Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO-USP Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica AULA PARA O CURSO DE GRADUAÇÃO - 4o. ANO ERROS INATOS DO METABOLISMO DA FENILALANINA: FENILCETONÚRIA CLÁSSICA E DEMAIS HIPERFENILALANINEMIAS Dra. Marlene F. Turcato Médica Assistente Doutora, Responsável pelo Setor de Erros Inatos do Metabolismo e Ambulatório de Fenilcetonúria 1. INTRODUÇÃO: CONCEITO DE ERROS INATOS DO METABOLISMO Erros Inatos do Metabolismo (EIM) são distúrbios geneticamente determinados, relacionados às funções bioquímicas do organismo. Os erros do metabolismo se originam a partir de mutações que ocorrem aleatoriamente em genes responsáveis pela codificação de certas proteínas, as quais desempenham funções específicas nas vias metabólicas. Em geral, tais proteínas são enzimas e catalizam reações em cadeias de síntese ou renovação de substâncias e sequências de produção de energia. Em alguns casos, como no metabolismo dos ácidos graxos e utilização de metais, são proteínas com funções de transportadores de moléculas. Devido à falha genética, as proteínas deixam de ser produzidas em quantidades adequadas ou têm suas funções alteradas, o que prejudica o desenrolar natural das cadeias em que 2 deveriam atuar. As consequências para o organismo vão desde o acúmulo de substâncias incompletamente processadas, que se tornam tóxicas ou se depositam em tecidos vitais, a carência de produtos. Alguns tipos especiais de EIM estão relacionados a deficiência de cofatores, por defeitos de síntese ou processamento, sendo semelhantes os resultados em termos metabólicos. 2. ERROS INATOS DO METABOLISMO DA FENILALANINA Os Erros Inatos do Metabolismo da Fenilalanina se caracterizam primordialmente por hiperfenilalaninemia, ou seja, acúmulo do aminoácido fenilalanina no organismo, com consequente elevação de sua concentração no sangue e demais fluídos corpóreos. A fenilalanina é um aminoácido de estrutura aromática, pertencente ao grupo dos nutricionalmente essenciais, portanto, não produzidos pelo organismo humano, devendo ser supridos pela alimentação. A maior parte da fenilalanina recebida destina-se aos processos de síntese de proteínas e produção de substâncias diversas, incluindo melanina e neurotransmissores. Certa porção alcança rotas de produção de energia, através do metabolismo intermediário. O catabolismo da fenilalanina se inicia pela hidroxilação de sua molécula, numa complexa reação catalizada pela enzima fenilalanina- hidroxilase, com a participação de um cofator específico, a tetrahidrobiopterina. A hidroxilação da fenilalanina resulta no aminoácido tirosina, que continua a cadeia catabólica. 3 fenilalanina → tirosina fenilalanina-hidroxilase tetrahidrobiopterina Figura 1. Esquema da hidroxilação da fenilalanina Conforme o esquema, os EIM da fenilalanina podem estar relacionados á carência da enzima fenilalanina-hidroxilase ou à carência do cofator tetrahidrobiopterina. Esta segunda possibilidade é muito mais rara e representa 1 a 3% dos casos de hiperfenilalaninemias. As hiperfenilalaninemias por deficiência de fenilalanina-hidroxilase são habitualmente classificadas segundo a concentração da fenilalanina no sangue, que reflete o nível de atividade enzimática residual do indivíduo. Existem variações na literatura quanto a esta classificação. Adotamos o esquema a seguir. TABELA 1. Classificação das Hiperfenilalaninemias por Deficiência de Fenilalanina-hidroxilase Denominação Atividade Enzimática Concentração de Fenilalanina no plasma* Fenilcetonúria Moderada ou Grave (Clássica) < 1% > 20 mg/100 ml Fenilcetonúria Leve 1 a 3% 10 a 20 mg/100 ml Hiperfenilalaninemia Benigna > 3% 04 a 10 mg/100 ml Valor de referência normal até 4 mg/100 ml. 4 Como se pode observar, em se tratando de deficiência de fenilalanina-hidroxilase, o termo Fenilcetonúria é reservado aos indivíduos com até 3% de atividade enzimática e concentração de no mínimo 10 mg de fenilalanina por 100 ml de plasma (10 mg/100 ml). Em outras