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Do Manuscrito ao Registro Eletrônico - 150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre

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150 anos do
Registro de Imóveis de
Porto Alegre
Do manuscrito
ao registro eletrônico
Do manuscrito
ao registro eletrônico
APOIO:
REALIZAÇÃO:
João Pedro Lamana Paiva
PATROCÍNIO:
João Figueiredo Ferreira Márcia Elisa Comassetto dos Santos Maria Conceição Dias de Andrade
Do manuscrito 
ao registro eletrônico
150 anos do
Registro de Imóveis de
Porto Alegre
OrganizaçãO
Juliana Erpen
Porto Alegre, 2015
Copyright Registro de Imóveis 1ª Zona de Porto Alegre - 2015
Concepção, Organização e Edição: Juliana Erpen
Projeto gráfico: YOYO Ateliê Gráfico e Gabriel Johansson Azeredo
Foto da capa: Cais do Porto na década de 1950, por José Abraham Diaz - Acervo Memorial do Legislativo
Pesquisa documental e iconográfica: Andréia Suris, Juliana Erpen e Régis Borges Rodrigues
Acervos documentais e fotográficos: Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul / Acervo Sinval Saldanha; 
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul / Acervo Laudelino Teixeira de Medeiros; Memorial 
do Legislativo; Museu Joaquim Felizardo / Acervo Sioma Breitman; Arquivo Público do Rio Grande do Sul; 
Registro de Imóveis da 1ª Zona de Porto Alegre; Assembleia Legislativa do RS
Fotografias: Tânia Meinerz e Cláudio Calovi Pereira
Tratamento de imagens: Vinícius Silva de Souza e Juarez Rodolpho dos Santos 
Revisão: Press Revisão
Produção gráfica: Antonio Henriqson
Impressão: Gráfica e Editora Pallotti
Produção cultural: Carmen Langaro
Catalogação na fonte
Do manuscrito 
ao registro eletrônico
150 anos do
Registro de Imóveis de
Porto Alegre
APOIO:
REALIZAÇÃO:
João Pedro Lamana Paiva
PATROCÍNIO:
João Figueiredo Ferreira Márcia Elisa Comassetto dos Santos Maria Conceição Dias de Andrade
PrefáciO ››› 7
aPresentaçãO ››› 9
caPítulO 1
 Posse, domínio e caminhos no Rio Grande de São Pedro ››› 19 
caPítulO 2
 Evolução Urbana de Porto Alegre ››› 39 
caPítulO 3
 Ocupação Urbana em Porto Alegre ››› 59 
caPítulO 4
 Da Propriedade ››› 91
caPítulO 5
 150 anos de História ››› 123
caPítulO 6
 Patrimônio Cultural ››› 169
caPítulO 7
 O Sesquicentenário ››› 219
Palavras finais ››› 233
referências ››› 236 
Sumário
Centro Histórico visto do Rio Guaíba, entre as ruas Bento 
Martins e João Manoel, no início do século XX. Acervo particular
PrefácioPrefácio
Praça da Matriz e antiga Câmara Municipal (onde hoje se ergue Tribunal de Justiça) por vol-
ta de 1886, quando foi implantado o gradil de ferro que delimitava a praça. Acervo Assembleia Legislativa
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 98 Do manuscrito ao registro eletrônico
O patrimônio imobiliário da capital gaúcha, no ano de 1864, era modesto. 
A cidade ainda tinha sua expansão constrangida pela topografia acidentada do 
centro histórico, não conhecia nenhuma forma viável de transporte coletivo 
e carecia de iluminação pública eficiente. Suas ruas eram ainda servidas por 
lampiões de querosene, a água potável provinha de poços e cacimbas, quando 
não do próprio Guaíba “in natura”, sem qualquer tratamento. A Companhia 
Hidráulica Porto-Alegrense, que trouxe água potável das nascentes do Arroio 
Dilúvio para abastecer chafarizes e algumas casas privilegiadas, só começou a 
operar em 1866. Uma planta da cidade, desse ano, nos mostra malha urbana 
que terminava na Rua Coronel Vicente ao Leste e na atual Rua da República 
ao Sul, assim mesmo com amplos espaços desocupados na área da Cidade 
Baixa. Não houve recenseamento coincidente com a data de 1865. Mas o censo 
realizado, nove anos antes, pelo presidente Luiz Alves Leite de Oliveira Belo, 
encontrou na cidade uma população de 17.226 habitantes, dos quais 5.146 
escravos, ocupando um total de 2.914 moradias.
Como possuísse um único estabelecimento bancário – o Banco da 
Província do Rio Grande do Sul – fundado em 1858, não é de imaginar um 
intenso movimento de empréstimos hipotecários. Só na virada do século XIX, 
em concomitância com o surto industrial posterior à República, começariam 
a operar outros bancos, quais sejam, o London & Brazilian Bank, o Nacional 
do Comércio e o Banco Alemão. Tratava-se de uma economia pré-capitalista, 
que apenas se fortaleceu depois da década de 1920.
Simultaneamente ao crescimento da economia, desenvolveram-se e mul-
tiplicaram-se os registros de direitos reais e de suas garantias, assim como 
surgiram os registros de títulos e documentos e os cartórios de protestos de 
títulos mercantis. Por diverso motivo, ligado à laicização da sociedade, nas-
ceu, ainda no século XIX, o Registro Civil das Pessoas Naturais, para operar o 
registro de nascimentos, casamentos e óbitos, antes a cargo da Igreja Católica 
e de seus párocos. Trata-se hoje de uma constelação cartorial da maior impor-
tância, inseparável da vida moderna, da segurança negocial e do cotidiano 
dos cidadãos.
Estimo que este livro contribua para difundir, entre o público leigo, co-
nhecimentos sobre a atividade registral, muito limitados ainda às corporações 
de advogados, de magistrados e de empresários do ramo.
Sérgio da Costa Franco
 Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
Esta obra coletiva, elaborada por pessoas alta-
mente qualificadas e de grandes serviços prestados à Justiça, mereceria ser 
apresentada por um jurista de renome e ainda em franca atividade. Não é o 
caso do prefaciador escolhido, que se jubilou no Ministério Público Estadual 
há mais de trinta anos, afastou-se de qualquer atividade na órbita judiciária e 
passou a dedicar-se, com exclusividade, à pesquisa histórica e à historiogra-
fia regional. Só posso atribuir o convite com que me honrou a organizadora 
Juliana Erpen aos vínculos que possuo com a história de Porto Alegre, suas 
Instituições e sua estrutura urbana, que tenho estudado continuadamente. 
O sesquicentenário do 1º Cartório do Registro de Imóveis, cujos primeiros 
assentos remontam a 1865, é um fato marcante para os registros históricos da 
capital gaúcha, que tem conservado, no Arquivo Público do Estado, seus atos 
notariais desde 1766. Para as pessoas familiarizadas com o mundo jurídico, 
não é novidade essa informação. A preocupação com o ato registral, para a se-
gurança maior dos negócios privados, nasceu bem mais tarde, com a crescen-
te complexidade da vida econômica e social. Durante muito tempo, pareceu 
bastante a lavratura de escrituras que externassem a vontade de outorgantes e 
outorgados, perante um escrivão de ofício. Dos tabeliães de notas já tratava o 
título 78 do Primeiro Livro das Ordenações Filipinas, repetindo, aliás, regra 
das Ordenações Manuelinas, a ordenar que, “em qualquer cidade, vila ou lu-
gar, onde houver casa deputada para os tabeliães das notas, estarão nela pela 
manhã e à tarde, para que as partes, que os houverem mister para fazer algu-
ma escritura, os possam mais prestes achar”.
Salvo engano, a exigência de atos registrais nasce com a legislação so-
bre hipotecas, de que foi pioneira a Lei nº 317, de 21-outubro-1843, regu-
lamentada pelo Decreto nº 482, de 14-11-1846, que criou o Registro Geral 
das Hipotecas. Entretanto, já na década seguinte, sentia-se a necessidade de 
reforma da legislação das hipotecas, e Nabuco de Araujo elaborou o projeto 
de que resultou a Lei nº 1237, de 24-09-1864. Defendendo sua proposição, o 
“estadista do Império”, que mereceu clássica biografia escrita por seu filho 
Joaquim Nabuco, discursou no Parlamento do Império: “Temos, é verdade, 
um registro criado pelo decreto de 1846, para as hipotecas convencionais, mas este 
registro não é senão um epigrama; que importa que ele advirta ao emprestador que 
não há outras hipotecas convencionais, se podem ocorrer como de emboscada hipo-
tecas privilegiadas e ocultas? Temos um registro que nos diz que a propriedade que 
se vaihipotecar já está hipotecada, mas não temos um registro que nos diga que a 
propriedade que se vai hipotecar está alienada...”
Regulamentada pelo Decreto nº 3.483, de 26-abril-1865, a Lei nº 1237 co-
meçou a produzir seus efeitos em todo o território brasileiro. Rezava o seu 
artigo 1º que “o registro geral, decretado na Lei nº 1237, de 24 de setembro de 
1864, será instalado em todas as comarcas do Império três meses depois da data 
deste regulamento.” Daí decorreu a criação do Registro Hipotecário de Porto 
Alegre, cujo sesquicentenário agora se celebra.
ApresentaçãoApresentação
Praça da Matriz, com chafariz de mármore, em torno de 
1906. Foto de Virgílio Calegari. Acervo Assembleia Legislativa
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 1312 Do manuscrito ao registro eletrônico
 Leonardo Brandelli, Mestre em Direito Civil pela Universidade Federal do 
Rio Grande do Sul, Oficial de Registro de Imóveis no Brasil, em sua disserta-
ção FUNÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO REGISTRO DE IMÓVEIS DIANTE DO 
FENÔMENO DA DESPATRIMONIALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL, sinalizou com 
absoluta pertinência: 
 
Na medida em que, como vimos, a apreensão dos bens da natureza é 
inata ao ser humano, a inexistência de um regramento seguro do direito 
de propriedade e que estabeleça com segurança a extensão do direito de 
propriedade de cada um, através de um sistema registral adequado, in-
viabilizaria a vida social, geraria o caos, o império do mais forte sobre o 
mais fraco, uma volta ao individualismo puro.
