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Profa. Dra. Ronara Ferreira ronara.ferreira@gmail.com DBI 05631 Ecologia Básica Condições (limites de tolerância) Introdução • É importante distinguirmos condições e recursos como duas propriedades dos ambientes onde os organismos podem viver – Condições: não há consumo (não se esgota, apesar de se transformar) – Recursos: há consumo no desenvolvimento dos organismos (vegetativo e reprodutivo) • Para entendermos a distribuição e abundância de uma espécie, precisamos conhecer os limites impostos aos organismos pelas condições ambientais • Definição de Condição: “Um fator ambiental abiótico (características físico-químicas) que influencia no funcionamento de organismos vivos (temperatura, umidade relativa, pH, salinidade e poluentes). Pode ser alterado, porém não consumido nem esgotado” Condições gerais • Para algumas condições podemos estabelecer um concentração ou nível ótimo, onde os organismos exibam desempenhos máximos, com suas atividades diminuindo nos níveis mais baixos e mais altos Condições ótimas Indivíduos deixam mais descendentes (mais aptos) Ponto de vista evolutivo Condições ótimas Indivíduos deixam mais descendentes (mais aptos) Ponto de vista evolutivo Formas generalizadas de resposta de espécies as condições temperatura toxinas micronutrientes Respostas de organismos sedentários (sésseis) • Em todos ambientes, exceto equatorial, as condições físicas seguem um ritmo sazonal • Características morfo-fisiológicas não são ideais às todas as fases (manter mudanças nas propriedades morfo-fisiológicas de acordo com as estações Modificação continuada (árvore decídua) Folhas novas (ideais) todo ano Custo energético envolvido Pinheiros Folhas de permanência longa Desenvolvimento mais lento Condições aqui discutidas • Temperatura * • Salinidade • PH (solo e água) • Forças físicas* • Condições como estímulo* • Poluição ambiental (mudanças ambientais)* Temperatura 1. Metabolismo, crescimento, desenvolvimento e tamanho 1.1 Metabolismo Efeito exponencial processos enzimáticos: (i) aumento do movimento molecular (ii) aceleração das reações químicas (iii) desaceleração em elevadas temperaturas Salvelinus malma X Salvelinus leucomaenis 1.2 Crescimento e desenvolvimento Efeito linear sobre taxas de crescimento e desenvolvimento Exemplo: Amblyseius californicus (limiar desenvolvimento: 9.9ºC) 15°C = 24,22 dias para desenvolver 25°C = 8,18 dias 24,22*5,1 = 123,5 graus-dia acima do limiar 8,18*15,1 = 123,5 graus-dia Tempo fisiológico (Combinação de tempo e temperatura) 1.3 Tamanho “Regra temperatura-tamanho” Taxas de crescimento e desenvolvimento determinam tamanho final do organismo Em geral, uma temperatura maior leva a um tamanho menor Aquecimento global Qual efeito de um aumento de 2°C ? 2. Ectotérmicos (pecilotérmicos) e endotérmicos (homeotérmicos) 2.1 Ectotérmicos (pecilotérmicos) Muitos organismos possuem temperatura corporal que difere pouco do seu ambiente circundante (sésseis) Água, solo, intestino Terrestres Sésseis (propriedades fixas); móveis (buscam temperaturas mais altas ou baixas) Comportamental Trabalhos musculares, construções das colônias Como eles lidam com a variação de temperatura? 2.2 Endotérmicos (homeotérmicos) Capacidade de manter a temperatura corporal, 35 – 40°C, próximo do ótimo enzimático (cada organismo e/ou espécie possui o seu) Razão (área de superfície/volume) em ambientes extremos Mais eficientes na procura de recurso ou fuga de predadores Custo energético Forças físicas (vento, água) • Composição comunidade de plantas e animais varia ao longo de rios e riachos – Maior velocidade média sentido jusante • Efeito borda em áreas fragmentadas (comunidade de borda e de interior) Condições como estímulo • Aproximação do inverno (fotoperíodo) – Alguns