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Cap. IV CARACTERES DIFERENCIADORES DAS NORMAS DE CONDUTA SOCIAL

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Capítulo IV
Caracteres diferenciadores
das normas de conduta social
	O que nos interessa aqui é distinguir as normas jurídicas de todas as outras. E para isso o exame dos caracteres de cada norma tem muita valia.
	Antes de mais nada é preciso descartar duas falsas noções: a da generalidade e da imperatividade.
	Generalidade
	Dizem os doutrinadores mais antigos que a norma deve ter um conteúdo próprio: ela deve ser geral.
	→ Não significa UNIVERSALIDADE. Não há norma universal, isto é, que se aplique a todos os sujeitos e a todas as situações. A norma jurídica tem a estrutura lógica de um juízo hipotético: ela só se aplica dentro de determinadas condições, àqueles sujeitos que estejam naquela situação.
	→ A generalidade significa IMPESSOALIDADE. Dita-se a norma sem saber a quem ela se aplicará, e com critérios estabelecidos com antecedência (o fato antes da norma entrar em vigor). Assim, generalidade significa que os destinários da norma são desconhecidos no momento da sua elaboração.
	→ Mas o dito anteriormente só se aplica ao caso da lei. O Direito não contempla, porém, apenas as normas gerais. Ao lado delas, existem as NORMAS INDIVIDUAIS, aquelas que só se aplicam a pessoas expressamente indicadas nela mesma. Dessa forma, o contrato, a sentença judicial, o testamento, o ato administrativo singular, contêm normas jurídicas mas não possuem generalidade.
	Imperatividade
	Realmente, toda norma jurídica é imperativa. Significa que não se aconselha, não exorta, não contém um simples discurso. Ela manda que pratiquemos determinada conduta. Impões um dever.
	O que importa considerar aqui é que não é possível distinguir as normas jurídicas das outras normas pela imperatividade, já que todas são imperativas.
	Examinemos agora os caracteres essenciais das normas de conduta social. Entendemos como caracteres os sinais distintivos que servem para identificar um objeto; tudo aquilo que distingue um ser (aqui pensemos nas normas como ser, isto é, algo que existe).
	Interioridade X Exterioridade
	Toda conduta social tem origem no pensamento racional do ser humano. Ao decidir, entre alternativas, o que vai fazer, o homem está no momento interior de sua conduta. O que a partir daí efetivamente faz (ou não faz – a omissão também é uma conduta) é resultado de sua intenção. Mas não há uma conduta interior e outra exterior: há uma mesma conduta, vista em dois momentos: o interior, do pensamento, e o exterior, da ação ou omissão.
	Há uma discussão entre os filósofos – o que vale, no comportamento moral, é somente a intenção? E no Direito, é somente a exteriorização?
	Não estarei cumprindo uma norma religiosa se compareço à missa dominical para encontrar com a namorada. Mas cumprirei meu compromisso religioso se, doente, assisto à missa pela televisão, não indo à igreja. O que importa, nesse ato de assistir à missa, não é minha presença física na igreja, mas a intenção de unir-me Deus, de pedir-lhe perdão, sendo a ocasião da missa apenas um bom momento para isto.
	Ocorre o mesmo na conduta moral. Se encontro na rua um mendigo dizendo-me que está com fome e ele me pede uma esmola pra comprar um pão, meu dever moral de caridade me leva a conceder-lhe a ajuda financeira. Minha intenção, nesse mometo, é ser caritativo. Mas se o mendigo usa o dinheiro para beber cachaça, ele é quem foi desonesto, não eu. Minha obrigação moral foi cumprida desde que exteriorizei minha boa intenção dando a esmola.
	É evidente que isto não acontece no comportamento dos usos socias, onde o que interessa, como já vimos, é o resultado exterior, o “bom dia”, e não qual é a minha verdadeira opinião sobre como quero que o dia seja para o sujeito que recebeu a ação.
	Logo, quando digo que o comportamento religioso e moral são caracterizados pela interioridade, digo que o que importa, para valorar o ato, é a boa ou má intenção do agente e não a exteriorização da conduta social. Mas, é bem verdade, não basta a boa intenção – é preciso que venha acompanhada da ação.
