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Relatório de Saída de Campo Porto Alegre

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1 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL – UFRGS 
Instituto de Geociências 
Departamento de Geodésia 
Geografia Urbana I 
 
 
 
 
 
 
 
A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE PORTO ALEGRE 
RELATÓRIO DE SAÍDA DE CAMPO 
 
 
Orientadora: 
Profª Drª.Tânia Marques Strohaecker 
 
 
 
 
 
 
Luis Gambetti de Castro 
Mariana Just Blanco 
Sônia Maria Sandri 
2015 
2 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 Introdução .................................................................................................................. 3 
2 Objetivos .................................................................................................................... 3 
3 Metodologia ............................................................................................................... 3 
4 Área de Estudo .......................................................................................................... 4 
5 A origem e organização do espaço urbano de Porto Alegre ...................................... 4 
6 Roteiro da Saída de Campo ....................................................................................... 8 
 6.1 Centro Histórico .................................................................................................. 8 
 6.2 Bairros Floresta, São Geraldo, Navegantes, Humaitá e Farrapos (4º Distrito, Av. 
Voluntários da Pátria) ................................................................................................. 14 
 6.2.1 Voluntários da Pátria ................................................................................... 15 
 6.2.2 Programa Integrado Entrada da Cidade (PIEC) .......................................... 18 
 6.2.3 Parque Marechal Mascarenhas de Moraes ................................................. 20 
 6.3 Bairro Cidade Baixa (Cidade Radiocêntrica) ..................................................... 22 
 6.3.1 – Travessa dos Venezianos ........................................................................ 23 
 6.3.2 – Rua Lopo Gonçalves ................................................................................ 25 
 6.3.3. Museu José Joaquim Felizardo (antigo Solar Lopo Gonçalves) ................. 25 
 6.4 Zona Sul ........................................................................................................... 27 
 6.4.1 Bairro Cristal (Cidade da Transição) ........................................................... 28 
 6.4.2 A Cidade Jardim.......................................................................................... 31 
 6.4.3 A Cidade Rururbana ................................................................................... 33 
 6.4.4 A Cidade da Transição ................................................................................ 35 
7 Considerações Finais .............................................................................................. 37 
Referências ................................................................................................................ 38 
 
 
3 
 
1 Introdução 
 
Por meio da Geografia Urbana podemos ter o entendimento da origem e evolução 
das cidades. Elas são uma criação humana, produto histórico-geográfico em constante 
dinamismo, espaço sempre em construção, fontes de inesgotáveis reflexões, debates, 
imagens, ideias. 
Segundo Santos (1985), “o espaço constitui uma realidade objetiva; por isso a 
sociedade não pode operar fora dele. Consequentemente, para estudar o espaço, 
cumpre apreender sua relação com a sociedade, pois esta que dita a compreensão 
dos efeitos dos processos (tempo e mudança) e especifica as noções de forma, 
função, estrutura, elementos fundamentais para a compreensão da produção do 
espaço”. 
Assim, a partir do estudo das formas urbanas é possível considerar um conjunto de 
elementos que deem conta de captar a complexidade do espaço urbano. É neste 
contexto que as observações realizadas na saída de campo em conjunto com o 
aprendizado teórico irão produzir às condições necessárias para compreender as 
mudanças e transformações ocorridas na cidade de Porto Alegre. 
 
2 Objetivos 
 
O objetivo deste trabalho de campo é associar os ensinamentos teóricos 
trabalhados em sala de aula com a realidade urbana. Buscaremos o entendimento da 
dinâmica intraurbana através de sua organização e da produção do espaço urbano por 
diferentes agentes sociais, bem como, do planejamento e controle desse espaço pelos 
gestores públicos, que será narrado a partir da visitação às áreas da cidade (bairros, 
conjuntos urbanísticos, equipamentos públicos, vias arteriais), dos projetos em 
andamento tanto do setor público quanto do setor privado, validando assim a prática 
da valorização diferenciada do espaço urbano. 
 
3 Metodologia 
 
A metodologia empregada integrou duas etapas: na primeira, o aprofundamento 
das discussões teóricas, através de consulta bibliográfica em livros e sites. Na 
segunda, a prática com saída a campo, onde se observou in loco as diferentes 
estruturas e composições dos bairros de Porto Alegre, que foram documentadas 
através de fotos e por mapas adaptados do site (GOOGLE), em que marcamos os 
pontos visitados. 
4 
 
 
4 Área de Estudo 
 
A área de estudo compreende o município de Porto Alegre, localizado no Estado do 
Rio Grande do Sul. Possui uma área total de 496,682 km2 e área urbana de 160,7 km2 
com uma população estimada em 1.409.351 habitantes (IBGE, 2010). 
 
Mapa 1 – Localização do Município de Porto Alegre em relação ao Rio Grande do Sul (Fonte: Base Cartográfica do 
IBGE <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/turismo/article/view/25253/17719>) 
 
 
5 A origem e organização do espaço urbano de Porto Alegre 
 
As cidades surgem, crescem e se desenvolvem a partir de seus centros, onde está 
sua parte mais antiga. A arquitetura induz, através de materiais, técnicas e formas 
construtivas, a função, o uso e o valor do espaço, constituindo assim o suporte pelo 
qual a cidade se constrói como meio comunicativo, possibilitando sociabilidades e 
interações em constantes transformações. 
Os processos sociais produzem formas urbanas, pela ação dos agentes produtores 
do espaço. Mas, estes processos não se dão sobre um espaço liso, e sim sobre um 
espaço já construído, produzindo transformações, reforçando tendências, enfim, 
provocando a dinâmica do espaço urbano que, portanto, não pode ser entendido como 
estático. 
É por isso que se fala em processos espaciais, para dar conta de entender a força 
que as formas urbanas já construídas exercem sobre os novos investimentos dos 
agentes produtores. Estamos no campo da dialética entre espaço e tempo. O espaço, 
5 
 
aliás, pode ser entendido como a acumulação de tempos, segundo Milton Santos. A 
acumulação do tempo histórico nos permite entender a atual organização espacial. 
A origem do centro urbano de Porto Alegre confunde-se com a própria origem da 
cidade. Isso porque foi exatamente neste sítio, habitado por indígenas de diversas 
raças como Charruas, Tapes e Guaicanãs, até 1700, que se originou o processo de 
colonização. Com o avanço paulista em direção ao Sul, a fundação de Lages em 
1684, Viamão em 1730 e da Colônia do Sacramento, abre-se o caminho ao comércio 
e ao surgimento das cidades. A promoção do desenvolvimento do Município de Porto 
Alegre tem na Lei Orgânica o princípio ao cumprimento das funções sociais da cidade 
e da propriedade urbana. 
O Centro Histórico é a área de urbanização mais antiga, com limites entre o lago 
Guaíba e o contorno da I Perimetral, desenvolvendo–se como um espaço de 
diversidadecomercial, que contém equipamentos públicos e privados, instituições 
financeiras, parte da área portuária e concentração de áreas e bens de interesse 
cultural. 
Corredor de Centralidade é o espaço definido por duas vias estruturadoras 
principais. 
Corredor de Urbanidade é o espaço urbano que envolve parcialmente os Bairros 
Cidade Baixa, Bom Fim, Independência e Navegantes, com características de uso 
semelhantes às dos Corredores de Centralidade, diferenciando–se, entretanto, pela 
presença de Patrimônio Cultural a ser valorizado e pela necessidade de investimentos 
públicos e privados que propiciem a interação social. 
Corredor de Desenvolvimento é a área de interface com a Região Metropolitana 
disponível para investimentos autossustentáveis de grande porte com vistas ao 
fortalecimento da integração regional. 
Corredor de Produção é a faixa situada entre as imediações do Porto Seco e a Av. 
Protásio Alves, onde é estimulada amplamente a atividade produtiva passível de 
convivência com a atividade residencial, bem como a ocupação de vazios urbanos 
para a habitação de interesse social. 
Corredor Agroindustrial é a área com potencial para a localização de indústrias não 
poluentes de produtos vinculados à produção primária e a matérias–primas locais, 
além de atividades de apoio com vistas a intensificar o desenvolvimento primário no 
sul do Município. 
Estudos elaborados por técnicos da Prefeitura de Porto Alegre, que deram origem 
ao Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA), reconheceram as 
diferenciações entre os espaços da cidade. São cidades dentro da grande cidade. 
6 
 
O reconhecimento destas características peculiares em relação à época de seu 
desenvolvimento, aos espaços públicos, às edificações, ao sistema viário, aos 
aspectos socioeconômicos, paisagísticos e ambientais ou ao seu potencial de 
crescimento, geraram, no PDDUA, uma denominação para cada uma de suas partes, 
constituindo nove macrozonas (mapa 2). 
 
