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Teoria da Contabilidade e Ética Profissional Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. João Paulo Cavalcante Lima Princípios e Normas Contábeis Material teórico Princípios e Normas Contábeis Estamos iniciando a segunda unidade da disciplina “Teoria da Contabilidade e Ética Profissional". Nela, estudaremos a Origem e Evolução Histórica da Contabilidade. Atenção Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. Caro aluno, nessa unidade você observará, que desde muito tempo se procuram estabelecer princípios e normas que sejam compreendidas, aceitas e utilizadas por todos. A uniformidade é difícil em função do fato de que certas proposições são abrangentes demais e sua generalização não contempla aspectos específicos. Soma-se a isso o fato de que a dinâmica do mundo moderno sempre contempla situações novas e diferentes e que podem desviar-se das normas e princípios originais. A ideia subjacente à perspectiva de se estabelecerem princípios está mais direcionada ao aspecto da orientação do que da regulação. No Brasil, legislações procuraram abordar a questão de forma genérica, de maneira que pudesse ser entendida e obedecida por todos. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), por meio da Deliberação nº 29/86, que já foi revogada, e o CFC (Conselho Federal de Contabilidade), por meio da Resolução nº 750/93, seguiram uma linha de definição baseada na ideia de princípios. O Framework for the Preparation and Presentation of Financial Statements elaborado pelo IASB (International Accounting Standards Board) e que serviu de base para o pronunciamento do CPC (Comissão de Pronunciamentos Contábeis), que é o documento de referência na legislação atual do Brasil, não fez menção à palavra princípios e destaca pressupostos básicos, definindo ainda as características essenciais de necessidade informacional. Contextualização 1. Introdução Olá! No Brasil, as normas contábeis inicialmente denominadas de princípios contábeis geralmente aceitos, atualmente apresentam-se apenas como pressupostos básicos e características qualitativas das Demonstrações Contábeis (DC). Essas mudanças visam o alinhamento às normas internacionais de Contabilidade iniciadas com a edição da Lei 11.638/07. Nos tópicos abaixo, iniciado pela mais atual, serão apresentados as normas contábeis vigentes no país nas últimas décadas. 2. Estrutura conceitual do CPC Em 2008, o CPC (Comissão de Pronunciamentos Contábeis) aprovou o pronunciamento conceitual básico, que é na verdade quase que uma tradução do IASB 1 (Conceptual Framework) do IASB (International Accounting Standards Board). Essa estrutura conceitual tem o claro objetivo de esclarecer conceitos que visam fundamentar a preparação e a apresentação das demonstrações contábeis com foco nos usuários externos. Para tanto, ela aborda os objetivos, as características qualitativas, a definição, formas de reconhecimento e critérios de medição dos elementos componentes das demonstrações contábeis, além dos conceitos de capital e manutenção de capital. Tanto aqui no Brasil quanto no exterior, surgiu após anos de tentativas de se estabelecerem princípios e normas gerais que pudessem orientar os profissionais de modo geral. Isto posto, nessa unidade discorremos sobre os tópicos desse pronunciamento conceitual básico, tecendo comentários sobre a situação atual. Em seguida, apresentaremos uma breve evolução da estrutura conceitual básica da Contabilidade até a concepção atual. 2.1. O alcance O pronunciamento trata das demonstrações contábeis para fins gerais. Fazem parte de seu escopo as demonstrações contábeis consolidadas. Além das demonstrações contábeis propriamente ditas, as informações financeiras divulgadas por uma entidade devem também Material Teórico contemplar notas explicativas e outras demonstrações, podendo incluir quadros e informações suplementares que podem conter informações financeiras sobre segmentos ou divisões industriais ou aquelas situadas em diferentes locais. Em suma, a preocupação é que as informações sejam as mais completas possíveis para que permitam aos usuários das informações contábeis condições consistentes para uma tomada de decisão. É por essa razão que o pronunciamento destaca alguns dos principais usuários das demonstrações contábeis. 