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APOSTILA DE DIREITO CIVIL II

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D I R E I T O C I V I L II 
Prof. Orlando Pereira Machado Júnior 
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PARTE GERAL 
 
PARTE II 
 
 
CAPÍTULO I 
 
DOS FATOS JURÍDICOS 
 
 
 
 
 
1) CONCEITO E CONSIDERAÇÕES GERAIS: 
 
 
• CONCEITO: Para SAVIGNY, FATOS JURÍDICOS são os acontecimentos 
em virtude dos quais as relações de direitos nascem e se extinguem. Para 
TEIXEIRA DE FREITAS, citado por SILVIO RODRIGUES, são todos os 
acontecimentos suscetíveis de produzir alguma aquisição, modificação ou 
extinção de direitos. Assim, a expressão fatos jurídicos, em seu sentido amplo, 
engloba todos aqueles eventos, provindos da atividade humana ou 
decorrente de fatos naturais, capazes de ter influência na órbita do direito, 
por criarem, ou transferirem, ou conservarem, ou modificarem, ou 
extinguirem relações jurídicas (in Silvio Rodrigues, vol. I, pág. 165/166). 
• FATO JURÍDICO LATO SENSU: são acontecimentos, seja qual for sua 
natureza, procedem de algum fato positivo ou negativo, normal ou 
anormal, instantâneo ou de elaboração progressiva, de que decorrem o 
nascimento, a subsistência e a perda dos direitos, contemplados em lei. 
Podemos citar como exemplo de eventos dependentes da vontade humana, 
as declarações de vontade em geral, unilaterais ou bilaterais, e como 
exemplo de eventos independentes da vontade humana, o nascimento, a 
maioridade, a loucura, a surdo-mudez, etc. 
• FATO JURÍDICO STRICTO SENSU: são somente os eventos independentes 
da vontade humana capaz de produzir efeitos jurídicos, classificados 
também por parte da doutrina como ações humanas de efeitos 
involuntários, como os atos ilícitos. 
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• DIFERENÇA ENTRE FATO JURÍDICO E ATO JURÍDICO: Em sentido amplo, o 
primeiro compreende o segundo, aquele é o gênero de que este é a espécie. 
Em sentido estrito, fato jurídico é acontecimento natural, independente da 
vontade interna, enquanto ato jurídico é acontecimento voluntário, fruto da 
inteligência e da vontade, querido e desejado pelo interessado. 
• CLASSIFICAÇÃO: Os fatos jurídicos em sentido estrito podem ser 
classificados em: 
a) Classificação de Silvio Rodrigues: 
1) Quanto à sua estrutura: 
1.1) Simples ou unitários: acontecimentos naturais ou ordinários (Ex. 
nascimento e morte, aluvião, avulsão, álveo abandonado, decurso de tempo); 
e, acontecimentos extraordinários (Ex. caso fortuito e força maior); 
1.2) Compostos ou complexos: prescrição e aquisição de direitos reais. 
2) Quanto aos efeitos: 
2.1) Constitutivos; 
2.2) Modificativos; 
2.3) Impeditivos; 
2.4) Extintivos. 
b) Classificação de Washington de Barros Monteiro: 
1) Quanto à sua natureza: 
1.1) Positivos: morte de uma pessoa; 
1.2) Negativos: inexistência de uma dívida que foi paga pelo suposto 
devedor, dando origem à repetição do indevido. 
2) Quanto à maneira pela qual se produzem: 
2.1) Instantâneos: caso fortuito ou força maior; 
2.2) De elaboração progressiva: usucapião e a prescrição extintiva. 
3) Quanto à sua normalidade: 
3.1) Naturais ordinários: decurso do tempo; 
3.2) Naturais extraordinários: desabamento de um prédio. 
• CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR: No caso fortuito e na força maior há 
sempre um acidente que produz prejuízo. O efeito do caso fortuito e da 
força maior é a extinção da obrigação (artº 393 do CCB), salvo nas 
hipóteses dos artºs 246 e 399 do CCB. 
• DIFERENÇA ENTRE CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR: Na força maior 
conhece-se a causa que dá origem ao evento, pois se trata de um fato da 
natureza, como, por exemplo, raio que provoca incêndio, inundação que 
danifica produtos, etc. No caso fortuito o acidente que gera o dano advém de 
causa desconhecida, como, por exemplo, a explosão de caldeira de usina, 
provocando morte, podendo ser ocasionado por fato de terceiro, como 
greve, motim, mudança de governo, etc., causando graves prejuízos. 
 
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• CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS EM SENTIDO ESTRITO QUANTO 
AOS SEUS EFEITOS: 
1) FATO CONSTITUTIVO: no âmbito patrimonial, a aquisição de direitos 
pode se dar: 
1.1) de modo originário: o direito nasce no momento em que o titular se 
apropria do bem de maneira direta, sem interposição ou transferência de 
outra pessoa. Ex. a ocupação de uma coisa abandonada, caça e pesca, etc. 
1.2) de modo derivado: quando há transmissão do direito de propriedade de 
uma pessoa a outra, existindo uma relação jurídica entre o anterior e o atual 
titular. Ex. compra e venda de uma casa. A distinção supra se faz importante 
porque ninguém pode transferir mais direitos do que tem (ULPIANO), pois 
sendo a aquisição derivada, o adquirente terá seu direito limitado pela 
extensão do de seu antecessor, como no caso de alguém adquirir um imóvel 
gravado por hipoteca, sendo esse ônus de natureza real também é 
transmitido. 
1.3) de modo gratuito: se não houve contraprestação. Ex. sucessão 
hereditária. 
1.4) oneroso: quando o patrimônio do adquirente enriquece em razão de uma 
contraprestação. Ex. a compra e venda, a troca, a dação em pagamento, etc. 
1.5) quanto à maneira, pode ser a título universal: se o adquirente 
substitui o seu antecessor na totalidade de seus direitos ou numa quota ideal 
deles, tanto nos direitos como nas obrigações. Ex. aquisição dos herdeiros. 
1.6) a título singular: quando se adquire uma ou várias coisas determinadas, 
apenas no que concerne aos direitos, como sucede o legatário, que herda coisa 
individual, podendo ser “inter vivos”, como no caso da compra e venda, bem 
como “causa mortis”, como no caso do legado, através de testamento. 
1.7) quanto ao processo formativo, pode ser simples: se o fato gerador da 
relação jurídica consistir num só ato. Ex. assinatura de um título de crédito. 
1.8) pode ser complexo: se for necessário a intercorrência simultânea ou 
sucessiva de mais de um fato. Ex. usucapião que requer posse prolongada, 
lapso de tempo, inércia do titular da propriedade e, em certos casos, justo 
título e boa fé. 
 
 
2) DIREITO ATUAL E DIREITO FUTURO: 
 
• O Código Civil de 1916 estabelecia regras a serem aplicadas na aquisição 
dos direitos. Embora a legislação de 2002, acatando críticas que se faziam a 
sua previsão, não tenha repetido o artigo, o assunto é relevante, estando o 
referido em diversos dispositivos esparsos. 
• DIREITO ATUAL E DIREITO FUTURO: Dizia o inc. III do artº 74 do CCB 
de 1916 que “dizem-se atuais os direitos completamente adquiridos e 
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futuros os cuja aquisição não acabou de operar”. Assim, o Direito Atual é 
aquele adquirido, que já está em condição de ser exercido, por se 
incorporar imediatamente ao patrimônio do adquirente e o Direito Futuro 
é aquele cuja aquisição, por ocasião da realização do negócio, não se 
operou, dado que sua efetivação depende de uma condição ou de um 
prazo, tratando-se de um direito não formado, que requer a 
complementação dos fatos determinantes de sua aquisição. 
• DIREITOS FUTUROS DEFERIDOS E NÃO DEFERIDOS: Dentro do campo 
dos Direitos Futuros, encontramos os Deferidos quando sua aquisição 
depende somente do arbítrio do sujeito, por exemplo, o herdeiro, desde a 
abertura da sucessão até a aceitação da herança, tem direito futuro deferido, 
porque depende apenas de sua vontade torná-lo atual; são os que só não se 
incorporam ao patrimônio do adquirente porque ainda não quis, mas que 
poderão a qualquer tempo incorporar-se, pois tal fato não depende de 
outra coisa senão de seu arbítrio; e encontramos também os Não 
Deferidos, que são direitos futuros que se subordinam a fatos ou 
condições falíveis, ou seja, são aqueles que não se incorporam, e talvez não 
se incorporem ao patrimônio do titular por razões alheias à sua vontade(CCB 1916 - artº 74, par. único). Ex. se alguém faz uma doação de uma 
casa sob a condição deste se casar, o seu direito sobre o imóvel dependerá 
da realização do casamento, que poderá ocorrer ou não. 
• DIREITOS FUTUROS NÃO DEFERIDOS - DIVISÃO: Dentro dos direitos 
futuros não deferidos, faz-se necessário uma distinção entre Expectativa de 
Direito, Direito Eventual e Direito Condicional: 
a) Na Expectativa de Direito há uma mera possibilidade ou esperança de 
adquirir um direito e, embora a pessoa reuna os requisitos de capacidade e 
legitimidade, o direito só surge e se adquire ao se verificar o fato ou ato 
capaz de produzi-lo ou de lhe conferir aperfeiçoamento e vida. Ex. a 
situação do herdeiro testamentário que aguarda a abertura da sucessão 
(com a morte do autor da herança) não gozando de qualquer proteção 
jurídica. 
b) O Direito Eventual é um direito concebido, mas não nascido, por lhe 
faltar um elemento básico, sendo mais que uma expectativa de fato, porque 
algumas das circunstâncias de que depende o seu aperfeiçoamento já se 
produziram. Para Vicente Ráo, tratando do direito eventual, diz: “os 
direitos eventuais, pois que tendem a transformar-se em direitos 
verdadeiros e próprios, são protegidos pela ordem jurídica por preceitos de 
direito material e por meio de processos preventivos, ou conservatórios, 
porque, como dizem os autores, ‘seu titular pode pretender que outrem não 
obste, a seu arbítrio, a superveniência do elemento que falta’ (Messineo, 
Manuale) e a violação desse dever, pode mesmo constituir justa causa de 
reparação do dano sofrido pelo sujeito do direito eventual”. Ex. Herdeiro 
Legítimo. 
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c) Finalmente, Direito Condicional é o que só se perfaz pelo advento de um 
acontecimento futuro e incerto, de modo que seu titular só o adquire se 
sobrevier a condição. É a cláusula que subordina o efeito do ato a 
acontecimento futuro e incerto, de forma que o titular de um direito 
condicional só o adquire em definitivo se sobrevier a condição suspensiva. 
Ex. um advogado oferece sociedade ao seu estagiário se ele se formar em 
direito, ficando este com a possibilidade de adquirir aquele direito, se 
conseguir colar grau. 
 
