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HERMENÊUTICA: ASPECTOS HISTÓRICOS
1 – Introdução Hermenêutica é um ramo da filosofia. É tida como filosofia da interpretação, que se debate com a compreensão humana e a interpretação de textos escritos.
A Hermenêutica possui alguns significados diferentes de acordo com o tempo, passando de "compreender o significado do mundo" e chegando "é a teoria científica da arte de interpretar".
A linguagem é a base das relações sociais, em razão disso, o direito sofre influência de como esta comunidade organiza o seu ordenamento jurídico. Que código comunicativo próprio pode ser estabelecido tendo como base a língua padrão, criando assim um universo semiológico. A linguagem, as normas, as leis, etc... dependem de uma correta interpretação. Toda linguagem tem um certo grau não eliminável de incertezas, é inevitável que o intérprete produza, ou ajude a produzir, o sentido daquilo que interpreta, não por um lado isolado, mas num processo de construção que tenha contribuição dos diversos métodos e técnicas de interpretação, que damos o nome de Hermenêutica.
No campo jurídico, a Hermenêutica é usada para a interpretação fidedigna da ideia do autor para que seja adequada a norma ao fato ocorrido e assim proporcione uma responsável aplicação do Direito. Tendo em vista que a Hermenêutica Jurídica em lato sensu divide-se em interpretação, integração e aplicação do Direito.
A Hermenêutica no campo jurídico é empregada para dizer o meio e o modo por que se devem interpretar as leis, para que dessa forma se obtenham o exato sentido ou o fiel pensamento do legislador. Dessa forma, ela está encarregada de elucidar a respeito da compreensão exata da regra jurídica a ser aplicada aos fatos concretos, ou seja, é responsável pelo estudo e sistematização dos processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito, como explica Maximiliano.
Para realizar efetivamente a interpretação, que é uma arte, faz-se necessário seguir princípios e regras, que ao passar dos tempos e com o desenvolvimento da sociedade fizeram desabrochar as doutrinas jurídicas. Passando a hermenêutica, pelos três aspectos: científico, filosófico e social. Desse modo, Maximiliano relata que a arte ficou subordinada ao Direito obediente, este por sua vez à Sociologia, aproveitando então a hermenêutica das conclusões filosóficas e com elas desenvolvendo novos processos de interpretação, enfeixando-os num sistema e assim promovendo um modernismo à arte.
O estudo da Hermenêutica jurídica, ou seja, a técnica e os métodos para a correta interpretação das leis se torna fundamental para o estudo da ciência do direito.
Tanto a norma, quanto a construção da interpretação (sentido) desta norma surgem nos debates, nas reuniões, nas sentenças proferidas por juristas e doutrinadores. Há processos de interpretação, compreensão, crítica e as formas de interpretação do ato comunicativo jurídico.
Observamos que, desde a antiguidade grega até os dias atuais e utilizada em qualquer campo, a Hermenêutica é a grande arte de interpretar. Dessa forma, podemos tocar na essencial e necessária importância para o Direito, onde é classificada de Hermenêutica Jurídica e responsável pela leal e fidedigna transmissão do que propõem as leis e jurisprudência, para facilitar a aplicação do Direito na sociedade, obtendo dessa forma a harmonia geral.
Dessa forma, é imensurável a importância da Hermenêutica para todos os campos de atuação, ressaltando o campo jurídico, para que possamos entender melhor o Direito e sua aplicação.
 2 - Origem do Termo
O termo "hermenêutica" provém do verbo grego "hermēneuein" e significa "declarar", "anunciar", "interpretar", "esclarecer" e, por último, "traduzir". Significa que alguma coisa é "tornada compreensível" ou "levada à compreensão".
Alguns defendem que o termo deriva do nome do deus da mitologia grega, Hermes.
Encontra-se desde os séculos XVII e XVIII o uso do termo no sentido de uma interpretação correta e objetiva da Bíblia. Spinoza é um dos precursores da hermenêutica bíblica.