2.2. Os usuários e suas necessidades de informação Dentre os usuários das demonstrações contábeis incluem-se: • Investidores atuais e potenciais: suas necessidades residem no auxílio a decisão de compra, venda ou de manutenção dos investimentos atuais. Aos acionistas, a principal necessidade informacional reside em se verificar se a organização tem capacidade de distribuir dividendos. • Empregados: interessam-se por informações que retratem o grau de estabilidade da empresa e, consequentemente, a lucratividade que seu negócio gera. Essas informações podem auxiliá-los também na verificação da capacidade da empresa em prover, além de sua remuneração básica, outros benefícios adicionais, benefícios de aposentadorias e oportunidades de emprego. • Credores por empréstimos: estão interessados em verificar a capacidade que a entidade tem de saldar seus empréstimos e os correspondentes juros no vencimento acordado. • Fornecedores e outros credores comerciais: uma das necessidades informacionais principais diz respeito à avaliação se de fato as importâncias que lhe são devidas serão pagas nos respectivos vencimentos. • Clientes: estes interessam-se pela continuidade operacional da entidade, principalmente quando mantêm um relacionamento de longo prazo com a empresa ou mesmo que dela dependam por representar um fornecedor importante. • Governo e suas agências: estão interessados na destinação dos recursos e, portanto, nas atividades das entidades. A questão tributária é um fator importante para o governo, pois é a partir dessas informações que averigua se os valores recolhidos aos cofres públicos por meio dos tributos representam verdadeiramente o exato valor que se deveria recolher. • Público: pelo fato de as organizações contratarem pessoas e de realizarem atividades com outras empresas da região, pode trazer contribuição substancial a determinada localidade. As informações contábeis e financeiras também auxiliam na medição dessa capacidade. • Deve-se salientar que o pronunciamento reconhece que nem todas as necessidades de informação podem ser satisfeitas pelas demonstrações contábeis, mas por outro lado deixa claro que existem informações cujas necessidades são comuns a todos os usuários. Para finalizar essa parte, o pronunciamento credita a responsabilidade primária pela preparação e apresentação das demonstrações contábeis à empresa. 2.3. Os objetivos das demonstrações contábeis De acordo com o Pronunciamento Contábil do CPC, o objetivo das demonstrações contábeis é fornecer informações sobre a posição patrimonial e financeira, o desempenho e as mudanças na posição financeira da entidade que sejam úteis a um grande número de usuários em suas avaliações e tomadas de decisão. Além disso, as demonstrações também objetivam apresentar os resultados da administração na gestão da entidade e sua capacidade na prestação de contas quanto aos recursos que lhe foramconfiados. 2.4. Posição patrimonial e financeira, desempenho e mutações na posição financeira As decisões econômicas que são tomadas pelos usuários das demonstrações contábeis requerem uma avaliação da capacidade que a entidade tem para gerar caixa e equivalentes de caixa. Além disso, a posição patrimonial e financeira da entidade é afetada pelos recursos econômicos que ela controla, sua estrutura financeira, sua liquidez e solvência. As informações históricas, sobre situações do passado da empresa, são úteis para prever a capacidade que a entidade tem de gerar caixa e equivalentes de caixa no futuro. Informações sobre a estrutura financeira são úteis para prever as futuras necessidades de financiamento e para orientar como os lucros futuros devem ser distribuídos. As informações referentes às mutações na posição financeira da entidade são úteis para avaliar as suas atividades de investimento, de financiamento e operacionais durante o período abrangido pelas demonstrações contábeis. As partes componentes das demonstrações contábeis se inter-relacionam porque refletem diferentes aspectos das mesmas transações ou outros eventos. As demonstrações contábeis também englobam notas explicativas, quadros suplementares e outras informações adicionais que sejam relevantes às necessidades dos usuários, podendo, inclusive, apresentar divulgações sobre os riscos e incertezas que afetem a entidade. 