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DIREITO PENAL 9 2011

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DIREITO PENAL 9
TEMA: FURTO ( ART. 155, CP )
1- CONCEITO:
						O conceito está explícito no art. 155, "caput", CP: "Furto é a subtração de coisa alheia móvel para si ou para outrem."
2- OBJETIVIDADE JURÍDICA:
						Há discussão na doutrina sobre se o furto tutela a posse ou a propriedade. No entanto, a conclusão é de que tutela igualmente a posse como a propriedade.
3- SUJEITO ATIVO:
						Crime comum. Qualquer pessoa pode praticar.
4- SUJEITO PASSIVO:
						Tanto a pessoa física ou jurídica que tenham a posse ou propriedade.
5- TIPO OBJETIVO:
						A ação é "subtrair", que significa tirar. O objeto material é a "coisa alheia móvel".
						Exemplos:
- dinheiro;
- títulos ( excluindo os documentos - art. 305, CP );
- partes de uma casa ( exs. janelas, portas, tijolos );
- árvores, navios e aeronaves são equiparadas a imóveis no Direito Civil, mas no Penal podem ser objeto de furto.
Obs.1 - A "coisa" tem de ter algum valor patrimonial, financeiro ou de utilidade.
Obs.2 - Ar, água dos rios e mares, luz natural, não podem ser objeto de furto por serem "coisas comuns ou de uso comum". Isso a não ser que sejam "destacados" ( Ex. ar comprimido; água em recipientes, etc. ).
QUESTÃO 1 - Se um indivíduo desvia um curso d'água de uma propriedade vizinha para a sua, comete furto?
						Não. Comete o crime de "usurpação de águas", art. 161, I, CP, além de eventual crime ambiental.
QUESTÃO 2 - E aquele que caça ou pesca em propriedade alheia?
						Há que distinguir:
a) Se os animais ou peixes são selvagens, comete apenas crime ambiental ( Lei 9605/98 );
b) Se os animais são criados em cativeiro, como por exemplo poços de peixes em pesqueiros, há o crime de furto. O furto de gado é inclusive denominado pela doutrina como “abigeato”. 
Obs.3 - Algumas expressões:
a) "Res nullius" - coisas que nunca tiveram dono ( não há crime no apossamento ) ;
b) "Res delericta" - coisas que foram abandonadas ( não há crime também ) ;
c) "Res deperdita" - coisas perdidas - pode haver crime de apropriação indébita ( Ver art. 169, II, CP ).
Obs. 4 - CORPO HUMANO:
						É possível falar-se em furto de partes do corpo humano ( cabelos, dentes, etc. ), assim como de objetos postiços ( peças ortopédicas, dentaduras, perucas, etc. ). Ver Lei 9434/97 – Lei de Transplantes (artigos 14 a 20).
QUESTÃO 3 - O cadáver pode ser objeto de furto?
						Depende da finalidade do agente. Se ele subtrai o cadáver para explorar seu valor econômico ( Ex. vender para estudos, transplantes, etc. ), há o crime de furto. Nos demais casos, há o crime de subtração de cadáver ( art. 211, CP ).
Obs.5 - Furto de folhas de cheque configura o crime de furto porque tem valor econômico, mas se o agente utiliza os cheques depois há estelionato.
QUESTÃO 4 - Se alguém tem a posse de uma coisa, por exemplo, como depositário, e o proprietário da coisa lhe subtrai, há furto?
						Não, mas sim o crime do art. 346, CP.
6- TIPO SUBJETIVO:
						"Animus furandi" ou "Animus rem sibi habendi" - desejo de se apossar da coisa alheia ( para si ou para outrem ).
QUESTÃO 1 - Há necessidade do intuito de lucro?
						Não, pode ser para fins lucrativos, como por vingança, inveja, superstição, capricho, etc.
						No entanto, deve-se lembrar que por qualquer motivo que seja, o bem deve ter um destinatário ( "para si ou para outrem" ).
						Vejamos alguns exemplos:
a) Subtrai-se uma jóia por inveja e a mantém consigo guardada, não vendendo - há furto.
b) Subtrai-se uma jóia só para jogá-la no mar - não há furto, pode haver crime de dano.
c) Outro exemplo é o caso do sujeito que solta os pássaros do outro - não há furto. Há no máximo dano.
