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FARIA FILHO - Instrução elementar no século XIX

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ORGANIZADORES:
ElianeMartaTeixeiraLopes
LucianoMendesFariaFilho
CynthiaGreiveVeiga
500 AN OS DE EDUCA\=AoNO BRASIL
a
Aut6ntica
BeloHorizonte
2003
INSTRU~AO ELEMENTAR
NO SECULO XIX
LUCIANO MENDES DE FARIA FILHO
historiografiaconsagrada
sempreconcebea educa-
<;aoprimariadoseculoXIX confinada
entreadesastradapoliticapombalina
eo florescimentodaeduca<;aonaera
republicana.Tempodepassagem,0
periodoimperialnaopoucasvezese
entendido,tambem,comoanossaida-
dedastrevasou comourn mundo
onde,estranhamente,asideiasestao,
continuamente,foradelugar.1
as recentesestudosarespeito
daeduca<;aobrasileiranoseculoXIX,
particularmenteno periodoimpe-
rial,terndemonstradoquehavia,em
variasProvincias,umaintensadis-
cussaoacercadanecessidadedees-
colariza<;aodapopula<;ao,sobretudo
daschamadas"camadasinferioresda
sociedade".Questoescomoa neces-
sidadeeapertinenciaounaodains-
tru<;aodosnegros(livres,libertosou
escravos),indios e mulhereseram
amplamentedebatidase intensafoi
a atividadelegislativadasAssem-
bleiasProvinciaisembuscadoorde-
namentolegaldaeduca<;aoescolar.
Diversasforamasleisprovin-
dais que,por exemplo,ainda na
decadade30doseculoXIX,tomavam
obrigat6ria,dentrodecertosesempre
amploslimites,afrequenciadapopu-
la<;aolivreaescola.Noentanto,aoque
tudoindica,muitosforamos limites
enfrentadospor aquelesquedefen-
diamquea educa<;aodeveriaseres-
tendidaamaioriadapopula<;ao.Aos
limitespoliticoseculturaisrelaciona-
dosaurnasociedadeescravista,auto-
ritciriae profundamentedesigual,ja
amplamentediscutidospelahistorio-
grafia,esemprenecessarioconsiderar
a baixissimacapacidadede investi-
mentodasprovincias,quealgumas
vezeschegavamaempregarmaisde
1/4deseusrecursosnainstru<;aoeob-
tinhampifiosresultados.
Poroutrolado,comoveremos,
enfocar0 processodeescolariza<;ao
ao longodo periodoimperial im-
poe,necessariamente,arelativiza<;ao
d.opapeledolugardoEstado.A pre-
sen<;adoEstadonaoapenaseramui-
to pequenae pulverizada como,
algumasvezes,foi consideradaper-
niciosanoramonainstru<;ao.Haque
considerar,tambem,quenemapr6-
priaescolatinhaurnlugarsocialde
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SOOanosdeeducafaono Brasil
destaque,cujalegitimidadefosseincontestavel.Foi preciso
entao,lentamente,afirmarapresen<;adoEstadonessaareae
tambemproduzir,paulatinamente,a centralidadedopapel
dainstitui<;aoescolarnaforma<;aodasnovasgera<;6es.
Assim,possodizerqueurndosobjetivosdestetextoe
desnaturalizar0 lugarqueapr6priahistoriografiaconstruiu
paraainstitui<;aoescolaremnossaforma<;aosocial,mostran-
do-acomournvirasercontinuoeemconstantedialogocom
outrasinstitui<;6ese estruturassociais.Assim,aperspectiva
destetextoe a dedemonstrarquea institui<;aoescolarnao
"surgenovaziodeixadoporoutrasinstitui<;6es".Osdefenso-
resdaescolaedesuaimportancianoprocessodeciviliza<;ao
dopovotiveramde,lentamente,apropriar,remodelar,oure-
cusartempos,espa<;os,conhecimentos,sensibilidadesevalo-
respr6priosdetradicionaisinstitui<;6esdeeduca<;ao.Masnao
apenasisso:aescolatevetambemdeinventar,deproduzir0
seulugarpr6prio,e 0 fez,tambem,emintimodialogocom
outrasesferaseinstitui<;6esdavidasocial.
DAS ESCOLAS DE PRIMEIRAS LETRAS
AOS SISTEMAS DE ENSINO PRiMARIo
Vmadasmaneirasinteressantesparasabermoscomo,
nasdecadasiniciaisdoseculoXIX,pensava-se0primeirom-
vel daeduca<;aoescolarfrequentadapor crian<;asejovense
atentarmospara comoela era identificada.A epocadizia-se
queosgovernosestabeleciamoumandavamcriar"escolasde
primeirasletras".Essadefini<;aoacercadasinstitui<;6esesco-
larescorrespondeaomomentainicialdeestrutura<;aodoEs-
tadoimperiale,nessesentido,asprimeirasiniciativasdese
legislarsobre0 tema.
Essaformadereferir-seaescolaquesequeriagenerali-
zarparatodo0povo,ou,conformedizia-seemMinasGerais,
paraas"classesinferioresdasociedade",quepossibilitaper-
ceber,porurnlado,quesequeriageneralizarosrudimentos
dosaber,ler,escreverecontar,naoseimaginando,poroutro
lado,umarela<;aomuitoestreitadessaescolacomoutrosni-
veisdeinstru<;ao:0secundarioe0superior.Nessaperspecti-
va,pode-seafirmar,comomuitosfaziamaepoca,que,paraa
elitebrasileira,aescolaparaospobres,mesmoemsetratando
debrancose livres,naodeveriaultrapassar0 aprendizado
dasprimeirasletras.
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lnstruraoelementarno seculoXIX -LucianoMendesdeFariaAlho
A lei de 15de novembrode
1827,2emseuartigo1°,diziaque"em
todasascidades,vilaselugaresmais
populososhaveraoescolasdeprimei-
rasletrasqueforemnecessarias".