Nesse sentido, um sistema registral imobiliário adequado permite, em últi-
ma análise, a própria vida social, que é o fim último do direito.
A tônica constitucional da função social da propriedade pode ser muito mais 
facilmente atingida quando se tem à disposição as informações registrais acer-
ca do direito que, eventualmente, descumpre sua função social. O Registro de 
Imóveis, bem utilizado, é, nesse sentido, um importante agente facilitador do 
controle do exercício da função social do direito de propriedade. Por um lado, 
a informação registral levará ao terceiro adquirente a noção segura de que tipo 
de propriedade está a adquirir, e, portanto, qual a destinação que deverá dar a 
tal direito, a fim de cumprir a sua função social; por outro lado, o Estado tem 
nas informações registrais um meio valioso de angariar elementos a fim de 
observar o cumprimento, ou não, da função social da propriedade, aplicando os 
institutos jurídicos adequados ao caso.
Enfim, o fenômeno registral imobiliário carrega consigo uma função social 
e uma função econômica que andam de mãos dadas, e que decorrem, ambas, 
naturalmente de um sistema registral bem aplicado, em consonância com os 
princípios constitucionais que norteiam a propriedade. E um sistema registral 
bem aplicado é fundamental à consecução do princípio da dignidade da pessoa 
humana, cuja face voltada ao aspecto patrimonial só é alcançada quando se al-
cança a implementação da função econômica e social da propriedade.
Os registros públicos, em nosso meio, durante muito tempo, mesmo depois 
do advento do Código Civil de 1916, representavam uma atividade basicamente 
regulamentada através de decretos do Poder Executivo, o que veio a se modificar 
com a Lei nº 6.015/73, que disciplinava a atividade registral. E sempre houve 
uma indissociável relação entre o Judiciário e os serviços extrajudiciais. Até bem 
pouco tempo, os servidores que lá oficiavam eram conhecidos como servidores 
extrajudiciais – art. 99 do COJE, Lei Estadual nº 7.356/80.
A Constituição da República, em 1988, alterou o conceito sistêmico, nos ter-
mos do seu art. 236. A partir daí, notários e registradores passaram a ser de-
legatários do serviço público, mediante concurso público de provas e títulos. 
Atividade que seria exercida em caráter privado, remunerada por emolumentos 
fixados em lei, outorgando autonomia gerencial aos titulares da delegação.
Os 150 anos 
do Registro de Imóveis 
DA 1ª ZONA DE PORTO ALEGRE
Desembargador José Aquino Flôres de Camargo1
Ao ensejo dos 150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre e atendendo a con-
vite de seu Titular, o Registrador João Pedro Lamana Paiva, honra-nos participar da 
publicação alusiva à data tão relevante à Sociedade Gaúcha.
O marco traduz a celebração da própria história do registro no Estado do Rio Grande 
do Sul e surge, pelo conjunto de suas iniciativas, como forma de consolidar grande 
parte da memória desse serviço público, projetando-o para as gerações futuras.
Na lição do ilustre registrador de imóveis Luiz Egon Richter2:
O Registro de Imóveis pode ser conceituado como: a instituição que tem por atri-
buição legal a capacidade para publicizar fatos jurídicos que dizem respeito aos bens 
imóveis, o direito real de propriedade imobiliária, os direitos reais que podem recair 
sobre o direito real de propriedade imobiliária e demais direitos inscritos, bem como 
atos ou fatos que dizem respeito aos sujeitos que figuram nos registros, sempre que a 
lei assim impuser ou autorizar, com a finalidade de dar autenticidade, a segurança e a 
eficácia jurídica.
É instituição cuja origem antedata o próprio Estado, pois a busca pela segurança vem 
de tempos imemoriáveis. Em época mais recente na história, o Estado acabou por assu-
mir a responsabilidade pela segurança jurídica e para tanto, criou órgãos e instituições 
para tal finalidade. Ao criá-los distribuiu e atribuiu, por força de lei, as competências 
e respectivas finalidades, onde se destacam a publicidade, segurança e eficácia jurídica.
Em sua obra, discorrendo sobre a propriedade privada, São Tomás de Aquino 
advertiu: 
a posse das coisas exteriores é natural ao homem.’ [...] “Dotado de razão e de 
vontade livre,” o homem “serve-se, licitamente, de todos os demais seres infe-
riores, para a consecução do seu destino natural. [...] “Nesse quadro, dizer que 
o homem pode dispor naturalmente dos bens e dos seres exteriores representa 
poder dispor deles segundo a finalidade, sine poenitentia. Sem nenhum arrepen-
dimento ou constrangimento. Essa é a ordem, essa, a harmonia, essa, a finalidade 
estabelecida desde sempre. [...] “Nessa tarefa de repartição dos bens exteriores, 
sem ferir o direito natural, cabe importante tarefa ao Estado: não pode ficar in-
diferente diante desse problema e desafio. [...] “La propiedad privada es necesaria 
como institución social”.3
1. Presidente do TJ/RS 
2. Registrador Substituto do Registro de Imóveis de Lajeado; Professor da disciplina de Registro de Imóveis da 
Faculdade de Direito de Santa Maria - FADISMA e do Colégio Registral do Rio Grande do Sul; Professor de 
Registros Públicos e Direito Administrativo da Universidade de Santa Cruz do Sul-UNISC. 
3. MIGOT, Aldo Francisco. A propriedade: natureza e conflito em Tomás de Aquino, p. 29-35, 15-7. 
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 1514 Do manuscrito ao registro eletrônico
A fiscalização de tais serviços, entretanto, permaneceu a cargo do Poder 
Judiciário, ratificando as relações seculares entre a jurisdição e os serviços 
extrajudiciais.
A Lei nº 8.935, de 18 de novembro de 1994, regulamentou estas atividades. 
Assim, fixou as espécies e atribuições de notários e registradores, o ingresso 
e as remoções na atividade, a disciplina aplicável aos prepostos, a responsabi-
lidade civil e criminal dos delegatários, os direitos, os deveres, as incompati-
bilidades, os impedimentos, as infrações, as penalidades e a fiscalização pelo 
Poder Judiciário.
O art. 3º da referida Lei proclamou: Notário, ou tabelião, e of icial de registro, 
ou registrador, são prof issionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delega-
do o exercício da atividade notarial e de registro.
Sem hesitar, diria que, ao registrador, como delegatáriode relevante fun-
ção pública, responsável pela preservação de direitos constitucionalmente as-
segurados à cidadania, cumpre o dever de estar afinado à evolução da vida 
social, valorizando a dignidade da pessoa humana. De sua atividade, espera-se 
a construção de um ambiente jurídico seguro para o desenvolvimento não 
apenas da livre iniciativa, como também da solidariedade social, marcada por 
padrões de justiça e que atenda, cada vez mais, a uma parcela maior da popu-
lação, contribuindo para erradicação das desigualdades sociais. 
As comemorações dos 150 anos do Registro de Imóveis da 1ª Zona de Porto 
Alegre resgatam um marco importante desta história, envolvendo um con-
junto de iniciativas voltadas a evidenciar a natureza e a importância social de 
tal atividade, consolidando grande parte da memória institucional do registro 
imobiliário nesta Capital e em nosso Estado, preservando-a para as presentes 
e futuras gerações. Iniciativas como esta preservam o bem comum e estão 
afinadas aos critérios da Justiça. 
A oportunidade permite que se parabenize o Registrador João Pedro 
Lamana Paiva, assim como toda sua Equipe, pela iniciativa e dedicação a este 
projeto de significativa importância social.
O 150º Aniversário 
do Registro de Imóveis 
DA 1ª ZONA DE PORTO ALEGRE
E A SEGURANÇA JURÍDICA
Desembargador Tasso Caubi Soares Delabary1
A celebração do 150º aniversário do Registro de Imóveis da 1ª Zona 
de Porto Alegre, o mais antigo da Capital gaúcha, traz a lume a evolução 
da atividade registral no Brasil, cujos primórdios remontam do tempo 
do Primeiro Império.
Na época em que o Brasil era uma colônia portuguesa, toda a pro-
priedade pertencia a Portugal, todos os bens eram públicos. Quando 
a Coroa Portuguesa passou a ceder direitos possessórios de parte das 
terras aos moradores das capitanias hereditárias, por meio das cartas 
de sesmarias, surgiu a necessidade de conferir publicidade a tais atos, 
bem como de registrá-los. Buscando resolver a situação, Dom Pedro II 
editou, em 1850, a Lei n.º 601, que dispunha sobre as terras devolutas 
no Império e as que eram possuídas por título de sesmaria, bem como 
aquelas decorrentes do simples título de posse mansa e pacífica, deter-
minando que fossem medidas e demarcadas e que fossem legitimadas 
aquelas adquiridas por “occupação primaria”, ou havidas “do primeiro 
occupante, que se acharem cultivadas, ou com principio de cultura, e mora-
da, habitual do respectivo posseiro, ou de quem o represente”, incumbindo 
ao Governo “o modo pratico de extremar o dominio publico do particular”.
Entretanto, não existia definição do local e a quem incumbia tais 
registros. Resolvendo a questão, o Decreto nº 1.834, de 1854, no capí-
tulo intitulado “Do registro das terras públicas”, incumbiu ao Vigário de 
cada freguesia o recebimento de declarações para o registro de terras, 
surgindo, daí, os primeiros sinais do princípio da territorialidade. Tais 
registros, porém, não tinham o condão de conferir o título de proprie-
dade ao possuidor.
A efetiva implantação do Registro de Imóveis no país ocorreu 
com o advento do Decreto nº 3.453/1865 – regulamentando a Lei nº 
1.237/1894, que instituiu a reforma da legislação “hypothecaria” (an-
teriormente, pela Lei Orçamentária nº 317, de 21/10/1843, criou-se o 
Registro Hipotecário) – pelo qual foi determinado que, no prazo de três 
meses a contar de sua publicação, fosse instalado em todas as Comarcas 
do Império um Registro Geral de Imóveis. A norma em referência 
inaugurou, também, o princípio da publicidade dos atos registrais, ao 
1. Corregedor-Geral da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. 
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 1716 Do manuscrito ao registro eletrônico
dispor em seu art. 80, §§1º e 2º, a obrigatoriedade de os oficiais de registros 
“passar as certidões requeridas” e “mostrar as partes, sem prejuizo da regularida-
de do serviço, os livros do registro, dando-lhes com urbanidade os esclarecimentos 
verbaes, que ellas pedirem”. O art. 7º do referido Decreto atribuiu o registro 
geral aos tabeliães especiais existentes à época, ao tabelião da cidade ou vila 
principal de cada comarca, designado pelos Presidentes das Províncias, com 
prévia informação do Juiz de Direito; e o art. 9º dispunha que os oficiais de 
registros eram sujeitos, exclusivamente, aos Juízes de Direito, inaugurando a 
atividade correcional do Poder Judiciário sobre as atividades registrais. 