QUESTÃO 2 - E se a vítima consente na subtração?
						Se o consentimento existe, não há crime, pois o patrimônio é bem disponível. Ver artigo em anexo.
Obs.1 - FURTO DE USO:
						Não há crime no chamado furto de uso, figura atípica na legislação brasileira, com exceção do art. 241 do Código Penal Militar que prevê tal figura.
Ex. Sujeito que pega o automóvel só para dar umas voltas e devolve. Obs. - Neste caso há jurisprudência no sentido de que poderia responder pelo furto da gasolina, do óleo, etc. 
Sobre o furto de uso, ver a jurisprudência do TACrim anexa.
7- CONSUMAÇÃO E TENTATIVA:
						Há várias teorias sobre a consumação do furto:
a) "Concretatio" - basta tocar na coisa.
b) "Apprehensio rei" - basta segurar na coisa.
c) "Amotio" - exige a remoção de lugar.
d) "Ablacio" - a coisa é colocada no local a que se destinava com segurança.
						A jurisprudência adotou uma posição intermediária entre as duas últimas, a "Teoria da Inversão da Posse", entendendo-se como consumado o furto quando o agente tem a posse "tranqüila" da coisa, ainda que por pouco tempo. Essa posição veio prevalecendo até aproximadamente 2003, mas daí em diante os entendimentos do STF e STJ se alinharam pela “amotio”. 
Obs. É possível a tentativa, pois trata-se de crime material.
8- DISTINÇÃO:
a) Quem adultera sinal identificador de veículo furtado não é co - autor ou partícipe do furto, mas pratica o novo crime do art. 311, CP.
b) Quem subtrai coisa alheia para satisfazer pagamento de dívida que tem para com a vítima na condição de credor, comete não crime de furto, mas sim "exercício arbitrário das próprias razões" ( art. 345, CP ).
c) Subtração de Nota Promissória e sua destruição, constitui o crime de "supressão de documento" ( art. 305, CP ).
d) "Trombada", pode caracterizar furto ou roubo de acordo com o grau de violência empregado.
e) Adquirir coisas furtadas pode configurar o crime de receptação ( art. 180, CP ) .
f) Ajudar o autor do furto a ocultar a "res furtiva", "não havendo concerto prévio" configura o crime de "Favorecimento Real" ( art. 349, CP ). Se houver "concerto prévio", há co - autoria ou participação no furto ou mesmo receptação.
g) Basicamente a diferença entre o furto e o roubo é o elemento da violência existente no segundo.
9 - FURTO DE ENERGIA ( ART. 155, § 3º, CP ):
						Equiparou o legislador à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico ( ex. Térmica, solar, atômica, etc. ).( ATENÇÃO: VER O NOVO ART. 83, I , DO CÓDIGO CIVL , QUE EQUIPARA AS ENERGIAS QUE TENHAM VALOR ECONÔMICO ÀS COISAS MÓVEIS ).
Obs. Na exposição de motivos do CP menciona-se a "energia genética" dos reprodutores, mas na verdade, trata-se de furto comum, pois o sêmen é coisa passível de apreensão.
FURTO - CONTINUAÇÃO
10 - FURTO NOTURNO ( ART. 155, § 1º, CP ):
						O aumento de pena se dá em face da menor vigilância existente no período de repouso noturno, deixando o bem com menor proteção e, portanto demonstrando maior perigo na conduta do agente.
QUESTÃO 1 - Mas, o que é "repouso noturno"?
						Em primeiro lugar é bom lembrar que repouso noturno não é sinônimo de "noite".
- Noite - caracteriza-se pela ausência de luz solar.
- Repouso Noturno - refere-se ao horário habitual em que as pessoas costumam dormir.
QUESTÃO 2 - É necessário que a casa seja habitada ou que os moradores estejam dormindo efetivamente?
						A jurisprudência se divide, havendo decisões no sentido de apenas importar o horário e também outras em sentido inverso, dizendo não ser possível o aumento se os moradores estão despertos, se a casa está sem ninguém ou ainda em furtos na rua.
