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O CARÁTER PERSPECTIVISTA DA CIÊNCIA: UM BREVE HISTÓRICO DA TEORIA DO CONHECIMENTO RESUMO O artigo busca refletir sobre o caráter perspectivista da ciência, fazendo um breve resumo histórico da Teoria do Conhecimento. Tem como objetivo fundamentar a tese de que por mais seguro que seja um pensamento, toda a lógica é sempre circular, ou seja, sempre retoma seu ponto inicial, por meio do encontro das preposições e suas respectivas contradições. Para tanto, realiza uma pesquisa bibliográfica da literatura da área, historicizando o tema nos mais variados campos da vida humana. Utiliza como procedimentos técnicos de coleta a leitura científica, e de análise ou interpretação, a análise de discurso. Conclui que todo conhecimento científico, por mais bem elaborado e confiável que seja, é sempre provisório, inacabado, sempre aberto a modificações e aprofundamentos. Similarmente, toda hipótese aceita não pode nem deve ser considerada uma verdade absoluta, mas tão somente uma hipótese não rejeitada, que superou aos testes de falseabilidade, por essa razão considerada razoavelmente confiável, mas sujeita a novos ou posteriores testes no decorrer da evolução científica. Por fim, ressalta-se que o presente estudo não exaure o tema, ou seja, existe margem para ulteriores aprofundamentos. Palavras-chave: Epistemologia. Teoria do conhecimento. Metodologia científica. CHARACTER PERSPECTIVAL SCIENCE: A BRIEF HISTORY OF THE THEORY OF KNOWLEDGE ABSTRACT The article seeks to reflect on the perspectival character of science, making a brief history of the Theory of Knowledge. It aims to support the thesis that however safe it a thought, all logic is always circular, that is, always takes its starting point, through the meeting of prepositions and their contradictions. The study presents a literature search of the literature of the area, historicizing the theme in various fields of human life. Used as technical procedures for collecting scientific reading and analysis or interpretation, discourse analysis. It concludes that all scientific knowledge, however well prepared and reliable it is, is always provisional, unfinished, always open to modifications and insights. Similarly, all accepted hypothesis can neither an absolute must be considered, but only a hypothesis not rejected, which exceeded the falsifiability test for that reason considered reasonably reliable, but subject to new or further tests in the course of scientific developments. Finally, it is emphasized that this study does not exhaust the subject, ie, there is scope for further investigations. Keywords: Epistemology. Theory of knowledge. Scientific methodology. 1 INTRODUÇÃO Este artigo tem como tema o caráter perspectivista da ciência, ou seja, de que ela nunca é absoluta. Embora seja crível a existência da verdade absoluta, é sensato pensar que nós seres humanos, enquanto imperfeitos, só a alcançamos em partes. Trocando em miúdos, todas as nossas interpretações são tão imperfeitas quanto nós (KÖCHE, 1997; TEIXEIRA, 2012; SOARES, 2003). Esse tema se justifica pelos seguintes fatores: a) a necessidade de uma concepção amadurecida de ciência e dos métodos que a constroem por parte do pesquisador; b) a existência da crença, em certa parcela da literatura da área, de que o conhecimento científico é absoluto, irrefutável, acabado, perfeito (PIAGET, 1973; KÖCHE, 1997; GILES, 1979). A questão que move essa pesquisa é compreender o caráter perspectivista da ciência, fazendo um breve retrospecto histórico da Teoria da Conhecimento. Por mais seguro que seja um pensamento, toda a lógica é sempre circular, ou seja, sempre retoma seu ponto inicial, por meio do encontro das preposições e suas respectivas contradições. Todo conhecimento científico, por mais bem elaborado e confiável que seja, é sempre provisório, inacabado, sempre aberto a modificações e aprofundamentos. Similarmente, toda hipótese aceita não pode nem deve ser considerada uma verdade absoluta, mas tão somente uma hipótese