Assim, em razão da edição do Decreto nº 3.453/1865, em 05 de julho de 
1865, foi criado o Registro de Imóveis da 1ª Zona de Porto Alegre, com a 
assinatura do termo de abertura do primeiro livro destinado às transcrições 
imobiliárias.
Com o advento do Código Civil de 1916, estabeleceu-se o Sistema de 
Registro Comum, de caráter universal e obrigatório, com efeitos constitutivo 
e declarativo. Previu-se, também, que a aquisição da propriedade privada 
dar-se-ia pela transcrição do título de transferência no Registro de Imóveis, 
assim como transcrição dos títulos constitutivos de ônus reais sobre coisas 
alheias e as inscrições de hipotecas, atribuindo-se fé pública para os respec-
tivos atos, surgindo os três efeitos fundamentais dos atos registrais de imó-
veis: constitutivo, comprobatório e publicitário. 
Posteriormente, tivemos o Decreto nº 12.343, de 03/01/1917, que deu ins-
truções para a execução dos atos de registros instituídos pelo Código Civil; 
Lei nº 4.827, de 07/02/1924; Decreto nº 18.527, de 10/12/1928; Decreto nº 
4.857, de 09/11/1939, modificado pelo Decreto nº 5.718, de 26/12/1940, 
introduzindo novas modalidades de registro. O Decreto-Lei nº 1.000, de 
21/11/1969, simplificou os trâmites cartorários, permitindo a substituição 
dos livros por fichas ou por folhas soltas, suscetíveis de serem datilografadas. 
Ainda, a edição da Lei nº 6.015, de 31/12/1973, alterada pela Lei nº 6.216, de 
30/6/1975, conhecida como Lei dos Registros Públicos, regendo por com-
pleto a matéria registral. A Lei 8.935/94 (Lei dos Cartórios), por sua vez, 
regulamentou a atividade dos notários e registradores.
Como se vê, as legislações supervenientes corroboraram e ampliaram a 
importância da atividade registral imobiliária, conferindo-lhe uma gama de 
atribuições que objetivam, precipuamente, conferir segurança jurídica às re-
lações entre particulares e entre esses e o Estado, primando pela prevenção 
de litígios. Assim, no exercício delegado de função essencial do Estado, o 
Registrador desempenha suas atribuições com o fito de garantir publicidade, 
autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos. O Registro de Imóveis 
destina-se ao registro e averbação dos títulos ou atos ou fatos inter vivos ou mortis 
causa, constitutivos, translativos ou extintivos de direitos reais, a f im de asse-
gurar-lhes validade, ef icácia erga omnes e disponibilidade (art. 172 da Lei de 
Registros Públicos e art. 314, parágrafo único, da CNNR/RS).
Esse breve escorço histórico faz lembrar a evolução da própria ati-
vidade registral no país, iniciando com o registro manuscrito dos atos 
em meados do século XIX, e a instituição do sistema Torrens, criado 
pelo Decreto nº 451-B, de 31/05/1890, regulamentado pelo Decreto nº 
955-A, de 5/11/1890, passando para a adoção das fichas registrais ou 
sistema de folhas soltas datilografadas na década de 1970, até chegar 
aos dias atuais, com a informatização dos registros, com a possibilida-
de de consulta on-line para busca de matrícula de imóveis e certidões. 
Nesse particular, o Registro de Imóveis da 1ª Zona de Porto Alegre 
destaca-se pela constante inovação e pelos investimentos no aprimo-
ramento do sistema, visando à constante melhoria na prestação dos 
serviços e conferindo cada vez mais segurança jurídica aos cidadãos.A Corregedoria-Geral da Justiça, como órgão de fiscalização, dis-
ciplina e orientação administrativa dos cartórios extrajudiciais – sem 
prejuízo das atribuições do Juiz de Direito Diretor do Foro de cada 
Comarca, na condição de Primeiro Corregedor, – realiza, rotineira-
mente, inspeções in loco nas serventias, a fim de que os atos notariais 
e de registro se estabeleçam de forma adequada, célere, eficaz e com 
absoluta segurança jurídica. Com efeito, a desejada excelência dos ser-
viços prestados nas serventias extrajudiciais somente pode ser alcan-
çada pela contínua e incansável qualificação dos delegatários e de seus 
prepostos, com a Corregedoria-Geral da Justiça atuando, no exercício 
de suas atribuições, para a persecução do aprimoramento dos serviços 
extrajudiciais.
Nessa toada, a Corregedoria-Geral da Justiça congratula o Registro 
de Imóveis da 1ª Zona de Porto Alegre pelo 150º aniversário de sua 
instalação, fazendo votos de que, cada vez mais, continue na vanguar-
da do sistema registral de imóveis, com o constante aprimoramento 
da atividade, ampliando a segurança jurídica dos atos que lhe são ine-
rentes, atuando como instrumento determinante na estabilidade das 
relações da sociedade. 
Capítulo 1Capítulo 1
Posse, domínio e 
caminhos
Posse, domínio e 
caminhos
no Rio Grande de São Pedrono Rio Grande de São Pedro
Mescla de mapas do Rio Grande de São Pedro e do Rio Grande do 
Sul e imagem do sino da Redução de São Miguel. Acervo Museu das Missões
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 2120 Do manuscrito ao registro eletrônico
Posse e propriedade
NO RIO GRANDE DE SÃO PEDRO
Miguel Frederico do Espírito Santo1
As maneiras tradicionais de aquisição de território, como as bulas 
pontifícias, para os príncipes cristãos subordinados ao dogma da ple-
nitudo potestatis papal; a aquisição oculis et effectu, sem exploração da 
terra e, por fim, a que se opera através da atribuição de denominação e 
colocação de marco, cruz ou outros sinais exteriores, como o pendão 
real para a Espanha e os padrões para Portugal, que se resumem na 
ocupação nominal, são ultrapassadas pela recepção dos princípios do 
direito natural racionalista, no trânsito do século XVII para o século 
XVIII, na Europa. 
O jurista Hildebrando Accioly predica que, então, torna-se corrente 
a necessidade de uma posse real, efetiva, que obrigava a presença na região 
descoberta, durante um tempo mais ou menos prolongado, com o exercício 
da soberania. Essa posse com efeito apropriatório, que se caracteriza 
por ser mais do que uma mera ocupação, converte-se em uma função 
da prática institucional lusitana de dominação territorial. Essa prática 
motiva o deslocamento de frentes de expansão para o território do 
Rio Grande de São Pedro, em uma época em que a Espanha reivindica 
todo o setentrião platino, que o abrange.
A construção de fortificações e assentamento de guardas, a forma-
ção de núcleos populacionais, a exploração de recursos naturais como 
as arreadas, o estímulo à formação de lavouras e estâncias de criação 
em terras adéspotas ou devolutas, a política de casais, a concessão de 
datas e sesmarias e as ligações entre esses diversos agentes e desses 
com o centro da Colônia através da abertura de caminhos são me-
canismos utilizados por Portugal para assegurar o avanço das frentes 
povoadoras de expansão no exercício da prática institucional da posse 
apropriatória.
As frentes povoadoras de expansão rumo ao Rio Grande do Sul fo-
ram desencadeadas em 1725, como reação à passagem de castelhanos 
por Laguna, em agosto de 1722, conduzindo uma tropa de gado va-
cum e muar, em direção a São Paulo e Minas Gerais. Como providên-
cia inibidora de futuras investidas de espanhóis, o governador de São 
1. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do RS
Paulo, Rodrigo César de Menezes, monta uma expedição, comandada 
por João de Magalhães, para transportar-se de Laguna à campanha do 
Rio Grande, com o fim de estabelecer estâncias e impedir eventual 
ocupação de espanhóis ou índios. João de Magalhães demora-se na 
ilha da Torotama, na Lagoa dos Patos, para ocupar a passagem do ca-
nal junto à sua foz2: é o começo do povoamento lusitano da extrema-
dura sul do Brasil. Dos campos de Viamão à fronteira do Rio Grande, 
os lagunistas, de extração paulista e carijó, se vão fixando, com ânimo 
de permanência, cumprindo, com sua posse, a função apropriatória 
no marco da política lusitana de dominação territorial, gerando efei-
tos no âmbito de incidência tanto do jus publicum europaeum quanto 
do direito português.
Para os povoadores, entre os efeitos irradiados pela posse, está sua 
legitimação pela Fazenda Real, conferida mediante a prova do aprovei-
tamento permanente da área, com lavoura ou ocupada com animais 
ou do estabelecimento de casa para a família, sempre com a definição 
de seus contornos. 
De acordo com a extensão da área, o posseiro pode requerer a con-
cessão de data ou de sesmaria. Data é uma fração de terras de tama-
nho variável, igual ou inferior a um quarto de légua em quadro (272 
ha). Raramente foram outorgadas com medida superior à meia légua, 
concedidas pelo Comandante Militar, via de regra com vistas ao aden-
samento da população. Sesmaria é uma área de terra, também de ta-
manho variável, porém de grandes proporções, concedida pelo Vice-
Rei, objetivando a ocupação territorial e o aproveitamento de recursos 
naturais, mediante a satisfação de alguns requisitos, sendo a norma a 
de uma légua por três léguas (légua é uma medida linear correspon-
dente a 6.600 metros); são, entretanto, encontradas sesmarias de meia 
légua quadrada como superiores a de uma por três3. A confirmação da 
sesmaria depende de provimento do Conselho Ultramarino.