	O que foi dito em relação à conduta moral vale para a religiosa; o que foi afirmado sobre a conduta jurídica vale para a conduta regida pelos convencionalismos sociais.
“...a conduta exterior só interessa à moral na
medida em que “exprime” uma conduta interior;
a conduta interior só interessa ao direito na medida
em que “anuncia” ou deixa esperar uma conduta
exterior” ( RADBRUCH)
	Em relação especificamente ao Direito, conforme já foi dito, ele se liga geralmente ao aspecto exterior da conduta. Não importa porque paguei o aluguel: tenho medo do despejo? Tenho respeito pelo proprietário e não quero prejudicá-lo? Pouco importa; o que vale é o ato exterior de pagar; seja qual for a motivação interna.
	É verdade, porém, que existem situações jurídicas que só podem ser avaliadas se formos pesquisar a intenção. O sujeito se arma, coloca máscara, invade a casa da vítima, mata-a para roubar seu dinheiro. Esse comportamento, que exige a premeditação, não pode ser juridicamente avaliado de modo igual ao do soldado que, na guerra, mata outro por dever; do motorista que de repente, dirigindo um carro, fica sem freios e mata um pedestre. Há, portanto, no Direito, uma importante distinção entre o homicídio doloso (comportamento do homicida que quer o resultado criminoso), e o homicídio por dever (soldado) ou por mera imprudência (motorista), decorrente, neste último caso, do relaxamento do dever de precaução.
	Autonomia x Heteronomia
	Autonomia é o acatamento voluntário, livre de pressões, de uma norma de cujo conhecimento o sujeito tomou através da educação, da imitação, da fé, etc.
	Não se pode chegar ao céu pela força; mas eu não sou o inventor do caminho a seguir para chegar lá. São muito poucos os que desvendaram aquilo que eles consideraram como o caminho para o céu: Confúco, Cristo. Eu apenas aprendo e apreendo os princípios religiosos, acato-os, se me convenço intimamente de sua validade e passo a considerá-los como meu dever.
	Ao contrário, o cumprimento de uma norma pode-nos ser exigida por outrem: há condutas, portanto, heterônomas. (HOUAISS)
	Tal como a autonomia não é peculiar à moral, pois abrange também a religião, a heteronomia não é típica do Direito, pois abrange também os usos sociais.
	Mas é bom lembrar que, quando falamos que o Direito não é autônomo, estamo-nos referindo a uma norma isolada, a uma violação eventual. Mas se todos os membros de uma comunidade resolovem não acatar uma norma, não se convencem intimamente de sua validade, ela não será aplicada, perderá usa validez social, ficará como letra morta e terminará por desaparecer do ordenamento jurídico. Foi o que aconteceu com a instituição do dote, que constava no Código Civil de 1916 e hoje desapareceu no Código de 2002, porque não era seguido por ninguém, era letra morta.
	Identidade X Alteridade
	Identidade (de “idem”, o mesmo) e alteridade (de “alter”, o outro) são conceitos antigos.
	Deixando de lado algumas implicações filosóficas desses termos, provisoriamente, bastam as seguintes noções:
	Há normas em que o sujeito, embora agindo no ambiente social, pensa principalmente em si mesmo, e não no outro com quem ele age. O ato caritativo tem como objetivo final não o bem estar do mendigo (este é o meio), mas o meu aperfeiçoamento individual (este é o fim). O “eu mesmo” mede o resultado da minha conduta, embora ela tenha atingido ao outro. Tal é o caso das condutas religosa e moral. O pretendo indo à missa, rezando muito com outros fiéis, contribuindo com meu dinheiro para as obras sociais da igreja, não é o “estar com os outros”, mas o “estar com Deus”, no meu íntimo, dentro do meu coraão. Viso o meu aperfeiçoamento individual, a minha santificação.
	No Direito, por outro lado, o que importa é a consideração com o outro (o credor que me cobra, o Estado que me vigia para que não mate, não furte, etc). Embora eu ache que o imposto é excessivo, devo pagá-lo, pois o que importa nãoé a minha pessoa, mas a instituição do fisco, o Estado tributador, outra pessoa.