Outros dizem que o termo "hermenêutica" deriva do grego "ermēneutikē" que significa "ciência", "técnica" que tem por objeto a interpretação de textos poéticos ou religiosos, especialmente da Ilíada (poema épico grego, escrito por Homero, sVIII a.C.) e da "Odisseia" (poema épico da Grécia Antiga, atribuído a Homero. Odusseus, ou pelo lat. Ullyxes,is, donde o port. Ulisses, é um dos heróis de Homero com passagem tanto na Ilíada quanto, principalmente, na Odisséia, a qual trata justamente do seu regresso para Ítaca, a terra natal do herói, e narra os percalços de sua viagem de retorno, as saudades do lar, a resistência ao sofrimento e a eliminação dos pretendentes, caracterizando-o como conselheiro e guerreiro frio, maneiroso, enérgico e às vezes astucioso). Alguns defendem que o termo deriva do nome do deus da mitologia grega, Hermes. O certo é que este termo originalmente exprimia a compreensão e a exposição de uma sentença "dos deuses", a qual precisa de uma interpretação para ser apreendida corretamente. "interpretação" do sentido das palavras dos textos; "teoria", ciência voltada à interpretação dos signos e de seu valor simbólico.
Hermes é tido como patrono da hermenêutica por ser considerado patrono da comunicação e do entendimento humano.
O dicionário Houaiss dispõe sobre a etimologia da palavra hermenêutica “gr. herméneutikê (sc. tékhné) 'arte de interpretar' < herméneutikós,ê,ón 'relativo a interpretação, próprio para fazer compreender', prov. por infl. do fr. herméneutique (1777) (subst.) 'arte de descobrir o sentido exato de um texto', (1803) 'interpretação, em sentido teológico', (1890) 'interpretação do que é simbólico'; há quem prefira considerar fem. substv. de hermenêutico; ver herm(o)-“.
O mesmo dicionário consta sobre as acepções da palavra:
■ substantivo feminino
1 ciência, técnica que tem por objeto a interpretação de textos religiosos ou filosóficos, esp. das Sagradas Escrituras
2 interpretação dos textos, do sentido das palavras
3 Rubrica: semiologia. Teoria, ciência voltada à interpretação dos signos e de seu valor simbólico. Obs.: cf. semiologia
4 Rubrica: termo jurídico. Conjunto de regras e princípios us. na interpretação do texto legal
3 - Conceito
Carlos Maximiliano define hermenêutica como “parte da ciência jurídica que tem por objetivo o estudo e a sistematização dos processos, que devem ser utilizados para que a interpretação se realize, de modo que o seu escopo seja alcançado da melhor maneira”.
Logo, a interpretação consiste em aplicar as regras que a hermenêutica perquire (inquire minuciosamente) e ordena, para o bom entendimento dos textos legais.
O jurista Vicente Ráo, em sua brilhante obra "o direito e a vida dos direitos" apresenta-nos o seguinte conceito de hermenêutica: "A hermenêutica tem como objetivo investigar e coordenar por modo sistemático os princípios científicos e leis decorrentes, que disciplinam a apuração do conteúdo, no sentido e nos fins das normas jurídicas e a restauração do conceito orgânico do direito, para o efeito de sua aplicação;". Neste conceito podemos observar que a hermenêutica da um processo sistemático de interpretação, que se vale de métodos e leis científicas para apuração do conteúdo, ou seja, a busca do sentido, para sua correta aplicação. A palavra interpretação é originária do latim e quer dizer "entre entranhas", e isso se deve a prática religiosa dos feiticeiros e adivinhos, que introduzir em suas mãos entre as entranhas de um animal morto a fim de conhecer o destino das pessoas de obter respostas para o problema humano. De acordo com o livro “hermenêutica e a unidade
axiológica da constituição" "... os sacerdotes supremos do paganismo e os feiticeiros do passado falavam em uma linguagem extremamente obscura, o que tornava necessária a interpretação de seus pronunciamentos, levada a cabo pelos sacerdotes menores ou auxiliares inicialmente por interpretação religiosa era casuística e desprovido de critério técnico, o que levavaà indistinção entre hermenêutica (teoria científica) e interpretação (ato cognitivo)."