A política de casais é inaugurada, no sul do Brasil, com a transfe-
rência de famílias, em 1737, do Rio de Janeiro para o Presídio do Porto 
do Rio Grande de São Pedro, em sequência à sua fundação oficial e 
consolidada com a vinda dos casais de número dos Açores para Santa 
Catarina e Rio Grande do Sul, notadamente, entre 1748 e 1756.
Em 1733, Cristóvão Pereira de Abreu conclui o caminho que liga os 
Campos de Viamão a São Paulo, cuja abertura foi iniciada em 1727 por 
Francisco de Souza Faria, e grupos de indivíduos e famílias se tornam 
mais compactos e se constituem em núcleos em Rio Grande (1737); 
Santo Antônio da Guarda Velha (1740); Nossa Senhora da Conceição de 
Viamão (1741); Rio Pardo (1751), Porto dos Casais (1772), entre outras 
2. BORGES FORTES, João. Velhos Caminhos do Rio Grande do Sul. In: TERCEIRO 
CONGRESSO DE HISTÓRIA NACIONAL, Anais..., v. V, Rio de Janeiro, IHGB, 1938, p. 22.
3. Maior desenvolvimento em RÜDIGER, Sebalt. Colonização e propriedade de terras no Rio 
Grande do Sul século XVIII. Porto Alegre: IEL, 1965 e CIRNE LIMA, Ruy. Pequena História 
Territorial do Brasil – Sesmaria e Terras Devolutas, 2ª ed. Porto Alegre: Sulina, 1954.
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 2322 Do manuscrito ao registro eletrônico
pequenas condensações populacionais4. Queiroz, por sua vez, regis-
tra, com base no Mapa das fazendas povoadas de gado no Rio Grande 
de São Pedro até 13 de outubro de 1741, a existência de 1.370 éguas nas 
propriedades situadas ao sul do canal do Rio Grande, utilizadas na 
produção de mulas. É o êxito da penetração das frentes de expansão5.
No fomento à exploração de recursos naturais da Colônia, em 
1738, Thomé Gomes Moreira requer licença para estabelecer pescaria 
de baleias no porto da Ilha de Santa Catarina, obtendo parecer favorá-
vel de Silva Paes6.
O parecer estende a repercussão dessas atividades ao porto do Rio 
Grande, que considera abrigo obrigatório de embarcações baleeiras 
face à inconstância dos ventos.
GomesMoreira mantém a concessão da pesca da baleia do litoral 
catarinense por onze anos, de 1742 a 1753. O emprego nas armações 
é uma alternativa para a mão de obra açoriana. Durante o período 
em que vige o assento de exploração da pesca é que tem início e se 
desenvolve a maciça imigração dos casais de número. Moreira figura 
na Ordem do Conselho Ultramarino, de 5 de setembro de 1746, que 
encaminha ao Corregedor das ilhas dos Açores os editais que versam 
sobre o alistamento e transporte dos que pretendem se estabelecer no 
Brasil7 e é signatário do Regimento para o transporte dos casais das 
ilhas, de 5 de agosto de 17478.
Essa presença apropriatória de domínio é amparada pelo direito 
natural racionalista, nos estritos termos colocados por John Locke, 
cuja doutrina da posse prepondera na comunidade internacional.
Não foi por outra razão que Jaime Cortesão observa, em relação aos 
planos de colonização do Rio Grande do Sul pelos casais de número, 
que sendo: “(...) o único direito reconhecido pelos ingleses o uti posside-
tis, tão compaginado com as doutrinas sobre o Direito Natural de Locke, 
mandava a prudência f irmar bem a posse do Rio Grande de São Pedro”9. 
Segundo o autor, a colonização de Santa Catarina e do Rio Grande 
4. SALGADO MARTINS, José. Aspectos do Continente de São Pedro no Século XVIII (IV), in 
Correio do Povo – Caderno de Sábado, Porto Alegre 30 março 1968, p. 16.
5. QUEIROZ, Maria Luiza Bertuline. A Vila do Rio Grande de São Pedro 1737-1822. Rio 
Grande: FURG, 1983, p. 76, 77.
6. SILVA PAES, José apud PIAZZA, Walter Fernando. Santa Catarina: Sua história. 
Florianópolis: UFSC/Lunardelli, 1983, pp. 196; 197: “Que seja conveniente a pescaria na ilha 
me parece indubitável, não só pelo aumento que a fazenda de Vossa Majestade poderá ter daqui 
a oito anos (que é o mais que se lhe deve conceder) como pela comodidade dos habitantes para a 
parte do Sul, donde terão mais barato aquele gênero indispensável para o trato e serviço comum 
das gentes (...)”. “Além dessas circunstâncias não de menos consideração a da sua resposta sobre 
a qual se houverem de aumentar pelo meio daquela fábrica o número de habitadores da Ilha em 
que Vossa Majestade tanto deve cuidar, não só pela conservação daquele Porto tão importante 
aos povos, que f icam ao Sul dele, que são Laguna e Rio Grande, sendo para este indispensável 
escala, no caso de ventos contrários, donde só no dito Porto podem as embarcações que forem para 
ele seguras, esperar monção. 
7. CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri, 1953, doc. LXXXI, p. 446.
8. Idem, ibidem, doc. LXXXII, p. 451.
9. CORTESÃO, Jaime. Op. cit., parte I, t. II, p. 390.
do Sul pelos casais açorianos, paga por D. João V, com o ouro das 
Minas Gerais, representa uma calculada preparação do uti possidetis, a 
ser oferecida como prova de domínio português sobre o território em 
causa, nas negociações do Tratado de Madrid10. 
O uti possidetis11 é um instrumento jurídico de conservação da pos-
se. Embora não tenha força constitutiva, tem eficácia declaratória de 
propriedade. Opera como a sanção adjetiva que segue o preceito esta-
belecido pelo direito natural.
Quando os casais açorianos embarcam para o Sul do Brasil, as cláu-
sulas do Tratado de Madrid estão na mesa de negociações desde 17 de 
janeiro de 1747, e El-Rei, em 17 de julho daquele mesmo ano, emite a 
Ordem Régia que cria a Vila do Rio Grande de São Pedro.
A seguir, Dom João V ordena ao Ouvidor-Geral da Comarca de 
Paranaguá que passe ao Rio Grande de São Pedro e nele crie uma vila 
com dois juízes ordinários, três vereadores, um procurador do con-
selho, um escrivão da Câmara e Almotaçaria e outro de órfão, que 
sirvam, também, de tabeliães do público, judicial e notas, com distri-
buição que lhes pode fazer o juiz ordinário. Determina, ainda, que a 
eleição seja feita logo, com pelouros, para três anos. Na Provisão, Dom 
João V estabelece as raias da nova Vila: dividindo e assinalando o seu 
termo com o da Laguna, pela costa do mar e com o da vila de Curitiba pelo 
Sertão e Serra Cima12, ou seja, a totalidade do território do Continente 
do Rio Grande e dos Campos do Viamão. Sobre este território tem 
jurisdição e competência a nova Vila do Rio Grande. 
O Presídio do Rio Grande é uma Comandância Militar, criada em 
1737 e constituída por duas pequenas povoações distintas, a do Porto, 
com o forte de Jesus-Maria-José e a guarda do Norte, e a do Estreito, 
com a guarda do Porto, do Passo da Mangueira, do Albardão, do Taim 
e do Chuí e o forte de São Miguel13. A guarda do Porto, no Estreito, 
sedia a administração e é incumbida, inclusive, de fiscalizar a passa-
gem, autorizada pelo governo, de potros e mulas para o Norte, desde 
que os responsáveis paguem os direitos reais, assim como cobrar a 
taxa por cabeça de gado vacum que, também, transite para o Norte. As 
povoações jazem, precárias e estagnadas, abandonadas entre as areias. 
No fim dessa década, o presídio não tem mais do que cem vizinhos, a 
maioria soldados e oficiais.
Rüdiger localiza a área, ao sul dos campos de Viamão, que Silva Paes 
apropria à Coroa Portuguesa em 1737 e onde é assentado o Presídio 
do Rio Grande:
10. CORTESÃO, Jaime. Op. cit., parte I, t. I,p. 67.
11. O ‘uti possidetis’ é um instituto de Direito Romano classif icado como interdito. SANTOS, 
Moacir. Das Ações Cominatórias no Direito Brasileiro. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1971, 
p. 69-70,74-75 e 108.
12. LEÃO, Sebastião (Coruja Filho). Datas Rio-Grandenses, intr. e notas de Walter Spalding. 
Porto Alegre: Globo, 1962, p. 182. 
13. AHRS, Anais, p. 100.
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 2524 Do manuscrito ao registro eletrônico
“(...) na parte meridional, a qual extremava nos campos do Curral Alto 
e lagoa de Saquarubu. Daí para cima sucediam-se a guarda do Taim, a 
lagoa de Caiobá, a lagoa e sangradouro de Merim, Torotama, a guarda 
do Arroio, a ilha do Marinheiro. Ultrapassado o canal prosseguia a longa 
esteira da península do Norte, com seus capões e potreiros. Esse foi o terri-
tório empalmado pelos portugueses até 1750, (...).14”
14. RÜDIGER, Sebalt. Colonização e propriedade de terras no Rio Grande do Sul século 
XVIII. Porto Alegre: IEL, 1965, p. 23, 24.
Mapa do 
Rio Grande do Sul em 1750
A instalação da Vila só se dá cerca de quatro anos mais tarde, em 16 
de dezembro de 1751, por motivos até hoje desconhecidos. 
O vilamento da povoação é solicitado pelos povos ou determinado 
pela Corte. A Vila do Rio Grande é uma outorga da Corte.
Razões para erigir Rio Grande em vila sobejam. Há as de ordem 
estratégica, administrativa e econômica, como as de cunho político e 
social.
Na povoação do Porto, estão o controle da entrada e saída de em-
barcações e de mercadorias, a fiscalização da passagem do gado pelo 
canal15, principalmente de mulas, de modo especial para Minas Gerais, 
São Paulo e Rio de Janeiro16, e o controle da extração e tráfico do couro, 
que ficam sob a responsabilidade de um Guarda dos Couros17.
As entradas de açorianos na Vila do Rio Grande concentram-se entre 
1751 e julho de 1752, com 64,3% do total. Entre 1750 e 1754, cerca de 
1300 açorianos aportam na Vila do Rio Grande, em trânsito para as 
Missões.