						A posição mais correta seria a que considera o horário primordial, não levando em consideração circunstâncias externas, porque o aumento de pena se refere àquele indivíduo que revela maior periculosidade ao escolher o horário noturno mais propício à prática do furto, colocando assim, em tese, o bem jurídico sob maior perigo de dano.
Obs. - O aumento de pena de um terçopelo furto noturno só tem aplicação nos casos de furto simples e não nos furtos qualificados ( Mirabete, Celso Delmanto e Paulo José da Costa Jr. ). Paulo José da Costa Jr. afirma que a circunstância do furto haver ocorrido durante o repouso noturno, nos casos de furto qualificado, só pode ser levada em conta na aplicação da pena, conforme art. 59, CP.
11 - FURTO PRIVILEGIADO ( ART. L55,§ 2º, CP ):
						Dois requisitos: 
a) Criminoso primário;
b) Coisa de pequeno valor.
- Primário é todo aquele que não ostenta condenação criminal transitada em julgado antes da prática do crime. Este é o conceito "técnico" de primariedade e deve ser ele o guia para sua definição no furto privilegiado. Há decisões jurisprudenciais admitindo que indivíduos não tecnicamente reincidentes não possam gozar do privilégio, porém a tendência é a superação desses entendimentos.
Obs.1 - Também será primário ( tecnicamente ) aquele condenado após cinco anos do cumprimento ou extinção da pena imposta ( Ver art. 64, I, CP ).
- Pequeno Valor:
						Normalmente, na jurisprudência, reconhece-se o pequeno valor quando não se atinge ao menos um salário mínimo vigente à época do fato ( dominante ).
						Mas, há dois outros posicionamentos nos tribunais:
a) Levar em consideração as posses da vítima;
b) Não existência de regra rígida, devendo o pequeno valor ser aferido em cada caso concreto.
Obs.2 - PEQUENO VALOR / PEQUENO PREJUÍZO:
						O "pequeno valor" se refere ao valor da coisa quando da subtração. Já o "pequeno prejuízo" se refere ao momento posterior, de acordo com a recuperação total ou parcial da "res furtiva".
						Por exemplo:
- Se tenho um caderno que custa dez reais furtado, pode-se dizer que se trata de coisa de "pequeno valor", independente de sua recuperação ou não.
- Posso ter um "pequeno prejuízo" mesmo quando sofro uma subtração de um bem de grande valor. Por exemplo, se sofro o furto de um carro novo, mas ele é recuperado intacto, tive um pequeno ou nenhum prejuízo.
						A questão é importante porque há tendência na jurisprudência em pretender equiparar o "pequeno valor" ao "pequeno prejuízo", o que não nos parece justo. Tal posição faz menção ao disposto no art. 171, § 1º, CP que faz referência expressa ao "pequeno valor do prejuízo", aplicando-se as mesmas regras do art. 155, § 2º, CP, e então concluindo pela injustiça de restringir no caso do furto o privilégio somente aos casos de "pequeno valor" ( Ver na obra de Damásio a exposição pormenorizada da divisão jurisprudencial.
QUESTÃO 1 - Além da primariedade e do pequeno valor da coisa podem ser exigidos outros requisitos subjetivos, avaliando-se por exemplo maus antecedentes, conduta social do réu, etc.?
						Aqui se coloca a questão de se o juiz "pode" ou "deve" aplicar a diminuição sempre que o réu satisfizer os dois requisitos explícitos ( Primariedade e Pequeno Valor ) na lei. Ou pode o juiz avaliar outros fatores e decidir se o réu faz jus ou não ao benefício.
						A doutrina e jurisprudência se dividem:
a) O juiz "pode" aplicar o benefício, podendo avaliar outros fatores para Damásio e Mirabete.
b) O juiz "deve" aplicar o benefício quando presentes as duas condições legais, sendo-lhe vedadas outras considerações: Celso Delmanto e Paulo José da Costa Jr. 
						A melhor doutrina é no sentido de que, satisfeitos os requisitos do art. 155, § 2º, CP, surge um "direito público subjetivo" do réu, não podendo o juiz deixar de aplicar o dispositivo.