palavras, a Fenilcetonúria por Deficiência de fenilalanina-hidroxilase se caracteriza por níveis elevados de fenilalanina no plasma, superiores a 10 mg/100 ml. A distinção entre formas leve, moderada e grave, nos termos desta classificação, nos parece arbitrária pois temos observado pacientes com taxas de fenilalanina inferiores a 20 mg/100 ml (mas acima de 10 mg/100 ml) com fenótipo muito alterado, enquanto outros com valores acima de 30 mg/100ml se mostram pouco comprometidos. Possivelmente o fenótipo resulte não apenas da concentração sanguínea de fenilalanina, mas dos níveis alcançados pelo aminoácido no encéfalo, em função de interações nos mecanismos de transporte ativo através da barreira hemato-encefálica. Os casos representados por atividade enzimática superior a 3% e taxa plasmática de fenilalanina entre 4 e 10 mg/100 ml são designados como Hiperfenilalaninemia Benigna. Uma forma transitória de Hiperfenilalaninemia Benigna ocorre em lactentes, supostamente por mecanismo de imaturidade metabólica. Esta costuma normalizar-se espontaneamente, em poucos meses, sem necessidade de tratamento e sem deixar sequelas. Alguns indivíduos permanecem indefinidamente com níveis aumentados de fenilalanina, até 10 mg/100 ml, sendo geralmente assintomáticos. Esta condição é referida como Hiperfenilalaninemia Benigna Permanente, sendo inconclusivo na literatura se estes casos devem ou não ser tratados. O esquema a seguir resume os distúrbios do metabolismo da fenilalanina. Na presente aula, abordaremos a Fenilcetonúria Clássica por Deficiência de fenilalanina-hidroxilase. 5 Deficiência do cofator Tetrahidrobiopterina Distúrbios do Metabolismo da Fenilalanina Fenilcetonúria Clássica (fenilalanina > 10mg%) Deficiência da fenilalanina- hidroxilase Hiperfenilalaninemia Benigna (fenilalanina = 4 a 10 mg% ) Figura 2. Distúrbios do metabolismo da fenilalanina 3. FENILCETONÚRIA POR DEFICIÊNCIA DE FENILALANINA-HIDROXILASE A Fenilcetonúria por deficiência de fenilalanina-hidroxilase resulta de mutações no gene relativo a esta enzima, localizado no cromossomo 12. Várias centenas de mutações diferentes já foram identificadas, o que dificulta o diagnóstico da doença em bases moleculares, a não ser que uma determinada mutação seja conhecida em uma família em particular. A transmissão do distúrbio segue o padrão de herança autossômica recessiva. A cada gestação, os filhos de um casal heterozigoto têm 25% de chance de serem homozigotos afetados pela doença, 50% de chance de serem heterozigotos assintomáticos e 25% de chance de serem homozigotos normais. 6 Incidência A Fenilcetonúria por deficiência de fenilalanina-hidroxilase apresenta distribuição abrangente em todas as regiões e grupos étnicos, inclusive a raça negra, ao contrário do que se pensava anos atrás. Em média, a incidência do distúrbio é da ordem de 1:15.000 nascimentos vivos, não obstante variações entre os países. No Japão, por exemplo, a incidência é cerca de dez vezes menor. No Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP (HCFMRP-USP), em 10 anos de Triagem Neonatal, abrangendo a região nordeste do Estado de São Paulo, a incidência apurada foi de 1: 17.645. Fisiopatologia Em vista da deficiência enzimática, a transformação de fenilalanina em tirosinanão se processa normalmente e a concentração de fenilalanina se eleva no sangue, com aumento correspondente da excreção urinária. Carência de tirosina, que deixa de ser produzida nesta reação, pode ser observada mas em geral as necessidades diárias deste aminoácido são supridas pelas fontes alimentares. Em excesso, a fenilalanina pode ser desviada para uma rota metabólica alternativa onde são produzidos metabólitos secundários, como os ácidos fenilpirúvico, feniláctico e fenilacético. O ácido fenilacético confere à urina e outras secreções corpóreas um odor desagradável, semelhante ao de biotérios. A hiperconcentração de fenilalanina repercute sobre o sistema nervoso central, sendo afetado o desenvolvimento cognitivo e