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BOURDIEU, Pierre O Mercado Lingüísitico

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1 
O MERCADO LINGÜÍSTICO1 
 
Pierre Bourdieu 
 
 
 
 Vou tentar expor o que tenho a dizer de uma maneira progressiva, 
levando em conta a diversidade da audiência, que não poderia ser mais 
dispersa do que é, devido tanto à diversidade das disciplinas como à 
diversidade das competências nas disciplinas, etc., correndo risco de parecer 
um pouco simplista para alguns e muito rápido e alusivo para outros. Num 
primeiro momento, apresentarei alguns conceitos e princípios que me parecem 
fundamentais, esperando que em seguida possamos precisar, discutir, voltar a 
um ou outro ponto que poderei ter evocado muito rapidamente. 
 Fundamentalmente, queria explicitar um modelo muito simples que 
poderia ser formulado assim: habitus lingüístico + mercado lingüístico = 
expressão lingüística, discurso. 
 Explicarei sucessivamente os termos desta fórmula muito geral 
começando pela noção de habitus. Advertindo, como faço sempre contra a 
tendência a fetichizar os conceitos: é preciso levar a sério os conceitos, 
controlá-los, e sobretudo fazê-los trabalhar na pesquisa sob controle, sob 
vigilância. É assim que eles vão melhorando pouco a pouco, e não pelo 
controle lógico puro, que os fossiliza. Um bom conceito − que me parece ser o 
caso de habitus − destrói muitos falsos problemas (a alternativa do 
mecanicismo e do finalismo, por exemplo) e faz surgir muitos outros, mais 
reais. Quando é bem construído e bem controlado, ele tende a se defender por 
conta própria das reduções. 
 Grosseiramente definido, o habitus lingüístico se distingue de uma 
competência de tipo chomskiano pelo fato de ser o produto das condições 
sociais e pelo fato de não ser uma simples produção de discursos, mas uma 
produção de discursos ajustados à uma "situação", ou de preferência, 
ajustados a um mercado ou a um campo. A noção de situação foi invocada 
 
1
 Conferência feita na Universidade de Genebra, em dezembro de 1978. 
 2 
muito cedo (penso por exemplo em Prieto, que nos Principes de noologie 
insistia sobre o fato de uma quantidade enorme de comportamento lingüístico 
não poder ser compreendida independentemente de uma referência implícita à 
situação: quando digo eu, é preciso saber que sou eu quem digo eu, senão 
pode ser um outro; podemos pensar também nas confusões entre eu e você 
que as histórias de humor utilizam, etc.) como uma correção a todas as teorias 
que acentuavam exclusivamente a competência, esquecendo as condições do 
acionamento da competência. Ela era utilizada, em particular, para é colocar 
em questão os pressupostos implícitos do modelo saussuriano no qual a 
palavra (como em Chomsky a performance) é reduzida a um ato de execução, 
no sentido que tem esta palavra no contexto da execução de uma obra de 
música, mas também no da execução de uma ordem. A noção de situação 
vem lembrar que há uma lógica específica da execução; o que se passa a 
nível da execução não é simplesmente dedutível do conhecimento da 
competência. A partir daí, fui levado a me perguntar se, conservando esta 
noção, ainda muito abstrata, de situação, não fazíamos o que Sartre criticava 
na teoria das tendências: reproduzir o concreto cruzando duas abstrações, isto 
é, neste caso, a situação e a competência. 
 Os sofistas invocavam uma noção que me parece muito importante, a 
de kairos. Professores da palavra, eles sabiam que não bastava ensinar às 
pessoas a falar, mas que era preciso lhes ensinar a falar no momento 
oportuno. Ou seja, a arte de falar, de falar bem, de utilizar figuras de 
linguagem ou de pensamento, de manipular a linguagem, de dominá-la, não 
significa nada sem a arte de utilizar de forma oportuna esta arte. 
Originalmente, o kairo era o centro do alvo. Quando você fala de forma 
oportuna, você atinge o centro do alvo. Para atirar no alvo, para que as 
palavras acertem na mosca, para que as palavras rendam, para que as 
palavras produzam seus efeitos, é preciso dizer não apenas as palavras 
gramaticalmente corretas, mas as palavras socialmente aceitáveis. 