QUESTÃO 2 - É possível a aplicação do privilégio aos casos de furto qualificado?
						A doutrina posiciona-se pela impossibilidade, mas vem a jurisprudência decidindo pela admissão da conciliação do privilégio com as qualificadoras. Hoje há a Súmula 511, STJ reconhecendo a possibilidade. 
QUESTÃO 3 - Pode o juiz substituir a pena de reclusão por detenção e ainda diminuí-la?
						A questão é posta por Magalhães Noronha e o autor conclui pela possibilidade, uma vez que inclusive o juiz pode até aplicar somente a pena de multa, nada justificando que não pudesse substituir a pena e diminuí-la, pois "quem pode o mais, pode o menos".	
12 - FURTO QUALIFICADO ( ART. 155, § 4º, CP ):
						A pena para os casos de furto qualificado é de reclusão, de dois a oito anos. São casos em que o agente revela maior capacidade para superar obstáculos à subtração ou mesmo formas mais eficazes de cometer o crime.
						Analisemos separadamente cada qualificadora:
I - "COM DESTRUIÇÃO OU ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO À SUBTRAÇÃO DA COISA"
						Tratam-se de arrombamentos de fechaduras, trancas, janelas, portas, etc.
Obs.1- A conduta deve dirigir-se a um objeto que vise impedir a remoção ou subtração da coisa e não à própria coisa.
Ex1 - A jurisprudência tem decidido que o arrombamento do quebra - vento para o furto de automóvel não qualifica o crime.
Ex2 - Já o arrombamento do mesmo quebra - vento para subtrair objetos que estão dentro do carro, qualifica o furto.
Obs.2 - A simples remoção, como por exemplo o desparafusamento ou retirada de telhas não configura a qualificadora. No caso das telhas, poderá haver a escalada.
QUESTÃO 1 - Um indivíduo ingressa numa casa pela porta que foi esquecida aberta. Ali subtrai bens e ao sair verifica que o vento bateu a porta e esta trancou-se. Ele então a arromba e sai, levando a "res furtiva". Há furto qualificado?
						Para Magalhães Noronha não, pois o rompimento ou destruição deve ser "anterior ou concomitante" à subtração.
						No entanto, a doutrina dominante considera que o rompimento pode ocorrer até a consumação do crime, de modo que no caso apresentado o furto seria qualificado.
Obs.3 - A prova da qualificadora se faz pela perícia que é indispensável. Sem ela descaracteriza- se a qualificadora.
II - "COM ABUSO DE CONFIANÇA, OU MEDIANTE FRAUDE, ESCALADA OU DESTREZA"
a) ABUSO DE CONFIANÇA:
						Ocorre quando o sujeito ativo aproveita-se da menor vigilância da vítima em relação à sua pessoa, movida pela confiança, realizando assim com maior facilidade a subtração.
Obs.1 - Essa "confiança" deve ser demonstrada em cada caso concreto, não bastando a simples relação de emprego.
Obs.2 - No caso da empregada doméstica, não comprovada a efetiva confiança, poderá restar ainda a agravante genérica do art. 61, II, "f", CP.
Obs.3 – TERMINOLOGIA: Denomina-se “famulato” todo furto de empregado contra patrão. Ele nem sempre configura o abuso de confiança.
Obs.3 - DISTINÇÃO IMPORTANTE: 
						Não confundir o furto qualificado por abuso de confiança com o crime de apropriação indébita. No primeiro o agente subtrai a coisa e no segundo recebe a coisa inicialmente da vítima e depois se apropria.
b) FRAUDE:
						Ocorre sempre que o agente se utiliza de algum meio enganoso para ludibriar a vítima e obter a subtração.
						Exemplos:
- Sujeito que se diz funcionário da Sabesp para ingressar na residência e furtar.
- Sujeito que diz na concessionária que quer experimentar um carro e desaparece com ele.
- Caso em que o autor distrai o balconista, pedindo que pegue outra mercadoria para poder furtar.
- Sujeito que entra numa festa como se fosse convidado para poder furtar.
