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UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL- IFAL/DEPEAD/UAB LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS CIENTÍFICOS Rafael Bezerra de Lima Maceió 2011 SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................... UNIDADE 1 1. Linguística Textual .......................................................................................... 1.1. Um breve percurso histórico............................................................................ 1.2. Conceito de texto............................................................................................ 2. A coerência textual............................................................................................ UNIDADE 2 1. Estratégias de Leitura: reforçando algumas ideias...................................... 1.1 O que é ler?............................................................................................... 1.2. Ler e compreender................................................................................... 1.3. A compreensão de textos escritos .......................................................... 2. Estratégias de Produção Textual ............................................................... UNIDADE 3 1. O gênero científico................................................................................ 1.1. ABNT 2011 – Trabalhos Acadêmicos.......................................................... 1.2. Que é e como se faz um resumo?.............................................................. 1.3. Que é e como se faz uma resenha?........................................................... 1.4. Que é e como se faz um artigo científico?..................................................... CONCLUSÃO................................................................................................. REFERÊCIAS.............................................................................................. INTRODUÇÃO Este livro pretende apresentar de maneira sucinta as estratégias de leitura e produção textual, lançando mão dos pressupostos teóricos da Linguística Textual, a qual procura analisar a língua através de textos, pois parte-se da premissa de que se há comunicação, esta deve ser realizada através de textos, sejam orais ou escritos. Ninguém se comunica falando frases soltas e desconexas, pelo contrário, todo o processo de interação verbal é inserido em um contexto real de comunicação. Por essa razão, há elementos significativos presentes na leitura e na produção de textos, tais como a coesão e a coerência. Com base no exposto, iremos apresentar brevemente, na unidade 1 deste livro, o percurso histórico da Linguística Textual, bem como uma discussão sobre os elementos de textualidade, essenciais para a construção de uma teoria do texto. Nesta mesma unidade, iremos discorrer sobre o conceito de texto e de coerência textual. Cumpre destacar que nossa exposição é superficial, demandando, por essa razão, outras leituras elencadas nas referências deste livro. Na unidade 2, iremos apresentar algumas estratégias de leitura e de produção textual. Para tanto, buscaremos ilustrar nossas definições através de exemplos. Procuraremos, nessa unidade, descrever e analisar os fenômenos inerentes ao processo de leitura e produção textual, embasando-nos nos principais pesquisadores da Linguística Textual. Com relação à unidade que fecha nosso livro, iremos tratar da produção textual do gênero científico, como resumo, resenha e artigo científico, tão importante para a comunidade científica e para a metodologia do professor em sala de aula. Por essa razão, iniciamos essa unidade, citando a ABNT no que tange aos trabalhos acadêmicos, pois é esse órgão que regulamente entre outras coisas a formatação dos trabalhos acadêmico-científicos. Esperamos que este livro venha contribuir para a formação docente dos alunos de Letras e/ou de outras áreas, haja vista a importância que a língua portuguesa exerce sobre todas as áreas do conhecimento. Por essa razão, conhecer os segredos do texto, as estratégias de leitura, as estratégias de produção textuais, os elementos básicos que compõem um texto, como coesão e coerência, e outros também importantes como inferência, intertextualidade, situcionalidade, intencionalidade e informatividade, favorece na leitura e produção textual. É importante frisar que este livro não exaure todas as possibilidades de se estudar um texto, ao contrário, é apenas uma introdução da corrente teórica que tem como objeto de análise o texto, a saber, a Linguística Textual, e a partir disso, descrever alguns tipos e gêneros textuais, entre os quais o gênero científico. Assim, recomendamos o(a) caro(a) leitor(a) a consultar e aprofundar suas leituras, baseando-se, como já frisamos, nas obras citadas nas referências deste livro. Esperamos que todos tenham uma boa leitura e bons estudos através do mundo infinito de textos, pois acreditamos que toda forma de comunicação humana se dá pelo viés da produção textual, seja oral ou escrita, contextualizada e que leva em consideração interferências externas e internas ao seu processo de construção. UNIDADE 1 1. Linguística Textual 1.1. Um breve percurso histórico O termo Linguística Textual foi empregado pela primeira vez por Harald Weinrich, autor alemão que postula toda a Linguística ser necessariamente Linguística de Texto. Na história da constituição do campo da Linguística de Texto, podemos afirmar que não houve um desenvolvimento homogêneo. Segundo Marcuschi (1998), “seu surgimento deu-se de forma independente, e com propostas teóricas diversas”. Entretanto, de uma forma geral, é possível distinguir três momentos que abrangeram preocupações teóricas bastante diversas entre si. Análise transfrástica: parte da frase para o texto. Para Isenberg (1970): um texto era definido como uma “sequência coerente de enunciados”. 1. “Pedro foi ao cinema. Ele não gostou do filme.” O estudo sobre a conexão entre enunciados também levou os pesquisadores a indagarem sobre como se estabelecia a relação entre uma sequência e outra sem a presença de um conector. Vejamos o exemplo a seguir: 2. Não fui à festa de seu aniversário: passei-lhe um telegrama. 3. Não fui à festa de seu aniversário: estive doente. 4. Não fui à festa de seu aniversário: não posso dizer quem estava lá. Gramáticas textuais: as primeiras gramáticas textuais representaram um projeto de reconstrução do texto como um sistema uniforme, estável e abstrato. Muitos autores dessa linha de análise, entre os quais Dressler (1972, 1977), Dijk (1972, 1973), consideram que (i) não há uma continuidade entre frase e texto porque há, entre eles, uma diferença de ordem qualitativa e não quantitativa, já que a significação de um texto, segundo Lang (1972), constitui um todo que é diferente da soma das partes. Além disso, consideram que (ii) o texto é a unidade linguística mais elevada, a partir da qual seria possível chegar, por meio de segmentação. Por último consideram que (iii) todo falante nativo possui um conhecimento acerca do que seja um texto, conhecimento este que num é redutível a uma análise frasal, já que o falante conhece não só as regras subjacentes às relações interfrásticas, como também sabe reconhecer quando um conjunto de enunciados constitui um texto ou quando se constitui em apenas um conjunto aleatório de palavras ou sentenças. Assim, todo falante possuiria, segundo Charolles (1989), três capacidades textuais básicas, a saber: a) Capacidade formativa; b) Capacidade transformativa; c)Capacidade qualificativa. Segundo Fávero e Koch (1983), se todos os usuários da língua possuem essas habilidades, que podem ser nomeadas genericamente como competência textual, poderia justificar-se, então, a elaboração de uma gramática textual que deveria ter basicamente as seguintes tarefas: a) Verificação do que faz com que um texto seja um texto; b) Levantamento de critérios para a delimitação de textos; c) Diferenciação de várias espécies de textos. Teoria do texto: ao contrário das gramáticas textuais, preocupadas em descrever a competência textual de falantes/ouvintes idealizados, propõe-se a investigar a constituição, o funcionamento, a produção e a compreensão dos textos em uso. Segundo Marcuschi (1998), no final da década de setenta, a palavra de ordem não era mais a gramática de texto, mas a noção de textualidade. Segundo Beaugrande e Dressler apud Koch e Travaglia (1995), a textualidade é constituída pelas seguintes categorias: coesão, coerência, intertextualidade, informatividade, intencionalidade, aceitabilidade e situacionalidade. As duas primeiras estão mais relacionadas à materialidade linguística, e as demais relacionadas aos interlocutores/usuários e à situação pragmática em que os textos estão inseridos. Vejamos algumas concepções de tais categorias: a) Coesão: “é a maneira como os constituintes da superfície textual se encontram relacionados entre si, numa sequência, através de marcas linguísticas; é a ligação entre os elementos superficial do texto” (Beaugrande e Dressler apud Koch e Travaglia, 1995, p. 16). b) Coerência: “seria a possibilidade de estabelecer, no texto alguma forma de unidade ou relação. Essa unidade é sempre apresentada como unidade de