 Em meu artigo sobre a "Langue Française", tentei mostrar como a 
noção de aceitabilidade que os chomskyanos reintroduziram, permanece 
totalmente insuficiente porque reduz a aceitabilidade à gramaticalidade. Na 
verdade, a aceitabilidade sociologicamente definida não consiste apenas no 
fato de se falar corretamente uma I íngua: em alguns casos, por exemplo, se 
 3 
for preciso uma certa descontração, um francês muito impecável pode ser 
inaceitável. Em sua definição completa, a aceitabilidade supõe que as palavras 
estejam conformes não apenas às regras imanentes da língua, mas também 
às regras intuitivamente dominadas, imanentes a uma "situação", ou melhor, a 
um mercado lingüístico. O que é este mercado lingüístico? Darei uma primeira 
definição provisória para em seguida complicar um pouco mais. Existe 
mercado lingüístico sempre que alguém produz um discurso para receptores 
capazes de avaliá-lo, de apreciá-lo e de dar-lhe um preço. Apenas o 
conhecimento da competência lingüística não permite prever qual será o valor 
de uma performance lingüística num mercado. O preço que os produtos de 
uma determinada competência receberão num mercado determinado 
dependem das leis de formação dos preços próprios a este mercado. Por 
exemplo, no mercado escolar, o imperfeito do subjuntivo recebia um grande 
valor no tempo de meus professores que identificavam sua identidade de 
professor ao fato de empregá-lo − pelo menos na terceira pessoa do singular − 
coisa que, hoje, provocaria risos e não é mais possível ser feita diante de um 
público de estudantes, exceto como um signo metalingüístico para marcar que 
o fazemos mas que poderíamos não fazê-lo. Da mesma forma, a tendência à 
hipocorreção controlada dos intelectuais de hoje se explica pelo seu medo de 
serem certos demais e, como a recusa em usar a gravata, é uma dessas 
formas controladas de não-controle, ligadas a efeitos de mercado. O mercado 
lingüístico é algo muito concreto e, ao mesmo tempo, muito abstrato. 
Concretamente, é uma certa situação social, mais ou menos oficial e 
ritualizada, um certo conjunto de interlocutores, situados abaixo ou acima na 
hierarquia social, ou seja, uma série de propriedades percebidas e apreciadas 
de maneira infra-consciente e que orientam inconscientemente a produção 
lingüística. Definido em termos abstratos, é um certo tipo de leis (variáveis) de 
formação dos preços das produções lingüísticas. Lembrar que há leis de 
formação de preços, é lembrar que o valor de uma competência particular 
depende do mercado particular onde ela é colocada em ação e, mais 
exatamente, do estado das relações que constituem o contexto onde se define 
o valor atribuído ao produto lingüístico de diferentes produtores. 
 Isto faz com que se substitua a noção de competência pela noção de 
capital lingüístico. Falar de capital lingüístico, é dizer que há lucros lingüísticos: 
 4 
qualquer pessoa que nasceu na 7ª Circunscrição Administrativa de Paris − é o 
caso da maioria das pessoas que governam a França atualmente −, do 
momento em que abre a boca, recebe um lucro lingüístico que não tem nada 
de fictício e de ilusório, como nos faria crer esta espécie de economicismo 
imposto por um marxismo primário. A própria natureza de sua linguagem (que 
pode ser analisada foneticamente, etc.) diz que ela está autorizada a falar de 
forma tal que pouco importa o que diz. O que os lingüistas apresentam como a 
função eminente da linguagem, a saber, a função de comunicação, pode 
deixar completamente de ser cumprida sem que no entanto sua função real, 
social, deixe de sê-lo. As situações de relações de força lingüística são as 
situações em que a linguagem fala sem comunicar, o exemplo limite deste 
caso sendo a missa. É por isto que me interesso pela liturgia. São casos em 
que o locutor autorizadotem uma tal autoridade e tem a seu favor de tal forma 
a instituição, as leis do mercado, todo o espaço social, que pode falar para não 
dizer nada, porque, de todos as maneiras, fala-se. 
 O capital lingüístico é o poder de fazer funcionar em seu proveito as leis 
de formação dos preços, e de retirar a mais-valia específica. Todo ato de 
interação, toda comunicação lingüística, mesmo entre duas pessoas; entre 
dois companheiros, entre um rapaz e sua namorada, todas as interações 
lingüísticas são espécies de micro-mercados, sempre dominados por 
estruturas globais. 
