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Cap. III NORMATIZAÇÃO DA VIDA SOCIAL

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Capítulo III
Normatização da vida
social
	Regras técnicas
	Nosso comportamento é regido tanto por leis éticas: (jurídicas, morais, religiosas, convencionais) como por leis naturais.
	As ciências naturais, que estudam os objetos naturais, nos ensinam regras que influenciam nossa conduta. São as chamadas regras técnicas, aplicações práticas de conhecimentos científicos.
	As condutas não devem ser analisadas somente sob o prisma técnico ou ético. Uma mesma conduta pode (e deve) ser analisada sob os dois pontos de vista – técnico e ético. E poderemos chegar a situações diversas:
	a) uma conduta eticamente errada, mas tecnicamente perfeita: (o homicida que mata o indivíduo com uma só bala, que causa-lhe morte instantânea, impedindo a vítima de reagir ou de denunciar o criminoso);
	b) uma conduta tecnicamente desastrosa mas eticamente correta: (uma pessoa que não sabe nadar mas se atira à água para salvar uma criança que está se afogando);
	c) uma conduta técnica e eticamente correta: (um médico que, aplicando as regras de sua profissão, opera o paciente, cumprindo, assim, o seu contrato de prestação de serviços);
	d) uma conduta técnica e eticamente incorreta: ( um indivíduo que atira em outro, querendo matá-lo, mas produzindo apenas lesões corporais. Conduta eticamente incorreta, porque matar é proibido, e tecnicamente incorreta porque não atingiu a finalidade – matar, mas outra, também ilícita: lesão corporal).
	A distinção entre regras técnicas e normas éticas foi feita por Korkounov:
	“as normas técnicas são regras que se
aplicam para a realização dos diferentes
fins da vida humana; as normas éticas
para a realização simultânea de todos 
os fins humanos...as normas técnicas
são as regras que indicam a maneira de
agir para alcançar um fim determinado...
cada norma técnica diferente persegue
um só fim determinado sem tocar nas
relações com os outros”.(KORKOUNOV,
1903, p.45)
	Por outro lado, a diferença entre regra técnica e norma ética está também em que a primeira é facultativa e a segunda é obrigatória. Se quer obter um resultado, de um modo seguro, rápido, eficaz, indolor, etc, o indivíduo deve estar a par das regras técnicas mais apropriadas para aquele mister. Mas esse conflito, usar ou não usar as regras, agora ou depois, é um conflito intra-subjetivo. O indivíduo, ele só, resolverá se vai atingir o fim ou não; se vai fazê-lo de modo tecnicamente correto ou não.
	 O que se quer dizer é que a regra técnica, por si só, não é obrigatória, porque não impões deveres, nem para com os outros nem para comigo mesmo.
	Mas, poder-se-ia objetar: há muitas situações em que somos obrigados, jurídica ou moralmente, a adotar uma regra técnica. Um cirurgião, ao iniciar uma cirurgia, deve estar cônscio de que não pode executar o procedimento sem que o paciente tenha sido previamente anestesiado por outro médico. Logo – a anestesia prévia é um procedimento técnico correto e é juridicamente obrigatório.
	Mas é importante observar que, quando alguém é obrigado a cumprir uma regra técnica é porque esta passou a ser objeto de uma conduta normatizada. Não é a regra técnica em si mesma, que é obrigatória; é a conduta técnica que é obrigatória.
	Quanto a finalidade, também há completa distinção, como diz Korkounov:
“As normas técnicas são as regras a aplicar
para a realização de fins distintos da atividade
humana; as normas éticas, para a realização
simultânea de todos os fins humanos”
	Normas éticas
	A palavra vem do latim “norma, ae”, com o significado originário de “esquadro, régua”, instrumento que serve para traçar uma linha reta, um camino reto.
	A norma é uma regulação de conduta, que nos impõe um dever. Mas só há dever quando temos a liberdade de escolher. Podemos não aceitar o preceito normativo; e neste caso estaremos descumprindo o dever, esperando então enfrentar uma consequência desagradável: a reprovação social, o remorso, o arrependimento, a multa, a reclusão, dependendo da espécie de norma que estejamos descumprindo. Estamos falando da sanção.
	De início, nos albores da civilização, todas as normas tinham uma mesma feição e provinham de uma fonte religiosa. Foi assim entre os sumérios, os egípcios, os judeus, etc.
	O direito mesopotâmico, o mais antigo que se conhece, tinha nítida feição religiosa, mas ao mesmo tempo jurídica e moral.
	Em relação ao primitivo Direito Romano:
“O antigo direito romano, como todo direito arcaico,
 é essencialmente consuetudinário: ' mos maiorum,
 consuetudo'. Trata-se antes de mais nada dos
 constumes de cada clã, mesmo de cada família...