sentido no texto, o que caracteriza a coerência como global, isto é, referente ao texto como um todo” (Koch e Travaglia, 1995, p. 12). c) Intertextualidade: “compreende as diversas maneiras pelas quais a produção e recepção de dado texto depende do conhecimento de outros textos por parte dos interlocutores, isto é, diz respeito aos fatores que tornam a utilização de um texto dependente de um ou mais textos previamente existentes” (id. Ibid., p. 88). d) Informatividade: “designa em que medida a informação contida no texto é esperada / não-esperada, previsível/imprevisível. (...) Assim, o texto será tanto menos informativo, quanto maior a previsibilidade; e tanto mais informativo, quanto menor a previsibilidade” (Beaugrande e Dressler apud Koch e Travaglia, 1995, p. 80-81). e) Intencionalidade: “em sentido restrito, (...) trata ‘da intenção do emissor de produzir uma manifestação linguística coesiva e coerente, ainda que essa intenção nem sempre se realize integralmente (...). Em sentido amplo, ‘a intencionalidade abrange todas as maneiras como os emissores usam textos para perseguir e realizar suas intenções comunicativas’” (Koch e Travaglia, 1995, p.79-80). f) Aceitabilidade: “diz respeito à atitude dos receptores ‘de aceitarem a manifestação linguística como um texto coesivo e coerente, que tenha para eles alguma utilidade ou relevância’” ((Koch e Travaglia, 1995, p. 79). g) Situacionalidade: “refere-se ao conjunto de fatores que tornam um texto relevante para dada situação de comunicação corrente ou passível de ser reconstituída” (Beaugrande e Dressler apud Koch e Travaglia, 1995, p. 76). Marcuschi (op. cit) afirma ainda que se pode desenhar a Linguística Textual como “uma disciplina de caráter multidisciplinar, dinâmica, funcional e processual, considerando a língua como não-autônoma nem sob seu aspecto formal. 1.2. Conceito de texto Leontév (1969) afirma ser essencial: o fato de que “o texto não existe fora de sua produção ou de sua recepção”. O texto não deve ser mais considerado uma estrutura acabada (produto). Assim, em uma terceira fase, aquela que abrange a elaboração de uma teoria do texto, a definição de texto deve levar em conta que: - a produção textual é uma atividade verbal; - a produção textual é uma atividade verbal consciente; - a produção textual é uma atividade interacional. A língua, a partir dos preceitos de teóricos de Bakhtin, passa a ser considerada como objeto de interação verbal. Assim, não se deve considerar uma enunciação senão direcionada a um interlocutor, quer seja na modalidade oral, quer seja na modalidade escrita. Não existe, segundo este teórico, signo linguístico que não seja considerado uma ponte entre o emissor e seu interlocutor. Sobre isso, Bakhtin acrescenta que: Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Todo palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da palavra, defino-me em uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, na outra se apoia sobre meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor. (BAKHTIN, 1997, p. 22) Segundo Koch (1997), uma definição de Linguística do texto é a que segue: Proponho que se veja a Linguística do Texto, mesmo que provisória e genericamente, como o estudo das operações linguísticas e cognitivas reguladoras e controladoras da produção, construção, funcionamento e recepção de textos escritos ou orais. Seu tema abrange a coesão superficial ao nível dos constituintes linguísticos, a coerência conceitual ao nível semântico e cognitivo e o sistema de pressuposições e implicações a nível pragmático da produção de sentido no plano das ações e intenções. Koch (op. cit.) define de maneira interessante a noção de Linguística de texto, haja vista que para que um texto seja considerado como tal, é preciso haver coesão e coerência. É sobre esta que trataremos na seção seguinte. 2. A coerência textual O(s) sentido(s) do texto não está/estão no texto em si, mas depende(m) de fatores de diversas ordens: linguísticos, cognitivos, socioculturais, interacionais. Quando estamos diante de um texto, nossa primeira atitude é a de sermos cooperativos com, ou seja, sempre agimos como se este fosse coerente, fazendo um esforço necessário para compreendê-lo. A coerência de uma determinada produção textual depende de uma série de fatores, tais como recursos linguísticos, conhecimento de mundo, papel social do leitor ou destinatário etc.1. O texto abaixo, por exemplo, refere ao fato de seu compositor tê-lo feito para um amigo exilado político durante a ditadura militar, que se figurava no Brasil na década de 60. Para um leitor que não vivenciou esse momento histórico, provavelmente não terá essa interpretação. O amigo exilado é o cantor Caetano Veloso, que na época tinha cabelos longos e encaracolados. Percebemos também que o compositor faz muita referência a um ambiente litorâneo, pois Caetano Veloso é baiano. Todas essas informações são importantes para que possamos compreender o sentido do texto. Entretanto, muitas outras leituras são possíveis, haja vista que o texto é polissêmico, i.e., quem não tem essas informações sobre a composição da música fará outra interpretação igualmente válida. 11 Todos esses recursos linguísticos serão detalhados na unidade 2 deste livro, quando formos tratar das estratégias de leitura e produção textual. 5. Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Composição : Roberto Carlos Um dia a areia branca Seus pés irão tocar E vai molhar seus cabelos A água azul do mar Janelas e portas vão se abrir Pra ver você chegar E ao se sentir em casa Sorrindo vai chorar Debaixodos caracóis dos seus cabelos Uma história pra contar de um mundo tão distante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Um soluço e a vontade de ficar mais um instante As luzes e o colorido Que você vê agora Nas ruas por onde anda Na casa onde mora Você olha tudo e nada Lhe faz ficar contente Você só deseja agora Voltar pra sua gente Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Uma história pra contar de um mundo tão distante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Um soluço e a vontade de ficar mais um instante Você anda pela tarde E o seu olhar tristonho Deixa sangrar no peito Uma saudade, um sonho Um dia vou ver você Chegando num sorriso Pisando a areia branca Que é seu paraíso Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Uma história pra contar de um mundo tão distante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Um soluço e a vontade de ficar mais um instante. De acordo com o exposto, a situação comunicativa interfere na produção/recepção de um texto. Segundo koch e Travaglia (1990), a situação comunicativa tanto pode ser entendida em seu sentido restrito – contexto imediato de interação -, como pode ser entendida em seu sentido mais amplo, ou seja, o contexto sócio-político-cultural. Há outros fatores também importantes para a compreensão do sentido global de um texto. A intertextualidade é um desses outros fatores. Para Barthes (1974), “[...] todo texto é um intertexto; outros textos estão presentes nele, em níveis variáveis, sob formas mais ou menos reconhecíveis”. Vejamos alguns exemplos: 6. Algum poder ao povo. Título de uma matéria publicada no Caderno Internacional do Jornal do Brasil, de 16/05/98, sobre os conflitos na Indonésia. 7. Entre beijos e tapas. Título de um texto de crítica de teatro, publicado no Caderno B do Jornal do Brasil, de 16/05/98. 8. Dizem que a primeira copa a gente nunca esquece. Essa, então, ficará na memória para sempre. É a última do século e tem que dar Brasil. Fala de Roberto Carlos, lateral da seleção brasileira convocado para a copa de 1998, no Correio Popular, jornal de Campinas, São Paulo, 15/08/98. 9. Quem não fizer o PIC Carnaval é ruim da cabeça. Ou doente do pé. (propaganda do Banco Itaú) 10. De volta para o futuro. Título da matéria de capa do Caderno Ilustrada da Folha de São Paulo. De 02/01/99, sobre o escritor paulistano Jerônymo Monteiro, pai da ficção científica brasileira. Como podemos perceber os exemplos acima demonstram claramente o diálogo entre textos. Para se reconhecer que há intertextualidade em um texto, deve-se ter uma gama de leitura extensa sobre os mais variados gêneros. A experiência linguística é que irá determinar a compreensão sobre intertextualidade2. Na próxima unidade, iremos discorrer mais especificadamente sobre as estratégias de leitura e produção textual, apresentando, para tanto, vários exemplos de textos, inclusive o texto científico. 