 Como bem mostram as lutas nacionais onde a língua é uma questão 
importante (por exemplo, em Quebec), existe uma relação muito clara de 
dependência entre os mecanismos de dominação política e os mecanismos de 
formação dos preços lingüísticos característicos de uma situação social 
determinada. Por exemplo, as lutas entre as pessoas que falam francês e as 
que falam árabe, observadas em numerosos países de língua árabe 
colonizados pela França, têm sempre uma dimensão econômica, no sentido 
como eu compreendo esta questão, isto é, no sentido de que, através da 
defesa de um mercado para seus próprios produtos lingüísticos, os detentores 
de uma determinada competência defendem seu próprio valor como 
produtores lingüísticos. Diante das lutas nacionalistas, a análise pende entre o 
economicismo e ri misticismo. A teoria que proponho permite compreender que 
as lutas lingüísticas podem não ter bases econômicas evidentes ou apenas 
 5 
muito mediatizadas e, no entanto, mobilizar interesses tão vitais, às vezes até 
mais vitais que os interesses, econômicos (no sentido restrito). 
 Portanto, reintroduzir a noção de mercado é lembrar este fato tão, 
simples, de que uma competência só tem valor quando existe um mercado 
para ela. É assim que as pessoas que atualmente querem defender seu valor 
enquanto detentoras de um capital de latinista são obrigadas a defender a 
existência de um mercado do latim, isto é, em particular, a reprodução pelo 
sistema escolar dos consumidores de latim. Um certo tipo de conservadorismo 
no sistema escolar, às vezes patológico, só é compreensível a partir desta lei 
simples − uma competência sem mercado perde seu valor ou, mais 
exatamente, deixa de ser um capital lingüístico para se tornar uma simples 
competência no sentido dos lingüistas. 
 Assim, um capital só se define como tal, só funciona como tal, só traz 
lucros, num determinado mercado. Agora, temos que precisar um pouco esta 
noção de mercado e tentar descrever as relações objetivas que conferem uma 
estrutura a este mercado. O que é mercado? Há produtores individuais 
(representação marginalista do mercado) que oferecem seu produto; em 
seguida as pessoas julgam esse produto e daí resulta o preço de mercado. 
Esta teoria liberal do mercado é tão falsa para o mercado lingüístico quanto 
para o mercado dos bens econômicos. Da mesma forma como no mercado 
econômico existem monopólios, relações de força objetivas, que fazem com 
que todos os produtores e todos os produtos não sejam iguais desde o 
começa, no mercado lingüístico também há relações de força. Portanto, o 
mercado lingüístico possui leis de formação de preços que fazem com que 
nem todos os produtores de produtos lingüísticos, de palavras, sejam iguais. 
As relações de força, que dominam este mercado e que fazem com que certos 
produtores e certos produtos tenham um privilégio desde o começo, supõem 
uma relativa unificação do mercado lingüístico. Vejam o documento extra (do 
de um jornal bearnês, que publiquei no artigo intitulado "l'illusion du 
communisme linguistique": vocês aí encontrarão, em algumas frases, a 
descrição de um sistema de relações de força lingüísticas. A propósito do 
prefeito de Pau, que durante uma cerimônia em homenagem a um poeta 
bearnês dirige-se ao público em bearnês, o jornal escreve: "Esta atenção 
comove a assistência". Esta assistência é composta de pessoas cuja primeira 
 6 
língua é o bearnês e elas se "comovem" pelo fato de um prefeito bearnês lhes 
falar em bearnês. Comovem-se com a atenção que lhes é dada, que é uma 
forma de condescendência. Para que haja condescendência é preciso que 
haja uma distância objetiva: a condescendência é a utilização demagógica de 
uma relação de força objetiva, pois quem é condescendente serve-se da 
hierarquia para negá-la; no mesmo momento em que a nega, ele a explora 
(como a pessoa de quem se diz que é "simples"). Eis um caso onde uma 
relação de interação num pequeno grupo deixa bruscamente transparecer 
relações de força transcendentes. O que se passa entre um prefeito bearnês e 
os bearneses não é redutível ao que se passa na interação entre eles. Se o 
prefeito bearnês pode dispensar uma atenção aos seus concidadãos 
bearneses, é porque joga com a relação objetiva entre o francês e o bearnês. 