Direito e religião não estão ainda diferenciados; em
 todo caso não há diferença entre o direito sagrado e 
o direito secular. Eram apenas os sacerdotes – os 
pontífices – que conheciam as formas rituais e as
interpretava. Guardaram esse segredo até 300-250 a.C.”
(GILISEN p.85)
	Era aquilo que os evolucionistas chamavam de “homogêneo confuso”, em que as normas de controle social não se distinguiam umas das outras:
	Na vida social primitiva existia um costume
indiferenciado, que apresentava vertentes 
religiosas, jurídicas e morais...apareciam
assim irmanados moral, Direito e religião... 
(AFTALIÓN, VILA NOVA E RAFFO, 1999, p.387)
	Posteriormente, foram-se destacando esses três modos de avaliar a conduta humana em sociedade.
	Na Grécia, não distinguiram seus mais importantes filósofos o Direito da Moral. Platão, por exemplo, considerava a justiça como virtude, identificando justiça (ideia jurídica) com virtude (ideia moral).
	Em Roma, a diferença entre religião, moral e Direito foi percebida, mas não explicitada. Há definições célebres, com as quais se enchem os compêndios. O jurisconsulto Celso, citado por Ulpiano, dizia, por exemplo, que “ o direito é a arte do bom (ideia moral) e do equitativo (ideia juridica). Outro jurista famoso daquela época, Paulo, distinguiria: “nem tudo que é lícito é honesto.”
	Jesus Cristo, contemporâeo, pronunciou a frase célebre: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, distinguindo as duas ordens normativas: jurídica e religiosa.
	Mas é conveniente penetrarmos um pouco mais detalhadamente na questão; e o fazemos através de Girard:
	“Os romanos distinguiram mais rapidamente
que muitos outros povos a lei religiosa
relativa às relações dos homens com os seus
deuses (faz) e também perceberam a demarcação
que a separa da moral, cujas regras, consideradas
como não interessando à utilidade pública, são
obrigatórias somente diante da consciência e
podem ser violadas sem castigo. No entanto, a
distinção entre o direito e a moral, que foi delicada
de fazer, em teoria, em todos os tempos, se
desenhou, na prática, menos nitidamente, na
época antiga de Roma, onde a legislação era 
exclusivamente costumeira; e, mesmo entre os
romanos, houve forçosamente uma mistura entre
o direito e a religião, tanto que os poderes políticos
e religiosos permaneceram reunidos nas mesmas mãos”.
	Essa indistinção, permaneceu durante a Idade Média. Não era interesse da Igreja separar os conceitos, renunciando o Papado o seu caráter de instituição política e jurídica.
	Mas com Thomasius, início do século XVIII, essa distinção ficou bem clara. Para ele, seguido de perto por Kant, utilizando material já contido na Bíblia e em Confúcio:
	a) a moral se refere apenas ao foro interno, enquanto que o Direito se preocupa com o foro externo, isto é, o aspecto social, visível, da conduta;
	b) o foro da conciência, portanto, é território livre da ação do Estado, que não pode imiscuir-se no pensamento de cada um para impor-lhe determinadas crenças (acreditar em Deus, ser honesto, etc);
	c) portanto, o fim da moral é o aperfeiçoamento íntimo do insivíduo; o do Direito é a coexistência social;
	d) e mais: os deveres jurídicos são perfeitos, porque protegidos pela ameaçada força (ou a sua efetiva aplicação) contra os infratores; os deveres morais são imperfeitos, porque seu cumprimento não pode ser obtido por tal meio coercitivo;
	e) o preceito fundamental da moral é: “faz a ti mesmo o que quererias que os outros fizessem a eles mesmos”, enquanto que no Direito a regra maior seria: “não faças aos outros aquilo que não quererias que te fosse feito”.
	Hoje em dia, praticamente a unanimidade dos autores admite a existência distinta de quatro espécies de normas reguladoras da vida social significativa, cada uma com seus caracteres, modo de atuação e finalidades distintos, das quais estudaremos agora as de natureza não jurídicas.
	Normas religiosas
	“são estas as normas que os crentes de uma
confissão religiosa reputam derivadas e sancionadas
pela divindade, e ao mesmo tempo normas que pescreve
a autoridade religiosa ou eclesiástica. Estsa normas têm
conteúdo específico e delimitado, porque não consideram
somente as relações do homem com a divindade, as práticas
do culto, etc., mas abarcama vida em quase todas as suas
manifestações. Tanto que as normas religiosas compreendem
em si todas ou quase todas as normas morais; por isto
justamente toda religião, quanto maior seja o desenvolvimento
conseguido, tem sempre um conteúdo ético...Mas por amplo que seja
seu conteúdo, a norma religiosa tem sempre um caráter específico
e essencial, que é o de referir-se, sempre, qual a um último fim, a 
uma divindade...e sua função específica é a de fazer os homens pios,
devotos, santos” (VANNI)
	Existem, portanto, duas espécies de preceitos religiosos:
	→ O que relaciona o fiel diretamente com sua divindade; que não implica em relacionamento com qualquer outro sujeito, pessoa humana, viva; e que, portanto,não consiste em uma conduta social;
	→ Outra, que consiste em uma relação com outro sujeito, o que vise o fiel não seja prestar contas ou homenagear esse outro sujeito, mas ao seu Deus.