Essaleiecontemporaneadeurn
lento,maspaulatino,fortalecimentode
urnaperspectivapolitico-culturalpara
a constrw;aodanac;aobrasileirae do
EstadoNacionalquevianainstruc;ao
urnasdasprincipaisestrategiascivili-
zatoriasdo povobrasileiro,talqual
frac;5esimportantesda eliteconce-
biamepropunham-seaorganizar.Ins-
truiras"classesinferiores"eratarefa
fundamentaldoEstadobrasileiroe,ao
mesmotempo,condic;aomesmade
existenciadesseEstadoedanac;ao.
A instruc;aopossibilitariaarre-
gimentar0povoparaurnprojetode
paisindependente,criandotambemas
condic;5esparaumaparticipac;aocon-
troladanadefinic;aodosdestinosdo
pais.Na verdade,buscava-seconsti-
tuir,entrenos,ascondic;5esdepossi-
bilidadedagovernabilidade,ouseja,
a criac;aodascondic;5esnaoapenas
paraaexistenciadeurnEstadoinde-
pendentemas,tambem,dotaresse
Estadode condic;5esde governo.
Dentreessascondic;5es,uma das
maisfundamentaisseria,semduvi-
da,dotar0Estadodemecanismosde
atuac;aosobrea populac;ao.Nessa
perspectiva,a instruc;aocomourn
mecanismode governopermitiria
naoapenasindicarosmelhorescami-
nhosaseremtrilhadosporurnpovo
livre mastambemevitariaqueesse
mesmopovosedesviassedocaminho
trac;ado.Comodizia0jornalmineiro
o Universal,em1825:
(...)eprecisoque0povosejalivre
paraquepossaescolherieepreci-
soqueelesejainstruidoparaque
fa~aaescolhacerta.
Sobretudonasduasdecadas
posterioresaindependencia,boapar-
tedasdiscuss5essobreaimportancia
dainstruc;aoestararelacionadaa ne-
cessidadedeseestabelecer,noImpe-
rioBrasileiro,0 Imperiodasleis.Isso
significava,por urnlado,instituir0
arcabouc;ojuridico-institucionalde
sustentac;aolegaldoEstadoimperial
nassuasmaisdiversasmanifestac;5es
efunc;5ese,poroutrolado,fazercom
queosmaisdiversosestratossociais
queaquiviviamoumesmoqueexer-
ciamfunc;5esdegovernoviessema
obedecerasdeterminac;5eslegais.
o EstadoImperialbrasileiroe
asprovinciasdoImperio,sobretudoa
partirdoAto Adicionalde1834,3fo-
ramprodigosemestabelecerleisrefe-
rentesainstruc;aopublica.No quese
refereaoEstadoimperial,aleide1827
sucederam-sevariasoutrascom0in-
tuitodenormatizarainstruc;aopubli-
cano municipioda Corte.Tais leis
acabavam,noentanto,porservir,den-
trodecertostimites,dereferenciapara
asprovincias.No queconcernea es-
tasUltimas,apartirde1835eaolon-
godetodo0Imperio,asAssembleias
Provinciaiseospresidentesdaspro-
vinciasfizerampublicarurnn11mero
significativodetextoslegais,4levan-
do-nosaacreditarqueanormatizac;ao
legalconstituiu-senurnadasprinci-
paisformasdeintervenc;aodoEstado
noservic;odeinstruc;ao.
Emdecorrenciadessesfatores,
o quepodemosobservar,ao longo
doperiodoimperial,e,emprimeiro
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SOOanosdeeducafaono Brasil
Ao "1C1',cscrCtlC1'C
cOlltnr" lIarC('lIrnlll-SC olltros(') (')
collllccilllClltOSC VIIIon's, quc
11illstituipio cscolnr dCt1cril1
cllsillllr izs IlOVIISgcrnrocs,
solm'tudo as crinllrns.
lugar,0desenvolvimentodeservi<;osdeinstru<;ao,deredesde
escolas,muitodiversasemconsonanciacomadiversidadedas
Provinciasdo Imperio.Emsegundolugar,devidoaprecarie-
dadedasfinan<;asprovinciais,0 servi<;odainstru<;ao,"reco-nhecidamentedispendioso",comoapontavaTavaresBastos,S
acabava,mesmoquandorecebiarelativamentealtosinvesti-
mentosfinanceiros,6por contarcomrecursossempremuito
aquemdasnecessidadesdeexpansaodosservi<;os.Emterceiro
lugar,asmultiplicidadesdosatoslegais,bemcomodassuas
orienta<;oes,fatordevedordopoucotempoqueospresiden-
tesdeprovinciapermaneciamnocarg07edafragilidadedas
AssembleiasProvinciais,queacaboupordarlugaraumacul-
turaadministrativaquemuitopoucoprezavaa continuidade
daspoliticas,sendoas "reformasdosservi<;osde instru<;ao"
quasesempreconsideradase mostradasemrelat6riospelos
administradorescomourngrandefeitopolitico-administrativo.
No entanto,a diversidadee a formamuitodesigual
comosedesenvolveu0processodeescolariza<;aoprimarianao
devemnoslevara acreditarquea descentraliza<;aopolitico-
administrativapossibilitadapeloAtoAdicionalde1834aca-
bouporimpedir0desenvolvimentodainstru<;aoprimariano
Brasilimperial.Apesardafragilidadeeprecariedadedosda-
dosestatisticos,que,deformamuitoprecaria,quasesempre
sereferemainstru<;aoprimariamantidapeloEstado,deixan-
dodeladournsignificativonUmerodeescolassemnenhuma
liga<;aocom0mesmo,taisdados,bemcomoacrescenteinsti-
tui<;aodeestruturasadministrativasdao-nosmostrasdeque
emvariasprovinciasdoImperioexistiamsignificativasredes
deescolaspublicas,privadasoudomesticas.
