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Penal 4

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DIREITO PENAL – PONTO 04
Concurso de agentes: autoria e participação. Conduta delituosa. Resultado. Relação de causalidade. Imputação. Direitos humanos. Crimes de genocídio (Lei n. 2.889, de 1º de outubro de 1956). Crime contra o funcionamento do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Lei n. 4.319, de 16 de março de 1964). Crimes contra os índios (Lei n. 6.001, de 19 de dezembro de 1973). Crimes resultantes de preconceito de raça e de cor (Lei n. 7.716, de 5 de janeiro de 1989). Crimes contra portadores de deficiência física (Lei n. 7.853, de 24 de outubro de 1989) Crimes de tortura (Lei n. 9.455, de 7 de abril de 1977). Crimes contra a fé-pública (Código Penal).
Atualizado por MARCELO FREIRE LAGE em 27/08/2012 Concurso do TRF1
	
CONCURSO DE PESSOAS
	Há inúmeras infrações penais que podem ser praticadas por uma só pessoa. São os delitos unissubjetivos. Há outras que exigem mais de uma pessoa para que possam se configurar (ex: quadrilha – 4 pessoas, no mínimo), constituindo delitos plurissubjetivos.
	O concurso de pessoas é tratado no art. 29, caput, do CP, que estabelece que quem, de qualquer modo, concorre para o crime, incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
	Aplica-se, como regra, o concurso de pessoas aos delitos unissubjetivos, também conhecidos como delitos de concurso eventual, uma vez que para os crimes plurissubjetivos, ou de concurso necessário, pelo fato de exigirem a presença de, no mínimo, duas ou mais pessoas, dependendo do tipo penal, não haveria necessidade de regra expressa para os autores, ou coautores, tendo aplicação somente no que tange à participação nessas infrações penais.
	Fala-se em concurso de pessoas quando duas ou mais pessoas concorrem para a prática de uma mesma infração penal. Essa colaboração recíproca pode ocorrer tanto nos casos em que são vários os autores, bem como naqueles nos quais existam autores e partícipes.
	REQUISITOS PARA CONCURSO DE PESSOAS	
	
	a) Pluralidade de agentes e de condutas
	Requisito indispensável. Deve haver, no mínimo, duas pessoas que, envidando esforços conjuntos, almejam praticar determinada infração penal.
	b) Relevância causal de cada conduta
	Se a conduta levada a efeito por um dos agentes não possuir relevância para o cometimento da infração penal, devemos desconsiderá-la e concluir que o agente não concorreu para a sua prática.
	Ex: A quer matar B. Não sabe onde está a sua arma, então pede a de C emprestada. C, mesmo sabendo da intenção de A, empresta-lhe a arma. Antes de ir matar B, A resolve procurar mais uma vez sua arma e finalmente a encontra. Assim, deixa de lado a arma de C e, agora, com a sua pistola vai à procura de B e causa-lhe a morte. 
	Como não usou a arma de C, a conduta deste último (emprestar sua arma) deixou de ser relevante à cadeia causal, uma vez que não estimulou ou, de qualquer modo, influenciou o agente no cometimento de sua infração penal. Assim, embora tenha querido contribuir, a ausência de relevância de sua conduta afastará sua responsabilidade penal.
	c) Liame subjetivo entre os agentes
	É o vínculo psicológico que une os agentes para a prática da mesma infração penal. Se não se conseguir vislumbrar o liame subjetivo, cada agente responderá, isoladamente, por sua conduta.
	Ex clássico: A e B atiram contra C. Um deles acerta mortalmente o alvo, enquanto o outro erra. Não se sabe quem matou. Se houve liame subjetivo, o resultado morte será atribuído a ambos, respondendo por homicídio consumado. Se não houve, cada um responderá por sua conduta; como não sabemos quem conseguiu alcançar o resultado, a dúvida deverá beneficiar os agentes, devendo ambos responder por homicídio tentado.
	d) Identidade de infração penal	
	Os agentes, unidos pelo liame subjetivo, devem querer praticar a mesma infração penal. Seus esforços devem convergir ao cometimento de determinada e escolhida infração penal.
	Em síntese, somente quando duas ou mais pessoas, unidas pelo liame subjetivo, levarem a efeito condutas relevantes dirigidas ao cometimento de uma mesma infração penal é que poderemos falar em concurso de pessoas.
	CONCURSO DE PESSOAS – PLURALIDADE DE AGENTES E CONDUTAS + RELEVÂNCIA CAUSAL + LIAME SUBJETIVO + IDENTIDADE DE INFRAÇÃO PENAL
	TEORIAS SOBRE O CONCURSO DE PESSOAS
	
	I – Teoria pluralista
	Sustenta que há tantas infrações penais quantos forem os autores e partícipes. A cada participante corresponde uma conduta própria, um elemento psicológico próprio e um resultado igualmente particular. Assim, se alguém tivesse induzido duas outras pessoas a praticar um delito de furto, teríamos três infrações penais distintas.
	II – Teoria dualista
	Distingue o crime praticado pelos autores daquele cometido pelos partícipes. Há um crime único para os autores e um crime único para os partícipes.
	III – Teoria monista ou unitária
	Adotada pelo CP, aduz que todos aqueles que concorrem para o crime incidem nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. Para esta teoria, há um crime único, atribuído a todos aquele que para ele concorreram, autores ou partícipes. No exemplo citado em I, haveria um único crime de furto, atribuído aos partícipes e coautores.
	Embora o CP a tenha adotado, o art. 29 faz diferença entre participação e autoria ao prever punibilidade diferenciada daquela, razão pela Régis Prado entende que o CP adotou a teoria monista de forma “matizada ou temperada”. Além disso, há outras exceções à regra da teoria monista, como o crime de aborto, cuja punição para a gestante é diferente daquela para o que comete, com seu consentimento, o delito (art. 124 x art. 126).
	AUTORIA	
	Antes de serem conceitos jurídicos, autoria e participação são conceitos imanentes ao homem, isto é, já existem dentro de nós antes de qualquer definição jurídica. A partir disso, chega-se às principais teorias.
	Conceito restritivo de autor	
	Autor é somente aquele que pratica a conduta descrita no núcleo do tipo penal. Todos os demais que, de alguma forma, o auxiliam, mas que não realizam a conduta narrada pelo verbo do tipo, são considerados partícipes. Este conceito segue atrelado a uma teoria objetiva de participação, a qual seguem duas vertentes: uma formal e outra material.
	Para a teoria objetivo-formal, o autor é aquele que pratica a conduta descrita no núcleo do tipo; todos os demais que concorrerem para essa infração penal, mas que não realizam a conduta expressa pelo verbo existente no tipo, serão considerados partícipes.
	Ex: A e B, com ânimo de subtração, unidos pelo liame subjetivo, resolvem furtar uma TV da casa de C. A tem a função de vigiar a porta de entrada da casa, enquanto B nela ingressa e efetua a subtração. Pela teoria objetivo-formal, como foi B quem praticou o a conduta descrita no núcleo do tipo do art. 155 do CP, somente ele seria considerado autor, sendo A partícipe de um crime de furto.
	
	Para a teoria objetivo-material, deve ser observada, além daquilo que já estabelece a teoria objetivo-formal, a perspectiva de maior perigosidade que deve caracterizar a contribuição do autor ao fato em comparação com a do cúmplice. Ela distingue autor de partícipe pela maior contribuição do primeiro na causação do resultado.
	A teoria objetiva enfrentou problemas no que concerne, por exemplo, à autoria mediata. Ex: um médico, querendo causar a morte de seu inimigo que se encontrava internado no hospital no qual aquele exercia suas funções, determina a uma enfermeira que nele aplique uma injeção, por ele preparada, contendo um veneno letal. A enfermeira, atendendo ao pedido levado a efeito pelo médico, aplica a injeção e causa a morte do paciente. Como se percebe, o médico não realizou a conduta descrita no núcleo do tipo penal do art. 121 do CP. Na verdade, quem matou alguém, por erro determinado por terceiro, foi a enfermeira. Como o médico não praticou a conduta narrada pelo verbo do tipo, pelateoria objetiva não poderia ele ser considerado autor.
	Conceito extensivo de autor	
	A partir da teoria da equivalência das condições, os adeptos do conceito extensivo não fazem distinção entre autores e partícipes. Todos aqueles que, de alguma forma, colaboram para a prática do fato são considerados autores.
	Se não há distinção objetiva, busca-se a distinção num critério subjetivo. Por isso, este conceito extensivo de autor segue atrelado à teoria subjetiva da participação.
	A teoria subjetiva traça a distinção entre autor e partícipe com base na valoração do elemento anímico dos agentes. Existe uma vontade de ser autor (animus auctoris), quando o agente quer o fato como próprio, e uma vontade de ser partícipe (animus socii), quando o agente deseja o fato como alheio.
	O autor, por este conceito, realiza a conduta como protagonista da história, ao passo que o partícipe, não querendo o fato como próprio, mas, sim, como alheio, exerce um papel secundário, sempre acessório.
	Isso gera problemas. Por ex: o matador de aluguel causa a morte da vítima não porque a desejava, mas, sim, porque fora pago para tanto. Assim, não seria autor do crime, e sim mero partícipe.
	