3) MODIFICAÇÃO DOS DIREITOS: 
 
• MODIFICAÇÕES DOS DIREITOS: Sem que haja alteração em sua substância, 
os direitos podem sofrer modificações em seu conteúdo, objeto e em seus 
titulares, a saber: 
a) MODIFICAÇÃO OBJETIVA: tem-se a modificação objetiva quando 
atingir a qualidade ou quantidade do objeto ou conteúdo da relação jurídica. 
Será qualitativa a modificação quando o conteúdo do direito se converte em 
outra espécie; e será quantitativa a modificação se o seu objeto aumentar ou 
diminuir no volume, sem alterar a qualidade do direito, em virtude de “fato 
jurídico stricto sensu”, ou em virtude de ato jurídico do titular ou de outrem. 
b) MODIFICAÇÃO SUBJETIVA: é a pertinente ao titular, subsistindo a 
relação jurídica, hipótese em que se pode ter a substituição do sujeito de 
direito “inter vivos” ou “causa mortis”. Outrossim, tem-se, ainda, a 
modificação subjetiva quando houver multiplicação dos sujeitos. 
 
 
4) DEFESA DOS DIREITOS: 
 
DEFESA DOS DIREITOS: A defesa dos direitos vinha insculpida no artº 75 do 
CCB de 1916, pois não há direito sem ação. Numa interpretação do termo 
ação, podemos afirmar que há no direito pátrio dois tipos de defesa dos 
direitos: a autodefesa e a ação judicial. A autodefesa está garantida pelos 
artºs 188, nº I, 1210 pár. 1º e 1283 do CCB de 2002, além do direito de 
retenção e do penhor legal. Essa autodefesa, entretanto, é excepcional, porque 
pode conduzir a excessos. O meio normal para tutelar e fazer respeitar o 
direito violado, ou simplesmente ameaçado, é a ação judicial, por via da qual 
se recorre à autoridade judiciária competente para restabelecer o direito 
violado, ou proteger o direito ameaçado. Assim, para resguardar seus direitos, 
o proprietário deve praticar atos conservatórios, como o protesto, retenção, 
arresto, interpelação judicial, notificação, etc. Mas, quando sofrer ameaça ou 
violação, o direito subjetivo é protegido por ação judicial (artº 5º, XXXV, 
CF). Outrossim, além da defesa direta de seus direitos, o titular do direito 
lesado pode recorrer à defesa preventiva, que poderá ser judicial (interdito 
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proibitório - artº 1210 pár. 1º do CCB de 2002) ou extrajudicial (cláusula 
penal, arras, fiança, etc.), que visam impedir a violação do direito. De outra 
forma, para se propor uma ação judicial, necessário se faz ter interesse, 
qualidade e capacidade, nos termos dos artºs 76 do CCB de 1916 e 2º e 3º do 
Código de Processo Civil. Outrossim, o CCB de 2002 absteve-se de repetir 
noções indispensáveis, mas próprias de direito processual. Desta forma, são 
condições essenciais para o exercício da ação o direito, o interesse, a qualidade e a 
capacidade. Não basta ter direito para propor ou contestar ação. Indispensável 
é também o interesse de agir, que é a medida das ações. Aparece esse interesse 
quando ameaçado o direito, ou já lesado. Ordinariamente, o interesse é 
econômico, apreciável em dinheiro, compreendida tanto a defesa do direito 
pessoal como do direito real. Mas o interesse também pode ser moral, por 
dizer respeito à honra, à liberdade, ao estado da pessoa, ao decoro e à 
profissão, quando tocar diretamente ao autor ou à sua família. O interesse 
deve ser legítimo, direto e imediato. Se ilícito ou imoral, extinguir-se-á o 
processo sem julgamento do mérito (artº 267 do CPC). Responde por perdas 
e danos aquele que pleitear de má fé como autor, réu ou interveniente, 
considerando-se como litigante de má fé aquele que deduzir pretensão ou 
defesa cuja falta de fundamento não possa razoavelmente desconhecer, bem 
como quem alterar intencionalmente a verdade dos fatos ou usar do processo 
com o intuito de conseguir objetivo ilegal (artºs 16 e 17 do CPC). 
 
 
5) EXTINÇÃO DOS DIREITOS: 
 
• Nos termos do que previa os artigos 77 e 78 do CCB de 1916, os direitos 
extinguem-se quando ocorrer: 
1) Perecimento do objeto sobre o qual recaem (artºs 77 e 78, I, II e III) se 
ele perder suas qualidades essenciais (campo invadido pelas águas) ou valor 
econômico (cédulas recolhidas) (artº 78, inc. I); se confundir com outro de 
modo que se não possa distinguir (confusão, mistura de líquidos, comistão de 
sólidos, e adjunção, justaposição de uma coisa à outra) (artº 78, inc. II); e 
ainda se cair em lugar onde não pode mais ser retirado (anel que cai no mar) 
(artº 78, inc. III); 
2) Alienação, que é ato de transferir o objeto de um patrimônio a outro, 
havendo perda do direito para o antigo titular; 
3) Renúncia, que é ato jurídico pelo qual o titular de um direito dele se 
despoja, sem transferi-lo a quem quer que seja, renunciáveis os direitos 
atinentes ao interesse privado de seu titular, salvo proibição legal. 
Insuscetíveis de renúncia são os direito públicos e os que envolvem interesses 
de ordem pública, como os de direito de família (pátrio poder, poder marital, 
etc.) e os de personalidade (vida, honra, liberdade, etc.); 
 
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4) Abandono, que é a intenção do titular de se desfazer da coisa, porque não 
quer mais continuar sendo seu dono; 
5) Falecimento do titular, sendo o direito personalíssimo e por isso 
intransmissível (artºs 114 e 115 da Lei 9.610/98, 520 e 560 do CCB de 2002); 
6) Prescrição, que extingue o direito de ação; 
7) Decadência, que extingue o próprio direito; 
8) Abolição de uma instituição jurídica, como aconteceu com a 
escravidão; 
9) Confusão, se numa só pessoa se reúnem as qualidades de credor e de 
devedor (CCB 2002, artºs 381, 1410, VI e 1436, IV);10) Implemento de condição resolutiva; 
11) Escoamento do prazo, se a relação jurídica for constituída a termo; 
12) Perempção de instância ou do processo, ficando ileso o direito de ação 
(CCB 2002, artº 1606; CPC artºs 301, IV, 220, 267, V, pár. 3º, 268 e 329); 
13) Aparecimento de direito incompatível com o direito atualmente 
existente e que o suplanta. 
 
CAPÍTULO II 
 
DOS ATOS JURÍDICOS 
 
 
1) DEFINIÇÃO: 
 
• O artº 185 do CCB conceitua o ato jurídico como sendo todo ato lícito que 
tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou 
extinguir direitos. A característica primordial do ato jurídico é ser um ato de 
vontade, fundado em direito, portanto, lícito, abrangendo a vida civil, na 
plenitude de suas manifestações. 
• ELEMENTOS CONSTITUTIVOS: são três os elementos constitutivos do ato 
jurídico: 
1) Elementos essenciais: são aqueles sem os quais o ato não existe. Ex. 
compra e venda sem o preço. Faltando um dos elementos que compõe o 
ato jurídico, este não tem consistência jurídica, não existe. Subdividem-se 
em gerais e particulares. Os primeiros são comuns a todos os atos, enquanto 
os segundos peculiares a determinadas espécies. Dizem respeito às pessoas 
que intervêm no ato, ao objeto deste e ao consentimento dos interessados. 
Quanto às pessoas, a validade do ato jurídico requer agente capaz (artº 104), 
pessoa dotada de consciência e vontade e reconhecida pela lei como apta a 
exercer todos os atos da vida civil, excluídas, portanto, as pessoas 
absolutamente incapaz e os relativamente incapazes, bem como as pessoas 
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jurídicas não representadas. No tocante ao objeto, impõe a lei seja ele lícito 
(artº 104), deles excluídos os atos contrários à moral, à ordem pública e aos 
bons costumes, as prestações fisicamente impossíveis e atos que colimem 
prestações juridicamente impossíveis. O terceiro elemento é o consentimento, 
pois ato jurídico é ato voluntário, podendo ele ser expresso ou tácito. Sem 
o concurso da vontade, elemento psicológico tão discutido na atualidade, o 
ato não se configura. Vale ressaltar ainda que a causa, que é parte integrante 
do ato de vontade, confundindo-se com o próprio escopo do ato. Os 
elementos acima estudados concernem aos gerais, comuns a todos, 
havendo também os particulares, restritos a determinadas espécies. Estes 
referem-se à forma do ato, que é o meio de revelação da vontade. Em 
muitos atos, a forma é essencial, como nos casos do casamento, 
testamento, etc. Se o ato for efetuado sem observância da forma prescrita 
em lei, tal é nulo (artº 166, nº III); 
2) Elementos naturais: são as conseqüências que decorrem da própria 
natureza do ato, sem necessidade de expressa menção. É a lei que 
determina quais essas qualidades naturais, suas conseqüências e seus efeitos. 
Admitida é a sua existência, até prova em contrário. Em princípio, é 
possível modificar por contrato a natureza de um ato jurídico, se a lei não 
dispuser de modo diferente. A própria denominação jurídica, dada pelas 
partes, não tem e nem pode ter valor decisivo; 
3) Elementos acidentais: são cláusulas acessórias, que se juntam ao ato para 
modificar-lhe algum dos elementos naturais. Tais estipulações devem ser 
precisas e determinadas e não inferidas ou presumidas. Dentre as 
principais, destacam-se as modalidades dos atos jurídicos: condição, termo 
e modo ou encargo. 
 