	 O fiel integrante de uma Igreja mantém com os seus co-paroquianos intensas relações sociais – ir à missa ou ao culto; pagar o dízimo, etc.
	Mas, pertencendo ao foro interno desse indivíduo, esse relacionamento fundamenta-se na íntima convicção que o indivíduo tem que assim agir. Ninguém pode obrigá-lo, externamente; ele é quem tem que convencer-se de que assim de ve agir.
	O descumprimento da norma religiosa, se o indivíduo é realmente religioso, provoca consequências desagradáveis (sanções). Primeiro, a nível puramente interno, como a sensação de estar em pecado, o arrependimento, etc. Mas as consequências desagradáveis podem ser também de natureza social.
	O Código de Direito Canônico da Igreja Católica, promulgado em 1983, por exemplo, trata minuciosamente das “sanções da Igreja”, não cogitando de mandar alguém para o inferno, mas de impor-lhe penalidades terrenas.
	Entre as sanções destaca-se a excomunhão, que proíbe o excomungado de “ter qualquer participação ministerial na celebração do sacrifício da Eucaristia ou em qualquer outras cerimônias do culto (Cân. 1331, §1º).
	É comum a afirmativa de que, mesmo quando o Estado mantém-se formalmente separado da Igreja, sua estrutura jurídica e social reflete a influência da religião principal.
	No Brasil, desde a proclamação da República, o Estado separou-se da Igreja Católica; mas a Constituição Federal de 1988 garante a liberdade de culto. Seu art. 5º, VI, asssim detremina:
“é inviolável a liberdade de consciência e de
crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
proteção aos locais de culto e as suas liturgias.”
	No entanto, a noção mais clara de diferença entre norma religiosa e norma jurídica, entre Igreja e Estado, entre consciência religiosa e consciência jurídica, talvez se encontre na “Declaração expositiva dos direitos dos habitantes da Pensilvânia”:
“Cap.I,II – todos os homens têm o direito natural e
inviolável de adorar ao Deus Todo-Poderoso da maneira
que lhes for ditada por sua consciência e suas luzes. Nenhum
homem deve nem poderá ser legitimamente constrangido a 
abraçar uma forma particular de culto religioso, nem a vincular-se
ou frequentar um lugar particular de culto, nem ser exortado pelos
ministros de religião contra sua vontade, ou sem seu próprio e
livre consentimento; nenhum homem que reconheça a existência
de Deus poderá ser privado de qualquer direito civil como cidadão,
nem atacado por qualquer modo em razão de seus sentimentos em
matéria de religião, ou na forma particular de seu culto; nenhum
poder do Estado pode ou deve arrogar-se o exercício de autoridade
que faculte, em qualquer caso, perturbar ou constranger o direito
de conciência no livre exercício do culto religioso.”
	Normas de moral
	A moral nada mais é que a religião sem Deus. Mas aqui, dada a finalidade específica do nosso estudo, estamos interessados em demonstrar a diferença entre Moral e Direito.
	a) as normas de moral constituem um conjunto de preceitos imperativos que seguimos em nosso relacionamento social; mas, apesar de haver na relação um “outro”, o que pretendemos mesmo é alcamçar nosso próprio aperfeiçoamento individual, realizando o valor “honestidade”:
“a moral estabelece normas de conduta...de
natureza predominantemente interior, destinadas
a estabelecer uma ordem (a ordem moral) entre os
atos tendentes à consecução de “bem”, como fim 
natural do homem”.(RAO)
	b) por seu turno, o direito estabelece normas de conduta de natureza predominantemente exterior e
“destinadas a manter a livre coexistência e
o desenvolvimento das faculdades atribuídas ao
homem, e, por via de consequência, a existência
e o progresso da comunhão social”.(RAO)
	c) a norma jurídica está armada com sanção externa e organizada, preestabelecida, ao passo que a norma moral tem geralmente uma sanção inorganizada, falível, não conhecida pelos outros. As sanções morais são internas; arrependimento, vergonha, remorso, que muitas vezes não alcançam o indivíduo de pouca sensibilidade. H, porém, a possibilidade de aplicação de sanções sociais, indo até à exclusão do desonesto dos grupos sociais a que ele pertence. Caso especialíssimo é o do decoro parlamentar, em que o congressista pode ser punido por cometer uma falta moral ou até mesmo de etiqueta;
	d) no entanto, é enorme a quantidade de normas jurídicas que têm inspiração nas norms morais e religiosas. O principal direito do sujeito, o de manter-se vivo, é preceito moral e religioso antes mesmo de ser jurídico. O homicídio é pecado, é imoralidade e pé crime;
	e) enquanto que o cumprimento do ato moral depende da pureza de intenção do agente, o direito só raramente se preocupa com o motivo da obediência do sujeito submetido ao dever.(ex.: No Direito Penal, vg. a diferença entre o crime praticado com intenção de delinquir e o praticado por mera imprudência é fundamental para a fixação da pena a ser aplicada ao criminoso. É a diferença entre o crime doloso e culposo.
