de plena equidade e de igualdade de oportunidades;
> Devem redundar no maior benefício dos membros menos privilegiados da sociedade. 
	A justiça como imparcialidade permite três níveis de justificação: 
- O primeiro nível: A justificativa pro tanto. É obtida quando a sociedade está efetivamente regulada por princípios públicos de justiça. 
- O segundo nível: A justificação plena : É realizada por um cidadão individual enquanto membro da sociedade civil, quando ele aceita a concepção publica de justiça e a associa a doutrina compreensiva que tem como verdadeira. 
- O terceiro nível: A justificação política. Ocorre quando todos os membros razoáveis da sociedade politica realizam uma justificação da concepção politica compartilhada, associando-a com suas várias visões compreensivas razoáveis. 
	Sendo assim, encontramos dois momentos de justificação:
- Justificação pública (consenso justaposto): momento em que os cidadãos razoáveis endossam e publicamente justificam a concepção politica de justiça, associando-a às suas diversas visões razoáveis acerca da vida digna. 
- Justificação plena (equilíbrio reflexivo): Quando os cidadãos reconhecem que eles compartilham a mesma concepção pública de justiça. 
	Resumindo : Na primeira fase do processo, a posição original, as partes estão privadas da razão prática pelo véu da ignorância e os princípios de justiça são escolhidos a partir de um cálculo meramente racional. Quando ingressamos no mundo real, estes princípiosde justiça são plenamente justificados por cidadãos privados que associam a razoabilidade da concepção política de justiça à veracidade dos juízos morais que integram suas concepções individuais acerca do bem. A intersubjetividade do momento seguinte – o do consenso justaposto – se resume, na verdade, a um processo de observação mutua, através do qual os cidadãos percebem que compartilham da concepção politica de justiça, na medida em que se estabelece uma convergência entre suas visões de mundo razoáveis. Finalmente, o uso publico da razão tampouco significa um amplo debate politico acerca dos valores que integram as concepções individuais sobre a vida digna, mas se limita a valores ‘’políticos’’ sobre os quais não se pode haver, por sua própria natureza, divergência possível. 
- Larmore : Pluralismo é uma doutrina que afirma a existência de uma grande diversidade de formas moralmente válidas através dos quais o ser humano pode se auto realizar. 
	Desacordo razoável refere-se ao fato de que visões positivas sobre a natureza da vida digna, sejam pluralistas ou monistas, são eminentemente controvertidas. Pessoas razoáveis discordam sobre o significado da vida, nada impede que o pluralismo seja uma das coisas sobre a qual as pessoas razoáveis tendem a discordar. 
	Para Larmore, a ambição original do liberalismo é encontrar princípios da associação política que expressam certos valores morais fundamentais, sobre os quais não há desacordo possível. O liberalismo busca encontrar ‘’ os princípios da associação politica na essência da moralidade, que pessoas razoáveis possam aceitar apesar de sua tendência divergente natural. 
b)Os comunitários e a intersubjetividade das identidades sociais 
- Críticos do universalismo liberal
- Não acreditam que seja possível neutralizar o fato do pluralismo
- Impossível pretender que os indivíduos, quando pensam concepções de justiça, conseguem fazer o exercício da imparcialidade. 
- Concepções particulares de justiça
- Esferas distintas de justiça, que tem por parte do estado o mesmo nível de respeito.
- Soberania popular enquanto participação ativa dos cidadãos nos assuntos públicos, tem prioridade frente aos direitos individuais. 
- Defesa da autonomia pública
- Consenso ético comunitário 
- Michael Walzer: Confere prioridade à comunidade em relação ao individuo, na medida em que ele é essencialmente um ser produzido culturalmente. Os indivíduos estão integralmente vinculados às culturas que eles criam e compartilham. 
	Reconhecer o pluralismo é reconhecer a diferença, abdicar de respostas únicas, verdadeiras e definitivas para o problema da associação política e admitir o caráter parcial, incompleto e conflitivo do consenso entre os indivíduos. 
	O ambiente é crucial para a formação da identidade do individuo. 
