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1 DIREITO CIVIL I – PARTE GERAL PROF. DANIEL PAIVA UNIDADE IV – DOS BENS 1. NOÇÕES PRELIMINARES: A Parte Geral do Código Civil trata das pessoas, como sujeitos de direito; dos bens, como objeto das relações jurídicas que se formam entre os referidos sujeitos; e dos fatos jurídicos, disciplinando a forma de criar, modificar e extinguir direitos. Entende-se por “bens” tudo o que pode proporcionar utilidade ao homem e que pode ser apropriado. Não deve o termo ser confundido com “coisas”, que compreende tanto os bens que podem ser apropriados, como aqueles objetos que não podem (como por exemplo, o mar, a lua, o sol, etc.). “Coisa” é o gênero do qual “bem” é espécie. Assim, todos os bens são coisas, mas nem todas as coisas são bens. O Código Civil de 1916 não distinguia os termos coisa e bem, usando ora um, ora outro, ao se referir ao objeto do direito. O Novo Código Civil (2002), ao contrário, utiliza sempre, na parte geral, a expressão bens, evitando o vocábulo coisa, que é conceito mais amplo do que o de bem. Didaticamente, podemos definir: Bem (em sentido jurídico) – A palavra bem deriva de “bonum”, que significa bem-estar, felicidade. Bens são coisas materiais ou imateriais que têm valor econômico, que são suscetíveis de apropriação pelo homem e que podem servir de objeto a uma relação jurídica. Coisa – As coisas abrangem tudo quanto existe na natureza, exceto a pessoa. O termo compreende tanto os bens que podem ser apropriados, como aqueles objetos que não podem ser apropriados. Os objetos insuscetíveis de apropriação pelo homem (como o ar atmosférico, o mar, etc.) são chamados de coisas comuns. 2. NOÇÃO DE PATRIMÔNIO: Sobreleva a importância da noção de patrimônio quando se observa que nela se baseia um princípio norteador do direito das obrigações: o patrimônio do devedor responde por suas dívidas. Em sentido amplo, o conjunto de bens, de qualquer ordem, pertencentes a um titular, constitui o seu patrimônio. Patrimônio, segundo a doutrina, é o complexo das relações jurídicas de uma pessoa, que tiverem valor econômico. Assim, compreendem-se no patrimônio tanto os elementos ativos (dinheiro, créditos) quanto os passivos (dívidas). O patrimônio restringe-se aos bens avaliáveis em dinheiro. Nele não se incluem as qualidades pessoais, o conhecimento, a força de trabalho, porque são considerados simples fatores de obtenção de receitas, quando utilizados para esse fim. 2 3. CLASSIFICAÇÃO DOS BENS: O Código Civil utilizou 4 critérios para classificar os bens: Considerados em si mesmos (arts. 79 a 91); Em relação aos outros (arts. 92 a 97); Em relação com o titular do domínio (arts. 98 a 103); e Em relação à suscetibilidade de serem negociados. 3.1. BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS: São aqueles que são observados independentemente de qualquer relação com outros. A) Bens corpóreos e bens incorpóreos: Malgrado não contemplada na lei com dispositivos específicos, a classificação dos bens em corpóreos e incorpóreos tem a sua importância. Inicialmente, a doutrina ao encarar os bens em relação a si mesmos, distinguiu-os em corpóreos e incorpóreos. Bens corpóreos (ou materiais) são os que têm existência física, material e podem ser tangidos (possibilidade de serem tocados) pelo homem. � Exemplos: cadeira, carro, livro... Já os bens incorpóreos (ou imateriais) são os que têm existência abstrata ou ideal, mas são dotados de valor econômico. São criações da mente humana reconhecidas pela ordem jurídica. � Exemplos: o direito autoral, o crédito, o fundo de comércio ... OBS.: Quanto à forma de transferência, os bens corpóreos são objetos de compra e venda, doação ou permuta. Já a alienação de bens incorpóreos se faz pela cessão (daí se falar em cessão de crédito, cessão de direitos hereditários, etc.) B) Bens móveis e bens imóveis: Bens imóveis são aqueles que não podem ser transportados de um lugar para outro sem destruição. Isto é, são os que não podem ser removidos sem alteração de sua substância. � Exemplos: o terreno, a casa ... Ver: arts. 79, 80 e 81 CC/2002 Bens móveis são aqueles que podem ser removidos de um lugar para outro sem destruição. As