Assim,comaafirma<;aopaulatinadaimportfulciadains-
titui<;aoescolar,primeirocomoa responsavelpelainstru<;aoe,
posteriormente,comoagentecentralemtodaaeduca<;iiodain-
fancia,foi-selentamentesubstituindoa"es-
coladeprimeirasletras"pela"instru<;ao
elementar".A palavraelementar,mesmo
etmologicamente,mantemaideiaderudi-
mentar,mas,permitepensar,tambem,na-
quiloquee0"principiobasico,0elemento
primeiro",e doqualnadamaispodeser
subtraidodoprocessodeinstru<;ao.Nessa
perspectiva,ainstru<;aoelementararticula-senaoapenascom
a necessidadedesegeneralizar0 acessoasprimeirasletras,
mastambemcomurnconjtU\tode outrosconhecimentose
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InstrufaoelementarnoseculoXIX - LucianoMendesdeFariaFilho
valoresnecessariosa inserc;ao,mes-
moquedeformamuitodesigual,dos
pobresavidasocial.
Ao "ler, escrevere contar"
agregaram-seoutrosconhecimentos
e valores,quea instituic;aoescolar
deveriaensinarasnovasgerac;6es,
sobretudoas crianc;as.Conteudos
como"rudimentosdegramatica",de
"linguapatria",de "aritmetica"ou
"rudimentosdeconhecimentosreli-
giosos",lentamente,apareceraonas
leiscomocomponentesdeuma"ins-
truc;aoelementar".
A partirdosanos60doseculo
XIX,emdiversasprovincias,comore-
sultadodosdebatesedoaparecimen-
to de umaaindafragi!tradic;aode
buscadeestabelecimentodeurnmini-
modeorganicidadee articulac;aoen-
treospoderesinstituidos,e quevai
adquirindoconsistenciaa ideiada
necessidadedeuma"instruc;ao"ou
"educac;aoprimaria"queestivesse
orde~adade acordocompreceitos
estabelecidosporleisgerais.Estasde-
veriamestardeacordocomas"mo-
dernas" formas de se pensar 0
fenomenoeducativoe,namedidado
possivel,articuladasa"instruc;aose-
cundaria".Observa-se,nessemo-
mento,emvarias provincias,urn
vertiginosocrescimentodos"conhe-
cimentosescolarizados",ouseja,ha
urnaumentosignificativodaqueles
conhecimentosque,esperava-se,a
escoladeveriaensinaraosalunos.
As leisprovinciais,por outro
lado,diversificam-seaospoucos,deno-
tandoacrescentecomplexidadedases-
colase dossistemasdeensinoquese
propunhamainstituireordenar.Nes-
saperspectiva,podemosfalartambem
daexistenciadesistemasprovinciais,
e posteriormente,estaduaissistemas
deensinocujacomplexidadeerabas-
tantevariada,apesardaaus'enciade
urnsistemanacionaldeensinocentra-
lizadotalqualobservamosemboapar-
tedospaiseseuropeusjano finaldo
seculoXIX.A abrangenciae aimpor-
t1nciadetaissistemas,noqueserefere
aoperiodoaquienfocado,vemsendo
estudadasnoswtimosanos,demons-
trandournaenormediferenciac;aonos
processos de escolarizac;aodecada
urnadasprovinciasdoImperio.
Enessadirec;aoquedevemos
entender,porexemplo,aspreocupa-
C;6esdaquelesque,comoRuiBarbosa,
propunhamreformar,no finaldose-
culoXIX,todo0 sistemadeinstruc;ao
noBrasilenaomaisapenasurnouou-
tromvel,urnaououtrainstituic;aode
ensino,dando-lheurnacoerenciaeor-
ganicidade,apartirdevariadasvis6es
politicas,quetinhamerncomuma
crenc;anoprogressodanac;aopormeio
doprogressodasletras.Paraisso,di-
ziam,naobastavamescolasouinstitui-
C;6esisoladas,seriapreciso,inclusivede
acordocornasnac;6esmaisdesenvol-
vidas,reforrnar0ensinodando-lheurn
caratermodernoenacional.
DO METODO MUTUa
AO METODa INTUITIVO
Conforme afirmamosante-
riormente,0 momentaposteriora
proclamac;aoda independenciafoi
muitofertilpara0 desenvolvirnento
deurngrandedebatesobre0proble-
madainstruc;ao.Observamosa pu-
blicac;aodelivros,materiasdejomais,
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500anosdeeducafionoBrasil
a elabora~aoepublica~aodetextoslegaismostrando0 inte-
ressedaselitespelotema.
Tudoissocomprovaquetodoessedebatenaotinharela-
~aoapenascomanecessidadedeestruturarurnEstadonacia-
nal e garantira constru~aoda nacionalidade.0 ideario
civilizat6rioiluministairradiava-se,a partirdaEuropa,para
boapartedomundoe,tambem,para0Brasil.Comocompo-
nentecentraldesseidearioestavaaideiadanecessidadede
alargaraspossibilidadesdeacessodeurnnumerocadavez
maiordepessoasasinstitui~6ese praticascivilizat6rias.0
teatro,0jomal,0 livro,a escola,todososmeiosdeveriamser
usadosparainstruire educaras"classesinferiores",aproxi-
manda-asdaselitescultasdirigentes.
No Brasil,noentanto,0diagn6sticoquesefazmostra
umarealidademuitoavessaaesseideario.Nos debatesdi-
zia-seque:
(...)0sistemadeeduca~aoelementar,quesetemseguidono
Brasil,desde0seudescobrimento,temsidomuidispendioso,e
muidelimitado;aindasemnotaroutrosdefeitos,quedetem-
posemtempossetemconhecido,esetemtentadoremediar
comalgumasprovidenciasoportunas.8
Ate entaoa escolaqueexistiafuncionava,na maioria
dasvezes,nascasasdosprofessoresou,sobretudo,nasfazen-
das,emespa~osprecanose,para0 quenosinteressaaqui,
seguiam0metodoindividualdeensino.Talmetodoconsistia
emque0professor,mesmoquandotinhavariosalunos,aca-
bavaporensinaracadaurndelesindividualmente.Naverda-
de,era0metodoporexcelenciadainstru~aodomestica,aquela
queocorriaemcasa,ondea maeensinavaaosfilliose asfi-
lhas,ouosirmaosquesabiamalgumacoisaensinavamaque-
lesquenadasabiam.