A Provisão Régia, firmada por Dom João V, ordenando o transporte 
e estabelecimento dos açorianos das Ilhas para a Ilha de Santa Catarina e 
Continente do Rio Grande de São Pedro, de 9 de agosto de 1747, dispõe 
que devem ser fundados lugares para cada grupo de sessenta casais e 
concedido um quarto de légua em quadro (uma data) para cada cabeça 
de casal, em terras não dadas em sesmarias.
Em 1747, o programa de transferência de casais dos Açores para o 
Sul do Brasil já está em plena implementação. 
O vilamento é a concretização daposse efetiva do território e repre-
senta um papel de estabilização, que decorre das funções de controle 
social de sua câmara e de seus oficiais, de sua atuação policial, judiciária 
e notarial18. A Vila pode organizar o terço das ordenanças, instituição 
básica em sua estrutura. Em 1750, são criadas, por provisão de Gomes 
Freire de Andrade, quatro companhias de ordenanças19.
A Vila mais próxima do Presídio do Rio Grande, mas espacialmente 
extremamente distante, é a de Santo Antônio dos Anjos da Laguna, Vila 
desde 171420.
Em 14 de janeiro de 1750, foi celebrado o Tratado de Madrid, e o Rio 
Grande de São Pedro é alargado, da faixa litorânea descrita por Rüdiger, 
até o curso do rio Uruguai.
A celebração do Tratado e sua superveniente execução no sul da 
15. AHRS, Anais v. 1, p. 100-102.
16. BUARQUE DE HOLANDA, Sérgio. A Colônia, p. 361-362.
17. MIRANDA, Márcia Eckert. Continente de São Pedro: Administração Pública no Período 
Colonial. Porto Alegre: Assembleia Legislativa/MPRS, 2000, p. 36.
18. ZENHA, Edmundo. O Município no Brasil [1532-1700]. São Paulo: Progresso Editorial, 
1948, p. 32: Os aglomerados que não conseguiam o predicamento de vila se marasmavam ou se 
dissolviam pelas turbulências desenfreadas.
19. Provisões de Gomes Freire, de 28.02.1750, AHRS, Anais, p. 250 e segs.
20. CABRAL, Oswaldo R. História de Santa Catarina, 2ª ed. Florianópolis: Lunardelli, 1970, p. 45.
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 2726 Do manuscrito ao registro eletrônico
América Meridional mais reforçam a necessidade da instalação da Vila 
no Presídio do Rio Grande de São Pedro. Em 16 de dezembro de 1751, 
o Desembargador Manoel José de Faria, Ouvidor-Geral da Comarca da 
Ilha de Santa Catarina, com jurisdição sobre o Rio Grande, procede à 
medição da Praça da nova Vila, no campo do Moinho de Vento, hoje 
Praça Barão de São José do Norte, e instala o Senado da Câmara. 
Em 13 de agosto de 1760, o Continente do Rio Grande deixa de ser 
uma Comandância Militar e é constituído em Capitania, subordinada 
ao governo do Rio de Janeiro. Em seguida, pela Carta Régia de 9 de 
setembro de 1760, é nomeado governador, pelo tempo de três anos, o 
coronel Inácio Elói de Madureira.
Embora Capitania e com um governador no pleno exercício de suas 
funções, o Senado da Câmara da Vila continua exercendo, de forma 
independente, sua função política de defesa do morador do território 
de sua jurisdição.
Como consequência da Guerra dos Sete Anos, em 2 de novembro 
de 1762, o general espanhol Dom Pedro de Cevallos invade a Colônia 
do Sacramento e, em 19 de abril de 1763, submete a Fortaleza de Santa 
Tereza, onde permanece, enquanto o capitão José de Molina, com qui-
nhentos soldados, marcha sobre a Vila do Rio Grande de São Pedro, na 
qual entra triunfalmente no dia 24 de abril seguinte, sob os vivas dos 
remanescentes da população.
Rio Grande, submetida à discrição dos castelhanos, vê parte con-
siderável de seus moradores transladarem-se para São José do Norte, 
Estreito, Rio Pardo, Laguna e, principalmente, para a freguesia de 
Nossa Senhora da Conceição do Viamão, onde a Câmara, desalojada, 
passa a se reunir. Entre os emigrados da Vila de Rio Grande que se 
mudaram para Viamão, está Inácio Francisco de Mello, que, em 1764, 
adquire de Jerônimo de Ornellas a Sesmaria do Morro de Santana, à 
margem esquerda do Guaíba, com 2,5 léguas.
Jerônimo de Ornellas assenta-se na estância do Morro de Santana, 
no Porto de Viamão, em torno de 1734. Recebe a concessão da sesma-
ria em 1740, carta registrada na Câmara de Laguna. Até 1757, reside 
com a família no local, mudando-se, naquele ano, para a Capela de 
Santana, no vale do rio Caí, freguesia de Triunfo. As razões da mudan-
ça permanecem desconhecidas. Há suposições de que são motivadas 
por desinteligência com invasores de suas terras. Xavier divulga que, 
em 19 de novembro de 1752, sessenta paulistas, alistados por Cristóvão 
Pereira de Abreu e sob o comando do capitão Mateus de Camargo e 
Siqueira, arrancharam-se na estância de Ornellas. “Aqui construíram os 
barcos para reconhecerem o rio com o f im de usá-lo como via navegável no 
caminho das Missões.”21
21. XAVIER, Paulo. Paulistas precursores de Porto Alegre, Correio do Povo, Porto Alegre, 
28 de abril de 1978.
Seu sucessor, Inácio Francisco de Mello, suporta a invasão da estân-
cia pelo grosso dos desterrados de Rio Grande, notadamente de origem 
açoriana. Constrói uma capela consagrada a São Francisco, justificada 
pelo trânsito dos adventícios sobre aquele chão. O crescido número 
de moradores na antiga sesmaria do Morro Santana faz o Governador 
José Custódio de Sá e Faria propor, em 1768, ao Vice-Rei Conde de 
Azambuja a fundação de um povoado. A estância de Inácio Francisco 
é desapropriada em 1771. Alvará de 26 de março de 1772 desmembra 
de Viamão o Porto dos Casais que, na mesma data, é elevado à fregue-
sia com a invocação de São Francisco, o orago do sesmeiro açoriano 
Inácio Francisco de Mello. No mesmo ano, Alexandre José Montanha 
atende a uma determinação governamental e mede sessenta meias da-
tas para os casais que já moram no dito Porto de São Francisco22, de-
marcando o local para o estabelecimento de futura Vila.
Pouco depois, Pastoral de 18 de janeiro de 1773, do bispo D. 
Antônio do Desterro, substitui a invocação de São Francisco do Porto 
dos Casais por Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre. Nesse 
mesmo dia, a Câmara da Vila de São Pedro do Rio Grande é transferida 
de Viamão para a povoação recém-renomeada. 
Reconquistada a fronteira do Rio Grande em 1776, o Vice-Rei Luís 
de Vasconcellos determina que a Câmara, oficiais e justiça permane-
çam na freguesia da Madre de Deus de Porto Alegre23. 
A ideia de que a função apropriatória da posse, da prática institucional 
lusitana de dominação territorial, de raiz racionalista, satisfez os desíg-
nios da corte de Lisboa no plano do direito das gentes, com todo o terri-
tório do Rio Grande de São Pedro sob o abrigo do uti possidetis, é espo-
sada, em julho de 1774, por D. José I, que, em carta secreta ao Marques 
do Lavradio, afirma os direitos de Portugal sobre todos os territórios 
ocupados antes da guerra de 1763, determinando que os recupere24. 
A decisão em favor do Brasil, por arbitramento, em 1895, dos li-
mites com a República Argentina – a Questão de Palmas –, construída 
sobre as razões formuladas pelo Barão do Rio Branco, baseadas no 
reconhecimento do uti possidetis, decorrente da política portuguesa de 
dominação territorial do século XVIII, é corolário de seu vigor secular.
22. FABRÍCIO, José de Araújo. Inácio Francisco de Mello. Revista do Instituto Histórico e 
Geográfico do Rio Grande do Sul n. 121, Porto Alegre: A Nação, 1974,
23. BORGES FORTES, Amyr; WAGNER, João Batista S. História Administrativa, Judiciária e 
Eclesiástica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1963, p. 10.
24. RUDIGER, Sebalt. História Antiga da Fronteira Rio-Grandense – O Rio Grande Português 
(IX) in Correio do Povo, Caderno de Sábado, Porto Alegre, 24 fev. 1968 , p. 16.
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 2928 Do manuscrito ao registro eletrônico
As vias de comunicação
Arq. Günter Weimer1
Quando foram tomadas as iniciativas de anexar o Continente de 
São Pedro aos domínios da Coroa Portuguesa, a questão da comuni-
cação deste território com as áreas já ocupadas pela Colônia se tor-
nou um problema crucial. Em 1680, já havia sido criada a Colônia do 
Santíssimo Sacramento no lado setentrional da desembocadura do Rio 
da Prata, defronte de Buenos Aires. Como parte desta política expan-
sionista, fundou-se a vila de Laguna em 1684, que ocupava o ponto 
mais meridional do território português segundo a interpretação lusa 
do Tratadode Tordesilhas.
Textos de cronistas do século XVII coligidos por Guilhermino Cesar 
demonstram que estas terras já haviam sido percorridas por aventurei-
ros portugueses antes da criação destas comunas. A existência das duas 
praças dependia do abastecimento por via marítima. Como a dispo-
sição de navios nem sempre correspondia às necessidades, foi preciso 
abrir uma rota terrestre que permitisse o trânsito entre São Paulo e 
a Colônia do Sacramento que também contemplasse Laguna. Já em 
1715, o governador-geral Francisco de Távora ordenara ao governador 
de São Paulo, Francisco de Brito Peixoto, a “abrir caminho para o Rio 
Grande de São Pedro e para as campanhas de Buenos Aires”. Presume-
se que este teria sido a rota ao longo das costas arenosas do Rio Grande 
do Sul que apresentavam poucos obstáculos, como desembocaduras de 
rios, apesar dos inconvenientes do deslocamento por sobre imensos 
areais. 
