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Direito Eletrônico Profº. MSc Marcos Vinicius Monteiro d Oliveira 1 - Noções Gerais: Cumprindo sua missão de se desenvolver e dominar a Terra – e por que não dizer dominar o Universo - o ser humano parece não encontrar mais limites para o avanço e as modificações pessoais e sociais. As relações humanas - objeto de estudo de toda e qualquer parte do Direito – já são suficientemente complexas. Não obstante, agora se fala de "mundo real" e mundo virtual". Isso ocorre devido à existência de uma máquina denominada computador, encontrada em quase todos os lugares e, portanto, integrada à vida do ser humano, facilitado muito o caminho do progresso. Uma das principais funções do computador é facilitar a comunicação, fazendo com que ela se torne mais clara e democrática, favorecendo a transparência e a tomada de decisões. De fato, o computador é somente um instrumento e se for mal utilizado gera estorvo e gastos. Afinal, quem domina a inteligência, a criatividade, o planejamento e os relacionamentos é a Pessoa. Chama-se "Informática" a Ciência que trata a informação tendo por base os computadores. A palavra é bastante significativa, pois é a junção de "informação automática". Automático é algo que flui sem interferência e que se controla por si mesmo. Assim é considerada a função do computador. E por ser este um equipamento eletrônico, chama-se Direito de Informática ou Direito Eletrônico a neo Ciência que pretende reunir os conceitos, doutrinas, entendimentos e decisões a respeito do assunto. O fato da informação fluir com maior volume e facilidade e alcançar, a cada dia, mais pessoas – favorecendo o pleno exercício do direito constitucional à informação – gera um aumento das relações humanas (campo virtual e real), maior transparência dos acontecimentos e, por conseguinte, maior número de conflitos. Uma informação sobre a queda de determinada ação na Bolsa de Valores de Tóquio, por exemplo, chega à América do Sul instantaneamente, sem grandes interferências e mesmo que estas ocorram, diversas outras fontes de informação prestarão o serviço exigindo a confirmação ou não da notícia. Esse exemplo aparentemente inocente promove diversas conseqüências pessoais e financeiras. Há, de fato, cada vez mais, ampliação das fontes e do modo de divulgação de informações. Constata-se, portanto, que a evolução humana sob o aspecto da Informática está facilitando e, por que não dizer, propiciando o exercício da democracia. Além disso, a facilidade de comunicação produz aumento dos Negócios Jurídicos virtuais e isso tudo (informação, negócios etc) anima e movimenta a Economia que, por sua vez, passou a ter seu ramo eletrônico. É importantíssimo observar que a informação (uma das bases das relações humanas) está cada vez mais evidente e sendo transmitida rapidamente por ligações físicas e lógicas denominadas de redes. A mais famosa e utilizada delas é a internet (rede mundial de computadores). Criada pelos Estados Unidos para fins militares, não se poderia imaginar, à época, que se tornaria a forma mundial de comunicação. E isso foi obtido graças a uma característica: inexistência de local físico central para a realização das operações. Isso faz com que o sistema funcione mesmo que um ou mais pontos da conexão estejam inoperantes. Isso equivale dizer que a rede está disponível sempre. São inúmeras as conseqüências disso. A título de exemplos podem ser citados: fomento para a globalização; acesso a uma biblioteca inteira ou visita a um museu; criação e existência de grupos supranacionais com afinidades pessoais ou profissionais; "abaixo-assinado" digital; divulgação dos procurados pelas Polícias; etc. Observe-se que na singela lista supramencionada há ações e relacionamentos antes nunca imaginados. Realmente há mudanças de comportamentos o que é um marco para a história humana. Esse curioso e complexo mundo da Informática não pode ficar sem uma resposta da Ciência Jurídica. 2. Direito Eletrônico A resposta veio e chama-se Direito Eletrônico ou Direito Informático. Apesar disso, enfrenta-se atualmente a seguinte dúvida: o Direito Eletrônico é realmente um ramo autônomo do Direito? Divide-se a Doutrina para responder. Quem diz não ao questionamento acima, alega que o Direito Eletrônico é intrinsecamente vinculado a outros ramos do Direito, de modo que a solução para os litígios sempre seria dada pelas áreas jurídicas já existentes, mormente o Direito Civil e o Direito Penal. Quem diz sim, por sua vez, considera o Direito Informático autônomo, eis que já possui características próprias e até legislação específica, principalmente a internacional. Esse último entendimento prevalece, afinal, não é possível debater e entender aspectos do ambiente virtual (transmissão, administração e proteção de dados, responsabilidade, condutas, provas, publicidade, intimidade, comércio, contratos, assinatura digital etc) sem que se utilize uma ferramenta própria e adequada. É necessário, portanto, estabelecer normas e entendimentos que gerem segurança jurídica para as relações virtuais, afinal tem suas peculiaridades. O fato de o Brasil ainda não ter uma estrutura adequada para o Direito Eletrônico, não significa que este não exista. Não se pode, porém, deixar de reconhecer que tal ramo do Direito está sendo construído. A idéia autonomista tem sido reforçada por livros nacionais e estrangeiros, bem como Encontros, Simpósios, Conferências e Estudos. Tudo é de extrema importância, pois se faz mister que haja alicerce jurídico e filosófico para essa nova área do Direito além do suporte fático. Então, diante de tantas evidências separa-se o Direito Eletrônico da Informática Jurídica. Esta, sim, compõe-se de conceitos e idéias que apenas fazem parte de outros ramos do Direito – inclusive o Eletrônico - sem, contudo, firmar autonomia. Define alguns que a Informática Jurídica é o estudo dos mecanismos eletrônicos aplicados à consecução do Direito. Já o Direito Eletrônico ou Informático é o ramo autônomo da Ciência Jurídica que reúne normas, estudos, entendimentos, aplicações e instituições jurídicas que regem as relações jurídicas do ambiente virtual e, por conseguinte, também do real. Matérias relacionadas a servidores de acesso e de conteúdo, por exemplo, são típicos Institutos de Direito Eletrônico. Também se vê claramente a individualização do Direito Informático estudando o relacionamento deste com outros ramos do Direito. Como exemplo cita-se: Direito Constitucional – a ordem constitucional de igualdade, liberdade de comunicação, direito à intimidade etc. pairam sobre o Direito Eletrônico e submete este aos seus preceitos; Direito Civil e Direito do Consumidor – oferta de serviços, a própria negociação, registro de propriedades etc; Direito Penal – diversas condutas criminosas podem ser realizadas por meios eletrônicos, como por exemplo: ataques a computadores para instalar arquivos espiões, fraudes, vendas de produtos inexistentes ou ilegais; Direito Administrativo – cada vez mais a Administração Pública utiliza-se da Informática para realizar a gestão pública: licitações, confecção e transmissão das declarações de imposto de renda, cadastros, multas; Direito Eleitoral – toda a estrutura eletrônica para o voto e a utilização das urnas, a apuração e totalização dos votos etc. 3. Natureza Jurídica do Direito Eletrônico Montesquieu (século XVIII) já afirmava a estreita dependência entre a "natureza das coisas" e a fonte do Direito. Atualmente, compreende-se facilmente que o Direito é um fenômeno sócio-cultural, eis que o ser humano é o criador do Direito e uma das características humanas é a vida social. Tem-se, então, que asvariações e transformações de comportamento pessoal e social do ser humano geram conseqüências para sua criatura, o Direito. Também nesse contexto está o Direito Eletrônico. Afinal a Informática não só é uma Ciência própria como também é meio de relacionamento humano. Conhecendo, então, essa essência e confirmada a vida autônoma do Direito Eletrônico, faz-se necessário saber se este submte-se ao Direito Público ou ao Direito Privado. Facilmente se percebe que a abrangência da Informática é tão grande que o Direito a ela relacionado é Direito Misto, assim como o são o Direito do Trabalho, o Direito Econômico, o Direito Aeronáutico etc. Tanto as normas como os demais Institutos do Direito Eletrônico ora têm abrangência pública (ex.: sistema público de licitações) ora, privada (ex.: venda ao consumidor pela internet). 4. Princípios do Direito Eletrônico Princípio é um fundamento, uma idéia central e primordial que serve para entendimento, interpretação e aplicação das normas. Apesar de ter natureza jurídica de norma, o Princípio está acima das demais normas e pode ser escrito ou não. Não há qualquer dúvida que o Direito Eletrônico obedece a Princípios Gerais do Direito ("todos são iguais perante a lei", "ninguém deve descumprir a lei alegando que não a conhece"; "para as declarações de vontade deverá ser considerada mais a intenção do que o sentido literal da linguagem" etc). Como parte autônoma do Direito, porém, o Direito Eletrônico tem seus próprios princípios. A Doutrina especializada relaciona cinco princípios que ainda estão sendo construídos e não formal rol fechado. São eles. 4.1. Princípio da Submissão. Para as relações virtuais, uma pessoa pode voluntariamente submeter-se à jurisdição de tribunal a que originalmente não estava sujeita. Isso pode ocorrer porque os Atos Jurídicos praticados virtualmente, cada vez mais, estão internacionalizados. Um brasileiro, por exemplo, pode celebrar contratos com pessoas ou Entidades de outros países. 4.2. Princípio da Existência Concreta. Os fatos predominam sobre os documentos e atos eletrônicos se forem destoantes. Tal Princípio impõe ao aplicador da norma a atenção necessária para se evitar Negócios Jurídicos viciados, já que o desacordo entre os fatos e a forma de realização pode ser indício de defeito desse Negócio e até de crime. 4.3. Princípio da Lealdade. Durante toda a relação jurídica, as Partes estão obrigadas a proceder com ética, probidade e dignidade, ou seja, com alto grau de respeitabilidade. Isso implica boa-fé (atenção, colaboração, respeito etc). Os interesses lícitos e legais que levaram as Partes a se aproximarem devem reger a todo tempo as manifestações de vontade. 4.4. Princípio da Racionalidade. Significa que todos os Atos Virtuais devem ser equilibrados e ponderados à luz do interesses lícitos e legais das Partes. Esses Atos devem também ser adequados aos fins admitidos e preconizados pela Constituição e pelas leis. Se tais Atos contrariarem valores expressos ou implícitos das normas, não serão legítimos nem razoáveis. 4.5. Princípio da Subsidiariedade A inexistência de leis específicas ou lacunas destas gera a necessidade de utilização pelo operador do Direito Eletrônico de normas não específicas. Tais normas, porém, somente podem ser utilizadas se não forem incompatíveis com os Princípios e regras de Direito Eletrônico. É importante que a sociedade se conscientize de que os avanços tecnológicos servem ao ser humano. Devem eles, portanto, serem usados para o desenvolvimento e progresso das nações. Isso significa cumprir uma tarefa importantíssima: auxiliar a todos, principalmente os menos favorecidos, a terem melhor qualidade de vida. Do ponto de vista da Ciência Jurídica, observa-se que o Direito Eletrônico está evoluindo e é dever dos Operadores do Direito, por intermédio desse novo ramo, efetivar o grande objetivo do Direito: gerar justiça.
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