o metodoindividualcaracterizava-se,pois,pelofato
deosalunosficaremmuitotemposem0contatodiretocom0
professor,fazendocomqueaperdadetempofossegrandee
a indisciplinaurnproblemasemprepresente.Certaocasiao,
urnprofessorfezascontasechegouaconclusaodequecom
urnajomadade4horasdiiiriasdeaula,mesmo
(...)supondoumamultidaodecircunstanciasfavoraveis,que
nuncajamaissepodemencontrar,temosque,nosistemaindi-
vidual,cadaalunotempordia41/2 minutosdeli~aodelei-
tura,3deescritae1/2decalculo.9
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Instrufaoelementarno seculoXIX - LucianoMendesdeFariaFilho
NessascirCtU1Stancias,podemos
calcular,nurnaepocaemqueseprocu-
ravaafirmaranecessidadedeseutili-
zarracionalmente0tempo,ensinando
nipidoedamaneiramaiseconomica
possivel,0quantotalmetodoeracri-
ticado.Taiscrfticas,inicialmentena
EuropanofinaldoseculoXVIII e,pos-
teriormente,no Brasil,nasprimeiras
decadasdoseculoseguinte,deulugar
aexperimenta«;aodeurnnovometo-
do denominadolancasterianooumu-
tua.Suaelabora«;aoinicialeatribufda
aoeducadoringlesJosephLancaster,
e terncomocaracterfsticaprincipal0
fatode utilizar os propriosalunos
comoauxiliaresdoprofessor.
Segundoseusdefensores,esta-
belecendo-seascondi«;Oesmateriais
adequadas,dentreasquaisa princi-pal refere-sea exisb~nciadeurnam-
ploespa«;o,urnprofessor,comaajuda
dosalunosmaisadiantados,poderia
atenderaatemilalunosemurnauru-
caescola.Considerando,ainda,queos
alunosestariam0tempotodoocupa-
dosevigiadospeloscolegase0esta-
belecimentodeurnaintensaemula«;ao
entreosestudantes,0temponecessa-
rio aoaprendizadodasprimeirasle-
tras seriabastanteabreviadoem
compara«;aocom0 metodoindivi-
dual. Essaeconomiade tempose-
riatambemurnaeconomiaderecursos
economicos,otimizadapelanecessida-
dedepagamentodesalarioaurnre-
duzidomimerodeprofessores.
As primeiraspropagandasdo
metodomutuonoBrasildequetemos
conhecimentodatamdemeadosda
segundadecadadoseculoXIX.toAs
discussoesemtomedotemativeram
lugar,sobretudo,apartirdaindepen-
denciano interiordo intensodebate
sobrea necessidadedeexpansaoda
escolariza«;ao.0 sistemado metodo
mutuoapareciaaosseusdefensores
comournapoderosaarmanalutapara
fazercomquea escolaatingisseurn
ntimeromaiordepessoas.Issoporque,
segundodiziam,/10novometodode
educa«;aoquenospropusemosa ex-
plicarternemvistatresgrandesvan-
tagens:1)abreviar0temponecessario
paraaeduca«;aodascrian«;as;2)dimi-
nuirasdespesasdasescolas;3)gene-
ralizarainstru«;aonecessariaasclasses
inferioresdasociedade".11
No decorrerde 1820,todo0
debatepedagogiconoBrasilfoi arti-
culadoemtomedometodomutuo.
A lei de 15denovembrode 1827,a
qualja nosreferimos,determinava,
emseuart.IV, que:
(00')asescolasseraode ensinomu-
tuonascapitaisdasProvincias,ese-
rao tambemnas cidades, vilas e
lugarespopulososdelas,emquefor
possivelestabelecer-se.
NasprovfnciasdoImperio,va-
riosforamostextoslegaisproduzidos
buscandooperacionalizartaisdeter-
mina«;oes,bemcomomuitasforamas
escolasorganizadassegundotaisor-
denamentospedagogicos.t2
Nasdiscussoesenasexperien-
ciasqueseforamorganizando,foi-se
percebendoa inviabilidade,entre
nos,dometodomutuo.Emprimeiro
lugar,porquenaoforamproduzidasas
condi«;Oesmateriaisfundamentaispara
que"taisescolasfuncionassem:nao
haviaespa«;osadequados,faltavamos
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500anosdeeducafaono Brasil
materiaisdidatico-pedag6gicosparaosalunos.Emsegundo
lugar,alegava-sequeosprofessoresnaoeramformadospara
arealiza<;aodoensinosegundopreconizava0metodoeque,
alemdisso,a inexisb~nciade institui<;oesquecuidassemda
forma<;aodetaisprofessoreseraurngrandelimitea realiza-
<;aodosprop6sitosreformistas.
Detodomodo,asdiscussoessobre0metodomutuo,ao
incidiremsobreaorganiza<;aodaclasse,sobreanecessidade
de espa<;ose de materiaisespecificosparaa realiza<;aoda
instru<;aonaescola,sobreanecessidadedeforma<;aodospro-
fessorese,finalmente,aoestabelecerem0 tempoe aquestao
economicacomoelementosbasilaresdoprocessodeescola-
riza<;ao,acabaramporcontribuirparaaafirma<;aoinicial,mas
nemporissomenosfundamental,daespecificidadedaescolae
dainstru<;aoescolar,aqual,daipordiante,naomaispoderia
serconcebidanosmarcos(materiais,espaciais,temporais)da
educa<;aodomestica.
Ea partirdessesparametrosquea discussaosobre0
metododeensino,entendidomuitomaiscomoformade"or-
ganiza<;aodaclasse"como"formadeensinar",vaiseproces-
sar,noBrasil,nodecorrerdosanos40ameadosdosanos70
doseculoXIX.Assim,janofinaldosanos30,0metodomutuo
daralugar,emvariasprovinciaseemvariostextoslegais,aos
chamados"metodosmistos",osquaisbuscavamoraaliaras
vantagensdo metodoindividualasdo metodomutuo,ora
aliarosaspectospositivosdesteultimoasinova<;oespropos-
taspelosdefensoresdo"metodosimultaneo".