não rejeitada, que superou aos testes de falseabilidade, por essa razão considerada razoavelmente confiável, mas sujeita a novos ou posteriores testes no decorrer da evolução científica. Desse modo, o artigo busca apresentar, com base em um levantamento bibliográfico, a natureza hipotética da ciência. Para tanto, foram selecionados onze artigos científicos publicados periódicos em científicos atualizados da área educacional, três livros (ALVES; LOCCO, 2009; FREIRE, 2003; MORAN; HARRIS; STRIPP, 1996), e alguns documentos sobre o tema publicados em sites universitários (BRASIL, 2015). Para a escolha das fontes selecionadas foram considerados os seguintes critérios: a) conteúdo específico da Teoria do Conhecimento; b) conteúdo pertinente e atualizado de artigos científicos publicados nos últimos cinco anos em periódicos científicos da área; c) viabilidade de acesso e análise dos materiais selecionados. Todas as fontes foram observadas; os dados foram coletados, organizados, sistematizados, analisados, e apresentados de acordo com os procedimentos técnicos de pesquisa para levantamento bibliográfico e documental apresentados por Gil (1999; 2010) e Marconi e Lakatos (2007). A denominada teoria do conhecimento científico, ou somente Teoria do Conhecimento, preocupa-se com os critérios utilizados para se classificar, produzir, avaliar e validar um conhecimento como sendo válido, confiável, seguro, dentro de certo grau, ou nível, de cientificidade, ou de verdade. Essa disciplina estuda os diversos tipos de conhecimento, as suas características, os seus usos no decorrer dos milênios da história da humanidade, bem como a importância de cada um deles para a nossa vida cotidiana, buscando cada vez mais: maior precisão dos resultados produzidos; maior fidedignidade dos dados; maior domínio das metodologias empregadas; maior rigor na orientação, na revisão e no exame da pesquisa científica; maior ética dos sujeitos envolvidos na pesquisa científica. (TEIXEIRA, 2012; KÖCHE, 1997; SOARES, 2003). Na tentativa de se definir o conhecimento, epistemologistas buscaram esclarecimentos, ao comparar e analisar tanto as diversas ciências quanto as suas respectivas histórias, encontrando como respostas plausíveis que o mesmo se trata de um processo. Por exemplo, a literatura de epistemologia científica ressalta que, embora por um tempo, muitos cientistas, sobretudo matemáticos e físicos, tenham acreditado na infalibilidade do conhecimento científico, ou mesmo que algum conhecimento pudesse ser considerado absoluto, irrefutável ou inquestionável, a própria história do conhecimento prova o contrário (PIAGET, 1973). Corroborando tais afirmações, Piaget (1973, p. 8) enfatiza: […] os matemáticos, variando de opinião sobre a natureza dos “seres” matemáticos, permanecerem, até há pouco tempo, impermeáveis às ideias de revisão e de reorganização reflexiva; a lógica foi por muito tempo considerada concluída e foi preciso esperar os teoremas de Goedel para obrigá-la a reexaminar os limites de seus poderes; a física, após as vitórias newtonianas, acreditou até o início deste século [Piaget se refere ao século XIX] no caráter absoluto de importante número de princípios; mesmo ciências tão jovens quanto a sociologia ou a psicologia, se não puderam vangloriar-se de um saber sólido, não hesitaram até recentemente em atribuir aos seres humanos e, portanto, aos sujeitos pensantes que estudavam, uma “lógica natural” imutável, como o queria Comte (apesar da sua lei dos três estados e ao insistir em seus processos comuns e constantes de raciocínio) ou instrumentoinvariáveis de conhecimento. Trocando em miúdos, a epistemologia é a ciência que estuda o processo de construção de conhecimento válido, fornecendo, para tanto, os esclarecimentos necessários quanto aos critérios de cientificidade, ou de verdade, quanto à história e a evolução do conhecimento, quanto às relações entre sujeito e objeto bem como quanto aos critérios para a adequada interpretação da realidade (PIAGET, 1973). Percebe-se ainda, desse