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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS Departamento de ciências jurídicas ALUNA: GERMANA DA SILVA LEAL ORIENTADOR: ARI FERREIRA DE QUEIROZ PODER DE POLÍCIA: PROPORCIONALIDADE E ABUSO DE PODER GOIÂNIA 2007 1 Monografia apresentada à Banca Examinadora da Universidade Católica de Goiás, como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, sob a orientação do professor Ari Ferreira de Queiroz. Banca examinadora __________________________ __________________________ __________________________ 2 Dedicatória Aos meus amados e abençoados pais, Ao meu orientador Ari Ferreira de Queiroz. 3 Agradecimentos A Deus pela infinita misericórdia e ajuda sempre presente nas madrugadas de estudo; Aos meus pais pelo apoio e incentivo constantes; Ao meu orientador Professor Ari Ferreira de Queiroz pelo direcionamento e competência com a qual me conduziu neste trabalho; A todas as pessoas que de alguma forma participaram de minha caminhada dando força e estímulo. 4 Resumo: Como estrutura maior de representação do poder público através dos três níveis de Poder, o Estado tem o dever de propiciar à sociedade como um todo uma situação em que seja possível vivenciar o que apregoa o texto legal quanto ao que se refere a uma convivência coletiva harmônica - um estado de segurança pública real e presente. Para isso este ente se utiliza, através de seus representantes, do poder de polícia. Visto aqui como um poder inerente à Administração pública, se difunde de forma abrangente por todas as vertentes administrativas e em uma atitude de supressão da vontade individual, quando esta tende a dissuadir-se do bem-estar coletivo, age de maneira coercitiva e discricionária para restabelecer qualquer situação de desvirtuamento da ordem. É mais um instrumento limitador, mas também limitado, que o poder público tem ao seu dispor para imprimir à realidade concreta, o desejo maior de uma nação soberana e democrática, qual seja, um Estado democrático de direito. Isto é, o do bem comum. Palavras-chaves: Estado. Sociedade. Poder de polícia. Segurança. Administração. Bem comum. 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................... .........1 CAPÍTULO I ORIGEM DO PODER DE POLÍCIA 1. ASPECTOS HISTÓRICOS.......................................................................3 2. QUESTÕES CONCEITUAIS....................................................................6 3. A IGREJA E O PODER DE POLÍCIA........................................................10 4. A EXPRESSÃO PODER DE POLÍCIA.......................................................14 5. ATOS DE EXPRESSÃO DO PODER DE POLÍCIA.........................................16 CAPÍTULO II ORDEM PÚBLICA, SEGURANÇA PÚBLICA E PODER DE POLÍCIA 1. QUESTÕES CONCEITUAIS..................................................................19 2. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, POLÍCIA E PODER DE POLÍCIA.....................22 3. PODER DE POLÍCIA E SEGURANÇA NACIONAL.......................................29 6 4. POLÍCIA JUDICIÁRIA E POLÍCIA ADMINISTRATIVA................................33 5. PRESERVAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA E APURAÇÃO DE DELITOS...............36 CAPÍTULO III O PODER DE POLÍCIA NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 1. CARACTERÍSTICAS OU ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA....................40 1.1 NOÇÕES....................................................................................40 1.2 A DISCRICIONARIEDADE DO PODER DE POLÍCIA............................41 1.3 A AUTO-EXECUTORIEDADE DO PODER DE POLÍCIA.........................43 1.4 A COERCIBILIDADE DO PODER DE POLÍCIA...................................46 1.5 O PODER DE POLÍCIA COMO UMA ATIVIDADE NEGATIVA.................47 2. ATUAÇÃO E ÂMBITO DE INCIDÊNCIA DO PODER DE POLÍCIA..................48 3. A HEGEMONIA DA FACE PREVENTIVA SOBRE A FACE REPRESSIVA..........51 4. O PODER DE POLÍCIA E A GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS......53 5. FUNDAMENTO E FINALIDADE DO PODER DE POLÍCIA.............................56 CAPÍTULO IV LIMITAÇÕES AO EXERCÍCIO E ABUSO DO PODER DE POLÍCIA 1. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.......................60 2. CONSIDERAÇÕES ACERCA DA SEGURANÇA E INSEGURANÇA PÚBLICA EM MEIO AO COLAPSO DO SISTEMA CRIMINAL BRASILEIRO.......................65 2.1 ASPECTOS RELATIVOS À SEGURANÇA PÚBLICA...............................66 2.2 O SISTEMA CRIMINAL E A REALIDADE DA POLÍCIA..........................72 3. POLÍCIAS MILITAR E CIVIL NO EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA..........76 3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE A POLÍCIA MILITAR........................76 3.2 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DA POLÍCIA MILITAR......................77 3.3 ABUSO DE PODER NO ÂMBITO DA POLÍCIA MILITAR........................79 3.4 CONCEITO E ATUAÇÃO DA POLÍCIA CIVIL.......................................80 7 3.5 ABUSO DE PODER NO ÂMBITO DA POLÍCIA CIVIL............................82 4. LIMITES DO PODER DE POLÍCIA..........................................................85 5. EXTENSÃO EXCEPCIONAL DO PODER DE POLÍCIA.................................86 6. CONCLUSÃO.....................................................................................88 BIBLIOGRAFIA.........................................................................92 8 INTRODUÇÃO O Estado, responsável pela preservação e manutenção da ordem e segurança dos cidadãos em sociedade, busca através de seus agentes a concreção de meios sancionadores e coercitivos capazes de restringir condutas particulares que venham a afetar negativamente a coletividade ou o próprio Estado. Esta atividade do ente estatal fundamenta-se legalmente tanto na Constituição Federal quanto em normas de ordem pública e busca precipuamente garantir a proteção ao interesse público no seu sentido mais amplo abrangendo valores de ordem material, moral e espiritual do povo. A própria Constituição Federal ao outorgar aos indivíduos uma vasta gama de direitos, assegurando-os por meio de diversos dispositivos, deixa claro além da plena liberdade de exercício conferida aos cidadãos, a necessidade de imposição de limites. Não sendo, portanto, incondicionados os direitos conferidos pela Lei aos indivíduos, faz-se necessária a observância por parte do Estado democrático de direito garantir o gozo dos mesmos por parte dos cidadãos de maneira que o interesse coletivo se ache tutelado em face de abusos que venham a feri-lo. Com esse intuito, é que o Estado através de seus Poderes estabelece um mecanismo de frenagem da conduta individual. Inicialmente, tal atividade acha-se cumprida pelo Poder Legislativo, a quem incumbe a formulação de leis que estabeleçam condições e limites de exercício à fruição de direitos individuais e coletivos. No entanto, como não bastam tais providências, é preciso que a Administração Pública de maneira efetiva aja nos casos concretos, intervindo em situações que destoem do que regulamenta a Lei e, assim, façam-na cumprir. Agindo dessa forma, o Estado através de seus agentes, estará utilizando dos poderes administrativos, instrumento de trabalho do administrador público, especificamente do poder de polícia, evidenciado através da prevenção e repressão da conduta negativa e anti-social, preservando o interesse geral da comunidade em face do abuso do direito individual. É,portanto, o poder de polícia, faculdade discricionária da Administração Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens e direitos individuais, em benefício da sociedade ou do próprio Estado. 9 Tendo então como objeto, todo bem, direito ou atividade pessoal que possa afetar a coletividade ou pôr em risco a segurança desta. Ao condicionar direitos e o uso de bens individuais delimita a execução das atividades por meio de fiscalização e controle. Atualmente, o tema relativo ao poder de polícia é largamente discutido principalmente quanto à medida de sua aplicabilidade. Até que ponto e de que maneira deverá atuar o Estado por meio do poder de polícia sem ferir a garantia conferida pela Constituição Federal às liberdades pessoais? Como resposta a tal indagação, faz-se necessário observar dentre outros aspectos, a proporcionalidade imputada ao ente estatal na execução das medidas coercitivas e, a fuga deste princípio, o que resultará em abuso de poder por parte do Estado. Estes e outros pontos serão levantados neste trabalho no afã de expor o presente tema de maneira clara e explicativa com o objetivo de situar o poder de polícia na esfera que propõe a Lei Maior. 