Com0 decorrerdo tempo,vai-seestabelecendoque0
metodosimultaneoera0 quemelhoratendiaasespecificida-
desdainstru<;aoescolar,permitindoa organiza<;aodeclasses
maishomogeneas,aa<;aodoprofessorsobrevciriosalunossi-
multaneamente,a otimiza<;aodotempoescolar,aorganiza<;ao
dosconteudosemdiversosnlveis,dentreoutroselementos.
o estabelecimentodo metodosimultaneosomentese
tornapossivelcomaprodu<;aodemateriaisdidatico-pedag6-
gicos,comolivrose cadernos,paraosalunose a dissemina-
<;aodemateriaiscomo0"quadronegro",quepossibilitamao
professorfazercomqueosdiversosgruposfiquemocupados
aomesmotempo.Porem,0plenoestabelecimentodometodo
teradeesperaraconstru<;aodeespa<;ospr6priosparaaesco-
la,0queocorrera,noBrasil,comoveremos,apenasnaUltima
decadadoseculoXIX.
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Instruraoe1ementarno seculoXIX - LucianoMendesdeFariaFilho
Seessavertenteda discussao
sobreosmetodos,comotemosargu-
mentado,incidefundamentalmente
sobreaformadeorganizaraclasse,ela
sofreraumaimportantee definitiva
inflexaoa partirde1870.Nessemo-
mento,sobretudoapartirdadivulga-
<;aoeapropria<;ao,entrenos,dasideias
eexperienciasinspiradasnaprodu<;ao
doeducadorsuf<;oJean-HenriPestalo-
zzi,muda0 cursodadiscussaosobre
osmetodos,passandoessaaincidir,di-
retamente,sobreas"rela<;6espedag6-
gicasdeensinoeaprendizagem".
Assim,porvariadasvias,adis-
cussaosobreosmetodos,queenfo-
cavaa questaoda organiza<;aoda
classe,e 0 papeldo professorcomo
organizadore agenteda instru<;ao
vaGdando lugar as reflexoesque
acentuama importanciadeprestar
aten<;aoaosprocessosdeaprendiza-
gemdosalunos,afirmandoque"0
professorsomentepoderiaensinar
bemse0processodeensinolevasse
emcontaos processosde aprendi-
zagemdo aluno".Essainflexaono
rumo dosdebatessearticularaem
tomedo chamando"metodointui-
tivo"e lan<;araluzessobreaimpor-
tanciadaescolaobservarosritmosde
aprendizagemdosalunos.
o assimchamado"metodoin-
tuitivo" deveessadenomina<;aoa
acentuadaimportanciaqueos seus
defensoresdavamaintui<;ao,aobser-
va<;ao,enquantomomentaprimeiro
einsubstituiveldaaprendizagemhu-
mana.Ancoradosnastradi<;oesempi-
ristasdeentendimentodosprocessos
deprodu<;aoeelabora<;aomentaldos
conhecimentos,sobretudona forma
comoforamapropriadase divulgas
. porPestalozzi,osdefensoresdome-
todointuitivechamarama aten<;ao
paraaimportanciadaobserva<;aodas
coisas,dosobjetos,danatureza,dos
fenomenose paraa necessidadeda
educa<;aodossentidoscomomomen-
tosfundamentaisdoprocessodeins-
tru<;aoescolar.
Essaetapadaobserva<;aominu-
ciosaeorganizadaecondi<;aoparaa
progressivapassagem,pelosalunos,
de urnconhecimentosensivelpara
urnaelabora<;aomentalsuperior,re-
flexiva,dosconhecimentos.Taletapa
inicia-sepelas"li<;oesdecoisas",mo-
mentoemque0professordevecriar
ascondi<;oesparaqueosalunospos-
samver,sentir,observarosobjetos.
Podia-serealizartal procedimento
utilizando-sedosobjetosescolaresou
dosobjetoslevadosparaaescola(ca-
neta,carteira,mesa,pedras,madei-
ras,tecidos...),ou realizandovisitas
eexcursoesacircunvizinhan<;adaes-
cola,ou, ainda~possibilitandoaos
alunos0 acessoa gravurasdiversas,
quetantopoderiamestarnospro-
prios livros,de"li<;oesdecoisas"ou
deoutrosconteudos,ouemcartazes
especialmenteproduzidospara0 tra-
balhocom0metodo.
A partirdeurnintensotrabalho
deprodu<;aoedivulga<;aodevariados
impressospedagogicos(livros,revis-
tas,jomais)edeurncrescenterefina-
mentoteorico,sobretudocomuma
maioraproxima<;aoentreoscampos
dapsicologiae dapedagogia,a dis-
cussaosobreapertinenciae a forma
desetrabalharcom0metodointuiti-
vo naescolaprimariaperdurara,no
143
Leidelaine
Highlight
SOOanosdeeduca~aono Brasil
As excurs6ese
as visitas eram
atividodes
importantesno
ensino dos"lifOes
decoisas",
segundo0
metodaintuitivo.
Brasil,ateadecadade30doseculoxx. Deumaformadefi-
nitivaparaaeduca«;aoescolar,estaraopostascomocondi«;oes
depossibilidadesdeexitodaa«;aoescolara considera«;aoda
atividadedoaluno,comosujeitonoprocessodeaprendiza-
geme do lugardoprofessore dosmetodos,comosujeitoe
instrumento,respectivamente,mediadoresdesseprocesso.
DO ESPA<";ODA FAZENDA
AO GRUPO ESCOLAR
HerdamosdoperiodocolonialumnUmeromuitoredu-
zidodeescolasregiasoudecadeiraspublicasdeprimeirasIe-
tras.Eramescolascujosprofessoreseramreconhecidosou
nomeadospelos6rgaosdegovemosresponsaveispelainstru-
«;aoe funcionavamemespa«;osimprovisados,geralmente,na
casadosprofessores,osquais,algumasvezes,recebiamumapequenaajudapara0 pagamentodo aluguel.Os alunosou
alunasdirigiam-separaa casado mestreoudamestra,e la
permaneciampor algumashoras.Nao raramente0 periodo
escolarde4horaseradividoemduasse«;oes:umadas10as
12horaseoutradas14as16horas.