2.5. Os pressupostos básicos Como comentado anteriormente, o pronunciamento conceitual básico do CPC não estabelece princípios nem a essa palavra faz menção. A expressão utilizada para identificar os alicerces da contabilidade é denominada como pressupostos básicos que, associados às características qualitativas das demonstrações contábeis, montam o arcabouço teórico básico onde subjaz toda a prática contábil. Os pressupostos básicos são dois: • Regime de competência: a fim de atingir seus objetivos, demonstrações contábeis são preparadas conforme o regime contábil de competência. Segundo esse regime, os efeitos das transações e outros eventos são reconhecidos quando ocorrem (e não quando caixa ou outros recursos financeiros são recebidos ou pagos) e são lançados nos registros contábeis e reportados nas demonstrações contábeis dos períodos a que se referem. • Continuidade: as demonstrações contábeis são preparadas no pressuposto de que a entidade continuará em operação no futuro, não havendo previsão da interrupção de suas atividades. Desse modo, as informações contábeis por ela produzidas devem considerar as expectativas de retorno e benefícios nos exercícios subseqüentes. 2.6. As características qualitativas das demonstrações contábeis As características qualitativas são os atributos que tornam as demonstrações contábeis úteis para os usuários. As quatro principais características qualitativas são: compreensibilidade, relevância, confiabilidade e comparabilidade. • Compreensibilidade: uma qualidade essencial das informações apresentadas nas demonstrações contábeis é que elas sejam prontamente entendidas pelos usuários. • Relevância: para serem úteis, as informações devem ser relevantes às necessidades dos usuários na tomada de decisões. Entende-se como informação útil aquela que pode influenciar as decisões econômicas dos usuários, ajudando- os a avaliar o impacto de eventos passados, presentes ou futuros ou corrigindo as suas avaliações anteriores. • Materialidade: a relevância das informações é afetada pela sua natureza e materialidade. Uma informação é material se a sua omissão ou distorção puder influenciar as decisões econômicas dos usuários, tomadas com base nas demonstrações contábeis. • Confiabilidade: para ser útil, a informação deve ser confiável, ou seja, deve estar livre de erros ou vieses relevantes e representar adequadamente aquilo que se propõe a representar. Além dessas quatro características iniciais, o pronunciamento discorre ainda sobre outras características qualitativas, que são: • Representação adequada: para ser confiável, a informação deve representar adequadamente as transações e outros eventos que ela diz representar. • Primazia da essência sobre a forma: para que a informação represente adequadamente as transações e outros eventos que ela se propõe representar, é necessário que essas transações e eventos sejam contabilizados e apresentados de acordo com a sua substância e realidade econômica, e não meramente sua forma legal. • Neutralidade: para ser confiável, a informação contida nas demonstrações contábeis deve ser neutra, isto é, imparcial. • Prudência: os preparadores de demonstrações contábeis se deparam com incertezas que inevitavelmente envolvem certos eventos e circunstâncias, tais como a possibilidade de recebimento de contas a receber de liquidação duvidosa, a vida útil provável das máquinas e equipamentos e o número de reclamações cobertas por garantias que possam ocorrer, entre outras. Nesse sentido, a prudência consiste no emprego de certo grau de precaução no exercício dos julgamentos necessários às estimativas em condições de incertezas. • Integridade: para ser confiável, a informação constante das demonstrações contábeis deve ser completa, dentro dos limites de materialidade e custo. Uma omissão pode tornar a informação falsa ou distorcida e, portanto, não confiável e deficiente em termos de sua relevância. • Comparabilidade: os usuários devem poder comparar as demonstrações contábeis de uma entidade ao longo do tempo, a fim de identificar tendências na sua posição patrimonial e financeira e no seu desempenho. No entanto, a necessidade de comparabilidade não deve ser confundida com mera uniformidade e não se deve permitir que se torne um impedimento à introdução de normas contábeis aperfeiçoadas. Tendo em vista que os usuários desejam comparar a posição patrimonial e financeira, o desempenho e as mutações na posição financeira ao longo do tempo, é importante que as demonstrações contábeis apresentem as correspondentes informações de períodos anteriores. 