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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ Centro de Ciências Departamento de Geologia Topografia para Geologia CONCEITOS E FUNDAMENTOS Professor Sebastián González Chiozza ELABORAÇÃO: Fevereiro 2015 1 – Visão geral da Topografia A TOPOGRAFIA Uma abordagem formal da definição de topografia nos diz que é a ciência aplicada que descreve, de maneira precisa, a forma, a dimensão e a posição relativa de todos os acidentes relevantes (naturais e artificiais) de uma porção da superfície terrestre. Etimologicamente, a palavra topografia deriva dos termos gregos “topos” (lugar) e “graphein” (escrever / desenhar), sintetizando fielmente o objetivo central desta disciplina, que consiste em representar graficamente, a configuração de uma porção do terreno detalhando as feições que estão na sua superfície. O conhecimento dos instrumentos e métodos que se destinam a realizar as medições do terreno, assim como as técnicas empregadas na representação gráfica de tais medições, também são matérias de estudo da topografia. Desde uma perspectiva um pouco mais simples, a topografia é uma disciplina técnica e funcional que tem como função primordial realizar medições precisas do terreno com dois possíveis propósitos: Descrever o terreno medido a partir dos pontos relevantes contidos nele; ou fazer marcações sobre um terreno já conhecido, determinando as posições que serão usadas como marcos para a implantação de diversos projetos (fundações, demarcação fundiária, lavras, perfurações, estradas, terraplenagem, etc.). Os profissionais das diferentes áreas de aplicação da topografia coincidem em que o levantamento topográfico do terreno constitui a base de qualquer projeto. A sequência habitual no desenvolvimento integral de um projeto utiliza a topografia em varias etapas: 1) Levantamento topográfico: Na fase inicial aporta o conhecimento pormenorizado do local gerando a planta topográfica que será o marco de referência indispensável para projetar. 2) Locação: Marcação no terreno das posições calculadas para implantação do projeto. Nivelamento: Materialização no terreno dos níveis de altura (cotas) calculados para implantação do projeto (terraplenagem). 3) Monitoramento: Em certos casos, uma vez concluído o projeto, determinadas estruturas precisam ser monitoradas através de medições precisas para verificar a sua estabilidade. Provavelmente, devido ao fato de ter uma finalidade essencialmente prática, em muitas ocasiões a topografia é considerada uma ferramenta ou um meio para concretizar diversos objetivos. Não obstante, não deixa de ser uma ciência sustentada por uma sólida base de fundamentos teóricos (principalmente físicos, geométricos e aritméticos) historicamente acumulados e estruturados com métodos, teorias e uma linguagem própria. Todo profissional envolvido na elaboração de um projeto que será implantado num terreno precisa ter um conhecimento profundo das diversas opções que a topografia oferece para medir esse terreno no que se refere a instrumentos, técnicas e métodos. Na maioria dos casos não é o geólogo, o engenheiro ou o arquiteto quem executa os serviços topográficos, mas ele precisa saber escolher o tipo de levantamento mais adequado aos requerimentos do projeto assim como os instrumentos apropriados. Certamente o conhecimento da matéria também servirá para avaliar a qualidade dos serviços contratados e resultará indispensável para interpretar e utilizar as informações recebidas em forma de memoriais, plantas e perfis. CAMPO DE ATUAÇÃO Ao considerar o campo de ação da topografia na sua função principal de executar medições sobre o terreno, deve observar-‐se que os levantamentos topográficos são realizados sem levar em consideração a curvatura da Terra, assumindo que a superfície medida é plana e que em todos os pontos as linhas norte – sul (meridianos) são paralelas. As áreas mapeadas são pequenas, geralmente considerando-‐se uma distância de 25 km como extensão máxima aceitável para um levantamento topográfico. Dentro desse limite o erro introduzido pela simplificação de considerar a superfície medida como plana é depreciável; para distâncias maiores estariam introduzindo-‐se distorções significativas por conta de estar-‐se