No entanto,naopodemosconsiderarqueapenasaque-
les,ou aquelas,quefrequentavamumaescolaforadoambi-
entedomesticotinhamacessoas primeirasletras.Pelo
contrario,ternos indiciosde quea redede escolariza«;ao
domestica,ouseja,deensinoe aprendizagemdaleitura,da
144
/nstruraoelementarno seculoXIX - LucianoMendesdeFariaFilho
escritae do calculo,massobretudo
daquelaprimeira,atendiaa urnnu-
merodepessoasbemsuperioraoda
redepublicaestatal.Essasescolas,as
vezeschamadasdeparticularesou-
trasvezesdedomesticas,aoquetudo
indica,superavamemnUmero,ate
bemavan<;ado0seculoXIX,aquelas
cujosprofessoresmantinhamurnvin-
culodiretocom0Estado.13
Em queespa<;oessasescolas
funcionavam?Grossomodopode-se
dizerquetaisescolasfuncionavam
emespa<;oscedidose organizados
pelospaisdascrian<;asejovensaos
quaisosprofessoresdeveriamensi-
nar.Nao raramente,aoladodosfi-
lhos e/ou filhas dos contratantes
vamosencontrarseusvizinhosepa-
rentes.0 pagamentodoprofessore
deresponsabilidadedochefedefa-
mflia que 0 contrata,geralmente,
um fazendeiro.
Outromodelodeeduca<;aoes-
colarque,nodecorrerdoseculoXIX,
vai-seconfigurandoeaqueleemque
ospais,emconjunto,resolvemcriar
urnaescolae,paraela,contratamco-
letivamenteurnprofessorouurnapro-
fessora. Este modelo e bastante
parecidocomaqueleprimeiro,coma
diferen<;afundamentalde queesta
escolae seuprofessornaomanb~m
nenhumvinculocom0Estado,ape-
sardoscrescentesesfor<;osdeste,em
variosmomentos,parainfluenciar
taisexperiencias.
Eessamultiplicidadedemode-
losdeescolariza<;ao,aosquaispoder-
se-iasomar,ainda,os doscolegios
masculinosefemininose0daprecep-
toria,quevamosencontrarcomofor-
maderealiza<;aodaescolanoseculo
XIX. Todoseles,comexce<;aodos
colegios,utilizaraoespa<;osimprovi-
sadosdascasasdasfamiliasou dos
professores.Todoseles,exceto0 pri-
meiro,efrequentadoquaseexclusiva-
menteporcrian<;asejovensabastados.
Em todasasescolase, geralmente,
proibidaafrequenciadecrian<;asne-
gras,mesmolivres,atepelomenos0
finaldaprimeirametadedoseculo,0
quenaoimpede,todavia,queestas
tomemcontatocomasletrase,asve-
zes,sejaminstrufdas,sobretudono
interiordeummodelomaisfamiliar
oucomunitariodeescolariza<;ao.
Com 0 progressivofortaleci-
mentodo EstadoImperiale coma
discussaocadavezmaioracercada
importanciadainstru<;aoescolar,vai-
seestruturandoumarepresenta<;aode
queaconstru<;aodeespa<;osespecffi-
cosparaa escolaeraimprescindfvel
paraumaa<;aoeficazjuntoascrian-
<;as,indicando,assim,0 exitodaque-
lesquedefendiamasuperioridadeea
especificidadedaeduca<;aoescolarfren-
teasoutrasestruturassociaisdeforma-
<;aoe socializa<;aocomoa familia,a
Igrejae,mesmo,0grupodeconvfvio.
Talrepresenta<;aoearticuladanacon-
fluenciadediversosfatores,dentreos
quaisqueremosdestacarosdeordem
polftico-cultural,pedagogica,cientffica
eadministrativa.
No queserefereaosprimeiros,
fatores,haqueseconsiderarquea
institui<;aoe 0 fortalecimentodoEs-
tadoimperialsaDfenomenos,tam-
bem,polftico-culturais.Relacionado
a issoesta0 fatodequea escolariza-
<;ao,nomundomodemo,faz-seapartir
145
Leidelaine
Highlight
Leidelaine
Highlight
500anosdeeducaponoBrasil
As saIosdeaula
dosgrupos
esrolareseram
plan£jadas
segundo
preceitosmedico-
higienistas
bastanteprecisos.
dosagenciamentosdedaraver e fortalecerasestruturasde
poderestataispodendo,mesmo,serconsideradacomourn
dosmomentosderealizac;aodosestadosmodernos.No Bra-
sil,aeducac;aoescolar,aolongodoseculoXIX,vai,progressi-
vamente,assumindoascaracteristicasdeurnalutadogoverno
doestadocontra0 governodacasa1.4Nessestermos,simboli-
camente,afastaraescoladorecintodomestico,significavaafas-
ta-latambemdastradic;oesculturaise politicasa partirdas
quais0espac;odomesticoorganizava-seedavaaver.
Emsegundolugar,conformejavimos,asdiscussoespe-
dag6gicas,sobretudoaquelasreferentesaspropostasmeto-
dol6gicas,foramdemonstrandoanecessidadedaconstruc;ao
deespac;ospr6priosparaaescola,comocondic;aoderealiza-
c;aodesuafunc;aosocialespedfica.Assim,osdefensoresdo
metodomutuoafirmavamquepara0exitodainstruc;aoepara
amanutenc;aodaboaordemescolareraabsolutamenteneces-
sariaaconstruc;aodegrandesespac;os,ondepudessemserreu-
nidoscentenasdealunoseparaque,nasparedesconstruidas,
pudessemserpenduradososquadroseos"cartazes",alguns
dosmateriaisdidaticosauxiliaresdosmonitores.0 mesmo
problemadoespac;ocoloca-se,tambem,quandoosdefenso-
resdometodointuitivoargumentamqueeprecisoque0 es-
pac;odasaladeaulapermitaqueasdiversasclassespossam
realizaras lifoesdecoisas.Soma-sea issoqueaescola,so-
bretudoaofinaldoseculoXIX, vai sendoinvadidapor urn
arsenalinovadordemateriaisdidatico-pedag6gicos(quadro-
negro,lousasindividuais,cadernos,livros...)paraosquais
naoerapossivel,mais,ficaradaptandoosespac;os,sobpena
146
Instruraoelementarno seculoXIX -LucianoMendesdeFariaFilho
denaocolher,destesmateriais,os
reaisbeneficiosquepodiamtrazer
paraa instrw;ao.