 
Mapa 2 – Divisão das Macrozonas de Porto Alegre 
 
A denominada Cidade Radiocêntrica engloba o território compreendido pelo Centro 
Histórico e sua extensão até a III Perimetral. Trata-se da porção urbanisticamente 
mais consolidada do município, com traçado viário estruturador perfeitamente definido 
a partir de um sistema radial de vias principais, lotes na sua maioria ocupados, 
caracterizando as mais altas densidades e a infraestrutura mais qualificada da cidade. 
Destaca-se um significativo patrimônio ambiental, composto por áreas de interesse 
cultural, localizadas de forma mais concentrada no Centro Histórico, Cidade Baixa, 
Independência e Navegantes. 
Ao norte, situa-se o Corredor de Desenvolvimento, que recebeu esta denominação 
pela sua potencialidade de transformar-se em um polo de interesse econômico 
metropolitano face à sua excelente acessibilidade e localização estratégica. Constitui a 
7 
 
área entre a BR-290, a Av. Sertório e a Av. Assis Brasil, sendo estratégica para 
empreendimentos autossustentáveis de polarização metropolitana, com integração de 
equipamentos como o Aeroporto e as Centrais de Abastecimento do Rio Grande do 
Sul - CEASA S.A. 
 Ao sul do corredor de desenvolvimento, encontra-se a Cidade Xadrez, com um 
padrão ortogonal de sua malha viária principal, representando a expansão da 
urbanização no sentido leste do município. Compreendida entre a Av. Sertório e 
Cidade da Transição no sentido norte-sul e entre a III Perimetral e o limite do 
Município no sentido oeste-leste. Constitui a cidade a ser ocupada através do 
fortalecimento da trama macroestruturadora xadrez, do estímulo ao preenchimento 
dos vazios urbanos e da potencialização de articulações metropolitanas e novas 
centralidades. São marcos estruturadores os três Corredores de Centralidade: 
Sertório/Assis Brasil, Anita Garibaldi/Nilo Peçanha e Ipiranga/Bento Gonçalves. 
Acompanhando o sentido natural da orla do Guaíba, da cidade radiocêntrica, em 
direção ao sul, e a linha dos morros, no sentido leste-oeste, identifica-se a Cidade da 
Transição - uma interface significativa que marca a transição entre a cidade mais 
consolidada e os topos dos morros ainda preservados, devendo manter suas 
características residenciais, com densificação controlada e valorização da paisagem. 
Constitui marco estruturador desta Macrozona o Corredor de Centralidade 
Cavalhada/Tristeza, que faz conexão entre bairros, sendo limitado longitudinalmente 
pelas ruas Dr. Barcellos e Pereira Neto. 
Seguindo pela orla do Guaíba e tendo como marco referencial o Morro do Osso, a 
Cidade Jardim cresceu integrada aos elementos naturais, predominando o uso 
residencial com intensa arborização. Caracteriza-se pela baixa densidade, pelo uso 
residencial predominantemente unifamiliar e elementos naturais integrados às 
edificações, com especial interesse na orla do Guaíba. 
Do lado oposto a Cidade Jardim, junto ao Parque Saint’Hilaire, está o espaço da 
cidade que seguramente concentra o maior número de vilas populares, é o 
denominado Eixo Lomba-Restinga. Sua origem está na ocupação habitacional de 
terrenos localizados ao longo das estradas João de Oliveira Remião e João Antônio da 
Silveira, com potencial para ocupação residencial miscigenada, em especial para 
projetos de habitação de caráter social, apresentando áreas com potencial de 
ocupação intensiva, situadas na Área de Ocupação Rarefeita. 
No extremo deste eixo, no centro-sul do município, tem-se a populosa Restinga, 
implantada através de um projeto público para abrigar população de baixa renda. 
Bairro residencial da Zona Sul cuja sustentabilidade tem base na implantação do 
8 
 
Parque Industrial da Restinga. Liga-se com a Região Metropolitana através do 
Corredor de Produção. 
A Cidade Rururbana é a área de ocupação mais rarefeita do município, onde se 
mesclam em diferentes graus, as atividades rural e urbana. Representando um espaço 
muito peculiar e de grande importância ecológica, não apenas para Porto Alegre, mas 
também para todo o Estado. A área é caracterizada pela predominância de patrimônio 
natural, propiciando atividades de lazer e turismo, uso residencial e setor primário, 
compreendendo os núcleos intensivos de Belém Velho, Belém Novo, Lami, Lageado, 
Boa Vista, Extrema e Jardim Floresta, bem como as demais áreas a partir da linha dos 
morros da Companhia, da Polícia, de Teresópolis, da Tapera, das Abertas e de Ponta 
Grossa. Engloba também as Unidades de conservação estaduais Parque Estadual 
Delta do Jacuí e Área de Proteção Ambiental Estadual Delta do Jacuí - APA. 
 
6 Roteiro da Saída de Campo 
6.1 Centro Histórico 
 
O Centro Histórico de Porto Alegre é considerado o núcleo irradiador da expansão 
da cidade. Procura mostrar sua evolução urbana, desde a fixação das primeiras 
famílias de açorianos, passando pela construção dos primeiros prédios públicos, pela 
modernização idealizada pelo governo positivista até chegar aos projetos atuais de 
revitalização da região central. Área visitada no Centro Histórico (mapa 3). 
 
 
Mapa 3 – Pontos visitados no Centro Histórico de Porto Alegre. (Adaptado por Mariana Blanco) 
9 
 
Deixamos a rótula da Reitoria/UFRGS às 8h20min em direção ao nosso primeiro 
ponto de observação à Rua Duque de Caxias esquina com a Rua General João 
Manoel, em meio às verticalizações das construções, onde se destaca o palacete da 
família Chaves Barcellos, do início do século XX, cuja obra foi idealizada pelo arquiteto 
Theo Wiedersphan. 
O palacete (foto 1), em meio às construções modernas, é símbolo de um tempo 
histórico passado, fazendo parte das rugosidades da cidade. Para Milton Santos 
(1986), "as rugosidadessão o espaço construído, o tempo histórico que se 
transformou em paisagem, incorporado ao espaço" e que, por testemunharem esse 
passado, não se transformam concomitantemente aos processos sociais, interferindo 
assim na sua dinâmica. 
Esse palacete, segundo o Dr. Günter Weimer, arquiteto, urbanista e pesquisador 
das obras de Theo Wiedersphan, “se trata do último remanescente de um bom número 
de prédios semelhantes que existiram na mesma via e que desapareceram sob a 
pressão de interesses imobiliários, numa época em que a cultura arquitetônica ainda 
era valorizada. [...] monumentos altamente significativos de uma das fases mais 
importantes da cidade, quando a linguagem do ecletismo de filiação neoclássica 
estava no auge durante a República Velha e dos quais ele é um dos mais legítimos 
representantes.”. 
Igualmente, a escadaria da Rua General João Manoel (foto 1), constitui-se de uma 
rugosidade do Centro Histórico – ela tinha por função conectar a parte alta da cidade 
com a parte baixa (entre a Rua Duque de Caxias com antiga Rua do Arvoredo, hoje, 
denominada Rua Coronel Fernando Machado); para não precisar contornar toda a 
orla, diminuindo desta maneira as distâncias entre os diferentes níveis da cidade. 
Estruturalmente, a escadaria permanece do mesmo modo em que foi concebida, 
apresenta-se em degraus e em patamares de forma simétrica. Ela se desenvolve em 
três lances centralizados e ladeados por muretas, pilaretes e canteiros. A partir do 
terceiro lance, os degraus se dividem, com peitoril feito em ferro trabalhado, e se 
encontram novamente para outro lance que leva ao belvedere, cuja mureta possui 
balcão de apoio. 
A Família Chaves Barcellos, proprietária dos imóveis do quarteirão, financiou um 
terço da obra da escadaria, visando à valorização imobiliária, o restante foi pago pelos 
cofres públicos. 
O que se observa nesse ponto, é um processo de inércia, visto que a função que a 
escadaria tinha, de conectar diferentes níveis da cidade, hoje, em meio a 
verticalizações e ruas em que trafegam carros, acarretou o seu desuso pela 
população. 
10 
 
 Sobre o que constitui o processo de inércia no espaço urbano, Corrêa (1989) 
contextualiza: “o processo de inércia atua na organização intraurbana através da 
permanência de certos usos em certos locais, apesar de terem cessado as causas que 
no passado justificaram a localização deles”, assim, para se ter o processo em 
questão, é necessário que se mantenha conteúdo e forma, preservados nos 
ambientes. A escadaria é tombada pela Secretaria Municipal de Cultura. 
 