mamíferos hibernam, desenvolvem pelagem espessa – Insetos entram em diapausa – Migração sazonal de aves • Aproximação da primavera – Início do florescimento em plantas – Início da atividade reprodutiva em animais • Temperaturas baixas – Quebra de dormência das sementes Poluição ambiental • Muitas condições que se tornaram progressivamente importantes são devidas à acumulação de subprodutos tóxicos de atividades humanas limitando a distribuição dos organismos – Dióxido de enxofre, chumbo, fosfato... Diminuição na riqueza de espécies Explosão de poucas espécies (maré vermelha) Mudanças ambientais • Gases industriais e efeito estufa – CO2, CH4, N2O, CFCs • Aquecimento global (aumento de 3 a 4°C em 100 anos) Temperatura (euritérmicas - estenotérmicas) • Para um dado fator, uma espécie pode ser descrita como tendo uma amplitude de tolerância relativamente maior (EURI), ou menor (ESTENO) – EURI-HALINA (grande tolerância à concentração de sal) – ESTENO-HALINA (pequena tolerância) Um fator ecológico desempenha papel de fator limitante qdo está ausente ou reduzido (abaixo de um mínimo crítico) ou se excede o nível máximo tolerável. Recursos Introdução “todas as coisas consumidas por um organismo são seus recursos” (Tilman 1982) • Os recursos podem ser componentes bióticos ou abióticos do ambiente; eles são tudo o que um organismo usa ou consome no seu crescimento e manutenção, tornando menos disponível para os outros organismos • Consumir não significa simplesmente comer, mas tudo que envolva diminuição no estoque de suprimento • disponibilidade de tocas ou locais de descanso “Assim, recursos são entidades exigidas por um organismo cujas quantidades podem ser reduzidas pela sua atividade “ Conteúdo • Radiação solar* • Dióxido de carbono • Água* • Nutrientes minerais* • Oxigênio • Animais e seus recursos Fotossíntese (produtividade primária) Organismos fixos Se organismos podem se mover, eles tem o potencial de buscar o seu alimento Crescimento em direção a seus recursos Parte aérea Raiz Energia irradiada Dióxido de carbono Cátions minerais Água e ânions Água • Grande parte dos órgãos vegetais é composta na sua maioria de água, chegando a 98% em frutos e folhas • Mesmo assim, isto representa uma fração diminuta da água que vem do solo e chega a atmosfera durante seu crescimento • A fotossíntese absorve CO2 através de superfícies úmidas, logo a entrada deste acarreta a perda para a atmosfera de H2O. • Da mesma forma, a reação contra dessecação (fechamento dos estômatos) impede a absorção de CO2 Estômato Abre somente na presença de luz e água Saída de água para atmosfera (SA) Absorção de água (AA) Quando: SA>AA (murcha) SA<AA (turgidez) Há uma variação diária (dia – murcha - e noite - recupera) Transpiração (diminui temperatura – evita superaquecimento) necessidade Nutrientes minerais • As raízes extraem água do solo e minerais essenciais necessários para as plantas Nitrogênio (N) Fósforo (P) Enxofre (S) Potássio (K) Cálcio (Ca) Magnésio (Mg) Ferro Manganês (Mn) Zinco (Zn) Cobre (Cu) Boro (B) Macronutrientes Micronutrientes (traços) Cada nutriente possui uma característica própria Nitrogênio mais solúvel em água (difusão maior) Fosfato menos solúvel – fixados (difusão menor) Heterogeneidade dos solos faz com que as raízes se desenvolvam distintamente Maior ramificação nas partesmais ricas do solo 1º com o desenvolvimento da raiz principal (profundidade) 2º raízes secundárias (lateralmente) Absorção de água e nutrientes pelas raízes Animais e seus recursos • Heterótrofos e seus grupos: – Decompositores – Parasitos – Predadores – Forrageadores Plantas (autótrofo) Consumidor (heterótrofo) Predador (heterótrofo) Decompositor (heterótrofo) H2O CO2 luz Espécies indicadoras • Organismos ou comunidade de organismos sensíveis a um fator limitante e