outras funções neurológicas. A formação de mielina decresce, assim como a produção de dopamina, norepinefrina e serotonina. Em exames de imagem por ressonância magnética é possível observar áreas de desmielinização da substância branca 7 profunda peri-ventricular em toda a extensão do encéfalo, com predomínio nas regiões frontais e temporais. Os mecanismos do acometimento do sistema nervoso na Fenilcetonúria não se encontram precisamente esclarecidos. Supõe-se que, em excesso, a fenilalanina interage competitivamente com outros aminoácidos essenciais pelos sistemas de transporte através da barreira hemato-encefálica, fazendo diminuir o aporte destes aminoácidos para o tecido cerebral. São principalmente prejudicados os aminoácidos de cadeia ramificada, o triptofano e a tirosina, necessários para o desempenho das funções nervosas e síntese de neurotransmissores. Quadro Clínico Os pacientes com Fenilcetonúria Clássica aparentam ser saudáveis ao nascimento, sem dismorfias somáticas, e permanecem assintomáticos nos primeiros meses de vida, até se tornarem perceptíveis os sinais de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. Sem tratamento, evoluem para deficiência mental, geralmente em grau acentuado. A maioria permanece dependente de cuidados, incapaz de assumir as atividades de vida diárias. A aquisição da linguagem costuma ser muito precária e alguns apresentam microcefalia. Em aproximadamente 10% dos casos de Fenilcetonúria, entretanto, o déficit cognitivo é leve, sendo os pacientes aptos para as interações sociais corriqueiras. Estes pacientes podem procurar assistência devido a dificuldade para o aprendizado escolar mas o distúrbio pode passar desapercebido se não for investigado. As crianças com deficiência mental grave geralmente apresentam alterações comportamentais, como hiperatividade e comportamento semelhante ao autismo. Em geral, não costumam ser agressivas. Alguns pacientes apresentam crises epilépticas, de tipos variados. Crises tipo espasmos com hipsarritmia associada (Síndrome de West) podem ocorrer no período lactente, sendo às vezes o fator determinante da 8 investigação e diagnóstico etiológico. Outras manifestações, como eczemas de pele e odor de biotério, são referidas, porém, pouco frequentes. As manifestações tardias incluem tremores, hiperreflexia e paraparesia ou hemiparesia, além de alterações psíquicas como depressão, ansiedade e fobias. Diagnóstico O diagnóstico de Fenilcetonúria por deficiência de fenilalanina- hidroxilase baseia-se na constatação de aumento persistente da concentração de fenilalanina no sangue, sem elevação da taxa de tirosina e sem evidências de alterações no metabolismo do cofator tetrahidrobiopterina. (O metabolismo da tetrahidrobiopterina pode ser avaliado por dosagem de pterinas na urina e medida da atividade da enzima diidropteridina redutase, em amostra de sangue). Existem dois momentos para o diagnóstico da Fenilcetonúria: no período neonatal, quando o recém-nascido não apresenta ainda manifestações clínicas, ou mais tardiamente, já estando estabelecida a deficiência mental. No primeiro caso, a doença é pesquisada em escala populacional, visando-se detectar rapidamente as crianças afetadas, uma vez que a eficácia do tratamento tem como premissa sua introdução ainda no primeiro mês de vida. Naturalmente, a pesquisa é realizada por meio de exames laboratoriais, pois as manifestações clínicas indicativas da doença são tardias, posteriores ao estabelecimento de lesões orgânicas irreversíveis. Este tipo de abordagem, referido como triagem neonatal, teve início há cerca de 40 anos, e alcançou resultados preventivos de tal magnitude que generalizou-se para a maioria dos países, além de incorporar inúmeras outras patalogias como alvo de pesquisa. Tardiamente, a possibilidade de Fenilcetonúria deve ser avaliada para todos os pacientes com deficiência mental de causa não esclarecida, especialmente se não passaram pela triagem neonatal. A existência de mais de um caso na família ou consanguinidade reforça a suspeita. 