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DIREITO PENAL – PONTO 03

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DIREITO PENAL – PONTO 03 
Teoria geral do crime: conceito; objeto; sujeitos; conduta; tipicidade; culpabilidade. Bem jurídico. Tempo e lugar do crime. Punibilidade. Erro. Concurso de crimes e crime continuado. Crimes contra a organização do trabalho (Código Penal). Crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos (Código Penal). Crimes contra os costumes (Código Penal). Crime de corrupção de menores (Lei n. 2.252, de 1º de julho de 1954). Crimes contra a criança e o adolescente (Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990). Crimes contra a família (Código Penal). ESTATUTO DO IDOSO. Crimes de produção, uso e tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (Lei n. 6.368, de 21 de outubro de 1976 e Lei n. 10.409, de 11 de janeiro de 2002).
	CONCEITO DE CRIME
	Não há um conceito de crime atribuído pelo legislador. Predominam três conceitos na doutrina: conceito formal, conceito material e conceito analítico.
	
	Conceito formal: crime é toda conduta que atente à lei penal editada pelo Estado.
	Conceito material: crime é aquela conduta que viola os bens jurídicos mais importantes.
	Tais conceitos não traduzem com precisão o que seja crime. Para o conceito formal, se há uma lei penal, e o agente a viola, haverá crime. Já o conceito material sobreleva a importância do princípio da intervenção mínima. Contudo, se não houver uma lei penal protegendo-o, por mais relevante que seja, não haverá crime se o agente vier a atacá-lo, em face do princípio da legalidade.
	Conceito analítico: o crime consiste num fato típico, ilícito (antijurídico) e culpável, conforme quadro a seguir:
	
	CRIME
	FATO TÍPICO
	ANTIJURÍDICO
	CULPÁVEL
	Conduta: dolosa/culposa, comissiva/omissiva
	É elemento encontrável por exclusão, quando o agente não atua em:
	Imputabilidade
	Resultado
	Estado de necessidade
	Potencial consciência sobre a ilicitude do fato
	Nexo de Causalidade
	Legítima defesa
	Exigibilidade de conduta diversa
	Tipicidade: formal, conglobante (conduta antinormativa, não imposta ou fomentada e tipicidade material)
	Estrito cumprimento do dever legal
	
	
	Exercício regular de direito
	
	
	Quando não houver o consentimento do ofendido como causa supralegal de exclusão da ilicitude
	
	CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME
	A função do conceito analítico é a de analisar todos os elementos ou características que integram o conceito de infração penal sem que com isso se queira fragmentá-lo. O crime é um todo unitário e indivisível. Ou há delito ou há indiferente penal.
	O conceito analítico prescreve que crime é o fato típico, ilícito e culpável.
	O fato típico é composto dos seguintes elementos:
	a) conduta dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva;
	b) resultado;
	c) nexo de causalidade entre a conduta e o resultado;
	d) tipicidade (formal e conglobante).
	A ilicitude (antijuridicidade) é aquela relação de contrariedade, de antagonismo, entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico. É encontrada por exclusão, ou seja, não se verificará se o agente houver atuado amparado por uma das causas excludentes da ilicitude previstas no art. 23 do CP. Além das causas legais de exclusão da ilicitude, a doutrina menciona o consentimento do ofendido.
	Para que o consentimento do ofendido exclua a ilicitude, é necessário:
	I – Que o ofendido tenha capacidade para consentir;
	II – Que o bem sobre o qual recaia a conduta do agente seja disponível;
	III – Que o consentimento tenha sido dado anteriormente, ou pelo menos numa relação de simultaneidade à conduta do agente.
	A culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se faz sobre a conduta ilícita do agente. São elementos integrantes da culpabilidade, segundo a concepção finalista assumida pelo autor:
	a) Imputabilidade;
	b) Potencial consciência sobre a ilicitude do fato;
	c) Exigibilidade de conduta diversa.
	Há 3 acepções do princípio da culpabilidade:
	i – Princípio que integra o conceito analítico de crime;
	ii – Princípio medidor da pena – art. 59 – juízo de reprovação da conduta do agente;
	iii – Princípio impedidor da responsabilidade objetiva.
	CONCEITO DE CRIME ADOTADO POR DAMÁSIO, DOTTI, MIRABETE E DELMANTO
	Para estes autores, crime é um fato típico e antijurídico. A culpabilidade seria mero pressuposto de aplicação da pena. Rogério Greco discorda, pois o fato típico e a ilicitude também são pressupostos de aplicação da pena. Afinal, se não houver fato típico, ou se a conduta não for ilícita, não haverá pena.
	Segundo Rogério Greco, tais autores se fundamentam no fato de o CP prever, mais de uma vez, que a ausência de culpabilidade acarretará a isenção de pena. É o caso, por exemplo, do art. 26, que estabelece que “é isento de pena o agente que (...) era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato” (imputabilidade). Outro exemplo é a segunda parte do art. 21, caput, que diz que o erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena.
	Contudo, a expressão “isento de pena” também aparece para afastar outras características do crime, como no caso do erro de tipo permissivo (art. 20, § 1º) ou no caso da escusa absolutória do art. 181 (isenção de pena, nos crimes contra o patrimônio, do cônjuge, do ascendente, por exemplo).
	
Assim, embora o CP utilize essas expressões quando quer se referir às causas dirimentes da culpabilidade, tal opção legislativa não nos permite concluir que o crime seja tão-somente um fato típico e antijurídico.
	CONDUTA
	É o primeiro elemento integrante do fato típico, sinônimo de ação e comportamento. Embora o crime seja o resultado de uma ação humana, o legislador previu a possibilidade de punição da pessoa jurídica por prática de atividade lesiva ao meio ambiente (art. 225, §3º, da CF, e art. 3º da Lei nº 9.605/1998).
	A ação, ou conduta, compreende:
· qualquer comportamento humano comissivo (positivo) ou omissivo (negativo);
· doloso (agente quer a produção do resultado) ou culposo (inobservância de um dever de cuidado, atuando com negligência, imprudência ou imperícia).
	CONCEITO DE AÇÃO – CAUSAL, FINAL E SOCIAL
	Concepção causalista clássica: ação é o movimento humano voluntário produtor de uma modificação no mundo exterior. Sem ato de vontade não há ação, não há injusto, não há crime. Mas isso também não ocorre se não houver modificação no mundo exterior. 
	Problema: não consegue solucionar o problema da omissão.
	Concepção causalista neoclássica: a ação deixa de ser absolutamente natural para estar inspirada de um certo sentido normativo que permita a compreensão tanto da ação em sentido estrito (positiva) como da omissão. Agora a ação se define como o comportamento humano voluntário manifestado no mundo exterior.
	Concepção finalista: ação é um comportamento humano voluntário, dirigido a uma finalidade qualquer. O homem, quando atua, seja fazendo ou deixando de fazer alguma coisa a que estava obrigado, dirige a sua conduta sempre a determinada finalidade, que pode ser ilícita (atuação com dolo, por exemplo) ou lícita (quando não quer cometer delito algum, mas que, por negligência, imprudência ou imperícia, causa um resultado lesivo, previsto pela lei penal).
	Concepção da teoria social da ação: é toda atividade humana social e juridicamente relevante, segundo os padrões axiológicos de uma determinada época, dominada ou dominável pela vontade. Interpreta a ação como fator estruturante conforme o sentido da realidade social, com todos os seus aspectos pessoais, finalistas, causais e normativos.
	CONDUTAS DOLOSAS E CULPOSAS
	Há dois tipos de condutas: dolosas e culposas. Ou o agente atua com dolo, quando quer diretamente o resultado, ou assume o risco de produzi-lo; ou age com culpa, quando dá causa ao resultado em virtude de sua imprudência, imperícia ou negligência.
	CONDUTAS COMISSIVAS E OMISSIVAS
	Além de atuar com dolo e culpa, o agente pode praticar a infração penal fazendo ou deixando de fazer alguma coisa a que estava obrigado. As condutas, dessa forma, podem ser comissivas (positivas) ou omissivas (negativas).
	Nos crimes comissivos,o agente direciona sua conduta a uma finalidade ilícita. Ex: crime de furto – finalidade de subtrair os bens móveis pertencentes à vítima. Nos crimes omissivos, ao contrário, há uma abstenção de uma atividade que era imposta pela lei ao agente, como no crime de omissão de socorro (art. 135).
	Os crimes omissivos podem ser próprios (puros ou simples) ou impróprios (comissivos por omissão ou omissivos qualificados).
	
Crimes omissivos próprios são os que objetivamente são descritos como uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão na transgressão da norma jurídica e não sendo necessário qualquer resultado naturalístico. São delitos nos quais existe o chamado dever genérico de proteção.
	Crimes omissivos impróprios só podem ser praticados pelas pessoas referidas no § 2º do art. 13, uma vez que para elas exste um dever especial de proteção. São elas:
	I – pessoa que se encontre na posição de garante ou garantidor, ou seja, que tenha a obrigação legal de cuidado, proteção ou vigilância;
	II – Pessoa que, de outra forma, assuma a responsabilidade de impedir o resultado;
	III – Pessoa que, com seu comportamento anterior, tenha criado o risco da ocorrência do resultado.
	AUSÊNCIA DE CONDUTA
	Se o agente não atua dolosa ou culposamente, não há a ação. Isso pode acontecer se o agente estiver impedido de atuar, como nos casos de força irresistível, movimentos reflexos e estados de inconsciência.
	A força irresistível pode decorrer da natureza ou da ação de terceiro. Ex: vento forte que arrasta a pessoa para cima de outra, causando-lhe lesões corporais. Coação física irresistível. Situação em que o agente é jogado por uma terceira pessoa de encontro a outras pessoas, vindo a lesioná-las. Em todos os casos, não há conduta, não respondendo o agente pelas lesões que vier a causar.
	Os movimentos reflexos são reações a determinados impulsos que podem causar danos. Ex: pessoa coloca fio de seu aparelho de som em uma tomada e recebe uma pequena descarga elétrica, causando, num efeito reflexo, ao movimentar seu corpo, lesão em terceiro. Não haverá conduta.
	