Com Friedrich Schleiermacher (1768-1834), no início do século XIX, a hermenêutica recebe uma reformulação, pela qual ela definitivamente entra para o âmbito da filosofia. Em seus projetos de hermenêutica coloca-se uma exigência significativa: a exigência de se estabelecer uma hermenêutica geral, compreendida como uma teoria geral da compreensão. A hermenêutica geral deveria ser capaz de estabelecer os princípios gerais de toda e qualquer compreensão e interpretação de manifestações linguísticas. Onde houvesse linguagem, ali aplicar-se-ia sempre a interpretação. E tudo o que é objeto da compreensão, é linguagem (Hermeneutik, 56). Esta afirmação, entretanto, mostra todas as suas implicações quando se lhe justapõe esta outra tese de Schleiermacher: “A linguagem é o modo do pensamento se tornar efetivo. Pois, não há pensamento sem discurso. (...) Ninguém pode pensar sem palavras.” (Hermeneutik und Kritik, 77) Ao postular a “unidade de pensamento e linguagem” (ibidem), a tarefa da hermenêutica se torna universal e abarca a totalidade do que importa ao humano. A hermenêutica, então, é uma análise da compreensão “a partir da natureza da linguagem e das condições basilares da relação entre o falante e o ouvinte” (Akademienrede, 156).
Quatro distinções básicas foram estabelecidas por Scheleiermacher:
* 1º) a distinção entre compreensão gramatical, a partir do conhecimento da totalidade da língua do texto ou discurso, e a compreensão técnica ou psicológica, a partir do conhecimento da totalidade da intenção e dos objetivos do autor.
* 2º) a distinção entre compreensão divinatória e comparativa:
* Compreensão comparativa: Se apóia em uma multiplicidade de conhecimentos objetivos, gramaticais e históricos, deduzindo o sentido a partir do enunciado.
* Compreensão divinatória: Significa uma adivinhação imediata ou apreensão imediata do sentido de um texto.
Essas distinções apontam para aspectos da compreensão superior que se dá pela sua integração. Posteriormente, com os trabalhos de Droysen e Dilthey, o procedimento hermenêutico tornou-se a metodologia das ciências humanas. Os eventos da natureza devem ser explicados, mas a história, os eventos históricos, os valores e a cultura devem ser compreendidos. (Wilhelm Dilthey é primeiro a formular a dualidade de "ciências da natureza e ciências do espírito", que se distinguem por meio de um método analítico esclarecedor e um procedimento de compreensão descritiva).
Para Heidegger, em sentido amplo, Hermenêutica quer dizer “compreender o significado do mundo”. Compreensão é apreensão de um sentido, e sentido é o que se apresenta à compreensão como conteúdo. Só podemos determinar a compreensão pelo sentido e o sentido apenas pela compreensão. Heidegger, em sua análise da compreensão, diz que toda compreensão apresenta uma "estrutura circular". "Toda interpretação, para produzir compreensão, deve já ter compreendido o que vai interpretar". O cerne da teoria de Heidegger está, todavia, na ontologização da compreensão e da interpretação como aspectos do ser do ente que compreende o ser, o "Dasein".
Para conceituar Hermenêutica, Alice Monteiro de Barros cita alguns autores e seus respecitvos conceitos sobre o tema, constando que “é a teoria científica da arte de interpretar” (Carlos Maximiliano). Ela é um processo mental de pesquisa de conteúdo real da lei (Caio Mário). Tem por objeto o estudo e a sistematização dos processos que devem ser utilizados para que a interpretação se realize.
No âmbito da Hermenêutica “lato sensu” insere-se a interpretação, a integração e a aplicação do Direito, conforme abaixo:
* Interpretação: consiste em determinar o sentido da Lei. Toda lei está sujeita à interpretação e não apenas aquelas que contêm preceitos obscuros ou confusos, pois a clareza é relativa. A interpretação é a aplicação das regras de hermenêutica; é essencialmente concreta, reportando-se a uma situação de fato, real ou hipotética.
* Integração: é o suprimento das lacunas dos sistemas jurídicos.
* Aplicação: é o processo de adaptação dos preceitos normativos às situações de fato que se lhes subordinam.
