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UFLA_introducao_ao_estudo_da_resenha

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Introdução ao estudo da resenha
			UFLA 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
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	Antes de partimos para o estudo da resenha, precisamos discutir um pouco sobre as estruturas argumentativas, tendo em vista o fato de que elas são fundamentais na estruturação do pensamento crítico. 
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Narrativa – não pode ser anulada (pode-se dizer que ela é inexata ou inventada, mas sua contestação não a destrói).
Argumentação – pode ser anulada em seu próprio fundamento ou, em todo caso, anulada em sua validade. Ela não está no âmbito das categorias da língua (as conjunções de subordinação), mas nas categorias da organização do discurso.
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	TEXTO ARGUMENTATIVO 
	é o texto em que defendemos uma ideia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procurando (por todos os meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite-a, creia nela.
 
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O texto argumentativo é constituído por: 
tese, 
argumentos, 
estratégias argumentativas.
 
 TESE, ou proposição, é a ideia que defendemos, necessariamente polêmica, pois a argumentação implica divergência de opinião.
    
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	A palavra ARGUMENTO vem do latim ARGUMENTUM, cujo tema ARGU significa "fazer brilhar", "iluminar", a mesma raiz de "argênteo", "argúcia", "arguto".
  
	Os argumentos de um texto são facilmente localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta por quê? (Ex.: o autor é contra a pena de morte (tese). Porque ... (argumentos).
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	As ESTRATÉGIAS não se confundem com os ARGUMENTOS. Esses, como se disse, respondem à pergunta por quê (o autor defende uma tese tal PORQUE ... - e aí vêm os argumentos). 
 ESTRATÉGIAS argumentativas são todos os recursos (verbais e não verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte, para impressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi-lo mais facilmente, para gerar credibilidade, etc. 
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 A estrutura do texto argumentativo
	Argumentação formal
	Othon Garcia, em sua obra "Comunicação em Prosa Moderna“, apresenta o seguinte plano-padrão para o que chama de argumentação formal:
Proposição (tese): afirmativa suficientemente definida e limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento. 
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Análise da proposição ou tese: definição do sentido da proposição ou de alguns de seus termos, a fim de evitar mal-entendidos. 
Formulação de argumentos: fatos, exemplos, dados estatísticos, testemunhos, etc. 
Conclusão. 
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RESENHA
RESENHAR É:
Fazer uma relação das propriedades de um objeto;
Enumerar seus aspectos relevantes;
Descrever as circunstâncias que o envolvem.
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PARTES DE UMA RESENHA
A) Uma parte descritiva em que se dão informações sobre o texto:
- nome do autor
- título completo e exato da obra
- nome da editora (e coleção)
-lugar e data da publicação
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-número de volumes e páginas.
Obs: pode-se fazer, nessa parte, uma descrição sumária da estrutura da obra (divisão em capítulos, assunto dos capítulos, índices etc.).
	
