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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ Centro de Ciências Departamento de Geologia Topografia para Geologia FUNDAMENTOS DE CARTOGRAFIA E GEODÉSIA Professor Sebastián González Chiozza ELABORAÇÃO: Fevereiro 2015 3 – Cartografia e Geodésia CARTOGRAFIA Cartografia A cartografia combina ciência, arte e técnica na sua função de representar graficamente a superfície da Terra através de desenhos técnicos como mapas, cartas ou plantas. No seu trabalho, o cartógrafo geralmente transforma dados numéricos em mapas, baseando-se num alto grau de conhecimento da superfície a ser representada. Nessa tarefa, deverá adotar um sistema de projeção e uma escala de representação adequados e fazer uso de faculdades artísticas e técnicas para harmonizar com simplicidade e clareza a representação dos elementos relevantes através de pontos, traços, cores e símbolos. Mapas, cartas e plantas Mapas, cartas e plantas, os principais produtos da cartografia, são representações gráficas bidimensionais que mostram uma porção da superfície terrestre com a localização de diversos objetos ou fenômenos significativos, tais como águas, relevo, geologia, vegetação, vias, obras públicas, divisões administrativas, etc.. Sua elaboração baseia-se na projeção dos elementos do terreno sobre um plano através de pontos, linhas, áreas ou símbolos, que conformam um conjunto de informações espaciais. São elementos fundamentais das cartas e plantas o sistema de referência, a escala, a orientação e a legenda. Uma planta é uma representação gráfica de uma parte limitada da superfície terrestre, realizada mediante uma projeção ortogonal sobre um plano horizontal local, em escalas maiores que 1:10000 e sem considerar a curvatura da Terra. Já, um mapa constitui uma representação gráfica sobre uma superfície plana, dos detalhes físicos, naturais e artificiais, de parte ou de toda a superfície terrestre, levando em consideração a curvatura da Terra. Um mapa sempre adota algum tipo de projeção cartográfica e está relacionado a um sistema de referência de coordenadas e orientação. As representações gráficas são realizadas mediante símbolos ou convenções, que permitem a avaliação das distâncias, a orientação das direções e a localização geográfica de pontos, áreas e detalhes. O termo carta em muitas ocasiões é considerado como um sinônimo de mapa, não entanto, essa denominação também é utilizada ao fazer referência ao material cartográfico organizado sistematicamente para desenvolver um mapeamento específico detalhado de uma superfície planetária (geralmente um país); neste caso a cartografia territorial é subdividida em um mosaico de mapas gerados com escalas progressivamente maiores que são denominados folhas. Um excelente exemplo é a Carta Geológica ao Milionésimo do Brasil. A Carta Geológica do ao Milionésimo Brasil A Carta Geológica ao Milionésimo do Brasil a cargo do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), encontra-se em plena fase de desenvolvimento. O projeto está baseado no mapeamento primário do território nacional em cartas 1:1.000.000, que por sua vez estão subdivididas em folhas 1:250.000. A cartografia da carta se completa com progressivas divisões menores que levam a um incremento do nível de detalhamento através da elaboração de folhas nas escalas 1:100.000, 1:50.000, 1:25.000 e 1:10.000. No site da CPRM (www.cprm.gov.br) podem ser consultadas as folhas disponíveis e o estado de avanço do projeto. PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS Um dos maiores desafios da cartografia é o de transferir as feições presentes na superfície curva da Terra para a superfície plana do mapa. Este processo e realizado através das projeções cartográficas, que aplicam diversas técnicas e sistemas para realizar as transformações desejadas. Não entanto, devido ao fato de que a superfície curva original não é desenvolvível, não existe uma projeção cartográfica ideal e perfeita. Isto significa que a forma esférica não pode ser transformada num plano sem introduzir algum tipo de distorção. Em consequência, o desenvolvimento da projeção inevitavelmente distorce algum atributo dos elementos mapeados: área, forma, direção, distância. Há diversas técnicas de projeção cartográfica que permitem obter mapas preservando algum dos citados atributos: A projeção conforme preserva localmente a forma e os ângulos. A projeção equivalente preserva as áreas. A projeção equidistante preserva as distâncias. A projeção afilática não conserva propriedades, mas minimiza todas as deformações em conjunto. As técnicas de projeção cartográfica consistem em transformar a esfera numa superfície auxiliar desenvolvível, ou seja numa forma geométrica capaz de tornar-se plana, tal como um cilindro, um cone ou mesmo um plano. As projeções cartográficas podem ser classificadas através de certas características que dependem da técnica aplicada para seu desenvolvimento. Considerando a forma geométrica da superfície de projeção tem-se as projeções de natureza cônica, cilíndrica ou plana. Em base à orientação relativa dessa superfície de projeção em relação à superfície projetada define-se a orientação da projeção como normal, transversa ou obliqua. Outro aspecto importante é o tipo de contato entre ambas superfícies, podendo este ser tangencial ou secante. ESCALAS DE REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA Em qualquer representação cartográfica, a escala é um componente essencial que estabelece a relação numérica entre as distancias medidas no desenho e suas correspondentes no campo real. Este elemento cartográfico de referencia dimensional pode ser apresentado numericamente ou de forma gráfica, sendo o mais conveniente a utilização conjunta dos dois formatos. Escala numérica Em cartografia a escala numérica sempre se expressa como uma razão entre o valor unitário e um denominador maior, como por exemplo 1:2500. Essa expressão numérica é adimensional, ou seja, não tem unidades e a interpretação direta da mesma estabelece que uma unidade no desenho equivale a 