modo, pouca clareza quanto às fronteiras entre as ciências e a filosofia, cuja delimitação se restringe ao fato de a filosofia objetivar conhecer o ser enquanto ser e a ciência os seres particulares (PIAGET, 1973). Porém, o que dizer sobre o tipo de conhecimento produzido nos trabalhos acadêmicos dos cursos de graduação, especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado em filosofia: é científico ou filosófico? Para respondermos satisfatoriamente a essa questão precisamos compreender bem a natureza da ciência e da filosofia, motivo pelo qual a mesma é considerada nos próximos parágrafos. A ciência é um conhecimento hipotético e, por essa razão, testável e falível, construída sistematicamente e comprovada factual e empiricamente, que se preocupa em estudar os seres particulares. A filosofia é um conhecimento não-hipotético e, por essa razão, não-testável e infalível, construída também sistematicamente, porém comprovada puramente pela lógica (KÖCHE, 1997; PIAGET, 1973; GILES, 1979). Ademais, ciência e filosofia diferem quanto ao sistema de investigação utilizado. Por exemplo, não se utiliza pesquisa experimental nem a pesquisa quantitativa no processo de investigação filosófica, uma vez se tratando de conhecimento não-hipotético, não testável, exclusivamente qualitativo. Quanto à estrutura do pensamento filosófico, a técnica utilizada é sempre a dedução. Já no processo de investigação científica, por sua vez, são utilizados as abordagens qualitativa, quantitativa ou mista, além de métodos experimentais, em razão de sua natureza hipotética, isto é, sujeita a testes e, por isso, falível. Quanto à estrutura do pensamento científico, são várias técnicas utilizadas, dentre as quais a dedução e a indução (RODRIGUES, 2007; CERVO, BERVIAN e DA SILVA, 2007). Este artigo foi organizado em quatro capítulos. O primeiro se refere à introdução, na qual são apresentados o tema, a justificativa, o problema, os objetivos, a contribuição, a metodologia, o percurso do aluno, o referencial teórico, e a organização do artigo. O segundo capítulo se refere ao desenvolvimento, o qual foi subdividido em dois tópicos, um abordando um resumo histórico da Teoria do Conhecimento, e outro abordando os critérios de cientificidade ou verdade. O terceiro capítulo foi dedicado à explanação de todas as metodologias utilizadas para a elaboração do artigo. E, por último, mas não menos importante, no quarto capítulo, são apresentadas as considerações finais. Daí, no intuito de finalizar de forma completa, o artigo apresenta as considerações finais e as referências. 2 A TEORIA DO CONHECIMENTO 2.2.1 Resumo histórico da Teoria do Conhecimento Na tentativa de se definir o conhecimento, epistemologistas buscaram esclarecimentos, ao comparar e analisar tanto as diversas ciências quanto as suas respectivas histórias, encontrando como respostas plausíveis que o mesmo se trata de um processo. Por exemplo, a literatura de epistemologia científica ressalta que, embora por um tempo, muitos cientistas, sobretudo matemáticos e físicos, tenham acreditado na infalibilidade do conhecimento científico, ou mesmo que algum conhecimento pudesse ser considerado absoluto, irrefutável ou inquestionável, a própria história do conhecimento prova o contrário (PIAGET, 1973). Corroborando tais afirmações, Piaget (1973, p. 8) enfatiza: […] os matemáticos, variando de opinião sobre a natureza dos “seres” matemáticos, permanecerem, até há pouco tempo, impermeáveis às ideias de revisão e de reorganização reflexiva; a lógica foi por muito tempo considerada concluída e foi preciso esperar os teoremas de Goedel para obrigá-la a reexaminar os limites de seus poderes; a física, após as vitórias newtonianas, acreditou até o início deste século [Piaget se refere ao século XIX] no caráter absoluto de importante número de princípios; mesmo ciências tão jovens quanto a sociologia ou a psicologia, se não puderam vangloriar-se de um saber sólido, não hesitaram até recentemente em atribuir aos seres humanos e, portanto, aos sujeitos