 
2) CLASSIFICAÇÃO: 
 
a) ATO JURÍDICO “LATO SENSU”: Ato jurídico em sentido amplo é 
toda ação humana voluntária, lícita, contratual ou extracontratual, que gera 
efeitos jurídicos. Contrapõe-se ao fato jurídico, que é fato da natureza ou ato 
ilícito com a participação do ser humano; 
b) ATO JURÍDICO ILÍCITO: Em sentido amplo, ato jurídico ilícito é toda 
violação culposa de um dever legal ou de uma obrigação preexistente e que 
cause dano a outrem e que, em conseqüência, acarreta o dever de indenizar; 
c) ATO JURÍDICO LÍCITO “LATO SENSU”: Contrapõe-se ao ato 
jurídico ilícito e subdivide-se em ato jurídico lícito “stricto sensu” e negócio 
jurídico; 
c.1) ATO JURÍDICO LÍCITO “STRICTO SENSU”: Também chamado 
de ato jurídico em sentido estrito. São manifestações de vontade que geram 
efeitos jurídicos, mas não os efeitos jurídicos previstos pelos interessados. Há 
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conseqüência jurídica ex lege. O efeito deriva da lei, mediatamente, portanto. O 
ato jurídico não tem, aqui, conteúdo normativo, não se prestando como 
instrumento de regulamentação da autonomia privada, função esta que se 
defere ao negócio jurídico. É a lei que preceitua: as pessoas que estão 
enquadradas em tal situação sofrerão esta conseqüência jurídica, ou com 
outras palavras, se dada situação fática corresponder à hipótese da norma, 
haverá conseqüência jurídica prevista, independentemente de este efeito 
corresponder ou não à vontade concreta do sujeito atingido pela incidência da 
norma. As normas reguladoras dos negócios jurídicos têm em conta a 
vontade negocial, visto que valorizam, isto é, consideram o intento. Como 
este elemento é irrelevante no ato jurídico “stricto sensu”, segue-se que lhe 
são aplicáveis unicamente as regras que a ele não se acham condicionadas, as 
quais se aplicam, então, diretamente (e não simplesmente por analogia, como 
quer uma parte da doutrina). Ex. Tomada de posse, tradição da posse, 
abandono da posse, ocupação e especificação, elaboração de obra artística, 
quadro, estátua, descoberta científica, habitação, residência e pagamento. 
• Segundo ORLANDO GOMES, classificam-se os atos jurídicos em sentido 
estrito em: 
c.1.1) atos materiais ou reais: consistem numa atuação da vontade que lhes 
dá existência imediata, porque não se destinam ao conhecimento de 
determinada pessoa, não tendo, portanto, destinatário. Trata-se de atos a que 
a ordem jurídica confere efeitos invariáveis, de maneira que tais 
conseqüências jurídicas estão adstritas tão somente ao resultado da atuação, 
produzindo-se independentemente da consciência que o agente tenha de que 
seu comportamento o suscita; 
c.1.2) participações: consistem em declarações para ciência ou comunicação 
de intenções ou de fatos, tendo, portanto, por escopo produzir in mente alterius 
um evento psíquico. Têm, necessariamente, destinatário, pois o sujeito pratica 
o ato para dar conhecimento a outrem de que tem certo propósito ou que 
ocorreu determinado fato. Não se confundem, entretanto, com as declarações 
de vontade dos negócios jurídicos. Nas participações, a declaração de vontade 
consiste em simples comunicação. Formas de participações: 
a) intimação: é o ato pelo qual alguém participa a outrem a intenção de 
exigir-lhe o cumprimento de certo ato. Também se chama interpelação e 
quando esta é judicial é de direito público e quando extrajudicial, de direito 
privado; 
b) notificação: é o ato através do qual alguém dá ciência a outrem da 
ocorrência que a este interessa conhecer; 
c) oposição: é o ato mediante o qual alguém impugna a realização de certo 
ato ou nega anuência a ato que a reclama; 
d) aviso: é o ato pelo qual se comunica a outrem que determinada ocorrência 
se verificou ou se verificará, em certo prazo. Ex. aviso prévio. 
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e) confissão: é a declaração de vontade que consiste em admitir alguém a 
veracidade de fatos desfavoráveis aos seus próprios interesses. Ex. confissão 
de dívida. 
 
 
3) NEGÓCIO JURÍDICO: 
 
Na definição de negócio jurídico, surgiram duas teorias, a saber: 
 
a) a OBJETIVA: o negócio jurídico é a expressão da autonomia privada. A 
intenção é irrelevante. Não há necessidade de que a intenção seja adequada ao 
resultado jurídico provocado. A aceitação desta teoria conduziria a resultadosdiversos no tratamento do problema dos vícios do consentimento e 
interpretação do negócio jurídico, vale dizer, não admitiria vícios do 
consentimento e interpretaria o negócio jurídico fundado apenas nos 
caracteres externos. 
b) a VOLUNTARISTA: negócio jurídico é a declaração de vontade 
destinada a provocar determinados efeitos jurídicos ou dirigida à realização de 
um fim prático tutelado pela ordem jurídica. Entre a vontade real (intenção 
interior) e a vontade declarada, deve prevalecer a primeira. Requer, portanto, 
interpretação de vontade. Esta é a teoria que prevalece em nossos dias. Logo, 
para esta concepção basta a mera manifestação de vontade para a aquisição de 
um direito, como por exemplo, a compra e venda de uma casa; para 
conservação, como o protesto; para a modificação, como a novação; para a 
extinção, como a rescisão contratual, etc., sendo necessário que tal efeito 
visado pelo interessado esteja conforme a norma jurídica. Mera atividade 
volitiva interna não basta para configurar o negócio jurídico. A vontade deve 
ser declarada e dirigir-se à produção de efeito jurídico (nascimento, 
modificação, conservação ou extinção de um direito) tutelado pela ordem 
jurídica e objetivamente possível. Puro gracejo não gera obrigação. Embora 
gere efeitos jurídicos, a sentença judicial não se classifica como negócio 
jurídico, porque emana de agente no exercício de autoridade pública. O 
negócio jurídico é figura de direito privado. 
• OS NEGÓCIOS JURÍDICOS CLASSIFICAM-SE EM: tal classificação é dada 
por Washington de Barros Monteiro, sob a denominação de classificação dos 
atos jurídicos e Silvio Rodrigues como negócios jurídicos: 
1) Quanto às vantagens que produzem: 
1.1) gratuitos: quando há enriquecimento patrimonial sem contraprestação; 
1.2) onerosos: onde os agentes visam, reciprocamente, obter vantagens para 
si ou para outrem, podendo ser comutativos ou aleatórios; 
2) Quanto às formalidades: 
2.1) solenes: que requerem forma prescrita em lei; 
2.2) não-solenes, que não exigem forma legal para sua efetivação; 
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3) Quanto ao conteúdo: 
3.1) patrimoniais: se versarem sobre questões suscetíveis de aferição 
econômica, podendo apresentar-se ora como negócios reais ora como 
negócios obrigacionais; 
3.2) extrapatrimoniais: se atinentes aos direitos personalíssimos e ao direito 
de família. 
4) Quanto à manifestação de vontade: 
4.1) unilaterais: se o ato de vontade provier de um ou mais sujeitos, desde 
que estejam na mesma direção com um mesmo objetivo (testamento, 
promessa de recompensa), subdividindo-se em receptícios, cujos efeitos 
só se produzem quando a declaração é recebida pelo destinatário 
(despedida de empregado, oferta de contrato) e não-receptícios, se sua 
efetivação independer do endereço a certo destinatário, valendo a 
manifestação desde que esta é exteriorizada, isto é, a vontade (renúncia à 
herança); 
4.2) bilaterais: se a declaração volitiva emanar de duas ou mais pessoas, 
porém dirigidas em sentido contrário, podendo ser simples, quando 
concederem benefício a uma das partes e encargo à outra (doação, depósito 
gratuito), e sinalagmáticos, quando conferirem vantagens e ônus a ambos 
os sujeitos (compra e venda, locação, etc.). 
5) Quanto ao tempo em que produzem efeitos: podem ser “inter vivos” ou “causa 
mortis”. 
6) Quanto aos seus efeitos: 
6.1) constitutivos: quando sua eficácia opera-se a partir do momento da 
conclusão; 
6.2) declarativos: cuja eficácia só se efetiva a partir do momento em que se 
operou o fato a que se vincula a declaração de vontade. 
7) Quanto à sua existência: podem ser principais ou acessórios. 
8) Quanto ao exercício dos direitos: 
8.1) negócios de disposição: se implicarem o exercício de amplos direitos 
sobre o objeto: 
8.2) de simples administração: se concernentes ao exercício de direitos 
restritos sobre o objeto sem que haja alteração em sua substância (mútuo, 
locação de uma casa). 
9) Quanto à forma: 
9.1) verbais: que pode se dar entre presentes, consumando-se com a emissão, 
e entre ausentes; 
9.2) escritas, 
9.3) expressa 
9.4) tácita. 
• Não basta a manifestação da vontade individual para a aquisição, 
transferência, modificação, conservação ou extinção de um direito. É 
preciso que a lei reconheça esses efeitos, emprestando-lhes, portanto, teor 
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jurídico. Denomina-se princípio da autonomia da vontade a medida na 
qual o direito positivo reconhece aos indivíduos a possibilidade de praticar 
atos jurídicos, produzindo seus efeitos. No campo dos atos bilaterais, a 
autonomia da vontade manifesta-se sob a forma de liberdade de contratar. 
O titular decide: se, sobre o que, com quem, como e quando, contrata. 
Fruto do próprio curso econômico desigual tomado pela sociedade, há 
necessidade de se limitar cada vez mais a autonomia privada no interesse da 
proteção dos mais fracos. A isso se chama intervencionismo estatal na 
economia contratual. Ex. Lei do Inquilinato, relações de trabalho (in dubio 
pro misero!). 
 