	Ressalte-se, contudo, que se o movimento reflexo era previsível, os resultados dele advindos deverão ser imputados ao agente, geralmente a título de culpa. Ex: pessoa que vai consertar chuveiro elétrico, mesmo percebendo a existência de um fio desencapado, tenta fazê-lo sem desligar a chave de força. Se sofrer descarga elétrica e, mediante movimento reflexo, causar lesão, vai ter que responder.
	Os estados de total inconsciência eliminam também a conduta do agente. Ex: sonambulismo, ataques epiléticos, hipnose, etc.
	No caso da embriaguez completa, desde que não seja proveniente de caso fortuito ou força maior, embora não seja predeterminada a intenção de praticar crime, o agente será responsabilizado. Aqui, na verdade, o agente é responsabilizado pelos resultados ocorridos em virtude do ato de querer, voluntariamente, embriagar-se, ou mesmo em razão de ter, culposamente, chegado ao estado de embriaguez. Ocorre a chamada actio libera in causa, tendo em vista que a ação foi livre na causa, devendo o agente responder pelos resultados dela decorrentes.
	SUJEITOS DO CRIME
	SUJEITO ATIVO DO CRIME – pessoa que pratica a conduta típica.
 	-o delito é ação humana, em princípio, somente pode ser sujeito ativo de crime o homem.
	PESSOA JURÍDICA COMO SUJEITO ATIVO
	-previsão constitucional:
	[art. 173, § 5º, CF] – responsabilidade da pessoa jurídica nos atos praticados contra a ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA e contra a ECONOMIA POPULAR. 
	norma de eficácia limitada [ “A lei (...)”]
		[art. 225, § 3º, CF] – responsabilidade da pessoa jurídica quanto às CONDUTAS LESIVAS AO MEIO AMBIENTE.
			norma de eficácia limitada.
	-previsão infraconstitucional:
		[art. 3º, caput, Lei 9.605/98] – regulamenta o art. 225, § 3º da CF possibilitando a responsabilidade penal da pessoa jurídica.
	-divergência quanto à possibilidade da pessoa jurídica figurar como sujeito ativo:
		a)IMPOSSIBILIDADE:
			fundamentos:
 				i)a pessoa jurídica NÃO TEM VONTADE.
					não é dotada de CONSCIÊNCIA e VONTADE, portanto, não pode “dirigir uma ação” de acordo com sua intenção;
				ii)a punição da pessoa jurídica representa verdadeira RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA, o que compromete o PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE. 
				iii)a pena deve ser PERSONALÍSSIMA e a punição da pessoa jurídica acabaria gerando a punição do sócio.
					ex.: sócios minoritários contrários à decisão que acarretou a punição.
				iv)pessoa jurídica não pode ir para a prisão. A aplicação de multa pode ocorrer por qualquer outra área do direito. 
		b)POSSIBILIDADE:
			fundamentos:
 				i)a pessoa jurídica TEM VONTADE. 
 					não reconhecer a existência de vontade seria limitar a teoria da pessoa jurídica.
	TEORIA ORGANICISTA OU DA REALIDADE (OTTO GIERKE) – [ADOTADA NO BRASIL] – reconhece que a PJ tem vontade própria e distinta dos seus membros. A sua vontade é fruto da fusão das vontades dos seus membros.
 	em contraposição à essa teoria existe a TEORIA DA FICÇÃO (Savigny), que reconhece a PJ como uma ficção jurídica não dotada de consciência e vontades próprios, não adotada no ordenamento brasileiro.
	é necessário constatar que as pessoas muitas vezes se escondem atrás dessas instituições.
				ii)mesmo que se admitisse que a pessoa jurídica não fosse dotada de vontade, é necessário reconhecer que o direito penal, em algumas situações excepcionais, admite RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA. [ex.: embriaguez] 
				iii)em qualquer crime, quando se pune o agente, é possível existir pessoas inocentes prejudicadas, isso não quer dizer que ocorreria violação do PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE.
				iv)hoje, a ideologia do direito penal não se limita à aplicação de penas privativas de liberdade, sendo possível a aplicação de PENAS ALTERNATIVAS. 
					não há como não deixar de reconhecer o aspecto moral que uma pessoa jurídica condenada se sujeitaria.
	-penas aplicáveis à pessoa jurídica: [art. 22 e ss da Lei 9.605/98]
		o magistrado não poderá aplicar outra pena, se não as que estão expressamente previstas no ordenamento como penas aplicáveis às pessoas jurídicas.
 		Penas restritivas de direito:
 			i)suspensão parcial ou total de atividades – aplicada quando a pessoa jurídica não estiver obedecendo as disposições legais ou regulamentares relativas à proteção do meio ambiente.
 			ii)interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade - aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando:
 				sem a devida autorização.
				em desacordo com a autorização concedida.
				com violação de dipositivo legal ou regulamentar.
 			iii) proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações.
 				não poderá exceder a 10 anos.
			iv)prestação de serviços à comunidade: consiste em:
 				a)custeio de programas e de projetos ambientais;
 				b)execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
				c)manutenção de espaços públicos;
			d)contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.
			v)liquidação da pessoa jurídica: penalidade aplicada à empresa constituída ou utilizada preponderantemente para a prática de crimes previsto na Lei 9.605/98.
	SUJEITO PASSIVO DO CRIME 
	É o titular do bem jurídico que sofre a conduta típica.
 	a)SUJEITO PASSIVO FORMAL, GERAL, CONSTANTE (TAMBÉM CONHECIDO COMO INDIRETO) – é o ESTADO.
 		todo crime viola normas editadas pelo Estado, bem como a paz social; 
 	b)SUJEITO PASSIVO MATERIAL, EVENTUAL, ACIDENTAL (TAMBÉM CONHECIDO COMO DIRETO) – é o TITULAR DO BEM JURÍDICO LESADO OU AMEAÇADO DE LESÃO. [pode ser pessoa jurídica]
 		se não existir um sujeito passivo determinado, este será considerado como sendo a sociedade  esses tipos de crime são denominados de CRIMES VAGOS. [ex.: crime de quadrilha ou bando]
	crime contra animais  sujeito passivo: sociedade.
	crime contra cadáver  sujeito passivo: sociedade. 
 	bem jurídico – respeito aos mortos.
***atenção*** o MORTO,os ANIMAIS e as COISAS INANIMADAS não podem ser sujeitos passivos do crime por não serem titulares de bens jurídicos.
DICA o SUJEITO PASSIVO será o titular do bem jurídico lesado.
	quando a titularidade é de várias pessoas, mesmo se o titular esteja atacando o que é seu estará cometendo o crime. [ex.: fazendeiro derrubando a mata em seu imóvel]
 	sujeito ativo pode atingir objeto material que é seu e responder pelo crime.
 	-é possível que a figura do SUJEITO ATIVO e do SUJEITO PASSIVO do crime estejam na mesma pessoa  crime de rixa.
	CRIME MULTIVITIMÁRIO – crime com várias vítimas.
	OBJETO DO CRIME
	OBJETO JURÍDICO – é o BEM JURÍDICO TUTELADO, é o interesse protegido pela norma.
	-todo crime possui OBJETO JURÍDICO.
	OBJETO MATERIAL – é a PESSOA, COISA ou INTERESSE sobre o qual recai a conduta típica.
	-pode haver crime sem OBJETO MATERIAL. [ex.: ato obsceno ou falso testemunho] [afirmação da Prof. Janaína]
	EXISTÊNCIA DE CRIME SEM OBJETO MATERIAL
 	-há quem interprete a expressão “material” de forma literal e identifica apenas a “pessoa” e a “coisa” sobre a qual recai a conduta típica. Nesse sentido afirmam ser possível a existência de crime sem objeto material.
 	-Guilherme Nucci diverge desse posicionamento e identifica, além da “coisa”e da “pessoa”, a possibilidade da conduta recair sobre “interesse”. Nesse sentido seria incorreto afirma que existiria crime sem objeto jurídico.
	TIPO PENAL
	Tipo é o modelo, o padrão de conduta que o Estado, por meio de seu único instrumento – a lei - , visa impedir que seja praticada, ou determina que seja levada a efeito por todos nós.
	Tipo penal: é um instrumento legal, logicamente necessário e de natureza predominantemente descritiva, que tem por função a individualização de condutas humanas penalmente relevantes (Zaffaroni). Assim, o Estado descreve, precisamente, o modelo de conduta que quer proibir, sob pena de quem lhe desobedecer ser punido de acordo com as sanções previstas em seu preceito secundário. Se alguém adotar determinada conduta que se amolde perfeitamente àquele tipo, estaremos diante da tipicidade.
	Tipicidade: corresponde à subsunção perfeita da conduta praticada pelo agente ao modelo abstrato previsto na lei penal, isto é, a um tipo penal incriminador.
	Tipicidade formal: mera adequação da conduta ao tipo penal. Essa adequação deve ser perfeita, sob pena de o fato ser considerado formalmente atípico. Assim, se houver conduta parecida com aquela descrita no tipo, não haverá crime. 
	Tipicidade conglobante: conduta antinormativa (contrária à norma penal), não imposta ou fomentada pela norma e não ofensiva a bens de relevo para o Direito Penal (tipicidade material).
	