- Prostituta que contrata a relação sexual apenas pretendendo ludibriar o cliente e subtrair-lhe a carteira.
- Casos comuns de "Falsas Domésticas" que só se empregam com a finalidade de furtar.
Obs.1 - DISTINÇÃO IMPORTANTE:
						Não se confunde furto com fraude e estelionato. No primeiro o agente engana a vítima para poder subtrair a coisa. No segundo, a própria vítima entrega o bem induzida a erro pelo agente.
c) ESCALADA:
						A escalada "é a utilização de via anormal para penetrar na casa ou local em que vai operar-se a subtração."
Obs.1 - É preciso que o agente tenha de utilizar instrumentos( escada, cordas, etc. ) ou ao menos tenha de empregar um desforço físico considerável.
Exemplo: Pular um muro de poucos centímetros apenas erguendo a perna não caracteriza a escalada.
Obs.2 - Para caracterizar-se a escalada não existe somente o caminho de subida em obstáculos ( pular muro, janela, etc. ). Qualquer via anormal pode ser considerada ( Ex. Túnel ).
Obs.3 - PERÍCIA: Embora haja decisões jurisprudenciais considerando dispensável porque normalmente não são deixados vestígios, é de todo aconselhável sua realização, mesmo porque também há decisões que consideram o exame pericial indispensável, especialmente quando há vestígios ( Ex. marcas dos pés no muro, etc. ). Em geral, nestes casos, mesmo não havendo vestígios, costuma-se elaborar um croqui, indicando o "modus operandi" do agente.
d) DESTREZA:
						"É a habilidade física ou manual do agente, que possibilita a subtração sem que a vítima perceba." 
Obs.- Esta qualificadora só é afastada se o agente é inábil. Porém, se ele age com habilidade, mas mesmo assim não consegue consumar o crime, responde por tentativa de furto qualificado.
III - "COM EMPREGO DE CHAVE FALSA"
						Caracteriza "chave falsa" a imitação da verdadeira ou qualquer instrumento utilizado para fazer funcionar mecanismo das fechaduras ( gazuas, michas, grampos, etc. ).
QUESTÃO 1 - Se o agente pega a chave verdadeira para depois usá-la para o furto há a qualificadora da chave falsa?
						Há decisões considerando a ocorrência da qualificadora em estudo. No entanto, não há como dizer que a "chave verdadeira" é "chave falsa". Nesse caso, poderá o furto ser qualificado, porém por emprego de fraude e não chave falsa.
QUESTÃO 2 - Ligação direta para furto de veículo caracteriza chave falsa?
						Não. A jurisprudência tem entendido que não há a qualificadora nestes casos, pois não há o objeto material necessário à sua configuração ( chave falsa ou instrumento similar ). Pode haver a qualificadora em estudo se o agente se utiliza de instrumentos para abrir o carro.
Obs.1 - A "chave falsa" deve ser necessariamente submetida a perícia para aferição da sua eficácia.
QUESTÃO 3 - Se a vítima deixa sua chave negligentemente na porta e o agente a usa para entrar e furtar, há a qualificadora?
						Não. Trata-se também de uso de chave verdadeira.
QUESTÃO 4 - Se o autor usa chave falsa para abrir, por exemplo, um cofre em seu esconderijo após subtraí-lo, há a qualificadora?
						Não. A lei exige que o emprego seja para a prática da subtração, devendo ser, portanto, durante a execução do furto e não após sua consumação.
IV - "MEDIANTE CONCURSO DE DUAS OU MAIS PESSOAS"
						Há nesse caso indicação de maior periculosidade dos agentes que unem esforços para a melhor execução do crime.
Obs.1 - Pode um dos agentes ser menor ou inimputável, configurando a qualificadora da mesma maneira. Em sendo o crime praticado com um menor pode haver infração em concurso formal com o art. 244 – B do ECA (Lei 8069/90, com nova redação dada pela Lei 12.015/09) ( corrupção de menores ) (Nelson Hungria).
Obs.2 - Não há necessidade que os participantes atuem na execução da subtração, configurando a qualificadora, por exemplo, a participação intelectual. Apenas Nelson Hungria tem entendimento contrário.