2.7. As limitações na relevância e na confiabilidade das informações Logicamente que para atender a todas essas características de qualidade na informação que é prestada ao usuário, vários fatores precisam se fazer presentes, tais como organização da empresa, da economia, da sociedade local etc. Existem, portanto, limites que devem ser observados. Por mais que se busque, é impossível a exatidão das informações. Há sempre o risco de alteração no resultado esperado. Preocupados com a questão, os elaboradores desse pronunciamento apresentaram alguns aspectos que limitam a relevância e a confiabilidade das informações contábeis. Passamos a destacá-los a seguir. • Tempestividade: quando há demora indevida na divulgação de uma informação, é possível que ela perca a relevância. A administração da entidade necessita ponderar os méritos relativos entre a tempestividade da divulgação e a confiabilidade da informação fornecida. Para fornecer uma informação na época oportuna, pode ser necessário divulgá-la antes que todos os aspectos de uma transação ou evento sejam conhecidos, prejudicando assim a sua confiabilidade. Por outro lado, se para divulgar a informação a entidade aguardar até que todos os aspectos se tornem conhecidos, a informação pode ser altamente confiável, porém de pouca utilidade para os usuários que tenham tido necessidade de tomar decisões nesse ínterim. Para atingir o adequado equilíbrio entre a relevância e a confiabilidade, o princípio básico consiste em identificar qual a melhor forma parasatisfazer as necessidades do processo de decisão econômica dos usuários. • Equilíbrio entre custo e benefício: é uma limitação de ordem prática. Os benefícios decorrentes da informação devem exceder o custo de produzi-la. A avaliação dos custos e benefícios é, entretanto, em essência, um exercício de julgamento. Por essa razão, é difícil aplicar o teste de custo-benefício em qualquer caso específico. • Visão verdadeira e apropriada: demonstrações contábeis são frequentemente descritas como apresentando uma visão verdadeira e apropriada (true and fair view) da posição patrimonial e financeira, do desempenho e das mutações na posição financeira de uma entidade. 3. A busca por princípios Como vimos na unidade anterior, desde o início da fase científica da contabilidade e com o surgimento das escolas de pensamento contábil, houve uma preocupação em se estabelecerem de forma mais consistente os conceitos, expressões e procedimentos da contabilidade. Nessa busca, certamente havia contradições conceituais, pensamentos diferentes a respeito de determinados procedimentos contábeis e visões diferenciadas sobre a natureza e abrangência da ciência contábil. A preocupação de todos os profissionais, estudiosos e pesquisadores sempre foi tornar a contabilidade mais eficaz, mais interativa com as necessidades da sociedade em cada momento. Inicialmente, alguns procedimentos divergentes não causavam tanto dano aos usuários da contabilidade. No entanto, a partir do desenvolvimento da sociedade, do crescimento das empresas, do aumento do volume de recursos envolvidos nos negócios, do aumento considerável do número de empresas, era necessário que tais divergências pudessem ser minimizadas ou mesmo dissipadas. A ideia ou busca por princípios norteadores tem esse pressuposto: é necessário haver convergência de entendimentos sobre as práticas contábeis, regras que sejam aceitas e obedecidas por todos, a fim de dar uniformidade e harmonia à ciência contábil. A palavra princípio origina-se do latim e em nosso idioma apresenta significados variados. Se utilizada no singular, por exemplo, pode significar “origem” ou “começo”. “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1.1). Mas a palavra princípio pode estar associada também à idéia de “regra a seguir”. No plural, essa palavra é geralmente entendida como “convicções” e também como começo, na perspectiva de regra básica e inicial da qual sobrevêm todas as demais normas. É nesse último sentido que a palavra princípio está associada à contabilidade. Os princípios são, portanto, regras gerais ou normas fundamentais e devem constituir o núcleo essencial no qual todo profissional deve vislumbrar a essência de sua ação. A busca por princípios tem sido uma preocupação constante de vários profissionais em diversos países. No entanto, mais recentemente, o IASB, por meio do pronunciamento (IAS 1) no qual se baseou o pronunciamento do CPC sobre a estrutura conceitual básica, substitui a palavra princípios por pressupostos básicos, como veremos a seguir. Entretanto, a ideia do estabelecimento de princípios visava não só formar uma uniformidade terminológica, mas também criar bases para a normalização dos procedimentos contábeis a serem utilizados por todos os profissionais. Dentro dos embates filosóficos e posições conceituais muitas vezes antagônicas oriundas das várias escolas de pensamento contábil, havia concordância de todas as escolas e dos contadores em vários conceitos e proposições contábeis, como por exemplo, o método das partidas dobradas, o balanço, o diário, o razão, a organização dos