9 Em ambas as situações, tardia e neonatal, realizam-se dosagens quantitativas de fenilalanina no sangue. Concentrações persistentes acima de 10 mg de fenilalanina por 100 ml de plasma (10 mg/100ml) estabelecem o diagnóstico da doença, conforme visto na tabela 1. A quatificação pode ser realizada por vários tipos de procedimentos, sendo mais comumente utilizada a Cromatografia de Troca Iônica e a Cromatografia Líquida de Alta Performance, ou alta eficiência, (HPLC). Para fins de triagem neonatal foram adaptados métodos de dosagem em gotas de sangue total, absorvidas em papel de filtro. Em nosso meio, têm sido utilizados métodos de dosagem por fluorometria. Nos recém-nascidos, as amostras de sangue são colhidas por punção do calcanhar, mais simples que a punção venosa, ficando o exame conhecido popularmente como “teste do pezinho”. Na prática, a pesquisa de fenilalanina no sangue é suficiente para estabelecer o diagnóstico da Fenilcetonúria. O procedimento precípuo seria a demonstração de baixa atividade enzimática. Nenhum outro fenótipo conhecido parece estar associado a mutações no gene para a enzima fenilalanina-hidroxilase. No entanto, o exame enzimático clinicamente é dispensável pela localização exclusivamente intra-hepática da fenilalanina- hidroxilase. A investigação molecular pode ser importante em casos de hiperfenilalaninemia de evolução atípica, mas ainda não se constitui em exame rotineiro e apresenta dificuldades técnicas em razão da multiplicidade de mutações gênicas possíveis. Tem sido utilizada para fins de aconselhamento genético, diagnóstico pré-natal e para verificação de heterozigose, em casais sob risco. Um teste qualitativo colorimétrico, o Teste do Cloreto Férrico, pode ser realizado na urina. O teste consiste na adição de meio ml de solução de cloreto férrico a 10% a um ml de urina, que se cora imediatamente em verde ou azul-esverdeado nos casos positivos. A reação colorimétrica se processa 10 com o ácido fenilpirúvico. Sendo qualitativo, o Teste do Cloreto Férrico somente é utilizado para fins de triagem em pacientes já sintomáticos, estando sujeito à ocorrência de resultados falso-negativos e também resultados falso- positivos, pela interação com medicamentos e outras substâncias que possam estar presentes na urina. Em décadas passadas, este teste foi bastante utilizado para o rastreamento da doença em grupos especiais, como deficientes mentais institucionalizados, e para a avaliação de lactentes cujas famílias eram conhecidamente portadoras de membros com Fenilcetonúria. Neste caso era referido como “teste da fralda” pois o reagente era adicionado diretamente em fraldas enxarcadas de urina. Tratamento O tratamento da Fenilcetonúria baseia-se no princípio da restrição alimentar do elemento não metabolizadoadequadamente pelo organismo, o que implica numa dieta limitada em proteína natural, fonte do aminoácido fenilalanina. Esta abordagem foi iniciada pelo pediatra alemão H. Bickel, em 1953, e, passados quase 60 anos, se constitui no principal recurso terapêutico para a doença. A dieta restrita em fenilalanina, seguida regularmente, previne com eficácia a evolução para deficiência mental e demais efeitos clínicos do distúrbio. Entretanto, é necessário que o tratamento dietético seja iniciado ainda no primeiro mês de vida, antes que o sistema nervoso seja irreversivelmente acometido. Os pacientes tratados precocemente têm condições de alcançar desenvolvimento intelectual plenamente satisfatório. No entanto, o tratamento é recomendado qualquer que seja o momento do diagnóstico. Mesmo tardiamente, a dieta deve ser instituída, a fim de minimizar a progressão contínua da doença, ainda que lesões irreversíveis já estejam estabelecidas. 