que respondem por meio de alterações dos processos vitais ou pela acumulação do elemento estressante. BIOINDICADORES DECLÍNIO DESAPARECIMENTO CRESCIMENTO AUMENTO DA CAPACIDADE REPRODUTIVA Indicadores de poluição Ex: LÍQUENS (dióxido de enxofre) Dichotomius sericeus A b u n d â n c ia m é d ia 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Área queimada Área preservada Dichotomius sp. A b u n d â n c ia m é d ia 0 20 40 60 80 100 120 140 Área queimada Área preservada Ateuchus squalidus A b u n d â n c ia m é d ia 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Área queimada Área preservada Espécies indicadoras EPT Ephemeroptera – Trichoptera - Plecoptera Nicho ecológico Nicho ecológico O que é nicho ecológico? Habitat? (local) “Resumo” das tolerâncias (condições) e necessidades (recursos) Idéia!!! Nicho ecológico O nicho ecológico não é um local, mas uma idéia, como se fosse um resumo das tolerâncias e necessidades de um organismo para viver em determinado meio. Condições e Recursos necessários! Nicho ecológico Ambiente abiótico Interações bióticas Distribuição/ Acesso/ Dispersão Grinnell (1924) Propôs nicho como uma unidade espacial: “unidade de distribuição, dentro da qual se encontra cada espécie, em função de suas limitações estruturais e instintivas. “o nicho é ocupado por apenas uma espécie...se um novo nicho ecológico surge, ou se um nicho se desocupa, a natureza se encarrega de fornecer um ocupante”. Definições de Nicho Ecológico Não é tão simples assim! Lugar onde organismo vive: isso é habitat Nicho Ecológico Cada habitat proporciona muitos nichos diferentes para diferentes organismos Definições de Nicho Ecológico Isto é uma visão pré-interativa: Refere-se a área total em que um organismo pode sobreviver na ausência de outros organismos; O nicho é uma propriedade do ambiente e não do seu ocupante. VISÃO LIMITADA! Elton (1933): Foco no papel funcional da espécie dentro da cadeia trófica e não são consideradas as condições abióticas. “o status de um animal em sua comunidade, para indicar o que ele faz e não apenas como ele se parece...” “o nicho de um animal significa sua posição (emprego ou profissão) no ambiente biótico, sua relação com alimento e inimigos.” Definições de Nicho Ecológico Visão pós-interativa: Foco no papel funcional da espécie dentro da cadeia alimentar; Condições abióticas não são consideradas; O nicho é uma propriedade da comunidade biótica e não do seu ocupante. VISÃO LIMITADA! Definições de Nicho Ecológico Huntchinson (1957): “O termo nicho é aqui definido como a soma de todos os fatores ambientais (bióticos e abióticos) agindo sobre o organismo; o nicho assim definido é uma região de um hiper-espaço n-dimensional” Conceito moderno de nicho Nicho unidimensional: faixa de temperatura para diversas espécies vegetais nos Alpes. O nicho huntchinsoniano Nicho bidimensional: destino de fêmeas de camarão em faixas de temperatura e salinidade. O nicho huntchinsoniano Nicho tridimensional: organismo aquático, mostrando volume definido pela temperatura, pH e disponibilidade de alimento. O nicho huntchinsoniano temperatura temperatura u m id a d e temperatura u m id a d e “um hiper-volume n-dimensional” Conjunto de condições dentro dos limites aceitáveis e que contenha os recursos necessários a uma espécie O nicho huntchinsoniano Definições de nicho: A posição ou status de um organismo dentro de sua comunidade e ecossistema resultante de suas adaptações estruturais, respostas fisiológicas e comportamento específico (herança ou aprendizado)- Odum 1959 É a soma do uso dos recursos bióticos e abióticos por um organismo em seu ecossistema- Campbell 1996. Relação do indivíduo ou da população com todos os aspectos de seu ambiente- e dessa forma, o papel ecológico das espécies dentro da comunidade- Ricklefs 