lançamentos contábeis com os conceitos de débito e crédito etc. No entanto, a complexidade crescente das operações da empresa fruto da industrialização e da tecnologia traria muitas dificuldades. À medida que a sociedade evoluía, novas necessidades iam surgindo e as dificuldades de consenso aumentando. Em muitas situações, dependendo do ponto de vista do contador ou de outros interesses, como por exemplo, dos proprietários das empresas da época, utilizavam-se procedimentos distintos para situações idênticas. Até mesmo nos Estados Unidos, que passaram a despontar como potência contábil a partir do século XX, tais divergências também estavam presentes e alguns esforços começaram a ser feitos no intuito de eliminar variações aleatórias de procedimentos resultantes, não das peculiaridades de cada empresa, mas das diferentes idéias de financistas e executivos (HENDRIKSEN e BREDA, 1999). Já em 1922, um renomado contador e estudioso da área contábil norte-americana, William Paton, publicou uma obra intitulada Accounting theory, na qual enunciava seis postulados. Essa expressão postulado objetivava enunciar algo mais genérico e abrangente do que a palavra princípio e representava uma espécie de base conceitual para a realização dos próprios princípios contábeis. Eram eles: • entidade empresarial; • continuidade; • equação do balanço; • postulado monetário; • custos; • reconhecimento de receitas. No entanto, no cenário contábil norte-americano um importante fator na busca de uma harmonização dos princípios ocorreu a partir de uma mudança de foco da contabilidade, que passou da antiga ótica do fornecimento de informações para credores e administradores para a ênfase nos investidores e acionistas. Tal mudança reduziu um pouco a ênfase do balanço, transferindo-se para a demonstração do resultado, visto que é nesse demonstrativo que se indica o valor do lucro apurado pela companhia. Além disso, houve uma busca por certa apresentação uniforme dos lucros contábeis a fim de ser possível realizar análises e comparações entre empresas. A crise de 1929 com a queda da Bolsa de Nova York alimentou ainda mais essa busca. Em 1934, foi criada nos Estados Unidos a Securities and Exchange Commission (SEC), órgão fiscalizador independente do governo federal que tinha como objetivo supervisionar o cumprimento das leis e organização para a emissão e negociação de títulos entre as empresas na bolsa de valores. Em 1938, após estudos de renomados professores de importantes universidades americanas, originou-se um trabalho denominado A statement of accounting principles, que fazia alusão ao termo Convenção, que os autores definiam como práticas consolidadas subjacentes à preparação de balanços (HENDRIKSEN e BREDA, 1999). Em 1959, com a expressão princípios de contabilidade geralmente aceitos já sedimentada entre os contadores locais, desenvolve-se, por meio de recomendações de um Comitê Especial de Programa de Pesquisa, atividades de pesquisa que pudessem municiar conceitualmente a contabilidade em quatro níveis: 1. estabelecimento de postulados básicos; 2. formulação de princípios amplos; 3. desenvolvimento de regras ou outras normas para aplicação de princípios em situações específicas; 4. pesquisa. No entanto, em função das várias reclamações e questionamentos de muitos contadores sob o enfoque dado ao binômio postulados/princípios à teoria da contabilidade, a Associação Americana de Contabilidade emitiu em 1966 um novo documento intitulado A Statement of Basic Accounting Theory, conhecido pela sigla ASOBAT, e que tinha uma preocupação básica de atendimento ao usuário da contabilidade. Esse documento não relacionava as expressões postulados e princípios, mas sua proposta baseava-se em objetivos, padrões e diretrizes. Na década posterior, foi criado o FASB (Financial Accounting Standards Board), que propôs uma nova mudança de termos. Ao invés de padrões, sugeriram substituí-lo por princípios e, dessa forma, a estrutura conceitualestaria organizada em objetivos, princípios e diretrizes. 