 
4) REPRESENTAÇÃO DOS INCAPAZES: 
 
• Representação é relação jurídica pela qual determinada pessoa se obriga 
diretamente perante terceiro, mediante ato praticado em seu nome por um 
representante ou intermediário; os direitos podem ser adquiridos, 
efetivamente, pelo próprio agente, ou por terceiro que o represente. 
• Com relação à capacidade do agente no negócio jurídico, esta deve sempre 
existir, tal como a declaração de vontade, havendo em nosso direito pátrio, 
em seus artºs 3º e 4º do CCB, o rol dos absoluta e relativamente incapazes, 
que não podem, por si só, praticar nenhum negócio jurídico. Vemos assim 
que pais, tutores curadores são representantes legais, e o ato praticado pelo 
absolutamente incapaz sem a devida representação é nulo (CCB 1916, artºs 
84 e CCB 202, artº 166, I) e o realizado pelo relativamente incapaz sem 
assistência é anulável (CCB 2002, artºs 171, nº I e 1690). No tocante aos 
tutelados, o artº 1747 determina que cabe ao tutor representar o menor, até 
os 16 anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, após essa idade, nos atos em 
que for parte, suprindo-lhe o consentimento. Quanto aos curatelados, o 
artº 1774 e 1781 determina a representação legal dos interditos, assim 
também ao do ausente, declarado tal por ato do juiz. Contudo, a 
incapacidade de uma das partes não pode ser invocada pela outra em 
proveito próprio, salvo se for indivisível o objeto do direito ou da 
obrigação. Por ser a incapacidade uma exceção pessoal, ela só pode ser 
formulada pelo próprio incapaz ou pelo seu representante legal. 
• Tão importante matéria mereceu do legislador de 2002 um capítulo especial 
no Livro dos fatos jurídicos, que dela se ocupa no arts. 115 a 120. 
• Três são os representantes admitidos em nosso direito: 
1) Legais: são aqueles a quem a própria lei confere poderes para administrar 
bens de outrem, como pais, tutores e curadores, em relação aos filhos 
menores, pupilos e curatelados; 
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13 
2) Judiciais: são os nomeados pelo juiz para o exercício de certo cargo no 
foro ou no processo, como o síndico, o inventariante e o curador da 
herança jacente; 
3) Convencionais: são os representantes munidos de mandato, expresso ou 
tácito, verbal ou escrito, do representado, como os procuradores (no 
contrato de mandato) e o comissário (no contrato de comissão mercantil). 
• Para Clóvis Beviláqua, existe a capacidade geral e uma especial para certos 
negócios em dadas circunstâncias. A capacidade especial ou legitimação 
distingue-se da capacidade geral das partes, para validez do negócio 
jurídico, pois para que ele seja perfeitonão basta que seja plenamente 
capaz; é imprescindível que seja parte legítima, isto é, tenha competência 
para praticá-lo, dada a sua posição em relação a certos interesses jurídicos. 
A falta de legitimação pode tornar o negócio nulo ou anulável, dependendo 
ela da particular relação do sujeito com o objeto do ato negocial. 
• Para que o negócio jurídico se repute perfeito e válido deverá versar sobre 
objeto lícito, ou seja, conforme a lei, não sendo contrário aos bons 
costumes, à ordem pública e à moral. Além disso, deve ser possível, física e 
juridicamente, o objeto do ato negocial. 
• Finalmente, a manifestação de vontade exerce papel preponderante no 
negócio jurídico, sendo um de seus elementos básicos. Limongi França 
preceitua: “Consentimento é a anuência válida do sujeito a respeito do entabulamento 
de uma relação jurídica sobre determinado objeto”. Tal consentimento pode ser 
expresso ou tácito, receptícias e não receptícias. 
 
 
 
5) INTERPRETAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS OU ATOS 
JURÍDICOS: 
 
 
• Quanto à interpretação do negócio jurídico, esta pode ser: declaratória, se 
esta tiver por escopo expressar a intenção dos interessados; integrativa, se 
pretender preencher lacunas contidas no negócio, por meio de normas 
supletivas, costumes, etc., e, construtivas, se objetivar reconstruir o ato 
negocial com o intuito de salvá-lo. 
• A interpretação do negócio situa-se na seara do conteúdo da declaração 
volitiva, fixando-se em normas empíricas, mais de lógica prática do que de 
normação legal, pois o Código Civil contém tão somente cinco normas 
interpretativas, a saber: 
1) nas declarações de vontade atender-se-á mais à sua intenção do que ao 
sentido literal da linguagem (CCB artº 112); 
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14 
2) os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos 
do lugar de sua celebração (artº 113-CCB); 
3) os contratos benéficos e a renúncia interpretar-se-ão estritamente (CCB, 
artº 114); 
4) nos contratos de adesão, havendo cláusulas ambíguas ou contraditórias, 
dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente (CCB, artº 423); 
5) nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia 
antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio (CCB, artº 
424); 
6) a fiança dar-se-á por escrito e não admite interpretação extensiva (CCB, 
artº 819 e RT 476/157); 
7) a transação interpreta-se restritivamente (artº 843-CCB); 
8) é nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos 
lucros e das perdas (artº 1.008-CCB); 
9) quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, 
prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador 
(CCB, artº 1899); 
10) Dentre estes, podemos acrescentar o preceito do artº 47 do Código de 
Defesa do Consumidor, em que as cláusulas contratuais serão interpretadas 
de maneira mais favorável ao consumidor. 
• Assim, a observância do negócio jurídico constitui um dos meios 
demonstrativos da interpretação da vontade das partes. A melhor 
interpretação de um contrato é a maneira pela qual os interessados, de 
comum acordo, o executaram. Os eventos posteriores são a melhor 
explicação dos fatos. De qualquer forma, se os termos são claros e 
apropriados, não há como fugir ao sentido literal e gramatical; as várias 
cláusulas da estipulação interpretam-se pondo-as em harmonia, não 
isoladamente. 
• O silêncio importa anuência quando as circunstâncias ou os usos o 
autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa (art. 111 
do CCB). 
• Para arremate, a Lei de Introdução ao Código Civil, em seu art. 5º., 
preceitua que “na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela 
se dirige e às exigências do bem comum”. 
 
 
 
 
 
 
 
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15 
CAPÍTULO III 
 
DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
 
 
1) GENERALIDADES: 
 
• Segundo vimos anteriormente, o ato jurídico é manifestação da vontade 
tendente a criar, modificar ou extinguir um direito. Para que este 
validamente exista, indispensável é a presença do elemento volitivo, que 
este tenha existido e haja funcionado normalmente. 
• Efetivamente, pode acontecer que a vontade não tenha existido na 
celebração do negócio jurídico, fruto das mais diversas circunstâncias, 
sejam elas transitórias ou duradouras. 
• Pode acontecer ainda que a vontade tenha existido, pois o interessado 
desejou realmente praticar o ato questionado, mas a sua vontade estava 
contaminada por alguns dos vícios do consentimento, eivando o ato de 
nulidade. 
• Por fim, há casos em que a vontade existe e funciona normalmente, mas 
esta se desvia da lei ou da boa fé, e orienta-se no sentido de prejudicar a 
terceiros, ou se infringir o direito. 
• Ocorrendo tais fatos, surgem as figuras do erro ou ignorância, dolo, coação 
ou violência, estado de perigo, lesão, simulação e a fraude contra credores. 
• CLASSIFICAÇÃO: Os cinco primeiros (erro ou ignorância, dolo, coação ou 
violência, estado de perigo e lesão) são os chamados vícios de 
consentimento, pois incidem sobre a vontade impedindo de se externar 
conforme o último desejo do agente. Nos dois últimos (simulação e fraude 
contra credores) trata-se de vícios sociais, pois nesses o consentimento se 
revela desembaraçado de peias. Vejamos com mais vagar cada defeito 
acima relacionado. 
 
 
2) DO ERRO OU IGNORÂNCIA: 
 
2.1) CONCEITO: 
• Ocorre o erro quando o autor da declaração a emitiu inspirado num engano 
ou na ignorância da realidade. É a noção falsa a respeito de um objeto ou 
de determinada pessoa. Tal é equiparado à ignorância, que é o completo 
desconhecimento acerca de um objeto. Num e noutro caso, o agente é 
levado a praticar o ato jurídico que não praticaria por certo, ou que 
praticaria em circunstâncias diversas, se estivesse devidamente esclarecido. 
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16 
2.2) ESPÉCIES DE ERRO: 
 