10 CAPÍTULO I: ORIGEM DO PODER DE POLÍCIA 1. ASPECTOS HISTÓRICOS Para se entender o significado do termo poder de polícia, faz-se necessário primeiramente situá-lo historicamente ao longo do tempo, inicialmente, na Antigüidade e Idade Média, em seguida dentro do que se denominou estado de polícia e, por fim, dentro do estado de direito compreendido neste o estado liberal, o social e o democrático. A palavra portuguesa polícia, representada nas várias línguas românicas e anglo-germânicas, origina-se do grego politeia através da forma latina politia. Ligada etimologicamente ao vocábulo política, pois ambas vêm do grego pólis (= cidade, Estado), indicou entre os antigos helênicos a constituição do Estado, o bom ordenamento,1 sendo utilizado para designar todas as atividades da cidade- estado (pólis), sem qualquer relação com o sentido atual da expressão.2 Na Antigüidade, então, limitou-se à organização do Estado estabelecendo a idéia de governo e estrutura deste. Durante a Idade Média, no período feudal, o sentido do vocábulo teve nova vertente, tendo sido usado para designar a boa ordem da sociedade civil sob a autoridade do Estado, em contraposição à boa ordem moral e religiosa da competência exclusiva da autoridade eclesiástica. 3 Nesta época, havia o jus politiae, poder do qual o príncipe era detentor e que designava a este ampla ingerência na vida particular dos cidadãos, incluindo a 1 CRETELLA, José Júnior. Curso de direito administrativo. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 405. 2 DI PIETRO, Maria Sílvia Zanella. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 109. 3 CRETELLA, José Júnior. Curso de direito administrativo. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 405. 11 vida religiosa e espiritual, sempre com o pretexto de alcançar a segurança e o bem-estar coletivo. Compreendia uma série de normas postas pelo príncipe e que se colocavam fora do alcance dos tribunais. Esta fase foi denominada de estado de polícia. 4 Ainda na Idade Média, retira-se, a partir do século XI, da noção de polícia o aspecto referente às relações internacionais e já se detecta o exercício do poder de polícia, tal como é hoje considerado, no âmbito das comunas (municípios) européias, por seus administradores, contribuindo para fixar a raiz nascente da cidade moderna. Saindo aos poucos do âmbito da polícia as matérias relativas à justiça e às finanças. 5 A primeira etapa do estado moderno foi então caracterizada por uma fase de opressão nas vidas dos cidadãos, com o poder intervencionista do príncipe. Uma total intromissão do Estado, caracterizando o direito de polícia do soberano. Era a época do estado iluminista, no qual o governante agia de acordo com a sua própria lei, segundo a sua ótica particular e sem limitações. Logo depois vem a segunda fase do estado moderno: o estado de direito, o qual se desenvolve sob a égide de princípios, como o liberalismo e a legalidade, advindos da Revolução Francesa ocorrida no século XVIII. Com o estado de direito, inaugura-se nova fase em que já não se aceita a idéia de existirem leis a que o próprio príncipe não se submeta. Além de que a preocupação passa a ser a de assegurar ao indivíduo uma série de direitos subjetivos, dentre os quais a liberdade. Em conseqüência, tudo o que significasse uma interferência nessa liberdade deveria ter um caráter excepcional. A regra era o livre exercício dos direitos individuais assegurados nas Declarações Universais de Direitos, transpostos depois para as constituições.6 A partir de então, polícia passa a ser vista como uma parte das atividades 4 DI PIETRO, Maria Sílvia Zanella. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 109. 5 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 331-332. 6 DI PIETRO, Maria Sílvia Zanella. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 109-110. 12 da Administração, destinada a manter a ordem, a tranqüilidade, a salubridade públicas. Momento em que o vocábulo “polícia” deixou de ser usado isoladamente e surgiu primeiramente na França, a expressão polícia administrativa;7 sendo esta essencialmente uma polícia de segurança.8 Um outro momento se inicia, ainda com idéias liberais, em que a atuação estatal não se limita mais à segurança, entendendo-se também à ordem econômica e social e, antes mesmo de iniciar-se o século XX, fala-se em uma polícia geral, relativa à segurança pública, e em polícias especiais, que atuam nos mais variados setores da atividade dos particulares.9 Foi o momento do estado social, no qual a polícia passou a ter nova face, preocupando-se com questões relacionadas ao bem-estar da coletividade sempre com o objetivo de adequar o exercício dos direitos individuais a uma situação de harmonia com o interesse geral. Posteriormente, em um terceiro momento do Estado de Direito, observa-se uma preocupação do ente estatal com sua face democrática, o que refletiu no exercício do poder de polícia. Momento em que a população obrigatoriamente participa das negociações, relativas à sociedade como um todo, em nível de constituição, estando até organizada, muitas vezes, em classes. É o estado democrático de direito procurando garantir aos cidadãos o pleno exercício dos direitos e liberdades pessoais assegurados em Lei e, ainda vinculando seus atos ao que esta propõe. De maneira que o exercício do poder de polícia não seja mais do que o que esteja definido como suficiente à garantia da convivência pacífica da coletividade. Assim, a evolução do poder de polícia ao longo da história norteou sua execução nos dias atuais e permitiu a consagração de um Direito Administrativo estruturado e embasado em princípios basilares à atuação da Administração 7 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 332. 8 DI PIETRO, Maria Sílvia Zanella. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 110. 9 DI PIETRO, Maria Sílvia Zanella. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 110. 13 Pública. A qual procura contrabalancear de um lado a garantia de efetivação plena dos direitos individuais almejada pelo cidadão, e de outro a contensão desse mesmo direito quando seu exercício individual venha sobrepujar o coletivo. 2. QUESTÕESCONCEITUAIS Grande relevância tem neste ponto, para esclarecimento pertinente do trabalhado realizado, expor por parte de doutrinadores e também da legislação, o conceito de poder de polícia ao longo dos tempos como requisito primário e sólido necessário à compreensão e desenvolvimento do tema. Pelo conceito clássico, ligado à concepção liberal do século XVIII, o poder de polícia compreendia a atividade estatal que limitava o exercício dos direitos individuais em benefício da segurança.10 Sob essa ótica, o poder de polícia acha-se norteado pela noção que lhe emprestavam os gregos, na qual a polícia significava o próprio governo, idéia aceita também pelos norte-americanos na lição de Paulo Almeida Dutra: O poder de polícia é, entre eles (os americanos), o poder do Estado de promover a saúde pública, a segurança, a moral e o bem-estar geral; ou, como foi mais simples e compreensivamente descrito, o poder de governar homens e coisas.11 Ainda neste sentido, o poder de polícia, em geral, sempre existiu no Estado, qualquer que tenha sido sua natureza e funções, no que diz respeito aos fins da sociedade a ele referida, quer tenha tido um caráter amplo de política interna (concepção originária da polícia como governo), quer tenha sido concebido como instituição essencialmente administrativa, ou como administração jurídica, ou administração social do Estado. A idéia de Estado é inseparável da de polícia.12 Modernamente, poder de polícia é a faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado. 10 DI PIETRO, Maria Sílvia Zanella. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 111. 11 DUTRA, Paulo de Almeida. Desvio de poder. São Paulo: Max Limonad, 1986. p. 34 12 CRETELLA, José Júnior. Curso de direito administrativo. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 419. 14 É o mecanismo de frenagem de que dispõe a Administração Pública para conter os abusos do direito individual.13 Sob esse ângulo, Petrônio Braz conceitua o poder de polícia como “um poder de vigilância objetivando o bem-estar social, impedindo que os abusos dos direitos pessoais possam perturbar ou ameaçar os interesses gerais da coletividade”.14 Concordando com esse pensamento, Odete Medauar tem o poder de polícia como “a atividade da Administração que impõe limites ao exercício de direitos e liberdades.” Para ela, é uma das atividades em que a Administração mais expressa sua face autoridade e imperativa. Pois, “onde existe um ordenamento, este não pode deixar de adotar medidas para disciplinar o exercício de direitos fundamentais de indivíduos e grupos”.15 Assim expõe também Odília Oliveira ao ter o poder de polícia como “conjunto de atribuições da Administração Pública, consistentes em atos normativos e atos individuais executórios, de fiscalização e controle da atividade privada, não só mediante a prevenção, mas também por via da repressão de atos violadores da ordem jurídica, que tenham repercussão social”.16 Ainda sob este ponto de vista, corrobora Maria Sílvia Zanella Di Pietro ao afirmar que “o poder de polícia é tido como a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse público”.17 Sem embargo, convém expor segundo a visão de Celso Antônio Bandeira de Mello, seu conceito de poder de polícia evidenciando um sentido amplo e estrito deste: A atividade estatal de condicionar a liberdade e a propriedade 13 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 131. 