 
 
 
 
Foto 1 – Palacete Chaves Barcelos e escadaria, algumas das rugosidades no Centro Histórico de Porto Alegre, 17/10/2015. 
(Fotocomposição: Mariana Blanco) 
 
Caminhar pela Rua Duque de Caxias é uma forma de voltar no tempo. A partir dela, 
ao se percorrer os principais monumentos históricos, é possível conhecer boa parte do 
passado de Porto Alegre. A rua que se desenvolveu ao longo da parte mais alta da 
colina, onde nasceu a antiga vila de Porto Alegre, era o divisor de águas das vertentes 
norte e sul. 
Na vertente norte se concentravam as classes mais abastadas, representadas por 
políticos, comerciantes, militares, e, na vertente sul pela população de baixa renda, 
como ex-escravos, imigrantes e trabalhadores. 
A vertente norte era mais valorizada por apresentar maior insolação, maior 
acessibilidade com outras regiões e por ter uma topografia atenuada. Já a vertente sul, 
a área era sempre mais úmida e fria em razão da pouca insolação. 
A seguir (foto 2) vemos uma série de antigas construções, localizadas à Rua Duque 
de Caxias e à Rua General João Manoel, e, que compõem parte do patrimônio cultural 
do Centro Histórico, em meio a verticalizações, delineando a paisagem de um tempo 
pretérito, onde formas de tempos anteriores coabitam no presente. Essas rugosidades, 
ao mesmo tempo que condicionam o cotidiano, as formas espaciais, também 
condicionam o futuro da sociedade, pois representam sua reprodução social. 
(CORRÊA, 2003). 
11 
 
 
Foto 2 – Vasto patrimônio cultural, Rua Duque de Caxias e Rua General João Manoel, Porto Alegre, 17/10/2015. 
(Fotocomposição: Mariana Blanco) 
 
Antes de discorrer sobre os outros pontos que margeiam a tradicional Rua Duque 
de Caxias e, que fizeram parte de nossa incursão, registramos algumas designações 
atribuídas a essa rua, conforme diferentes registros temos: Rua Formosa, Rua direita 
da Igreja, Rua Alegre e Rua da Igreja. Mas, o primeiro nome oficial foi o de Rua da 
Igreja, por ali localizar-se o único santuário da cidade. 
Foi, por anos, a rua mais nobre da cidade, residindo ali políticos, comerciantes e 
militares de altas patentes em luxuosos sobrados e solares das famílias aristocráticas 
da cidade, como o Solar dos Câmaras, o mais antigo prédio residencial de Porto 
Alegre. 
Também conhecida como “Altos da Praia”, na Duque de Caxias foi construída a 
Igreja da Matriz, atual Catedral Metropolitana, posteriormente denominada de 
Marechal Deodoro a praça ali existente, mais conhecida por Praça da Matriz. 
O espaço abriga ainda os prédios dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e 
o Teatro São Pedro, o mais antigo da cidade, tendo sua construção concluída em 
1858 e, além destes, os prédios da Biblioteca Pública e do Ministério Público (foto 4). 
Todos os prédios exibem uma preocupação em asseverar o seu poder, visto pela 
monumentalidade da arquitetura (tamanho das janelas e portas, e pelos detalhes na 
fachada). Essa monumentalidade atua na dimensão do simbólico, dando visualidade, 
representando e valorizando as ideias, ações e concepções daqueles que a utilizam, 
ou seja, tem sempre uma razão de ser, a qual pode estar bem explicitada ou não. 
O Monumento a Júlio de Castilhos, na Praça Marechal Deodoro (foto 3) é uma 
dessas representações de monumentalidade, cuja função, além de homenagear, era 
12 
 
de dar uma significação para essa figura histórica. O conjunto das três estátuas de 
Júlio de Castilhos representam valores importantes para o Positivismo. 
 
 
Foto 3 – Monumento a Júlio de Castilhos, Praça Marechal Deodoro, Porto Alegre, 17/10/2015. 
Mostra as diferentes épocas da vida do Presidente. (Fotocomposição: Mariana Blanco) 
 
 
O prédio da Biblioteca Pública (foto 4) constitui o poder cultural da cidade, tem 
como símbolo o guardião do saber. Em sua fachada estão incrustados diversos bustos 
de personalidades importantes, imprimindo a ela um saber acumulado por várias 
gerações. 
Por sua vez, a Catedral Metropolitana, expressa na forma estrutural de sua 
arquitetura - colunas, torres e cúpula – toda a monumentalidade do poder religioso 
(foto 4). 
13 
 
 
Foto 4 – Essas edificações representam o poder político, religioso e cultural. Praça Marechal Deodoro e seu entorno, 
Porto Alegre, 17/10/2015. (Fotocomposição: Mariana Blanco) 
 
Ainda no Centro Histórico, seguimos pela Av. Duque de Caxias até o Viaduto 
Otávio Rocha. As origens do Viaduto Otávio Rocha remontam a 1914 quando o 
primeiro plano diretor da cidade previu a abertura de uma rua para ligar as zonas leste, 
sul e central de Porto Alegre, até então isoladas pelo chamado "morrinho". Contudo, 
sua construção só foi decidida em 1926, quando o Intendente Otávio Rocha, em 
conjunto com o presidente do Estado, Borges de Medeiros, determinou a abertura 
efetiva da atual Avenida Borges de Medeiros. 
Essa decisão exigiu um rebaixamento considerável no terreno, interrompendo o 
curso da Rua Duque de Caxias e obrigando a criação de uma via elevada para 
14 
 
reconstituir sua passagem. Então, na gestão do Prefeito Otávio Rocha, empreendeu-
se umareforma urbana, visando transformar a capital numa “nova Paris”. Foram 
previstas a construção de largas avenidas, bulevares e rótulas, mas para que essas 
obras fossem levadas adiante, vieram abaixo muitos casarões, especialmente na área 
central. 
Assim, no período entre 1928-1932 surge o Viaduto Otávio Rocha (foto 5), um dos 
marcos do centro de Porto Alegre. Com a promulgação da Lei nº 10.541 de 
19/09/2008, o espaço público superior do Viaduto Otávio Rocha passou a denominar-
se "Passeio das Quatro Estações". 
 
 
 Foto 5 - Avenida Borges de Medeiros, Viaduto Otávio Rocha, Porto Alegre. 
(Fotocomposição: Mariana Blanco) 
 
6.2 Bairros Floresta, São Geraldo, Navegantes, Humaitá e Farrapos (4º Distrito, 
Av. Voluntários da Pátria) 
 
No século XIX, o 4º Distrito (mapa 4) revelou-se com forte vocação industrial e, 
especialmente, a partir de 1890 quando várias indústrias da Capital se instalam ao 
longo da Rua Voluntários da Pátria. 
15 
 
O crescimento industrial contribuiu para o aumento da população, em sua maioria 
operários, que passaram a habitar essa região em função da proximidade a seus 
locais de trabalho. Contudo, a partir da década de 40, as indústrias ali instaladas 
começam a se retirar, buscando áreas mais longínquas por necessitarem de maior 
espaço. 
 
 
Mapa 4 – Localização da Zona Norte de Porto Alegre, 2015. (Adaptado por Mariana Blanco) 
 
6.2.1 Voluntários da Pátria 
 
Seguindo pela Av. Voluntários da Pátria observamos a decadência da antiga zona 
industrial de Porto Alegre (fotos 6 e 7) - a deterioração tomou conta de suas ruas, 
agravada por alagamentos, insegurança e prostituição. As indústrias deixaram as 
áreas centrais buscando áreas na periferia onde tinham maior acessibilidade, terrenos 
amplos, baratos, infraestrutura já instalada e, com isso, as antigas áreas industriais 
próximas ao centro acabaram por se tornar obsoletas, pois ficaram em desuso 
(CORRÊA, 1995). 
16 
 
 Atualmente, o que se evidencia na paisagem, são resquícios de prédios ocupados 
por estacionamentos, oficinas, ferro-velho, depósitos, guarda-móveis, vulcanizadoras, 
transportadoras, postos de combustíveis. 
 