menosprezando a curvatura da terra. A topografia trabalha a escala local: os levantamentos envolvem a caracterização pormenorizada dos terrenos medidos, incluindo em muitos casos um alto grau de detalhamento que chega a considerar contornos de lotes, construções, variações no relevo, afloramentos, benfeitorias, vegetação, rios e estradas, dentre outros. Complementando estas condições de operação no âmbito da topografia, resulta interessante considerar o campo de ação da geodésia, uma ciência parceira também se ocupa de medir a Terra. A geodésia pode ser definida como a ciência que tem por objetivoa determinação rigorosa da forma e dimensões de nosso planeta, considerando entre outros fatores, a sua curvatura e as forças gravitacionais. Em contraposição à topografia, a geodésia atua a escala planetária, ocupando-‐se também de levantamentos e representações cartográficas de grandes extensões da superfície terrestre (estados – países – continentes), nas quais os detalhes do terreno são desconsiderados. Não entanto, ao considerar a curvatura da Terra, os levantamentos também podem ser aplicados ao mapeamento de áreas pequenas. Em função de parâmetros geométricos e analíticos, a geodésia estabelece modelos teóricos da forma da Terra, que são utilizados como superfícies de referência para as projeções cartográficas e para todo trabalho georreferenciado, destacando-‐se que em numerosas situações esses sistemas de referência servem de base aos levantamentos topográficos. Existe, por exemplo, uma rede brasileira de estações geodésicas desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa rede oferece pontos de referencia materializados por todo o território brasileiro com informações precisas sobre suas posições horizontais e verticais. Qualquer levantamento topográfico (ou geodésico) secundário (de menor precisão) pode utilizar como base os marcos dessa rede. A DINÂMICA DA TOPOGRAFIA O objeto de estudo da topografia é a superfície topográfica, definida como a porção limitada do terreno que será medida e representada graficamente. A execução sistemática e organizada das medições do terreno com o objetivo de determinar a posição precisa das particularidades notáveis nele contidas denomina-‐se levantamento topográfico. O resultado imediato de um levantamento topográfico é um conjunto de dados numéricos geralmente organizados em tabelas. Na fase de gabinete, esses dados são analisados e processados para determinar erros de medição, correções e outros cálculos complementares que são utilizados na elaboração de desenhos técnicos para representar graficamente o terreno medido. O produto final obtido a partir de um levantamento topográfico sempre é uma representação gráfica com todas as feições relevantes do terreno. Dependendo dos objetivos específicos do trabalho, as medições podem ser projetadas em um plano horizontal, que recebe o nome de planta topográfica ou em um plano vertical, denominado perfil topográfico. Esses produtos gráficos constituem a forma mais clara e sintética de apresentar os dados coletados em um levantamento topográfico, pois permitem ter uma apreciação visual direta e simples do terreno, facilitando a análise e interpretação da informação. Segundo foi exposto, a topografia executa duas ações fundamentais: medir o espaço físico e representá-‐ lo graficamente, possuindo cada uma dessas funções seu próprio campo de atuação dentro da disciplina: a topometria e a topologia respectivamente (figura 1). A topometria é a área da topografia que se ocupa da execução dos levantamentos topográficos no terreno. Envolve o conjunto de métodos e instrumentos empregados para colher os dados que determinam as posições dos pontos relevantes, necessários para o traçado das plantas e perfis topográficos. A topometria subdivide-‐se em planimetria, altimetria e planialtimetria. A planimetria determina as posições relativas dos pontos no plano horizontal, sem interessar-‐se pelo fato de que estes possam ter alturas diferentes. Todas as medições são efetuadas sem considerar o relevo, obtendo-‐se sempre ângulos e distâncias horizontais. A altimetria visa quantificar distâncias verticais, determinando diferenças de nível ou cotas referidas a um plano horizontal de referência. Os levantamentos