2500 unidades no terreno, independentemente da unidade adotada; por exemplo 1mm representa 2500mm ou 1cm representa 2500cm. A relação de equivalência estabelecida por uma escala permite transformar qualquer distancia gráfica na sua correspondente real e viceversa. Assim, seguindo com o mesmo exemplo, um trajeto que mede 2,2cm no mapa representará uma distancia real de 5500cm, ou seja 55 metros. A fórmula utilizada para a determinação da escala numérica é: N = Dd Onde: N = denominador da escala; d = distância no desenho; D = distância no terreno. Por exemplo, se uma feição é representada no desenho com um centímetro de comprimento e sabe-se que seu comprimento no terreno é de 200 metros, então a escala de representação utilizada é de 1:20.000. Ao utilizar a fórmula para o cálculo da escala deve-se ter o cuidado de transformar as distâncias para a mesma unidade. As escalas podem ser de redução (N > 1), ampliação (N < 1) ou naturais (N = 1). Em cartografia comumente são empregadas escalas de redução; as escalas de ampliação são utilizadas quando se deseja aumentar o tamanho dos objetos, por exemplo em fotografias de detalhes; já a escala natural é adotada para manter as dimensões originais do objeto representado. As maiores escalas são aquelas que apresentam denominadores pequenos (por exemplo, 1:50, 1:100, 1:200, etc.) e permitem fazer representaçõespormenorizadas do terreno cobrindo áreas de dimensões reduzidas. Já as escalas consideradas pequenas possuem denominadores grandes (1:25.000, 1:100.000, 1:750.000, etc.) e permitem cartografar áreas maiores, mas com menor grau de detalhamento. Escala nominal Muitas vezes de forma auxiliar adota-se uma escala nominal. Este tipo de escala também estabelece a relação entre a distância gráfica e a correspondente distância real, mas a diferença da escala numérica, na escala nominal utilizam-se as unidades mais adequadas. Exemplo: À escala numérica de 1:25000, poderia ser expressada nominalmente das seguintes formas: 1mm = 25m ou 1cm = 250 m ou 1cm = 0,25km. Escala gráfica A escala gráfica consiste em um segmento de reta dividido de modo a mostrar graficamente a relação entre as dimensões dos elementos representados no desenho e seus correspondentes no terreno. Para cada subdivisão marcada no segmento principal, indica-se a distância real contada desde a origem (figura 1). Neste tipo de escala é imprescindível indicar as unidades. Para a construção de uma escala gráfica o primeiro passo é conhecer a escala do mapa. Por exemplo, seja um mapa na escala 1:5000. Deseja-se desenhar um segmento no mapa que corresponda a 100 metros no terreno. Aplicando os conhecimentos mostrados anteriormente deve-se desenhar um segmento com 2 centímetros de comprimento. De maneira inversa, a partir de uma escala gráfica podem ser obtidos diretamente os valores de d e D para calcular o denominador da escala numérica com a formula supracitada. Figura 1 – Escala gráfica. Em este exemplo cada subdivisão menor representa uma distancia real de 200 metros. Os valores indicados são contabilizados desde a origem e as unidades são indicadas junto ao último valor. Ao oferecer uma impressão visual direta, a escala gráfica facilita a leitura e interpretação das dimensões de um mapa e pode ser usada por comparação, mesmo sem uso de escalímetro. Não entanto, ela expõe sua maior vantagem quando existem deformações do papel (retrações, ampliações, reduções) voluntárias ou não; nessas situações a escala numérica fica obsoleta, mas a gráfica continua sendo válida já que é afetada igualmente pelas deformações, mantendo então a proporcionalidade com o desenho. Esse mesmo beneficio também e aproveitado ao realizar impressões em diversos tamanhos a partir de material cartográfico digital com escala gráfica integrada. ORIENTAÇÃO Um outro aspecto fundamental em cartografia é a determinação de direções através de ângulos de orientação. Tais ângulos são medidos horizontalmente e utilizando como referência o norte, que é a direção convencional universalmente unívoca. Em qualquer ponto da superfície terrestre, o norte está contido numa linha cartográfica denominada meridiano, que passa pelos polos norte e sul e pela posição do observador. Dito de outra forma, a direção norte é sempre aquela que aponta para o polo norte. O ângulo de orientação mais frequentemente usado é o azimute, não entanto, as orientações podem ser definidas também utilizando o rumo. Azimute (Az): O azimute é o ângulo medido em sentido horário desde a direção do norte até a direção considerada. Os ângulos azimutais adotam valores entre 0° e 360°. Rumo (R): O rumo é determinado através de um ângulo que pode ser medido em sentido horário ou antihorário a partir da direção norte ou da direção sul. Esta definição admite quatro medições possíveis, não entanto o critério fundamental para definir um rumo é o de adotar o menor ângulo possível até a direção considerada, lembrando que o valor nunca excede os 90°. Ao informar-se um rumo, além do valor numérico do ângulo deve acrescentar-se a sigla com os pontos cardeais (NE, SE, SW, NW) que indicam o quadrante da rosa dos ventos que ocupa a direção caracterizada. A primeira letra sempre indica a direção a partir da qual se realiza a contagem angular e a segunda, o sentido da medição. A notação do rumo aceita dois formatos: com o valor angular entre as duas iniciais (exemplo: S 36°E), ou com as duas iniciais depois do valor (exemplo: 36°SE). Conversões entre Rumos e Azimutes podem ser necessárias em diversas circunstancias. Embora a configuração angular varia para cada quadrante, em qualquer caso as transformações entre rumos e azimutes são facilmente realizadas através de uma simples operação aritmética (figura 2). Figura 2 – Exemplos de conversões entre rumos e azimutes para os quatro quadrantes. No pé de cada diagrama constam as formulas de transformação correspondentes ao quadrante. Ao expressar rumos deve lembrar-se sempre de indicar as iniciais do quadrante. NORTE VERDADEIRO e NORTE MAGNÉTICO Para prosseguir com a discussão sobre ângulos de orientação, certos conceitos