 
Foto 6 - Alagamentos na Rua Voluntários da Pátria, Porto Alegre, 17/10/2015. 
 
 
Foto 7 – Rua Voluntários da Pátria (antiga zona industrial), Porto Alegre, 17/10/2015. 
(Fotocomposição: Mariana Blanco) 
 
17 
 
Continuando pela Rua Voluntários da Pátria seguimos pelo eixo da Av. A. J. 
Renner, e contornamos a estrada junto ao Lago Guaíba. O processo de segregação 
residencial e social é evidente ao longo desse eixo, com o aparecimento de favelas e 
falta de infraestrutura urbana. Com o processo de regularização fundiária durante as 
décadas de 1980 e 1990, vilas como a Humaitá e a Farrapos passaram a abrigar 
pessoas que anteriormente viviam irregularmente. 
O Departamento Municipal de Habitação (DEMHAB, 1999) define ocupações 
irregulares como núcleos e vilas irregulares formadas por moradias, em área pública 
ou privada, com problemas de irregularidade fundiária e com grau variável de 
deficiência de infraestrutura urbana e serviços. O que pode ser observado na parada 
junto a Vila Dona Teodora (foto 8) - a precariedade das moradias (de papelão e 
madeira, telhado de zinco), a falta de infraestrutura (sanitariedade, lixo exposto, mau 
cheiro, proliferação de vetores, ruas sem asfalto), evidenciando um típico quadro de 
segregação involuntária, que devido às condições socioeconômicas, obriga a 
população a morar em determinada área. 
De acordo com Villaça (2001), a segregação é um processo em que classes ou 
camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões ou 
bairros da metrópole, primariamente por fatores socioeconômicos. A segregação 
involuntária não se dá de forma planejada por seus atores, mas sim estes são 
marginalizados e segregados por falta de opção e recursos financeiros, assim 
transferindo-se para áreas periféricas. 
 
Foto 8 - Um dos becos da Vila Dona Teodora, apresentando barracos de madeira, 
Bairro Farrapos, Porto Alegre, 17/10/2015. (Foto: Luis Gambetti de Castro) 
 
18 
 
Dessa forma, uma área antes desocupada, mesmo que distante do centro da 
cidade, porém próxima do local de trabalho pode levar a um processo de segregação 
involuntária à medida que a população pobre que irá se deslocar para essa nova 
região, estará privada de infraestrutura e acesso a locomoção pública. O mesmo 
ocorre quando uma população em escassez de recursos financeiros se muda para 
uma área mais afastada da cidade, vivendo de forma irregular (CORRÊA,1989). 
 
6.2.2 Programa Integrado Entrada da Cidade (PIEC) 
 
Coordenado pela Secretaria Municipal de Gestão, o Projeto Integrado Entrada da 
Cidade (PIEC) foi iniciado em 2004, ganhando impulso para sua implantação em 2005. 
Tem como objetivos a reestruturação urbana, incluindo obras de habitação e 
saneamento, e a recuperação ambiental no acesso Norte de Porto Alegre; assim 
garantindo mais qualidade de vida para a população que continha várias famílias 
reassentadas, que moravam de forma precária em diversas vilas junto a Rua 
Voluntário da Pátria. 
As comunidades beneficiadas com o Programa Integrado Entrada da Cidade são: 
Vila Nossa Senhora da Paz, Vila A. J. Renner, Vila Nossa Senhora Aparecida, Vila 
IAP, Vila Ocupação Leito da Avenida Voluntários da Pátria e Vila Esperança. 
O PIEC abrange uma área de 6,5 km2, incluindo os bairros Humaitá, Navegantes e 
Farrapos (mapa 5). A nível nacional pode ser considerado um dos maiores projetos 
habitacionais, tanto em número de unidades habitacionais (3.061 casas e 714 lotes 
urbanizados) quanto em número de beneficiados (3.775 famílias). 
 
 
Mapa 5 - Área de implementação do Programa Integrado Entrada da Cidade, Porto Alegre, 17/10/2015 
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-86212011000300006&script=sci_arttext 
 
19 
 
O projeto dispõem de investimento total de R$ 140 milhões, sendo desses R$ 71,4 
milhões apenas para a área de habitação, provenientes de financiamento do Banco 
Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ministério das Cidades, Fondo Financeiro 
para El Desarrollo de la Cuenca del Plata (Fonplata) e Prefeitura Municipal de Porto 
Alegre (PMPA). A área que no total inclui 22 vilas irregulares foi reestruturada para 
comportar as famílias que anteriormente viviam de forma precária na Rua Voluntários 
da Pátria. 
 A Vila Tecnológica (foto 9) foi uma das pioneiras, datando de 1995/1996 por um 
convênio com a ULBRA (Universidade Luterana do Brasil), com início em protocolo 
estabelecido com o governo federal através do Programa de Difusão Tecnológica para 
a Construção de Habitações de Baixo Custo (PROTECH), financiado pela Caixa 
Federal. 
 É caracterizada por cada grupo de 140 casas, elaboradas e construídas por meio 
de sistemas alternativos, empregando tecnologia diferenciada na construção e 
testando matérias de construção não habituais. Alguns desses materiais incluem 
cinzas de termoelétricas, utilizadas na fabricação de tijolos. As casas seguem um 
padrão, sendo a metragem dos sobrados de 40 m2 e 45 m2. A Vila também possui 
creche, praça pública, associação de moradores, bem como equipamentos de 
escoamento de água. 
 
 
Foto 9 – Vila tecnológica, Porto Alegre, 17/10/2015. Nota-se a padronização das casas, assim como a 
presença de uma praça pública. (Fotocomposição: Mariana Blanco) 
20 
 
Com a intervenção na área, que foi historicamente local, de descarte de resíduo 
sólidos e, com finalidade de promover novas fontes de geração de trabalho e renda 
para a população em questão, duas unidades de resíduos sólidosprovenientes da 
coleta seletiva de lixo foram erguidas. Cursos de formação e qualificação 
profissional, voltados para a área de demanda dos empreendimentos que foram 
instalados são oferecidos, o que inclui transporte de cargas e de passageiros. 
A Vila Tecnológica, assim como a Vila Dona Teodora, é um exemplo de segregação 
involuntária, só que nesse caso exercida pelo Estado. Apesar da melhoria nas 
condições de infraestrutura com a construção de casas populares padronizadas para 
servir a população de baixa renda, instalação de creches e praças, ainda configura 
uma região distante do centro e de onde essas pessoas moravam. 
 
6.2.3 Parque Marechal Mascarenhas de Moraes 
 
Localizado ao norte do centro, no bairro Humaitá, junto a Rua Aloísio Filho, o 
parque Marechal Mascarenhas de Moraes (mapa 6) é uma área de banhado, com 
mata ciliar e campo com uma área de 18,3 hectares (8 de banhado e 6 de preservação 
ecológica). Foi o primeiro parque originado da Lei de Parcelamento de Solos na 
cidade, inaugurado em 1982 e reformulado em 2007. 
 Tentativas de loteamento no local já haviam ocorrido na década de 40, porém não 
foram bem sucedidas. Apenas com a chegada dos conjuntos habitacionais na década 
80 ocorreu, de fato, crescimento; quando empresas como a Incorporadora Rossi 
‘’adotam’’ o parque, transformando-o em sua área protegida e ofertando-o em conjunto 
com seus empreendimentos. Nesse caso, o Parque Marechal Mascarenhas de Moraes 
é agregado pela Rossi Incorporadora aos seus empreendimentos, sendo amplamente 
destacado na venda destes como um dos fatores positivos para sua aquisição na 
região. 
 Portanto, a Rossi, desenvolve a função de promotor imobiliário, que de acordo com 
Corrêa (1989), são um dos agentes mais complexos de todo o sistema, uma vez que 
eles incorporam e realizam a gestão de capital em estágio de transformação da 
mercadoria em imóvel, realizam financiamento, o estudo técnico, constroem o imóvel e 
depois comercializam, com o objetivo principal, o lucro. 
Conforme Martins (2009), anteriormente a região era mal vista no que se refere às 
condições habitacionais pelo fato de ser área de periferia, e embora hoje haja um 
interesse imobiliário devido ao posicionamento do bairro na cidade e as melhorias, 
principalmente do setor privado, nota-se um aumento da segregação social urbana em 
relação às favelas que existem no entorno do bairro. 
21 
 
O atual avanço imobiliário é um reflexo do crescimento populacional vivenciado na 
cidade de Porto Alegre e esta região mostra-se atrativa a construção civil, visto que é 
a entrada da cidade, contornada pelas BR 116 e 290. De acordo com Martins (2009) a 
valorização imobiliária consequente desse processo é vista com bons olhos pela 
população do bairro. Mas o poder público pouco investe no que se refere ao 
saneamento e obras viárias de acesso. 
 