Tambem0 desenvolvimento
dossaberescientificos,notadarnente
damedicinae,dentrodessa,dahigie-
ne,esuaaproxirna<;aodofazerpeda-
g6gico,vaoinfluirdecisivarnentena
elabora<;aodanecessidadedeurnes-
pa<;opr6prioparaaescola.15Ao mes-
mo tempoernqueelaboravamurna
contundentecriticaaspessimascon-
di<;oesdasmoradiasedosdemaispre-
diosparaa saudedapopula<;aoern
geral,oshigienistasacentuavamso-
bremaneira0malcausadoascrian<;as
pelaspessimasinstala<;oesescolares.
Alemdisso,expunham0quantoafal-
ta deespa<;ose materiaishigienica-
menteconcebidosera prejudicial a
saudeeaaprendizagemdosalunos.
Finalmente,a faltadeespa<;os
pr6priosparaasescolaseravista,tam-
bern,comournproblemaadministra-
tivo a medida que as institui<;oes
escolares,isoladase distantesurnas
dasoutras,acabavarnnaosendofis-
calizadas,naoofereciarnindicadores
confiaveisdo desenvolvimentodo
ensinoe,aMmdo mais,consurniam
partesignificativadasverbascornpa-
gamentodoalugueldacasadeescola
edoprofessor.Assim,osprofessores
naoeramcontrolados,osdadosesta-
tisticoseramfalseados,osprofessores
misturavamsuasatividadesdeensi-
no a outrasatividadesprofissionais
e,enfim,asescolasnaofuncionavam,
ernboapartedasvezes,literalmente.
Apesardascriticasexistirem
desdea primeirametadedo seculo,
sendocrescentementerefinadase
divulgadasnosanosfinaisdo Impe-
rio,0Brasilvaiterdeesperarateme-
adosdaultimadecadadoseculoXIX,
prirneiroernSaoPauloe,depois,ern
variosestadosbrasileiros,paraverern
funcionamentoasprimeirasconstru-
<;oespublicaspr6priasparaarealiza-
<;aoda instru<;aoprimaria:os grupos
escolares.Neles,e pormeiodeles,os
republicanosbuscaraomostrarapr6-
priaRepublicaeseuprojetoeducati-
voexemplare,porvezes,espetacular.
Os gruposescolares,concebi-
doseconstruidoscomoverdadeiros
templosdosaber,16encarnavam,a
urns6 tempo,todournconjuntode
saberes,deprojetospolltico-educati-
vos,e punhamerncircula<;ao0 mo-
delodefinitivodaeduca<;aodoseculo
XIX:0dasescolasseriadas.Apresen-
tadascomopraticae representa<;ao
quepermitiamaosrepublicanosrom-
percorn0passadoimperial,osgru-
posescolaresprojetavamurnfuturo.
ernquenaRepublica0povo,recon-
ciliadocorna na<;ao,plasmariauma
patriaordeiraeprogressista.
Noentanto,aculturaescolarela-
boradatendocomoeixoarticuladoros
gruposescolaresatravessou0 seculo
XX, constituindo-sereferenciabasica
paraaorganiza<;aoseriadadasclasses,
paraautiliza<;aoracionalizadadotem-
poedosespa<;osepara0controlesis-
tematicodo trabalhodasprofessoras,
dentreoutrosaspectos.E,grossomodo,
nesseecornreferenciaaessecaldode
culturaqueaindahojeseelaborarnas
reflexoespedag6gicas,mesmoaquelas
queserepresentam,maisurnavez,de
costaspara0passadoeantecipadoras
deurnfuturograndioso.
147
Leidelaine
Highlight
SOOanosdeeducaraono Brasil
Finalmente,podemosconstatarquealgunsproblemassemantem,a despeitodosesfon;osqueforamfeitospara
resolve-Ios.
Em 1825,nurnamateriaja citada,0 jornal0 Universal
punhaemcircula<;aoaseguintepreocupa<;ao:
a problema,pois,quehaderesolvere:comosepoderage-
neralizarumaboaeduca~aoelementar,semgrandesdespe-
sasdo Governo,e semquetireas classestrabalhadoras0
tempo,queenecessarioqueempreguemnosdiferentesra-
mosdesuasrespectivasocupa~6es?17
Essapreocupa<;ao,queserefereaotempoeasuautili-
za<;ao,escolarounao,naoe apanagiodaselitesmineirasnas
primeirasdecadasdosoitocentos.Ela estano cernemesmo
damodernidade,enaopoderiadeixardeserurnaspectocen-
tralno interiordosprocessosdeescolariza<;ao.A discussao
volta-se,por urnlado,paraa rela<;aoentrea escolae outras
institui<;6esouocupa<;6essociais(famIlia,trabalho...),preten-
dendofazercomqueospais,sobretudo,tomemconsciencia
daimportanciadaescolaefa<;amcomqueseus(suas)filhos(as)
freqiientemreguiarmenteaescola.No entanto,estanaoe,pa-
rece-me,aquestaoprincipal.a aspectocentral,aqui,refere-se
aofatodequemaisemaisvai-seafirmando0 tempoescolar0
qual,nasuaespecificidade,precisaestaremconstantedialo-
gocomosoutrostempossociais.