	Teoria do domínio do fato
	Surge com Welzel, para quem a característica geral do autor é o domínio final sobre o fato. 
	Tal teoria é considerada objetivo-subjetiva. Aquele que realiza a conduta descrita no núcleo do tipo penal tem o poder de decidir se irá até o fim com o plano criminoso, ou, em virtude de seu domínio sobre o fato, isto é, em razão de ser o senhor de sua conduta, pode deixar de lado a empreitada criminosa. Para aqueles que adotam um conceito restritivo de autor, não haveria dúvida em reconhecer como autor aquele que viesse a executar a conduta descrita no tipo.
	No entanto, pode ocorrer de o agente, em vez de ser autor executor, seja o “homem inteligente do grupo”, cuja função seja elaborar o plano criminoso. Pode acontecer, também, que alguém seja um exímio motorista e, durante um assalto, fique encarregado de dirigir o automóvel, indispensável à fuga.
	Ou seja, há inúmeras situações para as quais se deve distinguir autor e partícipe.
	A teoria do domínio funcional do fato, adotada por grande número de doutrinadores, agrega argumentos de ambas as teorias anteriores e acrescenta um dado extremamente importante, qual seja, a chamada divisão de tarefas.
	Quando se fala em domínio do fato, não se quer dizer que o agente deve ter o poder de evitar a prática da infração penal a qualquer custo, mas, sim, que, com relação à parte do plano criminoso que lhe foi atribuída, sobre esta deverá ter o domínio funcional. O domínio será, portanto, sobre as funções que lhe foram confiadas e que têm uma importância fundamental no cometimento da infração penal.
	Esta teoria tem aplicação nos delitos dolosos, não sendo cabível, porém, quando a infração penal tiver a natureza culposa, pois nos delitos culposos não se pode falar em domínio do fato, já que o resultado se produz de modo cego, causal, não finalista. Nos delitos imprudentes é autor todo aquele que contribui para a produção do resultado com uma conduta que corresponde ao cuidado objetivamente devido. Nos delitos dolosos é autor o que tem o domínio finalista do fato.
	TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO – DIVISÃO DE TAREFAS (NÃO SE APLICA AOS CRIMES CULPOSOS)
	Coautoria	
	A teoria do domínio do fato fica mais evidente quando diversas pessoas, unidas pelo vínculo subjetivo, resolvem praticar uma mesma infração penal.
	Se autor é aquele que possui o domínio do fato, é o senhor de suas decisões, coautores serão aqueles que têm o domínio funcional dos fatos, ou seja, dentro do conceito de divisão de tarefas, serão coautores todos os que tiverem uma participação importante e necessária ao cometimento da infração, não se exigindo que todos sejam executores, isto é, que todos pratiquem a conduta descrita no núcleo do tipo.
	A ideia de divisão de trabalho encontra na coautoria a adequação máxima. Cada agente terá o domínio no que diz respeito à função que lhe fora confiada pelo grupo. Com relação a essa função, que deverá ter importância na realização da infração penal, o agente é o senhor de suas decisões e a parte que lhe toca terá importância no todo.
	Autoria direta e indireta (mediata)
	Autor direto é aquele que executa diretamente a conduta descrita pelo núcleo do tipo penal. 
	Autor indireto ou mediato é aquele que se vale de outra pessoa, que lhe serve, na verdade, como instrumento para a prática da infração penal.
	Para que se possa falar em autoria indireta ou mediata, é necessário que o agente detenha o controle da situação, isto é, que tenha o domínio do fato. O CP prevê quatro casos de autoria mediata, a saber:
Erro determinado por terceiro (art. 20, § 2º)
	É o caso da enfermeira, já mencionado. Ela aplica, a pedido do médico, injeção contendo veneno letal, sem saber seu conteúdo. O médico, que havia preparado a injeção e queria a morte do paciente, é autor mediato do homicídio. A enfermeira não agiu com dolo ou culpa, não respondendo por crime algum.
	Art. 20, § 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.
Coação moral irresistível (art. 22, primeira parte)
	Somente será punível o autor da coação. Ex: pai, sabendo que o filho poderá ser morto porque tem contra ele uma arma apontada para sua cabeça, é coagido a subtrair valores de agência bancária. Não responderá pelo crime de furto; o autor da coação será autor mediato.
	Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.
	c) Obediência hierárquica (art. 22, segunda parte)
	Mesma situação da coação irresistível. Ex: delegado de polícia determina a um detetive, seu subordinado, que efetue a prisão de alguém, quando, na verdade, a ordem não tinha sido expedida. Caso o detetive, cumprindo a determinação do superior hierárquico, que aparentava ser legal, levar a efeito a prisão, somente o autor da ordem é que será responsabilizado.
	d) Caso de instrumento impunível em virtude de condição ou qualidade pessoal (art. 62, III, segunda parte)
	É a situação do agente que empurra terceira pessoa, a fim de que esta caia sobre a vítima, produzindo-lhe lesões corporais. Aquele que é empurrado não atua dolosa ou culposamente, sendo que a responsabilidade será atribuída a quem empurrou. O mesmo se aplica aos casos de hipnose, nos quais o hipnotizado cumpre as ordens que lhe foram determinadas, em decorrência de seu estado de inconsciência.
	Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que:
	
	III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade pessoal.
	Além dessas hipóteses, temos a possibilidade de o agente se valer de inimputáveis (doentes mentais ou menores) para cometer infração penal. Ex: agente entrega arma a doente mental. Este atira na vítima, causando-lhe a morte. Aquele será responsabilizado.
	Autoria mediata e crimes de mão própria	
	Como se sabe, crime próprio é aquele que só pode ser praticado por um grupo determinado de pessoas que gozem de condição especial exigida pelo tipo penal. Ex: peculato.
	Já o crime de mão própria vai mais além, exigindo, para sua caracterização, que o sujeito ativo, expresso no tipo penal, pratique a conduta pessoalmente. Assim, por exemplo, só a testemunha pode fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade, praticando falso testemunho (art. 342); somente determinado funcionário público poderá prevaricar (art. 319).
	Quanto à autoria mediata, esta é plenamente possível em crimes próprios, desde que o autor mediato possua as qualidades ou condições especiais exigidas pelo tipo penal. Ex: funcionário público se vale de particular para solicitar vantagem indevida a terceiro (corrupção).
	Já noscrimes de mão própria a autoria mediata, em regra, não é possível. O próprio STJ entende assim. Isso porque, por serem crimes de atuação pessoal, autor será somente aquele que vier a praticar a conduta prevista no núcleo do tipo penal. Não se cogita de autoria mediata porque a execução dos crimes de mão própria não pode ser transferida a ninguém. Ex: falso testemunho - não se pode pedir a alguém que preste um testemunho falso em seu lugar.
	AUTORIA MEDIATA EM CRIMES PRÓPRIOS – POSSÍVEL, SE O AUTOR MEDIATO POSSUIR AS CONDIÇÕES EXIGIDAS PELO TIPO
	AUTORIA MEDIATA EM CRIMES DE MÃO PRÓPRIA – EM REGRA, NÃO É POSSÍVEL
	Contudo, embora a posição doutrinária majoritária caminhe nesse sentido de não admissão da autoria mediata em crimes de mão própria, pode haver exceção no próprio crime de falso testemunho. Situação: testemunha é coagida irresistivelmente a prestar depoimento falso. Nesse caso, somente será punido o autor da coação, sendo este, portanto, um caso de autoria mediata. 
	
	Coautoria e crimes de mão própria	
	Nos delitos próprios, é plenamente possível a coautoria.
	Nos delitos de mão própria, em regra, não se admite a coautoria. Por tratar-se de infrações personalíssimas, não há a possibilidade de divisão de tarefas. O delito só poderá ser realizado pessoalmente pelo agente previsto no tipo penal.
	Nada impede que haja, porém, concurso de partícipes. Estes, mesmo não possuindo o domínio sobre o fato, podem, de alguma forma, concorrer para a infração penal, induzindo, instigando ou auxiliando materialmente o autor.
	Vale frisar, no entanto, que o STF e o STJ já entenderam ser possível a coautoria da testemunha com o advogado em crime de falso testemunho.
	