altimétricos permitem representar o relevo do terreno em perfil. A planialtimetria, resultante da combinação das duas divisões descritas, tem por finalidade a determinação simultânea da posição vertical e horizontal dos pontos. Figura 1 – Diagrama de fluxo sintetizando a dinâmica da topografia. Na base do diagrama diferenciam-‐se metodologias e instrumentos da topografia tradicional e atual. A topologia tem como função analisar a distribuição espacial dos elementos medidos no terreno e elaborar modelos gráficos técnicos que representem a configuração do espaço físico estudado. Plantas planimétricas, plantas topográficas com pontos cotados e curvas de nível, perfis topográficos e modelos tridimensionais do terreno são os principais produtos deste campo da topografia. 2 -‐ Topometria A TOPOMETRIA A topometria é a divisão da topografia que estuda as técnicas, os métodos e os instrumentos utilizados para a obtenção das posições de pontos topográficos, tendo como objetivo principal a execução de levantamentos topográficos através de métodos clássicos que envolvem medição de distâncias e ângulos. Pode-‐se afirmar que medir é a principal função da topometria. MEDIÇÕES É possível determinar certas quantidades de forma exata em virtude de que elas podemser contadas. Por exemplo, podemos dizer com total exatidão que um livro tem 324 páginas, que um auditório tem 86 cadeiras ou que um cofrinho contem R$ 78,65. Os três valores, sejam inteiros ou decimais, são absolutos e não poderiam ter maior exatidão. Não obstante, quando se trata de medir grandezas a situação é diferente: a topografia, ao igual que que muitas outras ciências que executam medições, enfrenta-‐se ao fato de que o valor verdadeiro da magnitude medida nunca poderá ser determinado. Grandezas tais como distâncias, volumes, ângulos e pesos, dentre outras, nunca poderão ser medidas de maneira exata devido a que sempre existirá um nível de precisão maior a aquele que foi utilizado para fazer a medição. Ao medir um comprimento com uma régua graduada em centímetros, é possível estimar o valor em milímetros. Se para aumentar a precisão da medição, utiliza-‐se uma régua graduada em milímetros, será viável estimar o comprimento medido em décimas de milímetro, e assim por diante. Quanto mais preciso o instrumento usado, mais próximo ao valor verdadeiro estará o resultado, mas nunca será possível obter o valor absoluto e exato (ainda que esse valor realmente exista). Os topógrafos estamos obrigados a trabalhar fazendo uma concessão: desistir da pretensão de obter o valor verdadeiro ao fazer uma medição. Mesmo assim, dedicamos grandes esforços para conseguir resultados que estejam muito bem aproximados a esse valor absoluto desconhecido. Um importante ponto de apoio para essa tarefa está em que existem outros valores teóricos (não medidos) que sim podemos conhecer com total exatidão e que servem para verificar a precisão e os erros de um conjunto de medições e aplicar ajustamentos que permitem refinar os levantamentos naturalmente imperfeitos. Esses valores referenciais estão baseados em fundamentos geométricos básicos tais como “a soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a 180°” ou “a soma das projeções naturais das distâncias percorridas num percurso que retorna ao ponto de partida é igual a zero”. No tratamento específico dos diversos levantamentos veremos como esses valores teóricos são utilizados. CAMPOS DE ATUAÇÃO Sabemos que a topometria tem dois campos de atuação específicos que são a planimetria e a altimetria, e um terceiro campo, a planialtimetria, que resulta da junção desses dois. Combinando ângulos e distâncias, as duas grandezas que medimos em topometria, e os mencionados campos de atuação, obtemos uma ampla gama de parâmetros que podem ser determinados nos levantamentos topométricos conforme é apresentado no quadro 1. A GRAVIDADE COMO REFERÊNCIA Como é de supor, para poder realizar qualquer medição planimétrica ou altimétrica é preciso determinar planos horizontais e direções verticais, e toda referência de horizontalidade ou verticalidade em topometria é determinada em função do campo gravitacional da Terra. O aferimento da horizontalidade dos equipamentos topográficos de medição geralmente é realizado através