14 BRAZ, Petrônio. Manual de direito administrativo. 2. ed. Leme: Editora de Direito, 2001, p. 141. 15 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 331. 16 OLIVEIRA, Odília Ferreira da Luz. Implicações da distinção entre poder de polícia e serviço público. Revista de direito público, n. 74, p. 208-209. 17 DI PIETRO, Maria Sílvia Zanella. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 111. 15 ajustando-as aos interesses coletivos designa-se “poder de polícia”. A expressão tomada neste sentido amplo, abrange tanto atos do Legislativo quanto do Executivo. Refere-se, pois, ao complexo de medidas do Estado que delineia a esfera juridicamente tutelada da liberdade e da propriedade dos cidadãos. A expressão “poder de polícia” pode ser tomada em sentido mais estrito, relacionando-se unicamente com as intervenções, quer gerais e abstratas, como os regulamentos, quer concretas e específicas (tais as autorizações, as licenças, as injunções), do poder Executivo destinadas a alcançar o mesmo fim de prevenir e obstar ao desenvolvimento de atividades particulares contrastantes com os interesses sociais. Esta acepção mais limitada responde à noção de polícia administrativa.18 Noutro aspecto, traz José Cretella Júnior que, por informar todo o sistema de proteção que funciona atualmente nos estados de direito, o poder de polícia deve “satisfazer a tríplice objetivo, qual seja, o de assegurar a tranqüilidade, a segurança e a salubridade públicas”. Em contrapartida, partindo-se do fato de que o conceito de poder de polícia, ao longo dos tempos teve várias faces, correspondendo à realidade histórica de cada época e, que hoje, acha-se dotado de vasta abrangência, seria estabelecer uma grande limitação condicioná-lo a um tríplice objetivo como o exposto acima. Coadunando com esse pensamento Maria Sílvia Zanella Di Pietro acrescenta que o interesse público a que deve atender a execução do poder de polícia, “diz respeito aos mais variados setores da sociedade, tais como segurança, moral, saúde, meio ambiente, defesa do consumidor, patrimônio cultural, propriedade”.19 Então, não há que se indagar se há no exercício do poder de polícia o trio: tranqüilidade, segurança e salubridade públicas. Principalmente no Brasil, onde este poder é visto pela maior parte dos doutrinadores como atuante nas mais diversificadas esferas da sociedade. Neste sentido, afirma Celso Antônio Bandeira de Mello: Ocorre que no Brasil só existem regulamentos executivos, isto é, para a fiel execução das leis. Foge à alçada regulamentar inovar na ordem jurídica. Para nós, então, não interessa indagar se se trata de segurança, ordem ou salubridade públicas, ou qualquer outro setor, uma vez que se encontram niveladas todas as intervenções da 18 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 718. 19 DI PIETRO, Maria Sílvia Zanella. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 111. 16 Administração.20 É ainda dessa noção que esse autor acentua os sentidos amplo e estrito do poder de polícia já expostos em momento anterior. Não se limitando, portanto, a uma definição rígida do termo. Partindo desse pressuposto, tem-se no artigo 78 do Código Tribunal Nacional, referente à cobrança de taxa, um conceito para o poder de polícia da Administração: Considera-se poder de polícia da atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, àtranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. Há também na Constituição Federal de 1988, em vários artigos e incisos, abordagem do legislador a cerca do poder de polícia como, por exemplo, o artigo 5º, VI, VIII, XIII, XVI, XXIII e XXIV, artigo 145, II, artigo 170 e artigo 172, entre outros. Ainda a título de conceituação, mas abordando um outro aspecto extremamente relevante, Marçal Justen Filho afirma que “o poder de polícia administrativa é a competência administrativa de disciplinar o exercício da autonomia privada para a realização de direitos fundamentais e da democracia, segundo os princípios da legalidade e da proporcionalidade”.21 A partir deste conceito é possível depreender que além de zelar pela convivência dos cidadãos em sociedade, assegurando seus direitos e permitindo o livre exercício deles, a execução do poder de polícia a que se pautar nos princípios que regem a administração pública de forma que não se desvie do que propõe a lei e ainda o realize de maneira ponderada. Assim, a partir de todas as definições oferecidas tanto pela legislação quanto pelos diversos doutrinadores, é possível observar o caráter limitativo da conduta individual do ser humano por parte do poder de polícia, em prol de uma 20 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 734-735. 21 FILHO, Marçal Justen. Curso de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p.385. 17 situação de convivência social aceitável e permissiva de benefícios à coletividade. 3. A IGREJA E O PODER DE POLÍCIA É possível observar através de registros da história da humanidade que ao longo dos tempos a Igreja e o Estado estiveram ligados. Ora de forma conflitante em que o representante político e o detentor do poder espiritual interferiam um na ação do outro, cada qual buscando a supremacia de seu poder e ora unidos estabelecendo laços de força dos dois poderes. É o que se observa, por exemplo, no Império romano (de 27 a.C. a 476 d.C). Período em que os cristãos foram severamente perseguidos e a Igreja cristã não exerceu grande influência na sociedade: Ao imperador, supremo mandatário, cabia exercer totalmente o controle político, sobrepondo-se ao Senado. A ele competia nomear magistrados, controlar os exércitos, interferindo, até mesmo, nas questões religiosas.22 Somente após a aceitação do cristianismo promovida pelo imperador Constantino (313-337) por meio do Edito de Milão, o qual “concedeu liberdade de culto aos cristãos, já importantes em número e influência”23, é que a igreja católica passou a ter interferência direta em todos os setores da sociedade. Foi então na Idade Média que se observou a supremacia desta instituição feudal, a maior do ocidente europeu. Uma vez que “atuando em todos os níveis da vida social, a Igreja estabeleceu normas, orientou comportamentos e, sobretudo, imprimiu nos ideais do homem medieval os valores teológicos, isto é, a cultura religiosa”.24 Essa interferência direta da Igreja foi decisiva para a aceitação da mentalidade de uma sociedade imóvel e estratificada que culminou na sustentação da realidade política vivenciada na época, necessariamente desigual: Coube, assim, ao clero forjar a mentalidade da época, reforçando o predomínio dos senhores feudais (clero e nobreza), justificando os privilégios estabelecidos e oferecendo ao povo, em troca, a promessa do 22 VICENTINO, Cláudio. História geral. 8. ed. São Paulo: Scipione, 1999, p. 90. 23 VICENTINO, Cláudio. História geral. 8. ed. São Paulo: Scipione, 1999, p. 93. 24 VICENTINO, Cláudio. História geral. 8. ed. São Paulo: Scipione, 1999, p. 111. 18 paraíso celestial.25 Era, na verdade, uma aliança de cooperação entre o Estado e a Igreja, em que esta exercendo sua supremacia, enaltecia a situação política e social vigente em troca de maior fortalecimento de suas bases. E, a cada medida que tomava em prol do fortalecimento do poder do soberano, tornava-se por parte deste mais protegida: Deus quis que, entre os homens, uns fossem senhores e outros servos, obrigados a venerar e a amar a Deus, e que os servos estejam obrigados a amar e venerar o seu senhor.26 Em alguns momentos, foi possível observar confusão entre o papel da Igreja e do Estado. Este se estruturando aos poucos, de acordo com as mudanças trazidas pelas modificações ao longo dos tempos, principalmente da economia, e aquela devido ao forte poderio que deteve, fazendo as vezes de Estado ao impor penalidades ao homem que se achasse contrário ao seus dogmas: Em sua obsessão pelo poder, os papas passaram a intervir sistematicamente em assuntos de política e economia, acabando por enfrentar a resistência da realeza.27 É possível, portanto, observar que a relação Igreja-Estado tem feito parte diretamente da vida do homem e direcionado a conduta deste. Por meio da doutrina cristã, a qual prega a paz entre os homens, a Igreja tem se relacionado com as questões sociais que envolvem o ser humano e, buscado imprimir a necessidade do alcance de um bem comum a todos, dado o fato de o homem ter sido criado à imagem e semelhança de Deus e por isso ser responsável pelo exercício dos seus direitos individuais com os demais pertencentes ao seu grupo social. Esse bem comum não é senão finalidade social a ser cumprida pelo Estado e na lição de Dalmo Dallari de Abreu é perfeitamente definido pelo Papa João XXIII: O bem comum consiste no conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da 25 VICENTINO, Cláudio. História geral. 