4. Princípios contábeis e sua evolução no Brasil Desde o início do século XX, o Brasil vinha carecendo de uma normatização mais adequada sobre questões relativas aos princípios de contabilidade. Existiam algumas regras que eram aceitas por quase todos os profissionais, mas não representavam unanimidade. Pode-se afirmar que um dos fatores mais representativos para o fortalecimento e busca de um arcabouço teórico da contabilidade no Brasil foi a influência norte-americana no ensino de graduação em ciências contábeis. Além, disso a criação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nos moldes da SEC norte-americana e a edição da Lei 6.404/76, que também se basearam na escola norte- americana, representaram importante impulso ao desenvolvimento de instrumentos legais que estabeleciam princípios básicos da contabilidade nacional. Essa é a razão, por exemplo, para a utilização do termo Princípios de Contabilidade Geralmente Aceitos, utilizado na Lei 6.404/76 em seu artigo 177. Dez anos após a emissão da Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404/76), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), por meio da Deliberação nº 29, de 5 de fevereiro de 1986, aprovou e referendou o pronunciamento do Instituto Brasileiro dos Contadores (IBRACON) sobre a estrutura conceitual básica da contabilidade. Nela, além de apresentar os objetivos da contabilidade e os cenários contábeis, decorre também sobre os princípios fundamentais de contabilidade. No escopo da Deliberação nº 29, os princípios dividem-se em: • postulados ambientais; • princípios propriamente ditos; • convenções (restrições aos princípios). • Observa-se claramente a adoção de estrutura já evidenciada após anos de estudos na contabilidade norte-americana. Essa é a razão pela qual uma análise no desenvolvimento e busca de princípios naquele país é importante para entendermos certos conceitos e práticas adotados por aqui. 4.1. Os Postulados, Princípios e Convenções Contábeis 4.1.1 Os Postulados Ambientais De acordo com a Deliberação da CVM, os postulados representam o núcleo principal, mais geral e abrangente dos princípios contábeis. Deles se originam todos os demais, sendo considerados a estrutura de sustentação de toda a teoria contábil. São dois os postulados ambientais: Entidade – Define que o objeto da contabilidade é o patrimônio da empresa. Dessa forma, a constituição de uma pessoa jurídica (empresa) cria um ente que, de maneira nenhuma, deve ser confundido com as pessoas – sócios. O postulado da entidade, conforme descrito na Deliberação, e na perspectiva de mostrar sua relevância para a Ciência Contábil, abrange as seguintes dimensões: • jurídica, pois a entidade (empresa) tem patrimônio distinto do patrimônio dos sócios; • econômica, já que possui um objeto (patrimônio) que precisa se acompanhado e analisado pela contabilidade; • organizacional, visto que não há como dissociar do patrimônio empresarial o aspecto humano. Afinal, são as pessoas que, em maior ou menor grau, realizam ações que interferem na dinâmica patrimonial da organização; • social, pois a organização faz parte da sociedade e com ela interage. Por esse postulado, entende-se que, se um empresário fizer compras pessoais em um supermercado emitindo um cheque da empresa, ou se utilizar seu automóvel particular para realizar entregas de mercadorias de sua loja, não fazendo menção a tal fato nos registros contábeis, ele está desobedecendo ao postulado da entidade, pois mistura bens pessoais aos negócios da empresa. Continuidade – Segundo este postulado, a empresa é um organismo vivo e está sempre em movimento. Assim, exercerá sua missão por tempo indeterminado, ou até que surjam fortes e definitivas evidências contrárias. Nesse sentido, os princípios contábeis não se aplicam àquela empresa que não tenha garantia de sua continuidade. Isso ocorre porque o patrimônio da entidade mais precisamente seus bens e direitos é mantido e utilizado no intuito de gerar receitas superiores às despesas, resultando em saldo positivo: o lucro. Dessa forma, caso haja qualquer evidência de descontinuidade da empresa, em função de sua situação econômico-financeira, todos os demais princípios contábeis a ela não mais se aplicam obrigatoriamente. 4.1.2 Os Princípios Os princípios representam, segundo a Deliberação da CVM, as grandes linhas filosóficas pelas quais a contabilidade deve se orientar. São quatro os princípios apresentados na Deliberação: Custo como Base de Valor – O registro contábil dos ativos deve ser feito com base no custo de sua aquisição. São passíveis de adição a esse custo os eventuais gastos necessários à colocação do ativo em condições de uso, para que ele possa gerar os benefícios esperados. Esse princípio estabelece a forma pela qual os ativos devem ser registrados na contabilidade, ou seja, pelo custo de sua aquisição. Mesmo que haja variação de seu preço no mercado, mantêm-se nos registros contábeis o valor pelo qual o ativo foi adquirido. Nesse sentido, se uma empresa adquire um terreno e, após a sua aquisição, este ativo tem uma valorização de mercado que triplica o seu valor, o custo de