4 – Hermenêutica na Antiguidade Clássica
O termo Hermenêutica, de origem grega (hermeneuein), é possivelmente oriundo de "Hermes", o deus grego que, na mitologia grega, foi considerado o inventor da linguagem e da escrita, e considerado o patrono da comunicação e do entendimento humano, que traduzia tudo o que a mente humana não compreendesse, sendo chamado de "deus-intérprete".
Hermes, o mensageiro dos deuses, também tinha a função de trazer as instruções dos deuses para o entendimento do ser humano, i.e., era intérprete da vontade divina, o que já mostra as ligações iniciais entre hermenêutica e a teologia. O certo é que este termo originalmente exprimia a compreensão e a exposição de uma sentença "dos deuses", a qual precisa de uma interpretação para ser apreendida corretamente.
A hermenêutica surgiu primeiramente na teologia pagã, depois migrou para a teologia cristã, de onde migrou para a filosofia e só depois para o direito.
A palavra hermeios de origem grega referia-se ao sacerdote do oráculo de Delfos. Na mitologia grega hermeios simbolizava um deus-mensageiro-alado tido como o descobridor da linguagem e da escrita. O deus grego Hermes era respeitado pelos demais como sendo aquele que descobriu o meio de
compreensão humana no sentido de alcançar o significado das coisas e para transmiti-lo aos demais seres.
Assim, Hermes seria um "deus intérprete", considerado a entidade sobrenatural dotada de capacidade de traduzir, decifrar o incompreensível, ou seja, vinculava-se a sua figura a função de transmutação, de transformação de tudo aquilo que a compreensão humana não alcançava em algo que esta conseguisse compreender.
Na Antiguidade grega, a hermenêutica relacionava-se com à gramática, à retórica e à dialética e sobretudo com o método alegórico, para permitir a conciliação da tradição (os mitos) com a consciência filosoficamente esclarecida.
Em Roma, o Imperador Justiniano proibiu qualquer interpretação às suas leis, em especial referente ao terceiro prefácio ao “Digesto”, determinando que quem ousasse tecer comentários interpretativos à sua compilação incorreria em crime de falso e as suas obras seriam sequestradas e destruídas.
5 – Hermenêutica na Idade Média (Século V a XV)
O processo metodológico de interpretação iniciou-se com Santo Agostinho, através da obra "Da Doutrina Cristã", buscando uma compreensão das escrituras adotando a metodologia de interpretação literal e alegórica.
Durante a idade média, Tomás de Aquino se destacou por tentar interpretar as escrituras com o pensamento de Aristóteles.
Seguindo a este período, vem a Reforma protestante, pregando que a bíblia deveria ser a única fonte da fé, infalível e autossuficiente, não devendo se utilizar de fontes externas para sua interpretação.
A expressão latina ars interpretandi (a arte da interpretação), foi substituída na teologia protestante, pelo termo hermenêutica.
Mais tarde, a arte da interpretação foi assumida por teólogos judeus, cristãos e islâmicos, além de ser aplicada a interpretação do Corpus iuris canonici na tradição da jurisprudência.
Isso mostra que a hermenêutica, já entendida como a arte da interpretação, se tornava presente cada vez que a tradição entrava em crise, sobretudo na época da Reforma Protestante.
6 – Hermenêutica na Idade Moderna
Na filosofia contemporânea, a hermenêutica é um dos temas polêmicos, uma vez que tradicionalmente a filosofia se ocupa com a descoberta das essências, entendendo-se aqui essência como verdade, como aquilo que pode ser cognoscível.
Hans-Georg Gadamer, em sua obra Verdade e Método, assegura que a hermenêutica não é um método para se chegar à verdade e que o problema hermenêutico não é, por sua vez, um problema de método. Segundo Gadamer a hermenêutica não seria uma metodologia das ciências humanas, mas uma tentativa de compreenderas ciências humanas.
Em Verdade e Método, Gadamer afirma que a compreensão das coisas e a correta interpretação não se restringe à ciência, mas à experiência humana, principalmente no que se refere ao fenômeno da linguagem como experiência humana de mundo.