8. ed. São Paulo: Scipione, 1999, p. 111. 26 ANGERS, St. Laud de. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. Lisboa: Plátano, 1975. 27 VICENTINO, Cláudio. História geral. 8. ed. São Paulo: Scipione, 1999, p. 152. 19 personalidade humana. (...) Como se vê não é feita referência a uma espécie particular de bens, indicando, em lugar disso, um conjunto de condições, incluindo a ordem jurídica e a garantia de possibilidades, que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana. Nesta idéia de integral desenvolvimento da personalidade está compreendido tudo, inclusive os valores materiais e espirituais, que cada homem julgue necessário para a expansão de sua personalidade. Ao se afirmar, portanto, que a sociedade humana tem por finalidade o bem comum, isto quer dizer que ela busca a criação de condições que permitam a cada homem e a cada grupo social a consecução de seus respectivos fins particulares.”28 Dessa forma, é necessário que antes de qualquer lucro pessoal ou interesse particular, a sociedade coloque o bem comum à frente de suas relações e todos sejam beneficiados. Porém, os homens, por si mesmos, individualmente, revelam-se incapazes de coordenar seus esforços para a verdadeira construção do bem comum, pois ele carreia em seu bojo complexas teias de relações humanas. Por isso, o Estado e os governantes têm a missão de assumir a construção dessa obra monumental.29 É daí, então, que advêm a necessidade da atuação do ente estatal através do poder de polícia, no sentido de controlar, ajudar e regular as atividades individuais e, assim, direcioná-las de forma harmoniosa ao bem comum. Para que esta missão do Estado se concretize é imperioso que exista um sistema de segurança humana capaz de coibir no caso concreto ações desfavoráveis ao bem comum e possibiliteum mínimo de segurança à coletividade. A este sistema dá-se o nome de polícia, o qual segundo José Cretella Júnior, “é a atividade concreta exercida pelo Estado para assegurar a ordem pública através de limitações legais impostas à liberdade coletiva e individual.”30 A existência da polícia como meio de assegurar a ordem pública, promover a segurança necessária à coletividade e, assim possibilitar o bem comum coaduna com a doutrina social da Igreja. “Destarte, a polícia, em si, como concebida, é um importante elo de ligação entre o Estado e a doutrina social da Igreja.”31 28 Papa João XXIII. Pacem in terris (Encíclica), I, 58. 29 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 19. 30 CRETELLA, José Júnior. Curso de direito administrativo. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 414. 31 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen 20 4. A EXPRESSÃO PODER DE POLÍCIA Tem origem na jurisprudência norte-americana. A expressão técnica advém do inglês police power. José Maria Pinheiro Madeira citando Henrique de Carvalho Simas, diz: A expressão veio dos Estados Unidos: police power. Criação da jurisprudência dos tribunais americanos, significa, nada mais nada menos, uma atividade discricionária (não arbitrária) do governo, que age com certa liberdade para aquilatar da convivência, oportunidade ou alcance da aplicação das medidas limitativas ou disciplinadoras dos direitos individuais.32 Concordando com esta afirmação José Cretella Júnior acentua que a expressão é bastante moderna e, que após ter sido criada em país de língua inglesa, expandiu-se pelo direito público de todo o mundo. Faz ainda um breve relato da utilização da expressão: Em 1827, no caso Brown “versus” Maryland, o juiz Marshall, presidente da Corte Suprema dos Estados Unidos, trata do poder de polícia, se bem que a expressão integral, estereotipada - police power – ainda não lhe tivesse ocorrido de modo nítido, tanto assim que, em seu voto, nada menos que 10 vocábulos se interpõem entre os termos constitutivos da denominação. O mesmo juiz, em caso anterior (1824), Gibbons “versus” Ogden, empregara os mesmos vocábulos, também afastados um do outro, não ocorrendo, ainda, a expressão “police power”. Em 1853, no caso Commonwealth “versus” Alger, o juiz Shaw, fez alusão à relatividade dos direitos de propriedade, subordinados aos demais interesses particulares e coletivos. No caso Noble, a expressão, agora para sempre consagrada, aparece na íntegra, pela primeira vez: “Pode dizer-se, de um modo geral, que o police power se estende a todas as grandes necessidades públicas”.33 Em outra vertente, acentua Celso Antônio Bandeira de Mello que a expressão poder de polícia traz consigo “a evolução de uma época pretérita, a do ‘Estado de Polícia’, que precedeu ao Estado de Direito”. Carregando consigo “a suposição de prerrogativas dantes existentes em prol do ‘príncipe’ e que se faz comunicar inadvertidamente ao Poder Executivo”. Dessa forma, “raciocina-se Júris, 2000, p. 22. 32 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 10. 33 CRETELLA, José Júnior. Curso de direito administrativo. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 420. 21 como se existisse uma ‘natural’ titularidade de poderes em prol da Administração e como se dela emanasse intrinsecamente, fruto de um abstrato ‘poder de polícia’”.34 Atualmente, na quase totalidade dos países europeus, excepcionalmente à França, “o tema é tratado sob a titulação ‘limitações administrativas à liberdade e à propriedade’, e não mais sob o rótulo ‘poder de polícia’”.35 Contudo, como na realidade brasileira a denominação é largamente empregada, tanto por doutrinadores como pela legislação, será chamada então de poder de polícia a prerrogativa da Administração de impor limitações à conduta individual do particular em prol do bem comum e, há que se ressaltar a diferença entre o poder de polícia e a polícia para que não ocorram conflitos nos atos de expressão de um e de outros resultantes de má-definição. É o que assinala José Cretella Júnior: A polícia é (...), a atividade exercida pelo Estado para assegurar a ordem pública e particular mediante limitações impostas à liberdade coletiva e individual dos cidadãos, tem âmbito mais restrito do que o poder de polícia que é a faculdade atribuída pela Constituição do poder legislativo para regulamentar os direitos individuais, promovendo o bem-estar geral.36 Neste sentido, na lição de Álvaro Lazzarini, “podemos dizer que o poder de polícia é uma potencialidade, é algo em potência, ao passo que a polícia é uma realidade, é algo em ato. O poder de polícia legitima a ação da polícia e sua própria existência.”37 5. ATOS DE EXPRESSÃO DO PODER DE POLÍCIA Na lição de Marçal Justen Filho, “a natureza de poder de polícia conduz, na grande parte dos casos, à sua exteriorização por meio de atos administrativos unilaterais. A especificação da espécie de ato adequado depende das 34 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 717. 35 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 717. 36 CRETELLA, José Júnior. Curso de direito administrativo. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 423. 37 LAZZARINI, Álvaro. Estudos de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 186. 22 circunstâncias e da natureza.”38 Neste sentido, tomando-se a atuação do poder de polícia em sentido amplo, com abrangência em atividades dos Poderes Executivo e Legislativo, tem-se o exercício de atos que podem ser normativos em geral, e concretos ou operações materiais. José Maria Pinheiro Madeira afirma que: (...) pelos atos normativos em geral, que são leis, criam-se as limitações administrativas ao exercício dos direitos e atividades individuais, estabelecendo-se normas gerais e abstratas dirigidas indistintamente às pessoas que estejam em idêntica situação;e que disciplinando a aplicação da lei aos casos concretos, pode o Executivo baixar decreto, resoluções, portarias, instruções.39 (...) os atos administrativos e operações materiais de aplicação da lei ao caso concreto compreendem medidas preventivas como fiscalização, vistoria, ordem, notificação, autorização, licenças, objetivando adequar o comportamento individual à lei, e medidas repressivas (dissolução de reunião, interdição de atividade, apreensão de mercadorias deterioradas, internação de doente com patologia contagiosa), com a finalidade de coagir o infrator a cumprir a lei.40 Na lição de Odete Medauar, “a licença é ato administrativo vinculado pelo qual o poder público, verificando que o interessado atendeu a todas as exigências legais, possibilita-lhe a realização de atividades ou de fatos materiais, vedados sem tal apreciação.” Como exemplo de licença cite-se: “licença de construir, licença ambiental, licença de localização e funcionamento.”41 Ainda sob o olhar desta autora, tem-se agora a autorização “como ato administrativo discricionário e precário, pelo qual a Administração consente no exercício de certa atividade; no âmbito do poder de polícia, diz respeito, ao exercício de atividades cujo livre exercício pode, em muitos casos, constituir perigo ou dano para a coletividade, mas que não é importuno impedir de modo absoluto.” Os exemplosmais comuns são o porte de armas e o comércio de fogos. 