de instrumentos que tem seu funcionamento baseado na força de gravidade, tais como o fio de prumo e os níveis de bolha. O fio de prumo é um instrumento auxiliar elementar que, regido pelo campo gravitacional da Terra, determina sempre uma linha reta vertical que é considerada referência para determinação de superfícies horizontais e direções verticais. Os níveis de bolha são instrumentos simples destinados a determinar a horizontalidade de um plano, incorporados na maioria dos equipamentos topográficos. O dispositivo consiste em um pequeno recipiente transparente e fechado de forma tubular ou circular que contém líquido e uma bolha de ar. Em resposta à força gravitacional, o ar que é o fluido mais leve, sempre irá ocupar o ponto mais elevado do receptáculo, que na posição horizontal está localizado no centro do mesmo e sinalizado com uma marca. Divisão Distâncias Ângulos Pl an ia lti m et ria Altimetria Diferença de Nível Altitude / Cota (Distância Inclinada) Ângulos Verticais (Zenital -‐ Nadiral -‐ Horizontal) Planimetria Distância Horizontal (Distância Inclinada) Ângulos de Poligonais (Interno -‐ Externo -‐ Deflexão)Ângulos de Orientação (Azimute -‐ Rumo) Quadro 1 – Campos de atuação da topometria e as principais grandezas angulares e lineares medidas. PONTOS RELEVANTES e ALINHAMENTOS Em topometria, a medição do espaço físico sempre é realizada a partir de elementos pontuais que podem ser materializados no terreno e que possuem algum significado na configuração do local que será medido. Na execução de um levantamento topográfico, trabalha-‐se fundamentalmente determinando as posições dos pontos relevantes do terreno que são todos aqueles que depois permitirão elaborar o desenho técnico representando o espaço medido com o grau de detalhamento desejado. Por exemplo, no levantamento de um lote com formato poligonal, os vértices são os pontos relevantes que permitem definir o contorno do mesmo; uma vez determinadas essas posições pontuais, é possível obter os outros parâmetros que definem o elemento medido, tais como forma, tamanho e orientação. A tarefa de determinar as posições dos pontos relevantes num levantamento topográfico geralmente está baseada na medição de alinhamentos; entendendo-‐se por alinhamento uma linha reta com direção e sentido definida a partir de dois pontos materializados no terreno. A situação de qualquer alinhamento pode ser caracterizada através de medições angulares e de comprimento. O primeiro passo ao efetuar o reconhecimento do terreno que será levantado é identificar quais são os pontos relevantes. DISTÂNCIAS O sistema de unidades oficialmente adotado no Brasil para medição de distâncias é o sistema métrico decimal que tem como unidade principal o metro. O metro [m], que é a unidade de medida de comprimento integrada ao Sistema Internacional de Unidades, foi definido originalmente na França a partir da divisão em dez milhões (10000000) de partes iguais da distância do polo ao Equador medida sobre um meridiano. Atualmente, adota-‐se como metro padrão a distância percorrida pela luz no vácuo durante o intervalo de tempo correspondente a 1/299792458 segundo. A unidade principal de comprimento é o metro; não obstante, há muitas situações nas quais essa unidade deixa de ser prática; para medir grandes extensões ela é muito pequena e para distâncias muito curtas ela resulta muito grande. Atendendo às necessidades devindas das diversas escalas de trabalho, existem as unidades secundárias de comprimento definidas a partir de múltiplos e submúltiplos do metro. No quadro 2 encontramos o intervalo de unidades utilizadas em topografia com os respectivos fatores de multiplicação em relação ao metro. quilômetro hectômetro decâmetro metro decímetro centímetro milímetro 1 km = 1 hm = 1 dam = 1 m = 1 dm = 1cm = 1 mm = 1000000 mm 100000 mm 10000 mm 1000 mm 100 mm 10 mm 1 mm 100000 cm 10000 cm 1000 cm 100 cm 10 cm 1 cm 0,1 cm 10000 dm 1000 dm 100 dm 10 dm 1 dm 0,1 dm 0,01 dm 1000 m 100 m 10 m 1 m 0,1 m 0,01 m 0,001 m 100 dam 10 dam 1 dam 0,1 dam 0,01 dam 0,001 dam 0,0001 dam 10 hm 1 hm 0,1 hm 0,01 hm 0,001 hm 0,0001 hm 0,00001 hm 1 km 0,1 km 0,01 km 0,001 km 0,0001 km 0,00001 km 0,000001 km Quadro 2 – Unidades, subunidades e fatores de conversão do sistema métrico. Como