	FALSO TESTEMUNHO – POSSIBILIDADE DE AUTORIA MEDIATA E COAUTORIA (STF)
	Autor intelectual	
	Fala-se em autoria intelectual quando se quer referir ao “homem inteligente” do grupo. É quem traça o plano criminoso, com todos os seus detalhes. Pode acontecer, inclusive, de ao autor intelectual não ser atribuída qualquer função executiva do plano criminoso por ele elaborado. Isso, porém, não lhe retira a condição de autor. Afinal, pela teoria do domínio do fato, ele é importante para o sucesso da infração penal.
	Autor de determinação	
	Hipótese em que não dá para falar em autoria direta ou indireta ou mesmo em participação.
	Situação: uma mulher dá sonífero a outra e depois hipnotiza um amigo, ordenando-lhe que com aquela mantenha relações sexuais durante o transe. O hipnotizado não realiza conduta, ao passo que a mulher não pode ser autora de estupro, porque é delito de mão própria. Tampouco é partícipe, pois falta o injusto alheio em que cooperar ou a que determinar.
	Como vimos, em regra, não se pode falar em autoria mediata nos crimes de mão própria. Considerando o estupro como crime de mão própria, no caso em exame, a mulher não poderia ser considerada autora mediata do crime de estupro. Não poderá tampouco ser partícipe, pois a participação pressupõe a prática de um fato típico e ilícito pelo autor. O hipnotizado não pratica fato típico, logo não há crime, não há participação.
	O que fazer então?
	Surge aí a figura do autor de determinação, que deverá ser punido com as penas correspondentes à infração penal que houver determinado, e não como autor dessa infração penal. Não se trata, assim, de autoria de delito, mas de um tipo especial de concorrência, em que o autor só pode ser apenado como autor da determinação em si e não do delito a que tenha determinado. A mulher não é apenada como autora de estupro, mas lhe será aplicada a pena deste crime por haver cometido o delito de determinar para o estupro.
	AUTOR POR DETERMINAÇÃO – NÃO SE IMPUTA A AUTORIA, MAS SE LHE APLICA A PENA. EX: HIPNOTIZA OUTRO PARA COMETER CRIME DE MÃO PRÓPRIA.
	Coautoria sucessiva	
	A regra é de que todos os coautores iniciem, juntos, a empreitada criminosa. Pode ocorrer, contudo, que alguém, ou mesmo o grupo, já tenha começado a percorrer o iter criminis, ingressando na fase de execução, quando outra pessoa adere à conduta criminosa daquele, e, agora, unidos pelo vínculo psicológico, passam, juntos, a praticar a infração penal. Nessas situações, fala-se em coautoria sucessiva.
	Ex: B agride C. Querendo ajudar B, A se une a ele para que, juntos, espanquem C. Há coautoria em lesão corporal.
	Até quando o agente poderá ser unir a outro, com a finalidade de cometer infração penal? Segundo Nilo Batista, até o exaurimento da infração. Ex: extorsão – se aderir por ocasião da obtenção da indevida vantagem econômica, haverá coautoria sucessiva.
	Outra dúvida: qual será a responsabilidade do coautor sucessivo? Há 2 correntes:
	I – Se o coautor sucessivo tomou conhecimento da situação em que se encontrava, deverá responder pelo fato na sua integralidade. Welzel, Nilo Batista.
	II – Quando o coautor sucessivo adere à conduta dos demais, responderá pela infração penal que estiver em andamento, desde que todos os fatos anteriores tenham ingressado na sua esfera de conhecimento e desde que eles não importem fatos que, por si sós, consistam em infrações mais graves já consumadas.
	Se o agente, por exemplo, depois de iniciado um crime de roubo, cujos elementos integrantes do tipo são a violência e a grave ameaça, ingressa na execução desse delito como coautor sucessivo, não deixará de ser responsabilizado pela causa especial de aumento de pena do emprego da arma. Contudo, pode acontecer que o agente, como coautor sucessivo, ingresse na empreitada criminosa quando uma das vítimas já tenha sido morta, estando as demais sob a mira das armas dos outros coautores. O agente, neste caso, não responderia pelo latrocínio, mas apenas pelo roubo com a causa de aumento, pois responsabilizá-lo pela morte seria uma forma de responsabilidade objetiva.
	Autoria colateral, autoria incerta e autoria desconhecida
	Autoria colateral: ocorre quando dois agentes não atuam unidos pelo liame subjetivo para a prática de determinado fato criminoso. Se não há vínculo psicológico, não há concurso de pessoas.
	Ex: A e B querem a morte de C. Colocam-se de emboscada por mera coincidência, aguardando a vítima passar. Quando avistam C, os dois atiram, no mesmo instante, sem que um soubesse da presença do outro. C morre. Há duas situações:
	a) A perícia constata que A matou C. A responde por homicídio consumado e B por homicídio tentado.
	b) A perícia não identifica o assassino. Ambos são responsabilizados por tentativa de homicídio. Não se conseguindo apurar o autor do resultado morte, não podem os agentes responder pelo resultado mais grave, uma vez que um deles estaria sendo responsabilizado por um fato que não cometeu.
	Se tivesse havido liame subjetivo, ambos responderiam por homicídio consumado, não importando saber quem teria conseguido causar a morte da vítima, pois sendo considerados coautores, a morte da vítima seria atribuída a ambos.
	Autoria incerta: na situação acima, de autoria colateral, sabe-se que A e B atiraram contra C, mas não se sabe quem lhe causou a morte. Existe a autoria colateral, uma vez que A e B não atuaram unidos pelo vínculo psicológico. Dessa autoria colateral surgirá uma outra, chamada autoria incerta. Sabe-se quais são os possíveis autores, mas não se consegue concluir, com a certeza exigida pelo Direito Penal, quem foi o produtor do resultado. Há autoria incerta.
	Autoria desconhecida: não se conhece a autoria. Difere da autoria incerta, uma vez que nesta última se sabe quem praticou as condutas, sendo que somente não se conhece, com precisão, o produtor do resultado. Na autoria desconhecida, os autores é que não são conhecidos, não se podendo imputar os fatos a qualquer pessoa.
	Autoria de escritório	
	Modalidade de autoria que pressupõe uma máquina de poder, que pode ocorrer tanto num estado em que se rompeu com toda a legalidade, como numa organização paraestatal (ex: máfia).
	Embora se trate de autoriamediata, o mero executor das ordens do grupo criminoso não constitui um mero instrumento, tal como acontece nos casos de autoria mediata. Aquele que executa as ordens emanadas pelo “cabeça da organização” (ex: CV) o faz tendo o domínio funcional do fato que lhe fora atribuído. Por essa razão, fala-se em autoria mediata especial.
	AUTORIA DE ESCRITÓRIO – GRANDES MÁFIAS - O EXECUTOR TAMBÉM É AUTOR, POIS TEM DOMÍNIO FUNCIONAL DO FATO QUE LHE FOI ATRIBUÍDO – NÃO É MERA AUTORIA MEDIATA
	PARTICIPAÇÃO
	O autor é o protagonista da infração penal. Pode, contudo, receber o auxílio de certos coadjuvantes, cujos papéis secundários influenciam na prática da infração penal. Estes são os partícipes.
	Se a autoria é sempre atividade principal, a participação será sempre uma atividade acessória, dependente da principal. Assim, para que se possa falar em participação, deve existir, necessariamente, um autor do fato. Sem este, não há possibilidade de haver um partícipe, pois que, conforme determina o art. 31 do CP, o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.
	Como atividade acessória, a participação pode ser moral ou material.
	Participação moral: ocorre nos casos de induzimento (determinação, para o CP) e instigação. 
	Induzir ou determinar é criar, incutir, colocar, fazer brotar a idéia criminosa da cabeça do agente/autor. O partícipe lança a idéia criminosa na cabeça do autor, da qual este nem tinha idéia.
	Instigar significa reforçar, estimular uma idéia criminosa já existente na mente do autor. A função do partícipe, na instigação, é fazer com que o agente fortaleça sua intenção delitiva. A punição não decorrerá da idéia, e sim do fato de o autor decidir efetivamente pela prática do crime.
	Participação material: ocorre na participação por cumplicidade (prestação de auxílios materiais). Nesta, o partícipe facilita materialmente a prática da infração penal, por exemplo, cedendo a escada para aquele que deseja entrar na casa da vítima, ou o que empresta sua arma para que o autor possa causar a morte do desafeto. Em toda prestação de auxílios materiais, há embutida uma dose de instigação.
	
	Cumplicidade necessária
	A cumplicidade necessária é entendida como aquela em que o bem ou auxílio material são entendidos como escassos, ou seja, não poderiam ser fornecidos normalmente por qualquer pessoa. Ex: R$ 30.000,00, uma substância medicamentosa de venda controlada, máquina de falsificar notas.
	Na cumplicidade desnecessária, o bem pode ser fornecido normalmente por qualquer pessoa. Ex: R$ 0,20, caneta esferográfica para falsificar assinatura, faca de cozinha etc. 
	Em caso de prestação de serviço, será considerado escasso aquele que não puder ser praticado por um número considerável de pessoas. Ex: cópia de quadro de renomado pintor, que será utilizada por um estelionatário para vender como original. Ao contrário, não será escassa a condução, por automóvel, do agente até o local do crime.
	A distinção de cumplicidade necessária e desnecessária em razão da escassez do bem ou do serviço é criticada porque gera dúvida sobre sua classificação no caso concreto. No entanto, quando se puder afirmar pela escassez, a conseqüência será a completa impossibilidade de se aplicar a causa geral de redução de pena relativa à participação de menor importância (art. 29, § 1º).
	FUNDAMENTO DA PUNIBILIDADE DA PARTICIPAÇÃO	
	