E se o francês não fosse uma língua dominante, se não houvesse um mercado 
lingüístico unificado, se o francês não fosse uma língua legítima, a língua que 
se deve falar nas situações legítimas, isto é, nas situações oficiais, no exército, 
no correio, nas coletorias, na escola, nos discursos, etc., o fato de falar o 
bearnês não teria este efeito "emocionante". É isto que entendo por relações 
de força lingüísticas: são relações que transcendem à situação, que são 
irredutíveis às relações de interação tais como podemos apreendê-las na 
situação. Isto é importante porque, quando se fala de situação, pensa-se que o 
social foi reintroduzido porque a interação foi reintroduzida. A descrição 
interacionista das relações sociais, que em si é muito interessante, torna-se 
perigosa quando esquecemos que estas relações de interação não são como 
um império num império; se esquecemos que o que se passa entre duas 
pessoas, entre uma patroa e sua empregada ou entre dois colegas ou entre 
um colega que fala francês e um colega que fala alemão, que estas relações 
entre duas pessoas são sempre dominadas pela relação objetiva entre as 
línguas correspondentes, isto é, entre os grupos que falam estas línguas. 
Quando um suíço que fala alemão e um suíço que fala francês se falam, é a 
Suíça francesa e a Suíça alemã que se falam. Voltemos então à pequena 
história do começo. O prefeito bearnês só pode produzir este efeito de 
condescendência porque é um doutor. Se não fosse, seu bearnês seria um 
bearnês de camponês, e portanto sem valor, e os camponeses, a quem por 
sinal este "bearnês de qualidade" não é dirigido (pois eles quase não 
 7 
freqüentam as reuniões oficiais) só tem a preocupação de falar francês. Este 
bearnês de qualidade é restaurado no momento em que os camponeses 
tendem, cada vez mais, a abandoná-lo para adotar o francês. É preciso 
perguntar quem tem interesse em restaurar o bearnês, no momento em que os 
camponeses se sentem obrigados a falar francês com os filhos para que eles 
possam se sair bem na escola. 
O camponês bearnês que para explicar porque nunca sonhou em ser 
prefeito de sua aldeia mesmo tendo recebido o maior número de votos, diz 
que "não sabe falar", apresenta uma definição inteiramente realista, 
inteiramente sociológica, da competência legítima: a definição dominante da 
competência legítima se impõe de tal forma que sua competência real é 
ilegítima. (Seria preciso partir daí para analisar um fenômeno como o do 
porta-voz, palavra interessante para os que falam da língua e da palavra). 
Para que os efeitos do capital e da dominação lingüística se exerçam, é 
preciso que o mercado lingüístico seja relativamente unificado, isto é, que o 
conjunto dos locutores seja submetido à mesma lei de formação dos preços 
das produções lingüísticas; concretamente, isto quer dizer que o último dos 
camponeses bearneses, quer ele saiba ou não (e de fato ele o sabe muito 
bem, pois diz que não sabe falar) é objetivamente medido em relação a uma 
norma, a do francês parisiensepadrão. E mesmo que ele nunca tenha ouvido 
"o francês parisiense padrão" (na verdade ele o ouve cada vez mais, "graças" 
à televisão), mesmo que ele nunca tenha ido à Paris, o locutor bearnês é 
dominado pelo locutor parisiense e, em todas as suas interações, no correio, 
na escola, etc., ele tem uma relação objetiva com ele. É isto o que significa 
unificação do mercado ou relações de dominação lingüística: no mercado 
lingüístico se exercem formas de dominação que têm uma lógica específica e, 
como em todo mercado de bens simbólicos, há formas de dominação 
específicas que não são absolutamente redutíveis à dominação estritamente 
econômica, nem em seu modo de exercício nem nos lucros que elas obtêm. 
 Uma das conseqüências desta análise se refere à própria situação de 
entrevista que, enquanto interação, é um dos lugares onde se atualizam as 
relações de força lingüísticas e culturais, a dominação cultural. Não se pode 
sonhar com uma situação de entrevista "pura", livre de todos os efeitos da 
dominação (como pensam às vezes alguns sócio-lingüistas). Com o risco de 
 8 
tomar os artefatos por fatos, pode-se apenas introduzir, na análise dos 
"dados", a análise das determinações sociais da situação em que eles foram 
produzidos, a análise do mercado lingüístico onde os fatos analisados se 
constituíram. 