coisas de movimento próprio também são consideradas bens móveis. � Exemplos: a mobília, o carro, o cavalo ... Ver: arts. 82, 83 e 84 CC/2002 C) Bens Fungíveis e Infungíveis: Bens fungíveis são aqueles que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. � Exemplo: o dinheiro, o arroz ... Ver: art.85 CC/2002 3 Bens infungíveis são aqueles que, embora da mesma espécie, não podem ser substituídos por outros. � Exemplo: o cavalo de corrida, um quadro famoso ... D) Bens Consumíveis e Inconsumíveis: Os bens consumíveis são os que terminam logo com o primeiro uso, havendo imediata destruição de sua substância. � Exemplo: o dinheiro, os alimentos ... Ver: art.86 CC/2002 Os bens inconsumíveis são os que podem ser usados continuadamente, possibilitando que se retirem todas as suas utilidades sem atingir sua integridade. � Exemplo: as roupas, o carro, o livro ... E) Bens Divisíveis e Indivisíveis: Bens divisíveis são os que podem ser partidos em porções reais e distintas formando cada qual um todo perfeito. � Exemplo: o dinheiro, a saca de café ... Ver: art.87 CC/2002 Já os Bens indivisíveis são os que não comportam fracionamento. Se vierem a ser fracionados perdem a sua utilidade. � Exemplo: um livro, uma mesa ... F) Bens Singulares e Coletivos: Os Bens singulares são aqueles que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais. São considerados em sua individualidade. Uma casa, um relógio, são exemplos típicos de bens singulares. � Exemplo: um boi, um carro, uma laranja etc., pois que, mesmo se reunidos a outros (boiada, estacionamento, plantação etc.) são considerados individualmente, podendo ser vendidos por unidade. Ver: art.89 CC/2002 Já Bens coletivos são os que, sendo compostos de várias coisas singulares, se consideram em conjunto, formando um todo, uma unidade, que passa a ter individualidade própria, distinta da dos seus objetos componentes. Os bens coletivos são chamados universalidades. � Exemplo: uma biblioteca, pois que, apesar de ser formada por bens singulares, é "um todo" homogêneo. Eles têm uma destinação unitária, ou seja, só têm utilidade como um todo. Pense: que utilidade teria uma biblioteca com apenas um livro ? Ver: art.90 CC/2002 4 3.2. BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS: Agora, o legislador adotou outro critério, preocupando-se em classificar os bens, uns em relação aos outros, distinguindo-os em principais e acessórios. A) Bens Principais: Principal é o bem que tem existência própria, autônoma, que existe por si. � Exemplo: o solo é um bem principal, porque existe sobre si, concretamente, sem qualquer dependência. Ver: art.92 CC/2002 B) Bens Acessórios: Acessório é aquele bem cuja existência depende do principal. A acessoriedade pode existir entre coisas e entre direitos, pessoais ou reais. Importante salientar que a sua forma de classificação dependerá sempre de outro bem como referencial. � Exemplo: casa é bem acessório em relação ao solo; sem o solo a casa não tem como existir; as portas e janelas são bens acessórios em relação à casa; sem a casa as portas e as janelas não exercerão a função a que se propõem.. O Código Civil, por sua vez, enumera, expressamente, quais os tipos de bens tidos como acessórios: • Pertenças - São bens que não constituindoparte integrante, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ornamentação de outro. Isto é, as pertenças – trata-se das coisas que, sem integrarem a coisa principal, facilitam a sua utilização, a exemplo do aparelho de ar condicionado em uma casa. (Ver: art.93 CC/2002); • Frutos - São aqueles bens acessórios produzidos periodicamente pela coisa, cuja percepção e consumo não alteram a substância da coisa principal frugívera. São frutos naturais aqueles produzidos pela força orgânica (ex: bezerro, carneiro, maçã, laranja); industriais os produzidos pela arte humana (ex: tecido produzido pelo tear) e civis aqueles produzidos pela coisa em razão da cessão remunerada da posse (ex: rendimentos, juros, aluguel). (ver art.95 CC/2002); • Produtos - São os bens acessórios que não se produzem com periodicidade e seu consumo altera a substância da coisa principal, reduzindo, portanto, o seu valor. Exemplo se dá com o