Obs. 3 - Se houver a configuração do crime de quadrilha ou bando ( art. 288, CP ), afasta-se a qualificadora, restando concurso material de crimes de furto e quadrilha ou bando, evitando-se o "bis in idem ".
13 - CONCOMITÂNCIA DE QUALIFICADORAS:
						Havendo duas ou mais qualificadoras ( ex. concurso de agentes e chave falsa ), uma delas serve para qualificar o crime e as demais devem ser apreciadas na dosimetria da pena nos termos do art. 59, CP.
14 - FURTO DE VEÍCULO AUTOMOTOR ( ART. 155,§ 5º, CP ):
						Com o crescimento da prática de furto de automóveis o legislador criou uma nova modalidade especial no art. 155, § 5º, CP, com a Lei 9426/96.
						Trata-se de uma nova modalidade de furto qualificado, mas a pena é maior do que a dos casos do § 4º (reclusão de 3 a 8 anos ).
						Atentar para o fato de que não é qualquer furto de veículo automotor que configura o crime em destaque, mas somente daquele que "venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior."
						Há então dois requisitos:
a) Ser o furto de "veículo automotor" - a definição pode ser buscada no CTB ( Obs. No entanto, a doutrina ainda iniciante sobre o tema, tem indicado por um alargamento da definição de veículo automotor, abrangendo também aeronaves e embarcações (Ver neste sentido: Damásio, Cezar Roberto Bitencourt, Fernando Capez, Luiz Regis Prado, José Henrique Pierangeli etc.).
OBS. Hoje já se encontra na doutrina pátria autores que defendem a tese de que a definição deve ser aquela do CTB – Ver Ney Moura Teles – Direito Penal, Volume II – Atlas. Também Mirabete, embora trate muito sucintamente do tema, somente dá exemplos de veículos enquadráveis na definição do CTB.
b) Ser ele transportado para outro Estado ou para o exterior.
IMPORTANTE: Tem observado a doutrina que neste ponto o legislador esqueceu-se de mencionar a hipótese de transporte do veículo automotor de um Estado para o Distrito Federal ou vice – versa. Em virtude disso, tal conduta não tipificará o § 5º. em estudo.
Obs.1 - Havendo infringência a casos do § 4º e § 5º concomitantemente, será aplicado somente o § 5º, servindo as circunstâncias do § 4º como critério definidor da pena nos termos do art. 59 CP.
Obs.2 - O furto de peças do carro, ainda que levadas a outro estado ou exterior não configura a qualificadora do § 5º.
Obs.3 - A Lei 9426/96, ao tratar da receptação faz diferenciação entre "transportar" e "conduzir", levando a doutrina a considerar que as palavras não são sinônimas de acordo com a lei. Assim teríamos:
- Transportar - seria o ato de levar o carro em outro veículo ( a bordo ).
- Conduzir - seria o ato de guiar o veículo ( o próprio autor do furto ou terceiro), importando que o carro se locomova com a força de seu próprio motor.
						Essa diferenciação gera uma grave crítica à redação do § 5º do art. 155 que só menciona "transportar", ficando a descoberta a conduta de quem leve o próprio carro para outro Estado ou para o exterior.
Obs. 4 - Outra questão se refere à necessidade de que para configurar a qualificadora o veículo tenha de efetivamente cruzar as fronteiras de um outro Estado ou país. Se isso não ocorre a solução é o furto simples ou então, conforme o caso, a aplicação do § 4º, afastando-se o § 5º.
						Segundo a doutrina, a melhor redação seria aquela que fizesse menção ao conteúdo subjetivo da conduta, ou seja, a intenção de transportar o carro para outro Estado ou exterior, não importando assim, para a configuração da qualificadora em estudo a saída ou não do território, bastando o intento neste sentido.
						De acordo com a redação do art.155,§ 5º,CP, nem mesmo a tentativa seria possível em relação à qualificadora, pois que esta é daquelas que se configuram após o crime simples já estar consumado. Vejamos: o autor pratica o furto do automóvel, estando este consumado, vai levando o carro para outro país. Se é impedido, já há um crime consumado, sendo contraditório falar em tentativa.