 Há uns quinze anos, fiz uma pesquisa sobre as preferências das 
pessoas, os gostos no sentido amplo, em matéria de cozinha, de música, de 
pintura, de vestimenta, de parceiro sexual, etc. A maior parte do material tinha 
sido recolhido em interações verbais. Ao fim de toda uma série de análises, fui 
levado a me perguntar qual era o peso relativo, na determinação das 
preferências, do capital cultural medido a partir do título escolar e da origem 
social e como os pesos relativos desses dois fatores variavam de acordo com 
os diferentes domínios da prática − por exemplo, os gostos em matéria de 
cinema pareciam mais ligados à origem social e em matéria de teatro mais 
ligados à instrução. Eu poderia continuar calculando indefinidamente os 
coeficientes de correlação, mas a hipercorreção metodológica teria me 
impedido questionar a situação em que eu havia recolhido este material. Será 
que entre as variáveis explicativas, a mais importante não estaria oculta por 
detrás do próprio material, o efeito das próprias características da situação de 
pesquisa? Desde o começo da pesquisa, eu estava consciente de que o efeito 
de legitimidade, que também desempenha um papel muito importante quanto 
à linguagem, fazia com que os membros das classes populares, ao serem 
interrogados sobre sua cultura, tendessem, conscientemente ou 
inconscientemente, na situação de entrevista, a selecionar o que lhes parecia 
se adequar mais à imagem que eles se faziam da cultura dominante, de 
maneira que não se podia conseguir que eles simplesmente dissessem do 
que gostavam de verdade. O mérito de Labov foi ter insistido sobre o fato de 
que uma das variáveis que deve ser utilizada por uma análise sócio-lingüística 
rigorosa é a própria situação da entrevista: a originalidade de seu estudo 
sobre o falar do Harlem consiste, em grande parte, no fato de considerar este 
efeito da relação de entrevista para ver o resultado obtido quando o 
pesquisador não era um anglófono branco, mas um membro do gueto falando 
a um outro membro do gueto. Se variamos a situação da entrevista, 
observamos que quanto mais relaxamos a tensão do controle ou quanto mais 
nos afastamos dos setores mais controlados da cultura, mais o desempenho 
 9 
está ligado à origem social. Ao contrário, quanto mais se reforça o controle, 
mais ele está ligado ao capital escolar. Ou seja, o problema do peso relativo 
das duas variáveis não pode ser resolvido no absoluto, por referência a um 
tipo qualquer de situação, considerada como constante; ele só pode ser 
resolvido se introduzimos uma 1Iariável considerada como fator destas duas 
variáveis: a natureza do mercado onde são oferecidos os produtos lingüísticos 
ou culturais. (Parênteses: a epistemologia freqüentemente é percebida como 
uma espécie de metadiscurso transcendente à prática científica; para mim, é 
uma reflexão que realmente modifica a prática, que faz com que se evite 
erros, que não se meça a eficácia de um fator esquecendo o fator dos fatores, 
ou seja, a situação na qual os fatores são medidos. Saussure dizia: é preciso 
saber o que o lingüista faz; a epistemologia, significa trabalhar para saber o 
que se faz). 
 O que é registrado pela pesquisa cultural ou lingüística não é uma 
manifestação direta da competência, mas um produto complexo da relação 
entre uma competência e um mercado, produto que não existe fora desta 
relação; é uma competência em situação, uma competência para um mercado 
particular (muito freqüentemente o sócio-lingüista tende a ignorar os efeitos do 
mercado devido ao fato de seus dados terem sido recolhidos numa situação 
constante sob este ponto de vista, isto é, a relação com o próprio 
pesquisador). A única maneira de controlar a relação é fazê-la variar fazendo 
variar as situações do mercado, em lugar de privilegiar uma única situação de 
mercado entre outras (como por exemplo faz Labov com o discurso de um 
negro do Harlem para outros negros do Harlem) e ver assim a verdade da 
língua, a língua popular autêntica, no discurso que é produzido nestas 
condições. 