	Há 2 correntes:
	a – Teoria da participação na culpabilidade	
	Segundo essa teoria, o partícipe é punido pela gravidade da influência que exerce sobre o autor, convertendo-o em delinquente, ou, no mínimo, contribuindo para tanto.
	Críticas: a culpabilidade é uma questão pessoal de cada participante, independente da dos demais. O fato de qualquer dos participantes ser inculpável é algo que só diz respeito a ele. Além disso, a consagração da teoria da acessoriedade limitada torna desnecessário o exame da importância da participação na culpabilidade do autor.
	b – Teoria do favorecimento ou da causação
	O fundamento da punição do partícipe reside no fato de ter favorecido ou induzido o autor a praticar “um fato socialmente intolerável, consequentemente típico e antijurídico”. O agente é punível não porque colaborou na ação de outrem, mas porque, com a sua ação ou omissão, contribuiu para que o crime fosse cometido. É a teoria dominante na Alemanha e na Espanha, e acolhe a fórmula da acessoriedade limitada da participação (que é também majoritária no Brasil).
	TEORIAS SOBRE PARTICIPAÇÃO
	Inicialmente deve-se observar que, segundo o art. 31 do CP, o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio não são puníveis se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. Isso significa que só poderá haver participação se o autor, protagonista da ação, ingressar, no iter criminis, na fase dos atos de execução. Se esta não for iniciada, ainda que haja instigação, indução ou auxílio do partícipe, este não poderá ser responsabilizado.
	PARTICIPAÇÃO – EXIGE O INÍCIO DA EXECUÇÃO NO ITER CRIMINIS
	Vamos às teorias:
	a) Teoria da acessoriedade mínima
	Haverá participação punível a partir do momento em que o autor realizar uma conduta típica. Basta a prática de fato típico. Se houver causa de exclusão da ilicitude, a participação será punida mesmo assim.
	Ex: A, estimulado por B, comete furto famélico. A estava em estado de necessidade. Contudo, o partícipe B será responsabilizado.
	b) Teoria da acessoriedade limitada
	Pune a participação se o autor tiver levado a efeito uma conduta típica e ilícita. É adotada pela maioria dos doutrinadores, inclusive por Rogério Greco. Para esta teoria, é preciso que o autor tenha cometido um injusto típico, mesmo que não seja culpável, para que o partícipe possa ser responsabilizado. Isso porque o fato é comum, mas a culpabilidade é individual.
	CP – TEORIA DA ACESSORIEDADE LIMITADA – HÁ PARTICIPAÇÃO SEMPRE QUE HOUVER CONDUTA TÍPICA E ILÍCITA (INJUSTO TÍPICO), AINDA QUE NÃO CULPÁVEL
	Ex: A empresta a arma a B. Este quer matar em defesa da honra de sua família – está em erro de proibição indireto (erro sobre a existência de causa de justificação), o que pode afastar ou reduzir a sua culpabilidade. Para a teoria limitada da culpabilidade, o partícipe será responsabilizado.
	Provocação de legítima defesa: a situação discutida é a do instigador que induz um terceiro a agredir a outrem, que sabe estar armado. Este reage em legítima defesa e mata o agressor induzido, que o instigador queria eliminar. Pela teoria da acessoriedade limitada, o instigador não pode ser punido como partícipe, em razão de o fato estar justificado para o executor. A solução recomendada pelos alemães é a punição do instigador como autor mediato da ação justificada do autor direto. Isso ocorreria porque o instigador teria o domínio final do fato, apenas se utilizando dos participantes diretos do conflito como instrumentos de realização da sua vontade criminosa. 
	c) Teoria da acessoriedade máxima ou extrema
	Somente haverá a punição do partícipe se o autor tiver praticado uma conduta típica, ilícita e culpável. Era uma teoria mais aceita quando havia inclinação da doutrina pela teoria causal ou naturalista da ação.
	d) Teoria da hiperacessoriedade
	Vai mais além e diz que a participação somente será punida se o autor tiver praticado um fato típico, ilícito, culpável e punível. A punibilidade do injusto culpável é condição indispensável à responsabilização do partícipe. Ex: partícipe estimula menor de 21 anos a praticar delito de furto. Mais tarde, reconhece-se a prescrição do crime. O partícipe não será punido.
	Instigação a autores e a fatos determinados	
	A participação deve dirigir-se a fatos determinados e a pessoas determinadas. A conduta dolosa do partícipe deve dirigir-se a contribuir, acessoriamente, à prática de determinada infração penal, queserá levada a efeito por uma ou várias pessoas também determinadas.
	Caso se venha a incitar publicamente pessoas indeterminadas à prática de crime, não haverá participação, e sim o delito do art. 286 do CP – incitação ao crime. Mesmo neste caso, há autores, como Magalhães Noronha, que exigem que a incitação se dirija a crimes determinados.
	Participação punível – desistência voluntária e arrependimento eficaz do autor	
	O art. 15 do CP estabelece que “o agente que voluntariamente desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza só responde pelos atos já praticados”.
	Repare que o art. 15 fala em desiste de prosseguir na execução. Isso significa que ambos os institutos – desistência voluntária e arrependimento eficaz – se dirigem aos autores da infração penal. Afinal, só os autores podem praticar atos de execução.
	Situação: A é induzido por B a causar a morte de C. Durante os atos de execução, após atingir C na perna e no ombro, A, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução. A deverá ser responsabilizado por tentativa de homicídio? Não, pois, por questão de política criminal, previu-se que só responderá pelos atos já praticados (lesões corporais). E o partícipe, será responsabilizado?
	Para uma parte da doutrina (Nilo Batista), não deverá ser responsabilizado o partícipe, pois a desistência ou arrependimento do autor leva este à atipicidade da conduta inicial por ele praticada, de maneira que tal fato deverá ser estendido ao partícipe. Assim, a impunidade do partícipe seria uma decorrência da acessoriedade da participação e seriam atendidos os dizeres da doutrina unitária do concurso (teoria monista).
	Para outra parte, com a qual Rogério Greco concorda, o fato de o agente ingressar nos atos de execução já é suficiente a ensejar a punição do partícipe. A conduta do agente que desiste voluntariamente ou se arrepende de forma eficaz só não é punida por motivos de política criminal, logo ele praticou um fato típico, ilícito e culpável de um crime de homicídio. Isso não contradiria a teoria monista, haja vista que o CP a excepciona em várias passagens.
	PARTICIPAÇÃO EM DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA/ARREPENDIMENTO EFICAZ – CONTINUA PUNÍVEL
	Arrependimento do partícipe 
	A desistência voluntária do partícipe é praticamente impossível. Normalmente, ocorre que o partícipe já incutiu a ideia criminosa na cabeça do autor e já a estimulou, e se volta atrás, tentando dissuadi-lo da prática da infração penal, poderíamos falar em arrependimento, não em desistência, pois já havia esgotado tudo aquilo que estava ao seu alcance para fazer com que o autor levasse a efeito a infração penal.
	Talvez se pudesse falar em desistência na hipótese em que o partícipe se compromete a emprestar a arma, mas antes de fazê-lo desiste de sua colaboração e não a empresta.
	Com relação aos efeitos que disso podem ocorrer, no que se refere à instigação ou indução, somente não haverá a responsabilização penal do partícipe se o autor não praticar a conduta criminosa, pois o arrependimento não será eficaz e, portanto, não afastará a sua responsabilidade penal como ato acessório ao praticado pelo autor.
	Quanto à cumplicidade (prestação de auxílios materiais), a solução é mais tranquila. Se o “partícipe” prometeu entregar a arma, mas não o fez, e o agente cometeu o delito com outra arma – de outra pessoa - , aquele não poderá ser penalmente responsabilizado. Aplica-se o mesmo raciocínio se já havia emprestado a arma e, antes da prática da infração penal, consegue reavê-la, impedindo o autor de usá-la.
	Tentativa de participação
	