detalhado no quadro 1, há basicamente quatro distâncias que podemos considerar em topografia: Diferença de nível (ΔN): Distância vertical entre dois pontos situados a alturas diferentes. Altitude: O nível médio dos mares, com um valor de 0 metros, é adotado como referência para estabelecer altitudes. Portanto, a altitude é definida como a distância vertical entre um ponto e o nível médio dos mares, apresentando valores positivos ou negativos para pontos situados acima ou abaixo desse nível de referência. Cota: Distância vertical entre um ponto e um nível de referência arbitrário. Geralmente as cotas são utilizadas em trabalhos de pequena magnitude e de ordem local que não requerem um referenciamento absoluto. Neste caso o plano de referência adota o valor de 0 metros e as cotas terão valores positivos para pontos acima desse plano e valores negativos corresponderão aos pontos com altura inferior ao mesmo. O plano de referência usualmente é um plano imaginário que não necessariamente se encontra materializado no terreno. Distância horizontal (DH): Distância horizontal direta entre dois pontos do terreno. Adicionalmente, podemos considerar o conceito de distância inclinada (DI), definido como a distânciadireta entre dois pontos situados a alturas diferentes. Esta distância é utilizada em certas situações para calcular distâncias horizontais ou verticais através de funções trigonométricas. ÂNGULOS Um ângulo é uma medida do afastamento entre duas retas que têm um ponto comum. Nas medições angulares podem ser utilizados diferentes sistemas de unidades, sendo os graus (decimais e sexagesimais) os de uso mais frequente em topografia. Um grau [°] corresponde a 1/360 de uma circunferência e pode por sua vez ser dividido em 60 minutos [’], cada um dos quais também é divisível em 60 segundos [”]. Ao expressar um valor angular em graus, minutos e segundos (ex. 57° 26’ 44”) estamos utilizando um sistema de numeração sexagesimal (com base sessenta); não entanto, o mesmo valor também pode ser expressado na forma decimal onde os minutos e segundos são transformados na fração decimal do valor (ex. 57,44583°). Ao transformar valores é importante considerar que 1 segundo equivale a 1/3600 de grau (1” = 0,00028°), já que para manter o mesmo nível de precisão de um valor expressado em graus, minutos e segundos, deveremos considerar no mínimo quatro dígitos após a vírgula na forma decimal. Em topometria, a direção de um alinhamento é determinada pelo ângulo que ele forma com uma direção de referência. Seguindo o quadro 1, podemos considerar 3 classes de ângulos que são determinadas a partir do tipo de referência adotado: Os ângulos verticais, que utilizam como referência de medição uma direção determinada gravimetricamente; os ângulos de orientação, que utilizam como referência de medição a direção do norte; e os ângulos de poligonais, que utilizam como referência de medição uma direção arbitrária. Ângulos Verticais Existem três tipos de ângulos verticais que podem ser considerados: O ângulo nadiral é aquele que tem origem na direção do nadir (direção do fio de prumo, contrária ao zênite). Um ângulo nadiral tem um valor de 0° na direção nadiral, 90° na horizontal e 180° na direção zenital. Atualmente este tipo de ângulo não é muito utilizado em topometria, mas no passado recente havia muitos teodolitos que eram configurados de fábrica para medir ângulos verticais do tipo nadiral. O ângulo zenital é aquele que tem origem na direção do zênite, ou seja, a direção contrária à direção do fio de prumo prolongada ao infinito. A direção zenital pode ser definida a partir de uma linha vertical imaginária que parte do observador e aponta para o ponto mais elevado do firmamento. Um ângulo zenital tem um valor de 0° na direção zenital, 90° na horizontal e 180° na direção nadiral. A grande maioria das estações totais são configuradas para medir ângulos verticais do tipo zenital. O ângulo de altura é aquele que é medido a partir do plano horizontal. Este tipo de ângulo adota um valor de 0° no plano horizontal, com incrementos positivos até 90° na direção zenital e valores negativos até -‐90° na direção nadiral. Este tipo de ângulo é muito utilizado na avaliação da inclinação de superfícies e em alguns métodos