 Os efeitos de dominação, as relações de força objetivas do mercado 
lingüístico, se exercem em todas as situações lingüísticas: na relação com um 
parisiense, o burguês da província que fala provençal "perde seus recursos", 
seu capital se desmorona. Labov descobriu que o que é apreendido pela 
pesquisa como linguagem popular, é a linguagem popular tal como ela 
aparece numa situação de mercado dominado pelos valores dominantes, isto 
é, uma linguagem desequilibrada. As situações em que as relações de 
dominação lingüística se exercem, isto é, as situações oficiais (formal em 
 10 
inglês), são situações em que as relações realmente instituídas, as 
interações, se encontram perfeitamente de acordo com as leis objetivas do 
mercado. Voltemos ao camponês bearnês que diz: não sei falar; ele quer 
dizer, não sei falar como se deve falar nas situações oficiais; tornando-me 
prefeito eu me tornaria um personagem oficial, tendo que fazer discursos 
oficiais e portanto submetido às leis oficiais do francês oficial. Não sendo 
capaz de falar como fala Giscard, eu não sei falar. Quanto mais uma situação 
é oficial, mais a pessoa que terá acesso à palavra deve ser "autorizada". Deve 
possuir títulos escolares, ter uma boa pronúncia, deve portanto ter nascido no 
lugar adequado. Quanto mais uma situação se aproxima do oficial, mais a sua 
lei de formação de preços são as leis gerais. Ao contrário, quando se diz "a 
coisa é informal", pode-se falar como num botequim: pode-se dizer, vamos 
criar uma espécie de ilha de liberdade em relação às leis da linguagem que 
sabemos continuam a funcionar, mas vamos nos dar uma licença (licença, é 
uma palavra típica dos dicionários). Pode-se ter, como se diz, uma linguagem 
direta, pode-se falar francamente, pode-se falar livremente. Este linguajar 
espontâneo é o falar popular em situação popular, quando as leis do mercado 
são colocadas entre parênteses. Mas seria um erro dizer: a verdadeira 
linguagem popular é a linguagem espontânea. Ela não é mais verdadeira do 
que a outra: a verdade da competência popular está também no fato de que, 
quando ela é confrontada com um mercado oficial, torna-se desequilibrada, 
enquanto que em seu próprio ambiente, numa relação familiar, íntima, com os 
seus, é uma linguagem espontânea. É importante saber que a linguagem 
espontânea existe, mas como uma ilha fora das leis do mercado. Uma ilha 
que se consegue pela auto-concessão de uma franquia (há sinais avisando 
que se trata de um jogo excepcional, quepodemos nos permitir isto). Os 
efeitos de mercado sempre se exercem, inclusive sobre as classes populares 
que sempre são virtualmente passíveis da justiça das leis do mercado. É isto 
que chamo de legitimidade: falar de legitimidade lingüística, é lembrar que 
ninguém é considerado como ignorando a lei lingüística. Isto não quer dizer 
que as pessoas das classes populares reconheçam a beleza do estilo de 
Giscard. Isto significa que se elas se encontram frente à Giscard perturbam-
se: que de fato sua linguagem será cortada, e se calarão, serão condenadas, 
ao silêncio, um silêncio considerado respeitoso. As leis do mercado exercem 
 11 
um efeito muito importante de censura sobre os que só podem falar numa 
situação de linguajar espontâneo (isto é, supondo que por um momento se 
deve abdicar das exigências comuns) e que são condenados ao silêncio nas 
situações oficiais em que se travam as lutas políticas, sociais, culturais, 
importantes. (O mercado matrimonial é, por exemplo, um mercado onde o 
capital lingüístico desempenha um papel determinante: acho que é uma das 
mediações através da qual se realiza a homogamia de classe). O efeito de 
mercado que censura a linguagem espontânea é um caso particular de um 
efeito de censura mais geral que leva à eufemização: cada campo 
especializado, o campo filosófico, o campo religioso, o campo literário, etc., 
possui suas próprias leis e tende a censurar as palavras que não se 
conformam a estas Íeis. 
 As relações com a linguagem me parecem muito próximas das relações 
com o corpo. Por exemplo, para encurtar a história, a relação burguesa com o 
corpo ou com a I íngua é uma relação de quem se sente à vontade no seu 
ambiente tendo as leis do mercado a seu favor. A experiência de se sentir à 
vontade é uma experiência quase divina, Sentir-se da maneira certa, ideal, é a 
experiência do absoluto. O mesmo que se pede às religiões. O sentimento de 
ser o que se deve ser é um dos lucros mais absolutos dos dominantes. Ao 
contrário, a relação pequeno-burguesa com o corpo e com a língua é uma 
relação que pode ser descrita como de timidez, de tensão, hipercorreção; eles 
exageram ou se limitam, não ficam à vontade. 
 
P - Que relação você estabelece entre o ethos e o habitus, e outros 
conceitos como de hexis, que você também emprega? 
- Empreguei a palavra ethos, depois de muitas outras, em oposição à 
ética, para designar um conjunto objetivamente sistemático de disposições 
com uma dimensão ética, de princípios práticos (a ética sendo um sistema 
intencionalmente coerente de princípios explícitos). Esta distinção é útil, 
principalmente para controlar erros práticos: por exemplo, se esquecemos que 
podemos ter princípios no estado prático, sem no entanto ter uma moral 
sistemática, uma ética, esquecemos que pelo simples fato de colocarmos 
questões, de perguntarmos, obrigamos as pessoas a passarem do ethos à 
ética: pelo fato de submeter à sua apreciação normas constituídas, 
 12 
verbalizadas, supomos que esta passagem esteja resolvida. Ou, num outro 
sentido, esquecemos que as pessoas podem se mostrar incapazes de 
responder a problemas de ética sendo capazes de responder na prática às 
situações que colocam as questões correspondentes. 