Enquanto o trânsito se resumia em pequenos e eventuais contin-
gentes de pessoas e tropas muares, esta “estrada” atendia às deman-
das então existentes. Porém, quando a Coroa resolveu consolidar seu 
domínio até a margem setentrional do Rio da Prata, este caminho 
não mais contemplava as necessidades que este projeto estava a exigir. 
Diversas iniciativas na procura por rotas pelo interior não apresenta-
ram bons resultados, até que Francisco de Souza e Faria descobrira, em 
1730, uma alternativa conveniente partindo de Sorocaba, “a boca do 
sertão”. Três anos mais tarde, um comerciante, Cristóvão Pereira de 
Abreu, que tinha interesses em Buenos Aires, seguiria por esta rota e 
acabaria por conquistar a fama de ter sido o pioneiro na ocupação da 
Capitania de São Pedro.
1. Vice-Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do RS
Para dar andamento a esta política, o governo português tomava 
uma série de medidas visando consolidar o domínio que viria a ser 
objeto de um tratado entre as duas coroas, o qual seria assinado em 
Madri, em 1750, entre as quais a vinda de colonos dos Açores e a cria-
ção da vila de Rio Grande têm sido as mais citadas. Outra iniciativa 
menos estudada, mas não menos importante, foi a de promover os 
melhoramentos daquele caminho alternativo que estava sendo utili-
zado desde 1730.
Em 1745, o governador de São Paulo encarregou um dos mais ilus-
tres militares disponíveis no Rio de Janeiro, o Capitão José Custódio 
de Sá e Faria2, de “abrir” esta estrada. Esta tarefa consistia em fazer um 
cuidadoso levantamento da região com o fim de encontrar a rota mais 
conveniente, traçar um mapa e tornar mais transitáveis os trechos 
mais difíceis. Esta tarefa consumiu o trabalho de aproximadamente 
um ano inteiro. Este empreendimento foi tão bem feito que, duran-
te quase dois séculos, se constituiu como a rota mais utilizada pelas 
tropas de mulas que faria o comércio entre as duas capitanias. Em 
sua longa extensão, a única passagem difícil era o do Rio Pelotas, na 
divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, menos pelo caudal 
das águas e mais pelas encostas escarpadas. Esta passagem recebeu o 
expressivo nome de Passo do Socorro. Somente em 1935 foi constru-
ída a primeira ponte sobre o Pelotas, que viria a ser substituída pela 
definitiva, de concreto armado, entre 1958 e 1962.
A importância desta obra pode ser comparada às estradas reais que 
ligavam Ouro Preto a Parati (rota do ouro) e Diamantina a Juazeiro, 
no sertão de Pernambuco. Enquanto estas eram pavimentadas, a do 
Sul servia para o transporte de tropas de mulas e de gado, em razão do 
que ela divergia daquelas por apresentar, em lugar da pavimentação, 
muros de pedra (impropriamente denominados “de taipa”) em seus 
costados para evitar a dispersão do gado. Estas três obras foram de 
fundamental importância para a consolidação da unidade nacional, e 
ainda não receberam a valorização merecedora de obras notáveis da 
engenharia colonial.
O “caminho das tropas” ou “do mato português”, como se tornou 
conhecida a rota do Sul, foi o incubador de inúmeros povoados, como 
São Francisco de Paula, Vacaria, Lages, São Cristóvão, Papanduva, Lapa, 
Curitiba, Castro, Jaguatialva, Itapeva, Itapetininga, além de grande 
motor no desenvolvimento de Sorocaba, que servia de entreposto co-
mercial da redistribuição das mercadorias. Só isso demonstra que a 
2. Além de estrategista militar, foi topógrafo, explorador, urbanista e, acertadamente, deve 
ser considerado um dos mais notáveis arquitetos do período colonial com vasta obra mili-
tar no Rio de Janeiro e em Florianópolis. Além de ter concebido um número invejável de 
igrejas pelo Brasil e na região do Rio da Prata, teve participação nos projetos das matrizes 
de Montevidéu e Buenos Aires, havendo até mesmo quem lhe atribua a autoria (discutível) 
da catedral de Assunção do Paraguai. Foi o segundo governador do Rio Grande do Sul, o 
arquiteto das igrejas de Viamão e de Taquari, cidade da qual também fez o primeiro plano 
urbanístico.
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 3130 Do manuscrito ao registro eletrônico
abertura das vias não se resumiu apenas aos interesses desenvolvi-
mentistas do Rio Grande do Sul, mas tornou-se de grande relevância 
para a ocupação do sul de São Paulo, do interior do Paraná e de Santa 
Catarina.
Outra iniciativa de conteúdo estratégico foi a complementação des-
ta via com a abertura do “caminho do mato castelhano”, que ligaria 
São Borja a Vacaria, passando pelo divisor de águas entre a bacia do 
Pelotas/Uruguai e o Jacuí. Nesta rota, também surgiram vilas impor-
tantes na consolidação do domínio “dos campos de cima da serra”, 
como Cruz Alta, Carazinho, Passo Fundo, Lagoa Vermelha, dentre 
outras.
Na metade sul da Capitania, a questão das vias de comunicação se-
ria menos problemática devido à existência de uma ampla rede de rios 
interligada com lagos e lagunas. Seu ponto nevrálgico era o domínio 
da única via de acesso a esta rede, que era a barra de Rio Grande e que 
foi objeto de disputas entre as duas coroas. A tomada de Florianópolis 
e Rio Grande, em 1763, pelos castelhanos trouxe grandes problemas 
à administração portuguesa do território. Mas a reconquista de Rio 
Grande, 13 anos mais tarde, atenuou estas contrariedades.
Na direção norte, o transporte era feito através da Laguna dos Patos 
e, a partir de Porto Alegre, pelos rios que desaguavam no Guaíba. Pelo 
lado meridional, ele era feito através do canal de São Gonçalo e da 
Lagoa Mirim, que levava até os campos hoje pertencentes ao Uruguai. 
Mais problemático era o transporte no sentido leste-oeste. Na região, 
não havia rios navegáveis, e o terreno, embora fosse constituído por 
uma planície com leves ondulações, não oferecia obstáculos ao comér-
cio porque o empreendimento econômico era a criação de gado e este 
“se transportava a si próprio”. De início, o deslocamento das tropas de 
gado se realizava através dos campos abertos, sem que houvesse uma 
demarcação exata de estradas. Estas foram se consolidando pelo uso.
A existência de uma bem distribuída rede fluvial e lacustre não 
era isenta de problemas. Como a metade setentrional estava coberta 
de florestas, acontecia seguidamente que os rios ficavam obstruídos 
por troncos e galhos. Então, havia a necessidade de contratar quem se 
encarregasse de desembaraçar este emaranhado de madeiras para abrir 
a via para os lanchões movidos a remo. Daí se percebe a importância 
que adquiriu a “indústria naval”, entendido como estaleiros artesanais 
de construção de navios. Sua relevância foi um dos fatores principais 
que levou à fundação de Porto Alegre, onde chegaram a ser constru-
ídos até mesmo navios transatlânticos na segunda metade do século 
XVIII.
Nestas condições, a abertura de estradas foi delegada a um pla-no secundário. Quando muito, eram abertas precárias estradas que 
levavam até os portos dos povoados ribeirinhos. Como a via a ser 
seguida para São Paulo começava em Santo Antônio da Patrulha, é 
certo que os diversos povoados que estavam surgindo nos campos “do 
Taramandaí” tinham alguma ligação terrestre com este entreposto. 
Com a transferência da capital para Viamão, certamente, havia um ca-
minho que ligava as duas povoações. Quando se optou por estabelecer 
a capital em Porto Alegre, o governador fez o Capitão Alexandre José 
Montanha abrir um caminho – dito do Mato Grosso (hoje Avenida 
Bento Gonçalves) – entre os dois assentamentos. Com a transferência 
Mapa do Rio Grande do Sul 
em 1777
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 3332 Do manuscrito ao registro eletrônico
dos indígenas das Missões para a Aldeia dos Anjos (Gravataí), surgiu o 
“Caminho da Floresta”. Quando a ponte de madeira construída sobre 
o Riacho na Estrada do Mato Grosso desmoronou, abriu-se um novo 
caminho a Viamão, dito “Caminho do Meio” (via Osvaldo Aranha 
e Protásio Alves). Com a criação da Colônia Alemã de São Leopoldo, 
uma via terrestre complementava a rota fluvial. Esta foi uma extensão 
do assim chamado “Caminho Novo” que se ia ao longo da praia do 
Guaíba e levava ao arraial dos Navegantes.
A exemplo de Porto Alegre, iam surgindo outros caminhos seme-
lhantes nos povoados e vilas do interior, dentre os quais um dos mais 
importantes foi o que ligava Rio Grande a (São Francisco de Paula das) 
Pelotas, passando por Povo Novo.
Embora houvesse um grande esforço da administração colonial em 
trazer novos habitantes, o que tinha por consequência a necessidade 
de ampliar esta rede viária, a conjuntura política não favoreceu este 
desenvolvimento. A proclamação da Independência exigiu uma total 
reestruturação administrativa do país e da província. O retorno da eli-
te militar para Portugal deixou vagos importantes postos administra-
tivos, o que contribuiu para a progressiva conturbação da ordem in-
terna da Província. Com o abandono das tropas portuguesas da Praça 
de Montevidéu e a invasão dos argentinos na Província Cisplatina, 
houve uma considerável migração para a região sul da Província de 
elementos marginais e criminosos. Segundo o relatório do presidente 
provincial de 1830, a situação interna já havia se tornado insustentá-
vel: “os roubos e assassinatos continuam a ser frequentes, sem que 
todas as providências compatíveis com as minhas atribuições tenham 
podido obter o resultado esperado... As autoridades são ludibriadas e 
sem respeito, sendo desprezados os seus mandados até por homens 
criminosos que continuamente vagam armados pelas vias desta vila 
(de Santo Antônio da Patrulha) e povoações de seu termo, atacando 
seus moradores. De todas as partes (da Província) os clamores são 
mais ou menos incluídos nestas expressões...”