11 O regime alimentar visa reduzir o aporte diário de fenilalanina ao mínimo necessário para as funções vitais, como a síntese proteica, sem exceder a tolerância individual, ou seja, a capacidade residual de metabolização, que varia de paciente para paciente. Deste modo, pequenas quantidades de fenilalanina estão presentes na alimentação diária, calculadas em função da idade, sexo e peso dos pacientes e levando-se em conta a extensão da hiperfenilalaninemia inicial. Em média, a prescrição de fenilalanina no cardápio diário para um adulto jovem fica em torno de 460 mg para o sexo feminimo e 750 mg para o sexo masculino (Acosta & Yannicelli, 2002). Em termos práticos, a dieta é elaborada abolindo-se todos os tipos de carnes, leites naturais e ovos da alimentação, por serem muito ricos em fenilalanina. Uma porção de 100 g de carne de vaca magra, por exemplo, chega a conter 770 mg de fenilalanina. A mesma porção de frango contém cerca de 810 mg do aminoácido. Todos os derivados destes alimentos são igualmente proscritos. A dieta será composta, então, por legumes, verduras, cereais e frutas, em quantidades e combinações orientadas por um profissional de nutrição. Alguns vegetais como feijão, milho e trigo são também ricos em proteína, sendo igualmente controlados. Em face à drástica redução do aporte de proteína natural, torna-se necessária a suplementação com uma fonte proteica alternativa, que seja isenta de fenilalanina. São utilizadas neste sentido fórmulas de aminoácidos manipuladas industrialmente, apresentadas sob a forma de pó, que após reconstituição em água adquirem a aparência de leite. O uso da fórmula de aminoácidos é imprescindível na composição da dieta, para se evitar deficiência nutricional. As fórmulas de aminoácidos atualmente existentes são importadas, sendo disponibilizadas aos pacientes através do Programa Nacional de Triagem Neonatal, do Ministério da Saúde. Os pacientes sob terapia nutricional precisam ser acompanhados regularmente por uma equipe multiprofissional. Dosagens de fenilalanina são 12 realizadas periodicamente, procurando-se manter a taxa de fenilalanina entre 2 e 6 mg/100ml. O tratamento é preconizada para toda a vida. Interrupções na idade adulta foram toleradas no passado, porém, ficou demonstrada progressiva deterioração neuropsíquica nos pacientes sem tratamento. Alguns trabalhos questionam a possibilidade de osteopenia como efeito adverso da terapia nutricional, que forneceria quantidades insuficientes de cálcio. Schwahn et al (1998), no entanto, encontraram osteopenia em indivíduos com Fenilcetonúria, diagnosticados tardiamente e que nunca haviam seguido a dieta. Este dado sugere que a própria doença possa ser responsável por alterações secundárias no metabolismo ósseo. Uma forma de tratamento que vem obtendo destaque nos últimos anos consiste na administração oral de tetrahidrobiopterina. Em princípio, este composto é indicado como tratamento de suplementação na Fenilcetonúria por deficiência de cofator, mas tem apresentado resultados promissores nos pacientes com deficiência de fenilalanina-hidroxilase, provavelmente por estimulação da capacidade enzimática residual. O uso da tetrahidrobiopterina contribui para a redução da concentração plasmática de fenilalanina e propicia certa flexibilização ou mesmo interrupção da dieta alimentar. Entretanto, o perfil dos pacientes responsivos ao tratamento ainda não se encontra bem definido. Casos leves, com taxas menos elevadas de fenilalanina têm sido os mais beneficiados, porém, alguns pacientes com fenótipo mais acentuado responderam satisfatoriamente ao tratamento. Sendo uma droga de utilização recente, não se conhecem possíveis efeitos a longo prazo. 13 Conclusão Não obstante pesquisas recentes, a intervenção nutricional ainda se constitui no tratamento de escolha para a Fenilcetonúria por déficit de fenilalanina- hidroxilase, sendo eficaz na prevenção de uma condição inexorável como a deficiência mental. Entretanto, a terapia impõe severas restrições aos pacientes e familiares e implica em mudança em hábitos alimentares padronizados. Empenho, vigilância e conhecimentos sobre a doença são condições necessárias para o sucesso terapêutico.
Compartilhar