 A noção de habitus engloba a noção de ethos, e é por isso que 
emprego cada vez menos esta última noção. Os princípios práticos de 
classificação que são constitutivos do habitus são indissociavelmente lógicos 
e axiológicos, teóricos e práticos (no momento que dizemos branco ou negro, 
dizemos bem ou mal). Na medida em que a lógica prática é voltada para a 
prática, ela inevitavelmente engaja valores. Foi por isso que abandonei a 
distinção a que tive que recorrer uma ou duas vezes, entre eidos como 
sistema de esquemas lógicos e ethos como sistema dos esquemas práticos, 
axiológicos (e mais ainda porque ao compartimentar o habitus em dimensões, 
ethos, eidos, hexis, corre-se o risco de reforçar a visão realista que leva a 
pensar em termos de instâncias separadas). Além do mais, todos os 
princípios de escolhas são incorporados, tornando-se posturas, disposições 
do corpo: os valores são gestos, maneiras de ficar de pé, andar, de falar. A 
força do ethos é que se trata de uma moral que se tornou hexis, gesto, 
postura. 
 Foi por isso que pouco a pouco fui começando a utilizar apenas a noção 
de habitus. Esta noção de habitus tem uma longa tradição: a escolástica 
empregou-a para traduzir a hexis de Aristóteles. (Ela é reencontrada em 
Durkheim que, em L'évolution pedagogique en France, nota que a educação 
cristã teve que resolver os problemas colocados pela necessidade de moldar 
os hábitos cristãos com uma cultura pagã; e também em Mauss, no famoso 
texto sobre as técnicas do corpo. Mas nenhum destes autores lhe dá um 
papel decisivo). Por que ir buscar esta velha palavra? Por que esta noção de 
habitus permite enunciar algo que se aparenta àquilo que evoca a noção de 
hábito, distinguindo-se desta num ponto essencial. O habitus, como se diz a 
palavra, é aquilo que se adquiriu, mas ,que se encarnou no corpo de forma 
durável sob a forma de disposições permanentes. Esta noção lembra então, 
de maneira constante, que se refere a algo de histórico, que é ligado à história 
individual, e que se inscreve num modo de pensamento genético, por 
oposição a modos de pensamento essencialistas (como a noção de 
 13 
competência que encontramos no léxico chomskiano). Aliás, a escolástica 
designava também com o nome de habitus algo como uma propriedade, um 
capital. E de fato, o habitus é um capital, que, sendo incorporado, se 
apresenta com as aparências de algo inato. Mas por que não dizer hábito? O 
hábito é considerado espontaneamente como repetitivo, mecânico, 
automático, antes reprodutivo do que produtivo. Ora, eu queria insistir na idéia 
de que o habitus é algo que possui uma enorme potência geradora. Para 
resumir, o habitus é um produto dos condicionamentos que tende a reproduzir 
a lógica objetiva dos condicionamentos, mas introduzindo neles uma 
transformação; é uma espécie de máquina transformadora que faz com que 
nós "reproduzamos" as condições sociais de nossa própria produção, mas de 
uma maneira relativamente imprevisível, de uma maneira tal que não se pode 
passar simplesmente e mecanicamente do conhecimento das condições de 
produção ao conhecimento dos produtos. Se bem que esta capacidade de 
engendramento de práticas de discursos ou de obras não tenha nada de 
inato, que ela seja historicamente constituída, ela não é completamente 
redutível as suas condições de produção, sobretudo no sentido de que ela 
funciona de maneira sistemática. Não se pode falar de habitus lingüístico por 
exemplo, a não ser sob a condição de não esquecer que ele é apenas uma 
dimensão do habitus como sistema de esquemas geradores de práticas e de 
esquemas de percepção das práticas, e de evitar autonomizar a produção de 
palavras em relação à produção de escolhas estéticas, ou de gestos, ou de 
qualquer prática possível. O habitus é um princípio de invenção que, 
produzido pela história, é relativamente arrancado da história: as disposições 
são duráveis, o que acarreta todos os tipos de efeitos de histérese (de atraso, 
de defasagem, cujo exemplo por excelência é Don Quixote). Pode-se pensá-
lo por analogia a um programa de computador (analogia perigosa, porque 
mecanicista), mas um programa auto-corrigível. É constituído por um conjunto 
sistemático de princípios simples e parcialmente substituíveis, a partir dos 
quais uma infinidade de soluções podem ser inventadas, soluções que não se 
deduzem diretamente de suas condições de produção. 