a) ERRO SUBSTANCIAL: o erro, para viciar a vontade e tornar anulável, é 
de tal força, de tal relevo, de tal consistência, que, sem ele, o ato não se 
realizaria. Declara o artº 138 do CCB: “São anuláveis os negócios jurídicos, quando 
as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa 
de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio”. Declara ainda o artº 139, I 
do CCB que o erro é substancial quando: “I - interessa à natureza do negócio, ao 
objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais”. 
a.1) Erro essencial sobre a natureza do ato: (error in ipso negotio) quando se 
tenciona praticar certo ato e no entanto se realiza outro. Inexistindo acordo 
de vontades sobre a própria essência do ato, em virtude de erro substancial, é 
ele ineficaz. Ex. A entrega determinado objeto a título de empréstimo e B 
recebe-o a título de doação. 
a.2) Erro sobre o objeto principal da declaração: (error in ipso corpore rei) 
quando a coisa concretizada no ato em verdade não era pretendida pelo 
agente. A vontade desvia-se devido ao desentendimento sobre o objeto do 
ato, sendo este anulável e o adquirente está autorizado a pedir sua decretação. 
Ex. O comprador acredita estar adquirindo terreno urbano e na verdade está 
adquirindo terreno rural. 
a.3) Erro sobre qualidades essenciais do objeto: (error in substantia) quando 
se supunha existente determinada qualidade que, porém, não existia, tendo a 
falsa crença determinado a vontade. Ex. Adquiro carro de mil cilindradas 
pensando ser de duas mil. Em todas essas hipóteses acima mencionadas o ato 
é ANULÁVEL. 
b) ERRO SOBRE A PESSOA: Estabelece o artº 139, II do CCB: “Concerne 
à identidade ou à qualidade essencial da pessoaa quem se refira a declaração de vontade, 
desde que tenha influído nesta de modo relevante”. O erro, incidindo sobre a pessoa 
com que se teve intenção de tratar, só é causa de anulabilidade do ato quando 
a consideração da mesma pessoa foi a causa determinante, a mola propulsora 
do negócio jurídico. Ex. no casamento (artºs 1556 e 1557), na sucessão 
testamentária (artº 1903), no contrato de sociedade, no contrato a título 
oneroso, tendo por objeto coisa infungível (artº 247), e, finalmente, todos os 
atos benéficos realizados intuitu personae (doação, dote, etc.). Outrossim, casos 
há em que o contrato não visa pessoa contratada, por versar este sobre coisas 
fungíveis, cuja prestação poderá ser efetuada por qualquer pessoa. Daí, o ato é 
válido. 
c) ERRO ACIDENTAL: Esse erro não induz anulação do ato. Está, nesse 
caso, exemplificativamente, o equívoco relacionado com o valor do objeto 
contratado, bem assim, a entrega do automóvel diferente em série ou no ano 
de produção. Qual a diferença entre erro sobre as qualidades essenciais do 
objeto e vício redibitório? R. Embora íntima a relação existente entre eles, em 
verdade são diversos os respectivos fundamentos. No vício redibitório (artºs 
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17 
441 a 446) o fundamento é a garantia que o vendedor tem de assegurar ao 
comprador contra os defeitos ocultos da coisa e que a tornam imprestável ao 
fim a que se destina; no erro, a anulação tem por base o consentimento 
imperfeitamente fornecido no momento da constituição do ato. 
d) ERRO ESCUSÁVEL: Há de ter por fundamento uma razão plausível, ou 
de ser de tal monta, que qualquer pessoa inteligente e de atenção ordinária 
seja capaz de cometê-lo. Deve ser ainda real, isto é, tangível, palpável, 
importando efetivo prejuízo para o interessado. 
e) ERRO DE FATO: É aquele que recai sobre circunstâncias de fato, por 
exemplo, sobre qualidades essenciais da pessoa ou da coisa. 
f) ERRO DE DIREITO: É aquele que diz respeito a existência de norma 
jurídica, supondo-se, por exemplo, que está em vigor quando, em verdade, 
está revogado. É possível equiparar o erro de direito ao erro de fato para a 
caracterização do vício de vontade, causa de anulação do ato jurídico? R. O 
nosso CCB não se refere ao erro de direito, pois CLÓVIS BEVILAQUA 
equipara as noções de erro de direito e ignorância da lei, opinando pela 
inexistência do error juris ante o artº 3º da LICC. Portanto, o erro de direito 
não é considerado como causa de anulação do contrato. Só o erro de fato é 
que pode influir de modo a anulá-lo, sobre a eficácia do elemento volitivo. 
Entretanto, tal entendimento foi duramente combatido pela doutrina e pela 
jurisprudência, cujo entendimento predominante é de que o erro de direito, 
como o de fato, desde que afete a manifestação da vontade, na sua essência, 
vicia o consentimento. Outrossim, preciso é atentar para o exato alcance dos 
preceitos de escusa de cumprir a lei por não a conhecer, por exemplo, não 
posso alienar bens recebidos em fideicomisso, cuja propriedade é restrita e 
resolúvel, e depois subtrair-se às conseqüências, alegando ignorar a limitação 
constante do art. 1.953 do CCB. De outra forma, posso alegar a ignorância 
em tela se presumo ser estrangeiro pessoa que tem garantia de legislação que 
dispõe sobre nacionalidade e cidadania, pois houve erro no processo 
formativo da minha vontade. Assim, o error juris não consiste apenas na 
ignorância da norma, mas também no seu falso conhecimento e na sua 
interpretação errônea. 
g) FALSA CAUSA: Causa é o escopo, o fim visado pela parte ao realizar o 
negócio jurídico. Erro quanto ao fim colimado não vicia, em regra, o negócio 
jurídico, a não ser quando nele figurar expressamente, integrando-o, como sua 
razão essencial ou determinante, caso em que o torna anulável. É o que 
preceitua o artº 140 do CCB. Ex. Se alguém beneficiar outro com uma 
doação, declarando que assim procede porque o donatário lhe salvou a vida, 
se isso não corresponder à realidade, provando-se que o donatário nem 
mesmo participara do salvamento, viciado estará o negócio, sendo anulável. 
Finalmente, pelo artº 141 do CCB se alguém transmitir uma declaração de 
vontade de incorreta, acarretando desavença entre a vontade declarada e a 
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18 
interna, poder-se-á declarar erro nas mesmas condições que a manifestação de 
vontade é realizada entre presentes. 
• Estabelece mais o artº 142 do CCB que o “erro de indicação da pessoa ou 
da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio 
quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa 
ou pessoa cogitada”. Já vimos que no direito hereditário se encontra 
disposição especial da mesma natureza, a constante do art. 1903 do CCB. 
• Assim, quem alega o erro deve prová-lo. Erro só pode ser alegado por 
aquele a quem aproveite o reconhecimento do vício, não pela outra parte. 
Embora anulável o ato eivado de erro, prevalece enquanto não anulado por 
sentença. Por fim, o CPC faculta à parte inocente provar com testemunhas, 
nos contratos em geral, os vícios do consentimento (artº 404, II). 
• De acordo com o art. 144 do CCB, o erro não prejudica a validade do 
negócio jurídico quando a pessoa a quem a manifestação de vontade se 
dirige se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do 
manifestante. Nada impede, efetivamente, que, inobstante o erro ocorrido 
na manifestação de vontade, a parte a quem esta se dirige esteja de acordo 
em realizar o negócio tal como deveria ser sem a ocorrência do erro. 
 
 
3) DO DOLO: 
 
 
3.1) DEFINIÇÃO: 
 
• O dolo é o emprego de um artifício ou expediente astucioso para 
induzir alguém à prática de um ato que o prejudica e aproveita o 
autor do dolo ou terceiro (Clóvis Beviláqua). É o sentido da doutrina 
dominante. Diferenciando o dolo do erro, este deriva de um equívoco da 
própria vítima, é puramente fortuito, sem que a outra parte tenha 
concorrido para isso, ao passo que naquele é intencionalmente provocado 
na vítima pelo autor do dolo ou terceiro, sendo, portanto, passível de 
anulação (artºs 145 a 150 e 171, II, do CCB). Cabe salientar que há 
diferença entre o dolo civil, da qual tratamos, e o dolo criminal, pois neste 
diz-se doloso o crime quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco 
de produzi-lo (artº 18, nº I, do CP). Diferencia-se, também, o dolo civil do 
dolo processual, sendo este decorrente da maneira pela qual o litigante se 
conduz na causa, agindo de forma temerária, com provocação de incidentes 
manifestamente infundados, com o único objetivo de protelar o julgamento 
do feito. 
 
 
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3.2) ESPÉCIES DE DOLO: 
 
a) “DOLUS BONUS ou MALUS”: O “Dolus Bonus” é um 
comportamento lícito e tolerado consistente em reticências, exageros nas boas 
qualidades, dissimulações de defeitos. É o artifício que não tem finalidade de 
prejudicar. Esse dolo não induz a anulação do ato. Ex. Vendedor que exalta 
as qualidades da coisa vendida, com certo exagero e o comprado, que a 
diminui e encontra defeitos não existentes. O “Dolus Malus” consiste no 
emprego de manobras astuciosas destinadas a prejudicar alguém. É o dolo 
grave, que vicia o consentimento. É o que se refere o nosso Código Civil. 
b) “DOLUS CAUSAM” e “DOLUS INCIDENS”: O Dolo Principal, 
também chamado dolo essencial, dolo determinante ou dolo causal, é aquele 
que dá causa ao negócio jurídico sem o qual ele não se teria concluído (CCB, 
artº 145), acarretando, então, a anulabilidade daquele negócio. O Dolo 
Incidente é aquele que leva a vítima a realizar o ato, porém em condições mais 
onerosas ou menos vantajosas. Requisitos: 
b.1) haja intenção de induzir o declarantea praticar o negócio jurídico, desde 
que ocorra prejuízo para a vítima; 
b.2) que os artifícios fraudulentos sejam graves, aproveitando a quem os 
alega; 
b.3) sejam causa determinante da declaração de vontade; 
b.4) procedam do outro contratante, ou sejam deste conhecidos, se 
procedentes de terceiro. 
• O Dolo Acidental é o que leva a vítima a realizar o negócio, porém em 
condições mais onerosas ou menos vantajosas (artº 146, CCB), não 
afetando sua declaração de vontade, embora provoque desvios, não se 
constituindo vício de consentimento, por não influir diretamente na 
realização do ato, que se teria realizado independentemente do emprego de 
artifícios astuciosos. Não acarreta a anulação do negócio jurídico, 
obrigando apenas à satisfação de perdas e danos ou a uma redução da 
prestação acordada. 
c) DOLO POSITIVO OU NEGATIVO: Dolo positivo é o artifício 
astucioso que consta de ação dolosa, ou seja, é o dolo por comissão em que a 
outra parte é levada a contratar, por força de artifícios positivos, ou seja, 
afirmações falsas sobre a qualidade da coisa. Dolo negativo é a manobra 
astuciosa que constitui uma omissão dolosa ou reticente; dá-se quando uma 
das partes oculta alguma coisa que o co-contratante deveria ser sabedor e se 
sabedor não teria realizado o negocio (artº 147 do CCB). Requisitos: 
c.1) intenção de induzir o outro contratante a praticar o negócio jurídico; 
c.2) silêncio sobre uma circunstância ignorada pela outra parte; 
c.3) relação de causalidade entre a omissão intencional e a declaração de 
vontade; 
c.4) ser a omissão do outro contratante e não de terceiro. 
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20 
d) DOLO DE TERCEIRO: É o praticado por pessoa fora da relação 
negocial, cuja ação é de conhecimento de uma das partes. Mas se não é 
conhecido por uma das partes, tal ação dará lugar à uma indenização por 
parte da vítima contra o terceiro autor do dano intencional. 
e) DOLO DO REPRESENTANTE LEGAL OU CONVENCIONAL: 
É o praticado pelo representante legal ou convencional de uma das partes, 
não sendo considerado de terceiro, pois age como se fosse o representado, 
sujeitando-o à responsabilidade civil até a importância do proveito que obteve 
do negócio (CCB artº 149), tendo esse ação regressiva contra o representante 
pela quantia que tiver desembolsado para ressarcir o dano causado, salvo de 
agiram em conluio. 
f) DOLO DE AMBAS AS PARTES: O dolo de ambas as partes que agem 
dolosamente, configurando-se torpeza bilateral, ocorre neutralização do delito 
porque há compensação entre os dois ilícitos, a ninguém cabendo se 
aproveitar do próprio dolo. Assim, não poderá haver anulação do negócio. 
Válido será o ato negocial, ficando o dolo de um compensado pelo dolo do 
outro, seja qual for a espécie de dolo. 
• CASOS ESPECIAIS DE ATUAÇÃO DOLOSA: 
a) Disposições testamentárias: captação e sugestão; 
b) É retratável a renúncia da herança, quando proveniente do dolo (artº 
1.812); 
c) A partilha pode ser invalidada em razão do mesmo vício (artº 2.027) 
 