relacionados com a direção norte devem ser esclarecidos. Até o momento falamos de um único norte sem distinções, mas o fato é que ao trabalhar em topografia existem dois nortes diferentes que podem ser considerados: o norte verdadeiro e o norte magnético. O norte verdadeiro é determinado a partir dos polos norte e sul geográficos, cujas posições fixas estão definidas pela interseção do eixo de rotação da Terra com a sua superfície. A direção do norte verdadeiro pode ser estabelecida através de observações astronômicas ou de estudos geodésicos. O norte magnético é determinado em função do campo magnético da Terra, utilizando uma bússola. Entre aproximadamente 2900 e 5500 km de profundidade, a temperaturas superiores a 2200°C, encontra-se o núcleo externo da Terra, uma camada esférica composta essencialmente por ferro e níquel em estado fundido. Nessa região ocorrem processos de circulação da matéria fluida que, através de fenômenos eletromagnéticos, dão origem ao campo magnético terrestre. Esse campo apresenta seus polos magnéticos em forma de áreas ovais que estão localizadas a pouca distância dos polos magnéticos geográficos, mas não coincidindo exatamente com eles. A bússola, instrumento simples composto por uma agulha magnética com capacidade de girar livremente no plano horizontal, é o instrumento usado para determinar o norte magnético a partir da direção indicada pelo ponteiro. DECLINAÇÃO MAGNÉTICA Ao utilizar a bússola, a agulha se alinha com o norte magnético, mas a direção indicada não coincide exatamente com o norte verdadeiro, mostrando variações para leste ou oeste, dependendo da localidade. O ângulo formado entre as direções do norte verdadeiro e do norte magnético recebe o nome de declinação magnética (δ) e pode ser utilizado para determinar o norte verdadeiro ao trabalhar com uma bússola. Não obstante, antes de utilizar a declinação magnética é preciso conhecer um pouco melhor o comportamento deste parâmetro, especialmente em relação às variações que ele pode apresentar. Devido às irregularidades existentes na forma e composição da Terra e ao seu caráter dinâmico, o campo magnético é diferente para cada localização e também esta sujeito a variações temporais. Consequentemente, a declinação magnética deve ser determinada considerando as coordenadas do local e o momento de aplicação. O valor angular de δ é determinado quantitativamente, podendo ser negativo (ou ocidental) quando o norte magnético estiver ao oeste do norte verdadeiro, ou positivo (oriental) em caso contrario. No Brasil, a caracterização do campo magnético da Terra e a determinação da declinação magnética com suas variações são realizados pelo Observatório Nacional por meio de estudosgeofísicos. Atualmente é possível obter a declinação magnética acessando à pagina web dessa instituição oficial (www.on.br) assim como também através de outros sites de reconhecida credibilidade. Pouco tempo atrás, a forma usual de obter o valor de δ para uma certa localização e um determinado instante, era utilizando uma carta magnética. Além da informação geográfica, uma carta magnética apresenta dois tipos de linhas: as curvas isogônicas, que são linhas indicativas da declinação magnética com valores em graus e as curvas isopóricas, que apresentam valores da variação anual da declinação em minutos. Utilizando uma carta, a declinação será então calculada através da seguinte expressão 𝛿 = 𝛿𝑖 + 𝑣 𝐴 − 𝐴𝑒 (2.4) onde: δ é o valor da declinação magnética atual do ponto; δi, o valor da declinação magnética inicial consultada na carta (se o ponto não estiver localizado exatamente sobre uma curva isogônica, o valor é calculado por interpolação); v, o valor da variação anual de declinação consultada no mapa (se necessário, faz-se a interpolação entre curvas isopóricas); A, o ano atual (com fração decimal); e Ae, o ano de edição da carta magnética (com fração decimal). As variações da declinação magnética com o lugar geográfico e com o tempo expostas anteriormente respondem diretamente ao comportamento do campo magnético da Terra e são previsíveis, portanto são conhecidas como variações regulares e sempre devem ser levadas em consideração. Adicionalmente, existem outras variações denominadas irregulares que podem ser do tipo local, quando produzidas por elementos com campo magnético próprio, como massas de ferro, minerais magnéticos ou fontes de alta tensão; ou do tipo acidental, se causadas pelas tempestades magnéticas (fenômeno natural derivado da atividade solar). Importância do NV Em muitas ocasiões, os levantamentos são orientados utilizando a bússola, mas é preciso salientar a importância de realizar incorporar a correção da declinação magnética para referenciar o trabalho com o norte verdadeiro. Dessa forma, toda a informação quantitativa gerada e todo o material gráfico produzido terão um caráter permanente e definitivo, com vigência ilimitada, podendo ser utilizado em épocas posteriores sem necessidade de atualizações ou correções. Quando o modelo de bússola utilizado oferece a opção, o ideal é ajustar a posição do circulo com graduações azimutais para compensar a declinação magnética de forma de obter diretamente valores verdadeiros; em caso contrario, as correções deverão ser calculadas posteriormente para cada dado. GEODÉSIA Geodésia é a geociência que tem como função essencial medir e representar consistentemente a figura da Terra. Para isso, estuda a forma, as dimensões, o movimento de rotação e o campo de gravidade da Terra, incluindo as variações temporais que estes apresentam. O estudo do campo gravitacional é fundamental porque constitui a base para determinar a forma teórica da Terra e porque a partir da força da gravidade são definidas a direção vertical e o plano horizontal ao fazer uso de certos instrumentos de medição, tais como bússolas ou estações totais. Um dos principais objetivos da geodésia é proporcionar métodos de posicionamento de pontos na superfície terrestre, gerando sistemas que serão utilizados num amplo leque de aplicações entre as quais encontram- se gestão ambiental, projetos