	Ex: o art. 121 do CP diz ser proibido matar. No entanto, a proibição nele prevista não se dirige a todos, devendo ser excetuada com relação àqueles que têm o dever de matar. No confronto entre a proibição e uma imposição (norma que determina que o carrasco execute a sentença de morte), deve-se concluir que a proibição de matar, nos casos em que a lei prevê, não se dirige ao carrasco. Portanto, sua conduta não seria antinormativa, contrária à norma, mas de acordo, imposta por ela.
	
	O conceito de antinormatividade – e, por conseguinte, de tipicidade conglobante -esvazia um pouco as causas de exclusão de ilicitude relacionadas ao estrito cumprimento de dever legal. 
	Tipicidade material: consiste em critério que afere a importância do bem no caso concreto, a fim de que possamos concluir se aquele bem específico merece ou não ser protegido pelo Direito Penal. Relaciona-se diretamente ao princípio da intervenção mínima. Este preceitua que a finalidade do Direito Penal é a proteção dos bens mais importantes existentes na sociedade, como a vida, a integridade física, o patrimônio, etc. (princípio da lesividade – adequação social – intervenção mínima – fragmentariedade - insgnificância)
	Adequação típica: ocorre quando a conduta do agente se amolda perfeitamente ao tipo penal. Há 2 espécies:
	Adequação típica de subordinação imediata ou direta: ocorre quando tal adequação se dá de maneira perfeita à descrição do tipo. Ex: homicídio (art. 121 do CP). 
	Adequação típica de subordinação mediata ou indireta: ocorre quando o agente, embora atue com vontade de praticar a conduta proibida por determinado tipo incriminador, pratica conduta que não se subsume perfeitamente ao tipo penal. Ex: tentativa de homicídio – se João atirar várias vezes e não matar, embora o desejasse, não haverá perfeita adequação ao art. 121. 
	Para que se possa obter a tipicidade em casos de adequação típica de subordinação mediata ou indireta, deve-se utilizar as chamadas normas de extensão, que são capazes de ampliar o tipo penal, abrangendo hipóteses não expressamente previstas pelo legislador. Ex: art. 14 (tentativa), art. 29 (concurso de pessoas).
	O art. 29 do CP também é uma norma de extensão, uma vez que responderão pelas mesma infração todos aqueles que, de qualquer modo, para ela tiverem concorrido, mesmo que não tenham praticado a conduta descrita no núcleo do tipo. Ex: haverá adequação típica no crime de furto não só daquela conduta pelo agente que ingressou na residência da vítima e efetuou a subtração de seus bens móveis, como também daquele que, na função de vigia, permaneceu do lado de fora com a finalidade de dar o alarme se alguém por ali aparecesse (adequação típica de subordinação mediata).
	FASES DA EVOLUÇÃO DO TIPO
	Podem ser destacadas três fases de evolução do tipo:
	Fase I – Caráter puramente descritivo;
	Fase II – Teoria da ratio cognoscendi: tipo com caráter indiciário da ilicitude. É majoritária.
	Fase III – Teoria da ratio essendi - tipo total - passou a ser a própria razão de ser da ilicitude.
	Teoria dos elementos negativos do tipo: decorre da teoria da ratio essendi. Se a conduta não for ilícita, não será típica. Não se fala em caráter indiciário. Existe um tipo total, ou seja, um tipo que deve ser entendido juntamente com a ilicitude da conduta. Haveria, assim, uma fusão do tipo com a ilicitude, de modo que se faltar esta última, ou seja, se o agente atuar amparado por uma causa de justificação, deixará de existir o próprio fato típico.
	Ex: legítima defesa. Para Welzel, primeiro concluímos pelo fato típico, depois analisamos se há antijuridicidade. Para a teoria dos elementos negativos, a análise é conjunta, pois o tipo é total.
	Injusto penal (injusto típico): significa que o fato típico e a antijuridicidade foram objeto de exame, restando agora ser realizado somente o estudo da culpabilidade do agente. O injusto, portanto, é a conduta já valorada como ilícita. A análise se faz em separado: primeiro o fato típico, depois a ilicitude.
	PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE
	Diz respeito ao juízo de censura, ao juízo de reprovabilidade que se faz sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente. Segundo Francisco de Assis Toledo, consiste na exigência de um juízo de reprovação jurídica que se apoia sobre a crença – fundada na experiência da vida cotidiana – de que ao homem é dada a possibilidade de, em certas circunstâncias, “agir de outro modo”.
	Não está expresso na CF, mas pode ser extraído dela, principalmente do princípio da dignidade da pessoa humana. Possui três sentidos fundamentais:
	I – Culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico de crime
	É o terceiro elemento do conceito analítico de crime (Welzel), após a análise do fato típico e da ilicitude. Após concluir que alguém praticou um injusto penal, inicia-se o estudo para saber se há ou não censura sobre o fato praticado. Compõe-se da imputabilidade do agente + potencial consciência da ilicitude + inexigibilidade de conduta diversa.
	
	II – Culpabilidade como princípio medidor de pena
	Uma vez existente a infração penal (fato típico, ilícito e culpável), deverá haver condenação. O juiz deverá, então, encontrar a pena correspondente à infração penal praticada, tendo sua atenção voltada para a culpabilidade do agente como critério regulador.
	Isso significa que o julgadordeverá observar as regras do critério trifásico de aplicação da pena. Primeiro, a pena-base. Depois, todas as condições judiciais do art. 59, sendo que a primeira delas é a culpabilidade.
	III – Culpabilidade como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva, ou seja, da responsabilidade penal sem culpa
	Significa que a culpabilidade impõe a subjetividade da responsabilidade penal. Não cabe, em Direito Penal, a responsabilidade objetiva.
	CONCEITO DE ERRO E SUA DISTINÇÃO DA IGNORÂNCIA
	Erro é a falsa representação da realidade ou o falso ou equivocado conhecimento de um objeto. É um estado objetivo. Difere conceitualmente da ignorância pois esta é a falta de representação da realidade ou o desconhecimento total do objeto (estado negativo).
	Não obstante tal distinção, erro e ignorância são tratados de forma idêntica pelo Direito Penal, com iguais efeitos.
	ERRO DE TIPO
	É o que recai sobre as elementares, circunstâncias ou qualquer dado que se agregue a determinada figura típica, ou ainda aquele incidente sobre os pressupostos de fato de uma causa de justificação ou dados secundários da norma penal incriminadora.
	O tipo, com a teoria finalista, passou a ser complexo. Tipo complexo, como vimos, reúne elementos objetivos e subjetivos. A ausência de qualquer um deles elimina o tipo penal. Dessa forma, pode-se dizer que o erro de tipo, como excludente de tipicidade, tem como suporte a teoria finalista da ação, que coloca o dolo na área da tipicidade.	
	No erro de tipo, quem atua “não sabe o que faz”, faltando-lhe, para o dolo do tipo, a representação necessária.
	Ex: caçador que atira contra um arbusto, durante um safári, supondo que ali se encontrava um animal, vindo, contudo, a causar a morte de seu companheiro. O agente erra quanto à elementar “alguém”, prevista no art. 121 do CP. Ele não tinha vontade nem consciência de matar alguém, logo não há dolo. Poderá, porém, responder a título de culpa, desde que haja previsão legal para tanto.
	Outros exemplos clássicos de erro de tipo: quando o agente toma coisa alheia como própria (ex: veículo do estacionamento); relaciona-se sexualmente com vítima menor de 14 anos, supondo-a maior; contrai casamento com pessoa já casada, desconhecendo o matrimônio anterior; apossa-se de coisa alheia, acreditando tratar-se de res nullius; atira em alguém imaginando ser um animal; deixa de agir por desconhecer sua qualidade de garantidor; tem relações sexuais com alguém supondo-se curado de doença venérea.
	ERRO DE TIPO NOS CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS	
	O agente desconhece sua condição de garantidor – ou tem dela errada compreensão. Ex: agente não presta socorro, podendo fazê-lo, ignorando que se trata de seu filho, que morre afogado.
	CONSEQÜÊNCIAS DO ERRO DE TIPO
	Ao afastar a vontade e consciência do agente, o erro de tipo exclui sempre o dolo. No entanto, há situações em que se permite a punição de sua conduta culposa, se houver previsão legal. Por isso, fala-se em erro de tipo invencível (escusável, inevitável) e erro de tipo vencível (inescusável, evitável).
	Erro de tipo invencível (inevitável, escusável): agente, nas circunstâncias em que se encontrava, não tinha como evitá-lo, mesmo que tomasse todas as cautelas necessárias. Afasta-se tanto o dolo quanto a culpa, tornando-se atípico o fato. Ex: atirar contra arbusto, pensando que há animal se mexendo, quando na verdade é um amigo que estava fazendo uma graça e tinha-lhe dito horas antes que iria voltar pra barraca porque estava com sono.
	Erro de tipo vencível (evitável, inescusável): ocorre nos casos em que o erro seja considerado inescusável, ou seja, naquelas situações em que, se o agente tivesse atuado com a diligência exigida, poderia ter evitado o resultado. Sendo evitável o erro, embora o agente não responda pelo resultado a título de dolo, pois que este sempre restará afastado pela ausência de vontade e consciência, poderá ser-lhe atribuído a título de culpa, se houver previsão legal para esta modalidade de conduta.
	ERRO DE TIPO ESSENCIAL E ERRO ACIDENTAL
	Erro de tipo essencial: recai sobre elementares, circunstâncias ou qualquer outro dado que se agregue à figura típica. Se inevitável, afasta dolo e culpa; se evitável, só afasta o dolo, podendo incidir culpa, se prevista em lei.
	Erro acidental: não visa afastar o dolo do agente. Este age com a consciência da antijuridicidade do seu comportamento, enganando-se apenas quanto a um elemento não essencial do fato ou errando no movimento de execução.
	Hipóteses de erro acidental
	I – Erro sobre o objeto
	Quando o agente, tendo vontade e consciência de praticar uma conduta que sabe ser penalmente ilícita, age, por exemplo, subtraindo uma pulseira que, para ele, supunha-se ouro, quando, na verdade, era mera bijuteria. Havia dolo para a subtração, só tendo ocorrido um equívoco quanto ao valor atribuído ao bem, o que nada influencia na definição jurídica do fato.
	Outro exemplo clássico: X, almejando subtrair uma saca de açúcar, por engano, subtrai outra contendo farinha. O erro recai sobre o objeto a que se destina a conduta, sendo, assim, irrelevante.
	