 Princípio de uma autonomia real em relação às determinações 
imediatas da "situação", o habitus não é por isto uma espécie de essência a-
histórica, cuja existência seria o seu desenvolvimento, enfim um destino 
 14 
definido uma vez portodas. Os ajustamentos que são incessantemente 
impostos pelas necessidades de adaptação às situações novas e imprevistas, 
podem determinar transformações duráveis do habitus, mas dentro de certos 
limites: entre outras razões porque o habitus define a percepção da situação 
que o determina. 
 A "situação" é, de certa maneira, a condição que permite a realização 
do habitus. Quando as condições objetivas da realização não são dadas, o 
habitus, contrariado, e de forma contínua, pela situação, pode ser o lugar de 
forças explosivas (ressentimento) que podem esperar (ou melhor espreitar) a 
ocasião para se exercerem e que se exprimem no momento em que as 
condições objetivas (posição de poder do pequeno chefe) se apresentam. (O 
mundo social é um imenso reservatório de violência acumulada que se revela 
ao encontrar as condições de sua realização). Em suma, em reação ao 
mecanismo instantaneísta, somos levados a insistir sobre as capacidades 
"assimiladoras" do habitus; mas o habitus é também adaptação, ele realiza 
sem cessar um ajustamento ao mundo que só excepcionalmente assume a 
forma de uma conversão radical. 
 
 P - Qual é a diferença que você faz entre um campo e um aparelho? 
 - Uma diferença que me parece capital. A noção de aparelho reintroduz 
o pior dos funcionalismos: é uma máquina infernal, programada para realizar 
certos fins. O sistema escolar, o Estado, a Igreja, os partidos, não são 
aparelhos, mas campos. No entanto, em certas condições eles podem 
funcionar como aparelhos. São estas condições que é preciso examinar. 
 Num campo, os agentes e as instituições estão em luta, com forças 
diferentes e segundo as regras constitutivas deste espaço de jogo, para se 
apropriar dos lucros específicos que estão em jogo neste jogo. Os que 
dominam o campo possuem os meios de fazê-lo funcionar em seu benefício; 
mas devem contar com a resistência dos dominados. Um campo se torna 
aparelho quando os dominantes possuem os meios de anular a resistência e 
as reações dos dominados. Isto é, quando o baixo clero, os militantes, as 
classes populares, etc., não podem fazer mais do que sofrer a dominação; 
quando todos os movimentos são de cima para baixo e os efeitos de 
dominação são tais que a luta e a dialética constitutivas do campo cessam; 
 15 
Existe história enquanto existe pessoas que se revoltam, que fazem histórias. 
A. "instituição total" ou totalitária, asilo, prisão, campo de concentração, tal 
como a descreve Goffman, ou o estado totalitário, tenta instituir o fim da 
história. 
 A diferença entre os campos e os aparelhos é bem percebida nas 
revoluções. É como se bastasse se apoderar do "aparelho do Estado" e 
mudar o programa da grande máquina, para conseguir uma ordem social 
radicalmente nova. De fato, a vontade política deve contar com a lógica dos 
campos sociais, universos extremamente complexos onde as intenções 
políticas podem estar desviadas, reviradas (isto é verdadeiro tanto para a 
ação .dos dominantes quanto para a ação dos subversivos, como testemunha 
tudo aquilo que se descreve na linguagem inadequada da recuperação, que 
ainda é ingenuamente finalista). Uma ação política só pode se sentir segura 
de produzir os efeitos desejados quando lida com aparelhos, isto é, com 
organizações onde os dominados são reduzidos à execução perinde ac 
cadaver (militantes, militares, etc.). Os aparelhos são portanto um estado dos 
campos que se pode considerar como patológico.2 
 
 
2
 Desenvolvimentos complementares sobre este tema poderáo ser encontrados em P. 
Bourdieu, "Le fétichisme de Ia langue", Actes de Ia recherche en sclences sociales, 4, julho de 
1975; "L'économie des échanges linguistiques", Langue Française, 34, maio de 1977, "Le 
langage autorizé, note sur les conditlons sociales de I'efficacité du discours rituel", Actes de le 
recherche en sciences sociales, 5-6, novembro de 1975.

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