altimétricos, o instrumento comumente utilizado para medir ângulos verticais de altura é o clinômetro. Ângulos de poligonais Trata-‐se de ângulos determinados sobre o plano horizontal cuja medição é realizada a partir de uma direção arbitrária geralmente determinada pelas configurações particulares do levantamento. Frequentemente, estes ângulos são medidos entre os alinhamentos determinados ao trabalhar traçando poligonais no terreno, nos procedimentos aplicados em levantamentos planimétricos. Basicamente, encontramos três tipos de ângulos dentro desta classe: ângulo interno, ângulo externo e ângulo de deflexão. Ângulo interno (AI): Ao trabalhar com uma poligonal fechada, os ângulos internos são todos aqueles que ficam determinados no interior do polígono, inclusive aqueles com valores maiores que 180°. A soma dos ângulos internos de um polígono é sempre igual a um múltiplo de 180° conforme a expressão matemática 2.1, onde n é o número de vértices da poligonal. 𝐴𝐼 = 𝑛 − 2 ∗ 180° (2.1) Ângulo externo (AE): Ao trabalhar com uma poligonal fechada, os ângulos externos são todos aqueles que ficam determinados na área externa ao polígono, inclusive aqueles com valores inferiores a 90°. A soma dos ângulos externos de um polígono é sempre igual a um múltiplo de 180° conforme a fórmula 2.2, onde n é o número de vértices da poligonal. 𝐴𝐸 = 𝑛 + 2 ∗ 180° (2.2) Ângulo de deflexão (AD): Ângulo compreendido entre as direções de avanço de dois alinhamentos que se encontram num vértice da poligonal. Ao medir deflexões sequenciadas na mesma poligonal o símbolo do valor angulardeve ser invertido quando há uma inversão no sentido de medição (horário / anti-‐horário). Por exemplo todas as deflexões da figura 4 são medidas em sentido horário com exceção do ponto 3; consequentemente o valor nesse ponto leva símbolo negativo. A soma dos ângulos de deflexão numa poligonal fechada é igual a ± 360° (fórmula 2.3). 𝐴𝐷 = ± 360° (2.3) Ângulos de orientação Trata-‐se de ângulos determinados sobre o plano horizontal cuja medição é realizada utilizando como referência o norte, que é uma direção universalmente unívoca e fácil de determinar. Em qualquer ponto da superfície terrestre, o norte está contido numa linha cartográfica denominada meridiano, que passa pelos polos norte e sul e pela posição do observador. Dito de outra forma, a direção norte é sempre aquela que aponta para o polo norte. O ângulo de orientação mais frequentemente usado é o azimute, não entanto, a orientação dos alinhamentos pode ser definida também utilizando o rumo. Em qualquer caso, os ângulos de orientação são essenciais para estabelecer a situação do levantamento realizado em relação ás configurações geográficas do local. Em outras palavras, ao orientar (e georreferenciar) um levantamento, elimina-‐se o seu caráter abstrato com sua inserção no contexto real. Azimute (Az): O azimute de um alinhamento é o ângulo medido em sentido horário a partir da direção do norte até a direção considerada. Os ângulos azimutais adotam valores entre 0° e 360°. Rumo (R): O rumo é um ângulo medido desde o alinhamento N-‐S até a direção considerada. O critério fundamental para definir um rumo é o de adotar o menor ângulo possível. Este ângulo pode ser contado a partir da direção norte ou da direção sul e o sentido de medição pode ser horário ou anti-‐horário, mas seu valor nunca excede os 90°.Ao informar-‐se um rumo, além do valor numérico do ângulo deve acrescentar-‐se a sigla com os pontos cardeais (NE, SE, SW, NW) que indicam o quadrante da rosa dos ventos que ocupa a direção caracterizada. A primeira letra sempre indica a direção a partir da qual se realiza a contagem angular e a segunda, a direção da medição. A notação do rumo admite dois formatos: com o valor angular entre as duas iniciais (exemplo: S 36°E), ou com as duas iniciais depois do valor (exemplo: 36°SE). Conversões entre Rumos e Azimutes podem ser necessárias em diversas circunstancias. Embora a configuração angular varia para cada quadrante, em qualquer caso as transformações entre rumos e azimutes são facilmente realizadas através de uma simples operação aritmética (figura 2). Figura 2 – Exemplos de conversões entre rumos e azimutes para os quatro quadrantes. No pé de cada diagrama constam as