 
4) DA COAÇÃO: 
 
 
4.1) DEFINIÇÃO E GENERALIDADES: 
 
 
• Coação é qualquer pressão física ou moral exercida sobre a pessoa e 
a honra de um contratante para obrigá-lo ou induzi-lo a efetivar um 
negócio jurídico (Maria Helena Diniz). É o vício mais profundo que 
possa afetar o ato jurídico, uma vez que seu impacto o atinge na própria 
base, a vontade livre do agente. 
• Clóvis Beviláqua afirma que a coação pode ser encarada sob dois aspectos 
distintos, ab intrinseco e ab extrinseco. No primeiro caso, é o estado de espírito 
em que o agente, perdendo a energia moral e a espontaneidade do querer, 
realiza o ato que lhe é exigido. No segundo caso, é a violência, física ou 
moral, exercida sobre a pessoa para constrangê-la à prática do ato. 
 
 
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21 
4.2) ESPÉCIES: 
 
a) Coação Física ou “Vis Absoluta”: é o constrangimento corporal que 
retira toda capacidade de querer, implicando ausência total de consentimento, 
o que acarreta inexistência ou nulidade do ato, não se tratando de vício de 
vontade. Ex. A mão da vítima é conduzida a assinar ou subscrever um 
documento. Ela é privada de manifestação de vontade, pois sua vontade está 
aniquilada. É a completa ausência de consentimento, sendo o ato nulo de 
pleno direito, e não anulável. 
b) Coação Moral ou “Vis Compulsiva”: atua sobre a vontade da vítima, 
sem aniquilar-lhe o consentimento, pois conserva ela uma relativa liberdade, 
podendo optar entre a realização do negócio que lhe é exigido e o dano com 
que é ameaçada. É modalidade de vício de consentimento, pois permite que o 
coacto emita uma vontade, embora maculada, acarretando a anulabilidade do 
negócio por ele realizado (artº 171, II, CCB). 
 
4.3) REQUISITOS DA COAÇÃO: 
 
Para que se configure a coação moral é mister a ocorrência dos seguintes 
requisitos: 
1) a coação deve ser a causa determinante do negócio jurídico; 
2) a coação deve incutir à vítima um temor justificado (artº 152 do CCB); 
3) o temor deve dizer respeito a um dano iminente, suscetível de atingir a 
pessoa da vítima, sua família ou seus bens; 
4) o dano deve ser considerável ou grave, podendo ser moral ou patrimonial; 
5) o dano deve ser igual, pelo menos, ao receável do ato extorquido. 
 
4.4) CASOS DE EXCLUSÃO: 
 
Outrossim, seguindo-se o ditame do artº 153 do CCB, excluem a coação: 
1) a ameaça do exercício normal de um direito: se a ameaça é justa não existe 
coação, e sim exercício normal de um direito, embora com alteração do 
consentimento. Ex. Devedor de dívida vencida e não paga que é ameaçado 
pelo credor de que irá protestar o título, ou requerer sua falência; 
2) simples temor reverencial, que é o receio de desgostar pai, mãe ou pessoas 
a quem deve obediência e respeito. 
• OUTRAS DISPOSIÇÕES: Finalmente, pelo artº 154 do CCB, a coação 
exercida por terceiro, ainda que dela não tenha ciência o contratante, vicia o 
negócio, causando sua anulabilidade. Porém, se a coação exercida por 
terceiro for previamente conhecida pela parte a quem aproveitar, esta 
responderá solidariamente com aquele por todas as perdas e danos. E se a 
parte prejudicada com a anulação do ato não soube da coação exercida pelo 
terceiro, só este responderá pelas perdas e danos (artº 155, par. 2º). 
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22 
5) DA SIMULAÇÃO: 
 
 
5.1) CONCEITO E GENERALIDADES: 
 
• Diz Clóvis Beviláqua que simulação é a declaração enganosa de vontade, 
visando produzir efeito diverso do ostensivamente indicado. Procura-se 
iludir alguém por meio de uma falsa aparência que encobre a verdadeira 
feição do negócio jurídico. Nela a vontade se conforma com a intenção das 
partes que combinam entre si no sentido de manifestá-la de determinado 
modo, a fim de prejudicar terceiro que ignora o fato. Ex. Ocultação do 
verdadeiro preço da coisa no contrato de compra e venda, antedata de 
documento, realização de ato jurídico mediante interpretação de pessoa, 
sonegação. A simulação tem diversas procedências, tais como burlar a lei, 
fraudar o fisco, prejudicar credores, guardar em reserva determinado 
negócio, etc. 
 
 
5.2) CARACTERÍSTICAS: 
 
São características da simulação: 
1) é uma falsa declaração bilateral da vontade; 
2) a vontade exteriorizada diverge da interna ou real, não correspondendo à 
intenção das partes; 
3) é sempre concertada com a outra parte, sendo, portanto, intencional o 
desacordo entre a vontade interna e a declarada; 
4) é feita no sentido de iludir terceiro. 
• Qual a diferença entre simulação e dissimulação? 
R. A simulação provoca a falsa crença num estado não real, que engana sobre 
a existência de uma situação não verdadeira. A dissimulação oculta ao 
conhecimento de outremuma situação existente, pretendendo, portanto, 
incutir no espírito de alguém a inexistência de uma situação real. 
 
 
 
 
 
5.3) ESPÉCIES: 
 
a) RESERVA MENTAL: é a emissão de uma declaração não querida em 
seu conteúdo, tampouco em seu resultado, pois o declarante tem por único 
objetivo enganar o declaratário. Nela o agente quer algo e declara, 
conscientemente, coisa diferente para, eventualmente, poder alegar o erro em 
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23 
seu proveito, enganando o outro contratante, sendo ineficaz, por não atingir a 
validade do negócio jurídico. O atual CCB não cuidou da reserva mental. 
 
b) SIMULAÇÃO ABSOLUTA: quando a declaração enganosa da vontade 
das partes exprime um negócio jurídico bilateral ou unilateral simulado, que 
não gerará efeito algum entre as partes, não havendo intenção de realizar 
negócio algum. O ato é ilusório, inexistente, fictício. Ex. Devedor que simula 
venda de seus bens a parente ou amigo, para que aqueles se subtraiam à 
execução dos credores. 
 
c) SIMULAÇÃO RELATIVA: quando resulta no intencional desacordo 
entre a vontade interna e a declarada. Dá-se quando uma pessoa, sob a 
aparência de um negócio fictício, pretende realizar outro que é o verdadeiro, 
diverso no todo ou em parte do primeiro. Tem a intenção de prejudicar 
terceiros. Há, neste caso, dois contratos, um aparente e um real, sendo este o 
que é querido pelas partes e que se lhe oculta de terceiros. A simulação 
relativa pode ser: 
c.1) Subjetiva: quando o negócio não é efetuado pela próprias partes mas por 
uma pessoa interposta ficticiamente, quando o negócio aparente conferir ou 
transmitir direitos a pessoa diversa a quem se confere ou se transmite (CCB, 
artº 167, par. 1º). 
c.2) Objetiva: se for relativa à natureza do negócio pretendido, ao objeto ou 
a um dos elementos contratuais. Será objetiva se o negócio contiver 
declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira. Ex. Doação do 
homem casado à concubina, efetivada mediante compra e venda. 
 
d) SIMULAÇÃO INOCENTE: quando não existir intenção de violar a lei 
ou de lesar outrem, devendo ser, por isso, tolerada (CCB, artº 103). Apresenta 
os seguintes elementos: intencional declaração contrastante com a vontade 
real das partes; ocultação do negócio real a terceiros e ausência de prejuízo a 
terceiros ou de violação a lei. Os contraentes poderão usar da ação 
declaratória de simulação ou opô-la sob a forma de exceção, em litígio de um 
contra o outro, ou contra terceiro. 
 
e) SIMULAÇÃO MALICIOSA: é a que envolve o propósito de prejudicar 
terceiros ou de burlar o comando legal, viciando o ato que perderá toda a 
validade. Os contratantes nada poderão alegar ou requerer em juízo quanto à 
simulação do negócio, em litígio de um contra o outro ou contra terceiro (artº 
167 do CCB). 
 
6) DA FRAUDE CONTRA CREDORES: 
 
6.1) DEFINIÇÃO E ELEMENTOS CONSTITUTIVOS: 
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24 
É a prática maliciosa, pelo devedor, de atos que desfalcam o seu patrimônio, 
com o escopo de colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas em 
detrimento dos direitos creditórios alheios. Desta feita, deverá o devedor 
responder, com seu patrimônio, por dívidas por ele contraídas, não podendo 
ser preso em decorrência do não pagamento dela, com exceção dos casos 
elencados pelo artº 5º, LXVII, da Constituição Federal. Algumas vezes, o 
devedor oferece ao credor uma garantia específica, que recai sobre 
determinado bem, móvel ou imóvel, como acontece no penhor e na hipoteca. 
A coisa dada em garantia fica sujeita por vínculo real, ao cumprimento da 
obrigação (artº 1.419 do CCB). Outras vezes, o credor não dispõe de garantia 
específica , contando apenas com a garantia comum a todos os credores, que 
é o patrimônio do devedor (artº 591 do CCB). 
 