	Não se pode falar em tentativa de participação. Se o partícipe estimula alguém a cometer uma determinada infração penal, mas aquele que foi estimulado não vem a praticar qualquer ato de execução tendente a consumá-la, a conduta do partícipe é considerada um indiferente penal.
	É o que se depreende do art. 31 do CP: o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.
	Participação em cadeia (participação de participação)
	É plenamente possível. Ex: A induz B a induzir C a causar a morte de D. Será punível apenas se o autor vier a praticar a infração penal para a qual fora estimulado pelo partícipe, atendendo-se, pois, à regra do art. 31 – deve haver pelo menos tentativa.
	Participação sucessiva	
	Da mesma forma que há a coautoria sucessiva, é possível a participação sucessiva. Ex: A instiga B a matar C. Após essa participação, o agente D, desconhecendo a participação de A, instiga B a matar C. Se a instigação de D foi eficiente em face do nexo de causalidade, é considerado partícipe do homicídio.
	Ressalte-se que a instigação sucessiva deve ter sido capaz de exercer alguma influência no ânimo do agente, pois, caso contrário, isto é, se este já estava completamente determinado a cometer a infração penal, e se a instigação sucessiva em nada o estimulou, não terá ela a relevância necessária a fim de ensejar a punição do partícipe.
	Participação por omissão
	A participação moral, segundo posição amplamente majoritária, é impossível de ser realizada por omissão, pois pressupõe uma atuação positiva do partícipe no sentido de estimular, reforçar, criar uma ideia criminosa.
	Já a participação material, contudo, pode concretizar-se numa inação do partícipe que, com a sua omissão, contribuiu para a ocorrência da infração penal. 
	PARTICIPAÇÃO POR OMISSÃO – A MORAL NÃO É POSSÍVEL; A MATERIAL, SIM
	Ex: empregado A vem subtraindo semanalmente uma certa importância em dinheiro da firma. B, que não é tesoureiro nem exerce qualquer função que lhe incumba dever especial, mas que pode de alguma forma facilitar o acesso de A ao cofre, omite providências (chaves, horários) que significariam obstáculos à atividade de A, desejando, por raiva do patrão, que a perda patrimonial seja expressiva.
	Pelo fato de B não gozar do status de garantidor, haverá possibilidade de responsabilizá-lo como partícipe. Se fosse garantidor (ex: tesoureiro, guarda, etc), sua omissão dolosa levaria ao cometimento do crime comissivo por omissão, respondendo como autor.
	Ex2: empregada doméstica percebe aproximação de um agente conhecido por furtar em residências, deixa a porta aberta da casa de seus empregadores, porque está descontente com estes, facilitando a subtração. Será partícipe. 
	Todavia, se fosse o vigia da casa, este, como garantidor, teria cometido crime comissivo por omissão, sendo autor do furto.
	PARTICIPAÇÃO (MATERIAL) OMISSIVA – SE NÃO FOR GARANTE 
	CRIME COMISSIVO POR OMISSÃO – SE FOR GARANTE 
	Impunibilidade da participação	
	A participação não é punida enquanto não tiver início a execução do crime. Se o fato praticado pelo autor permanecer tão-somente na fase da cogitação, ou mesmo nos atos preparatórios, a participação não será punível.
	Participação de menor importância	
	O § 1º do art. 29 estabelece que se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. Trata-se de causa geral de diminuição de pena. Embora o dispositivo fale em “a pena pode ser diminuída”, trata-se de causa de diminuição obrigatória, conforme preleciona Alberto Silva Franco.
	Este parágrafo é aplicável apenas às hipóteses de participação, não se aplicando às hipóteses de coautoria. Não se pode falar em coautoria de menor importância, afinal, segundo a teoria do domínio funcional do fato, observando-se o critério de divisão de tarefas, coautor é aquele que tem o domínio funcional do fato que lhe fora atribuído pelo grupo, sendo sua atuação relevante para o sucesso da empreitada criminosa. Toda atuação daquele que é considerado coautor é importante para a prática da infração penal, não se podendo, portanto, falar em “coautoria de menor importância”.
	Participação (ou coautoria) em crime menos grave (desvio subjetivode conduta)
	O § 2º do art. 29 preceitua que se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até a metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
	Tal dispositivo se aplica tanto à participação quanto à coautoria. Trata-se de pequena exceção à teoria monista.
	O legislador pretendeu punir os concorrentes nos limites impostos pela finalidade de sua conduta, ou seja, se queria concorrer para o cometimento de determinada infração penal, se o seu dolo era voltado no sentido de cooperar e praticar determinado crime, não poderá responder pelo desvio subjetivo de conduta atribuída ao executor.		
	Situação do partícipe: A estimula B a causar lesões em C. Ao dar início às agressões, B, agora com dolo de matar, espanca C até a morte. Veja que A não instigou B a matar C. Houve desvio subjetivo da conduta de B. Assim, A só deverá ser responsabilizado por seu dolo, ou seja, se o seu dolo foi o de estimular o agente a cometer o delito de lesões corporais, por ele deverá ser responsabilizado. Se o resultado mais grave fosse previsível para o concorrente, a pena prevista para a infração penal para a qual queria concorrer será aumentada de metade.
	Situação do coautor: A e B resolvem praticar furto de televisor numa residência abandonada que pertence a C. A, pela divisão de tarefas, fica vigiando a porta da casa enquanto B se dirige ao seu interior para praticar o delito. Contudo, ao entrar na casa, B é surpreendido pela presença de C. Mesmo assim, prossegue com o plano de subtração, agredindo C fisicamente. A não poderá responder pelo crime de roubo, mas pelo de furto. O seu dolo – liame subjetivo – dizia respeito a concorrer para a prática de furto (subtração sem violência). Assim, ser-lhe-á aplicada a pena deste.
	ART. 29, § 1º (PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA) – NÃO SE APLICA À COAUTORIA
	ART. 29, § 2º (PARTICIPAÇÃO EM CRIME MENOS GRAVE) – APLICA-SE À PARTICIPAÇÃO E À COAUTORIA
	Cumplicidade e favorecimento real	
	O delito de favorecimento real está no art. 349: Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito de crime.
	É essencial, para identificar a diferença entre cumplicidade e favorecimento real, saber qual o momento em que o auxílio foi proposto. Se anterior à consumação da infração penal pretendida pelo autor, o caso será de cumplicidade (participação – auxílio material); se posterior à sua consumação, será favorecimento real.
	CUMPLICIDADE – AUXÍLIO PROPOSTO ANTERIORMENTE À CONSUMAÇÃO
	FAVORECIMENTO REAL – AUXÍLIO POSTERIOR À CONSUMAÇÃO
	Ex1: A e B, amigos de infância, conversam. A diz que tem intenção de praticar um crime de furto de eletrodomésticos, mas, como não tem lugar para guardá-los após o crime, ainda não levou adiante seu intento. Diante disso, B oferece-lhe um galpão, cujo espaço físico seria ideal para acondicionar os bens furtados. A, então, pratica o crime. B é partícipe.
	Ex2: Após subtrair aparelhos eletrodomésticos, A vai à procura de B e solicita-lhe auxílio a fim de acondicionar os bens subtraídos. B pratica o crime de favorecimento real.
	Observe-se, por oportuno, que o art. 349 só fala em “fora dos casos de coautoria” porque na época não se previa a distinção entre coautoria e participação. Assim, deve-se ler “fora dos casos de coautoria e participação”.
	PUNIBILIDADE NO CONCURSO DE PESSOAS	
	A punição daqueles que agem em concurso de pessoas será feita na medida de sua culpabilidade. Culpabilidade significa juízo de censura, reprovabilidade, que recai sobre a conduta do agente. Embora duas pessoas, em concurso, resolvam praticar determinada infração penal, pode-se concluir, dependendo da hipótese, que a conduta de uma delas é mais censurável que a outra, razão pela qual deverá ser punida mais severamente.
	Ex: furto cometido em concurso por rico fazendeiro – aventura – e por desempregado que há muito tempo não consegue sustentar sua família. A conduta do desempregado é menos censurável que a do fazendeiro, razão pela qual poderá haver penas diferentes, sendo que a do fazendeiro poderá ser maior que a do desempregado.
	CIRCUNSTÂNCIAS INCOMUNICÁVEIS	
	O art. 30 do CP estabelece que não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.
	A regra é a incomunicabilidade, entre os co-participantes (coautores e partícipes), das circunstâncias, bem como das condições de caráter pessoal, sendo excepcionada quando se tratar de elementares do crime.
	Circunstâncias são dados periféricos, acessórios, que gravitam ao redor da figura típica, somente interferindo na graduação da pena. Já as elementares são dados essenciais à figura típica, sem as quais há atipicidade absoluta ou relativa. As condições de caráter pessoal são as relações do agente com o mundo exterior, com outros seres, com estado de pessoa, de parentesco etc.
	CIRCUNSTÂNCIAS – DADOS PERIFÉRICOS, CIRCUNDAM A FIGURA TÍPICA
	ELEMENTARES – DADOS ESSENCIAIS À FIGURA TÍPICA
	Ex1: A e B praticam roubo contra C, irmã de A. No caso, somente a pena de A será aumentada por circunstância agravante (art. 61, II, e). Considerada como uma circunstância de caráter pessoal, não se comunica, portanto, com o outro agente.
	Ex2: A, funcionário público, e B, pessoa estranha à Administração Pública, resolvem subtrair um computador na repartição . B tem conhecimento de que A é funcionário. A vale-se da sua condição para entrar tranqüilamente no recinto, num domingo, após identificação na recepção. Dirige-se para o local em que estava o computador e, abrindo uma janela que dava acesso para a rua, o entrega a B, que o aguardava do lado de fora do mencionado prédio. A despede-se do porteiro e vai ao encontro de B, para que, juntos, transportem o bem subtraído.
	O crime cometido por A é o peculato-furto. E B, que concorreu para o cometimento da infração, comete qual crime? A qualidade de funcionário é uma elementar do crime de peculato-fruto. Se fosse retirada a qualidade de funcionário de A, haveria desclassificação para o crime de furto. Assim, por ser uma elementar, com base no art. 30, esta será estendida ao co-participante que, dela tendo conhecimento, responderá, mesmo sendo pessoa estranha à Administração, pelo mesmo crime cometido pelo funcionário. Se a pessoa não tivesse conhecimento da condição do funcionário, cometeria o crime de furto.
	Deve-se, ainda, fazer uma distinção entre circunstâncias de natureza objetiva e de natureza subjetiva. 
	
	As circunstâncias objetivas (materiais ou reais) são aquelas que se relacionam com o fato delituoso em sua materialidade (modos de execução, uso de determinados instrumentos, tempo, ocasião, lugar, qualidades da vítima etc). Tais circunstâncias se comunicam se ingressarem na esfera de conhecimento dos co-participantes.
	Circunstâncias subjetivas ou pessoais são aquelas que dizem respeito à pessoa do agente, não tendo qualquer relação com a materialidade do delito, como os motivos determinantes, suas condições ou qualidades pessoais e relações com a vítima ou com outros concorrentes. Em regra, não se comunicam, salvo se transformarem em elemento do tipo penal, quando se comunicarão, desde que ingressarem na esfera de conhecimento dos co-participantes.
	CIRCUNSTÂNCIAS OBJETIVAS – COMUNICAM-SE AOS CO-PARTICIPANTES, SE INGRESSAREM EM SUA ESFERA DE CONHECIMENTO
	CIRCUNSTÂNCIAS SUBJETIVAS – NÃO SE COMUNICAM, SALVO SE ELEMENTARES DO TIPO
	CIRCUNSTÂNCIAS E CONDIÇÕES DE CARÁTER PESSOAL – NÃO SE COMUNICAM, EM REGRA, SALVO POR EXPRESSA DISPOSIÇÃO DA LEI
	CIRCUNSTÂNCIAS OBJETIVAS E ELEMENTARES DO TIPO (SEJAM OBJETIVAS, SEJAM SUBJETIVAS) – SÓ SE COMUNICAM SE ENTRAREM NA ESFERA DE CONHECIMENTO DOS PARTICIPANTES
	CRIMES MULTITUDINÁRIOS	
	São crimes cometidos por grande número de pessoas em situação específica. Ex: linchamento de pessoa que foi flagradapor prática de crime. Outra situação que gera um crime multitudinário é o desastre ou calamidade que gera alguma vantagem para os transeuntes. Ex: saque a caminhão que tomba na via pública, contendo carga de alimentos e bebidas.
	As pessoas, nessas situações, costumam não agir com vistas a cooperar umas com as outras. Agem por conta própria e estimuladas pela atuação do grupo. Não atuam em concurso.
	A sugestão do grupo, por inibir temporariamente a capacidade do agente de refletir sobre aquilo o que faz, bem como a respeito das conseqüências de seu ato, fez o legislador prever uma atenuante (art. 65, III, e) da pena do agente quando este viesse a praticar o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou.
	Há, no entanto, autores, como Cézar Bitencourt, que entendem que a prática coletiva de delito, nessas circunstâncias, apesar de ocorrer em situação normalmente traumática, não afasta a existência de vínculos psicológicos entre os integrantes da multidão, os quais caracterizariam concurso de pessoas.
	Caso se entenda pelo concurso, devem os fatos ser atribuídos a todos aqueles que estão na multidão e que, de alguma forma, praticaram condutas que, à primeira vista, seriam penalmente atípicas.
	Ex: caminhão de refrigerantes sofre um acidente e tomba em plena via pública. Forma-se uma multidão e passa a saquear a carga espalhada pela rodovia. A carga era composta por 12.500 refrigerantes, todos subtraídos. X subtraiu três latas, cujo valor era de R$ 3,00. A carga possuía o valor de R$ 12.500,00. Se entendermos (presunção) que havia liame subjetivo entre todos da multidão, poderemos responsabilizá-los penalmente pelo crime de furto da carga de refrigerantes no valor total de R$ 12.500,00. Se, porém, excluirmos o vínculo psicológico, aqueles que somente subtraíram um ou dois refrigerantes poderão ser beneficiados com a aplicação do princípio da insignificância (fato atípico). 
	No caso do linchamento com resultado morte, se exigirmos comprovação de liame subjetivo, todos responderão apenas pela infração penal correspondente ao seu dolo, bem como ao resultado produzido por sua conduta. Se queria ferir, responderá por lesões corporais; se queria matar, mas a sua conduta não contribuiu para o resultado morte, haverá tentativa de homicídio. Contudo, se o vínculo psicológico for presumido, todos responderão pelo resultado final. Ex: homicídio doloso – todos responderão por ele.
	Rogério Greco conclui que não se deve presumir o vínculo psicológico entre os agentes nos crimes multitudinários. Tal liame deverá ser demonstrado no caso concreto, a fim de que todos possam responder pelo resultado advindo da soma das condutas.
	CONCURSO DE PESSOAS EM CRIMES OMISSIVOS
	