O período farroupilha, dentro da literatura regionalista, vem sendo 
descrito como uma época de feitos heroicos, em que se teria forjado 
um espírito próprio e altaneiro dos rio-grandenses. Diante da reali-
dade dos feitos durante os conflitos, fica evidente que isso não passa 
de ficção. Sob o ponto de vista de cultura material, foi uma década de 
destruição, de depredações e de vandalismos. Conforme os relatórios 
presidenciais, antes mesmo do início oficial das operações militares, 
todas as igrejas da Província já teriam sido saqueadas, muitas prisões 
destruídas e os quartéis não passariam de “espeluncas”.
O último relatório presidencial anterior à Guerra dos Farrapos foi 
assinado em abril de 1835. Nele, o governador Antônio Rodrigues 
Fernandes Braga dedicou um capítulo inteiro à questão das estradas e 
pontes. Seu relato atesta que as estradas só eram transitáveis no verão, 
já que no inverno eram obstruídas por “rios, torrentes e sangas”. Neste 
relatório, se evidencia que a administração provincial já havia desen-
volvido um plano estratégico de abertura de estradas com as respec-
tivas pontes. Dela, faziam parte a conclusão das estradas a Piratini 
e Alegrete e a necessidade da construção de uma ponte sobre o Rio 
Jacuí, a fim de proporcionar uma comunicação entre a Campanha 
com os Campos de Cima da Serra. Nessa época, foi concebida a aber-
tura de uma estrada que ligaria Cachoeira à capital, em paralelo ao Rio 
Jacuí. Para tanto, foram edificadas algumas pontes que se constituem 
em admiráveis realizações de engenharia para a sua época. Por razões 
desconhecidas, este projeto foi abandonado, restando em seu total 
abandono estas pontes – especialmente as do Couto e do Botucaraí –, 
as quais deveriam receber a proteção estatal. Isso também vale para os 
pilares da ponte sobre o Rio Jacuí, já que o estrado de madeira apodre-
ceu e nunca mais foi reconstituído.
De acordo com o mesmo relatório, já haviam sido iniciadas as obras 
de três estradas para cima da serra. A de São Leopoldo para Taquara do 
Mundo Novo e São Francisco de Paula “pouco andamento tem tido”. 
A deduzir das iniciativas tomadas depois da guerra, as outras duas se-
riam as de Rio Pardo a Soledade e a de Santa Maria a Cruz Alta. Estas, 
no entanto, só seriam iniciadas depois do fim das operações militares. 
No mesmo relatório consta que as estradas do Mato Português e Mato 
Castelhano foram dadas por concluídas, porém “não satisfaz(em) o 
fim a que se destina(m) por que não tendo as árvores sido bem cor-
tadas bem junto ao terreno, ficaram grandes toras que impedem o 
trânsito de carretas”.
De tudo isso se deduz que a Guerra dos Farrapos começou bem 
antes da tomada de Porto Alegre e, quando do encerramento das hos-
tilidades, a Província estava em larga escala arrasada. As necessidades 
mais urgentes eram o restabelecimento da autoridade e a repressão 
aos delinquentes. Em termos arquitetônicos, isso queria dizer restau-
rar quando for possível e reconstruir as igrejas, as cadeias e demais 
prédios governamentais. Atenção especial também passou a ser dada 
à construção de câmaras municipais, nas quais também era exercido 
o poder judiciário.
Devido à anarquia reinante na Província no fim do Primeiro Império 
e período regencial, a administração governamental tem sido taxada 
de pouco eficiente ou até relapsa, quando não covarde, como tem sido 
qualificada a fuga do governador Fernandes Braga para Rio Grande 
quando os farrapos tomaram Porto Alegre. No entanto, deve ser pon-
derado que, neste período, foi elaborada uma consistente política de 
ocupação territorial que viria a ser implementada a partir de 1850, a 
qual iniciaria um decênio e meio de um grande desenvolvimento so-
cial e econômico vivido pela nação. Esta foi uma época de profundas 
transformações sociais com a proibição do comércio negreiro e com o 
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 3534 Do manuscrito ao registro eletrônico
fim desse contrabando a partir de 1858. Isso foi duplamente benéfico 
para a economia nacional, já que passou a evitar que capitais fossem 
investidos em mão de obra recente e, com a valorização dos escra-
vos, estes passaram a receber maiores cuidados, do que resultou uma 
maior especialização e, consequentemente, uma maior produtividade.
No primeiro quinquênio do pós-guerra, os maiores investimentos 
em termos de comunicações foram feitos nos projetos de colonização. 
A retomada do fluxo imigrantista levou à abertura de estradas coloniais 
a partir de São Leopoldo, como as que levariam a Taquara e a Feliz 
juntamente com picadas conexas, onde passaram a ser assentados os 
novos colonos. O projeto da estrada de Rio Pardo para cima da serra 
recebeu forte incremento com a abertura do trecho até a Colônia de 
Santa Cruz.
A década de 1850 foi a de maior desenvolvimento do períodoim-
perial. O afluxo de gente originária de todas as províncias “velhas” 
do país, juntamente com a vinda de sucessivas levas de imigrantes 
alemães, imprimira uma nova dinâmica na economia, a qual se re-
fletiu em todos os setores da vida pública. A desobstrução dos rios 
e a construção de portos propiciaram um considerável incremento 
à navegação. Estradas que levavam a estes portos foram abertas em 
grande número. Áreas destituídas de vias navegáveis foram premiadas 
com a abertura de estradas e construção de pontes. Dentre as mais 
importantes, podem ser citadas as ligações de Cachoeira a Santa Maria 
e de lá para Cruz Alta e para São Borja; de Rio Pardo a Soledade (via 
Santa Cruz); de São Leopoldo a Taquara; de Pelotas a Bagé; de Pelotas a 
Canguçu; de Portão a Feliz com extensão a Nova Petrópolis, de Sarandi 
a Nonoai. Além destas, foram feitos consertos e melhoramentos nas 
estradas já existentes.
A prosperidade econômica da Província também ensejou um con-
siderável investimento no melhoramento das vilas e cidades e na orga-
nização administrativa. Um dos mais importantes melhoramentos na 
Capital foi o do “nivelamento” de suas ruas a partir de 1858. Por este 
termo era entendida a implementação dos alinhamentos das ruas, de 
suas planificações e calçamentos. Com a valorização da terra, come-
çaram a surgir contendas por toda a Província e cidades em torno dos 
limites entre as propriedades. Este, certamente, foi o motivo principal 
pelo qual foram criados os registros dos imóveis com o objetivo de 
demarcar exatamente as divisas dos lotes em associação com os nomes 
dos proprietários e dos lindeiros.
Este estado de bem-aventurança começou a arrefecer no início da 
década seguinte. Paulatinamente, as obras de todo o tipo passaram a 
ser paralisadas a favor das de caráter militar. Surgiram, então, críticas 
sobre os investimentos nas colônias alemãs e contra os engenheiros 
e arquitetos da mesma nacionalidade. Estes foram demitidos de seus 
cargos no governo provincial, e os oficiais mercenários contratados 
para lutar contra Rosas foram chamados para o Rio de Janeiro. Em 
1864, irrompeu uma grave crise bancária no país em meio a uma 
guerra contra Aguirre, no Uruguai. E a situação se torna ainda mais 
tensa quando o Paraguai declarou guerra ao Brasil e invadiu o Mato 
Grosso e o Rio Grande do Sul. Enquanto isso, a chancelaria inglesa 
investia todos os esforços em costurar uma improvável e contraditória 
Tríplice Aliança entre três países em guerra ou mal saídos dela.
Nesta conjuntura é curioso que a criação deste serviço notarial em 
Porto Alegre aconteceu em um momento histórico pouco propício, 
ou seja, em 1865, quando a guerra já estava em andamento e as forças 
vivas estavam sendo mobilizadas em defesa da Nação.
Os altos investimentos na guerra associados à desfavorável crise 
econômica interna do país obrigaram os dirigentes a repensar as estra-
tégias governamentais e de defesa do território, que levou à percepção 
que as velhas estradas carroçáveis não mais atendiam às necessidades 
do momento. A partir de então, as estradas de ferro passaram a ser 
priorizadas, e a construção das estradas de terra começou a ser feita 
pelo processo Mac Adam (ou macadamizada, na linguagem local).
Na perspectiva histórica, percebe-se que a construção destas vias 
de comunicação seguia um rigoroso planejamento estratégico, de ca-
ráter militar, visando à efetiva ocupação do território. As origens mais 
remotas desta concepção de domínio territorial foram, certamente, 
herdadas das normas de ocupação do Império Romano, as quais tra-
tavam, imediatamente depois da conquista de um país, de abrir vias 
ortogonais em cujos cruzamentos eram estabelecidos os postos de ar-
recadação de impostos. Ainda que o traçado das estradas entre nós não 
tenha tido por base o rigor geométrico das “vias romanas”, o pragma-
tismo destas realizações seguiu o mesmo princípio de um sistema de 
estradas ortogonais nos sentidos norte-sul e leste-oeste. Não é, pois, de 
admirar que fossem engenheiros militares que estavam à testa destes 
empreendimentos.
Esta ocupação territorial, no entanto, não aconteceu isenta de atri-
tos e contradições. A chegada dos imigrantes alemães e seu alojamento 
na Real Fazenda do Linho Cânhamo (vulgarmente chamada de ma-
conha) foram conturbados pela falta de um agrimensor habilitado a 
abrir picadas na mata e fixar os limites dos lotes. Quando esta tarefa 
foi realizada após longa espera, surgiram problemas de ocupação de 
difícil solução.
Os assentamentos alemães em suas regiões de origem eram em 
forma de aldeias, dentro do possível, autossuficientes. Cada aldeia era 
formada por cerca de trinta famílias, que dispunham de uma área 
aproximada de cento e cinquenta hectares na forma de propriedade 
comunal. Desta área, em torno de um quarto era ocupado por matas 
que forneciam lenha para o aquecimento de suas casas e seus estábulos 
durante o longo inverno. O resto do terreno era ocupado pela aldeia 
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 3736 Do manuscrito ao registro eletrônico
propriamente dita, além das terras destinadas à agricultura e à criação 
do gado. Estas eram divididas em três parcelas, das quais uma servia 
à cultura “de verão”, outra, à “de inverno” e a terceira era deixada 
em pousio e para o pastoreio do gado. Para evitar o esgotamento das 
terras, era praticado o rodízio destas culturas. Isso significa que cada 
família dispunha de uma porção de terra em cada parcela. Estas terras 
eram redistribuídas de tempos em tempos em conformidade com o 
número de membros de cada família. Como as terras eram escassas, 
as diversas atividades artesanais eram divididas entre as famílias, de 
modo que cada aldeia pudesse manter a sua autonomia.