2 Para uma leitura aprofundada sobre o tema intertextualidade ver Koch, Bentes e Cavalcante (2007). UNIDADE 2 1. Estratégias de leitura: reforçando algumas ideias 1.1 O que é ler? Sobre essa indagação, aparentemente trivial, uma possível resposta poderia ser: decodificar textos, com o objetivo de entendê-los. Entretanto, tal resposta não consegue descrever o que realmente acontece em um processo de leitura. Imaginemos que alguém, ao andar por uma rua, encontre um papel misterioso, no qual está escrito “Eu quero encontrar você amanhã no mesmo horário”. Ora, se se considerar verdadeira a resposta supracitada para a indagação que abre esta subseção, deveria a pessoa que encontrou o bilhete decodificar e entender seu enunciado. Na prática, isso não acontece, uma vez que quando lemos entram em jogo outros elementos essenciais para que o entendimento de um texto seja realizado. Levando em consideração ainda nosso exemplo, observamos que não se consegue estabelecer coerência ao enunciado pelo fato de o bilhete conter elementos dêiticos, isto é, elementos que necessitam do contexto pragmático para lhes atribuir sentido. Por exemplo, eu, você, amanhã e mesmo horário precisam do contexto imediato de interação para ganhar sentido, isto é, uma pessoa pode ler o bilhete, mas não irá saber a quem pertence, para quem está destinado, quando se referem o amanhã e o mesmo horário. Assim, o bilhete não fará sentido algum para quem o encontrou pelo meio do caminho. Com base no exposto acima, fica evidente que precisamos trabalhar essa modalidade da língua em nossas escolas; promover no ambiente escolar o gosto pela leitura, preferencialmente desde as séries iniciais, haja vista que durante muito tempo o tema da leitura tem sido tratado na escola como algo desafiador para a maioria de professores, sendo um dos principais argumentos o de que o aluno, geralmente, não gosta de ler, não sabe ler, ou não tem o “hábito” da leitura. Por essas razões, dentre outras, muitas pesquisas têm sido realizadas no intuito de tentar identificar os problemas mais salientes desse processo, bem como possíveis formas de tentar minimizar a crise no ensino, ou, pelo menos, apontar caminhos alternativos de tratamento da questão. Dentre as principais questões que muitos desses estudos têm enfocado destacam-se a busca por uma estratégia de mudar a forma de trabalhar a leitura em sala de aula, ou seja, consiste em viabilizar um ensino mais significativo para os alunos, na medida em que estes possam se constituir como sujeitos-leitores de fato. Nessa perspectiva, é concebida a leitura como trabalho dos sujeitos, sendo cada leitor também coautor do texto, na medida em que se posiciona frente ao que lhe é proposto, respondendo de alguma forma as expectativas ou não do autor. Assim, diz-se que o leitor deve ser encarado como participante na atividade da leitura, contribuindo para dar coerência ao texto, inserindo as temáticas apresentadas num mundo pleno de significado. Entretanto, Sedrins e Lima (2000, p. 85), com relação ao ensino de língua portuguesa, afirmam que: O ensino de língua portuguesa, no Brasil, tem por finalidade, segundo diversas propostas curriculares, criar situações nas quais os alunos ampliem o domínio ativo do discurso nas diversas situações comunicativas, possibilitando, nesse sentido, sua inserção efetiva no mundo da escrita e da leitura, ampliando suas possibilidades de participação social no exercício da cidadania. Mas de uma maneira geral, o que se pode observar atualmente em diversas escolas, tanto nas de rede pública quanto na rede privada, é que essas situações são excluídas das aulas do ensino de língua portuguesa, e, se ocorrem, são de maneira oblíqua, dando ênfase maior às regras ditatoriais da gramática normativa, encontrando-se o aluno impossibilitado de criar suas próprias ideias e desenvolvê-las. Com base nisso, é pertinente salientar que os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) de língua portuguesa têm como postulação básica que o ensino deva ser centrado no texto, seja em termos de produção escrita, seja em termos de leitura. Isso trouxe um avanço para a metodologia de abordagem do texto em sala de aula, ou, pelo menos, regulamentou a forma como o professor deva conduzir suas atividades, sempre pautadas na criatividade do aluno, promovendo, com isso, a competência comunicativa3. Vejamos o que rezam os PCNs de língua portuguesa, no que se refere à leitura: “A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a língua: características do gênero, do portador, do sistema de escrita,etc. Não se trata simplesmente de ‘extrair informação da escrita’ decodificando-a letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica, necessariamente, compreensão. Qualquer leitor experiente que conseguir analisar sua própria leitura, constatará que a decodificação é apenas um dos procedimentos que utiliza quando lê: a leitura fluente envolve uma série de outras estratégias como seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível rapidez e proficiência. É o uso de procedimentos desse tipo que permite controlar o que vai sendo lido, tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, arriscar-se diante do desconhecido, buscar no texto a comprovação das suposições feitas etc. 3 É a capacidade dos usuários da língua (falante, escritor, leitor) de empregar adequadamente a língua nas diversas situações de comunicação. “Formar um leitor competente, supõe formar alguém que compreenda o que lê; que possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando elementos implícitos; que estabeleça relações entre o texto que lê e outros textos já lidos; que saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um texto; que consiga justificar e validar sua leitura a partir da localização de elementos discursivos que permitam fazê-lo.” (grifos meus) E mais adiante: “Uma prática constante de leitura na escola deve admitir ‘leituras’. Pois outra concepção que deve ser superada é o mito da interpretação única, fruto do pressuposto de que o significado está no texto. O significado, no entanto, constrói-se pelo esforço de interpretação do leitor, a partir não só do que está escrito, mas do conhecimento que traz para o texto. É necessário que o professor tente compreender o que há por trás dos diferentes sentidos atribuídos pelos alunos aos textos; às vezes é porque o autor intencionalmente ‘jogou com as palavras’ para provocar interpretações múltiplas; às vezes é porque o texto é difícil ou confuso; às vezes é porque o leitor tem pouco conhecimento sobre o assunto tratado e, a despeito do seu esforço, compreende mal. Há textos nos quais as diferentes interpretações fazem sentido e são necessárias: é o caso dos bons textos literários. Há outros que não: textos instrucionais, enunciados de atividades e problema matemáticos, por exemplo, só cumprem sua função se houver compreensão do que deve ser feito”. Segundo Koch, são claramente os ensinamentos da Linguística Textual que respaldam as postulações dos PCNs. Compreensão, leitura do que não está escrito, construção de sentidos são habilidades que envolvem questões como a da implicitude (já que, como sabemos, não existem textos totalmente explícitos); dos tipos de implícito e das formas de sua recuperação, nessa eterna “caça ao sentido” que é inerente à espécie humana (DASCAL, 1992), isto é, da necessidade de ler “o que não está escrito”, mas que é indispensável para a construção do sentido; dos tipos de inferências necessárias para fazê-lo e de como se processam estrategicamente; de outras estratégias cognitivo- discursivas, como seleção, antecipação, verificação, nessa atividade de solução de problemas que é o processamento textual; da necessidade de mobilização de saberes que constituem a memória enciclopédica e dos diversos tipos de conhecimentos a serem mobilizados em função da situação, inclusive aqueles referentes aos gêneros textuais, já que se preconiza o ensino do texto por intermédio deles; da intertextualidade, condição mesma de existência dos textos; da necessidade de se admitir uma multiplicidade de leituras (desde que permitidas pela forma como o texto se encontra linguisticamente construído), “já que o mito da interpretação única é fruto do pressuposto de que o significado está no texto”; da capacidade de justificar e validar a leitura a partir da localização de elementos discursivos que permitam fazê-lo. Todas estas são questões que vêm fazendo parte da agenda da Linguística Textual há mais de duas décadas. O que caberia observar com relação ao que diz o documento é que não só os bons textos literários permitem diferentes interpretações, visto que, como afirmam os próprios PCNs, o sentido não está no texto, mas é uma construção que se opera no decorrer do jogo interacional (produtor-texto-leitor). É claro que o gênero textual vai determinar a maior ou menor possibilidade de múltiplas leituras. Há gêneros em que um maior fechamento (ou, em certos casos, até uma leitura unívoca) se faz desejável, ao passo que, em outros, há um conjunto de leituras possíveis, a partir da forma como o texto se encontra linguisticamente construído. Por fim, a autora conclui que há outros em que se joga justamente com a pluricidade de leituras, com vista a determinados fins. Geraldi (1984, p. 80), citando Lajolo (1982), afirma que ler é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significação, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista. Os professores podem utilizar diversas estratégias para auxiliar o aluno, que já é um falante de sua língua, a descobrir outros mundos linguísticos, como a leitura e produção escrita, por exemplo. Essa é a função básica do ensino de língua portuguesa. Para tanto, apresentamos abaixo uma lista de atividades que pode ser empregada em sala de aula, retirada de Oliveira et al (2000, p. 31): Criar um clima de descontração em sala de aula, para que a conversão flua de maneira espontânea; Discutir com os alunos temas que façam parte de sua realidade e, a partir do que for discutido, direcionar a aula para o assunto planejado, ou aproveitar algum questionamento como pretexto para trabalhar alguma dificuldade do aluno mesmo que fuja ao tema planejado; Dar oportunidade para o aluno conhecer diversos tipos de textos em modalidades (oral, escrito, verbal, não verbal) e gêneros (carta, bilhete, crônica, poesia etc) em atividades na sala de aula ou extraclasse, utilizando recortes de jornais, revistas, gibis, propagandas, fotografias, poesias (popular e erudita), músicas com características regionais,e a partir de textos estudados: - Elaborar resumos; - Produzir um texto crítico e/ou comparativo; - Dar um novo desfecho para a história; - Produzir redação imitativa; - Fazer paródias (um texto a partir de outro, utilizando a mesma estrutura, modificando o sentido e os objetivos a serem atingidos); - Fazer paráfrases (um texto a partir de outro, conservando as ideias originais); - Apresentar o texto em outras linguagens (desenho, pintura, mímica, dramatização etc). 