civis, mapeamentos diversos, administração urbana, demarcação territorial, sistemas de informação geográfica, gerenciamento de recursos econômicos, etc. Para oferecer um suporte preciso e confiável ao desenvolvimento destas atividades as diferentes nações, através das suas instituições oficiais, estabelecem as redes geodésicas, constituídas por um grande número de pontos de controle distribuídos sobre o território nacional e materializados através de marcos com coordenadas planialtimétricas precisas. No Brasil esta rede é denominada Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) e é administrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desde a perspectiva geodésica, as feições topográficas são pequenas se comparadas com o tamanho de nosso planeta. Logicamente, elas são medidas e representadas em mapas, mas em geodésia sua contribuição na forma do globo é mínima. Os acidentes topográficos variam de 8,84 km acima do nível do mar (monte Everest) a 11,03km sob o nível do mar (fossa das Marianas). Ao comparar esses valores com os 6.371km do raio médio aproximado da Terra, percebemos que as variações de altitude são realmente pequenas. O estudo específico dos detalhes do relevo é competência da topografia, disciplina que para alguns profissionais do ramo também pode ser denominada “geodésia inferior”. Já desde o ponto de vista das ciências geológicas, podemos afirmar que existem inúmeras situações envolvendo mapeamentos e georreferenciamento de dados, nas quais o conhecimento dos fundamentos da geodésia são indispensáveis para manter compatibilidade ao trabalhar com diferentes superfícies de referencia, reduzir medições do terreno à superfície de projeção ou considerar os efeitos da curvatura da terra. Para manter o foco no campo de interesse da geologia, neste capítulo trataremos os aspectos da geodésia que dão suporte aos fundamentos e procedimentos desta ciência. FORMA E DIMENSÕES DA TERRA – SUPERFÍCIES DE REFERÊNCIA Em primeira aproximação a Terra parece esférica, não entanto sabemos que sua forma real é diferente. Considerando as dimensões do nosso planeta, observarmos que este apresenta um leve achatamento nos polos, fato que é constatado pela diferença de aproximadamente 43km, existente entre o diâmetro polar (12.713,5km) e o diâmetro equatorial (12.756,3km). Já desde uma perspectiva mais detalhada, reconhecemos que a forma real da Terra com todas suas cordilheiras, vales, fundos oceânicos e demais acidentes é bem diversificada e irregular. Seu relevo determina uma superfície topográfica que resulta praticamente impossível de ser representada numa escala global com todos seus detalhes; mais ainda se levamos em consideração as inúmeras variações de composição e as transformações que ela sofre instante a instante. Nos fatos tal superfície física não pode ser caracterizada em forma integral, pois a resolução matemática de todas as irregularidades exigiria uma quantidade infinita de fórmulas e parâmetros. Consequentemente, a complexidade morfológica da superfície da Terra requer simplificações para poder ser representada, e isso é logrado através de dois modelos: o geoide e o elipsoide. Geoide O geoide é um modelo que representa a forma da Terra a partir do cálculo do nível médio dos mares em estado de repouso e ajustado aos efeitos combinados da atração gravitacional e da força centrífuga resultante da rotação do planeta. Na determinação desta superfície assume-se que os mares estão em estado de repouso e que constituem uma única massa de agua contínua que cobre o planeta todo; isto é como se não existissem os continentes nem os efeitos das marés, correntes e ventos. O geoide constitui uma superfície equipotencial cujo calculo está baseado na medição integral do campo gravitacional terrestre e alcança al precisão centimétrica. Como o campo gravitacional da Terra é irregular devido à distribuição heterogênea da massa do planeta, o geoide apresenta ondulações de até algumas dezenas de metros. Este modelo tem grande relevância já que constitui o nível de referência altimétrico universale define a superfície horizontal em qualquer ponto com a linha de força do campo gravitacional atuando perpendicular a ela. Modelo elipsoidal Sabemos que a Terra não é uma massa de rocha sólida, mas que devido às altíssimas temperaturas atingidas no seu interior (até aproximadamente 5000°C), ela está composta por uma combinação de materiais sólidos e viscosos. Devido à ação da força centrífuga derivada do movimento de rotação, as massas são puxadas para fora e em consequência, a forma da Terra é levemente oblonga. A partir deste fundamento, verifica-se que o corpo geométrico que melhor se aproxima à forma real do planeta é o elipsóide de revolução. Esta figura biaxial é gerada pela rotação de uma elipse em torno ao seu eixo menor e pode ser definida através dos seguintes parâmetros: Semieixo maior (ou raio equatorial) do elipsóide, a Semieixo menor (ou raio polar) do elipsóide, b Achatamento, 𝑓 = !!!! Um elipsoide de revolução é univocamente determinado pela especificação de dois desses parâmetros. Nas ciências geodésicas são comumente utilizados o semieixo maior (a) e o achatamento (f). Este último parâmetro indica em quanto um elipsoide se aproxima de uma esfera (f = 0). Sabemos que o geoide e a figura que melhor se aproxima à forma real da Terra mas, devido a sua forma complexa, essa superfície dificultaria enormemente a execução de cálculos geodésicos. É por isso que, para atender a esta necessidade, emprega-se o elipsoide de revolução, figura que se ajusta ao geoide com uma aproximação de primeira ordem e possibilita ao mesmo tempo um tratamento matemático simplificado. Por conseguinte, os diversos sistemas de coordenadas utilizam o modelo elipsoidal como superfície de referencia. Relação entre os parâmetros geoidais e elipsoidais Resulta evidente que as superfícies elipsoidal e geoidal não são coincidentes, o que determina que para um determinado ponto, as direções das linhas perpendiculares a elas são divergentes. O ângulo formado entre a direção ortogonal ao geoide (denominada vertical) e a direção ortogonal ao elipsóide (denominada normal) é definido como desvio da vertical. Também devido à não coincidência das superfícies, existe entre elas uma separação denominada ondulação ou altura geoidal, definida para cada ponto através da distância entre as duas superfícies, medida sobre a normal. SISTEMAS DE COORDENADAS Os sistemas de coordenadas permitem determinar a posição de qualquer ponto sobre a superfície da Terra, através de parâmetros quantitativos. Todo sistema de coordenadas pressupõe a adoção de uma superfície de referência e a implantação de uma estrutura geométrica destinada a organizar a medição do espaço, e nesse contexto, os posicionamentos são definidos univocamente através de valores angulares e/ou lineares. Em função da ampla variedade de aplicações em diversas áreas do conhecimento, ao longo do tempo foram desenvolvidos vários sistemas de coordenadas diferentes dos quais, os de uso mais frequente serão abordados nesta seção. Coordenadas geodésicas O sistema de coordenadas geodésicas está baseado na determinação de linhas cartográficas denominadas meridianos e paralelos sobre o elipsoide de referencia global. Os paralelos são círculos determinados a partir da interseção da superfície elipsoidal com planos perpendiculares ao eixo de rotação da Terra. O Equador e o paralelo maior que divide ao elipsoide em dois hemisférios idênticos, observando-se que o diâmetro dos paralelos diminui conforme eles se aproximam dos polos. Os meridianos são seções elípticas resultantes da interseção do elipsoide com planos que contem o eixo de rotação. Todos os meridianos são perpendiculares ao plano equatorial e apresentam a mesma dimensão. As coordenadas geodésicas, latitude e longitude, são estabelecidas em base a medições angulares projetadas sobre o elipsoide de referência. A latitude geodésica (ϕ) é determinada a partir do ângulo formado entre a direção normal ao elipsoide passante pelo ponto e sua projeção no plano equatorial (ambas direções contidas no plano do meridiano do ponto). A longitude geodésica (λ) é determinada sobre o plano do Equador a partir do ângulo formado entre a projeção da vertical e o plano do meridiano de Greenwich. A posição de um ponto se completa com uma terceira coordenada, a altitude geométrica, que é a distância medida ao longo da normal, entre a superfície do elipsoide e a posição do ponto na superfície topográfica. O elipsoide convencional universalmente utilizado, denominado WGS84, tem posicionamento geocêntrico, isto significa que o centro do sistema coincide com o centro de massa da Terra e está localizado na interseção do eixo de rotação com o plano equatorial. Com esta configuração a direção do norte verdadeiro sempre é paralela às linhas meridianas. Cabe destacar que pelo fato do elipsoide ser uma superfície regular, as coordenadas geodésicas constituem um sistema internamente consistente compatível com a utilização do sistema de posicionamento global (GPS). Coordenadas astronômicas e geográficas As coordenadas astronômicas utilizadas para determinar posições dos corpos celestes no céu, constituem o mais antigo método de posicionamento. Trata-se de um sistema de coordenadas esféricas que permite definir a posição de uma estrela (ou qualquer ponto) no céu especificando dois valores angulares determinados a partir do centro da esfera e de um plano de referencia que a divide em dois hemisférios iguais. As coordenadas astronômicas denominadas latitude astronômica (Φ) e longitude astronômica (Λ), são determinadas em graus a partir de medições angulares, utilizando-se como referenciais o eixo de rotação da Terra, o plano equatorial perpendicular a ele, e a superfície geoidal. A latitude é dada pelo ângulo formado entre a vertical do ponto (direção perpendicular ao geoide nesse ponto) com sua projeção ortogonal no plano equatorial. Entanto que a longitude e determinada sobre o plano do equador a partir do ângulo formado entre a projeção da vertical e o plano do meridiano de Greenwich. No uso deste sistema destinado à localização de astros, considera-se que estes estão situados sobre uma esfera de raio infinito, denominada abóbada ou esfera celeste. Os pontos e os círculos geográficos definidos sobre a superfície da Terra (polo norte, polo sul, equador) têm seus equivalentes projetados na esfera celeste e se define o zênite como o ponto da esfera celeste que resulta da extensão infinita da vertical do observador. Considerando o raio infinito da esfera celeste, a Terra pode ser vista como um elemento pontual e a vertical do observador pode ser aproximada como a semirreta originada no centro do planeta. As coordenadas geográficas e astronômicas encontram-se intimamente vinculadas, já que desde tempos remotos, através da observação das estrelas (coordenadas astronômicas) são determinadas posições sobre a superfície terrestre. As posições astronômicas são determinadas sobre a esfera celeste a partir de medições referidas à superfície geoidal. As coordenadas geográficas utilizam a mesma base das coordenadas astronômicas, apenas diferenciando-se destas em que as posições são estabelecidas sobre a superfície terrestre. De fato, as denominações das coordenadas geográficas e astronômicas muitas vezes são utilizadas como sinônimos devido a que ambos sistemas utilizam os mesmos referenciais variando somente a superfície utilizada para estabelecer as posições. A determinação altimétrica compatível com o sistema de coordenadasgeográficas é a denominada altitude ortométrica, que pode ser definida como a distância medida sobre a vertical, entre o ponto e a superfície geoidal. Na prática, a altitude ortométrica é levantada através do transporte da diferença de nível (nivelamento) a partir do datum vertical. E importante observar que o sistema astronômico-geográfico não é perfeitamente consistente. Sabemos que as observações astronômicas são feitas com instrumentos óticos e que esses instrumentos utilizam sistemas de nivelamento baseados na direção da força gravitacional. Quando estacionado, o eixo vertical do instrumento