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No caso de obra estrangeira, informar a língua da versão original e o nome do tradutor (se se tratar de tradução).
B) Uma parte com o resumo do conteúdo da obra:
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- indicação sucinta do assunto global da obra (assunto tratado) e o ponto de vista adotado pelo autor (perspectiva teórica, gênero, método, tom etc.).
- resumo que apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral.
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- Julgamentos e comentários do resenhador sobre as ideias do autor, o valor da obra etc. 
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			Resenha 
A resenha é um gênero que pode ser chamado por outros nomes, como resenha crítica, e que exige que os textos que a ela pertençam tragam as informações centrais sobre os conteúdos e sobre ouros aspectos de outro(s) texto(s) lido(s) – como por exemplo, sobre seu contexto de produção e recepção, sua organização global, suas relações com outros textos etc.
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Na escrita da resenha devem ser apresentados comentários do resenhista não apenas sobre os conteúdos, mas também sobre todos esses outros aspectos. 
Ao escrever uma resenha acadêmica, você deve levar em consideração que estará escrevendo para o professor que, se indicou a leitura, deve conhecer a obra. Por tanto, ele avaliará não só a leitura da obra, através do resumo que faz parte da resenha, mas também sua capacidade de opinar sobre ela.
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Uma resenha acadêmica é organizada globalmente em diferentes partes. No início do texto, encontramos informações sobre o contexto e tema do livro resenhado (ou obra resenhada). Em seguida, o(s) objetivo(s) da obra resenhada. Antes de apontar os comentários do resenhista sobre a obra, é importante apresentar a descrição estrutural da obra resenhada. Isso pode ser feito por capítulos ou agrupamento de capítulos. Depois, encontramos a apreciação do resenhista sobre a obra. 
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É importante que haja comentários, sejam eles positivos ou negativos, de preferência os dois. Finalmente, a conclusão em que o autor deverá explicitar/reafirmar sua posição sobre a obra resenhada. 
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Na resenha acadêmica aparecem comentários do resenhista sobre a obra resenhada. Quando se faz uma resenha sobre a obra de alguém ,é importante seguir algumas regras de polidez, para evitar agredir o autor da obra resenhada. Para tanto, podemos usar vários recursos linguísticos. Dentre eles, temos:
1- O uso de expressões que atenuam as opiniões, como: parece-me.
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2- O uso de alguns tempos verbais que também têm a função de atenuar o que está sendo dito, como: futuro do pretérito (diria, poderia...)
3- O uso de adjetivos, substantivos e mesmo advérbios para expressar a opinião do resenhista.
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EXEMPLO DE RESENHA LIVRO
	SCHRAMM, Fermin Roland. A terceira margem da saúde. Brasília: Editora UnB, 1996. 
	O uso recorrente de determinadas palavras retirou delas a força ou, ao menos, o poder explicativo, tornando-se, quando muito, palavras de ordem ou bordões desprovidos de significado. Por conta disto, tenho relutado em usar termos como crise, modernidade ou até paradigma, mesmo quando estes são aparentemente inevitáAinda assim, é forçoso reconhecer a emergência de uma nova configuração no campo dos saberes e práticas da saúde coletiva que, embora longe de um triunfo definitivo como às vezes parece crer-se, traz uma maior radicalização ao escopo da reflexão crítica nesse campo. Renunciando aos fundacionismos desde sempre presentes na formulação do campo ­ quer pela vertente do materialismo dialético, quer pela da afirmação da positividade da biologia, ou, de modo mais genérico, do magister dixit científico ­ a própria raison d'etre do campo se torna motivo de reflexão crítica.
	
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	Dito de outra forma, se já não nos é possível afirmar que a saúde coletiva é uma necessidade histórica ou mera decorrência de aplicação de uma ratio canônica a mais um entre tantos problemas da vida cotidiana, como se justifica a necessidade de uma perspectiva coletiva na saúde? Que valores comuns (se é que existem) devem orientá-la?
	Estas questões têm estado na pauta das discussões sobre o campo da saúde coletiva em nosso País de forma particularmente intensa nessa última década, sendo tema em um sem-número de publicações e apresentações em congressos e seminários. Desenha-se, então, um retorno à ética, por vários caminhos, como a perspectiva de (re)fundação do próprio saber-fazer.
	Ainda que sem questionar propriamente o mérito desse tipo de formulação quase consensual, um exame mais acurado do ponto de vista filosófico traz um certo incômodo: não se estaria simplesmente contornando o enfrentamento do problema, retirando-se, num certo sentido, o proverbial sofá da sala? Não seria a delegação de toda a reflexão ao campo da ética mera renuncia à discussão, evocando involuntariamente o primeiro Wittgenstein (o que não posso falar, devo calar)? E por falar nisso, que 'ética', cara pálida?
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	É essa tarefa espinhosa que Schramm ataca em seu livro, o que torna igualmente espinhosa a tarefa de resenhá-lo. Dada a amplitude dos temas abordados, os autoresrecrutados por Schramm para seu diálogo (só o índice onomástico tem sete páginas), a variedade de abordagens empregada na discussão, corre-se o risco de a resenha tornar-se tão extensa quanto o livro em questão, o que, por si só, já fala de seus méritos. Correndo, portanto, o risco da simplificação excessiva, tentarei apontar os grandes traços do trabalho de Schramm, esperando não ser excessivamente grosseiro na tarefa.
	Nas palavras do próprio autor, a pesquisa que fundamenta seu livro "(...) propõe-se a delinear aquele que poderia ser definido como o 'universo discursivo de uma ética em saúde' e a discutir seus fundamentos filosófico-epistemológicos a partir de um ponto de vista 'laico', no contexto da paradigmologia das Ciências da Complexidade" (Introdução, página 11). Com efeito, esta declaração introdutória resume adequadamente o conteúdo do livro.
	