Assim, no que se refere à hermenêutica jurídica, Gadamer procurou descobrir a diferença entre o comportamento do historiador jurídico e do jurista diante de um texto. Seu interesse estava em saber se a diferença entre o interesse dogmático e o interesse histórico se constituía numa diferença unívoca. Conclui que há uma diferença: "O jurista toma o sentido da lei a partir de e em virtude de um determinado caso dado. O historiador jurídico, pelo contrário, não tem nenhum caso de que partir, mas procura determinar o sentido da lei na medida em que coloca construtivamente a totalidade do âmbito de aplicação da lei diante dos olhos. Somente no conjunto dessas aplicações torna-se concreto o sentido de uma lei."
Para Heidegger, hermenêutica significa: "compreender o significado do mundo". Já Maximiliano fala que "é a teoria científica da arte de interpretar".
No século XIX, com o surgimento do protestantismo liberal, através de Schleiermacher a hermenêutica ingressou no ramo filosófico e nas ciências culturais. Ele propôs um método histórico crítico para interpretação das escrituras. Schleiermacher achava que a bíblia era uma fonte histórico literária e que tinha de ser separada a interpretação gramatical da interpretação técnica.
Dilthey levou a hermenêutica para o campo das atividades filosóficas, segundo ele o texto deveria ser estudado pelo contexto, e que o autor era o instrumento do "espírito da sua época". Graças a Dilthey e Schleiermacher a hermenêutica cria uma teoria normativa de interpretação, surgindo uma hermenêutica jurídica Clássica.
Contrapondo-se a estes dois filósofos surgiram Heidegger e Gadamer. O primeiro descrevia a hermenêutica como uma filosofia e não uma ciência, deveria ser entendida de modo existencial e não metodológico. Este brilhante filósofo que apresentou pela primeira vez a ideia do círculo hermenêutico. São suas as palavras: "Devemos partir de uma pré compreensão para chegarmos a uma compreensão mais elaborada (interpretação), pois se partíssemos do ´vazio´ não chegaríamos a nada".
Gadamer, seguindo a linha de pensamento de Heidegger, defendeu a hermenêutica existencial, que deveria ser o próprio objeto da filosofia. Com esta visão, o intérprete não chegaria, através de nenhum método, a verdade, pois o próprio método já estabeleceria, o ponto que se queria alcançar. Em sua
visão, o método escolhido definiria o ponto final da interpretação. Ele via a interpretação como um diálogo entre o intérprete e o texto.
Gadamer acreditava na teoria do círculo hermenêutico, com perguntas e respostas condicionadas a pré conceitos e pré juízos, sem o sentido pejorativo destas palavras em nossa atualidade.
O mais metódico dos filósofos apresentados até aqui era Savigny, fundador da hermenêutica jurídica clássica, voltada exclusivamente para o direito privado.
Putcha, discípulo de Savigny, teve méritos em conduzir a Escola Histórica a uma visão extremamente formalista do direito, dando origem a Jurisprudência dos Conceitos - Deveria ser extraído, por abstração, conceitos gerais de normas jurídicas gerais, depois em um segundo momento, extrair conceitos específicos dos gerais mediante aplicação do método dedutivo ou lógico formal, criando-se assim uma pirâmide de conceitos, servindo depois de instrumental para integração das lacunas da lei.
Um pouco mais adiante na linha do tempo, surgiu Ihering, contrapondo-se a Savigny, classificou o direito como ciência cultural. Para Ihering "a sociedade é palco de uma luta de interesses e as normas jurídicas protegem aqueles interesses que conseguirem se impor socialmente". Ele também foi importante no desenvolvimento da interpretação teleológica, a partir da ênfase na sociedade.
Seguindo a linha temporal surge Kelsen, que classificou o Direito como ciência formal, como a matemática. Removendo desta tudo que estivesse ligado a valores sociológicos e políticos, buscando sempre a neutralidade. Kelsen deu um formato piramidal ao ordenamento jurídico, sendo que a mais geral ficava no topo e a mais específica na base. Em razão de não considerar o Direito como ciência do espírito, não deixou nenhum método hermenêutico, conforme deixou claro no oitavo capítulo de sua obra, que não há qualquer critério ou "meta-critério" que possa estabelecer que uma interpretação é melhor (mais acertada) que a outra.