42 38 FILHO, Marçal Justen. Curso de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p.385. 39 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 48 40 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 48 41 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 337. 42 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 337-338. 23 Como exemplo de regulamentos ou portarias, tem-se também “as que proíbem soltar balões em épocas de festas juninas” e “das normas administrativas, as que disciplinam horário e condições de vendas de bebidas alcoólicas em certos locais. São disposições genéricas próprias da atividade de polícia administrativa.” 43 Em outra vertente, tem-se: (...) as injunções concretas, como as que exigem a dissolução de uma reunião subversiva, apreensão de edição de revista ou jornal que contenha noticiário ou reportagem sediciosa, imoral ou dissoluta, fechamento de estabelecimento comercial aberto sem a prévia obediência aos requisitos normativos, interdição de hotel utilizado para exploração de lenocínio, guinchamento de veículo que obstrua via pública, são atos específicos de polícia administrativa praticados em obediência a preceitos legais e regulamentares.44 Diógenes Gasparini complementa ainda, que “a atribuição de polícia administrativa também compreende os atos de fiscalização. Por eles, previnem-se os danos decorrentes da ação dos administrados.”45 Como exemplo, tem-se: (...) a fiscalização dos estabelecimentos de pasto (restaurantes, bares e lanchonetes), no que concerne à higiene e à qualidade dos alimentos postos ao consumo público; das construções, no que respeita a higiene, segurança, habitabilidade; de atividades (caça e pesca), no que diz respeito á época, ao local e aos equipamentos utilizados; dos táxis, no que se refere à segurança, à higiene e à aferição dos taxímetros.”46 Dessa forma, é possível depreender que o poder de polícia está inserido por toda a Administração e seus atos de expressão são, portanto, inúmeros e repercutem sobremaneira dentro da sociedade. CAPÍTULO II: ORDEM PÚBLICA, SEGURANÇA PÚBLICA E PODER DE 43 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 731. 44 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 731. 45 GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 132-133. 46 GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 132-133. 24 POLÍCIA 1. QUESTÕES CONCEITUAIS A ordem pública, objeto de profunda necessidade para a convivência saudável da coletividade, possui conceituação diversa e abrangente na doutrina dominante em face da amplitude que possui. A atual Constituição Federal no artigo 144, faz menção à ordem pública ao afirmar que “a segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”, mas não oferece definição exata ao termo. Por isso, “consideramos mais procedente entender que a ordem pública não se limita às noções de segurança e de tranqüilidade, mas também abrange os conceitos de ordem moral, estética, política e econômica.”47 É neste sentido, por exemplo, que age amplamente a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça quando menciona questão de ordem pública: PROCESSO CIVIL – EXECUÇÃO FISCAL – EXCEÇÃO DE PRÉ- EXECUTIVIDADE –ILEGITIMIDADE PASSIVA – RESPONSABILIDADE DO SÓCIO – DILAÇÃO PROBATÓRIA – PRECEDENTES. 1. A controvérsia essencial destes autos restringe-se à exclusão do recorrente do pólo passivo da relação jurídica, por meio de argüição de exceção de pré-executividade. 2. A exceção de pré-executividade é admitida nas hipóteses em que a matéria objeto de defesa, pelo executado, seja de ordem pública e, portanto, cognoscível de ofício pelo juiz, a qualquer tempo e grau de jurisdição, como, por exemplo, as condições da ação e os pressupostos processuais (artigo 267, § 3º, do Código de Processo Civil). 3. Sobre a exclusão da responsabilidade do recorrente, na hipótese dos autos, denota-se inexistir respaldo legal. Frise-se que a inclusão do co-responsável à execução, na forma do art. 135 do CTN, origina-se do disposto no art. 4º da LEF. Nesse sentido, independentemente de terem nomes expressamente lançados na CDA, os co-responsáveis podem ser citados e, além disto, terem seus bens penhorados. (...)48 Assim, por ordem pública, não se entende somente a ausência de 47 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 86. 48 BRASIL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REsp 787116/SC, relatora ministra Eliana Calmon, julgamento 21/06/2007, DJ 29-06-2007, p. 541. 25 desordem, mas também a atuação preventiva que possibilite a não ocorrência de lesões à convivência pacífica da comunidade. Daí ser necessária a atuação do poder de polícia no sentido de promover a situação de ordem pública, a qual “há de ser garantida através de mecanismos de segurança pública, que haverão de ser adotados por órgãos específicos.”49 Tais órgãos, de acordo com o texto constitucional mencionado acima, nos incisos I, II, III, IV, V e § 8º, são a própria polícia, organizada em corporações e distinta pela competência que cada uma possui, ou seja, a polícia federal, a polícia rodoviária federal, a polícia ferroviária federal, as polícias civis, as polícias militares e corpos de bombeiros militares, além das guardas municipais que os municípios poderão constituir. Além destes, conta-se com a polícia administrativa, pois esta na lição de José Cretella Júnior, “tem por objeto a manutenção da ordem pública e exerce atividades a priori, antes dos acontecimentos, procurando evitar que os crimes se verifiquem.”50 Ainda sob o ponto de vista deste autor, “à polícia administrativa ou preventiva incumbe, em geral, a vigilância, a proteção da sociedade, manutenção da ordem e tranqüilidade públicas, bem assim, assegurar os direitos individuais e auxiliar a execução dos atos e decisões da Justiça e da administração.”51 Neste sentido, é inegável que para a existência da ordem pública, faz-se necessária a atuação da polícia, esta encarada também em sentido amplo e não somente sob sua face repressiva, uma vez que na realidade brasileira, à polícia cumpre também a prevenção dos delitos. Sem embargo, cumpre observar que embora aja distinção entre as polícias administrativa e judiciária, no Brasil esta diferença “não tem integral aplicação, porque a nossa polícia é mista, cabendo ao mesmo órgão atividades preventivas e 49 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 85. 50 CRETELLA, José Júnior. Curso de direito administrativo. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 416. 51 CRETELLA, José Júnior. Curso de direito administrativo. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 416. 26 repressivas.”52 Neste aspecto, José Cretella Júnior conceitua polícia como “a operação que tem por fim assegurar por via geral ou individual, preventivamente e por certas medidas apropriadas (que constituem seu objeto), a tranqüilidade, a segurança e a salubridade públicas, a fim de prevenir as ofensas aos direitos e propriedadesdos indivíduos que poderiam resultar numa falta de tranqüilidade, de segurança ou de salubridade.”53 Ainda neste sentido, é notório, “que a ordem pública existe sempre que não há desordem, atos de violência, de que espécie for, contra pessoas, bens ou o próprio Estado. Mas ela não pode ser concebida única e exclusivamente sob esta ótica. Não se trata de figura jurídica, embora dela se origine e tenha a sua existência formal.”54 Assim, na lição de Álvaro Lazzarini: A ordem pública encerra um contexto maior, no qual se encontra a noção de segurança pública, como estado antidelitual, resultante da observância das normas penais, com ações policiais repressivas ou preventivas típicas, na limitação das liberdades individuais.55 Dessa forma, mesmo que de forma ampla, a ordem pública é objeto de busca e preservação por parte do poder público, uma vez que sem ela será impossível a convivência social. 2. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, POLÍCIA E PODER DE POLÍCIA A Constituição Federal no artigo 2º acentua que “são poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. No Estado Moderno ao contrário do Antigo e Medieval, a existência dos três poderes tem o objetivo de defender os interesses do povo, colecionados no bem-estar, ordem social e bem comum em contraposição aos anseios individuais. 52 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 92. 53 CRETELLA, José Júnior. Curso de direito administrativo. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 409. 54 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 95. 55 LAZZARINI, Álvaro. Estudos de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 202. 