Desta forma, o território era ocupado por um sem-número de 
pequenos povoados, mais ou menos equidistantes entre si e ligados 
por vielas que respeitavam a divisão dos lotes, a topografia e a geo-
grafia. Em termos concretos, isso significa que este traçado era muito 
irregular.
Este sistema se originou em tempos pré-históricos e entrou em co-
lapso com o início da industrialização da região, especialmente quando 
as matas foram expropriadas para alimentar as fornalhas de fundição do 
ferro. Diante disso, os colonos foram forçados a trabalhar por salários 
miseráveis nas fábricas de cidades próximas ou a emigrar.
Quando se fala de imigrantes alemães no Brasil, os mesmos são asso-
ciados com o colonato, mas uma parte substancial se estabeleceu como 
artesãos nos povoados e em vilas locais. Estes rapidamente se integra-
ram na sociedade nacional e perderam as suas raízes culturais.
Os agricultores, no entanto, almejavam reconstituir as suas aldeias 
de origem. Isso foi muito difícil devido ao sistema de propriedade pri-
vada do solo aqui vigente. Como cada família passou a morar em sua 
propriedade, tornou-se impossível a reconstituição da aldeia ancestral. 
O fato de morar em sua propriedade de “onde nenhum senhor feudal 
os podia expulsar” foi festejado em prosa e verso. Para manter vivos os 
laços aldeãos ancestrais, a distribuição dos lotes de um determinado 
trecho da picada entre colonos obedeceu a critérios do domínio dos 
variados artesanatos que eram exercidos em paralelo à agricultura.
Este modo de organização social levou a uma revisão do traçado das 
estradas, em primeiro lugar, de modo a marcar o início e o fim de 
uma determinada “aldeia”. Em vez de passar por cima de uma eleva-
ção, procurava-se contorná-la. Quando um colono resolvia transformar 
sua residência em “venda” (casa de negócios), desviava a estrada para a 
proximidade de seu estabelecimento. Na passagem de uma sanga, era 
frequente que a estrada fosse desviadapara um lugar mais propício.
Estas alterações, naturalmente, não eram vistas com bons olhos pelas 
autoridades nacionais e resultaram em muitos atritos. De modo geral, 
pode-se dizer que o traçado retilíneo prevaleceu nas proximidades em 
que estavam estabelecidas as autoridades nacionais e se tornavam tanto 
menos rígidas quanto mais afastadas elas se encontravam.
Entre os imigrantes italianos, estes conceitos eram mais variados. 
Estes eram majoritariamente originários do norte do país, onde ha-
viam se estabelecido povos de diversas origens, o que se reflete ainda 
hoje na variedade dos modos de organização da paisagem e nas varie-
dades das línguas faladas e de seus dialetos. Nas planícies – especial-
mente na veneziana –, ainda imperava o rígido traçado herdado dos 
romanos, com estradas perfeitamente paralelas e ortogonais entre si, 
com uma meticulosa divisão geométrica dos lotes. Nas encostas dos 
Alpes, este traçado era inviável em decorrência das imposições geo-
gráficas. Nos altos da montanha, aprazíveis vales eram delimitados 
por encostas íngremes, onde se implantaram habitações dispersas.
Devido a esta variedade de origens, os assentamentos italianos no 
Rio Grande do Sul foram mais influenciados pelo regime de proprie-
dade privada, em consonância com a acidentada geografia das terras 
que lhes foram destinadas. As regras seguidas na ocupação do territó-
rio foram bem mais variadas, em que o marco identificador da cada 
comunidade, via de regra, era uma capela com construções comuni-
tárias conexas. A origem latina de boa parte destes imigrantes e sua 
filiação ao culto católico romano facilitaram sua aproximação com as 
autoridades nacionais.
Capítulo 2
Evolução Urbana 
de Porto Alegre
Evolução Urbana 
de Porto Alegre
Capítulo 2
Praça da matriz, antigo Auditório Araújo Vianna (onde hoje se ergue a Assembleia Legislativa) 
e a cúpula da Catedral Metropolitana em construção, por volta de 1960. Acervo Assembleia Legislativa
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 4140 Do manuscrito ao registro eletrônico
A relação do Município 
de Porto Alegre 
COM OS CARTÓRIOS DE REGISTROS DE IMÓVEIS
José Fortunati1
O registro, o controle e a fiscalização das relações interpessoais e das ga-
rantias constitucionais são instrumentos essenciais do Estado Democrático 
de Direito. No Brasil, esse papel coube aos cartórios de Registros de 
Imóveis, fiéis escudeiros e guardiões da história social e registral brasilei-
ra, onde são arquivados, ao longo dos anos, todos os atos e títulos transla-
tivos de propriedade dos entes públicos e privados. 
Ao analisarmos a história e a evolução das relações entre os municípios 
e os registros imobiliários, percebemos a necessidade umbilical que os 
serviços prestados por ambos estejam não só à disposição e ao alcance do 
cidadão de maneira simples e acessível, mas também em sintonia, para 
um melhor e mais qualificado aproveitamento por parte da população. 
O Município de Porto Alegre, atualmente subdividido em seis zonas 
registrais, não pode se furtar de festejar, neste ano de 2015, os cento e cin-
quenta anos de existência do Registro de Imóveis da 1ª Zona. Relevantes 
e notórios são os serviços prestados por esta instituição. O cartório não só 
é cronologicamente pioneiro na cidade de Porto Alegre, como também 
aquele que vem demonstrando, nos últimos anos, aprimoramento e mo-
dernização constante dos seus serviços em benefício da população. Temos 
um salto de qualidade e agilidade, por exemplo, no fornecimento das 
chamadas matrículas on-line, dos sistemas de intercâmbio informatizado 
direto com o Município, entre outros processos. 
Os serviços prestados pelo Registro de Imóveis da 1ª Zona de Porto 
Alegre estão de acordo com a capital moderna e constantemente voltados 
às políticas públicas sociais e econômicas. São essas características que 
qualificam Porto Alegre como uma das melhores cidades para se viver, 
com altos índices de alfabetização e desenvolvimento humano, habitacio-
nal, baixos índices de desemprego e reconhecida capacidade produtiva, 
seja no setor primário, seja na indústria e no comércio. A Capital gaúcha 
está em constante busca pelo desenvolvimento urbano, é fomentadora do 
empreendedorismo, e sempre preocupada com a manutenção e preserva-
ção de sua história.
Para tanto, seja qual for a investida do setor público na realização e no 
desenvolvimento de empreendimentos próprios ou em parceria com o 
1. Prefeito de Porto Alegre.
setor privado, sempre necessitará manter estreita a relação com os registros 
imobiliários, notadamente os da 1ª Zona, onde tudo nasceu do ponto de 
vista registral e onde se pode perpetuar a memória da cidade, das ruas, dos 
bairros, das praças e dos parques. 
Ao fim e ao cabo, uma cidade com essas características e com essa ri-
queza de informações e de patrimônio não pode prescindir de um sistema 
registral imobiliário sólido, seguro e, ao mesmo tempo, moderno, dinâmi-
co e de vanguarda. Afinal, mais do que uma questão de segurança jurídica 
aos cidadãos, todo o trabalho de preservação da história e modernização e 
crescimento urbano das cidades será, necessariamente, destinado e levado 
ao registro imobiliário. 
Escrituras públicas, contratos particulares, pactos antenupciais, compra 
e vendas, doações, permutas, hipotecas, parcelamento do solo, incorpora-
ções, condomínios edilícios, enfim, são inúmeros os negócios jurídicos e 
situações passíveis de submissão ao registrador imobiliário, para que ele 
dê a devida publicidade aos atos e às obrigações, com efeitos e segurança 
jurídica a toda uma coletividade. 
Mais do que isso, esses negócios jurídicos movimentam a economia, 
a sociedade, geram arrecadação de receitas aos municípios e alavancam o 
crescimento e desenvolvimento urbanístico das cidades. 
Especial referência à atuação do Registro de Imóveis da 1ª Zona na cons-
trução da concretização do direito à moradia digna e à regularização fundi-
ária. A Lei Federal nº 10.257, de 2001, conhecida como Estatuto da Cidade, 
trouxe novos instrumentos de regularização da propriedade, atrelada ao 
cumprimento da sua função social (conforme o artigo 5º, XXIII e XXIV e 
artigo 182 da Constituição Federal) e de proteção à posse, que demandam 
um olhar diferenciado. A multidimensionalidade no trato da regularização 
fundiária passa por esse viés que une ainda mais o Município, o Poder 
Judiciário e os registradores, na medida em que esse processo exige atua-
ção não apenas para questão social e econômica, mas também jurídica e, 
especialmente, registral. 
Por assim dizer, é uma honra para o Município de Porto Alegre fazer 
parte desses cento e cinquenta anos de história do Cartório de Registro de 
Imóveis da 1ª Zona. Queremos que essa parceria se torne cada vez mais 
evidente e estreita, e a cidade cada vez mais moderna e desenvolvida, mas 
com seu acervo histórico e memória incólumes e preservados às gerações 
futuras.
150 anos do Registro de Imóveis de Porto Alegre 4342 Do manuscrito ao registro eletrônico
Evolução Urbana 
de Porto Alegre
Sérgio da Costa Franco1
A capital do Rio Grande do Sul apresenta a singularidade de ter, na rea-
lidade, duas sucessivas fundações, distanciadas por vinte anos.
Em 1752, preparando a logística da ocupação das Missões Jesuíticas, 
funda-se, sem nenhuma pretensão, um povoado de casais açorianos, mar-
cado pela transitoriedade, com o objetivo de serem deslocados para muito 
longe, quando se efetivasse o domínio português no noroeste, na região 
a ser evacuada pelos espanhóis em obediência ao controvertido Tratado 
de Madrid (1750). Dessa fundação precária resultou apenas um povoado 
inexpressivo, chamado Porto de Viamão a princípio, e depois, Porto dos

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