Enamelhorenamaiseficienteorganiza<;aoeutiliza<;ao
dostemposescolaresqueapostaraotodosaquelesque,envolvi-
doscomadiscussaosobre0processodeescolariza<;aonoseculo
XIX,defenderaoa centralidadedaescolanavidanacional,na
forma<;aodeurnpovoordeiroecivilizado.Deformaespecial,
queremoschamara aten<;ao,aqui,paraurnarela<;aoquenem
Nos gruposescolares, 0patioescolareasruascircunvizinhaseramespafos
fundamentais para a educaflio "moral, civica" e "intelectual" dos alunos.
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Leidelaine
Highlight
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Highlight
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Sticky Note
Apanágio: Propriedade, característica ou atributo: a razão é o apanágio do homem.nullBenefício que se concede a um certo grupo em detrimento dos demais (grupos); privilégio e/ou regalia. nullJurídico. Pensão alimentícia a que tem direito o cônjuge viúvo e obtida a partir dos rendimentos do cônjuge falecido.nullAntigo. Terras ou pensão que os soberanos davam aos filhos homens, exceto o primogênito, e que deveriam retornar à Coroa após a extinção dos descendentes masculinos.
InstrufiloefementarnoseculoXIX -LudanoMendesdeFariaFilho
sempreeestabelecidapelospesqui-
sadoresemhist6riadaeduca~ao:a
rela~aoentreescolariza~aodeconhe-
cimentose temposescolares.Se
acompanharmosos debatesquese
travaramna areada educa~aoao
longodo seculoXIX, maisespecifi-
camenteaquelesquesereferiamas
determina~6essobreos conteudos
escolares,ouseja,sobreaquiloque,
noseculoXIX,chamamosdeprogra-
mase curriculosescolares,veremos
quesuaextensaoestaintimamente
relacionadaa organiza~aoe a utili-
za~aodos temposescolarese,dai,
com os metodospedag6gicos,ou,
maisespecificamente,comaorgani-
za~odasturmasedasclasses.
NOTAS
Assim,naoe de seestranhar
quea estaorganiza~aoe utiliza~ao
diariado tempoescolarnasescolas
mineiras,daprimeirametadedose-
culoXIX,correspondeurndiminuto
"programa"de ensino.lsEssespro-
gramas,em sua extensaoe apro-
fundamento,sac muito diferentes
daquelesorganizadosnasultimas
decadasdo seculoXIX e primeiras
doXX.Asmudan~asnosprogramas
acompanham,paripassu,asmudan-
~asocorridasnasformasdeorgani-
za~aoeutiliza~aodotempoescolar,
asquais,por suavez,guardames-
treitasrela~6escom0 desenvolvi-
mentodosmetodose dosmateriais
pedag6gicos.
10 exemploclassicodessaabordageme,semduvida,0trabalhodeFernandodeAzevedo
A culturabrasileira,a qual,em relac;aoa escolarizac;aoprimarianos oitocentos,ainda
naofoi suficientementesuperada.
2Leide15denovembrode1827,aprimeira,eUnica,leigeralsobreinstruc;aoprimariano
Brasildurante0 periodoimperial.
3AtoAdicionalaConstituic;aodoImperio,publicadoem12deagostode1834,que,dentre
outrasdeliberac;6es,instituiaasAssembleiasProvinciaise determinavaquedentresuas
func;oesestavaa de legislarsobreinstruc;aoprimaria.
4Na provinciadeMinasGerais,porexemplo,entreleis,regulamentoseportarias,inven-
tariamosquase600textoslegaispara0 periodode1835a 1889.
5 TavaresBastos.A Provincia.SaoPaulo:Cia EditoraNacional,193?(1"ed.1867?).
6 Emvariosmomentos,observamos,emMinasGerais,aaplicac;aodequase30%dosrecur-
sos provinciais no servic;ode instruc;ao.
7A provincia mineira teve,em media, mais de dois presidentes de provincia por ano.
8Jornal 0 Universal,em 18/7/1825.
9 FranciscodeAssisPeregrino.Mem6ria...ArquivoPublicoMineiro,S.P.,c6dice236,1839.
10Emrelac;aoadivulgac;aodometodomutuonoBrasilver:MariaHelenaCamaraBastose
LucianoMendesdeFariaFilho(orgs.)A escolaelementarnoseculoXIX: 0 metodomo-
nitorial/mutuo.PassoFundo: EdUPF, 1999.
II 0 Universal,17/7/1825.
149
500anosdeeducafaono Brasil
12EmMinasGerais,porexemplo,0conselhodaprovinciamandoupublicar,em1829,uma
listadecastigoslancasterianosparaseremaplicadosnasescolasde primeirasletrasda
Provincia.
13 A experienciamineira,quenaopareceserUnica,bem0 demonstra.Em 1827,Bernardo
PereiradeVasconcelossustentavaque,emMinasGerais,havia23escolaspublicase170
escolasprivadas.
14Ilmar H. Mattos.In: TemposdeSaquarema.Rio de Janeiro:Acces,1994,2.ed.
15Ver,aesserespeito,0 textodeJoseGon~alvesGondraincluidonestacoletanea.
16Sobreaconstru~aodosgruposescolaresnoestadodeSaoPaulo,ver0 trabalhodeRosa
FatimadeSouza:Templosdecivilizarao.SaoPaulo:Ed.UNESP,1998.
170 Universal,18/7/1825.
18ConformedeterminadopeloArtigo1"daLeinumero13,publicadaemMinasGeraisem
1835,queseparecemuitocomaquelaspublicadasmaisoumenosnamesmaepocaem
variasoutrasprovincias,"a instru~aoprimariaconstade dois graus.No primeirose
ensinaraa ler,escrevereapraticadasquatroopera~6esaritmeticas,eno segundoaler,
escrever,aritmeticaateaspropor~6es,eno~6esgeraisdosdeveresmoraisereligiosos".
As escolasde2"grausaDaquelasqueselocalizamemcidadesevilas(maiores)easdeI"
emlocaisde menorpopula~ao.Nas localidadesondehouvesseasde2"grau,asde I"
naoseriamabertas.Quantoaosconteudos,nasescolasparameninas,alemdosconteu-
dosdaquelasdo I" grauhaveria"ortografia,pros6dia,no~6esgeraisdedeveresmorais,
religiosose domesticos".(Art.3".)
150

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