1.2 Ler e compreender A Linguística textual (ver seção 2.1 desta unidade) pode oferecer ao professor subsídios indispensáveis para a realização do trabalho acima mencionado: a ela cabe o estudo dos recursos linguísticos e condições discursivas que presidem à construção da textualidade e, em decorrência, à produção textual dos sentidos. Isto vai significar, inclusive, uma revitalização do estudo da gramática: não, é claro, como um fim em si mesma, mas com o objetivo de evidenciar de que modo o trabalho de seleção e combinação dos elementos linguísticos, dentro das variadas possibilidades que a gramática da língua nos põe à disposição, nos textos que lemos ou produzimos, constitui um conjunto de decisões que vão funcionar como instruções ou sinalizações a orientar nossa busca pelo sentido (cf. KOCH, 2008; KOCH e TRAVAGLIA, 2008; KOCH, BENTES e CAVALCANTE, 2007; KOCH e ELIAS,2009, MARCUSCHI, 1983 e outros). Já foi salientado, acima, que o recurso ao contexto é indispensável para a compreensão e, deste modo, para a construção da coerência textual. O contexto, da forma como é aqui entendido, engloba não só o co-texto, como a situação de interação imediata, a situação mediata (entorno sócio-político- cultural) e também o contexto cognitivo dos interlocutores. Este último, na verdade, subsume os demais. Ele reúne todos os tipos de conhecimentos arquivados na memória dos actantes sociais, que necessitam ser mobilizados por ocasião do intercâmbio verbal: o conhecimento linguístico propriamente dito, o conhecimento enciclopédico, quer declarativo (conhecimento que recebemos pronto, que é introjetado em nossa memória ‘por ouvir falar’), quer episódico (“frames”, “scripts”) (conhecimento adquirido através da convivência social e armazenado em ‘bloco’, sobre as diversas situações e eventos da vida quotidiana; cf. Koch, 1997), o conhecimento da situação comunicativa e de suas “regras” (situacionalidade), o conhecimento superestrutural ou tipológico (gêneros e tipos textuais), o conhecimento estilístico (registros, variedades de língua e sua adequação às situações comunicativas), bem como o conhecimento de outros textos que permeiam nossa cultura (intertextualidade) (cf. KOCH e ELIAS, 2009). Koch assevera ainda que o sentido de um texto, qualquer que seja a situação comunicativa, não depende tão-somente da estrutura textual em si mesma. Isso remete ao exemplo que iniciou essa subseção, a saber, o bilhete escrito “Eu quero encontrar você amanhã no mesmo horário”. Decodificar essa informação, em linhas gerais, é apenas reconhecer o código linguístico, i.e., não é permitido interpretar, embora seja inerente ao falante atribuir significação a tudo que lhe é apresentado. Assim, o leitor/ouvinte, por sua vez, espera sempre um texto dotado de sentido e procura, a partir da informação contextualmente dada, construir uma representação coerente, por meio da ativação de seu conhecimento de mundo e/ou de deduções que o levam a estabelecer relações de causalidade, A Vaguidão Específica "As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago- específica." Richard Gehman - Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte. - Junto com as outras? - Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia. - Sim senhora. Olha, o homem está aí. - Aquele de quando choveu? - Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo. - Que é que você disse a ele? - Eu disse pra ele continuar. - Ele já começou? - Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse. - É bom? - Mais ou menos. O outro parece mais capaz. - Você trouxe tudo pra cima? - Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar até a véspera. - Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor, senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite. - Está bem, vou ver como. (Millôr Fernandes, Trinta anos de mim mesmo) O show O cartaz O desejo O pai O dinheiro O ingresso O dia A preparação A ida O estádio A multidão A expectativa A música A vibração A participação O fim A volta O vazio temporalidade etc. É o que nos mostra o texto de Millôr Fernandes, no qual o autor retrata o diálogo entre duas personagens femininas sobre um assunto qualquer que não conseguimos determinar exatamente o que é, mas que através de nosso repertório cognitivo podemos atribuir algum sentido a esse texto. TEXTO 1 Há um elemento no texto acima que explica todo o seu conteúdo. Deixo aqui em aberto para que o(a) caro(a) leito(ra) o descubra através das estratégias que o próprio texto oferece. O mesmo acontece com o texto 2 abaixo. Observe qual é o elo que une o texto, cuja função é dar-lhe sentido. TEXTO 2 Bem, acertou quem observou que o título amarra todo o sentido, mesmo não havendo elementos coesivos no corpo do texto. Além do título do texto, o conhecimento de mundo e as inferências são fundamentais para que se atribua algum sentido ao texto. Nesse caso, o histórico revelado pelos elementos dispostos em uma determinada ordem cronológica que nos leva a interpretá-lo como uma sequência de ações típicas do cotidiano de uma pessoa que costuma ir a eventos musicais. Outras informações subtraídas do texto e que podemos inferir é a de que a personagem não trabalha e, provavelmente, é menor de idade. Como sabemos disso? Ora, a sequência o pai, o dinheiro, o ingresso é reveladora de nossa premissa, além de reconhecermos, através de nossos esquemas mentais sobre a estrutura familiar, que geralmente quando uma filha ou um filho pede dinheiro ao pai para comprar um ingresso é porque aquele(a) ainda mora com este, isso mostra uma dependência que uma pessoa adulta raramente teria. O texto abaixo se configura como mais um exemplo que tem no título um forte elemento desencadeador de seu sentido global. Verificamos também que a parte visual tem um papel importante, pois o contraste nas cores induz o leitor a uma ideia prévia do texto, haja vista que há o lado escuro e o lado claro de um dia comum retratado pelo seu autor. TEXTO 3 Entender um texto, atribuir-lhe um sentido, interpretá-lo é um exercício interpelado pela subjetividade de quem o lê. Em outras palavras, podemos afirmar que o ponto de vista muitas vezes determina a compreensão de um texto. Os textos abaixo conseguem representar de forma bem humorada o que acabamos de afirmar. TEXTO 4 TEXTO 5 A seleção lexical é muito importante nos dois textos acima, uma vez que cada personagem expõe seu ponto de vista, usando palavras que condizem com seu estilo, no texto 5, ou usando o jargão técnico4 da área a qual pertence, no texto 4. Um exemplo típico de textos que se utilizam de jargões são os científicos, tendo em vista que tais textos partilham informações específicas destinadas a priori a um público pré-determinado. É usado um vocabulário técnico, identificado e interpretado por indivíduos que possuam um certo domínio de seu conteúdo, como nos mostram os textos abaixo. TEXTO 6 Fonte: AMARAL, M. V. B. Evidências ideológicas que mobilizam a educação para o trabalho. In: Leitura: ideologia e práticas discursivas. n. 40, jul/dez., Maceió: EDUFAL, 2007. Os termos destacados acima dificilmente seriam interpretados por um leitor leigo no assunto, ou seja, o texto é destinado a pessoas que compartilhem informações com seu autor, como, por exemplo, alunos, 4 O jargão técnico corresponde a um conjunto de itens lexicais específicos provenientes ou característicos de uma área técnica, profissão, ofício etc. professores e pesquisadores na área das Letras. É o mesmo que acontece com o exemplo abaixo. Podemos afirmar que, embora esteja exposto num ambiente de fácil acesso, no caso a internet, o texto é destinado àqueles que se interessam por Física. Isso não impede que qualquer pessoa o leia, porém a coerência não será plenamente estabelecida, uma vez que certos elementos necessitam de uma leitura mais acurada sobre o assunto. TEXTO 7 A mecânica quântica é a teoria física que obtém sucesso no estudo dos sistemas físicos cujas dimensões são próximas ouabaixo da escala atômica, tais como moléculas, átomos, elétrons, prótons e de outras partículas subatômicas, muito embora também possa descrever fenômenos macroscópicos em diversos casos. A Mecânica Quântica é um ramo fundamental da física com vasta aplicação. A teoria quântica fornece descrições precisas para muitos fenômenos previamente inexplicados tais como a radiação de corpo negro e as órbitas estáveis do elétron. Apesar de na maioria dos casos a Mecânica Quântica ser relevante para descrever sistemas microscópicos, os seus efeitos específicos não são somente perceptíveis em tal escala. Por exemplo, a explicação de fenômenos macroscópicos como a super fluidez e a supercondutividade só é possível se considerarmos que o comportamento microscópico da matéria é quântico. A quantidade característica da teoria, que determina quando ela é necessária para a descrição de um fenômeno, é a chamada constante de Planck, que tem dimensão de momento angular ou, equivalentemente, de ação. Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mec%C3%A2nica_qu%C3%A2ntica> Como se pôde perceber, compreender um texto escrito envolve vários fatores determinantes por parte de quem o escreve, de quem o lê, do contexto em que foi escrito, do conhecimento de mundo, do conhecimento partilhado, das inferências, esquemas mentais, dos recursos linguísticos empregados e tantos outros que possam trazer contribuição na construção de seu sentido. De acordo com Silveira (2005, p. 89), “só há leitura quando, diante da informação visual, o leitor consegue produzir sentidos. São esses sentidos que levam à compreensão, que é a base da leitura. Ler, portanto, é compreender” (grifos da autora). 1.3. A compreensão de textos escritos Pearson e Johnson (1978, p. 24), apud Silveira (2005, p. 93), apresentam alguns pressupostos basilares da compreensão do texto escrito, listados abaixo: a. “Compreensão é construir pontes entre o novo e o já conhecido”. Esse princípio remete ao que já fora exposto nessa unidade, a saber, o leitor precisa compartilhar informações com as ideias do autor do texto, com o objetivo de selar uma interação mínima. Portanto, o conhecimento prévio por parte do leitor tem papel fundamental na compreensão de textos escritos, uma vez que é preciso ancorar novas informações em informações já estabelecidas. Por essa razão, um conteúdo informacional totalmente novo para o leitor se tornará incoerente, assim, não haverá compreensão. b. “A compreensão é ativa e não passiva” Com base nisso, Silveira (2005, p. 93) alega que a compreensão não é só construída a partir de alicerces já existentes, mas, acima de tudo, ela é produzida por uma série de fatores internos e externos à mente do leitor (grifos da autora). Em outras palavras, o leitor é um agente ativo no processo de compreensão de textos, pois ao absorver informação nova há uma modificação tanto quantitativa quanto qualitativa do seu conhecimento anterior. c. “A informação envolve uma grande quantidade de inferências” De fato esse princípio tem razão de ser, pois é enorme a quantidade de inferências que fazemos ou precisamos fazer, mesmo que muitas vezes inconscientemente, ao ler um texto. Se por acaso não assim o fizéssemos, cada texto deveria ser extremamente extenso e detalhista. Grande parte da carga informacional do texto está presente no próprio leitor, ou melhor, nas inferências que o leitor faz sobre o texto. Como aponta Meurer (1987, p. 9), todos os textos são incompletos em si mesmos, e dependem da contribuição de mecanismos e informações já existentes na mente do leitor, para se tornarem ocorrências comunicativas. Assim, o trecho abaixo aponta informações que estão implícitas, isto é, depende das inferências de quem o lê. “Mantega discute ICMS com governadores. Governo quer formatar fundo que será criado para compensar eventuais perdas dos Estados”. Fonte: Gazeta de Alagoas, 20 abr. 2011. d. “A compreensão é o diálogo entre o leitor e o escritor” A língua, seja na modalidade escrita ou falada, é uma ponte entre dois indivíduos. Não existe funcionamento da língua sem a interação. Assim, se falamos, falamos com alguém, mesmo que esse alguém seja a si próprio, se escrevemos, escrevemos para alguém, ou pensando sempre em um interlocutor. Ninguém escreve para nada. Isso se refere, nos termos de Bakhtin (1953), à natureza dialógica da linguagem. “E como tal, o leitor interpreta as proposições do texto de acordo com a percepção do que o escritor está tentando fazer: informar, persuadir, emocionar ou divertir” (cf. SILVEIRA, 2005, p. 94). Kleiman (1989) discorre sobre o conjunto de conhecimentos necessários à leitura. É preciso haver, ou são essenciais para o bom entendimento de um texto, o conhecimento linguístico, o conhecimento textual e o conhecimento de mundo. O primeiro refere-se ao conhecimento que o leitor tem dos elementos linguísticos que constituem a língua. Em outras palavras, o conhecimento das palavras, frases, sintaxe. Assim, para ler um texto em outra língua ou até na mesma língua, por exemplo, o leitor deverá conhecer sua estrutura linguística, como nos mostra o caso abaixo: TEXTO 8 - Entrevista de Itamar Franco a um jornal português Repórter: Vossa excelência já deita ao desprezo o corrido nas celebrações do mardi-gras ou sente-se ressabiado? Intérprete: o senhor não dá mais importância ao que aconteceu nas comemorações do Carnaval ou ainda está aborrecido? Itamar: Claro que dou, mas o que interessa é desaparecer a miséria do nosso povo. Intérprete: óbvio que sim, porém o que me apetece é escafeder-se a dependura da nossa plebe. Repórter: e a inchação? Intérprete: e a inflação? Itamar: a inflação está sendo combatida. Temos agora um plano sensacional. Intérprete: A inchação está a ser fustigada. Possuímos de momento um projeto bestial. Fonte: Jô soares Observamos no texto acima, criado pelo apresentador Jô Soares, que algumas palavras não pertencem ao sistema linguístico do português brasileiro e isso deixa seu sentido comprometido, uma vez que é preciso um intérprete para traduzir o português europeu para o português brasileiro. O conhecimento textual é a capacidade de o leitor identificar qual o tipo de texto e gênero ao qual pertence; é a denominada competência metagenérica, nos termos de Koch (2009). Ao se deparar com um texto cuja estrutura narrativa se inicia com “Era uma vez.”, provavelmente o leitor reconhecerá que tal texto será um conto de fadas, pois seu conhecimento sobre textos lhe fornecerá essa informação. Por essa razão, o leitor cria expectativas/predições com relação ao conteúdo do texto, ou seja, ele espera que o texto contenha elementos típicos desse gênero, como fadas, bruxas, dragões, criaturas mitológicas etc, e um enredo, cujo desfecho seja “e viveram felizes para sempre...”. O texto científico, por exemplo, contém marcas formais que o caracterizam como tal. Geralmente, esse tipo de texto possui uma estrutura formada basicamente por resumo, sumário, introdução, seções e subseções, conclusão e referências. É um texto argumentativo-descritivo, cujo objetivo principal é defender um ponto de vista. Para tanto, são arrolados para discussão, pelo autor, outros textos científicos, pensamentos de outros teóricos, confronto de ideias, embates teóricos, apresentação de dados estatísticos, resultados pretendidos e/ou obtidos, hipóteses etc. TEXTO 9 Esta tese tem como objetivo descrever e analisar as características morfossintáticas dos advérbios terminados em –mente no português brasileiro (PB). Uma dessas características é o fato de os advérbios possuírem uma estreita relação com os adjetivos em construções do tipo (i) O João entrou na salarápido / O João entrou na sala rapidamente. Com base nesses exemplos, iremos assumir que os advérbios são uma subclasse dos adjetivos, tendo em vista que essas categorias ocorrem num mesmo ambiente sintático. Outro fator determinante para essa assunção refere-se a sua constituição morfológica, uma vez que para se formar advérbios em –mente é preciso ter uma raiz adjetival. Assim, assumo que os adjetivos em sentenças como em (i) podem possuir uma característica morfológica default, isto é, sem acréscimo de –mente em sua estrutura interna, ou, por outro lado, obter uma forma mais especificada com o –mente em sua estrutura interna. O embasamento teórico aqui adotado se fundamenta nos trabalhos de Marantz (2001), cuja análise sobre a constituição morfológica das nominalizações é estendida aqui para explicar a formação dos advérbios em –mente no PB e Harris (1999). Fonte: LIMA, R. B. de. As características morfossintáticas dos advérbios no português brasileiro. Maceió, 2010. Tese (Doutorado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Alagoas. Silveira (2005, p. 95) afirma que “o conhecimento textual se desenvolve com uma prática diversificada de leitura”. Assim, para que o leitor consiga identificar diversas estruturas textuais e, por conseguinte, desenvolva sua competência metagenérica5 é preciso que ele tenha acesso ao maior número 5 Koch (2004) defende a ideia de que os indivíduos desenvolvem uma competência metagenérica que lhes possibilita interagir de forma conveniente, na medida em que se envolvem nas diversas práticas sociais. possível de tipos de textos, “conferindo-lhe, portanto, um domínio das superestruturas que realizam o uso pessoal e social da língua escrita” (op. cit.). Com relação ao conhecimento de mundo, podemos distingui-lo em dois tipos: o conhecimento enciclopédico e o conhecimento de assuntos, situações e eventos típicos da cultura (cf. SILVEIRA, 2005). Assim, no primeiro caso, a forma como o conhecimento é adquirido tanto de maneira formal (a leitura exaustiva de vários tipos de textos e a instrução escolar), como de maneira informal (através de vários meios de comunicação, variando conforme a curiosidade e o interesse do leitor) (p. 95). No segundo caso, Silveira afirma que “o armazenamento na memória permanente do leitor se dá de forma estruturada e parcial porque guarda o que é mais genérico e previsível das situações” (op. cit). O que precisa ficar claro nessa unidade é que a leitura, como processo cognitivo, depende de vários fatores que são interdependentes. Precisa-se do conhecimento prévio que o leitor já traz com suas experiências de vida, conhecimento do código linguístico, uma vez que só é possível interpretar um texto se estiver escrito na língua que o leitor domina. Assim, evidenciamos que ler não é meramente decodificar uma informação, pois podemos ter diversas reações sobre um determinado texto lido, isto é, uma reportagem sobre um acidente grave poderá causar sentimentos variados como, por exemplo, tristeza, indignação, revolta etc. 2. Estratégias de Produção Textual Não é certamente novidade alguma dizer que a escrita pode ser estudada sob diferentes perspectivas teóricas, sendo muitas vezes abordagens que se distanciam completamente uma da outra, como também abordagens complementares. Assim, pode-se estudar desde a história de seu surgimento, enfocando-se por exemplo o surgimento da escrita alfabética, suas causas, motivações e contexto sociocultural, como também aspectos relacionadas às propriedades constitutivas de tal atividade, enquanto trabalho linguístico, social, cultural e cognitivo. Obviamente que trataremos, neste livro, das características linguístico-cognitivas do texto. Como já vimos na unidade 1, alguns elementos são fundamentais para a construção de um texto, entre os quais se encontram os dois pilares básicos, a coesão e a coerência. Abaixo apresentamos um texto produzido por um aluno do 7º ano, no qual estão presentes elementos de coesão e coerência. É pertinente salientar o fato de que não estamos levando em consideração os desvios de norma culta. Entretanto, é interessante resaltar as inadequações gramaticais não interferem no sentido global do texto, ou seja, esta produção textual pode ser considerada como bem estruturada, uma vez que seu autor conseguiu expor o que queria. Assim, vejamos: Como verificamos após a leitura, o texto apresenta uma coerência com sua narrativa. O aluno inicia seu texto apresentando um problema: a fuga com uma menina. Entretanto, para que isso aconteça é preciso escolher apenas uma para fugir, pois chegaram de uma só vez 12 namoradas. Esse problema é resolvido com um critério estabelecido pelo próprio autor, no caso, a idade: “eu decidi escolher a Juliana porque ela tinha a mesma idade que a minha”. É interessante a forma como o autor corrige seu texto. O objetivo principal da ação é fugir, mas ao escrever seu texto no início ele usa o verbo viajar, que tem uma carga semântica diferente de fugir. Está claro que o uso daquele verbo é inadequado, pois o próprio autor logo em seguida escreve “que(r) dizer fugir”. Esse foi o recurso linguístico que o autor recorreu para alterar seu texto, sem precisar rasurar, apagar ou ter que refazer tudo novamente apenas para consertar o verbo. Percebemos, mais adiante, na linha 7, que mais uma vez usa o verbo viajar e desta vez, espertamente, põe o verbo fugir entre vírgulas, como forma de explicar que viajar deve ser entendido como fugir. Mais adiante, o autor apresenta uma informação que irá mudar sua escolha de itens lexicais, a saber, “ganhe na telesena”. O fato de ter ganhado bilhões faz com que as palavras escolhidas e o enredo se estabeleçam em torno de um ambiente típico de pessoas ricas. Por exemplo, o veículo é um helicóptero, sua roupa é de ouro, o vestido de sua noiva é coberto de diamantes, sua festa de casamento está repleta de pessoas famosas, o bolo é gigantesco. Tudo isso é coerente com a narrativa do texto. Não seria coerente, aliás, se ao ganhar um prêmio bilionário, o autor não utilizasse tal vocabulário. Ainda de acordo com o texto acima, o desfecho é idêntico aos contos de fada: “e assim vivemos felizes para sempre...”. Entretanto, o tempo verbal está no presente do indicativo, sugerindo que a história continua, não há um fim. Além disso, outras estratégias sugerem isso, como por exemplo o uso de reticências ao invés de ponto final, e ao apresentar a idade: “minha idade: 105 anos e dela: 105 e meio anos”. Obviamente que cabe ao professor ou professora reconhecer que o aluno conseguiu produzir um texto com uma introdução, problema, desenvolvimento e conclusão. O texto possui uma estrutura temática. As inadequações gramaticais ali expostas podem ser trabalhadas de maneira contextualizada e próxima da realidade linguística do aluno. Na unidade seguinte, iremos nos especificar no gênero acadêmico- científico, apresentando os modelos textuais típicos de trabalhos acadêmicos, como, por exemplo, resumo, resenha, projete e monografia. UNIDADE 3 1. O gênero científico 1.1. ABNT 2011 – Trabalhos Acadêmicos. O texto que segue essa seção foi retirado da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) de 2011, pois a formatação de trabalhos acadêmicos deve seguir o padrão estabelecido pela ABNT. 1 Escopo Esta Norma especifica os princípios gerais para a elaboração de trabalhos acadêmicos (teses, dissertações e outros), visando sua apresentaçãoà instituição (banca, comissão examinadora de professores, especialistas designados e/ou outros). Esta Norma aplica-se, no que couber, aos trabalhos acadêmicos e similares, intra e extraclasse. 3 Termos e definições Para os efeitos deste documento, aplicam-se os seguintes termos e definições. 3.1 abreviatura Representação de uma palavra por meio de alguma(s) de sua(s) sílaba(s) ou letra(s). 3.2 agradecimento Texto em que o autor faz agradecimentos dirigidos àqueles que contribuíram de maneira relevante à elaboração do trabalho. 3.3 anexo Texto ou documento não elaborado pelo autor, que serve de fundamentação, comprovação e ilustração. 3.4 apêndice Texto ou documento elaborado pelo autor, a fi m de complementar sua argumentação, sem prejuízo da unidade nuclear do trabalho. 3.5 autor Pessoa física responsável pela criação do conteúdo intelectual ou artístico de um trabalho. 3.6 capa Proteção externa do trabalho sobre a qual se imprimem as informações indispensáveis à sua identificação. 3.7 citação Menção, no texto, de uma informação extraída de outra fonte. 3.8 dados internacionais de catalogação-na-publicação Registro das informações que identificam a publicação na sua situação atual. 3.9 dedicatória Texto em que o autor presta homenagem ou dedica seu trabalho. 3.10 dissertação Documento que apresenta o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um estudo científico retrospectivo, de tema único e bem delimitado em sua extensão, com o objetivo de reunir, analisar e interpretar informações. Deve evidenciar o conhecimento de literatura existente sobre o assunto e a capacidade de sistematização do candidato. É feito sob a coordenação de um orientador (doutor), visando a obtenção do título de mestre. 3.11 elemento pós-textual Parte que sucede o texto e complementa o trabalho. 3.12 elemento pré-textual Parte que antecede o texto com informações que ajudam na identificação e utilização do trabalho. 3.13 elemento textual Parte em que é exposto o conteúdo do trabalho. 3.14 epígrafe Texto em que o autor apresenta uma citação, seguida de indicação de autoria, relacionada com a matéria tratada no corpo do trabalho. 3.15 errata Lista dos erros ocorridos no texto, seguidos das devidas correções. 3.16 ficha catalográfica ver 3.8 3.17 folha Papel com formato definido composto de duas faces, anverso e verso. 3.18 folha de aprovação Folha que contém os elementos essenciais à aprovação do trabalho. 3.19 folha de rosto Folha que contém os elementos essenciais à identificação do trabalho. 3.20 glossário Relação de palavras ou expressões técnicas de uso restrito ou de sentido obscuro, utilizadas no texto, acompanhadas das respectivas definições. 3.21 ilustração Designação genérica de imagem, que ilustra ou elucida um texto. 3.22 índice Lista de palavras ou frases, ordenadas segundo determinado critério, que localiza e remete para as informações contidas no texto. 3.23 lombada Parte da capa do trabalho que reúne as margens internas das folhas, sejam elas costuradas, grampeadas, coladas ou mantidas juntas de outra maneira. 3.24 página Cada uma das faces de uma folha. 3.25 referência Conjunto padronizado de elementos descritivos retirados de um documento, que permite sua identificação individual. 3.26 resumo em língua estrangeira Versão do resumo para idioma de divulgação internacional. 3.27 resumo na língua vernácula Apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto, fornecendo uma visão rápida e clara do conteúdo e das conclusões do trabalho. 3.28 sigla Conjunto de letras iniciais dos vocábulos e/ou números que representa um determinado nome. 3.29 símbolo Sinal que substitui o nome de uma coisa ou de uma ação. 3.30 subtítulo Informações apresentadas em seguida ao título, visando esclarecê-lo ou complementá-lo, de acordo com o conteúdo do trabalho. 