II – Erro sobre a pessoa	
	Está previsto no § 3º do art. 20 (Não isenta de pena). É acidental porque o agente não erra sobre qualquer elementar, circunstâncias ou outro dado que se agregue à figura típica. O seu erro cinge-se, especificamente, à identificação da vítima, que em nada modifica a classificação do crime cometido.
	Ex: agente, volitiva e conscientemente, queria causar a morte de seu pai, mas, por estar em local ermo, atingiu pessoa estranha que confundiu com o genitor. Há dolo de matar do mesmo jeito.
	No erro sobre a pessoa, o dolo do tipo existe. Nesta situação, como determina o dispositivo acima citado, não se consideram as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. No exemplo, o agente responderá como se tivesse ocasionado a morte de seu pai (incidindo aqui a agravante correspondente).
	III – Erro na execução (aberratio ictus) e Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis)
	São também espécies de erro acidental.
	
	A aberratio ictus (erro na execução) ocorre quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, em vez de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa. Aplica-se a regra do § 3º do art. 20, aplicável ao erro sobre a pessoa, respondendo como se tivesse atingido a vítima que pretendia ofender. Se atingir também a pessoa que o agente pretendia, aplicar-se-á a regra do concurso formal (art. 70). Na aberratio ictus, o erro ocorre de pessoa para pessoa.
	Ex: agente quer causar a morte de desafeto. Atira contra ele, mas, errando o alvo, fere ou mata outra pessoa que passava por aquele local. Neste caso, substitui-se a pessoa que fora atingida por aquela que deveria sê-lo. Se ambos são atingidos, aplica-se a regra do concurso formal.
	A aberratio criminis (resultado diverso do pretendido) ocorre quando, fora das hipóteses de erro na execução (aberratio ictus), sobrevier resultado diverso do pretendido. O agente responderá por culpa se o fato for previsto como crime culposo. Caso contrário, não será punido. Se ocorrer também o resultado pretendido, aplica-se a regra do concurso formal.
	Ao contrário da aberratio ictus, o erro deverá incidir de coisa para pessoa. Ex: X, visando destruir uma vitrine, arremessa uma pedra contra ela e, por erro, não acerta o alvo, mas atinge a lojista. Haverá lesão corporal culposa, sem responsabilidade por tentativa de dano.
	IV – Aberratio causae
	É a hipótese em que a aberração está na causa do resultado. Ex: agente, almejando matar a vítima por afogamento, a arremessa do alto de uma ponte, vindo esta, contudo, depois de chocar-se com o pilar central, a falecer por traumatismo craniano. Incluem-se também nas hipóteses de aberratio causae as situações de dolo geral. Ex: depois de estrangular a vítima, o autor, crendo que ela está morta, enforca-a para simular um suicídio. Todavia, fica comprovado que a vítima na verdade morreuem razão do enforcamento. Responde por um só homicídio doloso consumado.
	TEMPO DO CRIME
	Há três teorias principais:
	I – Teoria da atividade (adotada pelo CP)
	O tempo do crime será o da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado (art. 4º do CP). O que importa é o momento da conduta, comissiva ou omissiva, mesmo que o resultado dela se distancie no tempo.
	II – Teoria do resultado
	Determina que o tempo do crime será o da ocorrência do resultado.
	III – Teoria da ubiqüidade
	Concede igual relevo ao momento da atividade e ao momento do resultado, asseverando que o momento do crime será um ou outro.
	
	A escolha da teoria da atividade determina, por exemplo, a aplicação ou não da lei penal em determinadas situações, ou a opção da lei mais benigna dentre aquelas que se sucederam no tempo. Ex: pessoa atira em alguém, causando-lhe a morte três meses depois. Quando da ação, contava 17 anos e 11 meses de idade. No caso em tela, ficará afastada a aplicação da lei penal, pois, ao tempo do crime, o agente era inimputável.
	EXTRA-ATIVIDADE DA LEI PENAL – ESPÉCIES
	A extra-atividade é um gênero que comporta a ultra-atividade e a retroatividade.
	Ultra-atividade: manifesta-se quando a lei, mesmo depois de revogada, continua a regular os fatos ocorridos durante sua vigência.
	Retroatividade: consiste na possibilidade conferida à lei penal de retroagir no tempo, a fim de regular os fatos ocorridos anteriormente à sua entrada em vigor.
	NOVATIO LEGIS IN MELLIUS E NOVATIO LEGIS IN PEJUS
	Preceitua o art. 2º do CP: A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
	A lei nova poderá conter dispositivos que prejudiquem o agente ou que o beneficiem. Se o prejudicar, será novatio legis in pejus. Se o beneficiar, será novatio legis in mellius.
	A lei nova pode prejudicar o agente ampliando o rol das circunstâncias agravantes, criando causas de aumento de pena, aumentando o prazo de prescrição ou mesmo trazendo novas causas interruptivas ou suspensivas, etc. Pode, ao contrário, beneficiar quando trouxer causas de diminuição de pena, reduzir os prazos prescricionais, condicionar as ações penais à representação do ofendido, etc.
	A novatio legis in mellius será sempre retroativa, sendo aplicada aos fatos ocorridos anteriormente à sua vigência, ainda que tenham sido decididos por sentença condenatória já transitada em julgado. Só não terá aplicação a lei nova se a pena imposta já houver sido cumprida.
	Aplicação da novatio legis in pejus nos crimes permanentes e continuados
	Para ambas as hipóteses, a resposta está na Súmula nº 711 do STF, que assim determina: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
	
	Logo, aplica-se a lei B nas duas situações, desde que não tenha cessado a permanência ou a continuidade das infrações penais até o início da vigência da lex gravior.
	ABOLITIO CRIMINIS
	Ocorre quando o legislador resolve não mais continuar a incriminar determinada conduta. Está prevista no art. 2º do CP (Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixar de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória).
	A descriminalização da conduta significa que o Estado abre mão de seu ius puniendi, acarretando a declaração da extinção de punibilidade (art. 107, III, do CP) de todos os fatos ocorridos anteriormente à edição da lei nova.
	Se houver inquérito em andamento, a autoridade policial deverá remetê-lo ao MP, que poderá promover o seu arquivamento. Se já houver denúncia, o juiz pode reconhecer a abolitio de ofício (art. 61 do CPP). Se o processo estiver em fase recursal, o Tribunal reconhecerá. Se já houver execução, o juiz da execução o fará (art. 66, I, da LEP).
	Efeitos da abolitio criminis: Além de conduzir à extinção da punibilidade, ela faz cessar todos os efeitos penais da sentença condenatória, permanecendo, contudo, os seus efeitos civis.
	Deverá ser providenciada a retirada do nome do agente do rol dos culpados, não podendo a sua condenação ser considerada para fins de reincidência ou mesmo antecedentes penais. Os efeitos civis, porém, não serão atingidos.
	Abolitio criminis temporalis
	Também chamada de suspensão de tipicidade, consiste na situação na qual a aplicação de um determinado tipo penal se encontra temporariamente suspensa, não permitindo, assim, a punição do agente que pratica o comportamento típico durante o prazo da suspensão.
	Ex: art. 30 da Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) – determina que os possuidores e proprietários de armas de fogo não registradas deveriam, sob pena de responsabilidade penal, no prazo de 180 dias após a publicação da lei, solicitar o seu registro apresentando nota fiscal de compra ou a comprovação da origem lícita da posse.
	O STJ entendeu que havia abolitio criminis temporalis para os fatos praticados no período em questão, uma vez que “até que findasse tal prazo, que se iniciou em 23/12/2003 e que teve seu termo final prorrogado até 23/10/2005 (...), ninguém poderia ser processado por possuir arma de fogo” (REsp 804830/PA).
	(Esse entendimento foi corroborado pela 1ª Turma do STF, conforme consta do Informativo 494). Tal abolitio temporalis não significa, contudo, abolitio permanente, nem poderia ser aplicado a crimes cometidos antes do período que a norma assinalou.
	
	SUCESSÃO DE LEIS NO TEMPO
	Corresponde ao surgimento de várias leis penais entre a data do fato praticado e o término do cumprimento da pena. Nessa sucessão de leis, deve-se observar as regras da ultra-atividade ou retroatividade benéficas.
	Lei intermediária
	Ocorre quando a lei a ser aplicada não é nem aquela vigente à época dos fatos, tampouco aquela em vigor quando da prolação da sentença.
	A regra da ultratividade e da retroatividade, ressalte-se, são absolutas no sentido de, sempre, ser aplicada ao agente a lei que mais lhe favoreça, não importando, na verdade, o momento de sua vigência, isto é, se na data do fato, na data da sentença ou mesmo entre esses dois marcos.
	Sucessão de leis temporárias ou excepcionais
	Estão previstas no art. 3º do CP (A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência).
	Lei temporária: quando a lei traz expressamente o dia do início e do término de sua vigência.
	Lei excepcional: editada em virtude de situações também excepcionais (anormais), cuja vigência é limitada pela própria duração da situação que levou à sua edição. Ex: lei excepcional durante o estado de guerra.
	Encerrado o período de vigência dessas leis, consideram-se revogadas.
	Discute-se a constitucionalidade dessas espécies de lei penal em face dos princípios da retroatividade e da ultra-atividade da lei benéfica.
	
