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21/01/13 Artigos - Imprimir www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos_imprimir&id=3809 1/5 Bruno Anderson Monteiro Santana e Layonan Miranda - Acadêmico brunosantana6@gmail.com Data: 02/06/2011 A Lei 9.099/95: Análise da legitimidade perante os Juizados Especiais Cíveis A Lei 9.099/95: Análise da legitimidade perante os Juizados Especiais Cíveis Bruno Anderson Monteiro Santana Layonan de Paula Miranda SUMÁRIO INTRODUÇÃO; 1 BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS; 2 ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A LEI 9.099/95; 3 O ART. 8º DA LEI 9.099/95: ANÁLISE DA LEGITIMIDADE; CONCLUSÃO; REFERÊNCIAS. INTRODUÇÃO A preocupação com a estrutura do equipamento judiciário, insuficiente e incapaz de dirimir os crescentes conflitos sociais que são levados à sua porta, é um problema atual, porém não é novidade. Já na década de 90, a população recorria a meios alternativos de solução de seus litígios, seja por desconhecimento dos seus direitos como cidadãos, mas principalmente pelo fato de ver a sua maioria extirpada da função jurisdicional do Estado. É neste contexto de insuficiência estrutural do Judiciário que, em 26 de setembro de 1995, criou-se a Lei 9.099, conhecida como Lei dos Juizados Especiais. No presente trabalho, recortamos o tema dos Juizados Especiais para abordar a legitimidade dos agentes perante os Juizados Especiais Cíveis. Em outras palavras, trataremos de quem pode figurar como sujeito ativo ou passivo nas demandas processuais sob o rito sumaríssimo dos Juizados Especiais na esfera civil. 1 BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS O primeiro passo à criação do que hoje entendemos por Juizado Especial foi dado no início da década de 1980. A Associação dos Juízes do Estado do Rio Grande do Sul, atentos às necessidades e aos anseios das comunidades, formaram os Conselhos de Conciliação e Arbitramento, que funcionavam com um número variável de árbitros (bachareis em direito) sob coordenação de um Juiz de Direito, escrivães, oficiais de justiça e outros servidores, sempre em regime de voluntariado e de absoluta gratuidade dos serviços prestados. “A repercussão foi excelente e logo se haveria de verificar um alto índice de solução de controvérsias a eles submetidas.” (FABRÍCIO, 2001, p. 178) Após longos debates legislativos, suscitados pelos fatos acima mencionados, foi editado o primeiro diploma normativo sobre o assunto, a Lei Federal 7.244, de 07.11.1984, que traçou grandes contornos do instituto, mas foi deveras prudente no modo pelo qual se efetivaria esse sistema, pois facultava aos Estados federados (assim como ao Distrito Federal e aos Territórios) a instituição dos Juizados nas respectivas estruturas judiciárias. Obteve grande destaque por privilegiar a conciliação. (FABRÍCIO, 2001, p. 180) E, em 05.10.1988, eis que surge a nossa atual Carta Constitucional, ampliando e trazendo novos contornos à matéria, com a inserção da jurisdição criminal aos Juizados Especiais (relativamente às “infrações de menor potencial ofensivo”) e emissão de um comando imperativo ao legislador de modo a eliminar a facultatividade em instituir os juizados especiais. Assim sendo, em síntese, podemos apontar as seguintes inovações trazidas pela CF/88: a) passaram a existir Juizados Cíveis e Criminais; b) sua criação é obrigatória no âmbito da “Justiça Estadual” (que inclui o DF e os Territórios); c) introduz-se a figura do : ÍNDICE : A Lei 9.099/95: Análise da legitimidade perante os Juizados Especiais Cíveis 21/01/13 Artigos - Imprimir www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos_imprimir&id=3809 2/5 obrigatória no âmbito da “Justiça Estadual” (que inclui o DF e os Territórios); c) introduz-se a figura do “juiz leigo” [para os casos de arbitragem, escolhido entre advogados com mais de cinco anos de experiência; podem “decidir somente por equidade” (RODRIGUEZ, 1996, p. 25)]; d) a execução passa a ser de competência do próprio juizado; e) introduziu a transação penal; f) substituiu o critério do “pequeno valor” pelo parâmetro da complexidade do litígio. (FABRÍCIO, 2001, p. 182-183) Para adequar a realidade dos Juizados Especiais aos novos mandamentos constitucionais, em 26.09.1995, foi criada a Lei dos Juizados Especiais. 