						Há autores, porém, como Fernando Capez e Ney Moura Teles, que têm defendido a possibilidade de tentativa somente nos casos em que o autor consegue ultrapassar a fronteira, mas é imediatamente perseguido pela polícia, não logrando ter a posse tranqüila do veículo. 
						Por outro lado, a autora Celeste Leite dos Santos Pereira Gomes, em artigo intitulado “A tentativa de furto à luz da Lei 9246/96” (Boletim IBCCrim n. 64, março, 1998, p. 7), defende a tese da possibilidade de tentativa do § 5º. Para ela, se o agente não chega a efetuar a subtração, ainda que tenha a intenção de transporte para outro Estado oupara o exterior, realmente não há que se falar em tentativa do § 5º., mas sim do “caput” ou, eventualmente, do § 4º., isso porque tal crime se consumaria em duas fases (subtração e transporte), sendo que a primeira (subtração) é condição imprescindível para o início da execução da segunda. Assim sendo, se o agente logra a prática da subtração e é detido no ato de tentar efetivar o transporte para outro Estado ou para o exterior, satisfeita a primeira fase executiva e iniciada a execução da segunda, poder-se-ia, normalmente, falar em tentativa do § 5º., desde que comprovado seu elemento subjetivo.
14 - FURTO FAMÉLICO OU NECESSITADO:
						O furto famélico caracteriza-se quando o agente pratica a subtração com o fim único de saciar a fome própria ou de outrem ( podem ser seus familiares ou não ). Não há no caso o intuito de aumentar seu patrimônio mediante a subtração, mas tão somente a influência de um instinto natural de preservação.
						Nos casos de furto famélico não há crime, seja pela falta do ânimo de tomar algo para si, seja por reconhecimento de Estado de Necessidade ( art. 24, CP ) ou mesmo por reconhecimento de Inexigibilidade de Conduta Diversa Supra - legal( ver quanto a esta última o artigo anexo ).
						A jurisprudência tem enfrentado este problema e abaixo deixamos alguns exemplos: 
1 - "Reconheceu-se estado de necessidade em favor de quem, recém chegado de seu estado natal, sem recursos e sem emprego, sem alimentos nem habitação, pratica furto ( TACrim/SP, RT 574/370 ).
2 - "Ninguém subtrai um quilo de carne para acrescentá-lo ao seu patrimônio; fá-lo, tão só, para mitigar a fome, pois que apenas a isso se presta mercadoria de tal natureza. ( TACrim-SP - AC - Rel. Canguçu de Almeida - JUTACrim 86/425).
3 - "O conceito de famelicidade, nos dias de hoje, não pode ser apreciado com muito rigor." ( TACRim-SP, AC, Rel. Adauto Suannes - JUTACrim 78/416 ).
4 - "Apenas é reconhecida a impunidade do furto famélico, isto é , do furto praticado por quem em estado de extrema penúria, é impelido pela fome, pela inadiável necessidade de se alimentar". ( TACrim-SP, AC, Rel. Nogueira Camargo - JUTACrim 69/467 ).
5 - "O furto famélico não pode ser reconhecido quando o próprio agente não pretendeu ter agido para matar sua fome ou de outrem." ( TACrim-SP, AC, Rel. Ricardo Andreucci, JUTACrim 89/402 ).
6 - "Em razão da natureza da 'res', subtração de objetos típicos de lazer, como fitas - cassete e aparelhamento de som, não pode ensejar reconhecimento do chamado furto famélico." ( TACrim-SP, AC, Rel. Gonzaga Franceschini, JUTACrim 91/388 ).
7 - "Impossível o reconhecimento de furto famélico se a intenção do agente é a de subtrair pacotes de cigarro e não alimentos imprescindíveis à sua sobrevivência." ( TACrim, AC, Rel. Gonzaga Franceschini, JUTACrim 82/282 ).
8 - "Não se confundem miséria e pobreza e nem todo delito patrimonial executado por pessoa pobre goza da justificação do crime famélico." ( TAPR - AC - Rel. Luiz Yiel - RT 708/353 ).

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