Mapa 6 – Delimitação do Parque Marechal Mascarenhas de Moraes no Bairro Humaitá. 
 (Adaptado por Luis Gambetti de Castro) 
 
Inicialmente, o parque foi usado como aterro sanitário (lixão) para resíduos 
domésticos, com intuito de facilitar a ocupação urbana ao redor. Logo vieram os 
primeiros conjuntos habitacionais, porém posteriormente um banhado ressurge na 
área central do parque. 
Hoje a área central do parque funciona como refúgio para muitas aves migratórias 
da região, destacando-se as garças. Também se sobressaem os exóticos troncos de 
eucaliptos mortos, remanescentes de uma tentativa de contenção de alagação, 
comprovando mais uma vez que o local se trata de um banhado (foto 10). 
O parque é uma área de uso misto, apresentando tanto uma área de preservação 
permanente quanto uma área de lazer e recreação. Ainda oferece campo e quadras 
de futebol e vôlei, cancha de bocha, pista de patinação, equipamentos esportivos 
diversos, assim como churrasqueiras e quiosques cobertos. 
 
 
22 
 
 
Foto 10 - Área de banhado no parque. Nas imagens superiores observa-se a presença de garças, bem como os 
troncos de eucaliptos secos, abaixo empreendimento da ROSSI e área de lazer dentro do parque. Porto Alegre, 
17/10/2015. (Fotocomposição Mariana Blanco) 
 
6.3 Bairro Cidade Baixa (Cidade Radiocêntrica) 
 
Em meados do século XIX, “Cidade Baixa” foi a designação utilizada para toda 
região situada ao sul da colina da Rua Duque de Caxias. Mas, o território que hoje é 
conhecido como bairro Cidade Baixa, possuiu vários nomes associados ao seu 
território: Arraial da Baronesa, Emboscadas, Areal da Baronesa e Ilhota. 
Ao longo do século XIX, era denominado Arraial da Baronesa, que fazia alusão a 
uma grande extensão territorial abrangida por uma chácara de propriedade da 
Baronesa de Gravataí, cuja mansão localizava-se onde hoje é Fundação Pão dos 
Pobres. Faziam parte da área, também, propriedades semirrurais, cuja base produtiva 
era a mão de obra do escravo. 
Em 1879, depois de um incêndio em sua propriedade, a Baronesa loteou e vendeu 
suas terras, que passaram a ser habitadas por negros libertos e famílias italianas. 
Desta forma, o território foi denominado, de Areal da Baronesa, em virtude da areia 
avermelhada existente no local. 
Assim, até metade do século XX, a Cidade Baixa continuava sendo reduto dos 
italianos, que realizavam serviços especializados, e dos negros: estes residiam na 
área correspondente ao Areal da Baronesa e à Ilhota, locais bastante insalubres, pois 
sistematicamente ocorriam inundações. Essas áreas fazem parte da história de Porto 
Alegre enquanto espaços associados à cultura popular expressa através dos 
23 
 
batuques, das danças, ritmos e festas organizadas pelos segmentos negros da 
população. 
Salientamos que a denominação de Ilhota deu-se em função de uma intervenção 
realizada em 1905 no fluxo do Riachinho, que acabou por abrir um canal, 
determinando a formação de uma pequena ilha. Posteriormente, o Riachinho foi 
canalizado, e teve seu curso modificado através de um projeto municipal, durante a 
administração de José Loureiro da Silva em 1941, passando a ser conhecido por 
Arroio Dilúvio. 
A partir da metade do século XX, população da região aumenta significativamente, 
em função do desaparecimento das últimas chácaras. 
Atualmente, a Cidade Baixa, criada oficialmente pela Lei 2022 de 1959, é habitada 
por uma população heterogênea e, como pontos que referendam seu passado, estão 
o Ginásio de nome “Tesourinha”, o complexo habitacional denominado 29 “Lupicinío 
Rodrigues”, o Solar Lopo Gonçalves que é sede do Museu de Porto Alegre, a 
Fundação Pão dos Pobres, o Largo Zumbi dos Palmares, a Ponte de Pedra, a 
Travessa dos Venezianos e inúmeros estabelecimentos de entretenimento, 
principalmente noturnos, que lembram os tempos boêmios do Areal e da Ilhota. 
Pontos visitados (mapa 7). 
 
Mapa 7 - Travessa dos Venezianos, Rua Lopo Gonçalves, Museu Joaquim José Felizardo localizado na Rua João 
Alfredo, Cidade Baixa, Porto Alegre, 17/10/2015. (Adaptado por Mariana Blanco) 
 
6.3.1 – Travessa dos Venezianos 
 
A Travessa dos Venezianos está localizada próxima à periferia sul do bairro Cidade 
Baixa, entre as ruas Lopo Gonçalves e Joaquim Nabuco. Em ambos os lados da 
24 
 
travessa estão localizadas 15 casas em fita, que ainda mantém o calçamento original 
de pedras irregulares (foto 11). Foi tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal para 
preservar a arquitetura da época (início do século XX). 
 
Foto 11 - Travessa dos Venezianos, Cidade Baixa, Porto Alegre, 17/10/2015. (Fotocomposição: Mariana Blanco) 
 
A arquitetura simples, desprovida de elementos arquitetônicos significativos, revela 
sua forma de ocupação original, popular, destinada a servir de fonte de renda na formade aluguéis. Estas casas originalmente eram ocupadas por pessoas de renda muito 
baixa, em regime de aluguel. Com o passar dos anos seus ocupantes passaram a ser 
os proprietários. 
Trata-se de um espaço urbano típico de muitas de nossas cidades antigas, de 
estreitas ruas, com fachada resumida a um esquema de porta e uma ou duas janelas 
que se abrem para a rua, com pé-direito alto e uma platibanda acima, sendo essas 
casas pegadas umas às outras em fileira (foto 12). 
 
Foto 12 - Casas geminadas com janelas e portas para a rua. Na parte superior, as platibandas escondem o telhado. 
Travessa dos Venezianos, Cidade Baixa, Porto Alegre, 2015. (Foto: Mariana Blanco) 
 
25 
 
Até a metade do século XIX e fim da Guerra dos Farrapos, a região da Cidade 
Baixa era um subúrbio com aspectos de zona rural, à mercê de constantes enchentes 
provocadas pelo Arroio Dilúvio. 
Conhecida também como zona de refúgio de escravos, sua evolução se fez a partir 
da instalação de uma olaria nas imediações. O carnaval movimentava as ruas deste 
bairro. Entre os blocos mais conhecidos destacava-se o "Bloco dos Venezianos". 
Dizem que a travessa ganhou esse nome em homenagem a Sociedade Carnavalesca 
“Os Venezianos”, fundada em 1873, contudo não há registros que comprovem esse 
fato. 
A Cidade Baixa, antes um bairro pobre de periferia, hoje é um centro boêmio e a 
Travessa dos Venezianos abriga pizzaria, atelier de artes além de residências. 
 
6.3.2 – Rua Lopo Gonçalves 
 
A rua inicia na Avenida João Pessoa e termina na Rua João Alfredo. São apenas 
três quadras, mas formam um ambiente único, um espaço residencial com suas casas 
antigas e minicasas, geminadas, que mantém características de porta e janela para a 
calçada, com indicação de ano de sua construção (foto 13). Algumas dessas casas 
foram reformadas, transformadas em bares e acolhem os assíduos frequentadores da 
noite. A rua é do final do século XIX, foi aberta entre 1884 e 1885. 
 