	Entre os que defendem a constitucionalidade da lei excepcional e da lei temporária, prepondera o argumento de que as situações tipificadas por elas serão sempre diferentes, já que existe o “tempo” como elemento de punibilidade na estrutura da norma penal. A eficácia temporal delas vem ínsita no preceito e decorrido o prazo de vigência desaparece o império da lei (Frederico Marques).
	Em sentido contrário (Zaffaroni), posição compartilhada pelo autor, está o entendimento de que se deve aplicar o princípio da retroatividade da lex mitior, garantia constitucional, não tendo sido recepcionada pela CF tal artigo do CP, uma vez que inexiste, no texto constitucional, tal exceção àquela garantia.
	COMBINAÇÃO DE LEIS
	Ocorre quando, a fim de atender aos princípios da ultra-atividade e da retroatividade in mellius, ao julgador é conferida a possibilidade de extrair de dois diplomas os dispositivos que atendam aos interesses do agente, desprezando aqueles outros que o prejudiquem. É chamada de lex tertia - combinação de leis, a qual consiste na aplicaçãode partes benéficas de duas ou mais leis visando favorecer ao autor do fato. 
	Critica-se tal combinação porque implicaria o intérprete atuar como legislador, criando uma terceira norma, o que lhe é vedado. Por outro lado, autores como Francisco de Assis Toledo a defendem.
	Segundo Rogério Greco, a combinação de leis atende aos princípios constitucionais da ultra-atividade e da retroatividade benéficas. Pode ser aplicada, por exemplo, com relação às Leis nº 6.368/76 e nº 11.343/2006, quanto ao tráfico de entorpecentes. O art. 12 da lei anterior estabelecia uma pena mínima de 3 anos, ao passo que a nova lei tem pena mínima de 5 anos. 
	
	No entanto, a lei nova estabelece a possibilidade de redução de pena de 1/6 a 2/3 caso o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. Propõe-se, assim, a combinação. É a posição de Abel.
	COMPETÊNCIA PARA APLICAÇÃO DA LEX MITIOR
	Fase investigatória: MP – promove arquivamento ou oferece denúncia com base no novo texto.
	Processo em andamento: juiz ou Tribunal.
	Após o trânsito em julgado: juiz das execuções
	Com relação à execução, impende ressaltar que o juiz das execuções aplicará a lei benéfica apenas se tal aplicação importar cálculo matemático. Caso contrário, não. 
	
	APURAÇÃO DA MAIOR BENIGNIDADE DA LEI
	Pode ocorrer de o juiz, diante de uma sucessão de leis, não consiga identificar qual delas seria mais benéfica ao réu. Neste caso, deverá ouvir o réu, de modo a que ele opte pela lei que seria mais favorável, por meio de seu advogado.
	IRRETROATIVIDADE DA LEX GRAVIOR E MEDIDAS DE SEGURANÇA
	Rogério Greco observa que a regra da proibição da retroatividade da lei penal in pejus não é absoluta. Conforme ensina Francisco de Assis Toledo, a aplicação retroativa da lei penal poderá ocorrer no campo das medidas de segurança. A retroatividade, neste caso, seria possível porque as medidas de segurança possuem caráter curativo, com finalidade diferente da pena.
	Assim, a aplicação imediata seria correta, quando presente o estado de periculosidade, ainda que possam apresentar-se mais gravosas, pois os remédios reputados mais eficientes não podem deixar de ser ministrados aos pacientes deles carecedores só pelo fato de serem mais amargos ou mais dolorosos. 
	APLICAÇÃO DA LEX MITIOR DURANTE O PERÍODO DE VACATIO LEGIS
	Como já vimos, somente depois da entrada em vigor da lei é que lhe devemos obediência. Contudo, isso não se aplica às leis que contenham dispositivos benéficos ao agente (novatio legis in mellius). Nesta hipótese, é necessário que se aguarde o início de sua vigência ou basta a publicação?
	Embora não seja unânime, a maior parte da doutrina entende que é possível a aplicação da lex mitior mesmo durante o vacatio legis. 
	VACATIO LEGIS INDIRETA 
	Corresponde à hipótese em que a lei, além do seu normal período de vacatio legis, prevê, em seu próprio corpo, um outro prazo para que determinados dispositivos possam ter aplicação. 
	Ex: arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento – além de estabelecerem uma hipótese de abolitio criminis temporalis, estabelecem uma vacatio indireta, quando prevê que “os possuidores e proprietários de armas de fogo não registradas deverão, sob pena de responsabilidade penal, no prazo de 180 dias após a publicação desta lei, solicitar o seu registro apresentando nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova em direito admitidos”.
	A RETROATIVIDADE DA JURISPRUDÊNCIA
	A lei penal não deve retroagir, salvo para beneficiar o réu. Contudo, se em vez de uma lei penal estivermos diante de interpretação dos Tribunais Superiores? 
	Deve-se analisar tal questão sob dois enfoques. 
	Em caso de interpretação que prejudique os interesses do réu, ou seja, fazia-se uma interpretação anterior que, posteriormente, foi modificada, agora lhe prejudicando, a interpretação não poderá retroagir. 
	Em caso de interpretação que favoreça os interesses do réu, ela deverá obrigatoriamente retroagir, a fim de alcançar os fatos ocorridos no passado que foram julgados sob a ótica do entendimento anterior. Se não fosse assim, ofenderia o princípio da isonomia, pois duas pessoas que realizaram idênticas ações reguladas pela mesma lei terão sido julgadas de modo que uma resultou condenada e a outra absolvida, só porque uma delas foi julgada antes.
	No caso concreto, pode-se citar a Súmula 174 do STJ, cujo entendimento anterior era de que a arma de brinquedo poderia ser considerada causa especial de aumento de pena do delito de roubo. Posteriormente o Tribunal mudou seu posicionamento. Diante disso, deverá o agente que sofreu condenação com base naquela súmula ingressar com a revisão criminal. (outro exemplo é o da progressão para crimes hediondos).
	LUGAR DO CRIME
	Antes da análise deste princípio da territorialidade, é preciso identificar o lugar do crime. Sobre isso há três teorias:
	I – Teoria da atividade
	O lugar do crime é o da ação ou da omissão, ainda que outro seja o da ocorrência do resultado.
	II – Teoria do resultado
	O lugar do crime é tão-somente aquele em que ocorre o resultado.
	III – Teoria mista ou da ubiquidade (Brasil adota)
	O lugar do crime será o da ação ou omissão, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado (art. 6º do CP).
	A teoria da ubiqüidade resolve muitos problemas de Direito Penal Internacional, já apontados pela doutrina. Ex: carta-bomba enviada da Argentina para o Brasil. Chega ao nosso país e causa uma explosão ao chegar a seu destinatário. Se adotada no Brasil a teoria da atividade e na Argentina a teoria do resultado, o agente, autor do homicídio, ficaria impune. 
	TERRITORIALIDADE
	O art. 5º, caput, do CP determina a aplicação da lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. É a regra da territorialidade.
	No entanto, tal regra não é absoluta, tendo o Brasil adotado a territorialidade temperada, pois o Estado brasileiro, soberano, pode abrir mão, em determinadas situações, da aplicação de sua legislação, em virtude de convenções, tratados e regras de direito internacional.
	Extensão do território nacional (art. 5º , §1º): embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
	O § 2º do art. 5º determinou também a aplicação da lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se as aeronaves em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente.
	As embarcações/aeronaves estrangeiras de natureza pública ou a serviço do governo estrangeiro são consideradas como extensão do território correspondente à sua bandeira, não se aplicando a lei brasileira.
	PRINCÍPIO DA EXTRATERRITORIALIDADE
	Preocupa-se com a aplicação da lei brasileira às infrações penais cometidas além de nossas fronteiras, em países estrangeiros. Pode haver extraterritorialidade incondicionada e extraterritorialidade condicionada.
	Extraterritorialidade incondicionada (art. 7º, I, do CP): possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a fatos ocorridos no estrangeiro, sem que, para tanto, seja necessário o concurso de qualquer condição.
	Hipóteses:
	Art. 7º – Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
	I – os crimes:
	a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República (princípio da defesa, real ou de proteção);
	b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do DF, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
	c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
	d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no brasil.
	Para qualquer hipótese do incisoI do art. 7º, o agente será punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. Em caso de condenação, aplica-se a regra do art. 8º, que dispõe que “a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idêntica”.
	No crime de genocídio, deve ser ressalvada a competência do TPI, cuja jurisdição subsidiária está prevista na EC 45/2004.
	Extraterritorialidade condicionada: refere-se à aplicação da lei brasileira para crimes cometidos no estrangeiro, desde que verificada determinadas condições.
	II – os crimes:
	a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir (princípio da universalidade, da justiça universal ou cosmopolita);
	b) praticados por brasileiro (princípio da personalidade ativa);
	c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados (princípio da representação).
	As condições são:
	a) entrar o agente no território nacional;
	b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
	c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
	d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
	e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
	O § 3º do art. 7º do CP dispõe, ainda, que a lei brasileira se aplica também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se reunidas as condições do § 2º do mesmo artigo, quais sejam:
	a) Não foi pedida ou negada a extradição;
	b) houve requisição do Ministro da Justiça.
	O princípio aplicável a esta situação é o princípio da defesa ou da personalidade passiva.
	Para guardar: genocídio é extraterritorialidade incondicionada e crime praticado por estrangeiro contra brasileiro exige condições especiais.
	CONCURSO DE CRIMES
	Corresponde à pratica de uma pluralidade de delitos. O CP regulou a matéria por meio dos arts. 69, 70 e 71, que preveem, respectivamente, o concurso material (real), o concurso formal (ideal) e o crime continuado. O entendimento dominante é o de que, embora este assunto esteja previsto no Capítulo III (aplicação das penas) do Título V (das penas) do CP, não se trata de tema relegado à teoria da pena.
	CONCURSO MATERIAL OU REAL DE CRIMES	
	O concurso material cuida da hipótese em que o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, poderá ser responsabilizado, em um mesmo processo, em virtude da prática de dois ou mais crimes.
	Ação (CONCEITO FINALISTA): pode ser composta por um ou vários atos. Isso quer dizer que os atos que compõem uma ação não são ações em si mesmos, mas sim partes de um todo. Ex: agente, com dolo de matar, efetua vários disparos para matar seu desafeto. A ação consiste na conduta finalisticamente dirigida a causar a morte da vítima, sendo que cada disparo é um ato que forma a conduta do agente. Haveria vários atos de atirar, mas a única ação de matar alguém.
	