pensantes que estudavam, uma “lógica natural” imutável, como o queria Comte (apesar da sua lei dos três estados e ao insistir em seus processos comuns e constantes de raciocínio) ou instrumento invariáveis de conhecimento. No entanto, além da ciência existem outros tipos de conhecimento, tais como o filosófico, o religioso e o de senso comum, sendo que suas respectivas peculiares exigem métodos, ou caminhos lógicos de investigação, específicos e diferentes uns dos outros. Daí a existência de diversas epistemologias, tais como a científica, a filosófica, a lógica, a matemática, a física, a religiosa, a genética, etc., cada qual com as suas características próprias (PIAGET, 1973). É bem por essa razão que Piaget (1973, p. 14) define a epistemologia como sendo: […] a teoria do conhecimento válida e, mesmo que esse conhecimento não seja jamais um estado e constitua sempre um processo, esse processo é essencialmente a passagem de uma validade menor para uma validade superior. Resultado disso é que a epistemologia é necessariamente de natureza interdisciplinar, uma vez que tal processo suscita, ao mesmo tempo, questões de fato e de validade. […] Em seguida, o referido autor (1973, p. 14) destaca que a epistemologia vai muito além do que a lógica e do que a psicologia das funções cognitivas, sendo, desse modo, dessemelhante dessas, conforme passa a dizer: […] Se se tratasse apenas de validade, a epistemologia se confundiria com a lógica: o problema, entretanto, não é puramente formal, mas chega a determinar como o conhecimento atinge o real, portanto quais as relações entre o sujeito e o objeto. Se se tratasse apenas de fatos, a epistemologia se reduziria a uma psicologia das funções cognitivas e esta não é competente para resolver as questões de validade. […] Trocando em miúdos, a epistemologia é a ciência que estuda o processo de construção de conhecimento válido, fornecendo, para tanto, os esclarecimentos necessários quanto aos critérios de cientificidade, ou de verdade, quanto à história e a evolução do conhecimento, quanto às relações entre sujeito e objeto bem como quanto aos critérios para a adequada interpretação da realidade (PIAGET, 1973). Outra questão relevante a considerar sobre os estudos epistemológicos é que é complexa a delimitação das fronteiras existentes entre a filosofia e as ciências, consoante Piaget (1973, p. 97 e 98): Dir-se-á que a ciência se reserva o domínio da realidade experimental e que a filosofia é dedução pura? Mas a matemática aqui está para mostrar o papel propriamente científico de uma dedução bem conduzida. Dir-se-á que a ciência é conhecimento a posteriori e que a filosofia se reserva o a priori? […] A ciência é então, como o queria Brunschvicg, o próprio saber e a filosofia a “análise reflexiva” ou reflexão sobre as condições deste saber? De acordo, porém, com uma das fórmulas profundas deste mestre, o processo científico também é, às vezes, reflexivo […] Logo, o referido autor (1973, p. 83 e 100), após analisar os prós e os contras sobre as fronteiras dos conhecimentos científicos, alicerçado nos melhores estudiosos epistemologistas, apresentasuas conclusões com as seguintes palavras: Não vejo, pois, em definitivo, senão um critério distintivo entre as ciências e a filosofia; aquelas se ocupariam das questões particulares, enquanto esta tenderia ao conhecimento total. […] o que é um problema científico formulado e como é tomado para dissociar uma questão do campo da filosofia? Duas condições nos parecem necessárias e suficientes a este respeito. A primeira vem simplesmente delimitar o domínio a estudar, abatendo-se por método, por convenção e quase por uma espécie de gentleman's agreement, de discutir todas as outras questões com o sujeito. Poder-se-ia dizer com familiaridade (e eu me escuso perante os metafísicos aqui presentes) que o filósofo se reconhece pelo fato de falar de tudo ao mesmo tempo – e é forçado a isso pela superposição mútua das questões preliminares – enquanto que o homem de ciência se esforça em só se ocupar