Foto 13 – Grande variedade de detalhes das construções na Rua Lopo Gonçalves, Porto Alegre, 17/10/2015 
 (Fotocomposição: Mariana Blanco) 
 
6.3.3. Museu José Joaquim Felizardo (antigo Solar Lopo Gonçalves) 
 
No começo do século XIX, Porto Alegre, era cercada de chácaras que delimitavam 
o espaço urbano. As casas de chácara foram um tipo característico de habitação 
durante o período colonial e localizavam-se geralmente na periferia dos centros 
urbanos, tidas como a solução preferida das famílias mais abastadas, pois dispunham 
26 
 
de vantagens não encontradas nas residências da cidade, relacionadas, sobretudo, à 
higiene e produção de alimentos. 
Na Rua João Alfredo observamos o Solar Lopo Gonçalves, de propriedade do 
comerciante português Lopo Gonçalves Bastos. A Chácara localizava-se na Várzea, 
planície alagadiça que se estendia da atual Praça Argentina até a Avenida Venâncio 
Aires no bairro Cidade Baixa. O Solar foi construído fora dos limites da cidade, para 
servir como sede de chácara da família, entre os anos de 1845 e 1853, de frente para 
a Rua da Margem (atual Rua João Alfredo), assim denominada por margear o Arroio 
Dilúvio. 
O Solar Lopo Gonçalves é um exemplar do estilo tradicional luso-brasileiro ou 
colonial, com porão alto e acesso principal pela escada lateral. Possui telhado em 
forma de “quatro águas e beirais”. As janelas frontais apresentam quadro superior 
ornado com meias rosáceas. As paredes externas foram construídas em alvenaria de 
tijolos e as internas em estuque (barro, madeira e folhas de palmeira) como pode ser 
visto na foto 14. 
Posteriormente, em sua estrutura, foram realizadas algumas modificações 
arquitetônicas como fechamento do pátio interno, a inclusão de um novo cômodo e a 
construção do torreão, que tinha a função de observatório. 
Lopo Gonçalves manteve vários negócios de comércio na cidade e parte da casa 
servia de senzala para os seus muitos escravos. 
 
Foto 14 - Preservada a arquitetura colonial açoriana do Solar Lopo Gonçalves, Porto Alegre, 17/10/2015 
(Fotocomposição: Mariana Blanco) 
 
27 
 
 No final do século passado, com a nova configuração do bairro Cidade Baixa e o 
progressivo desaparecimento das propriedades semirrurais, a Chácara de Lopo 
Gonçalves também reduziu seu tamanho, mas manteve ainda atividades produtivas. 
Devido ao seu valor histórico o prédio foi objeto de tombamento em 21 de 
dezembro de 1979 e sedia atualmente o Museu Joaquim José Felizardo. 
 
6.4 Zona Sul 
 
Num segundo momento, deixamos a Cidade Baixa, passamos pelo Ginásio 
Tesourinha e seguimos rumo a Zona Sul (mapa 8). 
 
Mapa 8 – Em amarelo os pontos visitados na Zona Sul, Porto Alegre (adaptado por Mariana Blanco) 
28 
 
6.4.1 Bairro Cristal (Cidade da Transição) 
 
Segundo o novo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental de Porto 
Alegre (PDDUA, 2010) e suas estratégias de ocupação territorial, Porto Alegre 
compreende várias cidades dentro da cidade. Entre elas citamos a Cidade de 
Transição (área compreendida entre a Cidade Radiocêntrica e a Cidade Jardim), que 
abrange o bairro Cristal. 
 Uma ocupação mais efetiva desta área ocorreu no início do século XIX com a 
chegada dos imigrantes italianos que cultivavam pomares e hortas; também era uma 
região de charqueadas. 
 Durante a primeira metade do século XX, o Cristal insere-se no caráter de 
urbanização e modernização: avenidas asfaltadas, ruas abertas e novas edificações 
construídas. Instalaram-se aí o Jockey Club, o Hipódromo do Cristal, o Clube Veleiros 
do Sul, o Iate Clube Guaíba, o Estaleiro Só, a fábrica Termolar, e mais recentemente o 
Museu Iberê Camargo e o Barra Shopping Sul. 
No local onde hoje está implantado o shopping existia a Vila Campos do Cristal e 
no entorno existiam outras vilas (Estaleiro Só, Sanga da Morte e Arroio da Cavalhada) 
– todas foram remanejadas por um convênio entre a Prefeitura Municipal de Porto 
Alegre (PMPA) e a empresa Multiplan (empreendedora do shopping) e reassentadas 
nos bairros Vila Nova e Campo Novo. Alterações urbanas ocorridas em consequência 
da instalação do Barra Shopping Sul: 
Quanto à distribuição urbana no bairro Cristal, percebe-se edificações modestas, 
com vários condomínios verticais destinados a classe média; nas áreas limítrofes com 
os bairros Assunção e Santa Teresa localizam-se vários condomínios horizontais de 
alto padrão. Também nesta área encontra-se parte da Vila Cruzeiro do Sul, onde 
ocorre grande precariedade nas moradias e na infraestrutura. 
Neste contexto, o espaço urbano é simultaneamente fragmentado e articulado, 
onde cada uma das partes mantém relações espaciais com as demais, mesmo que 
com intensidade muito variável, fruto das desigualdades sociais (Corrêa, 1989). Estas 
relações espaciais, que envolvem diversos segmentos sociais, tem na cidade seu 
campo de lutas, cujo objetivo é a apropriação do espaço. 
Esta situação é retratada no Bairro Cristal e reforçada pela instalação do Barra 
Shopping Sul (foto 15), empreendimento de capital privado, que por seu perfil 
comercial e social, traz adequações urbanas que transcendem a seu entorno, 
envolvendo o deslocamento de moradores das vilas próximas para o Loteamento 
Campos do Cristal, na Vila Nova, distante do local de origem. 
29 
 
Tal situação leva a um confronto, onde grupos sociais, modeladores espaciais, em 
busca de seus interesses, entram em choque, configurando um campo de lutas, onde 
o Estado aparece como mediador, adequando as soluções a seus interesses: “No 
espaço urbano, fundem-se os interesses do capital, a ação do estado e a luta dos 
moradores como forma de resistência contra a segregação no espaço residencial e 
pelo direito à cidade”(CARLOS, 1992). 
 Com este empreendimento, o Bairro Cristal tem o capital privado como 
impulsionador para as alterações urbanas e consequente valorização imobiliária. A 
implantação do Barra Shopping Sul atende ao especificado pelo PDDUA vigente, 
oferecendo diversidades de serviços, alterações urbanas no seu entorno (abertura de 
ruas, duplicação de passeio público, construções de rotatórias, instalações de 
semáforos e iluminação pública) e se consolidando como um novo referencial no 
bairro Cristal. 
 
Foto 15- Vista parcial do empreendimento Barra Shopping Sul, Porto Alegre, 17/10/2015. (Foto: Sônia Sandri) 
 
 Atualmente, um dos equipamentos urbanos que se destacam no bairro Cristal é a 
Estação Elevatória de Efluente (ou de bombeamento, EBE Cristal – Foto 16). A 
operação do Programa Integrado Socioambiental (PISA) implantado pela PMPA 
elevará o volume de esgotos tratados de 27% para 80%. 
A função da estação é bombear os efluentes para a Estação de Tratamento de 
Efluentes (ETE) Serraria, por via dos emissários terrestre e subaquático. O projeto 
prevê que o esgoto produzido nas regiões centrais de Porto Alegre seja bombeado até 
a estação Ponta da Cadeia, sendo conduzido por um emissário terrestre até a estação 
Cristal, que recebe também os efluentes coletados no Sistema Cavalhada. De lá, o 
30 
 
esgoto segue pelo emissário subaquático e por um pequeno trecho terrestre até a ETE 
Serraria. 
As estações elevatórias – ou de bombeamento – de efluentes contam com um poço 
de sucção, que recebe e amortece o esgoto, conduzindo-o para o poço de bombas em 
regime laminar e evitando a entrada de ar. As bombas impulsionam o esgoto 
recalcando-o para o emissário. As chaminés de equilíbrio evitam os efeitos 
transientes. 
 