2 ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A LEI 9.099/95 Conforme dito alhures, havia, agora, novos mandamentos constitucionais vigorando e que teriam obrigatoriamente que ser observados. Justamente para dar essa nova roupagem à realidade dos Juizados Especiais, foi criada a Lei 9.099/95, ou Lei dos Juizados Especiais, contendo noventa e sete artigos. Dentre as inovações trazidas, podemos citar a definição da competência para as “causas cíveis de menor complexidade” pelo critério objetivo do valor da causa, que não poderá exceder quarenta vezes o salário mínimo oficial. Também, incluiu em sua competência as ações de despejo para uso próprio. Importante ressaltar, por fim, a importante inovação relativa à execução. “A lei nova passou a estabelecer procedimento próprio para as execuções de títulos judiciais dos Juizados e, mais, também cuidou da execução de títulos extrajudiciais cujo valor se colocasse dentro dos limites definidos para a competência dos órgãos especiais.” (FABRÍCIO, 2001, p. 184-185) Segundo renomado autor: São dois os pontos que merecem destaque com a introdução da Lei 9.099: o primeiro reside na importante missão social dos juizados de fazer com que situações da vida, antes não jurisdicionalizáveis e merecedoras de amparo, possam ser examinadas pelo Poder Judiciário; o segundo, de caráter estrutural, na criação de alternativas para a rápida solução de conflitos, reduzindo a superlotação de processos nos juízos. (LUCON, 1998, p. 175) E o mesmo doutrinador conclui, assim, que: “A nova lei outorga ao jurisdicionado mais um meio alternativo de acesso à justiça.” (LUCON, 1998, p. 175) Com razão. Demandas populacionais, em sua maioria de baixa renda, que antes se encontravam desamparadas em razão da incapacidade da máquina estatal de suportar todos os conflitos a ela submetidos, têm, agora, um novo mecanismo de solução de litígios pautado na oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, além de ser sistematicamente preparado para as causas cíveis de menor complexidade. Sem dúvidas, trata-se de novo instrumento de inclusão social. 3 O ART. 8º DA LEI 9.099/95: ANÁLISE DA LEGITIMIDADE A Lei dos Juizados Especiais traz, em seu art. 8º, as pessoas que podem figurar nos polos da relação jurídico processual. Faremos, agora, uma análise mais pormenorizada do citado artigo, que assim dispõe: Art. 8º - Não poderão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil. § 1º - Somente as pessoas físicas capazes serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial, excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas. § 2º - O maior de dezoito anos poderá ser autor, independentemente de assistência, inclusive para fins de conciliação. Pois bem, de início é importante observar que as limitações às pessoas que poderão ser parte devem ser observadas como requisito de admissibilidade da ação, sob pena de extinção do processo (art. 51 da Lei 9.099/95). Ao preso e ao incapaz, segundo o art. 9º do CPC, será concedido curador especial, ou seja, a legislação 21/01/13 Artigos - Imprimir www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos_imprimir&id=3809 3/5 processual “concedeu toda uma tutela especial ao réu preso e ao incapaz, que não se coaduna com a simplicidade, informalidade, oralidade e celeridade próprias do Juizado Especial.” (VICENTE; CORRÊA, 2007, p. 51) Além do mais, a dificuldade de locomoção do preso aos Juizados inviabilizariam a oralidade e a realização de audiências. Da mesma forma, a inviabilidadeda massa falida e do insolvente