aquisição não deve ser alterado na contabilidade, por mais que se tenham claras as evidências dessa valorização. Esse princípio determina que os ativos devem ser registrados pelo seu valor de entrada, e não pelo que eles valem monetariamente em determinado momento. Denominador comum monetário – As demonstrações contábeis devem ser expressas na moeda oficial do país de poder aquisitivo da data do último balanço patrimonial. Assim, caso haja um processo inflacionário na economia do país, ocasionando a perda do valor aquisitivo da moeda, os eventuais ajustes decorrentes da inflação devem ser considerados para fins de apresentação em demonstrativos e relatórios. Observe que a atualização monetária não contradiz o princípio do custo como base de valor, pois não se trata de dar um novo valor ao bem, mas sim atualizá-lo em função da perda de valor aquisitivo da moeda. Consegue-se com isso um reforço ao princípio do denominador comum monetário. Realização da receita – Considera-se realizada a receita quando há transferência de propriedade dos produtos fabricados ou dos serviços prestados a outrem. Esse deve ser o parâmetro de reconhecimento de uma receita, ainda que esta não tenha chegado, fisicamente, ao patrimônio do cliente. O momento de reconhecimento da receita é muito importante para a contabilidade, pois pode influenciar o resultado de uma empresa em determinado período. Porém, em muitas situações, pode haver dificuldade de definição do efetivo momento de realização da receita. No entanto, por esse princípio, quando comprador e vendedor reconhecem e aceitam a transação, havendo, portanto, transferência de propriedade, esse deve ser o momento de reconhecimento da receita. Isso normalmente ocorre na data de emissão da nota fiscal. Confronto das despesas com as receitas e com os períodos contábeis – As despesas e receitas devem ser registradas na data de seu fato gerador, ou seja, quando elas efetivamente acontecem, mesmo não havendo pagamento ou recebimento financeiro nesse momento. Dessa forma, quando não pertence ao período em curso, a despesa não deve ser considerada na apuração do resultado do período, ou seja, lucro ou prejuízo, não constando, por conseguinte, na demonstração do resultado do exercício (DRE). Além disso, a confrontação das despesas e das receitas, para fins de apuração de resultado, deve obedecer ao mesmo período contábil. Por exemplo, se umaempresa aluga uma sala em dezembro do ano A e efetua um pagamento antecipado de três meses (dezembro do ano A e janeiro e fevereiro do ano B) como forma de garantir a locação, somente a despesa de dezembro deve ser confrontada com a receita daquele exercício, pois somente ela faz parte do ano A. Os dois meses seguintes, ainda que pagos no ano A, pertencem ao ano B e somente lá as despesas devem ser confrontadas com as receitas daquele período. Esse princípio contábil está diretamente vinculado ao princípio da realização da receita abordado anteriormente, visto que também se baseia no fato gerador e diz respeito a receitas e despesas. 4.1.3 Convenções (restrições aos princípios) As convenções, segundo a Deliberação 29/86 da CVM, representam a complementação dos postulados e dos princípios, e têm como objetivo apresentar algumas restrições, em casos especiais, na utilização dos princípios em toda sua abrangência. São quatro as convenções contábeis: Objetividade – Conforme essa convenção, os registros contábeis efetuados pela contabilidade devem pautar-se em documentos comprobatórios e critérios objetivos. Quando isso não for possível, os registros devem ser efetuados de forma tal que possam ser confirmados em consenso por profissionais qualificados e/ou entidades que tenham autoridade sobre princípios contábeis. A preocupação nesse caso é a comprovação dos fatos registrados na contabilidade. Se não houver documentos, como comprová-los? Como uma auditoria das contas da empresa pode atestar de forma objetiva que os registros contábeis estão registrados e mensurados corretamente? Sabe-se que a contabilidade deve, por princípio, registrar todos os fatos que de alguma forma alteram o patrimônio da empresa, tanto em qualidade quanto em quantidade. No entanto, o registro desses fatos deve se pautar em documentos que comprovem sua veracidade. Materialidade – A restrição da materialidade está intimamente relacionada com a relação custo-benefício da informação evidenciada. Muitas vezes, o custo para gerar uma informação é muito maior do que sua relevância e/ou conteúdo informativo. Dessa maneira, segundo essa convenção, tal procedimento não deve ser