3.31 sumário Enumeração das divisões, seções e outras partes do trabalho, na mesma ordem e grafia em que a matéria nele se sucede. 3.32 tabela Forma não discursiva de apresentar informações das quais o dado numérico se destaca como informação central. 3.33 tese Documento que apresenta o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um estudo científico de tema único e bem delimitado. Deve ser elaborado com base em investigação original, constituindo-se em real contribuição para a especialidade em questão. É feito sob a coordenação de um orientador (doutor) e visa a obtenção do título de doutor, ou similar. 3.34 título Palavra, expressão ou frase que designa o assunto ou o conteúdo de um trabalho. 3.35 trabalho de conclusão de curso de graduação, trabalho de graduação interdisciplinar, trabalho de conclusão de curso de especialização e/ou aperfeiçoamento Documento que apresenta o resultado de estudo, devendo expressar conhecimento do assunto escolhido, que deve ser obrigatoriamente emanado da disciplina, módulo, estudo independente, curso, programa, e outros ministrados. Deve ser feito sob a coordenação de um orientador. 3.36 volume Unidade física do trabalho. 4 Estrutura A estrutura de trabalhos acadêmicos compreende: parte externa e parte interna. Com a finalidade de orientar os usuários, a disposição de elementos é dada no Esquema 1: Esquema 1 – Estrutura do trabalho acadêmico Parte externa Capa (obrigatório) Lombada (opcional) Elementos pré-textuais Parte interna Elementos textuais Folha de rosto (obrigatório) Errata (opcional) Folha de aprovação (obrigatório) Dedicatória (opcional) Agradecimentos (opcional) Epígrafe (opcional) Resumo na língua vernácula (obrigatório) Resumo em língua estrangeira (obrigatório) Lista de ilustrações (opcional) Lista de tabelas (opcional) Lista de abreviaturas e siglas (opcional) Lista de símbolos (opcional) Sumário (obrigatório) Introdução Desenvolvimento Conclusão Elementos pós-textuais 1 4.1 Parte externa Deve ser apresentada conforme 4.1.1 e 4.1.2. 4.1.1 Capa Elemento obrigatório. As informações são apresentadas na seguinte ordem: a) nome da instituição (opcional); b) nome do autor; c) título: deve ser claro e preciso, identificando o seu conteúdo e possibilitando a indexação e recuperação da informação; d) subtítulo: se houver, deve ser precedido de dois pontos, evidenciando a sua subordinação ao título; e) número do volume: se houver mais de um, deve constar em cada capa a especificação do respectivo volume; f) local (cidade) da instituição onde deve ser apresentado; NOTA No caso de cidades homônimas recomenda-se o acréscimo da sigla da unidade da federação. g) ano de depósito (da entrega). 4.1.2 Lombada Elemento opcional. Apresentada conforme a ABNT NBR 12225. 4.2 Parte interna Deve ser apresentada conforme 4.2.1 a 4.2.3. 4.2.1 Elementos pré-textuais A ordem dos elementos pré-textuais deve ser apresentada conforme 4.2.1.1 a 4.2.1.13. 4.2.1.1 Folha de rosto Elemento obrigatório. Apresentada conforme 4.2.1.1.1 e 4.2.1.1.2. 4.2.1.1.1 Anverso Os elementos devem ser apresentados na seguinte ordem: a) nome do autor; b) título; c) subtítulo, se houver; d) número do volume, se houver mais de um, deve constar em cada folha de rosto a especificação do respectivo volume; e) natureza: tipo do trabalho (tese, dissertação, trabalho de conclusão de curso e outros) e objetivo (aprovação em disciplina, grau pretendido e outros); nome da instituição a que é submetido; área de concentração; f) nome do orientador e, se houver, do coorientador; Referências (obrigatório) Glossário (opcional) Apêndice (opcional)Anexo (opcional) Índice (opcional) g) local (cidade) da instituição onde deve ser apresentado; h) ano de depósito (da entrega). 4.2.1.1.2 Verso Deve conter os dados de catalogação-na-publicação, conforme o Código de Catalogação Ânglo-Americano vigente. 4.2.1.2 Errata Elemento opcional. Deve ser inserida logo após a folha de rosto, constituída pela referência do trabalho e pelo texto da errata. Apresentada em papel avulso ou encartado, acrescida ao trabalho depois de impresso. EXEMPLO ERRATA FERRIGNO, C. R. A. Tratamento de neoplasias ósseas apendiculares com reimplantação de enxerto ósseo autólogo autoclavado associado ao plasma rico em plaquetas: estudo crítico na cirurgia de preservação de membro em cães. 2011. 128 f. Tese (Livre-Docência) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. 4.2.1.3 Folha de aprovação Elemento obrigatório. Deve ser inserida após a folha de rosto, constituída pelo nome do autor do trabalho, título do trabalho e subtítulo (se houver), natureza (tipo do trabalho, objetivo, nome da instituição a que é submetido, área de concentração) data de aprovação, nome, titulação e assinatura dos componentes da banca examinadora e instituições a que pertencem. A data de aprovação e as assinaturas dos membros componentes da banca examinadora devem ser colocadas após a aprovação do trabalho. 4.2.1.4 Dedicatória Elemento opcional. Deve ser inserida após a folha de aprovação. 4.2.1.5 Agradecimentos Elemento opcional. Devem ser inseridos após a dedicatória. 4.2.1.6 Epígrafe Elemento opcional. Elaborada conforme a ABNT NBR 10520. Deve ser inserida após os agradecimentos. Podem também constar epígrafes nas folhas ou páginas de abertura das seções primárias. 4.2.1.7 Resumo na língua vernácula Elemento obrigatório. Elaborado conforme a ABNT NBR 6028. Folha Linha Onde se lê Leia-se 16 10 auto-clavado autoclavado 4.2.1.8 Resumo em língua estrangeira Elemento obrigatório. Elaborado conforme a ABNT NBR 6028. 4.2.1.9 Lista de ilustrações Elemento opcional. Elaborada de acordo com a ordem apresentada no texto, com cada item designado por seu nome específico, travessão, título e respectivo número da folha ou página. Quando necessário, recomenda-se a elaboração de lista própria para cada tipo de ilustração (desenhos, esquemas, fluxogramas, fotografias, gráficos, mapas, organogramas, plantas, quadros, retratos e outras). EXEMPLO Quadro 1 – Valores aceitáveis de erro técnico de medição relativo para antropometristas iniciantes e experientes no Estado de São Paulo. 4.2.1.10 Lista de tabelas Elemento opcional. Elaborada de acordo com a ordem apresentada no texto, com cada item designado por seu nome específico, acompanhado do respectivo número da folha ou página. EXEMPLO Tabela 1 – Perfil socioeconômico da população entrevistada, no período de julho de 2009 a abril de 2010. 4.2.1.11 Lista de abreviaturas e siglas Elemento opcional. Consiste na relação alfabética das abreviaturas e siglas utilizadas no texto, seguidas das palavras ou expressões correspondentes grafadas por extenso. Recomenda-se a elaboração de lista própria para cada tipo. EXEMPLO ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas Fil. Filosofia IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial 4.2.1.12 Lista de símbolos Elemento opcional. Elaborada de acordo com a ordem apresentada no texto, com o devido significado. EXEMPLO dab Distância euclidiana O(n) Ordem de um algoritmo 4.2.1.13 Sumário Elemento obrigatório. Elaborado conforme a ABNT NBR 6027. 4.2.2 Elementos textuais O texto é composto de uma parte introdutória, que apresenta os objetivos do trabalho e as razões de sua elaboração; o desenvolvimento, que detalha a pesquisa ou estudo realizado; e uma parte conclusiva. 4.2.3 Elementos pós-textuais A ordem dos elementos pós-textuais deve ser apresentada conforme 4.2.3.1 a 4.2.3.5. 4.2.3.1 Referências Elemento obrigatório. Elaboradas conforme a ABNT NBR 6023. 4.2.3.2 Glossário Elemento opcional. Elaborado em ordem alfabética. EXEMPLO Deslocamento: Peso da água deslocada por um navio flutuando em águas tranquilas. Duplo Fundo: Robusto fundo interior no fundo da carena. 4.2.3.3 Apêndice Elemento opcional. Deve ser precedido da palavra APÊNDICE, identificado por letras maiúsculas consecutivas, travessão e pelo respectivo título. Utilizam-se letras maiúsculas dobradas, na identificação dos apêndices, quando esgotadas as letras do alfabeto. EXEMPLO APÊNDICE A – Avaliação numérica de células inflamatórias 4.2.3.4 Anexo Elemento opcional. Deve ser precedido da palavra ANEXO, identificado por letras maiúsculas consecutivas, travessão e pelo respectivo título. Utilizam-se letras maiúsculas dobradas, na identificação dos anexos, quando esgotadas as letras do alfabeto. EXEMPLO ANEXO A – Representação gráfica de contagem de células inflamatórias presentes nas caudas em regeneração - Grupo de controle I (Temperatura...) 4.2.3.5 Índice Elemento opcional. Elaborado conforme a ABNT NBR 6034. 5 Regras gerais A apresentação de trabalhos acadêmicos deve ser elaborada conforme 5.1 a 5.9. 5.1 Formato Os textos devem ser digitados ou datilografados em cor preta, podendo utilizar outras cores somente para as ilustrações. Se impresso, utilizar papel branco ou reciclado, no formato A4 (21 cm × 29,7 cm). Os elementos pré- textuais devem iniciar no anverso da folha, com exceção dos dados internacionais de catalogação-na-publicação que devem vir no verso da folha de rosto. Recomenda-se que os elementos textuais e pós-textuais sejam digitados ou datilografados no anverso e verso das folhas. As margens devem ser: para o anverso, esquerda e superior de 3 cm e direita e inferior de 2 cm; para o verso, direita e superior de 3 cm e esquerda e inferior de 2 cm. Recomenda-se, quando digitado, a fonte tamanho 12 para todo o trabalho, inclusive capa, excetuando-se citações com mais de três linhas, notas de rodapé, paginação, dados internacionais de catalogação-na-publicação, legendas e fontes das ilustrações e das tabelas, que devem ser em tamanho menor e uniforme. 