petróleo, o ouro, as pedras preciosas. • Benfeitorias - São as obras realizadas com o objetivo de embelezar, melhorar ou conservar a coisa principal. São sempre construções efetivadas pelo homem em uma coisa já existente. Não são criações novas. (ver arts.96 e 97 CC/2002); 5 3.3. BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO AO SUJEITO: Quanto aos sujeitos a que pertencem, os bens classificam-se em públicos e particulares. A) Bens Particulares: Os bens particulares são os bens que não pertencem às pessoas jurídicas de direito público. A definição é por exclusão. Aquilo que não pertence ao Estado será pertencente às pessoas de direito privado, quer natural quer jurídica. Ver: art.98, parte final, CC/2002 B) Bens Públicos: Já os bens públicos são as coisas corpóreas ou incorpóreas pertencentes ao Estado, ou seja, às pessoas jurídicas de direito público interno. Compreendem os bens da União, dos Estados, dos Municípios, do Distrito Federal, além das autarquias e das fundações de direito público. Ver: art.98, parte inicial, CC/2002 O Código Civil ainda reparte os bens públicos em três categorias: • Bens Públicos de Uso Comum do Povo – São os que se destinam à utilização geral pela coletividade. Exemplo: mares, rios, estradas, ruas e praças; • Bens Públicos de Uso Especial – São os que se destinam à execução dos serviços administrativos e dos serviços públicos em geral. Constituem o aparelhamento material da Administração Pública para atingir seus fins. Exemplo: um prédio em que esteja instalado um hospital público; • Bens Públicos Dominicais – São os bens que embora constituam o patrimônio público, não possuem uma destinação pública determinada ou um fim administrativo específico. Exemplo: os prédios públicos desativados e os móveis inservíveis. Ver: art.99 CC/2002 3.4. BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO A SUA COMERCIALIDADE: O vocábulo “comércio” era empregado no Código Civil de 1916 no sentido jurídico de possibilidade de compra e venda, de liberdade de circulação, de poder de movimentação dos bens1. O Novo Código Civil, diferentemente do anterior, não cogitou expressamente sobre as coisas fora do comércio, embora seja tema de interesse doutrinário. De modo em geral, todos os bens podem ser apropriados e alienados, tanto a título oneroso como a título gratuito. No entanto, existem exceções a essa regra, constituindo-se o que se convencionou a chamar de “bens fora do comércio ou inalienáveis”. 1 Código Civil de 1916 - Art. 69. São coisas fora do comércio as insuscetíveis de apropriação, e as legalmente inalienáveis. 6 Nestes termos, podemos definir: A) Bens no comércio: Bens no comércio, alienáveis ou disponíveis, são os que se encontram livres de quaisquer restrições que impossibilitem sua transferência ou apropriação, podendo portanto, passar, gratuita ou onerosamente, de um patrimônio a outro. B) Bens fora do comércio: Bens inalienáveis, ou fora do comércio, são os bens que não podem ser transferidos de um acervo patrimonial a outro ou são insuscetíveis de apropriação, por sua natureza, por disposição de lei ou por vontade de uma determinada parte (cláusula de inalienabilidade). Pela natureza da restrição, os bens fora do comércio se classificam em: • Inapropriavéis pela própria natureza - Bens de uso inexaurível como mar, ar e luz solar. São conhecidas como res communes omnium (coisas comuns a todos); • Legalmente inalienáveis - Bens que, embora sejam materialmente apropriáveis, têm sua livre comercialização vedada por lei para atender a interesses econômico-sociais, de defesa social ou proteção de pessoas. Só excepcionalmente podem ser alienados, o que exige lei específica ou decisão judicial (alvará). É o caso dos bens públicos de uso comum do povo, bens dotais, terras ocupadas pelos índios, bem de família, etc.; • Inalienáveis pela vontade humana - São os bens que por ato de vontade, em negócios gratuitos, são excluídos do comércio jurídico, gravando-se a cláusula de inalienabilidade/impenhorabilidade. É o caso de um imóvel doado, onde no contrato de doação o Doador faz constar expressamente uma cláusula de inalienabilidade do bem.
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