6.2) REQUISITOS: 
Dois são os seus requisitos: 
a) objetivo: o “EVENTUS DAMNI”, que é todo ato prejudicial ao credor, 
por tornar o devedor insolvente ou por ter sido realizado em estado de 
insolvência, devendo haver nexo causal entre o ato do devedor e a sua 
insolvência; 
b) subjetivo: a “CONSILIUM FRAUDIS”, que é a má-fé, a intenção de 
prejudicar do devedor (renúncia da herança) ou do devedor aliado a terceiro 
(venda fraudulenta), ilidindo efeitos da cobrança. Na conceituação de consilium 
fraudis não tem relevância o animus nocendi, o propósito deliberado de 
prejudicar credores. Basta que o devedor tenha consciência de que de seu ato 
advirão prejuízos. A fraude pode existir sem ser premeditada. Igualmente, em 
relação ao cúmplice do fraudador não se cuida da intenção de prejudicar, 
bastando o conhecimento que ele tenha, ou deva ter, do estado de insolvência 
do devedor e das conseqüências que, do ato lesivo, resultarão para os 
credores. 
 
6.3) ATOS SUSCETÍVEIS DE FRAUDE: 
São suscetíveis de fraude os seguintes negócios jurídicos: 
a) a título gratuito (doação, dote) ou remissão de dívidas (CCB artº 386), 
quando os pratique independentemente de má-fé, o devedor já insolvente, ou 
por eles reduzido à insolvência, caso em que poderão ser anulados pelos 
credores quirografários (sem garantia) como lesivos dos seus direitos, se já o 
eram (credores) ao tempo desses atos (CCB artº 158, par. 2º); 
b) a título oneroso, se praticado por devedor insolvente ou quando a 
insolvência for notória ou se houver motivo para ser conhecida do outro 
contraente (CCB artº 159), podendo ser anulado pelo credor; 
c) outorga de garantias reais (CCB artº 1.419), pelo devedor a um dos 
credores quirografários estando em estado de insolvência, prejudicando os 
direitos dos demais credores (artº 163), acarretando a anulabilidade do ato; 
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25 
d) pagamento antecipado do débito, que frustra a igualdade que deve haver 
entre os credores quirografários, podendo estes propor ação para tornar sem 
efeito esse pagamento, determinando que o beneficiado reponha aquilo que 
recebeu em proveito do acervo (artº 162). 
 
6.4) AÇÃO REVOCATÓRIA: 
A fraude contra credores, que vicia o negócio de simples anulabilidade, 
somente é atacável por AÇÃO PAULIANA ou AÇÃO REVOCATÓRIA. 
Só pode ser proposta por credor que já o fosse quando se praticou o ato 
acoimado de fraudulento. O credor posterior encontra comprometido o 
patrimônio do devedor, não tendo, pois, direito de reclamar contra a suposta 
fraude. Mas só o quirografário pode intentá-la. Ao credor com garantia real 
não assiste esse direito, por falta de interesse econômico ou moral. Os bens 
que acompanham os créditos os seguem por toda parte, ainda no caso de 
venda. Enquanto existirem tais bens os créditos estão garantidos e o 
pagamento assegurado. 
Requer os seguintes pressupostos: 
a) ser o crédito do autor anterior ao ato fraudulento; 
b) que o ato que se pretende revogar tenha causado prejuízo; 
c) que haja intenção de fraudar, presumida pela coincidência do estado de 
insolvência; 
d) pode ser intentada contra o devedor insolvente, contra pessoa que com ele 
celebrou a estipulação fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam 
procedido de má-fé (artº 161); 
e) prova da insolvência; 
f) perdem os credores a legitimação ativa para movê-la, se o adquirente dos 
bens do insolvente que ainda não pagou o preço, que é o corrente, depositá-lo 
em juízo, com citação edital de todos os interessados (artº 160 - CCB). 
 
6.5) DISPOSIÇÕES ESPECIAIS: 
O principal efeito da ação pauliana é revogar o negócio lesivo aos interesses 
dos credores, repondo o bem no patrimônio do devedor, cancelando a 
garantia real concedida (artº 165, par. único) em proveito do acervo sobre que 
se tenha de efetuar o concurso de credores, possibilitando a efetivação do 
rateio, aproveitando a todos os credores e não apenas ao que intentou.• Diferença entre fraude contra credores e fraude de execução. 
R. Este é incidente de processo regulado pelo direito público e aquele é 
defeito dos atos jurídicos disciplinado pelo direito privado. Na fraude a 
execução pressupõe demanda em andamento que a usa para frustrar a 
execução, torna nulo o ato, os bens do devedor continuam a responder pelas 
dívidas deste como se não tivesse saído do seu patrimônio, sendo que seu 
reconhecimento aproveita somente ao exeqüente. Na fraude contra credores, 
esta não está condicionada à preexistência de demanda em relação ao ato 
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26 
considerado fraudulento, torna o ato anulável, o seu reconhecimento depende 
do ajuizamento da ação revocatória ou pauliana e aproveita, o seu 
reconhecimento, a todos os credores, indistintamente. 
 
 
CAPÍTULO IV 
 
DAS MODALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
 
 
 
1) DA CONDIÇÃO: 
 
 
1.1) DEFINIÇÃO E ELEMENTOS CONCEITUAIS DA CONDIÇÃO: 
 
 
O CCB, em seu artº 121 define condição como sendo: “Considera-se condição a 
cláusula, que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio 
jurídico a evento futuro e incerto”. Portanto, é condicional um negócio quando sua 
eficácia depende de um acontecimento futuro e incerto. Fato passado ou 
presente não é condição. Reportando-se a fato passado ou presente, ou o fato 
se verificou ou não se verificou. No primeiro caso a estipulação deixou de ser 
condicional, convertendo-se em pura e simples, sem afetar a disposição. No 
segundo, a estipulação tornou-se ineficaz por ter falhado o implemento da 
condição. Nosso direito não admite como verdadeira a condição que nada 
deixam em suspenso, sendo estas consideradas impróprias. Afeta apenas a 
eficácia e não a existência do negócio. Tal condição pode ser suspensiva e pode 
ser resolutiva. A condição é uma declaração acessória da vontade, oposta à 
outra, que é principal (Clóvis Beviláqua). Daí decorre que ela segue a sina do 
contrato, sendo nula se ele o for. Há em nosso direito pátrio alguns negócios 
que não admitem condição, senão vejamos: a) o casamento sob condição ou a 
termo; b) emancipação de filho sob condição; c) reconhecer filho ilegítimo 
sob condição (artº 1.613 CCB); d) adotar sob condição (artº 375 CCB); e) 
aceitar ou renunciar herança sob condição ou termo (artº 1.808 CCB); etc. 
Outros há que, por sua natureza, são eminentemente condicionais, como os 
pactos antenupciais, que se reputa celebrado sob condição suspensiva: se o 
casamento se realizar. 
 
 
1.2) CLASSIFICAÇÃO: 
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27 
 
 
• Espécies de condição: são lícitas todas as condições que a lei não vedar 
expressamente (artº 122 CCB). Ela expressamente proíbe as condições: a) 
que privarem de todo o efeito o ato; b) que o sujeitarem ao arbítrio de 
uma das partes; c) impossíveis (CCB artº 123 e 124), quer sejam 
fisicamente impossíveis, que juridicamente, sendo que a primeira 
considera-se não escrita e a última invalida os atos a ela subordinados, 
incluindo-se entre estas as condições contrárias à moral e aos bons 
costumes. 
• Vejamos: 
a) Condição casual: é aquela que depende de um acontecimento alheio à 
vontade das partes, estando submetida ao caso fortuito ou ao acaso. Dá-se 
igualmente o nome de casual à condição que subordina a obrigação a um 
acontecimento que depende da vontade exclusiva de um terceiro; 
 
b) Condição potestativa: quando a realização do fato, de que depende a 
relação jurídica, se subordina à vontade de uma das partes, que pode provocar 
ou impedir sua ocorrência. Nem todas as condições potestativas são ilícitas. 
Só o são puramente potestativa, isto é, aquelas em que a eficácia do negócio fica 
ao inteiro arbítrio de uma das partes sem a interferência de qualquer fator 
externo; é a cláusula si voluero, ou seja, se me aprouver. As condições simplesmente 
potestativas diferem das acima mencionadas porque, embora sujeitas a uma 
manifestação de vontade de uma das partes, dependem, por igual, de algum 
acontecimento que escapa à sua alçada. A condição potestativa pode perder 
esse caráter por dificuldades de toda sorte, que venham a agravar a debilidade 
humana, chamada pelos romanos de condição promíscua, onde, de um instante 
para outro, ela pode deixar de sê-lo, passando a reger-se pelo acaso (Ex. dar-
te-ei tal soma se escalares o pico Jaraguá, sendo esta escalada tolhida por uma 
paralisia no contratante); 
 
c) Condição mista: é aquela que depende da vontade de uma das partes e, 
igualmente, da vontade de um terceiro determinado; 
 
d) Condições lícitas e ilícitas: diz o artº 122 do CCB que são lícitas todas as 
condições que a lei não vedar expressamente, pois, existindo proibição legal, a 
condição é ilícita, acrescentando o mesmo dispositivo que entre as condições 
defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro 
arbítrio de uma das partes. São igualmente ilícitas as condições imorais ou 
contrárias aos bons costumes, tais as que dispensam os cônjuges dos deveres 
de fidelidade e coabitação mútua, ou que imponham a obrigação de viver na 
ociosidade. 
 