5.2 Espaçamento Todo texto deve ser digitado ou datilografado com espaçamento 1,5 entre as linhas, excetuando-se as citações de mais de três linhas, notas de rodapé, referências, legendas das ilustrações e das tabelas, natureza (tipo do trabalho, objetivo, nome da instituição a que é submetido e área de concentração), que devem ser digitados ou datilografados em espaço simples. As referências, ao final do trabalho, devem ser separadas entre si por um espaço simples em branco. Na folha de rosto e na folha de aprovação, o tipo do trabalho, o objetivo, o nome da instituição e a área de concentração devem ser alinhados do meio da mancha gráfica para a margem direita. 5.2.1 Notas de rodapé As notas devem ser digitadas ou datilografadas dentro das margens, ficando separadas do texto por um espaço simples de entre as linhas e por filete de 5 cm, a partir da margem esquerda. Devem ser alinhadas, a partir da segunda linha da mesma nota, abaixo da primeira letra da primeira palavra, de forma a destacar o expoente, sem espaço entre elas e com fonte menor. 5.2.2 Indicativos de seção O indicativo numérico, em algarismo arábico, de uma seção precede seu título, alinhado à esquerda, separado por um espaço de caractere. Os títulos das seções primárias devem começar em página ímpar (anverso), na parte superior da mancha gráfica e ser separados do texto que os sucede por um espaço entre as linhas de 1,5. Da mesma forma, os títulos dassubseções devem ser separados do texto que os precede e que os sucede por um espaço entre as linhas de 1,5. Títulos que ocupem mais de uma linha devem ser, a partir da segunda linha, alinhados abaixo da primeira letra da primeira palavra do título. 5.2.3 Títulos sem indicativo numérico Os títulos, sem indicativo numérico – errata, agradecimentos, lista de ilustrações, lista de abreviaturas e siglas, lista de símbolos, resumos, sumário, referências, glossário, apêndice(s), anexo(s) e índice(s) – devem ser centralizados. 5.2.4 Elementos sem título e sem indicativo numérico Fazem parte desses elementos a folha de aprovação, a dedicatória e a(s) epígrafe(s). 5.3 Paginação As folhas ou páginas pré-textuais devem ser contadas, mas não numeradas. Para trabalhos digitados ou datilografados somente no anverso, todas as folhas, a partir da folha de rosto, devem ser contadas sequencialmente, considerando somente o anverso. A numeração deve figurar, a partir da primeira folha da parte textual, em algarismos arábicos, no canto superior direito da folha, a 2 cm da borda superior, ficando o último algarismo a 2 cm da borda direita da folha. Quando o trabalho for digitado ou datilografado em anverso e verso, a numeração das páginas deve ser colocada no anverso da folha, no canto superior direito; e no verso, no canto superior esquerdo. No caso de o trabalho ser constituído de mais de um volume, deve ser mantida uma única sequência de numeração das folhas ou páginas, do primeiro ao último volume. Havendo apêndice e anexo, as suas folhas ou páginas devem ser numeradas de maneira contínua e sua paginação deve dar seguimento à do texto principal. 5.4 Numeração progressiva Elaborada conforme a ABNT NBR 6024. A numeração progressiva deve ser utilizada para evidenciar a sistematização do conteúdo do trabalho. Destacam- se gradativamente os títulos das seções, utilizando-se os recursos de negrito, itálico ou sublinhado e outros, no sumário e, de forma idêntica, no texto. 5.5 Citações Apresentadas conforme a ABNT NBR 10520. 5.6 Siglas A sigla, quando mencionada pela primeira vez no texto, deve ser indicada entre parênteses, precedida do nome completo. EXEMPLO Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) 5.7 Equações e fórmulas Para facilitar a leitura, devem ser destacadas no texto e, se necessário, numeradas com algarismos arábicos entre parênteses, alinhados à direita. Na sequência normal do texto, é permitido o uso de uma entrelinha maior que comporte seus elementos (expoentes, índices, entre outros). EXEMPLO X2 + y2 = z2 (1) (x2 + y2)/5 = n (2) 5.8 Ilustrações Qualquer que seja o tipo de ilustração, sua identificação aparece na parte superior, precedida da palavra designativa (desenho, esquema, fluxograma, fotografia, gráfico, mapa, organograma, planta, quadro, retrato, figura, imagem, entre outros), seguida de seu número de ordem de ocorrência no texto, em algarismos arábicos, travessão e do respectivo título. Após a ilustração, na parte inferior, indicar a fonte consultada (elemento obrigatório, mesmo que seja produção do próprio autor), legenda, notas e outras informações necessárias à sua compreensão (se houver). A ilustração deve ser citada no texto e inserida o mais próximo possível do trecho a que se refere. 5.9 Tabelas Devem ser citadas no texto, inseridas o mais próximo possível do trecho a que se referem e padronizadas conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As regras acima apresentadas servem como fonte reguladora de trabalhos produzidos na universidade. Entretanto, há instituições que elaboram suas próprias regras. Em periódicos (revistas científicas), por exemplo, é comum cada uma instituir suas próprias normas de formatação. 1.2. Que é e como se faz um resumo? Como afirma Severino (2007), um tipo de texto muito exigido em escolas superiores é o resumo ou síntese de textos, seja de toda obra ou de um único capítulo. O resumo não se trata de um trabalho de elaboração, mas de um trabalho de extração de ideias, de um exercício de leitura que nem por isso deixa de ter enorme utilidade didática e significativo interesse científico (p. 204) É pertinente salientar a importância desse gênero textual, pois o resumo do texto é uma síntese das ideias e não das palavras do texto. Como ressalta Severino (2007), não se trata de uma “miniaturização” do texto. Resumindo um texto com as próprias palavras, o estudante mantém-se fiel às ideias do autor (op. cit). Não há presença de comentários ou julgamentos. Com base no exposto acima, podemos afirmar que o resumo é um excelente recurso didático, do qual o professor se utiliza para conseguir que o aluno depreenda as ideias principais de uma determinada obra. Entretanto, não se deve confundir este tipo de resumo/síntese, com o resumo técnico-científico. Este é usado em ocasiões mais específicas; no início de um artigo, dissertação, tese etc, geralmente corresponde de 3 a 4% do texto fonte e não dispensa a leitura do texto fonte. Em artigos, monografias, é sugerido entre 50- 100 palavras, em dissertações, 150-250 palavras, e em teses, 250-500 palavras. Com relação àquele, geralmente corresponde de 30 a 50% do texto fonte e dispensa sua leitura. De acordo com Lima (2003), há outros tipos de resumos, a saber, o resumo esquemático, como sumário, esquemas, organogramas, índices etc e o resumo não-esquemático: sinopse e síntese, já apresentados acima. Existem, segundo van Dijk & Kintsch (apud FONTANA, 1995, p.89), basicamente 3 técnicas que podem ser úteis ao escrevermos uma síntese. São elas o apagamento, a generalização e a construção.6 Apagamento O apagamento consiste em apagar, em cortar as partes que são desnecessárias. Geralmente essas partes são os adjetivos e os advérbios, ou frases equivalentes a eles. Vamos ver um exemplo. “O velho jardineiro trabalhava muito bem. Ele arrumava muitos jardins diariamente”. Sendo essa a frase a ser resumida através do apagamento, poderia ficar assim: “O jardineiro trabalhava bem”. Cortamos os adjetivo “velho” e o advérbio “muito” na primeira frase e eliminamos a segunda. Ora, se o jardineiro trabalhava bem, é porque arrumava jardins; a segunda informação é redundante. Generalização A generalização é uma estratégia que consiste em reduzir os elementos da frase através do critério semântico, ou seja, do significado. Exemplo: “Pedro comeu picanha, costela, alcatra e coração no almoço.” As palavras em destaque são carnes. Então, o resumo da frase fica: “Pedro comeu carne no almoço.” Construção A técnica da construção consiste em substituir uma sequência de fatos ou proposições por uma única, que possa ser presumida a partir delas, também baseando-se no significado. Exemplo: “Maria comprou farinha, ovos e leite. Foi para casa, ligou a batedeira, misturou os ingredientes e colocou-os no forno.” Todas essas ações praticadas por Maria nos remetem a uma síntese: 6 Os exemplos foram retirados de < http://www.lendo.org/como-fazer-um-resumo/>. Acesso em: 25 mar. 2011. “Maria fez um bolo.” De acordo com Lima (2003), há ainda outras técnicas de resumo, como por exemplo a substituição, em que consiste na substituição de várias palavras por um hiperônimo (palavra que apresenta um significado mais abrangente), como nos mostra o exemplo abaixo: “Os pombos, águias, corujas e os pelicanos viajam para o sul no inverno”. Podemos substituir todas as palavras grifadas acima por um hiperônimo: “As aves viajam para o sul no inverno”. Na próxima seção iremos apresentar outro gênero textual muito solicitado
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