	Crimes omissivos próprios e impróprios - Distinção
	
	Os crimes omissivos próprios prevêem uma conduta negativa do agente. A norma existente nos crimes omissivos próprios é mandamental, pois que determina ao agente que faça alguma coisa explicitada pelo próprio tipo penal. Já nos crimes comissivos por omissão, somente poderão praticá-los os agentes que se amoldarem às situações previstas nas alíneas do § 2º do art. 13 do CP. Além da necessidade de status de garantidores, para que se possa falar em crime comissivo por omissão é preciso que o tipo penal narre uma conduta comissiva (positiva), só que praticada pelo agente de forma omissiva.
	Portanto, nos crimes omissivos impróprios, deve ser conjugada a “especial qualidade do agente” com uma norma proibitiva (conduta positiva). Ex: art. 269 (deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória) – embora se exija uma qualidade especial do agente (ser médico), a conduta em exame é negativa (deixar de notificar).
	Após essa distinção, pergunta-se: é possível concurso de pessoas nos crimes omissivos, sejam quais forem? Analisemos o tema sobre dois enfoques – coautoria em crimes omissivos e participação em crimes omissivos.
	Coautoria em crimes omissivos (próprios e impróprios)
	Para Nilo Batista, o dever de atuar do autor no delito omissivo é indecomponível. Ou seja, não se cogita de coautoria nos delitos omissivos, uma vez que cada agente possui seu dever de agir de forma individualizada, intransferível. Assim, se dois garantidores deixam de fazer aquilo a que estão obrigados (ex: pai e mãe), como a teoria do domínio funcional do fato não se aplica aos crimes omissivos, embora haja identidade de propósito, não será o caso de coautoria, sendo cada um, individualmente, considerado autor.
	Outro ex: há cinqüenta nadadores que assistem passivamente ao afogamento de um menino. Há 50 autores diretos da omissão de socorro, e não coautores.
	Em sentido contrário, está Cezar Bitencourt, para quem a coautoria em crime omissivo é plenamente possível, seja este próprio ou impróprio. Ex: duas pessoas deixam de prestar socorro a pessoa gravemente ferida, podendo fazê-lo. Praticaram, individualmente, omissão de socorro. Agora, se, de comum acordo, deixarem de prestar socorro, serão coautoras do mesmo crime.
	Rogério Greco concorda com este último autor, preceituando que é possível a coautoria em crimes omissivos. No exemplo dos 50 nadadores, ele entende que deve haver dois enfoques: se todos agiram isoladamente, sem qualquer liame subjetivo entre eles, cada um responderá isoladamente pelo delito de omissão de socorro como autor; caso haja liame subjetivo, não haveria qualquer óbice ao reconhecimento da coautoria. 
	Afinal, explica o autor, embora não se aplique a teoria do domínio funcional do fato aos crimes omissivos, isso não impede o reconhecimento da coautoria quando todos os agentes, unidos pelo vínculo psicológico, resolvem deixar de agir em determinado caso concreto, quando a lei lhes impunha, individualmente, que agissem ou conforme o comando abstrato, sendo o caso de delitos omissivos próprios, ou com a finalidade de evitar o resultado, na hipótese de crimes omissivos impróprios.
	Participação em crimes omissivos (próprios e impróprios)
	A participação em crimes omissivos deve ser reconhecida como uma dissuasão, ou seja, o partícipe dirige sua conduta no sentido de fazer com que o autor não pratique a conduta a que estava obrigado. Ex: A, paraplégico, induz B, surfista, a não socorrer C, que está se afogando. A não podia ser considerado autor do delito de omissão de socorro, pois, pelo fato de ser paraplégico, não tinha condições de entrar no mar a fim de efetuar o socorro. B poderia fazê-lo sem qualquer risco, embora não fosse agente garantidor. Seria B responsabilizado por omissão de socorro. Em relação à conduta de A, ficaria ele impune?
	Se ambos pudessem socorrer a vítima, sem qualquer risco pessoal, mas, unidos pelo liame subjetivo, não resolvessem fazê-lo, pelo entendimento de Cezar Bitencourt, seriam coautores. Contudo, no caso em exame, somente um deles pode realizar o salvamento, uma vez que o outro, se tentar fazê-lo, correrá risco pessoal. Por essa razão, Rogério Greco, acompanhando Cezar Bitencourt, entende que, neste caso, há participação em crime omissivo.
	Nessa esteira, a participação também pode ocorrer em crimes omissivos impróprios. Ex: se, no caso anterior, em vez do surfista estivesse um salva-vidas. Este seria responsabilizado por homicídio doloso. A, que o induziu, seria punido por sua participação em homicídio doloso. Observe-se que é possível a participação em crime omissivo impróprio mesmo quando o partícipe não tenha o dever jurídico de não se omitir. Ex: instigar o garante a não produzir o resultado.
 
	COAUTORIA E PARTICIPAÇÃO EM CRIMES OMISSIVOS – POSSIBILIDADE (PARA ROGÉRIO GRECO)
	Já caiu no MPF: A maior parte da doutrina admite concurso de pessoas em crimes omissivos.
	CONCURSO DE PESSOAS EM CRIMES CULPOSOS
	Vamos separar nossa análise em: coautoria em crimes culposos e participação em crimes culposos.
	Coautoria em delitos culposos
	A tendência contemporânea é a de aceitar a coautoriaem delitos culposos. Duas pessoas podem, em um ato conjunto, deixar de observar o dever objetivo de cuidado que lhes cabia e, com a união de suas condutas, produzir um resultado lesivo.
HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO CULPOSO. DELITO DE TRÂNSITO. CO-AUTORIA. POSSIBILIDADE. ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL ENTRE O COMPORTAMENTO DO PACIENTE E O EVENTO DANOSO.
NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. VIA INADEQUADA.
1. É perfeitamente admissível, segundo o entendimento doutrinário e jurisprudencial, a possibilidade de concurso de pessoas em crime culposo, que ocorre quando há um vínculo psicológico na cooperação consciente de alguém na conduta culposa de outrem. O que não se admite nos tipos culposos, ressalve-se, é a participação.
Precedentes desta Corte.
3. Habeas Corpus denegado.
(HC 40474/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 06/12/2005, DJ 13/02/2006, p. 832)
	Assim, embora o liame subjetivo se apresente de forma diferente em relação aos crimes dolosos, com certas peculiaridades, não se pode negar que pode haver a mesma confluência de vontades exigida para a caracterização de um concurso. Ex: se dois homens que se entregam à mesma atividade, levantando uma parede, derrubando uma árvore, acionando uma máquina ou engenho industrial, não cuidarem de realizar essas diferentes ações com a necessária cautela e prudência, sendo previsível que dessa omissão poderia resultar um dano a outrem, serão coautores de um delito culposo se o dano realmente ocorrer.
	Assim, em delitos culposos, é possível a coautoria, pois pode ocorrer de cada um dos agentes coparticipantes, deixando de observar o dever objetivo de cuidado que lhes cabia, auxiliar os demais a praticar o ato comum que venha a causar o dano previsível a todos eles.
	Participação em crimes culposos	
	Ao contrário da coautoria, que é bastante aceita, a participação em crimes culposos é rechaçada pela doutrina. Há duas hipóteses a serem discutidas: participação culposa em crime culposo e participação dolosa em crime culposo.
	Situação de “participação dolosa” em crime culposo: A, que quer matar C, entrega uma arma a B, fazendo-o supor que está descarregada e induzindo-o a acionar o gatilho na direção de C. B, imprudentemente, aciona o gatilho e mata C. Não há participação. O que há é ERRO DETERMINADO POR TERCEIRO, que, no caso, por ser inescusável, enseja a punição de A por homicídio doloso e de B, por homicídio culposo. 
	Situação de “participação culposa” em crime culposo: X quer chegar logo ao estádio para ver o jogo do seu Verdão. Induz o motorista do veículo a imprimir velocidade excessiva, deixando, com isso, de observar o seu exigível dever de cuidado. Se vier a atropelar alguém em razão de sua conduta imprudente, o motorista será considerado autor do delito de homicídio ou lesões culposas. E aquele que induziu – ficará impune ou será partícipe?
	A doutrina brasileira entende que haveria coautoria, pois os que cooperam na causa, isto é, na falta do dever de cuidado objetivo, agindo sem a atenção devida, são coautores.
	Contudo, Rogério Greco entende que haveria participação, pois autor é aquele que pratica a conduta contrária ao dever objetivo de cuidado, ao passo que partícipe é aquele que induz ou estimula alguém a realizar a conduta contrária ao dever de cuidado. No exemplo, acima, X seria partícipe.
	Portanto, para o autor, não é possível a participação dolosa em crime culposo, mas é possível a participação culposa em crime culposo. A doutrina majoritária, contudo, entende que a participação em crime culposo NUNCA será possível.
	