9 – Conceito de interpretação
Interpretação da lei, segundo Fiore, “é a operação que tem por fim fixar uma determinada relação jurídica, mediante a percepção clara e exata da norma estabelecida pelo legislador”.
A interpretação consiste em aplicar as regras que a hermenêutica perquire e ordena, para o bem entendimento dos textos legais.
A interpretação é um processo mental de pesquisa do real conteúdo da lei. Não é apenas a lei escrita que deverá ser interpretada, mas toda a norma jurídica, e não somente os preceitos obscuros.
A hermenêutica tem como objetivo básico, a interpretação - esclarecer o sentido e o alcance das expressões jurídicas e a aplicação no caso concreto, porém ela não é exclusivamente um método de interpretação.
10 – Sistemas e Escolas de Interpretação
Os diversos métodos, técnicas ou elementos de interpretação do direito deram origem às escolas que propuseram um sistema de interpretação, o qual constitui uma organização dos procedimentos do intérprete ligados à interpretação, de acordo com uma ideologia político jurídica que o orienta.
Os sistemas ou escolas de hermenêuticas (interpretativos) podem ser classificados em 3 (três) grupos:
* Sistema dogmático ou exegético ou jurídico tradicional ou francês;
* Sistema histórico evolutivo;
* Sistema da livre pesquisa ou livre criação (formação) do direito.
10.1 - A Escola da Exegese ou Dogmática ou Jurídico Tradicional ou Francês: surge a Escola Exegética na França, no século XIX, e parte do pressuposto de que o intérprete é escravo da lei. Prega o culto aos códigos, considerados em lacunas. Um dos seus defensores dizia: “não conheço o direito civil, só ensino o Código de Napoleão” (Bugnet), i.e., Código de Napoleão considerado obra completa e acabada, expressão da filosofia liberal e individualista que triunfou com a Revolução Francesa. De acordo com essa escola, os códigos não deixam nada ao arbítrio do Juiz, competindo-lhe, por meios de uma interpretação literal ou gramatical, extrair os sentidos dos textos legais. Justifica-se esse positivismo exacerbado pela separação de poderes, que inadmitia a interferência do Judiciário no campo do Legislativo, por meio de método de interpretação que não fosse o literal.
Outra manifestação do positivismo encontra-se na Escola dos pandectistas alemães, que elaboraram um sistema de normas, baseado no Direito Romano, por meio de um estudo do “Corpus Juris Civilis”. Estes interpretavam o texto legal considerando a intenção do legislador à época da interpretação do texto.
Dentre as manifestações positivistas há a Escola Analítica de Jurisprudência, segundo a qual o Direito tem por objeto as leis positivas, sendo irrelevante os valores ou o conteúdo ético que as inspiram.
Dentro do Sistema dogmático ou exegético ou jurídico tradicional ou francês distingue-se duas orientações:
* a extremada: Laurent entende que o pressuposto geral é sempre de que a lei é clara e que, portanto, seus termos correspondem ao pensamento do legislador.
* a moderada: Baudry-Lacantinerie recomenda a consulta às fontes que propiciaram o texto ao legislador, o exame dos trabalhos preparatórios, a ponderação das consequências das interpretações possíveis e, finalmente, a indagação do espírito da lei.
10.2 - As Escolas Históricas se opõe ao positivismo exacerbado.
Esta escola entende que Direito é um produto histórico, surge espontaneamente das convicções do povo, cada nação deve ter seu próprioDireito, proveniente do "espírito do povo" e afirma que qualquer legislação deveria ser de acordo com os costumes vigentes.
Savigny admitia as interpretações gramatical, lógica, sistemática e histórica. Sua maior pretensão seria introduzir o método hermenêutico na dogmática jurídica, elevando o direito para qualidade de ciência. A dogmática hermenêutica é a ciência do Direito encarada na perspectiva da teoria da interpretação.
Situam-se aqui as seguintes Escolas:
* Escola Histórico Dogmática: teve como representante Savigny, sendo que o intérprete não deveria se limitar ao texto legal para solucionar os conflitos, mas utilizar-se também do elemento sistemático. Logo, se a intenção do legislador conflitasse com a manifestação da consciência coletiva, o intérprete deveria optar por esta última.