Foto 16 - Estação Elevatória de Efluentes (EBE Cristal), Porto Alegre, 17/10/2015. (Foto: Sônia Sandri) 
 
O Arroio da Cavalhada está sendo recuperado por meio do Programa Integrado 
Socioambiental (PISA). No Cristal, o arroio terá seu leito realinhado sobre uma base 
de concreto e será cercado por uma avenida de duas mãos, cada uma com três faixas. 
Mais alto que a avenida, um dique impedirá transbordamento do arroio. 
 
Foto 17 - Arroio Cavalhada, Bairro Cristal, Porto Alegre, 17/10/2015 (Foto: Sônia Sandri) 
31 
 
6.4.2 A Cidade Jardim 
 
 O trabalho de campo incluiu uma pequena parada no bairro Pedra Redonda, 
antiga área de veraneio, e no bairro Ipanema que, nos primórdios do século XX era 
considerada área rural (com cultivo de arroz, milho, aipim e frutas), e a criação de 
gado leiteiro. 
A Pedra Redonda ganhou notoriedade no início do século XX como um dos lugares 
de lazer e de veraneio dos porto-alegrenses. Nessa época se estabeleceram as 
primeiras ligações do Centro Histórico da capital com a Zona Sul, então pouco 
habitada. 
Nos dias atuais, a Pedra Redonda é um bairro predominantemente residencial, um 
dos mais valorizados da cidade, que conta a presença de várias sedes campestres de 
associações e sociedades privadas e públicas (foto 18). 
 
 
Foto 18 – Sede campestre, Praia da Pedra Redonda. Porto Alegre, 17/10/2015 (Fotocomposição Mariana Blanco) 
 
Progressivamente, muitos dos antigos chalés de madeira que existiram no início de 
sua história deram lugar a casas e a condomínios horizontais de alto padrão, situados 
em ruas bem arborizadas. 
Diferentemente de seu passado, a praia da Pedra Redonda não é mais balneável, 
tampouco acessível ou segura. Fatores que contribuíram para isso foram a 
especulação imobiliária, a poluição e o longo descaso do Poder Público (foto 19). 
 
 
Foto 19 – Praia da Pedra Redonda, muita poluição. Porto Alegre, 17/10/2015 (Fotocomposição Mariana Blanco) 
32 
 
O Bairro Ipanema passa a ser bairro de veraneio e residencial durante as décadas 
de 50 e 60. Já no final da década de 60, a região perde sua balneabilidade devido aos 
problemas de poluição. No início dos anos 1990 ele sofre uma recuperação 
paisagística e urbanística (com a construção de calçadão, ciclovia e outras 
amenidades na orla do Guaíba). 
A nossa parada em Ipanema foi curta, contudo pudemos constatar grande 
represamento das águas e inundação. Conforme informado pelo Sistema Metroclima 
da Vigilância Meteorológica de Porto Alegre em conjunto com o Centro Integrado de 
Comando (CEIC), neste dia (17/10) o nível do Guaíba encontrava-se a 2,94m, 
representando um nível extremamente alto e próximo da marca crítica de transbordo 
de 3m, sendo uma das maiores marcas históricas já atingidas, decorrente das chuvas 
dos dias anteriores, e, tendo como consequência a inundação em alguns pontos da 
orla de Ipanema e Tristeza, conforme podemos ver na foto 20. 
 
 
Foto 20 - Inundação na orla de Ipanema, zona sul de Porto Alegre, 17/10/2015 
(Fotocomposição Mariana Blanco) 
 
 Este setor da cidade (Cidade Jardim), designado assim pelo PDDUA devido à 
vegetação abundante, à baixa densidade populacional e ao uso residencial 
predominante da classe de renda média alta, inclui os bairros Vila Assunção, Vila 
Conceição, Tristeza, Pedra Redonda, Ipanema, Guarujá, Serraria e Hípica. 
33 
 
Destaca-se na área, o projeto da PMPA, a recuperação da orla do Guaíba com o 
objetivo de garantir a balneabilidade das águas através do PISA, com a implantação 
da ETE Serraria. 
 
6.4.3 A Cidade Rururbana 
 
A conformação do rural para rurbano no município de Porto Alegre denota o 
aparecimento de um continuum, pois de acordo com Schneider (2003) é “o processo 
de erosão das diferenças espaciais entre o rural e o urbano, indicando-se o 
aparecimento de um continuum entre ambos que seria a expressão espacial do 
processo de rurbanização”. 
A Cidade Rururbana é uma área de expansão urbana caracterizada por uma 
paisagem heterogênea, mesclando áreas de produção primária, oriunda de chácaras e 
sítios, e novos usos como comércio, loteamentos populares, condomínios horizontais 
para classe média, reassentamentos de antigas vilas irregulares (Campos do Cristal, 
Estaleiro Só, Sanga da Morte e Arroio da Cavalhada) nas imediações da Rua Cristiano 
Kraemer, nos bairros Vila Nova e Campo Novo, compreendendo os núcleos intensivos 
de Belém Velho, Belém Novo e Lami, bem como as demais áreas a partir da linha dos 
morros (da Companhia, da Polícia, Teresópolis, Tapera, das Abertas e Ponta Grossa). 
 Próximo dali, na Estrada das Três Meninas, encontra-se o empreendimento 
imobiliário Alphaville Porto Alegre, destinado à classe de alta renda e que foi planejado 
para valorizar o espaço verde que caracteriza a Zona Sul da Capital (foto 21). 
 Com cenários formados por vegetação natural, o empreendimento agrega também 
um cuidadoso projeto paisagístico aos trechos urbanizados. Este empreendimento se 
constitui em um grande contraste socioeconômico e exemplo de segregação espacial. 
“Reproduz-se assim, através de novas formas, novas áreas sociais, segregadas e 
dotadas de “novos estilos de vida” (CORRÊA, 1989). 
 
 Foto 21 - Assentamento da Vila Campos do Cristal e Condomínio Horizontal Alphaville, os contrastes 
socioeconômicos, Porto Alegre, 17/10/2015 (Fotocomposição:: Sônia Sandri) 
34 
 
Cumpre ressaltar que é a existência da segregação socioespacial que permite a 
classe dominante continuar a dominar o espaço produzido segundo seus interesses. O 
principal instrumento desse novo padrão de segregação espacial que se observa no 
condomínio Alphaville é denominado “enclave fortificado”, ou seja, trata-se de espaço 
privatizado, fechado e monitorado para residência e lazer, cuja principal justificativa é 
o medo da violência. As pessoas buscam nesses empreendimentos espaços que 
propiciem segurança,dada falta deste serviço de forma eficiente por parte do poder 
público. Assim, os empreendedores buscam propiciar empreendimentos e soluções 
privadas para o problema da violência urbana, com equipamentos e aparatos 
tecnológicos, além de separação física e um rígido controle do acesso a estes 
espaços. 
 
 
Foto 22 – Condomínio horizontal Alphaville, espaço cercado e monitorado, Porto Alegre, 17/10/2015 
 (Fotocomposição: Mariana Blanco) 
 
Os enclaves fortificados localizam-se em áreas distantes do centro, são de 
propriedade privada para uso coletivo privado, com grandes áreas internas, com 
equipamentos e serviços exclusivos, fisicamente demarcados e isolados por muros, 
grades e controlados por guardas armados e sistemas de segurança. Esses enclaves 
fortificados residências vendem um espaço mais tranquilo e seguro: prometem maior 
contato com a natureza e a tranquilidade da vida campestre. Ueda (2009), explica que 
esse tipo de empreendimento “segue o exemplo dos subúrbios jardins norte-
americanos e se inscreve em um modelo geral de subúrbios destinados às classes de 
alto poder aquisitivo” (foto 22). 
Dentro desse processo de reestruturação urbana que afeta a cidade, os novos 
enclaves fortificados para residência para as classes médias e altas estão provocando 
as maiores alterações, pois a sua proliferação e suas características alteram o próprio 
modo de viver das pessoas na cidade e causam impactos socioespaciais para a 
cidade como um todo (CALDEIRA, 1996). 
Destas reflexões podemos apontar que o caminho das investigações sobre os 
enclaves fortificados residenciais na cidade passa por uma abordagem da atuação do 
35 
 