	COAUTORIA EM CRIME CULPOSO – POSSIBILIDADE
	PARTICIPAÇÃO EM CRIME CULPOSO – IMPOSSIBILIDADE (DOUTRINA MAJORITÁRIA E STJ)
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
	O fato típico é composto pela conduta (comissiva ou omissiva/dolosa ou culposa), pelo resultado, pelo nexo causal entre a conduta e o resultado e pela tipicidade (formal e conglobante).
	O nexo causal é o elo necessário que une a conduta praticada pelo agente ao resultado por ela produzido. Sem o nexo não há relação de causalidade, o que implica não poder ser atribuído o resultado ao agente, por não ser ele o seu causador.
	O RESULTADO DE QUE TRATA O CAPUT DO ART. 13 do CP
	O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou a omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
	Há crimes que possuem resultado naturalístico, ou seja, provocam uma modificação no mundo exterior. Outros, porém, são incapazes de produzir tal resultado, porque nada modificam externamente que seja passível de percepção pelos nossos sentidos. Embora nem todos produzam resultado naturalístico, todos produzem resultado jurídico – lesão ou perigo de lesão ao bem juridicamente tutelado pela lei penal.
	Diante disso, discute-se a que resultado se refere o caput do art. 13. Neste ponto, a doutrina se divide.
	Por um lado, há os que acreditam que se aluda ao resultado naturalístico, exclusivamente, o que limitaria a aplicação do nexo causal aos crimes materiais e sua conseqüente inaplicabilidade aos delitos de simples atividade, bem como aos omissivos próprios.
	Por outro lado, sustenta-se que não há crime sem resultado, isto é, todos os crimes exigem um resultado. Sendo assim, o resultado que é sempre exigido é o resultado jurídico, uma vez que o resultado naturalístico só é exigido nos crimes materiais.
	Rogério Greco assevera que, nas edições anteriores, entendia que o resultado em questão seria apenas o resultado naturalístico. No entanto, mudou de posição, entendendo que o resultado em tela é o jurídico, pois a limitação do resultado ao naturalístico impediria o reconhecimento, em diversas infrações penais, da responsabilidade penal do agente garantidor, como se demonstrará na parte especial.
	Portanto, o resultado mencionado pelo art. 13 deve ser entendido como o jurídico (lesão ou perigo de lesão ao bem juridicamente protegido pelo tipo penal), e não o meramente naturalístico (modificação no mundo exterior).
	TEORIAS SOBRE A RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
	Destacam-se três teorias:
	a) Teoria da causalidade adequada (von Kries);
	Causa é a condição necessária e adequada a determinar a produção do evento. A conduta é adequada quando é idônea para gerar efeitos. Assim, excluídos os acontecimentos extraordinários, fortuitos, excepcionais e anormais, temos que a teoria da causalidade adequada leva em conta as circunstâncias necessárias e idôneas à causação do evento.
	b) Teoria da relevância jurídica;
	Entende como causa as condições relevantes para o resultado. Só o objetivamente previsível é causa relevante. Mezger vai trazer um segundo critério – a interpretação teleológica dos tipos. Ex: pessoa joga balde de água em uma represa cheia, fazendo com que se rompa o dique. Não deverá ser responsabilizada, pois sua conduta não pode ser considerada relevante a ponto de ser-lhe imputada a infração penal do art. 254 do CP (inundação)
	c) Teoria da equivalência dos antecedentes causais (ou da conditio sine qua non – von Buri)
	Considera-se causa a ação ou a omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Isso significa que todos os fatos que antecedem o resultado se equivalem, desde que indispensáveis à sua ocorrência. É a teoria adotada pelo CP.
	Verifica-se se o fato antecedente é causa do resultado a partir de uma eliminação hipotética. Se, suprimido mentalmente o fato, vier a ocorrer uma modificação no resultado, é sinal de que aquele é causa deste último. Ex: A causa a morte de B. Fatos: i) produção do revólver pela indústria; ii) aquisição de arma pelo comerciante; iii) compra do revólver pelo agente; iv) refeição tomada pelo homicida; v) emboscada; vi) disparos dos projéteis na vítima; vii) resultado morte. Dentro dessa cadeia, excluindo-se os fatos 1, 2, 3, 5 e 6, o fato não teria ocorrido. Mas se excluirmos o fato 4, o evento teria acontecidodo mesmo jeito. Isso significa que a refeição tomada pelo sujeito não é considerada causa do resultado.
	Há, no entanto, uma pequena falha nesta teoria quando se está diante de fatos que, isoladamente, teriam plenas condições de produzir o resultado. Ex: A e B proporcionam, independentemente, a C uma dose mortal de veneno, na mesma comida. Abstraindo-se a conduta de A, o resultado concreto teria ocorrido também como conseqüência da conduta de B. O mesmo valeria se abstraíssemos a conduta de B. Diante disso, Welzel propõe a seguinte fórmula: se existem várias condições das que cabe fazer abstração de modo alternativo, mas não conjuntamente, sem que deixe de produzir-se o resultado, cada uma delas é causal para a produção do resultado.
	REGRESSÃO EM BUSCA DAS CAUSAS DO RESULTADO
	A crítica que se faz à teoria da equivalência dos antecedentes causais diz respeito ao fato de que, havendo necessidade de regressão em busca de apontar todas as causas que contribuíram para o resultado, chegaríamos a uma regressão ad infinitum. Ex: crime de homicídio – poderia ser responsabilizado até o proprietário da empresa encarregada da produção de revólver. Nem a mãe nem o pai, por terem concebido o agente, ficariam imunes.
	Contudo, para que seja evitada tal regressão, deve-se interromper a cadeia causal no instante em que não houver dolo ou culpa por parte daquelas pessoas que tiveram alguma importância na produção do resultado. Assim, se o agente adquiriu legalmente o revólver, não dá para responsabilizar o proprietário da empresa, interrompendo-se a cadeia causal.
	PROCESSO HIPOTÉTICO DE ELIMINAÇÃO DE THYRÉN
	Para considerarmos determinado fato como causa do resultado é preciso que façamos um exercício mental da seguinte maneira:
	I – Temos de pensar no fato que entendemos como influenciador do resultado;
	II – Devemos suprimir mentalmente esse fato da cadeia causal;
	III – Se, como conseqüência dessa supressão mental, o resultado vier a se modificar, é sinal de que o fato suprimido mentalmente deve ser considerado como causa deste resultado.
	Ex: Eliminação mental da fabricação da arma. O resultado teria ocorrido? Não.
	Ex2: Eliminação mental da refeição ingerida pelo agente. O resultado teria ocorrido? Sim. Não houve modificação alguma no resultado.
	OCORRÊNCIA DO RESULTADO
	Para que se possa falar em causa, como vimos, é preciso que, de acordo com o processo hipotético de eliminação de Thyrén, o fato suprimido mentalmente modifique o resultado. Mas será que só é causa o que modifique, no caso concreto, efetivamente o resultado?
	Situação: agente caminha pela estrada e ouve gritos de socorro, que vêm de inimigo que está abraçado a um finíssimo galho de árvore à beira do precipício. Como não havia ninguém por perto, ele, aproveitando a oportunidade, sacode o galho para que a vítima caia, o que efetivamente ocorre. 
	Nesta situação, mesmo que o agente não tivesse sacudido a árvore, a vítima não teria salvação, pois o galho já estava se rompendo. Isso significa que mesmo que o agente não tivesse balançado a árvore, o resultado teria ocorrido. Contudo, ele não teria ocorrido como ocorreu. O agente antecipou a morte da vítima sacudindo o galho onde esta se encontrava agarrada. Deve, portanto, responder pelo resultado a que deu causa, ou seja, pelo homicídio.
	Em suma, o agente não deve interferir na cadeia causal, sob pena de responder pelo resultado, mesmo que este, sem a sua colaboração, fosse considerado inevitável.
	Assim, deve-se acrescentar a expressão como ocorreu ao caput do art. 13: “Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido, (como ocorreu)”.
	ESPÉCIES DE CAUSAS
	Causa absolutamente independente
	É aquela em razão da qual o resultado teria ocorrido, mesmo se não tivesse havido qualquer conduta por parte do agente. As causas absolutamente independentes podem ser:
	a) Causa preexistente absolutamente independente
	Ocorre anteriormente à conduta do agente. Não deve ser imputada ao agente. Ex: A, querendo a morte de B, contra este desfere um tiro, acertando-o no tórax. B, porém, vem a falecer em razão de veneno que ingerira, em ataque suicida, minutos antes.
	Se suprimirmos mentalmente o disparo de A em B, este teria morrido mesmo assim. Assim, A só responderá pelo seu dolo, referente à prática do crime de tentativa de homicídio.
	b) Causa concomitante absolutamente independente
	Ocorre numa relação de simultaneidade com a conduta do agente. Não deve ser imputada ao agente. Ex: A e B, com armas de calibres diferentes, atiram contra C, sem coautoria. O projétil de B causou a morte, ao passo que o de A só lhe causou um raspão. B responderá por homicídio, enquanto A responderá apenas pelo seu dolo (tentativa de homicídio), pois não foi o causador fatal – se eliminarmos sua conduta, o resultado-morte teria ocorrido mesmo assim.
	c) Causa superveniente absolutamente independente
	É a causa ocorrida posteriormente à conduta do agente e que com ela não possui relação de dependência alguma. Ex: A e B discutem no interior de uma loja. A atira em B. Logo após, o prédio em que estavam desaba e, posteriormente, comprova-se que B não morrera em virtude do disparo recebido, mas sim por ter sido soterrado. A conduta de A não causou o resultado, razão pela qual deverá responder somente pelo conatus (tentativa de homicídio).
	Em resumo, quando o resultado naturalístico ocorrer em virtude da existência de qualquer uma das causas absolutamente independentes (preexistentes, concomitantes e supervenientes) não poderá ele ser atribuído ao agente, que responderá tão-somente pelo seu dolo.
	CAUSA ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE – AGENTE SÓ RESPONDE POR SEU DOLO E NÃO PELO RESULTADO DECORRENTE DA CONCAUSA 
	Causa relativamente independente
	É a causa que somente tem a possibilidade de produzir o resultado se for conjugada com a conduta do agente. A ausência de qualquer uma delas faz com que o resultado seja modificado. As causas relativamente independentes podem ser:
	a) Causa preexistente relativamente independente
	É aquela que já existia antes mesmo do comportamento do agente e, quando com ele conjugada numa relação de complexidade, produz o resultado. Exemplo clássico: vítima hemofílica. A desfere um golpe em B que, em conjunto com o fato de ser hemofílico, provoca sua morte. 
	Se o agente soubesse da condição (“hemofílico”) de B, deveria ser punido de acordo com seu dolo – se queria a morte, homicídio; se queria provocar a lesão, lesão corporal seguida de morte. Se, no entanto, desconhecia tal condição, não poderá ser responsabilizado pelo resultado morte, pois estaria sendo responsabilizado objetivamente. Só seria responsabilizado, no caso, por lesões corporais simples.
	Processo hipotético de eliminação – se excluir a condição de hemofílico, não há morte. Se excluir o golpe, não há morte. Assim, o resultado morte é uma conjugação da conduta do agente com uma causa (hemofilia) que já existia anteriormente. O agente responderá pelo homicídio doloso ou pela lesão corporal seguida de morte, dependendo do seu dolo (se sabedor da condição de hemofílico de B).
	b) Causa concomitante relativamente independente	
	Concomitante é a causa que, numa relação de simultaneidade com a conduta do agente e com ela conjugada, também é considerada produtora do resultado. Ex: A atira em B no exato instante em que ele está sofrendo um ataque cardíaco, provando-se que a lesão contribuiu para o resultado morte. A conduta do agente e o colapso cardíaco são, conjuntamente, causadores do resultado morte, razão pela qual o agente responderá pelo delito de homicídio doloso consumado.
	c) Causa superveniente relativamente independente
	É aquela ocorrida posteriormente à conduta do agente, e que com ela tenha ligação. Segundo o § 1º do art. 13, as causas supervenientes relativamente independentes só podem excluir a imputação quando, por si sós, produzirem o resultado.
	Exemplo clássico:pessoa atingida por arma de fogo é levada ao hospital. Quando no hospital, há um atentado terrorista, e a vítima vem a falecer não em virtude dos ferimentos originários do disparo por ela recebidos, mas em razão do desabamento do prédio.
	Se aplicarmos o processo hipotético de eliminação, se retirarmos o disparo recebido pela vítima, esta não teria sido conduzida ao hospital e, portanto, não teria morrido soterrada. Por outro lado, se retirarmos o desabamento do prédio, a morte da vítima também não teria ocorrido como ocorreu.
	A chave está na expressão por si só. Apenas os resultados que constituírem desdobramento natural da ação é que poderão ser imputados ao agente. Situação: ambulância que sofre acidente de trânsito a caminho do hospital, vindo a vítima a falecer em razão da colisão. O agente não responderá por homicídio, pois a morte não estava na chamada linha de desdobramento físico da conduta praticada pelo agente. Afinal, aquele que recebe disparos de arma de fogo não morre preso entre os destroços de veículos que colidem.
	Outra situação: após sofrer o tiro, B chega ao hospital, onde contrai uma infecção hospitalar em razão dos ferimentos por ele sofridos. Será que podemos considerar a infecção hospitalar como um desdobramento natural da conduta inicial? Se entendermos que sim, a infecção deve ser considerada como uma linha de desdobramento físico, respondendo o agente pelo resultado morte. Caso contrário, o agente responderá somente pelos atos já praticados, isto é, pelo seu dolo, sendo a ele imputada a tentativa de homicídio.
	Linha de desdobramento físico e significância de lesão
	Como vimos, para que possamos atribuir o resultado ao agente é preciso que este esteja na mesma linha de desdobramento físico da ação. Assim, se alguém é ferido com um instrumento cortante e, devido ao tratamento inadequado que recebe, contrai tétano e vem a falecer, temos, pelo menos inicialmente, que o tétano é um desdobramento natural da lesão.
	Mas será que em toda e qualquer lesão o resultado mais gravoso deve ser atribuído ao agente? Para evitar conclusões absurdas, o resultado tido como conseqüência da linha de desdobramento físico da ação do agente somente deve ser aquele produto de uma lesão que tenha significância, que seja de relevo.
	Ex: A fere o dedo mínimo de B com um canivete enferrujado. B não recebe a higienização adequada, contrai tétano e morre. Será que A cometeu homicídio? O tétano está na mesma linha de desdobramento físico da ação do agente (lesão por instrumento cortante), porém a lesão é insignificante. Se, em face do vultoso resultado, que o agente não quis e nem podia impedir ou evitar, a causa anterior é de menor importância, a cadeia deve ser rompida, de forma que o agente só responderá pelo fato menos grave decorrente de sua conduta.
	Portanto, temos que a imputação do resultado na causa superveniente relativamente independente depende da mesma linha de desdobramento físico da ação inicial + significância da lesão.
	Conclusão – Causas relativamente independentes
	As causas preexistentes e concomitantes relativamente independentes, quando conjugadas com a conduta do agente, fazem com que este sempre responda pelo resultado, desde que estejam na sua esfera de conhecimento. Já nas causas supervenientes relativamente independentes o resultado somente poderá ser imputado ao agente se estiver na mesma linha de desdobramento natural da ação; caso contrário, se a causa superveniente por si só produzir o resultado, o agente só responderá pelo seu dolo, devido ao rompimento na cadeia causal.
	CAUSA PREEXISTENTE RELATIVAMENTE INDEPENDENTE – AGENTE RESPONDE PELO RESULTADO SE A CAUSA ESTIVER NA SUA ESFERA DE CONHECIMENTO
	CAUSA CONCOMITANTE RELATIVAMENTE INDEPENDENTE – AGENTE RESPONDE PELO SEU RESULTADO SE A CAUSA ESTIVER NA SUA ESFERA DE CONHECIMENTO
	CAUSA SUPERVENIENTE RELATIVAMENTE INDPENDENTE – O RESULTADO SOMENTE SERÁ IMPUTADO SE ESTIVER NA LINHA DE DESDOBRAMENTO NATURAL DA AÇÃO
	OMISSÃO COMO CAUSA DO RESULTADO	
	O CP permite que a omissão possa ser considerada causa do resultado, o que significa que a omissão do agente terá importância quando ele se abstiver de fazer aquilo que a lei lhe impunha naquele momento.
	CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS E IMPRÓPRIOS
	