formulas de transformação correspondentes ao quadrante. Ao expressar rumos deve lembrar-‐se sempre de indicar as iniciais do quadrante. NORTE VERDADEIRO e NORTE MAGNÉTICO Para prosseguir com a discussão sobre ângulos de orientação, certos conceitos relacionados com a direção norte devem ser esclarecidos. Até o momento falamos de um único norte sem distinções, mas o fato é que ao trabalhar em topografia existem dois nortes diferentes que podem ser considerados: o norte verdadeiro e o norte magnético. O norte verdadeiro é determinado a partir dos polos norte e sul geográficos, cujas posições fixas estão definidas pela interseção do eixo de rotação da Terra com a sua superfície. A direção do norte verdadeiro pode ser estabelecida através de observações astronômicas. O norte magnético é determinado em função do campo magnético da Terra, utilizando uma bússola. Entre aproximadamente 2900 e 5500 km de profundidade, a temperaturas superiores a 2200°C, encontra-‐se o núcleo externo da Terra, uma camada esférica composta essencialmente por ferro e níquel em estado fluido. Nessa região ocorrem processos de circulação da matéria liquida que, através de fenômenos eletromagnéticos, dão origem ao campo magnético terrestre. Esse campo apresenta seus polos magnéticos em forma de áreas ovais que estão localizadas a pouca distância dos polos magnéticos geográficos, mas não coincidindo exatamente com eles. A bússola, instrumento simples composto por uma agulha magnética com capacidade de girar livremente no plano horizontal, é o instrumento usado para determinar o norte magnético a partir da direção indicada pelo ponteiro. DECLINAÇÃO MAGNÉTICA Ao utilizar a bússola, a agulha se alinha com o norte magnético, mas a direção indicada não coincide exatamente com o norte verdadeiro, mostrando variações para leste ou oeste, dependendo da localidade. O ângulo formadoentre as direções do norte verdadeiro e do norte magnético recebe o nome de declinação magnética (δ) e pode ser utilizado para determinar o norte verdadeiro ao trabalhar com uma bússola. Não obstante, antes de utilizar a declinação magnética é preciso conhecer um pouco melhor o comportamento deste parâmetro, especialmente em relação às variações que ele pode apresentar. Devido às irregularidades existentes na forma e composição da Terra e ao seu caráter dinâmico, o campo magnético é diferente para cada localização e também esta sujeito a variações temporais. Consequentemente, a declinação magnética a ser utilizada deve ser determinada considerando as coordenadas do local e o momento de aplicação. O valor angular de δ é determinado quantitativamente, podendo ser negativo (ou ocidental) quando o norte magnético estiver ao oeste do norte verdadeiro, ou positivo (oriental) em caso contrario. No Brasil, a caracterização do campo magnético da Terra e a determinação da declinação magnética e suas variações são realizados pelo Observatório Nacional por meio de estudos geofísicos. Atualmente é possível obter a declinação magnética acessando à pagina web dessa instituição oficial assim como também através de outros sites de reconhecida credibilidade. Pouco tempo atrás, a forma usual de obter o valor de δ para uma certa localização e um determinado instante, era utilizando uma carta magnética. Além da informação geográfica, uma carta magnética apresenta dois tipos de linhas: as curvas isogônicas, que são linhas indicativas da declinação magnética com valores em graus e as curvas isopóricas, que apresentam valores da variação anual da declinação em minutos. Utilizando uma carta, a declinação será então calculada através da expressão abaixo, derivada da expressão do termo genérico de uma progressão aritmética. 