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	Em primeiro lugar, Schramm propõe uma ética natural para a saúde ­ advertindo que não deve ser confundida com uma ética naturalista ­, tendo como base a discussão sobre a complexidade do campo, com ênfase na visão de Morin, propondo a síntese de princípios eventualmente tidos como antagônicos, o da qualidade e o da sacralidade da vida, apoiando-se em Ortega y Gasset, entre outros. É digna de nota a tentativa de aproximação de pontos de vista aparentemente díspares ­ de resto, um dos pontos fortes deste trabalho ­, como os de Kant e Nietzsche, por exemplo.
	Baseado nessa delimitação, o autor examina o campo da saúde coletiva, discutindo sobre o significado e a extensão da 'crise' e, por decorrência, sobre a própria definição do campo. Posteriormente, faz-se o exame do contexto filosófico desta crise, com uma recapitulação detalhada do debate sobre o relativismo e o pós-modernismo, situando adequadamente as dificuldades surgidas pela extensão de princípios relativistas ao campo da ética. Por fim, as várias tramas tecidas ao longo do texto são postas em conjunto no confronto entre as exigências concretas da saúde dos sujeitos e as possibilidades de uma ética natural tal como proposta pelo autor.
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	Há alguns pontos que mereceriam uma discussão um pouco mais apurada: por exemplo, ao contrário de Schramm (p. 116, nota 36), não vejo Burtt considerando negativamente as bases metafísicas do pensamento, e a revisão das conseqüências da discussão pós-moderna eventualmente faz uma simplificação algo excessiva dos autores criticados por Schramm. Por outro lado, dificilmente se conseguirá defender e expor uma tese sem incorrer nesse risco, ainda assim, creio que o último ponto em particular mereceria talvez uma ampliação de foco. Ao restringir-se ao debate filosófico num sentido estrito, Schramm prescindiu de autores ­ como Boaventura de Souza Santos, por exemplo ­ que fazem uma leitura bastante original dessa problemática, apontando rumos inovadores para as Ciências Sociais, com conseqüências também para nosso campo específico. Deixo aqui esse registro, possivelmente como desafio para Schramm abordar em seu próximo trabalho.
	
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	De qualquer forma, é um trabalho de referência, inovador e corajoso, que traz para a frente do debate uma questão fundamental convenientemente deixada em suspenso no campo da saúde coletiva. Espero que a intervenção de Schramm nessa discussão propicie o exame das questões éticas na saúde com o mesmo rigor que as cognitivo-epistemológicas vêm sendo tratadas.
 
	Kenneth Rochel de Camargo Jr. Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 
	Fonte: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1998000300024&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em 25 out. 2011.
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Fonte consultada:
	CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso: modos de organização.São Paulo: Contexto,2008.
	
	FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1995.
	MACHADO, Anna Rachel, LOUSADA, Eliane, ABREU-TARDELLI, Lília Santos. Resenha.São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
	Manual de redação da PUCRS

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