Estado. A compreensão deste novo fenômeno urbano passa pelas atuais 
características do planejamento urbano, numa época caracterizada pela força de 
mercado em face ao declínio da intervenção do Estado, o que sem dúvida afeta como 
espaço urbano é planejado e produzido. O poder público incentiva a proliferação 
desses empreendimentos (SOUZA, 2008). 
 A área Rururbana tem importante produção rural de hortigranjeiros desenvolvida 
em áreas que se intercalam com vários núcleos de ocupação urbana com significativo 
patrimônio natural. Sua paisagem é constituída por morros isolados e terras baixas 
que se estendem até o Lago Guaíba. Diversos núcleos habitacionais clandestinos ou 
irregulares vêm sendo produzidos ao longo das principais estradas. 
Pertencente a Cidade Rururbana encontra-se Belém Velho, que é um dos mais 
antigos núcleos habitacionais de Porto Alegre. Na virada do século, passou a ser 
destinado ao veraneio de famílias que possuíam propriedades e local de 
desenvolvimento de atividades agropecuárias. Atualmente, em meio a uma crescente 
população, Belém Velho continua sendo um dos bairros com menor densidade 
demográfica e tem como uma das suas principais características o uso produtivo da 
terra. 
6.4.4 A Cidade da Transição 
 
Ocupando as encostas de diversos morros, esta macrozona representa o espaço 
de interface entre a Cidade Xadrez, urbanisticamente consolidada, e os topos dos 
morros, que apresentam uma ocupação rarefeita ou inexistente, que já fazem parte da 
Cidade Rururbana. Estende se para o leste, até a altura da Estrada João de Oliveira 
Remião, onde inicia o eixo de urbanização conhecido como Lomba do Pinheiro. Do 
lado oposto, junto a orla do Guaíba, representa a interface entre a Cidade 
Radiocêntrica e a Cidade Jardim. 
A Cidade da Transição se caracteriza pela predominância residencial com 
densidades variadas e topografia movimentada, onde os morros Santana, Companhia, 
da Cruz, da Polícia, Pedra Redonda, Teresópolis e Santa Tereza, representam uma 
barreira física que limita a expansão da área de ocupação intensiva da cidade 
consolidada, com a cidade de ocupação mais rarefeita. 
A área visitada predomina uma sequência de morros graníticos de grande 
importância ambiental como o Morro da Pedra Redonda (Bairro Glória). Nesse morro 
está localizado o Santuário Nossa Senhora Madre de Deus, onde se tem a vista 
panorâmica de Porto Alegre e parte da Região Metropolitana como pode ser visto na 
foto 23. 
36 
 
 
Foto 23 - Vista panorâmica de cima do Morro da Pedra Redonda onde se avista o Centro de Porto Alegre, 17/10/2015 
(Foto: Sônia Sandri) 
 
O Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora Madre de Deus (foto 24), é uma igreja 
católica, localizada no topo do Morro da Pedra Redonda. O projeto data de 1987, mas 
sua construção atrasou devido a questões burocráticas e preocupações de ordem 
ambiental. Sua pedra fundamental só pode ser lançada em agosto de 1992, sendo 
consagrada pelo arcebispo de Colônia (Alemanha). 
O projeto, de responsabilidade do renomado arquiteto Ivo Nedeff, tem 700 m² de 
área construída, divididos em dois pavimentos - é uma estrutura de aço, tijolos e vidro 
de linhas arrojadas, definidas pelo grande telhado em duas águas que organiza todo o 
conjunto e se estende até o nível do solo - a obra foi concluída em junho de 2000. 
Desde janeiro de 2010 o Santuário é administrado pelos padres redentoristas. Além 
da motivação religiosa, o Santuário é muito procurado por tratar-se de ponto turístico, 
pelas belezas ecológicas e pela espetacular vista de 360 graus de Porto Alegre e parte 
de cidades adjacentes. 
 
Foto 24 - Santuário N. Srª. Madre de Deus, no Morro da Pedra Redonda, Porto Alegre, 17/10/2015 
 (Foto: Sônia Sandri) 
 
37 
 
7 Considerações Finais 
 
A cidade, hoje, é um sítio muito diversificado. As diferenças econômicas e culturais 
se aglomeram e se sobrepõem não respeitando modelos rígidos no espaço, e sim, 
firmando uma aleatoriedade. As formas urbanas então representam a soma de 
tempos, nelas cristalizados. 
Segundo Santos (1985), “em qualquer ponto do tempo, a paisagem consiste em 
camadas de formas provenientes de seus tempos pregressos, embora estes 
apareçam integrados ao sistema social presente, pelas funções e valores que podem 
ter sofrido mudanças drásticas.”. 
Ao se procurar recompor este tempo pelas formas, nos deparamos com um duplo 
desafio: compreender os processos em diferentes momentos de sua consecução e, ao 
mesmo tempo, entender a dinâmica da própria produção do espaço urbano, forma e 
conteúdo. 
Isso é possível, pela identificação das formas que se mantém, das formas que 
condicionam novas formas e, ainda, daquelas que são modificadas ou destruídas. O 
urbano então vai se reproduzindo a partir da luta de interesses do que é fundamental 
para a reprodução do capital de um lado, e da vida, de outro. 
O centro como vimos, tende a descentralizar-se, em especial por fatores como: 
aumento do preço da terra, impossibilidade de extensão das áreas, 
congestionamentos nos transportes, restrições legais e perda de amenidades. As 
indústrias saíram da área central, como foi o caso de indústrias alocadas a Rua 
Voluntários da Pátria, que pela impossibilidade de expandir suas instalações, 
procuraram áreas não centrais, com acesso facilitado, infraestrutura já instalada e 
terrenos amplos e baratos. Criou-se então nessa área um aspecto de obsolescência, 
com prédios degradados e pouco substituídos, devido ao desinteresse de 
investimentos. 
O centro de Porto Alegre, ao invés de se expandir horizontalmente, expandiu-se 
verticalmente. A população de alta renda, assim como os de média renda avançam 
para a periferia, se instalando em áreas de amenidades. Constitui exemplo desse 
processo, os empreendimentos Alphaville, condomínios fechados de alto luxo, 
construídos na zona sul, que se constituem de espaços de segregação residencial. 
Por outro lado, também observamos a centralização de populações pobres, que 
tendem a ocupar áreaspróximas ao centro, por processos de invasão. Um exemplo 
disso é o eixo ao longo da Av. A. J. Renner, constituindo os bairros Humaitá, Dona 
Teodora e Vila Farrapos. 
38 
 
A Vila Farrapos como podemos ver, tende a sofrer processo de valorização devido 
ao incremento de infraestrutura. O bairro Humaitá também tem sua área valorizada 
devido a diversos empreendimentos ali implantados. Essa área virou foco de 
investimentos imobiliários, com facilidades de financiamento a longo prazo. Um 
exemplo são os condomínios verticais de classe de renda média que se instalam junto 
ao Parque General Mascarenhas de Moraes. 
O Bairro Cidade Baixa também se evidencia pela diversidade de apropriações de 
expressões culturais. A Travessa dos Venezianos é um exemplo, com suas casas 
estilo açoriano e que evidenciam um processo de inércia em meio à configuração da 
paisagem. Nessa mesma região, o Solar Lopo Gonçalves, antes, uma residência rural, 
permanece hoje como um marco de um tempo pretérito, contando através de sua 
arquitetura um pouco da história daquele época. 
Fica claro que as reformas realizadas no final do século XIX, e início do século XX 
lançaram modelos estéticos e paisagísticos de embelezamentos das cidades e de 
ocultamento da pobreza. Para isso, ocorreu a regulação da atuação dos instrumentos 
urbanísticos, como a legalização de atuação do mercado imobiliário, implantação de 
projetos de saneamento ambiental e paisagístico, enquanto a população de baixa 
renda era expulsa para as áreas mais afastadas da cidade, produzindo a segregação 
socioespacial das camadas mais pobres. 
Em suma, verificamos que a segregação na área de estudo é socioeconômica, já 
que as classes sociais se distribuem de forma desigual no espaço urbano. Mostra-se 
como uma estrutura urbana dualizada entre ricos e pobres, uma organização espacial 
corporativa e fragmentada, onde as elites podem controlar a produção e o consumo da 
cidade, através de instrumentos como o Estado e o mercado imobiliário, excluindo e 
abandonando a população de baixa renda. 
Os empreendimentos para as classes média alta e alta se deslocaram para outras 
localidades, resultando em novas formas e demandas com relação à moradia e por 
consequência em novas formas de organização espacial da cidade. 
 
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