	No entanto, a mais acatada distinção entre moral e direito é aquela de Giorgio Del Vecchio, para ele, só há dois tipos de normas: a jurídica e a moral.
“as valorações jurídicas implicam sempre uma
referência transubjetiva. O que um sujeito pode
juridicamente, pode frente aos demais: a faculdade
de exigir alguma coisa de outro. Enquanto as valorações
morais são “subjetivas” e “unilaterais”, a jurídicas, em
troca, são “objetivas” e “bilaterais”. A norma ética, no
primeiro sentido é a norma só para o sujeito; isto é, o
preceito moral indica uma diretriz só para aquele que
deve agir... Pelo contrário, no sentido jurídico, as
determinações do agir são sempre “bilaterais” e estão
concatenadas”.
	Logo,
	Isto é: há deveres que são jurídicos e morai simultâneamente (não roubar); há outros que são só deveres morais (solidarizar-se com um amigo que perdeu um parente);há outros que são somente deveres jurídicos [obedecer a uma luz vermelha ( por que não amarela?) e parar o carro]; e há de veres jurídicos francamente imorais. Há dever jurídico mais imoral do que ir à guerra para matar os outros.
	
	Normas de uso social
	São as normas de cortesia ( “bom dia”, “boa noite”), de boa educação (“senhor”), de convivência social (“missa de sétimo dia”).
	Nosso comportamento muitas vezes é direcionado por essas normas, que em nada contribuem para o nosso aperfeiçoamento moral, não nos conduzem ao paraíso, não nos colocam nem nos tiram da cadeia, mas que nos sentimos obrigados a obedecer. Não importa se eu, no meu íntimo, quero ou não que o sujeito com quem convivo tenha um bom dia:ao vê-lo sinto-me obrigado ao dizer-lhe, em voz cordial “bom dia!”. E se eu passar pelas pessoas que conheço sem cumprimentá-las, terminarei ganhando fama de ser um tremendo mal educado. Logo: há sanções para o não cumprimento dessas normas, que vão até a exclusão do infrator do seu grupo social. Mas elas são inorganizadas.
.:Inorganizado é algo que não é organizado e não será organizado. Desorganizado é aquilo que deveria estar organizado mas não está, seja qual for o motivo.
	A respeito dessas normas, vale reproduzir Icilio Vanni, pois ele demonstra a importância delas também para o Direito e para a Moral:
“Este conjunto de normas descansa... sobre
sentimentos e ideias de uma certa comunidade...
As normas existentes de uma maniera confusa na
consciência do grupo mais ou menos amplo e se 
consolidam logo em práticas de agir, que chamamos
costumes. Também estas normas do costume implicam
um juízo de aprovação ou desaprovação, segundo sua
observância ou não por parte de toda comunidade, ou
daquele círculo social, ou daquela classe. Mas esse
juízo difere completamente do que falamos antes e
	que acompanha a observância ou não das normas morais.
Este último é um juízo que afeta completamente a 
personalidade do agente, e a violação da norma 
apresenta um índice de imoralidade, enquanto que
a violação de uma norma de costume se considera
simplesmente como uma inconveniência. E enquanto
o juízo se segue à violação da norma mora a
considera própria da vontade boa ou má do agente, 
o que se segue ao ato relativo a uma prática costumeira
olha só o que a vista alcança, ou seja, a forma 
exterior nas relações de sociabilidade...As normas
do costume querem mitigar e suavizar as asperezas nos 
contatos sociais e facilitar as relações de sociabilidade.
Esta função tem um valor ético, e teve razão Ihering, em
 sua obra “O fim do Direito”, ao dizer que, por distinta
que seja da moralidade, todavia, ao menos de certo modo,
o costume é um sustentáculo dela. Isto é certo, sobretudo
naquelas normas de costume que visam a cortesia, o que
tem um valor mais intimamente ético ao impor respeito
às demais individualidades”.

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