27 Em concordância com essa afirmativa, acentua Alexandre de Moraes que “o objetivo inicial da clássica separação das funções do Estado e distribuição entre órgãos autônomos e independentes tinha como finalidade a proteção da liberdade individual contra o arbítrio de um governante onipotente”. 56 Reis Friede afirma ainda que “a divisão do poder de Estado em três órgãos distintos (Legislativo, Executivo e Judiciário), independentes e harmônicos entre si, representa a essência do sistema constitucional. Uma Constituição que não contenha este princípio não é Constituição, como afirmaram os teóricos do liberalismo”.57 Sob esta ótica, “é tão fundamental, na concepção do Estado Moderno, o princípio da separação dos Poderes que, no art. 16 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada na França em 26 de agosto de 1789, foi firmado o princípio de que “toda sociedade em que a garantia dos direitos não é assegurada, nem a separação dos poderes determinada, não tem constituição”58, vale dizer é um Estado politicamente não evoluído”. 59(...) Nesse contexto, é imprescindível salientar que a clássica separação dos poderes reconhecida e acatada como dogma dos Estados liberais, teve origem no século XVIII por Montesquieu a partir da compilação de diversas divagações de filósofos na obra intitulada “O Espírito das Leis”, a qual expôs a necessidade de impedir a tirania dos governantes que caracterizou os Estados absolutistas do passado. Sem embargo, necessário é pontuar que “essa separação de poderes não pode ser entendida da maneira absoluta como pretendiam, nos primeiros tempos, os teóricos do ‘presidencialismo puro’ norte-americano. Nem decorre da doutrina de Montesquieu que cada um dos três clássicos poderes deva funcionar com plena independência, plena autonomia, fechado em departamento estanque. Melhor será 56 MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 370. 57 FRIEDE. Reis. Curso de ciência política e teoria geral do estado. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 459. 58 FENET, Alain. Les libertes publiques en France. 1. ed. Paris: Presses Universitaires de France, 1976, p. 35. 59 LAZZARINI, Álvaro. Estudos de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 25-26. 28 falar-se em separação de funções. A divisão é formal, não substancial”. 60 “Isso é tanto mais importante, quando sabe-se que as atividades da Administração Pública, típicas do Poder Executivo, coexistem nos dois outros Poderes, isto é, no Legislativo e no Judiciário”.61(...) Salientando-se, entretanto, que tal ocorrência em nada compromete a competência legítima e específica de cada Poder. Sob esta ótica, imprescindível é expor o conceito de Administração Pública, embora nem sempre esta definição seja encontrada de forma bem definida devido aos vários sentidos dados à expressão. A saber: Poderes criados, distribuídos e administrados pelo governo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, para atender a necessidades e interesses da coletividade, com execução de atividades e serviços públicos(...)62 Na lição de Hely Lopes Meirelles, se “administrar é gerir interesses, segundo a lei, a moral e a finalidade dos bens entregues à guarda e conservação alheias”, e sendo estes bens da coletividade, “realiza-se administração pública”.63 Sendo assim, para este autor, Administração Pública, “é a gestão de bens e interesses qualificados da comunidade no âmbito federal, estadual e municipal, segundo os preceitos do Direito e da Moral, visando ao bem comum”.64 Nesta linha, Laubadére, administrativista francês, acentua que: Administração Pública é o ramo do direito público interno que compreende a organização e a atividade daquilo que se denomina corretamente Administração, isto é, o conjunto de autoridades, agentes e organismos encarregados, sob o impulso dos poderes políticos, de assegurar as múltiplas intervenções do Estado moderno.65 60 MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 205-207. 61 LAZZARINI, Álvaro. Estudos de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 27. 62 GUIMARÃES, Diocleciano Torrieri. Dicionário técnico jurídico. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2003, p. 50. 63 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32. ed. São Paulo: Mallheiros, 2006, p. 84. 64 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32. ed. São Paulo: Mallheiros, 2006, p. 84. 65 LAUBADÉRE, André. Manuel de droit administratif. 10.ed. Paris: Ledy, 1977. p. 11. 29 Odete Medauar assinala duas faces de observação para o termo. Sob o aspecto funcional, Administração Pública significa “um conjunto de atividades do Estado que auxiliam as instituições políticas de cúpula no exercício de funções de governo, que organizam a realização das finalidades públicas postas por tais instituições e que produzem serviços, bens e utilidades para a população (...)”66 Já sob a vertente organizacional, a Administração Pública “representa o conjunto de órgãos e entes estatais que produzem serviços, bens e utilidades para a população, coadjuvando as instituições políticas de cúpula no exercício das funções de governo.”67 Na mesma assertiva, mas com diferentes denominações, Maria Sylvia Zanella Di Pietro atribui um sentido subjetivo e objetivo à expressão. Segundo ela, subjetivamente a Administração Pública compreende as pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos incumbidos do exercício da função administrativa. Objetivamente, a expressão se refere à natureza da atividade exercida por estes entes, sendo neste caso a própria atividade administrativa de competência precípua do Poder Executivo.68 Mormentedevido principalmente à diversidade conceitual acerca da Administração Pública, imprescindível é a diferenciação entre esta e Governo. A função política ou de governo compreende um dos três elementos necessários à existência do Estado. Ao longo dos tempos esteve intrinsecamente relacionada com a função administrativa, de forma que sob o aspecto material, não se distinguem. No entanto, juridicamente há diferença entre os termos, pois aos órgãos do Governo cabe “a competência de tomar decisões políticas, dotadas de forte carga de discricionariedade, mas não de arbítrio, em relação à comunidade governada, enquanto que os órgãos da Administração Pública têm a seu cargo a aplicação 66 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 44. 67 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 44. 68 DI PIETRO, Maria Sílvia Zanella. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 54. 30 daquelas decisões governamentais, que sejam exeqüíveis em termos de ação concreta.”69 Em outras palavras, à Administração cabe o papel de execução, de operacionalização aplicada ao caso concreto das ordens emanadas pelo Governo, o qual possui atribuição de comando político do Estado. Maria Sylvia Zanella Di Pietro citando Renato Alessi, afirma que a função política ou de governo, “implica uma atividade de ordem superior referida à direção suprema e geral do Estado em seu conjunto e em sua unidade, dirigida a determinar os fins da ação do Estado, a assinalar as diretrizes para as outras funções, buscando a unidade da soberania estatal”.70 Neste contexto, necessário é acentuar para a devida compreensão da atividade administrativa, que esta se acha “efetivamente subordinada à ação governamental”, o que “obriga o agente administrativo a cumprir a decisão governamental”.71 No entanto, muito embora havendo sujeição, tanto os atos de Governo dotados de soberania política e direção quanto os da Administração evidenciados na execução, por meio de atos concretos voltados para a realização dos fins estatais, visam a satisfação das necessidades coletivas, ou seja, o fim precípuo do Estado, qual seja, o bem-comum da coletividade. Neste afã, é que a organização e funcionamento da Administração Pública se acham, no Brasil, alicerçados na Lei e em casos excepcionais em decretos conforme preceitua o artigo 84, inciso VI, da Constituição Federal.72 Como bem afirma Hely Lopes Meirelles, “a natureza da administração pública é a de um múnus público, isto é, a de um encargo de defesa, conservação 69 LAZZARINI, Álvaro. Estudos de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 28. 70 DI PIETRO, Maria Sílvia Zanella. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 56. 71 LAZZARINI, Álvaro. Estudos de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 28. 72 LAZZARINI, Álvaro. Estudos de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 30. 