1996. Conceitos modernos de nicho Se fosse possível conduzir um trabalho com todas as variáveis Xn (físicas e biológicas), o nicho fundamental das espécies iria definir suas propriedades ecológicas. O nicho fundamental é definido como o que se usualmente se chama nicho ecológico. E sp a ço e co ló g ico O nicho huntchinsoniano As condições em que um organismo pode persistir (sobreviver, crescer e reproduzir) são maiores do que as condições REAIS em que o organismo realmente vive. Isso ocorre devido às INTERAÇÕES BIÓTICAS. X Os tipos de nicho Nicho fundamental Nicho efetivo NICHO FUNDAMENTAL: todas as características do hipervolume de n-dimensões na ausência de outras espécies (amplitude máxima). NICHO REALIZADO OU EFETIVO: porção do nicho fundamental considerando as interações interespecíficas. Os tipos de nicho T e m p e ra tu ra Umidade Nicho fundamental Nicho efetivo Fitness= baixo valor adaptativo Geração descendentes, abaixo dessa linha é ZERO Amplitude do nicho Os tipos de nicho O nicho é uma propriedade do ocupante e não do ambiente; Nichos são mutáveis (evoluem), pois são propriedades dos organismos; Importante saber! Nichos são quantificáveis: Variáveis ambientais podem ser expressas em eixos contínuos; A estrutura interna do nicho é determinada pelo desempenho da espécie (medida em fitness- valor adaptativo). Importante saber! Uma vez que todos “visam” reproduzir, existe sempre a luta pelas condições e recurso ideais para que isso aconteça; A busca pelo estabelecimento do nicho efetivo na maior amplitude possível Importante saber! COMPETIÇÃO • Recursos disponíveis: continuum (R), • Cada espécie utiliza uma fração desse continuum: Largura do nicho (n), • Sobreposições de nicho (o). (n) (o) (R) Nicho x Recursos Nicho ecológico e recursos Fatores que afetam a riqueza Mede-se: 1. Amplitude do nicho: variedade de recursos usados pelos organismos; Para medir o nicho 2. Partição do nicho (partição de recurso): grau de recursos distintos usados por espécies que coexistem; 3. Sobreposição de nicho: recursos iguais utilizados por diferentes espécies (gera a competição). Para medir o nicho Especialistas: menor sobreposição de nicho Generalistas: maior sobreposição de nicho (mas maior gama de recursos disponíveis- diluição). Para medir o nicho Espécie especialista Espécie generalista Para medir o nicho Partição nicho por ocorrer também em aspectos comportamentais Forrageamento em horários diferentes hábitos crepusculares/ hábitos diurnos Para medir o nicho • Diversas condições e recursos são essenciais para o crescimento, sobrevivência e reprodução dos indivíduos • Indivíduos apresentam conjunto de condições “ótimas” nas quais são mais eficientes • Fatores bióticos e abióticos juntamente com as interações determinam o nicho de uma espécie • Nicho é multidimensional e dinâmico, varia de acordo com as interações • O entendimento das condições e recursos, bem como o nicho ecológico das espécie têm várias aplicações para conservação, manejo, previsões de doenças, expansão de pragas e invasões biológicas. Conclusões O conceito de nicho é importante como uma ferramenta para pensar sobre fenômenos ecológicos e evolutivos (coexistência), assim como um instrumento para integração desses fenômenos através de níveis de organização e escalas (indivíduos até ecossistemas). Distribuição de espécies em determinados ambientes: biomas... Conclusões • Towsend CR, Begon M, Harper JL. (2010). Fundamentos em Ecologia. (3ed.) Artmed. 576p. • Begon M, Townsend CR, Harper JL. (2007). Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. (4ed). Artmed. 752p. • Ricklefs RE. 2010. A economia da natureza. (6ed). Guanabara Koogan. 572p. Bibliografia Separados pelo nicho ecológico... Obrigada a todos!
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