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28 
e) Condição impossível: é aquela que subordina a eficácia do negócio a um 
acontecimento cuja realização é física ou juridicamente inalcançável. A 
condição juridicamente impossível é aquela que colide com um obstáculo 
legal e permanente, ou que fere a moral e os bons costumes. A condição de 
não fazer coisa fisicamente impossível tem-se por inexistente. A juridicamente 
impossível invalida o ato a ela subordinado (artº 123 e 124 do CCB). Por 
conseguinte, se impossibilidade é física, o ato prevalece, considerando-se a 
condição como não escrita; se jurídica a impossibilidade da condição, tanto 
esta como o contrato em seu todo é nulo; 
 
f) Condição suspensiva: o artº 125 do CCB dá a noção de condição 
suspensiva, a saber: “Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição 
suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa”. 
De modo que, nos contratos subordinados a esta espécie de cláusula, a 
aquisição do direito fica submetida à ocorrência de um fato futuro e incerto. 
Se este advier, adquire-se o direito; caso contrário, não. O titular do direito 
eventual possui apenas uma expectativa de direito, uma spes debitum iri, ou seja, 
a possibilidade de vir a adquirir um direito, caso a condição ocorra. No artº 
130 do CCB, a lei permite ao titular do direito eventual o exercício de atos 
conservatórios. E no artº 126 do CCB, se alguém dispuser de uma coisa sob 
condição suspensiva e, dependente esta, fizer quanto àquelas novas 
disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com ela forem 
incompatíveis. A condição suspensiva, para os romanos, pode ser considerada 
sob três estados diferentes: o estado de pendência, que perdura enquanto não 
se verifica o evento futuro e incerto, ficando suspenso a eficácia do ato (artº 
125 do CCB - conditio pendet), o de implemento da condição, onde, verificada a 
condição, o direito passa de eventual a adquirido e o ato adquire eficácia, 
como se desde o início fora puro e simples, não condicional (conditio existit) e o 
de sua frustração, onde estima-se como nunca tendo existido a estipulação 
(artº 129 do CCB - conditio deficit); 
g) Condição resolutiva: o negócio se aperfeiçoa desde logo, todavia fica 
sujeito a se desfazer se ocorrer aquele evento futuro e incerto referido na 
avença Enquanto na condição suspensiva o ato só ganha eficácia com o 
advento daquela, na resolutiva o negócio se resolve com o referido advento. 
O artº 127 e 128 do CCB precisa os efeitos da condição resolutiva. Como a 
suspensiva,a resolutiva pode ser igualmente considerada sob três estados: 
pendente a condição, verificada esta, ou comprovado o seu malogro. No 
primeiro, é como se o ato fora puro e simples; verificada, porém, a condição, 
o ato se desfaz, como se nunca tivesse existido; malograda, o ato é também 
considerado como puro e simples desde a origem. A condição resolutiva da 
obrigação pode ser expressa ou tácita, operando, no primeiro caso, de pleno 
direito e, por interpelação judicial, no segundo. Se expressa, não há margem 
para qualquer dúvida; uma vez verificada, opera de pleno direito, 
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29 
independentemente de invocação à justiça; se tácita, porém, torna-se 
imperiosa a intervenção da autoridade judiciária para que esta pronuncie a 
rescisão do ato. Se houver dúvida sobre a natureza da condição, suspensiva 
ou resolutiva, será ela resolvida pelo exame dos termos do ato, intenção das 
partes e circunstâncias do caso. 
• Portanto, a lei considera verificada a condição quando é maliciosamente 
obstada pela parte a quem prejudica, e a presume não ocorrida quando for 
maliciosamente provocada por aquele a quem o seu implemento aproveita 
(artº 129120, do CCB). Ela condena por igual o dolo daquele que impede a 
realização da condição e o daquele que lhe força o advento. A regra é 
informada pelo princípio da responsabilidade, pois, convocando ou 
frustrando a condição, um dos contratantes causa prejuízo ao outro, e a 
melhor maneira de repará-lo é considerar a condição como não ocorrida ou 
realizada. 
• Finalmente, a condição não tem, em regra, efeito retroativo, exceto quando 
a lei expressamente o determina; por conseguinte, os atos de administração 
praticados pendente conditione sobrevivem intocados, não se devendo, 
tampouco, devolver os frutos colhidos. Outrossim, a lei expressamente 
determina que o advento da condição terá efeito retroativo quanto aos atos 
de disposição, os quais se invalidam com a sua ocorrência. 
 
2) DO TERMO: 
 
 
• O TERMO: O termo é, na definição de Clóvis Beviláqua o dia em que 
começa ou se extingue a eficácia de um ato jurídico. Trata-se de 
modalidade do negócio cujo fim é suspender a execução ou o efeito de 
uma obrigação, até um momento determinado, ou até o advento de um 
acontecimento futuro e certo. Não se confunde com o prazo, que é o 
espaço de tempo intercorrente entre a declaração de vontade e o advento 
do termo. Também se diferencia da condição, pois nesta tem-se em vista 
um evento futuro e incerto e no termo, considera-se um momento futuro 
e certo. É considerado um direito deferido, porque não impede a aquisição 
do direito, cuja eficácia ele apenas suspende. 
• Desmembrando a definição acima formulada, temos: 
1) Termo inicial: (dies a quo) é o que suspende o exercício de um direito, ou 
ainda, é o momento em que a eficácia de um ato jurídico deve começar. 
Também se chama termo suspensivo porque protrai a exigibilidade de um 
direito; 
2) Termo final: (dies ad quem) é o que dá término a um direito criado pelo 
contrato e até então vigente. É o momento em que a eficácia do ato 
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30 
jurídico deve terminar, também denominado termo resolutivo ou extintivo. 
(ler artº 135 do CCB). 
3) Termo certo: é certo quando se reporta a uma data do calendário: 04 de 
setembro de 1999; ou então, quando fixado tendo por base o decurso de 
certo lapso de tempo: de hoje a um ano, quando tal pessoa atingir a 
maioridade; 
4) Termo incerto: quando se refere a acontecimento futuro, mas que se 
verificará em data indeterminada, por exemplo, o óbito de certa pessoa. 
 
 
 
3) O PRAZO: 
 
 
• O PRAZO: É o lapso de tempo transcorrido entre a declaração de vontade e 
o advento do termo. O artº 132 do CCB determina que se computem os 
prazos excluindo o dia do começo e incluindo o do vencimento. Todavia, 
se este cair em feriado, considera-se prorrogado o prazo até o seguinte dia 
útil. Os prazos fixados por hora contam-se de minuto a minuto. Quando 
tais prazos não foram mencionados, pela regra geral do artº 331 do CCB 
são exeqüíveis desde logo. Entretanto, embora sem prazo, as obrigações 
não serão exigíveis desde logo: a) se a execução tiver de ser feita em lugar 
diverso; b) se depender de tempo. 
 
 
 
 
4) O MODO OU ENCARGO: 
 
• O MODO OU ENCARGO: Encargo ou modo é uma limitação trazida a uma 
liberalidade, quer por dar destino ao seu objeto, como, por exemplo, dôo 
uma casa, contanto que ele aí vá morar; quer por impor ao beneficiário uma 
contraprestação, como, por exemplo, deixo a B cinco milhões, mas ele terá 
de educar meus filhos até a maioridade. É um ônus que diminui a extensão 
da liberalidade. Beviláqua define o encargo como “a determinação acessória, 
em virtude da qual se restringe a vantagem criada pelo ato jurídico, 
estabelecendo o fim a que deve ser aplicada a coisa adquirida, ou impondo 
uma certa prestação”. 
• O encargo se distingue da condição, pois, enquanto esta atua sobre a 
eficácia do negócio, impedindo a aquisição do direito (se suspensiva), ou 
aniquilando-o (se resolutiva), o encargo não suspende tal aquisição, que se 
torna perfeita e acabada desde logo, a menos que o disponente imponha o 
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Prof. Orlando Pereira Machado Júnior 
31 
contrário, caso em que o modo funcionará como condição suspensiva 
(CCB artº 136). 
 
 
CAPÍTULO V 
 
DA FORMA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E DA SUA 
PROVA 
 
1) DA FORMA: 
 
1.1) CONCEITO DE FORMA: 
 
• Clóvis Beviláqua define a FORMA como o conjunto das solenidades que se 
devem observar, para que a declaração da vontade tenha eficácia jurídica. A 
regra geral é a da liberdade de forma a qual só não vige quando a lei 
expressamente demandar forma especial, nos termos do artº 107 do CCB. 
• A forma especial, quando exigida pelo legislador, tem por fim: 
a) garantir a autenticidade do ato; 
b) assegurar a livre manifestação da vontade das partes; 
c) chamar a atenção das partes para a seriedade do ato que estão praticando; 
d) facilitar a prova do negócio jurídico. 
• Outrossim, a desobediência à forma, quando prescrita em lei, acarreta a 
nulidade do ato jurídico nos termos do artº 145, nºs IV e V, do CCB. 
• No direito anterior e em alguns sistemas, encontramos ainda duas formas 
diferentes: a ad solemnitatem, quando elementar para a existência do ato 
jurídico, isto é, quando sem elas o ato não se configura; e a ad probationem 
tantum, quando o ato, embora ganhe vida sem utilizá-las, não pode ser 
provado, visto que sua evidência fica condicionada à forma imposta pela 
lei. 
 
2) DA PROVA: 
 
2.1) CLASSIFICAÇÃO: 
 
• Prova é o conjunto dos meios empregados para demonstrar legalmente a 
existência de um ato jurídico. Ademais, se o ato é solene somente pode ser 
aceito pela forma prescrita em lei, não podendo o juiz admiti-lo por outra 
forma, conforme regra ditada pelo artº 125 do CCB, a saber: “Mas, quando a 
lei considerar determinada forma como de substância do negócio jurídico, o juiz não lhe 
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32 
admitirá a prova por outro meio”. Outrossim, tal regra encontra exceção 
quando ocorre o inverso, quando o ato para ser ultimado necessita apenas 
de instrumento particular pode ser suprido por outro de caráter legal (artº 
221, par. único do CCB). 
 
2.2) MEIOS PROBATÓRIOS ADMITIDOS EM DIREITO: 
 
• Dispõe o Código Civil, em seu artº 212 que os atos a que não se impõe 
forma especial poderão provar-se mediante: 
1) Confissão: é o ato pela qual uma das partes afirma o que a outra alega, 
versando sempre questão de fato, e dentro desse limite é a rainha das provas, 
sendo seu valor probante incontestável. Distingue-se

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