31 e aprimoramento dos bens, serviços e interesses da coletividade”73, o que obriga o administrador público ou agente público no exercício de sua atividade, a agir conforme os preceitos de Direito e morais inerentes à posição que ocupam. Consubstanciados então no que determina a Lei, é que se acham também os administradores públicos subordinados aos princípios da administração pública previstos no artigo 37, caput, da Constituição Federal e no artigo 2º da Lei federal 9.784 de 29.01.1999. Quais sejam: princípio da legalidade, moralidade, impessoalidade ou finalidade, publicidade, eficiência, razoabilidade, proporcionalidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, motivação e supremacia do interesse público. Hely Lopes Meirelles explana a respeito: Como salientado, por esses padrões é que deverão se pautar todos os atos e atividades administrativas de todo aquele que exerce o poder público. Constituem, por assim dizer, os fundamentos da ação administrativa, ou, por outras palavras, os sustentáculos da atividade pública.74 É nesta linha de ação que as atividades administrativas deverão se pautar, ou seja, com o objetivo maior e principal de alcançar o bem-comum, pois a Administração Pública deverá satisfazer o interesse geral, o que não conseguirá se estiver em pé de igualdade com particulares.75 Entretanto, como nem sempre as ordens e o interesse público são plenamente aceitos e atendidos por parte da coletividade, o poder público, na figura da Administração, conta com a ação da polícia e com o Poder de Polícia na concretização da vontade geral em detrimento da vontade individual e particular. Neste degrau, discussão presente é em relação à diferenciação entre a atuação da polícia e do poder de polícia. Isto, porque ao longo dos anos a noção de polícia sofreu mudanças tendo em alguns momentos o propósito de promover o bem-estar social e em outros sendo norteada pela idéia de que ao Estado somente deveria ser reservada a polícia pertinente à segurança e a defesa. 73 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32. ed. São Paulo: Mallheiros, 2006, p. 85. 74 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32. ed. São Paulo: Mallheiros, 2006, p. 87. 75 LAZZARINI, Álvaro. Estudos de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 32. 32 No entanto, depois de eclodirem vários pontos de vista acerca desta discussão, é predominante por parte da doutrina a aceitação da polícia bem como das ações administrativas decorrentes do Poder de Polícia, de que o bem-estar social deverá ser o fim último a ser alcançado. Mesmo que em algumas culturas ora se verifique com maior ênfase a proteção à segurança, moralidade e salubridade. Neste sentido, afirma José Maria Pinheiro Madeira que “a polícia é, portanto, uma atividade estatal com determinado fim, sendo preciso firmar, por meio de seus órgãos, se essa manifestação é uma atividade legislativa ou administrativa e em que casos é matéria própria do direito constitucional ou do direito administrativo”.76 Esclarece ainda que o Poder de Polícia atua restringindo o exercício do direito de propriedade e liberdade, mas que deve limitar-se aos fatos humanos, uma vez que, segundo ele, “as medidas pertinentes a fatos da natureza não são de polícia administrativa, e sim de segurança ou de defesa”.77 Este mesmo autor expõe concordantemente com o pensamento de José Cretella Júnior, idéia anteriormente exposta no primeiro capítulo deste trabalho, de que o Poder de Polícia legitima a si próprio e à própria polícia. Sendo portanto, uma possibilidade estatal de fiscalização e restrição de, através da polícia - forma organizada – limitar as atividades funestas dos cidadãos.78 Exemplificativamente se dá também o entendimento da douta jurisprudência, a saber: EMENTA: 1. RECURSO. Extraordinário. Inadmissibilidade. Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental - TCFA. Poder de polícia exercido pelo IBAMA. Lei nº. 10.165/2000. Constitucionalidade. Precedente do Plenário. Ausência de razões novas. Decisão mantida. Agravo regimental improvido. Nega-se provimento a agravo regimental quando a parte agravante não infirma os fundamentos adotados na decisão agravada.. 2. RECURSO. Agravo. Regimental. Jurisprudência assentada sobre a matéria. Caráter meramente abusivo. Litigância de má-fé. Imposição de 76 MADEIRA, José Maria Pinheiro.Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 32. 77 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 30-31. 78 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 30-31. 33 multa. Aplicação do art. 557, § 2º, cc. arts. 14, II e III, e 17, VII, do CPC. Quando abusiva a interposição de agravo, manifestamente inadmissível ou infundado, deve o Tribunal condenar a agravante a pagar multa ao agravado.79 EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. DISTRIBUIÇÃO DE COMBUSTÍVEIS. TRR. REGULAMENTAÇÃO DL 395/38. RECEPÇÃO. PORTARIA MINISTERIAL. VALIDADE. 1. O exercício de qualquer atividade econômica pressupõe o atendimento aos requisitos legais e às limitações impostas pela Administração no regular exercício de seu poder de polícia, principalmente quando se trata de distribuição de combustíveis, setor essencial para a economia moderna. 2. O princípio da livre iniciativa não pode ser invocado para afastar regras de regulamentação do mercado e de defesa do consumidor. 2. O DL 395/38 foi editado em conformidade com o art. 180 da CF de 1937 e, na inexistência da lei prevista no art. 238 da Carta de 1988, apresentava-se como diploma plenamente válido para regular o setor de combustíveis. Precedentes: RE 252.913 e RE 229.440. 3. A Portaria 62/95 do Ministério de Minas e Energia, que limitou a atividade do transportador-revendedor-retalhista, foi legitimamente editada no exercício de atribuição conferida pelo DL 395/38 e não ofendeu o disposto no art. 170, parágrafo único, da Constituição. 4. Recurso extraordinário conhecido e provido.80 3. PODER DE POLÍCIA E SEGURANÇA NACIONAL Nunca se falou tanto sobre a segurança da sociedade quanto nos dias atuais. Assuntos como a exacerbada violência e criminalidade têm sido discutidos nos mais variados meios de comunicação e têm ainda incitado e intrigado escritores e leitores das mais diversas classes sociais e níveis culturais. Conseqüentemente, a grande indagação que se tem feito é, se não exatamente desta forma, mas neste sentido, sobre o que foi feito de tão grave para que a segurança falhasse tanto ao ponto de os índices de violência terem chegado ao nível em que se encontram, pois até mesmo o mais simples dos civis desprovido de qualquer espécie de requinte tem sofrido os efeitos da insegurança, uma vez que mesmo não sabendo falar sobre eles, indesejavelmente é possível senti-los. Talvez a resposta não seja necessariamente afirmativa, ou seja, não se trata do que foi feito e sim do que não se fez. E várias são as teorias e sugestões 79 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RE-AGR 397342/SC, relator ministro Cézar Peluso, julgamento 08/08/2006, DJ 01-09-2006 pp- 01424 ement vol-02245-07 pp- 01424. 80 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RE 349686/PE, relatora ministra Ellen Gracie, julgamento 14/06/2005, DJ 05-08-2005 pp- 00119 ement vol-02199-06 pp- 01118. 34 que tentam explicar a desordem na qual se acha revestida a segurança nacional. Há quem defenda a posição norte-americana de que a criminalidade diminuirá se os criminosos forem tirados de circulação, assim como há quem afirme que a eficácia da segurança de um país não se medirá pelo número de presos que este possua.81 Neste ângulo, há a grande discussão acerca do real papel de um presídio na vida de alguém. Ou seja, até que ponto este ser humano será reeducado para uma nova vida em sociedade, curado das anomalias do passado e não transformado em um criminoso mais perigoso do que era quando lá entrou. Há também quem concorde com a idéia de que a solução está em investimento capacitatório das diversas polícias, como por exemplo, a adoção de métodos de investigação altamente tecnológicos que permitam aprimorar o trabalho de elucidação dos diversos crimes, bem como a integração da polícia com a comunidade e ainda, o rigor nas leis e a celeridade nos processos. Os quais possibilitem ao criminoso ter ciência de que por ter cometido um crime, irá responder por ele de maneira substancial.82 Não podendo passar por despercebida, há a opinião de que o erro se encontra na falta de investimentos no setor educacional – esta defendida pelo atual presidente do Brasil Luís Inácio Lula da Silva – uma vez que quando não se investe em escolas, necessário será investir-se em cadeias.83 Em outra perspectiva, há quem vá mais longe com a afirmação de que o colapso da segurança nacional encontra-se na falta de gestão do Estado, ou seja, na incapacidade do ente estatal de gerir de forma firme, coerente e produtiva ações voltadas não só para a punição de criminosos como para a prevenção de possíveis delitos e, conseqüentemente promover uma situação de segurança para a população.84 81 MAINARDI, D. Vamos soltar os bandidos. VEJA, São Paulo, nº. 18, p. 193, maio de 2005. 82 MUELLER, R. Crime e castigo. VEJA, São Paulo, nº. 44, p. 11, 14-15, novembro de 2005. 83 CARNEIRO, M. e PEREIRA, C. Terror em São Paulo. VEJA, São Paulo, nº. 20, p. 48, maio de 2006. 84 CARNEIRO, M. e PEREIRA, C. Terror em São Paulo. VEJA, São Paulo, nº. 20, p. 48, maio de 2006. 