	Ademais, o autor adotará, para o estudo do concurso de crimes, o conceito analítico tripartido de crime (fato típico, ilícito e culpável), e não a conceituação bipartida (Damásio, Mirabete, Delmanto e Dotti) – não considerando a culpabilidade como mero pressuposto da aplicação da pena.
	Requisitos e consequências do concurso material ou real	
	Requisitos:
	a) mais de uma ação ou omissão;
	b) a prática de dois ou mais crimes.
	Consequência: - Aplicação cumulativa das penas privativas de liberdade em que haja incorrido.	
	Se os crimes tiverem sido cometidos em épocas diferentes, investigados por processos diferentes, com várias condenações, não há, na opinião de Rogério Greco, concurso material, mas sim soma ou unificação das penas. O concurso material exigiria, assim, relação de contexto, conexão ou continência entre os crimes.
	Contudo, a posição majoritária entende que se caracteriza o concurso material ainda quando alguns dos delitos venham a ser cometidos e julgados depois de os restantes o terem sido, porque não há necessidade de conexão entre eles, podendo os diversos delitos ser objeto de processos diferentes.
	Concurso material homogêneo e heterogêneo	
	Concurso material homogêneo: ocorre quando o agente comete dois crimes idênticos, não importando se a modalidade praticada é simples, privilegiada ou qualificada.
	Concurso material heterogêneo: ocorre quando o agente vier a praticar duas ou mais infrações penais diversas.
	Concurso material e penas restritivas de direito	
	Art. 69, §1º Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44.
	§2º Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais.
	Ou seja, é perfeitamente possível a ocorrência de concurso material de infrações com a aplicação cumulativa de penas privativas de liberdade que comportem substituição por penas restritivas de direito, em regime também cumulativo. Se, no entanto, em relação a um dos crimes, a pena privativa de liberdade não houver sido suspensa, a substituição das demais se tornará inviável, nos termos do § 1º do art. 69.
	Por outro lado, no caso de aplicação cumulativa das restritivas, o cumprimento poderá ser simultâneo (suspensão de habilitação para dirigir veículos e prestação de serviços à comunidade, por fatos distintos) ou sucessivo (duas penas de limitação de fim de semana).
	CONCURSO FORMAL OU IDEAL DE CRIMES	
	Corresponde à hipótese em que o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicando-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. 
	As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior (concurso formal impróprio).
	Esta regra, fundada em razões de política criminal, foi criada em benefício dos agentes que, com uma única conduta, viessem a produzir dois ou mais resultados também previstos como crime.
	Há duas teorias sobre o concurso formal: teoria da unidade de delito e tese da pluralidade.
	Teoria da unidade de delito: afirma que, não obstante a lesão de várias leis penais, existe um só delito. A expressão concurso ideal já denota a inexistência de uma verdadeira pluralidade de delitos, havendo, na verdade, um único delito.
	Tese da pluralidade: sustenta que a lesão de vários tipos penas significa a existência de vários delitos. O fato de que há somente uma ação não quer dizer nada.
	Requisitos e consequências do concurso formal ou ideal	
	Requisitos:
	a) uma só ação ou omissão;
	b) prática de dois ou mais crimes.
	Consequências:
	a) aplicação da mais grave das penas, aumentada de um sexto até metade;
	b) aplicação de somente uma das penas, se iguais, aumentada de um sexto até metade;
	c) aplicação cumulativa das penas, se a ação ou omissão é dolosa, e os crimes resultam de desígnios autônomos.
	O concurso formal pode decorrer tanto de conduta dolosa quanto de conduta culposa. 
	Concurso formal homogêneo e heterogêneo
	Concurso formal homogêneo: ocorre quando as infrações praticadas (tipos penais) são idênticas. Com um mesmo fato, é realizado mais de uma vez o mesmo tipo penal. Ex: um mesmo disparo gera a morte de duas pessoas.
	Concurso formal heterogêneo: ocorre quando as infrações praticadas (tipos penais) são diversas. Com um só fato, satisfazem-se as exigências de distintos tipos penais. Ex: querendo matar, agente mata a vítima e fere pessoa que passava pela rua.
	Concurso formal próprio (perfeito) e impróprio (imperfeito)	
	A distinção varia de acordo com a existência do elemento subjetivo do agente ao iniciar a sua conduta.
	Concurso formal próprio(perfeito): corresponde à situação em que a conduta do agente for culposa na sua origem, sendo todos os resultados atribuídos ao agente a esse título, ou na hipótese em que a conduta era dolosa, mas o resultado aberrante lhe é imputado culposamente. Ex: Alguém, imprudentemente, atropela duas pessoas (culpa). A, almejando lesionar B, atira uma garrafa em sua direção, acertando-o, mas também atinge C (dolo + culpa). (Aqui há culpa-culpa ou dolo-culpa).
	Para este concurso, aplica-se o percentual de aumento de um sexto até a metade (exasperação).
	Concurso formal impróprio (imperfeito): diz respeito à possibilidade de o agente atuar com desígnios autônomos, querendo, dolosamente, a produção de todos os resultados conseguidos a partir daquela ação única. Desígnio autônomo quer dizer que a conduta, embora única, é dirigida finalística e dolosamente à produção dos resultados. Ex: enfileirar os judeus para matar todos com uma bala só (2ª Guerra). (Aqui há dolo-dolo).
	Para este concurso, aplica-se a regra do cúmulo material, isto é, as penas não serão exasperadas, mas cumuladas, da mesma forma que ocorre no concurso material.
	Concurso material benéfico	
	A regra da exasperação no concurso formal foi criada para beneficiar o agente. Em virtude desse raciocínio, previu o parágrafo único do art. 70 que a pena não poderá exceder à que seria cabível em caso de concurso material.
	Se a exasperação lhe for menos benéfica, aplica-se a pena com base no concurso material. A adoção de tal mecanismo nesta circunstância corresponde ao chamado concurso material benéfico.
	Dosagem da pena	
	No concurso formal próprio aplica-se a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, devendo o juiz, em qualquer caso, aplicar o percentual de aumento de um sexto até a metade. A variação da aplicação do percentual de aumento dependerá do número de infrações penais cometidas pelo agente, consideradas pelo concurso formal de crimes.
	Assim, quanto maior for o número de infrações, maior será o percentual de aumento. Ao contrário, quanto menor for o número de infrações penais consideradas, menor será o percentual de aumento de pena.
	CRIME CONTINUADO	
	Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
	Parágrafo único. Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.
	Natureza jurídica do crime continuado	
	Há três teorias principais sobre a natureza do crime continuado: teoria da unidade real, teoria da ficção jurídica e teoria mista.
	Teoria da unidade real: as várias condutas que acarretam o crime continuado formam um crime único, composto de várias ações.
	Teoria da ficção jurídica: as várias ações levadas a efeito pelo agente, que já consistiam em infrações penais, são reunidas e consideradas fictamente como um delito único. Foi adotada por nossa legislação penal, a qual entende que, uma vez concluída pela continuidade delitiva, deverá a pena do agente sofrer exasperação.
	Teoria mista: reconhece no crime continuado um terceiro crime, fruto do próprio concurso.
	Requisitos e consequências do crime continuado	
	Requisitos:
	a) mais de uma ação ou omissão;
	b) prática de dois ou mais crimes, da mesma espécie;	
	c) condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes;
	d) os crimes subsequentes devem ser havidos como continuação do primeiro.
	Consequências:
	a) aplicação da pena de um só dos crimes, se idênticas, aumentada de um sexto a dois terços;
	b) aplicação da mais grave das penas, se diversas, aumentada de um sexto a dois terços;
	c) nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, aplicação da pena de um só dos crimes, se idênticas, aumentada até o triplo;
	d) nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, aplicação da mais grave das penas, se diversas, aumentada até o triplo.
	Crimes da mesma espécie	
	Há várias posições para definir o que seriam “crimes da mesma espécie”. 
	I – aqueles que possuem mesmo bem juridicamente protegido (Fragoso, Rogério Greco). Ou seja, essa definição não inclui apenas aqueles previstos no mesmo artigo de lei, mas também aqueles crimes que ofendem o mesmo bem jurídico e que apresentam, pelos fatos que os constituem ou pelos motivos determinantes, caracteres fundamentais comuns. Ex: furto e roubo, estupro e atentado violento ao pudor – duplas da mesma espécie.
	II - são os que possuem a mesma tipificação penal, não importando se simples, privilegiados ou qualificados, se tentados ou consumados (Aníbal Bruno). Para esta posição, não haveria continuidade delitiva entre estupro e roubo.
	Embora se possa encontrar decisão em contrário, a posição majoritária dos Tribunais Superiores é no sentido de considerar como crimes da mesma espécie aqueles que tiverem a mesma configuração típica (simples, privilegiada ou qualificada).
	Condições de tempo, lugar, maneira de execução ou outras semelhantes	
	Com relação às condições de tempo, há divergências, tendo em vista que não existe um critério rígido para a sua aferição. Afinal, é difícil de mensurá-lo previamente.
	Segundo Rogério Greco, deve haver uma relação de contexto entre os fatos, para que o crime continuado não se confunda com a reiteração criminosa. Apesar da impossibilidade de ser delimitado objetivamente um tempo máximo para a configuração do crime continuado, o STF já proferiu decisões que estabelecem o prazo máximo de 30 dias.