* Escola Histórico Evolutiva: teve como representante Saleilles, que entendia que o intérprete deveria não só considerar o que o legislador quis, mas o que quereria se vivesse à época da aplicação da lei. Saleilles sustentava que as normas jurídicas sujeitavam-se à lei geral da evolução. A LICC, art. 5º, admite a interpretação histórico evolutivo e sociológico quando estabelece que “na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”.
* Escola Teleológica: teve como fundador Von Ihering. Essa escola vê o Direito como organismo vivo, produto de luta dos povos, das classes sociais, dos governos e dos indivíduos. Sua finalidade é a proteção de interesses, que, se opostos, devem ser conciliados com a predominância dos interesses sociais.
10.3 - O Sistema da livre pesquisa ou livre criação (formação) do direito prega maior liberdade de interpretação. Tem-se as seguintes Escolas:
* Escola Científica Francesa: inspirada na obra de Gény, prega que o direito não está todo contido na lei, embora ela seja a mais importante das fontes do direito. Logo, o intérprete deverá preencher essas lacunas com recurso à analogia ou costume. A LICC, art. 4º, prevê em caso de omissão que “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de Direito”. Na CLT, art. 8º, também encontramos a influência dessa escola, quando autoriza o juiz, na falta de disposições legais ou contratuais, a decidir, “conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o Direito Comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público”. Esta última parte percebe-se a influência da Escola Teleológica.
* Sistema do Direito Livre: proposto pela Escola Alemã (1906), apresenta uma reação contra o princípio da plenitude do direito positivo. Entende que o Direito não emana sempre da vontade do Estado, devendo o intérprete submeter-se à lei e também aos estudos sociológicos, quando os textos não oferecem uma solução adequada e justa. Vislumbram-se 2 tendências:
o Extremada ou radical: recomendava ao juiz aplicar a lei só quando ela fosse justa, e se injusta, decidiria de acordo com os critérios da consciência e da ciência. Esta Escola é criticada pela ameaça que apresenta a segurança, já que as decisões dependem da subjetividade do juiz. O regime nazista utilizou-se desse sistema para violar as normas da Constituição de Weimar.
o Moderada: autoriza a criação de norma jurídica pelo intérprete apenas quando deparasse com uma lacuna nas fontes do direito.
A atual hermenêutica tem sido em grande parte influenciada nos pensamentos de Heidegger e Gadamer, apesar de utilizarmos as técnicas e princípios clássicos de interpretação, recorre-se ao peso de cada norma correspondente à intensidade com que são vivenciadas na sociedade. Como para julgar, obrigatoriamente um juiz terá uma gama de pré-juízos e de pré-conceitos, essa bagagem irá influenciar no julgamento, tendo este uma forte conotação existencial. Até os que se utilizam da doutrina irão utilizar em seu julgamento uma interpretação dialética formada também com seus conceitos prévios.
11 – Critérios para a classificação das espécies de interpretação
A interpretação das leis apresenta várias espécies que se interpenetram e reciprocamente se completam, podendo ser divididas segundo 3 critérios:
* Quanto ao agente ou origem de interpretação: baseado no órgão prolator do entendimento da lei. Pode ser:
o Pública: prolatada pelos órgãos do Poder Público (Executivo, Legislativo e Judiciário). Divide-se em:
* Autêntica: oriunda do próprio órgão elaborador da lei. Diante da ambiguidade do texto legislativo, o legislador vota uma nova lei para fixar a sua vontade imperfeitamente manifestada.
* Judicial: realizada pelos órgãos do Poder Judiciário, quando aplicada a lei ao caso concreto.
* Administrativa: realizada por órgão do Poder Público que não são detentores do Poder Legislativo nem do Judiciário. Pode ser:
* Regulamentar: destinado ao traçado de normas gerais, como: decretos, portarias etc.
* Casuística: esclarece dúvidas especiais, de caráter controversial ou não, que surgem quando da aplicação, por parte dos aludidos órgãos, das normas gerais aos casos concretos.