	O pluralismo cultural pode igualmente se expressar na esfera privada e na esfera pública. Do ponto de vista interno (privado), os indivíduos se dividem de 3 formas distintas: segundo seus interesses e seus papéis; segundo suas identidades e tradições; segundo seus ideias, princípios e valores. Do ponto de vista público, o pluralismo se expressa através de uma grande variedade de valores diferentes, incomensuráveis e incompatíveis, defendidos por comunidades ou grupos distintos. 
	A tolerância é a única maneira através do qual é possível neutralizar o medo que se encontra nos antagonismos (intensas reinvidicações a favor da diferença X confrontos que procuram garantir a unidade, seja politica, cultural ou territorial). A não ser que um grupo se constitua na negação de outro (ex.: neonazistas), nesse caso, não temos obrigação de ser tolerantes. 
	Somos obrigados a ser tolerantes, a tolerância é uma exigência moral. A intolerância é incompatível com a moral porque viola aquilo que confere humanidade ao individuo: sua identidade cultural. 
	Principio moral fundamental: Reconhecimento da diferença. O reconhecimento é universal, enquanto o reconhecido é particular. 
	Walzer parte do pressuposto que existem dois tipos de diferentes, ainda que inter-relacionados, de argumentos morais. O primeiro ‘’denso’’ (thick), é relativo aos valores das pessoas que compartilham uma história e cultura comuns. O segundo, ‘’delgado’’ (thin), se refere a valores comuns compartilhados por qualquer ser humano, independentemente da cultura que professa. 
	Walzer desenvolveu também a teoria da moralidade mínima, mas essa teoria vai ‘’contra’’ o pensamento comunitarista, por isso não cabe ser explicada aqui. 
c) A intersubjetividade Habermasiana: Entendimento na diferença. 
Procedimentalismo 
- Garantir, ao mesmo tempo, a proteção do individuo e do grupo.
- Autodeterminação de concepções (para proteger o grupo), pré-condicionadas (para proteger o indivíduo). 
- Habermas : Parte do pressuposto de que o traço fundamental da modernidade é a configuração do indivíduo como sujeito capaz de autorreflexão e crítica, o que lhe permite exigir igualdade de respeito e disponibilidade para o diálogo.
- Concorda com o comunitarismo, que o ambiente é crucial para a formação do individuo. 
- Acredita que os comunitaristas subestimam a possibilidade que o individuo tem de agir com autorreflexão e crítica. 
	A ética discursiva habermasiana recorre ao modelo de um amplo e irrestrito dialogo, no qual todos os participantes tem igual acesso e onde prevalece a forço do melhor argumento: a situação ideial de fala, que impõe uma série de condições apresentadas por três exigências : 
- não-limitação: ausência de impedimentos à participação;
- não violência: inexistência de coações externas ou pressões internas;
- seriedade: todos os participantes devem ter como objetivo a busca cooperativa de um acordo. 
	Agir estratégico: O sujeito em um disputa pública, usa a linguagem para persuadir o outro. Pouco importa se você acredita no que está falando. 
	Agir comunicativamente: Ter compromisso com o convencimento. Não é uma adesão superficial. O outro, de fato, chegou a conclusão de que o que você falou faz mais sentido do que o que ele acreditava. 
	As identidades individuais e sociais se constituem a partir da sua inserção em uma forma de vida compartilhada, na medida em que aprendemos a nos relacionar com os outros e com nós mesmos através da linguagem. Há, desta forma, uma inter-relação entre sujeito e sociedade, que se processa através de estruturas linguísticas, formando aquilo que Habermas designa por intersubjetividade. 
	Habermas parte do pressuposto que o traço fundamental da modernidade é a configuração do individuo como sujeito capaz de autorreflexão e crítica, o que lhe permite exigir igualdade de respeito e disponibilidade para dialogo. É através da conjunção da hermenêutica e da pragmática, isto é, do processo de autorreflexão que se processa no âmbito da interação comunicativa que se constitui a formação racional da vontade. A formação racional da vontade pressupõe um exercício publico de discussão comunicativa, em que todos os participantes fixam a moralidade de uma norma a partir de um acordo racionalmente motivado.

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