	Há também controvérsia quanto à distância entre os vários lugares nos quais os delitos foram praticados. Discute-se sobre a possibilidade de se verificar o crime continuado somente dentro de um mesmo bairro, de uma mesma cidade, comarca ou até em Estados diversos. O STF já entendeu que é possível o crime continuado em cidades vizinhas (região metropolitana, por exemplo).
	A maneira de execução dos delitos – modus operandi do agente ou do grupo – também é um fator importante para a verificação do crime continuado. Um estelionatário que pratica um mesmo golpe, como o do bilhete premiado, ou aquele que comumente leva a efeitos os delitos de furto valendo-se de sua destreza utilizam o mesmo meio de execução. 
	O critério para aferir a maneira de execução, contudo, não é tão simples. O agente, embora possa ter um padrão de comportamento, nem sempre o repetirá, o que não poderá impedir o reconhecimento da continuidade delitiva, desde que, frisamos mais uma vez, exista uma relação de contexto, de unicidade entre as diversas infrações penais.
	O CP permite, ainda, o emprego da interpretação analógica, pois ao falar “pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução” acrescenta a expressão “e outras semelhantes”. Isso quer dizer que as condições objetivas indicadas pelo artigo devem servir de parâmetro à interpretação analógica por ele permitida, existindo julgados que têm entendido que o aproveitamento das mesmas oportunidades e das mesmas relações pode ser incluído no conceito de condições semelhantes.
	Os crimes subsequentes devem ser havidos como continuação do primeiro	
	O art. 71 exige que os crimes subseqüentes devem ser havidos como continuação do primeiro, ou seja, as infrações penais posteriores devem ser entendidas como continuação da anterior.
	Tal definição deriva da discussão entre três teorias sobre crime continuado: teoria objetiva, teoria subjetiva e teoria objetivo-subjetiva.Teoria objetiva: para o reconhecimento do crime continuado, basta a presença de requisitos objetivos (condições te tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes). Não há, para essa teoria, necessidade de se aferir a unidade de desígnio (relação de contexto).
	Teoria subjetiva: a unidade de desígnio (relação de contexto) é o que importa para a caracterização do crime continuado, independentemente dos requisitos objetivos.
	Teoria objetivo-subjetiva: devem ser exigidas ambas as condições (objetivas e subjetivas). Rogério Greco se filia a esta teoria, pois seria a mais coerente com o sistema penal, que não quer que as penas sejam excessivamente altas, quando desnecessárias, mas também não tolera a reiteração criminosa, de modo que o criminoso de ocasião não pode ser confundido com o criminoso contumaz. Há julgados do STJ que corroboram essa posição.
	Crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa	
	O parágrafo único do art. 71 permite a ficção jurídica do crime continuado nas infrações penais praticadas contra vítimas diferentes, cometidas com violência ou grave ameaça à pessoa. Ex: agente, por vingança, resolve exterminar todos os homens pertencentes a uma família rival à sua.
	Tal previsão derrubou a Súmula 605 do STF, que não admitia a continuidade delitiva nos crimes contra a vida. Hoje isso é plenamente possível.
	Crime continuado simples e crime continuado qualificado	
	Crime continuado simples: é o crime continuado tradicional, previsto no caput art. 71.
	Crime continuado qualificado (específico): é o previsto no parágrafo único do mesmo artigo, que permite aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo.
	O parágrafo único do art. 71 permite ainda a aplicação do chamado concurso material benéfico, caso o aumento da pena até o triplo seja maior que a soma das penas, e determina sejam observadas as regras do art. 75, que cuida do limite das penas.
	Necessário observar, por oportuno, que a referência ao art. 75 não impede a aplicação de pena superior a 30 anos, pois este dispositivo só se refere ao tempo de cumprimento da pena, podendo, porém, o agente ser condenado a uma pena superior àquela que deverá efetivamente cumprir.
	O crime continuado qualificado (específico) prevê, segundo Cezar Bittencourt, a necessidade de 3 requisitos, que devem ocorrer simultaneamente:
	a – contra vítimas diferentes: se o crime for praticado contra a mesma vítima, haverá também continuidade delitiva, mas não se caracterizará a exceção prevista no parágrafo único. A sanção será a do caput;
	b – com violência ou grave ameaça à pessoa: mesmo que o crime seja contra vítimas diferentes, se não houver violência – real ou ficta – contra a pessoa, não haverá a continuidade específica, mesmo que haja violência contra a coisa;
	c – somente em crimes dolosos – se a ação criminosa for praticada contra vítimas diferentes, com violência à pessoa, mas não for produto de uma conduta dolosa, não estará caracterizada a exceção.
	Consequências do crime continuado	
	Para o crime continuado simples, haverá a aplicação da pena de um só dos crimes, se idênticas, ou do mais grave, se diferentes, aumentada, em qualquer caso, de 1/6 a 2/3.
	Para o crime continuado qualificado (triplo), o juiz, após considerar a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, poderá aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou do mais grave, se diversas, até o triplo.
	E qual seria o aumento mínimo? O CP não prevê, mas recomenda-se a utilização do mínimo de 1/6, previsto no caput do art. 71, uma vez que não seria razoável que o juiz procedesse a aumento inferior ao determinado na hipótese de crime continuado simples que, em tese, se configura em situação menos grave do que a do parágrafo único.
	Concurso material benéfico	
	O mesmo raciocínio do concurso formal deve ser aplicado aqui. O crime continuado é uma ficção estabelecida por razões de política criminal. Se o juiz verificar que a aplicação deste instituto será mais gravoso do que se houvesse o concurso material de crimes, deverá desprezar as regras daquele e proceder ao cúmulo material das penas (concurso material benéfico).
	Dosagem da pena no crime continuado	
	Da mesma forma que no concurso formal, no crime continuado – simples ou qualificado – a exasperação da pena dependerá do número de infrações praticadas.
	Crime continuado e novatio legis in pejus
	A lei posterior, mesmo que mais gravosa, será aplicada a toda a cadeia de infrações penais, posição compartilhada pelo autor. O argumento utilizado está relacionado ao fato de que o agente, mesmo conhecedor da nova lei penal, insistiu, ainda assim, em cometer novos delitos, devendo ser responsabilizado pelo todo com base na lei nova.
	APLICAÇÃO DA PENA NO CONCURSO DE CRIMES	
	Na sentença que reconhecer qualquer um dos concursos (material, formal ou crime continuado), o juiz deverá, primeiramente, aplicar, isoladamente, a pena correspondente a cada infração penal praticada. Após, segue-se a aplicação das regras correspondentes aos concursos.
	Isso deve ocorrer porque o CP determina, no art. 119, que, no caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um isoladamente, ou seja, o juiz não poderá levar a efeito o cálculo da prescrição sobre o total da pena aplicada no caso do concurso. Ele deverá conhecer a pena de cada um de modo a aferir se foi verificada a prescrição em relação a eles.
	MULTA NO CONCURSO DE CRIMES	
	O art. 72 prevê que no concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente.
	Ou seja, nos concursos as penas de multa deverão ser aplicadas isoladamente para cada infração penal. Situação: alguém pratica quatro crimes em concurso formal. Em vez de aplicar a exasperação, o juiz deverá encontrar a pena de multa isoladamente.
	No concurso material e no concurso formal imperfeito isso é tranqüilo. A maior discussão está no concurso formal perfeito e na continuidade delitiva. Para esta última, a jurisprudência tem feito a exasperação.
	CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO.
DUPLA OBJETIVIDADE JURÍDICA.
	 1º Proteção dos direitos individuais e coletivos dos trabalhadores. 
	 2º Proteção da própria organização do trabalho. 
COMPETÊNCIA:
	STF / STJ: 
 Se o crime atinge direitos coletivos dos trabalhadores, atinge a categoria profissional dos trabalhadores em geral  JUSTIÇA FEDERAL.
 Crime que atinge direito individual do trabalhador  JUSTIÇA ESTADUAL.
	ART. 197 - CONSTRANGER ALGUÉM, MEDIANTE VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA:
	I - A EXERCER OU NÃO EXERCER ARTE, OFÍCIO, PROFISSÃO OU INDÚSTRIA, OU A TRABALHAR OU NÃO TRABALHAR DURANTE CERTO PERÍODO OU EM DETERMINADOS DIAS:
	II - A ABRIR OU FECHAR O SEU ESTABELECIMENTO DE TRABALHO, OU A PARTICIPAR DE PAREDE OU PARALISAÇÃO DE ATIVIDADE ECONÔMICA:
	PENA - DETENÇÃO, DE TRÊS MESES A UM ANO, E MULTA, ALÉM DA PENA CORRESPONDENTE À VIOLÊNCIA.
	ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE CONTRATO DE TRABALHO E BOICOTAGEM VIOLENTA
	ART. 198 - CONSTRANGER ALGUÉM, MEDIANTE VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA, A CELEBRAR CONTRATO DE TRABALHO, OU A NÃO FORNECER A OUTREM OU NÃO ADQUIRIR DE OUTREM MATÉRIA-PRIMA OU PRODUTO INDUSTRIAL OU AGRÍCOLA:
	PENA - DETENÇÃO, DE UM MÊS A UM ANO, E MULTA, ALÉM DA PENA CORRESPONDENTE À VIOLÊNCIA.
	ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO
	ART. 199 - CONSTRANGER ALGUÉM, MEDIANTE VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA, A PARTICIPAR OU DEIXAR DE PARTICIPAR DE DETERMINADO SINDICATO OU ASSOCIAÇÃO PROFISSIONAL:
	PENA - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
	