civil ser parte nas ações de rito sumaríssimo, pois a legislação estimula a execução coletiva destas pessoas, de modo que seria inviável uma gama de ações movidas pelos credores tramitando em diferentes Juizados Especiais Cíveis contra uma mesma pessoa (art. 762, CPC). Assim: “A razão da exclusão das pessoas nesse artigo referidas, encontra fundamento nos critérios norteadores do Juizado, especialmente nos da simplicidade e celeridade.” (VICENTE; CORRÊA, 2007, p. 51) Quanto às pessoas jurídicas de direito público, não poderão figurar no polo ativo nem no passivo, bem como “as respectivas Autarquias e Fundações Públicas”. (VICENTE; CORRÊA, 2007, p. 51) No entanto, apesar de não poderem demandar perante os Juizados Especiais Cíveis, “as pessoas jurídicas podem apresentar pedido contraposto” (NEGRÃO; GOUVÊA, 2005, p. 1626), que, segundo doutrina especializada, “assemelha-se à reconvenção do Código de Processo Civil, pois o réu pode também formular pedido em face do autor, aproveitando-se o mesmo procedimento e, na prática, a mesma audiência de instrução e julgamento.” (RODRIGUEZ, 1996, p. 22) Já “as empresas públicas do Distrito Federal, dos estados e dos municípios poderão figurar como parte ré no juizado especial, excetuadas as empresas públicas da União, pois o foro competente, nesse caso, é o da Justiça Federal, que em setembro de 2000, mediante decreto, criou o juizado especial federal.” (DEMÔNICO, 2001, p. 38) Ilustre autor observa que: Quanto às permissionárias, concessionárias e prestadoras de serviços públicos, podem elas figurar no pólo passivo das ações perante o Juizado, como, por exemplo, a Telemar, Empresas de Energia Elétrica, Empresas de Abastecimento de Água e Esgoto etc. Essas empresas são de natureza privada. (...) A respeito das sociedades de economia mista, o Supremo Tribunal Federal, através da Súmula nº 556, fixou a competência da Justiça comum para julgar as ações em que figure como parte esse tipo de sociedade. Portanto, não há nenhum óbice para que a sociedade de economia mista, figure no pólo passivo das ações de competência do Juizado Especial Cível. (SILVA, 2006, p. 31) Conforme se extrai da Lei, somente as pessoas físicas capazes podem ser parte demandante, ou seja, somente o indivíduo maior de dezoito anos pode postular perante os Juizados Especiais Cíveis. Os cessionários de direitos de pessoas jurídicas encontram limitação para que não haja possibilidade de burla da lei por parte destas pessoas jurídicas, que se fariam “representar” por seus cessionários. Importante discussão suscitada na doutrina diz respeito à possibilidade ou não de ser parte ativa, de acordo com a Lei 9.099/95, as microempresas, o condomínio e o espólio. O espólio, apesar de não ser considerado pessoa física, por representar o interesse dos herdeiros, vem sendo admitido tanto no polo ativo quanto no passivo das ações de competência do Juizado, desde que estes herdeiros sejam todos capazes. (SILVA, 2006, p. 30) Também: “O texto não exclui o espólio, contanto que todos os herdeiros sejam maiores.” (NEGRÃO; GOUVÊA, 2005, p. 1625) Neste sentido, o Enunciado nº 72 do FONAJE (Fórum Permanente dos Juízes Coordenadores dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Brasil.), em que: “Inexistindo interesse de incapazes, o Espólio pode ser autor nos Juizados Especiais Cíveis.” Quanto ao condomínio, este “tem natureza jurídica de um órgão despersonalizado, não podendo assim figurar no pólo ativo da ação.” (SILVA, 2006, p. 30). Em sentido contrário, “o art. 3º, II, elencou na competência do Juizado a ação do condomínio para a cobrança das verbas condominiais, [logo] não há como se afastar tal competência.” (VICENTE; CORRÊA, 2007, p. 54) No entanto: “Diga-se de passagem, os enunciados de nºs 9 e 47 do Encontro Nacional de Juízes dos Juizados Especiais Estaduais, concluíram, por unanimidade, pela possibilidade das microempresas, das sociedades sem fins 