	Crimes omissivos próprios são objetivamente descritos como uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, ao passo que os crimes omissivos impróprios (comissivos por omissão) são aqueles que, para sua configuração, é preciso que o agente possua um dever de agir para evitar o resultado.
	OMISSÃO PRÓPRIA – CONDUTA NEGATIVA
	OMISSÃO IMPRÓPRIA – PRESSUPÕE UM DEVER DE AGIR CUJA OMISSÃO ACARRETA CONDUTA POSITIVA
	O dever de agir, nos crimes omissivos impróprios, não é atribuído a qualquer pessoa, e sim apenas aos garantes – possuidores de uma qualidade específica-, no que difere dos crimes omissivos próprios, que são atribuídos a qualquer pessoa.
	Somente assumem a posição de garantes aquelas pessoas que se amoldem ao previsto no § 2º do art. 13 do CP (I - pessoas que têm por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; II - pessoas que de, outra forma, assumiram a responsabilidade de impedir o resultado; III - pessoas que, com seu comportamento anterior, criaram risco de ocorrência do resultado).
	A diferença básica entre o crime omissivo próprio e o impróprio é que naquele o legislador faz expressamente a previsão típica da conduta que deve ser imposta ao agente. Caso o agente se abstenha de praticá-la, incorrerá nas sanções cominadas a tais tipos penais. Ex: omissão de socorro (135), abandono material (244), abandono intelectual (246), prevaricação (319). 
	Já nos crimes omissivos impróprios, tipos abertos, não há essa prévia definição típica. É preciso que o julgador realize a adequação, situando a posição de garantidor do agente aos fatos ocorridos, considerando, ainda, a sua real possibilidade de agir. (normas de extensão)
	Enquanto no crime omissivo próprio a conduta é negativa, no crime omissivo impróprio é positiva, isto é, comissiva, só que praticada via omissão do agente que, no caso concreto, tinha o dever de agir para evitar o resultado. Por isso se diz que se trata de crime comissivo por omissão.
	Os resultados, nos crimes omissivos impróprios, podem ser obtidos a título de dolo ou culpa. Ex: salva-vidas que não presta socorro porque seu inimigo está se afogando – dolo. Salva-vidas que chega tarde para salvar porque agiu de forma negligente – achou que a pessoa estava fingindo.
	
	CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS
	CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS
	Crimes de mera conduta
	Crimes de resultado
	Tipos penais específicos
	Não têm tipologia específica
	Possuem causalidade fática
	Possuem causalidade jurídica. Trata-se de ficção jurídica.
	Dispensam a investigação sobre a relação de causalidade (por serem crimes de mera conduta)
	Exigem um dever de agir para evitar um resultado concreto.
	
	A norma dirige-se apenas às pessoas com especial relação de proteção com o bem jurídico.
	
	Pressupõe:
a – poder de agir;
b – evitabilidade do resultado;
c – dever de impedir o resultado.
	RELEVÂNCIA DA OMISSÃO
	Segundo o § 2º do art. 13, a omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. A lei exige a conjugação de duas situações: dever de agir e poder de agir.
	O dever de agir é um dever especial de proteção, o qual faz surgir a posição de garantidor, como vimos. Ressalte-se que a posição de garantidor não exige que o garante evite, a qualquer custo, o resultado. O que a lei faz é despertar o agente para sua obrigação. Se ele realiza tudo o que estava a seu alcance a fim de evitar o resultado lesivo, mas, mesmo com seu esforço, este vem a produzir-se, não poderemos a ele imputá-lo. Ex: salva-vidas – se ele prontamente presta o socorro, valendo-se de todos os recursos que tinha, e o resultado morte ocorre mesmo assim, não haverá responsabilização.

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