coincide com a vertical (direção perpendicular ao geoide no ponto) e consequentemente, as determinações astronômicas estão sempre referidas ao geoide. Sendo o geoide uma superfície irregular torna-se evidente que as verticais de pontos diferentes não convergem num centro único e que as posições astronômicas determinadas para diferentes pontos não são consistentes entre si. Neste sistema, a vertical do ponto e o eixo de rotação da Terra não são coplanares; consequentemente, o plano do meridiano astronômico de um ponto contem a vertical do ponto e uma linha paralela ao eixo de rotação (mas não o próprio eixo). Em virtude do exposto, para estabelecer posições precisas, atualmente as determinações astronômicas devem estar vinculadas a referenciais geodésicos. Coordenadas UTM O sistema de coordenadas UTM (Universal Transversal Mercator) baseia-se na divisão do globo terrestre em 60 faixas longitudinais estendidas em sentido N-S, cada uma das quais é chamada zona ou fuso. Os fusos se estendem entre as latitudes de 84°N e 80°S com uma largura de 6° de longitude e estão subdivididos transversalmente em intervalos de 8° de latitude, nomeados com letras (iniciando com a letra C correspondendo ao intervalo entre 80°S e 72°S até a letra X correspondendo ao intervalo entre 72°N e 84°N). O fuso 1 corresponde à região interna aos meridianos de longitudes 180°W e 174°W, sendo o sentido crescente da numeração para leste até o fuso 60 determinado entre os meridianos 174°E e 180°E. sA cartografia de cada fuso é realizada individualmente mediante uma projeção cilíndrica transversal. O cilindro de projeção tem seu eixo contido no plano equatorial e perpendicular ao plano do meridiano central da zona mapeada. O raio do cilindro é menor que o eixo vertical do elipsoide de referência, sendo geradas duas linhas de secância a partir da interseção entre a superfície de projeção e o elipsoide. O mapa global é elaborado a partir da integração das 60 zonas cartografadas separadamente. Este método de projeção permite minimizar todas as deformações do mapa a níveis toleráveis e estabelecer um sistema de coordenadas baseado em duas direções ortogonais (norte e leste) que permitem determinar qualquer posição dentro dos limites do fuso. O sistema UTM utiliza coordenadas cartesianas planas que determinam as posições em metros. A origem das coordenadas em cada zona corresponde ao cruzamento entre o eixo N, que coincide com o meridiano central (MC) da zona, e o eixo E coincidindo com a linha do equador. Assim, à posição de cada ponto do elipsoide caracterizada por latitude e longitude corresponde biunivocamente uma posição UTM descrita através de quatro elementos: zona, intervalo, coordenada E (leste ou “easting”), e coordenada N (norte ou “northing”). A coordenada E cresce no sentido leste e decresce no sentido oeste a partir de um valor de origem de 500.000 metros situado no meridiano central da zona. A coordenada N aumenta no sentido norte e diminui no sentido sul. Para o hemisfério norte utiliza-se um valor de origem de 0 metros na linha equatorial (crescendo para norte a partir deste valor). No caso do hemisfério sul, utiliza-se um valor de origem de 10.000.000 metros na linha equatorial (reduzindo para sul a partir deste valor). A adoção desses valores referenciais elimina a possibilidade de ocorrência de valores negativos de coordenadas. A indicação do fuso e do intervalo é fundamental, pois as mesmas coordenadas métricas N e E repetem-se em todas as 60 zonas e nos dois hemisférios. Cada fuso admite uma prolongação de até 30’ sobre os fusos contíguos gerando uma área de superposição que permite resolver a situação particular dos trabalhos realizados nas áreas de adjacência entre fusos. O sistema UTM é o sistema de projeção adotado oficialmente para o mapeamento sistemático do Brasil, encontrando-se o território nacional coberto pelos fusos 18 a 25 (entre 78°W e 30°W de longitude). Exemplos de coordenadas UTM: Ponto Sistema de referência Zona / Intervalo E (m) N (m) Departamento de Geologia (UFC) WGS84 24 M 547.417 9.585.896 O ponto referenciado acha-se entre 42° e 36° W (zona 24), no hemisfério sul (intervalo M), 47.417m a leste do meridiano central (39° W) e 414.104m a sul do Equador. De uma forma geral, pode considerar-se que as projeções UTM representam distâncias em metros; não obstante na maioria das regiões a superfície projetada sofre amplificações e reduções, dependendo de sua posição relativa ao meridiano central e à linha do equador. Essas variações são quantificadas pelo coeficiente de escala K. Devido ao tipo de projeção cartográfica, sobre as linhas de “secância” (distantes aproximadamente 180 km do meridiano central) o fator de escala (K) é igual a 1, já que não ha distorção nessas posições. Na região central interna às linhas de secância verifica-se um encolhimento da região projetada que alcança seu valor máximo no meridiano central, onde o fator de escala (K) adota um valor de 0,9996. O efeito inverso ocorre com as projeções que se encontram entre as linhas de secância e os limites do fuso. Nessas áreas o fator de escala é maior que 1 e os elementos representados aparecem “maiores” do que deveriam ser. Com esse padrão de deformação, o erro de escala fica limitado a 1/2500 no meridiano central e 1/1030 nos extremos do fuso. Em medidas de áreas e distâncias que nas quais se utilizem coordenadas do sistema UTM, essas considerações deverão ser observadas. O fator de escala varia em função da localização do ponto e o mesmo pode ser calculado através da seguinte fórmula: 𝐾 = !!!! !"#!∗!"