21/01/13 Artigos - Imprimir www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos_imprimir&id=3809 4/5 Estaduais, concluíram, por unanimidade, pela possibilidade das microempresas, das sociedades sem fins lucrativos e dos condomínios residenciais figurarem no pólo ativo das ações de competência daqueles juizados, [...].” (SILVA, 2006, p. 30) Por fim, as microempresas. Os Enunciados 47 e 48 do FONAJE possibilitam as microempresas demandarem perante os Juizados Especiais Cíveis. Assim: “As microempresas, por legislação especial (Lei 9.841/99, art. 38) e tratamento diferenciado garantido pela Constituição Federal de 1988, também podem demandar perante os Juizados Especiais. (NEGRÃO; GOUVÊA, 2005, p. 1625) Há quem entenda possível, inclusive, legitimidade estendida às pequenas empresas, como se percebe da seguinte lição: Ressalte-se que, apesar do entendimento de que as empresas de pequeno porte não poderiam ser autoras nos Juizados Especiais, em se outorgando tal direito às microempresas, a melhor interpretação do art.. 170, IX, CR/88, pugna pela extensão da possibilidade de figurar no pólo ativo as empresas de pequeno porte. (VICENTE; CORRÊA, 2007, p. 53-54) O § 2º perdeu sentido com o advento do CC/2002, em que o alcance da maioridade civil se dá aos dezoito anos de idade. CONCLUSÃO O Juizado Especial Cível, instituído pela Lei 9.099/95, surgiu como um mecanismo de inclusão social que permitiu à grande parcela da população, principalmente de baixa renda, ter acesso ao Judiciário. Para tanto, o Juizado focou-se no atendimento das chamadas causas cíveis de menor complexidade, entendidas como aquelas que não ultrapassam o teto de quarenta vezes o salário mínimo vigente ou, em alguns poucos casos estabelecidos na Lei, em razão da matéria, como por exemplo as ações de despejo para uso próprio. O importante é que a máquina judiciária pôde voltar a funcionar mais dinamicamente e os litígios serem solucionados, aumentando a credibilidade da sociedade no Poder Judiciário. Infelizmente, a realidade nos apresenta demandas cada vez maiores e sistemas de Juizados Especiais não capacitados a suportarem este contingente. Hoje é comum visualizarmos Juizados Especiais Cíveis abarrotados de processos que ficam atravancados por longos períodos, ferindo de morte todos os princípios inerentes à Lei 9.099/95. Trata-se de um problema de difícil solução, mas que deve servir de estímulo à criação de novos mecanismos que possibilitem ao Poder Judiciário decidir os litígios das pilhas de processos existentes e, no mesmo caminhar, julgar as novas demandas que constantemente surgem à sua porta, recuperando, assim, sua credibilidade. REFERÊNCIAS DEMÔNICO, Sandra R. Fiuza. Juizados Especiais Cíveis na Visão de uma Conciliadora. Brasília: Brasília Jurídica, 2001. FABRÍCIO, Adroaldo Furtado. A Experiência Brasileira dos Juizados de Pequenas Causas. Revista de Processo. REPRO 101. Ano 26, janeiro/março, 2001, Editora Revista dos Tribunais. LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Juizados Especiais Cíveis: aspectos polêmicos. Revista de Processo. REPRO 90. Ano 23, abril/junho, 1998, Editora Revista dos Tribunais. NEGRÃO, Theotonio; GOUVÊA, José Roberto Ferreira. Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor. 37 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. RODRIGUEZ, Décio Luiz José. Juizados Especiais Cíveis: lei nº 9.099, de 26.09.1995: (Lei anotada, artigo por artigo). São Paulo: Fiuza Editores, 1996. 21/01/13 Artigos - Imprimir www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos_imprimir&id=3809 5/5 SILVA, Luiz Cláudio. Os Juizados Especiais Cíveis na Doutrina e na Prática Forense. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. VICENTE, Fernanda Baeta; CORRÊA, Luís Fernando Nigro. Lei dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais Comentada. Belo Horizonte: Del Rey, 2007.
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