* Usual: advém do direito consuetudinário.
o Privada (ou doutrinal ou doutrinária): levada a efeito por particulares, especialmente pelos técnicos da matéria de que a lei trata. Está diretamente ligada à questão do direito científico com forma de expressão do direito. Realizada em livros, pelos autores, pelos professores ao estudar a lei em classe, em comentários à lei sem
destino ou interesse imediato, ou ainda por meio de pareceres de juristas imparciais.
* Quanto à natureza ou elementos: fundamentado em diversos tipos de elementos contidos nas leis e que servem como ponto de partida para a sua compreensão. São as seguintes:
o Interpretação Gramatical ou Literal: utiliza o exame do significado e alcance de cada uma das palavras do preceito legal, i.e., implica na análise morfológica e sintática do texto, na verificação do significado das palavras e na sua colocação na frase, segundo as regras gramaticais, para finalmente extrair o pensamento do legislador. Atualmente, entende-se que somente esta forma de interpretação é insuficiente para conduzir o intérprete a um resultado conclusivo.
o Interpretação Lógica ou Racional: exige que se estabeleça conexão entre a lei objeto de interpretação e outros textos legais que os une.
o Interpretação Histórica: indaga das condições de meio e momento da elaboração da norma legal, bem como assim causas pretéritas da solução dada pelo legislador. Há subespécies:
* Remota: procura a razão de ser a lei pela origem da mesma (“origo legis”).
* Próxima: procura a razão de ser a lei como resultado do concurso da sociologia, da economia, da política e de outras ciências afins, para consecução do respectivo escopo (“occasio legis”). Ex.: os debates do Legislativo em torno dos projetos que se tornaram preceito legal.
o Interpretação Sistemática: pesquisada em conexão com as demais leis que compõem o ordenamento jurídico, i.e., o intérprete deve verificar qual a tendência dominante nas várias leis existentes sobre matérias correlatas e adotá-las como premissa. Há 2 aspectos diversos:
* Quando é feita em relação à própria lei a que o dispositivo pertence. Ex.: considera o caráter geral da lei; o livro, título ou parágrafo onde o preceito se encontra, o sentido tecnológico jurídico com que certas palavras são empregadas no diploma etc.
* Quando se processa com vistas para o sistema geral do direito positivo em vigor. Ex.: importa atender à própria índole do direito nacional com relação a matérias semelhantes à da lei interpretada; ao regime político do país; às últimas tendências do costume, da jurisprudência e da doutrina, no que concerne ao assunto do preceito etc.
* Quanto à extensão ou resultado ou efeitos: baseado no alcance maior ou menor das conclusões a queo intérprete chegue ou tenha querido chegar. Espécies:
o Declarativa: quando o legislador atribuiu à lei o sentido exato das palavras nela utilizadas.
o Ab-rogante: quando ocorre absoluta incompatibilidade ou contrariedade entre dois preceitos legais, ou entre um dispositivo de lei e um princípio geral do ordenamento jurídico impossíveis de conciliação. Nesse conflito recomenda-se que se atente para o grau de importância das normas contraditórias, concluindo-se pela ineficácia da disposição secundária e pela manutenção da disposição fundamental. Se ambas tiverem o mesmo grau de importância serão consideradas ineficazes.
o Extensiva ou ampliativa: interpretação segundo a qual a fórmula legal é menos ampla do que a “mens legislatoris” deduzida, i.e., pressupõe que a forma legal aplica-se aos casos que não estão abrangidos pelo seu teor literal, ou seja, “a lei quis mais do que disse”.
o Restritiva: supõe que “a lei quis menos do que disse”. Esse critério de interpretação limita o campo de aplicação da lei a um âmbito menos amplo do que aquele constante de suas expressões. Utiliza-se tal interpretação no Direito do Trabalho em se tratando do princípio da condição mais vantajosa ao empregado, no caso de apurar lucro, aquele empregado que trabalhou naquele período e na época do pagamento não mais trabalha na empresa, terá direito ao recebimento da PLR.
* Quanto ao fim, a interpretação é teleológica: na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum (LICC, art. 5º) ou do interesse público (CLT, art. 8º). As leis trabalhistas devem ser interpretadas em favor do empregado quando houver dúvida a respeito do seu alcance. Quanto à política de proteção ao consumidor determina que “as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor” (Lei 8.078/90, art. 47).

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