	PARALISAÇÃO DE TRABALHO, SEGUIDA DE VIOLÊNCIA OU PERTURBAÇÃO DA ORDEM
	ART. 200 - PARTICIPAR DE SUSPENSÃO OU ABANDONO COLETIVO DE TRABALHO, PRATICANDO VIOLÊNCIA CONTRA PESSOA OU CONTRA COISA:
	Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
	Parágrafo único - Para que se considere coletivo o abandono de trabalho éindispensável o concurso de, pelo menos, três empregados.
IMPORTANTE: Ocorre o crime independentemente da greve ser legal ou ilegal, já que o que se pune é a forma violenta. 
 CRIME PLURISUBJETIVO / CONCURSO NECESSÁRIO:
 Parágrafo único - Para que se considere coletivo o abandono de trabalho é indispensável o concurso de, pelo menos, três empregados.
	 3 sujeitos ativos no mínimo. 
	
A LEI DIZ EMPREGADOS, E OS EMPREGADORES COMO FICA A SITUAÇÃO?
 Embora a lei penal não exija o numero mínimo de empregadores, o verbo participar pressupõe uma pluralidade de empregadores. OBS: No caso do “lockout” podem ser sujeitos ativos empregados ou empregadores, não há necessidade que os sujeitos ativos sejam todos empregadores. 
	Paralisação de trabalho de interesse coletivo
ART. 201 - PARTICIPAR DE SUSPENSÃO OU ABANDONO COLETIVO DE TRABALHO, PROVOCANDO A INTERRUPÇÃO DE OBRA PÚBLICA OU SERVIÇO DE INTERESSE COLETIVO:
PENA - DETENÇÃO, DE SEIS MESES A DOIS ANOS, E MULTA.
	INVASÃO DE ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL, COMERCIAL OU AGRÍCOLA. SABOTAGEM
ART. 202 - INVADIR OU OCUPAR ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL, COMERCIAL OU AGRÍCOLA, COM O INTUITO DE IMPEDIR OU EMBARAÇAR O CURSO NORMAL DO TRABALHO, OU COM O MESMO FIM DANIFICAR O ESTABELECIMENTO OU AS COISAS NELE EXISTENTES OU DELAS DISPOR:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
FRUSTRAÇÃO DE DIREITO ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA
ART. 203 - FRUSTRAR, MEDIANTE FRAUDE OU VIOLÊNCIA, DIREITO ASSEGURADO PELA LEGISLAÇÃO DO TRABALHO:
PENA - DETENÇÃO DE UM ANO A DOIS ANOS, E MULTA, ALÉM DA PENA CORRESPONDENTE À VIOLÊNCIA.
COAÇÃO PARA COMPRA DE MERCADORIAS 
§ 1º NA MESMA PENA INCORRE QUEM: (Incluído pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)
I - OBRIGA OU COAGE ALGUÉM A USAR MERCADORIAS DE DETERMINADO ESTABELECIMENTO, PARA IMPOSSIBILITAR O DESLIGAMENTO DO SERVIÇO EM VIRTUDE DE DÍVIDA;
II - IMPEDE ALGUÉM DE SE DESLIGAR DE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA, MEDIANTE COAÇÃO OU POR MEIO DA RETENÇÃO DE SEUS DOCUMENTOS PESSOAIS OU CONTRATUAIS.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)
Frustração de lei sobre a nacionalização do trabalho
ART. 204 - FRUSTRAR, MEDIANTE FRAUDE OU VIOLÊNCIA, OBRIGAÇÃO LEGAL RELATIVA À NACIONALIZAÇÃO DO TRABALHO:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
CONCLUSÃO: tem doutrina entendendo que este artigo 204 não foi recepcionado pela CF/88
Segue jurisprudência sobre organização do trabalho:
“DIREITO PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL. REPERCUSSÃO GERAL. PREQUESTIONAMENTO. OFENSA DIRETA À CONSTITUIÇÃO. DECISÃO MONOCRÁTICA. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA FEDERAL. IMPROVIMENTO DO AGRAVO. 1. Embargos de declaração opostos contra decisão monocrática. Princípio da fungibilidade recursal com a conversão do recurso em agravo regimental. 2. Pressuposto de admissibilidade do recurso extraordinário consistente na repercussão geral somente passou a ser exigido a partir do dia 03 de maio de 2007. Apenas com a implementação das normas necessárias à execução da Lei n° 11.418/06, baseada na referida emenda regimental, houve a necessidade de demonstrar a repercussão geral de matéria constitucional para admissão do recurso extraordinário. 3. Ofensa direta à Constituição Federal, ao fazer expressa referência ao julgamento do RE n° 398.041 (rel. Min. Joaquim Barbosa, realizado na sessão de 30.11.2006) que reconheceu a competência da justiça federal para conhecer e julgar as causas relacionadas aos crimes de redução à condição análoga à de escravo (CF, art. 109, VI). 4. Prequestionamento decorrente da matéria haver constado da ementa do acórdão recorrido a referência à competência para julgamento dos crimes contra a organização do trabalho. 5. Embargos de declaração convertidos em agravo regimental, e como tal, improvido.
(RE-ED 507110, ELLEN GRACIE, STF)”
EMENTA: DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. ART. 149 DO CÓDIGO PENAL. REDUÇÃO Á CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO. TRABALHO ESCRAVO. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. DIREITOS FUNDAMENTAIS. CRIME CONTRA A COLETIVIDADE DOS TRABALHADORES. ART. 109, VI DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO. A Constituição de 1988 traz um robusto conjunto normativo que visa à proteção e efetivação dos direitos fundamentais do ser humano. A existência de trabalhadores a laborar sob escolta, alguns acorrentados, em situação de total violação da liberdade e da autodeterminação de cada um, configura crime contra a organização do trabalho. Quaisquer condutas que possam ser tidas como violadoras não somente do sistema de órgãos e instituições com atribuições para proteger os direitos e deveres dos trabalhadores, mas também dos próprios trabalhadores, atingindo-os em esferas que lhes são mais caras, em que a Constituição lhes confere proteção máxima, são enquadráveis na categoria dos crimes contra a organização do trabalho, se praticadas no contexto das relações de trabalho. Nesses casos, a prática do crime prevista no art. 149 do Código Penal (Redução à condição análoga a de escravo) se caracteriza como crime contra a organização do trabalho, de modo a atrair a competência da Justiça federal (art. 109, VI da Constituição) para processá-lo e julgá-lo. Recurso extraordinário conhecido e provido.
(RE 398041, JOAQUIM BARBOSA, STF)
Da mesma forma, o Superior Tribunal de Justiça julgou que a conduta de redução à condição análoga a de escravo não suprime somente o bem jurídico numa perspectiva individual. A conduta ilícita atinge o princípio da dignidade da pessoa humana, violando valores basilares ao homem, e ofende todo um sistema de organização do trabalho, bem como as instituições e órgãos que lhe asseguram, inexistindo, assim, viés de afetação particularizada 
(CC 201001400827, MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:01/02/2011.).
PENAL. HABEAS CORPUS. LAVRA CLANDESTINA (ART. 2º DA LEI 8.176/91). CRIME AMBIENTAL (ART. 55 DA LEI 9.605/98). TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL. ASSINATURA DE TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA NÃO DEMONSTRADA. MATERIALIDADE E INDÍCIOS DE AUTORIA. ORDEM DENEGADA. 1. A jurisprudência é pacífica no sentido de que o trancamento da ação penal somente é possível quando a situação de constrangimento ilegal ou a falta de indícios da autoria se revela evidente, sob pena de haver absolvição sumária por via imprópria, impedindo a persecução penal do Estado. Precedentes. 2. A assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta não implica extinção da punibilidade ou ausência de justa causa para a ação penal, em atenção à independência das esferas civil, penal e administrativa, bem como em obediência aos princípios da obrigatoriedade e indisponibilidade. 3. Existindo comprovação da materialidade e indícios razoáveis de autoria que serão apurados na competente ação penal, não há que se falar em seu trancamento, nem em ocorrência de constrangimento ilegal. 4. Ordem de habeas corpus denegada.
(HC , JUIZ FEDERAL EVALDO DE OLIVEIRA FERNANDES, filho (CONV.), TRF1 - TERCEIRA TURMA, e-DJF1 DATA:20/04/2012 PAGINA:303.)
PROCESSUAL PENAL - HABEAS CORPUS - TRABALHO EM CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO - FLAGRANTE DELITO - CASO EM QUE O ART. 5º, XI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL AUTORIZA A ENTRADA NO IMÓVEL, INDEPENDENTEMENTE DE MANDADO JUDICIAL - PROVA LÍCITA - ORDEM DENEGADA. I - A constatação, pela fiscalização do Ministério do Trabalho, da existência de trabalhadores, em condição análoga à de escravos, em flagrante delito, mediante entrada no imóvel, sem autorização do proprietário e independentemente de mandado judicial, constitui prova lícita, a teor do disposto no art. 5º, XI, da Constituição Federal. II - Indícios de autoria e materialidade, suficientes para o recebimento da denúncia, mas a exigirem dilação probatória, já que constatada a prática de fato típico, permanente, a caracterizar, pelo menos em princípio, o desempenho de trabalho em condição análoga

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