𝛿 = 𝛿𝑖 + 𝑣 𝐴 − 𝐴𝑒 (2.4) Onde: δ é o valor da declinação magnética atual do ponto; δi, o valor da declinação magnética inicial consultada na carta (se o ponto não estiver localizado exatamente sobre uma curva isogônica, o valor é calculado por interpolação); v, o valor da variação anual de declinação consultada no mapa (se necessário, faz-‐se a interpolação entre curvas isopóricas); A, o ano atual (com fração decimal); e Ae, o ano de edição da carta magnética (com fração decimal). As variações da declinação magnética com o lugar geográfico e com o tempo expostas anteriormente respondem diretamente ao comportamento do campo magnético da Terra e são previsíveis, portanto são conhecidas como variações regulares e sempre devem ser levadas em consideração. Não entanto, existem outras variações denominadas irregulares que podem ser do tipo local, quando produzidas por elementos com campo magnético próprio, como massas de ferro, minerais magnéticos ou fontes de alta tensão; ou do tipo acidental, se causadas pelas tempestades magnéticas (fenômeno natural derivado da atividade solar). Importância do NV Em muitas ocasiões, os levantamentos topográficos são orientados utilizando a bússola, mas é preciso salientar a importância de realizar imediatamente a correção da declinação magnética para referenciar o trabalho com o norte verdadeiro. Dessa forma, toda a informação quantitativa gerada e todo o material gráfico produzido terão um caráter permanente e definitivo, com vigência ilimitada, podendo ser utilizado em épocas posteriores sem necessidade de atualizações ou correções. MEDIÇÃO DE POSIÇÕES PONTUAIS – MÉTODOS BÁSICOS Dentre os vários métodos existentes para levantar posições pontuais através de medições topométricas envolvendo ângulos e distâncias, abordaremos os três mais frequentemente utilizados por serem práticos e efetivos: irradiação, intercessão e poligonal. Na atualidade, os instrumentos preferentemente utilizados em levantamentos de precisão são as estações totais e os receptores geodésicos (GPS ou GNSS). Alternativamente, para levantamentos expeditos, ou seja de execução rápida e reduzida precisão, podem utilizar-‐se trenas (de fita ou a laser) para obtenção de distancias e bússolas ou goniômetros para medições angulares. No passado recente (até os últimos anos do século XX), os levantamentos de precisão eram regularmente realizados com teodolito e trena. Irradiação: Com o instrumento instalado num ponto fixo de medição (estação) realiza-‐se o levantamento de diversos pontos relevantes através de medições irradiadas desde a posição do instrumento. Para cada irradiação é preciso medir a distancia horizontal até o ponto irradiado e o angulo horizontal formado entre a direção de referencia escolhida (zero angular) e a direção do ponto visado. Ao trabalhar com uma única estação pode utilizar-‐se o norte como direção de referencia. Quando a estação de medição pertence a um levantamento por poligonal, utiliza-‐se como referencia (zeroangular) a direção a ré (visada para a estação anterior). Interseção: Este método tem seu uso no levantamento de detalhes, quando o ponto a levantar e inacessível (não é possível obter a medida da distancia até ele) mas pode ser claramente visualizado. Com sua aplicação, a posição de um único ponto é determinada a partir de duas estações diferentes, realizando-‐se em cada uma delas uma medição angular que permita definir a orientação do alinhamento entre a estação e o ponto. A orientação e o comprimento do segmento de reta entre as duas estações deverão ser conhecidos para poder projetar os dois alinhamentos numa planta e estabelecer a posição do ponto na intercessão dos mesmos. Poligonais: Uma poligonal é um traçado geométrico composto uma série de sucessivas linhas retas conectadas. As poligonais podem ser fechadas, quando a sequencia de retas se fecha sobre o mesmo ponto de partida (figura 13) ou abertas, se o ponto de chegada é diferente ao ponto inicial. Ao fazer o levantamento topométrico de uma poligonal, as posições relativas dos pontos são determinadas pela medição de distâncias horizontais em linha reta e dos ângulos formados entre os alinhamentos. Para isso o topógrafo e seu adjuvante assumem a posição de cada ponto a ser medido efetuando-‐se visadas a ré e vante, num procedimento de campo conhecido como caminhamento. O traçado de uma poligonal geralmente serve de base para o levantamento de detalhes através de irradiações. Posicionamento satelital: Utilizando-‐se receptores GPS ou GNSS, são determinadas as coordenadas geodésicas da posição que o equipamento ocupa. O tempo e a precisão do posicionamento são variáveis que dependem, dentre outros fatores, das características técnicas da unidade receptora e do método de posicionamento adotado.
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