realizado. Um ponto importante relativo à convenção da materialidade diz respeito à definição do que é e o que não é material. Apresenta-se a seguir um trecho explicativo apresentado na Deliberação da CVM: “Assim, do ponto de vista do usuário da informação contábil, é material a informação ou cifra que, se não evidenciada ou mal evidenciada, poderia levá-lo a sério erro sobre a avaliação do empreendimento e de suas tendências”. Consistência – De acordo com essa convenção, os procedimentos utilizados no controle do patrimônio devem ser padronizados, não sofrendo variação a cada momento. A variação pode ser eventual, quando necessário, e, mesmo assim, devidamente evidenciada por meio de notas explicativas, indicando, inclusive, o possível efeito monetário sobre o resultado ou patrimônio da empresa. A contabilidade é uma Ciência Social Aplicada. Sendo assim, não há uma única forma de efetuar procedimentos contábeis, tampouco há um valor exato para apuração de resultados. É possível, então, utilizar procedimentos diferenciados para uma mesma ação. Eis a razão da existência dessa convenção. Conservadorismo – O enunciado da convenção do conservadorismo relata que: “Entre conjuntos alternativos de avaliação para o patrimônio, igualmente válidos, segundo os princípios fundamentais, a contabilidade escolherá o que apresentar o menor valor atual para o ativo e maior para as obrigações”. Tal procedimento visa evitar desvios nos resultados contábeis, advindos do exagero no otimismo que os proprietários podem ter na valorização excessiva de seus ativos. Após a leitura de todo o material dessa unidade e mais a Resolução nº 750/93 do CFC, podemos fazer algumas comparações conforme demonstrado no Quadro 1. Caro aluno, nesse momento eu convido você para pesquisar um pouco e ler a Resolução nº 750/93 (atualizada pela Resolução 1.282/2010) do CFC. Disponível em: http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=1993/000750 Quadro 1 – Princípios contábeis – convergências e divergências entre instrumentos legais da CVM e do CFC, com relação ao CPC. Pontos básicos abordados CVM (Deliberação nº 29/86)1 CFC (Resolução nº 750/93)2 CPC Situação Composição Postulados, princípios e convenções Somente princípios Pressupostos básicos e características qualitativas das DC Divergentes Entidade Previsto Previsto Não previsto Divergentes Continuidade Previsto Previsto Previsto Convergentes Avaliação do patrimônio Custo como base de valor Registro pelo valor original Valor justo Divergentes com CPC Moeda Denominador comum monetário Atualização monetária Inexistente Divergentes Competência Realização da receita e confronto das despesas com as receitas e com os períodos contábeis Competência Competência Convergentes Tempo para registro dos fatos contábeis Não contempla Oportunidade Tempestividade Divergentes Custo- benefício Materialidade Não contempla Relevância Divergentes Comprovação dos registros contábeis Objetividade Não contempla Primazia da essência sobre a forma Divergentes Precauções nas avaliações do patrimônio Conservadorismo Prudência Prudência Convergentes 1 Essa deliberação foi cancelada, tendo a CVM assumido as normas do CPC. 2 A Resolução nº 750/93 foi atualizada pela Resolução 1.282/2010. Caros alunos, com o objetivo de ampliarmos os conhecimentos sobre os assuntos discutidos nessa terceira unidade, sugiro a leitura de um livro editado pelo Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul que contem os Princípios de Contabilidade e todas as Normas Brasileiras de Contabilidade atualizadas até dezembro de 2010. Livro: Princípios de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade Disponível em: http://www.crcrs.org.br/arquivos/livros/livro_principios.PDF Nesse momento, também é importante que você leia o CPC 00 Pronunciamento Conceitual Básico - Estrutura Conceitual e o CPC 43 Adoção Inicial dos Pronunciamentos Técnicos CPC 15 a 41. Disponíveis em: http://www.cpc.org.br/mostraOrientacao.php?id=14 http://www.cpc.org.br/mostraOrientacao.php?id=75 Material Complementar COELHO, Cláudio Ulysses Ferreira; LINS, Luiz dos Santos. Teoria da Contabilidade: Abordagem Contextual, Histórica e Gerencial. São Paulo: Atlas, 2010. HENDRIKSEN, Eldon S.; BREDA, Michael F. Van. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999. IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARION, José Carlos. Introdução à Teoria da Contabilidade para o Nível de Graduação. São Paulo: Atlas, 2008. Referências _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Anotações
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