# !!!! ! K0: Fator de escala no MC (=0,9996) ϕ: Latitude geodésica λ: Longitude geodésica λ0: Longitude geodésica do MC Particularmente na cartografia gerada no sistema UTM além dos nortes verdadeiro (NV) e magnético (NM), considera-se também o norte de quadrícula (NQ); sendo este definido como a direção paralela ao eixo norte, que coincide com o meridiano central de cada fuso. No quadriculado de coordenadas planas o NQ está definido pela direção da coordenada norte. Unicamente sobre o meridiano central o NQ coincide com o NV, mas fora dessa situação, como os meridianos são linhas convergentes, o NV (direção do meridiano) e o NQ (direção norte da quadrícula) são diferentes. O ângulo formado entre essas duas direções é denominado convergência meridiana (CM), estando seu valor diretamente vinculado às coordenadas do local. Como regra geral para o sistema UTM, a CM é nula sobre o MC e sobre a linha do equador e aumenta com a latitude e com o afastamento do MC. No hemisfério norte a CM é positiva para leste do MC e negativa para oeste. No hemisfério sul ela é negativa a leste do MC e positiva para oeste. A partir do valor da CM é possível transformar azimutes de quadrícula em azimutes verdadeiros mediante o seguinte cálculo: 𝐴𝑧! = 𝐴𝑧! + 𝐶𝑀 Coordenadas cartesianas geocêntricas As coordenadas cartesianas geocêntricas,ocasionalmente também chamadas de coordenadas retangulares espaciais, estão associadas ao sistema global através de um sistema cartesiano de três eixos ortogonais, X, Y, Z. A origem das coordenadas se encontra no geocentro (centro de massa da Terra incluindo sua hidrosfera e sua atmosfera), tendo o eixo Z direcionado para o polo norte e contido no eixo médio de rotação da Terra. Os eixos X e Y estão dispostos no plano equatorial, com X na direção do meridiano de Greenwich e Y orientado a 90° para leste do eixo X. É importante salientar que as coordenadas cartesianas não são adequadas para as medições topográficas em geral, devido ao fato de não representar convenientemente as altitudes. A coordenada Z neste sistema é perpendicular ao plano do equador, enquanto que a altura elipsoidal (h) é normal à superfície de referencia. Não entanto, as coordenadas cartesianas constituem o sistema de origem para os cálculos geodésicos, sendo utilizadas para determinar as posições dos elipsoides de referência (em relação ao geocentro) e para realizar conversões entre data [plural de datum] diferentes. Coordenadas topográficas (Plano retangulares) As coordenadas topográficas, também denominadas plano retangulares, são estabelecidas sobre um plano horizontal a partir de um sistema de eixos cartesianos perpendiculares entre si com a origem do sistema no cruzamento dos eixos e os valores determinados em metros. O eixo das ordenadas (Y) possui uma direção paralela ao norte (habitualmente também é a direção paralela às margens laterais da planta), enquanto que o eixo das abscissas (X) adota sempre a direção ortogonal ao eixo Y. A superfície de referência é o plano horizontal paralelo ao geoide no ponto de partida do levantamento, que pode ser definido como o plano normal à vertical nesse ponto, e que coincide também com o plano horizontal do instrumento de medição. O norte considerado pode ser o verdadeiro, o magnético, ou qualquer direção arbitrada localmente. Neste sistema, geralmente são utilizadas altitudes ortométricas e as posições dos pontos são projetadas perpendicularmente à superfície de projeção, o que equivale a considerar o centro de projeção situado no infinito. As coordenadas topográficas não estão vinculadas a um sistema de referência geodésico (a curvatura da Terra é desconsiderada) e são utilizadas localmente nos levantamentos topográficos executados pelo método clássico para a representação das posições relativas dos acidentes levantados. Coordenadas polares O uso de coordenadas polares é adequado em levantamentos topográficos expeditos executados com baixa precisão em áreas reduzidas. Este sistema utiliza um vértice, denominado polo, como centro de sistema e permite determinar planimetricamente a posição de qualquer ponto através de um ângulo e uma distancia. As medições angulares podem estar referidas ao norte (azimutes) ou a qualquer outra direção arbitrada por conveniência, entanto que a dimensão linear sempre e determinada a partir do polo. Se a posição do polo coincide com a origem de um sistema de coordenadas plano retangulares, as transformações entre os dois sistemas podem ser facilmente realizadas através de cálculos trigonométricos. DATUM Os posicionamentos geodésicos requerem o uso de superfícies de referência específicas para estabelecer localizações planimétricas e altimétricas. As coordenadas horizontais dos pontos e as altitudes geométricas são referidas à superfície elipsoidal, entanto que as altitudes ortométricas são referidas à superfície geoidal. Quando para cada uma dessas superfícies referenciais é definido um ponto de amarração em relação ao globo terrestre, elas passam a constituir respectivamente o datum horizontal e o datum vertical. Datum horizontal O datum horizontal é definido pelos parâmetros geométricos do elipsoide adotado (semieixos, achatamento) e pelo seu posicionamento e orientação em relação à superfície física da Terra. Esse posicionamento pode ser geocêntrico, quando o centro do elipsoide coincide com o centro de massa da Terra, ou topocêntrico, quando a posição do elipsoide é estabelecida através da sua amarração a um vértice materializado na superfície terrestre, sem que haja coincidência entre o centro do elipsoide e o geocentro. Datum vertical Para utilizar a superfície geoidal como referência na determinação de altitudes ortométricas, em cada região estabelece-se um ponto de tangência entre o geoide e a superfície topográfica. Esse ponto com altitude igual a zero constitui o datum vertical, ou seja o vértice a partir do qual são determinadas todas as altitudes da rede geodésica através de levantamentos altimétricos. Ao se trabalhar com altitudes geométricas o datum vertical deixa de ser necessário, já que se utiliza como única referência o elipsoide. SISTEMA GEODÉSICO DE REFERÊNCIA Um sistema geodésico de referência (SGR) constitui um marco determinado por meios de alta precisão que serve como referência para todos os levantamentos que venham a ser executados sobre uma determinada área do globo terrestre. Os sistemas geodésicos de referência são compatíveis com a utilização de coordenadas cartesianas, UTM e geodésicas, observando sempre as especificações descritas anteriormente para cada caso. Existe um SGR