35 Uma vez que a segurança nacional é função do Poder Nacional e, portanto, imprescindível à convivência da população, necessidade básica de toda e qualquer sociedade e ainda instrumento do poder público para que o homem possa realizar suas atividades do modo mais perfeito possível. Além de que, “qualquer país precisa estruturar-se para defender os valores nacionais contra ameaças que se manifestem, seja no âmbito externo, das relações internacionais, seja no âmbito interno”.85 Esta preocupação é, por exemplo, verificada no artigo 9º da Constituição portuguesa, o qual trata das tarefas fundamentais do Estado português: São tarefas fundamentais do Estado: (...) e) Proteger e valorizar o património cultural do povo português, defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um correcto ordenamento do território; Nessa esteira, as atuações do Estado voltadas para a promoção do bem- comum e conseqüentemente de uma situação de segurança social, têm-se utilizado do poder de polícia como mecanismo de frenagem de direitos e liberdades individuais, o que tem demonstrado eficiência e aplausos por parte dos demais segmentos da sociedade brasileira.86 Mormente, no Brasil apesar de os índices de criminalidade estarem numa fase de grande repercussão, os dados que se têm não demonstram que haja uma ideologia por detrás das ações criminosas. Trata-se de uma criminalidade comum situada no âmbito da ordem pública. Entretanto, quando há ocorrências que ameacem a ordem interna através de manifestações públicas e greves, as quais resultem em depredação de patrimônio público, são acionados os Serviços de Informações e a polícia de ordem política e social que buscarão medidas neutralizadoras dos grupos responsáveis.87 85 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 106. 86 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 106. 87 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 107. 36 Por outro lado, ultimamente o que muito se tem verificado é a atuação de policiais envolvidos em crimes, na maioria das vezes juntamente com criminosos.Além de inúmeras ações autoritárias que acabam por desencadear e confirmar por parte da população o descrédito desta no fator segurança nacional. Alguns estudiosos afirmam que as ações autoritárias no âmbito de policiais são mais comuns por parte da polícia ostensiva ou de segurança, as conhecidas polícias militares. Muito se devendo ao fato de que há certa dificuldade nesta força em interpretar adequadamente suas missões e de se estruturar de conformidade com elas.88 Sobre este fato, complementa José Maria Pinheiro Madeira: Como esta polícia pouco investiga, acaba atuando arbitrariamente, passando por cima dos direitos individuais atribuídos a todos os cidadãos pela Constituição Federal. E quando a própria polícia descumpre a lei, pode-se ter a mais plena certeza de que a ordem interna não está garantida, assim como não está sendo preservada a ordem pública nem assegurada segurança pública aos cidadãos.89 Sendo assim, o uso do poder de polícia como mecanismo de atuação do Estado, não estará atingindo sua finalidade por meio de ações carregadas de autoritarismo e, sem dúvida, a omissão do ente estatal diante de uma necessidade tão básica e ao mesmo tempo de tamanha abrangência como a segurança nacional, urge ações reparatórias de imprescindível monta. 4. POLÍCIA JUDICIÁRIA E POLÍCIA ADMINISTRATIVA O Poder de Polícia também pode ser denominado polícia administrativa. Esta sinonímia resulta de alguns ordenamentos, por exemplo, o francês. E, neste contexto, tornou-se clássica a diferenciação entre polícia administrativa e polícia judiciária. Comumente e em um primeiro momento, há uma tendência predominante entre a doutrina de resumir a diferenciação entre as duas polícias atribuindo à primeira um caráter preventivo e à segunda, um repressivo. No entanto, de acordo 88 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 107. 89 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 109. 37 com a lição de alguns autores, entre eles Álvaro Lazzarini, esta diferenciação não é absoluta, em vista de as duas polícias autuarem tanto preventiva quanto repressivamente. Exemplificativamente, uma atuação preventiva da polícia administrativa seria a proibição do porte de arma ou a direção de veículos automotores por quem não estivesse devidamente habilitado, ao passo que uma atuação da mesma polícia só que de forma repressiva seria por ocasião da apreensão de arma usada indevidamente ou de licença do motorista infrator.90 José Maria Pinheiro Madeira acentua, neste sentido: Mas ainda assim falta precisão ao critério, pois se pode inferir que a polícia judiciária, embora seja repressiva em relação ao indivíduo infrator da lei penal, é também preventiva em relação ao interesse geral, porque, punindo-o, procura evitar que o indivíduo volte a incidir na mesma infração.91 Notadamente, a polícia administrativa é regida pelo Direito Administrativo, atua através de agentes credenciados por diversos órgãos públicos e incide sobre bens, direitos ou atividades, enquanto a polícia judiciária incide sobre as pessoas, é regida pelo Direito Processual Penal92, têm como agentes policiais civis e militares e está diretamente relacionada com a liberdade de ir e vir.93 Outra diferença importante é apontada por Maria Sylvia Zanella Di Pietro: A polícia judiciária é privativa de corporações especializadas (polícia civil e militar), enquanto a polícia administrativa se reparte entre diversos órgãos da Administração, incluindo, além da própria polícia militar, os vários órgãos de fiscalização aos quais a lei atribua esse mister, como os que atuam nas áreas da saúde, educação, trabalho, previdência e assistência social.94 Neste sentido, complementa José Maria Pinheiro Madeira ao estabelecer ainda uma diferença entre a repressão exercida pelas duas polícias. Ou seja, a 90 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 37. 91 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 37. 92 LAZZARINI, Álvaro. Estudos de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 240. 93 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 39. 94 DI PIETRO, Maria Sílvia Zanella. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 113. 38 polícia administrativa age repressivamente quando obsta a uma atividade particular já em curso, uma vez que esta tenha se revelado divergente ao interesse público. A polícia judiciária reprime enquadrando o perturbador nas normas penais vigentes em auxílio ao Poder Judiciário.95 Não obstante, o mesmo autor acentua que “a repressão típica da polícia administrativa somente se justifica enquanto ainda houver proveito na sua ação, isto é, enquanto da sua aplicação ainda possam ser evitados danos futuros”. Pois, uma vez que as atividades se encontrarem em fase final, será considerado abuso por parte da Administração o uso de sua competência policial. .96 Nesta esteira afirma Álvaro Lazzarini que o fator de diferenciação entre as atividades exercidas pelas duas polícias não está relacionado com a qualificação do órgão policial em civil ou militar97, bem como não se atém a regras de organização caracterizadas pela presença de coação.98 Por outro lado, um fator de diferenciação válido é o fato de que os atos da polícia administrativa exaurem-se neles mesmos. Por exemplo, fundados em uma autorização ou licença, não precisam buscar solidez em qualquer ato futuro. O que, por sua vez, não acontece com os atos da polícia judiciária que embasados pela perquirição de um acontecimento só encontram justificativa na intenção futura de serem submetidos ao Poder Judiciário.99 Sendo assim, levando o caráter eclético de atuação das duas polícias no sentido de atuarem de modo preventivo e repressivo, necessário é acatar a lição de Álvaro Lazzarini ao afirmar que o norte diferenciador reside na ocorrência ou não de ilícito penal. Ou seja, quando este existir, tratar-se-á com a polícia judiciária e quando se tratar de ilícito puramente administrativo, atuará a polícia administrativa.100 95 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 38-39. 96 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 41. 97 LAZZARINI, Álvaro. Estudos de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 241. 98 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 42. 99 MADEIRA, José Maria Pinheiro. Reconceituando o poder de polícia. 1.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 41. 100 LAZZARINI, Álvaro. Estudos de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 39 5. PRESERVAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA E APURAÇÃO DE DELITOS O artigo 144 da Constituição Federal ao dispor sobre a segurança pública e conseqüentemente ao definir a competência das forças policiais, atribui o exercício das polícias civis e militares. O que impulsiona a constatação de atribuições previstas constitucionalmente a esses órgãos de polícia. Assim dispõe o texto legal: Artigo 144: (...) (...) §4º. Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções
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