	Unilateralidade X Bilateralidade
	Toda relação social tem, pelo menos, dois lados – hé sempre um sujeito que age e outro que sofre a ação. Nesse sentido, toda conduta estabelece uma relação bilateral, isto é, entre dois lados, dois sujeitos, duas partes, no mínimo. Não há conduta social sem interação.
	Mas quando se diz que uma conduta é dotada de unilateralidade , quer-se com isto significar que, na relação bilateral entre sujeitos, só uma das partes tem ação, tem voz ativa; só interessa a análise de uma conduta, de um sujeito, e não de ambos os sujeitos.
	No comportamento moral, um sujeito tem o dever, mas ao outro não é dado exigir o cumprimento desse dever. Não há papeis a serem desenvolvidos por cada agente – o que age e o que é beneficiado pela ação. A norma moral, a religiosa e a de usos sociais são somente imperativas – um sujeito tem um dever e é só. Normas unilaterais, portanto.
	No Direito, ao contrário, enquanto um dos sujeitos (chamado “sujeito passivo”, “devedor”, etc) tem o dever de prestar algo (dar, não dar, fazer, não fazer), o outro sujeito da relação (“sujeito ativo”, “credor”) tem a prerrogativa, o “direito” de exigir o cumprimento da prestação. Um deve e outro exige o cumprimento do dever. Norma bilateral, portanto.
	A bilateralidade é, pois, nota essencial à formulação do conceito de direito. É algo que especificamente diferencia o Direito das outra espécies de normas. É, portanto, tema a qual necessitaremos voltar ao tratarmos da definição de Direito.
	Incoercitividade X Coercitividade
	Por enquanto, apenas para completar o quadro, digamos que a norma jurídica é a única que é dotada de coercitividade.
	Os filósofos e juristas não se têm entendido quanto à terminologia, usando termos diferentes para designar as mesmas coisas. Coação, Coerção Coercibilidade, Coercitividade, são expressões que, segundo cada autor, referem-se a objetos diferentes.
	Usaremos as seguintes expressões, já que é preciso optar por uma terminologia:
	a) Coerção – para designar o conjunto de pressões psicológicas que nos levam ao cumprimento espontâneo da norma: medo da sanção, respeito natural ou íntima adesão à norma, etc.
	b)Coercitividade – para designar essa qualidade especial que tem a norma jurídica de se fazer valer sob ameaça da prática, do Estado,de ato(s) de força contra o infrator. Ela tem dois aspectos, ou momentos:
		b.1)Coercibilidade – que é a característica diferenciadora das normas jurídicas, consistente em que o mandamento contido na norma pode ser cumprido forçadamente, caso não haja o cumprimento voluntário. Toda norma é essencialmente dotada de coercibilidade; a norma não é recomendada, não aconselha, não pede por favor. Ela ameaça: ou respeite a vida alheia ou será sentenciado a passar de 6 a 20 anos cumprindo pena de reclusão. Mas as normas jurídicas geralmente são cumpridas voluntariamente. Só quando não são é que se chega ao fato da
		b.2)Coação – que é o efetivo emprego da força contra o infrator.
	Logo: a coercibilidade é a potência; a coação é o ato.
	Feitas estas distinções o quadro se completa:
Normas
1º carácter
2º carácter
3º carácter
4º carácter
5º carácter
Religiosas
Interioridade
Autonomia
Identidade
Unilateralidade
Incoercibilidade
Morais
Interioridade
Autonomia
Identidade
Unilateralidade
Incoercibilidade
Usos sociais
Exterioridade
Heteronomia
Alteridade
Bilateralidade
Coercibilidade
Jurídicas
Exterioridade
Heteronomia
Alteridade
Bilateralidade
Coercibilidade
	Constata-se, portanto, que a norma jurídica se distingue das demais normas de conduta social pelas características da bilateralidade ( na relação prevista na norma jurídica está sempre presente um sujeito que tem uma prerrogativa, um poder, que exerce contra outro sujeito, que tem a obrigação, o dever) e da coercibilidade (o dever contido na norma pode ser exigido pela força social organizada do Estado, trazendo sempre uma consequência desagradável para o infrator.
	Além disto, Noberto Bobbio diz que a norma jurídica se identifica pelo tipo de sanção que adota: externa e organizada.

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