internacional, o WGS84, que é aceito universalmente como referencial global para estabelecer sistemas de referencia locais, garantindo a compatibilidade entre os dados e facilitando a cooperação entre países. Este sistema utiliza o elipsoide de revolução homônimo (WGS84) com posicionamento geocêntrico, o que significa que o centro do elipsóide está situado no centro de massa da Terra. O semieixo menor (b) coincide com o eixo de rotação médio do planeta, entanto que o semieixo maior (a) está contido no plano equatorial terrestre médio que é ortogonal ao eixo de rotação. Destaca-se que elipsoide encontra-se fixo em relação ao planeta, ou seja que o acompanha em todos seus movimentos, e que este sistema utiliza o eixo de rotação e o plano equatorial médios devido a que existem leves variações temporais no movimento de rotação da Terra. Fora a existência do sistema internacional cabe ao organismo competente de cada país a adoção e regulamentação de um SGR local ou regional. No passado recente, cada nação ou região adotou o elipsoide de referencia que melhor se ajustou às suas dimensões com o posicionamento topocêntrico mais adequado para essa região. A tendência atual leva a utilização de SGRs com posicionamento geocêntrico. No Brasil é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) quem tem a responsabilidade do estabelecimento e manutenção do Sistema Geodésico Brasileiro (SGB). Tal sistema está implantado através de uma rede de estações ou marcos materializados no território nacional com a finalidade de proporcionar pontos de apoio para levantamentos de ordem inferior (mapeamentos diversos, locação de estradas, cadastro de imóveis, loteamentos, implantação de barragens, etc). O SGB atual utiliza como SGR o SIRGAS2000 (Sistema de Referência Geocêntrico para América do Sul, Central e Caribe), que adota o elipsoide GRS80 (Geodetic Reference System 1980) com posicionamento geocêntrico como datum horizontal e o vértice Imbituba (SC) como datum vertical. Este sistema pode ser considerado compatível com o sistema internacional WGS84, já que a única diferença entre eles é uma variação de 1,1 mm entre os comprimentos dos semieixos polares (b) dos respectivos elipsoides. O sistema oficial anterior ao SIRGAS2000 foi o SAD69 (South American Datum 1969) que utilizava o elipsoide UGGI67 com posicionamento topocêntrico. No quadro 1 estão detalhados os sistemas adotados no Brasil com as constantes elipsoidais e os parâmetrosde conversão (ΔX, ΔY, ΔZ) para o SGR internacional WGS84. Somando esses parâmetros às coordenadas cartesianas do sistema utilizado, obtêm-se as respectivas coordenadas em WGS84. Para o procedimento inverso basta subtrair os parâmetros das coordenadas em WGS84. SGR WGS84 SIRGAS 2000 SAD69 (2005) SAD69 (1996) ASTRO CHUÁ CÓRREGO ALEGRE Adoção no Brasil 1987 2005 2005 1979 ensaio pre-SAD69 1949 Datum vertical Elipsoidal Inbituba - SC Inbituba - SC Inbituba - SC Inbituba - SC / Torres - RS Torres - RS Datum horizontal geocêntrico geocêntrico Vértice Chuá (topocêntrico) λ: 48° 06’ 04,0639” W ϕ: 19° 45’ 41,6527” S Vértice Chuá (topocêntrico) λ: 48° 06’ 04,0639” W ϕ: 19° 45’ 41,6527” S Vértice Chuá (topocêntrico) λ: 48° 06’ 04,0639” W ϕ: 19° 45’ 41,6527” S Vértice Córrego Alegre (topocêntrico) λ: 48° 57’ 42,73” W ϕ: 19° 50’ 15,14” S Localização O centro do elipsoide coincide com o CMT O centro do elipsoide coincide com o CMT Próximo à cidade de Uberaba - MG Próximo à cidade de Uberaba - MG Próximo à cidade de Uberaba - MG Próximo à cidade de Frutal - MG Elipsoide WGS-84 (World Geodetic System 1984) GRS-80 (Geodetic Reference System 1980) UGGI-67 (União Geodésica e Geofísica Internacional) UGGI-67 (União Geodésica e Geofísica Internacional) Hayford Hayford a (semi-eixo maior) 6378137 6378137 6378160 6378160 6378388 6378388 b (semi-eixo menor) 6356752,31425 6356752,31414 6356774,71920 6356774,71920 6356912,00000 6356912,00000 f (achatamento) 1/298,25223563 1/298,257222101 1/298,25 1/298,25 1/297 1/297 ΔX 0 0 -67,35 -66,87 -143,87 -205,57 ΔY 0 0 3,88 4,37 243,37 168,77 ΔZ 0 0 -38,22 -38,52 -33,52 -4,12 Observações técnicas Doppler / GPS Doppler / GPS Doppler / GPS Rede clássica (triangulação e poligonação) Rede clássica (triangulação e poligonação) calculadoras mecânicas e tabuas de logaritmo Sistemas geodésicos utilizados no Brasil nos últimos anos. Conversões entre sistemas de coordenadas e data Sob circunstâncias específicas pode ser necessário transformar coordenadas de um determinado sistema para outro sistema diferente (Ex.: Para projetar uma posição estabelecida com coordenadas UTM sobre uma base referenciada com coordenadas geodésicas). De igual modo, devido à coexistência de materiais referenciados com diferentes data (plural de datum), também pode surgir a necessidade prática de mudar de datum (Ex.: de SAD 69 para SIRGAS 2000). Os procedimentos de cálculo para mudar de datum ou para desenvolver as transformações de coordenadas entre os sistemas UTM, cartesiano e geodésico, apresentam níveis de complexidade variáveis excedendo os alcances deste livro. Não obstante, além da literatura existente, existem várias alternativas disponíveis para realizar essas conversões que vão desde a utilização de um receptor GPS (simplesmente reajustando as configurações) até o uso de aplicativos ou sites da WEB que facilitam a execução dos cálculos requeridos. GEORREFERENCIAMENTO O conceito de georreferenciamento está diretamente vinculado à utilização de um SGR e ao gerenciamento geográfico de informações. Um dado (gráfico, numérico, textual) georreferenciado é um dado que corresponde a uma localização univocamente definida em base a um sistema geodésico de referencia. Um levantamento georreferenciado no e mais do que um levantamento amarrado a uma rede geodésica através de métodos topográficos. Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) são programas que permitem processar e administrar simultaneamente grandes bases de dados georreferenciados, utilizando como plataformas imagens de satélite ou diversos tipos de mapas.
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