de uma coisa após outra. A segunda condição deriva psicologicamente desta delimitação mesmo: decidido a não queimar as etapas, o homem de ciência se sujeita, em cada questão particular, a acumular fatos de experiência ou a penetrar axiomaticamente seu raciocínio, até o acordo de todos os pesquisadores sobre os fatos ou as deduções; proíbe-se, por conseguinte, por contrário a sua moral da objetividade, toda sistematização prematura. […] Nesse diapasão, ao tentar diferir o conhecimento científico, ou das denominadas ciências particulares, do conhecimento filosófico, Giles (1979, p. 106) pontua: O saber filosófico e científico é fundado sobre o fato irrecusável de que não estamos na situação de fatos como um objeto no espaço objetivo, pois ela é para nós princípio de curiosidade, de investigação, de interesse para outras situações, enquanto variantes da situação atual. Chamar-se-á ciência à tentativa de construir variáveis ideias que objetivem e esquematizem o funcionamento dessa comunicação efetiva. Chamar-se-á Filosofia à consciência que nos é necessário manter comunicação aberta e sucessiva de homens que pensam e falam, uns em presença dos outros e todos em relação com o mundo, tal como o percebemos atrás de nós, em volta de nós e diante de nós, nos limites do nosso campo histórico, como da realidade última cuja presença é retraçada pelas nossas construções teóricas, que a ela não se poderiam substituir. A ciência é um conhecimento hipotético e, por essa razão, testável e falível, construída sistematicamente e comprovada factual e empiricamente, que se preocupa em estudar os seres particulares. A filosofia é um conhecimento não-hipotético e, por essa razão, não-testável e infalível, construída também sistematicamente, porém comprovada puramente pela lógica (KÖCHE, 1997; PIAGET, 1973; GILES, 1979). Em suma, podemos conceber a ciência como o conhecimento baseado em fatos. Desse modo, a ciência se preocupa em “conhecer as coisas, os fatos, os acontecimentos e fenômenos, para tentar estabelecer uma previsão do rumo dos acontecimentos que cercam o homem e controlá-los”. (KÖCHE, 1997, p. 43). Digno de nota que, embora a aplicação prática das descobertas cientificas satisfaça as necessidades humanas e estabeleça um controle prático sobre a natureza, a ciência não se reduz, meramente, à atividade de propicia o controle prático sobre os fenômenos naturais. Sobre esse aspecto, Köche (1997, p. 43) salienta: Essa compreensão cientificista e reducionista é errônea e limitada. […] A causa principal que leva o homem a produzir ciência é a tentativa de elaborar respostas e soluções às suas dúvidas e problemas e que o levem à compreensão de si e do mundo em que vive. Ainda que a ciência da forma como é modernamente concebida tenha sua origem no contexto do Renascimento, ocorrido na França, no século XVI, ela já existia, de outras formas, já no oitavo século antes de Cristo, no mundo grego, ante os filósofos pré-socráticos. Corroborando tal ponto, Köche (1997, p. 44) nos diz: […] na Antiguidade, na Grécia, a partir do século VIII a.C. E alcançando a culminância no século IV a.C., conhecida como filosofia da natureza, tinha como única preocupação a busca do saber, a compreensão da natureza das coisas e do homem. O conhecimento científico era desenvolvido pela filosofia. Não havia a distinção que hoje se estabelece entre ciência e filosofia. A teoria da ciência, responsável pelo estudo e pela análise da evolução histórica do conhecimento, preconiza a divisão científica em três períodos históricos distintos, cada um deles com seus próprios modelos e paradigmas teóricos no que tange a sua visão de mundo, de ciência e de método. Consoante Köche, 1997, p. 44, as três etapas cientificas na história do conhecimento são: […] a ciência grega, que abrange o período que vai do século VIII a.C. até o final do século XVI, a ciência moderna, do século XVII até o início do século XX, e a ciência contemporânea que surge no início deste século até nossos dias. Na ciência grega, os filósofos eram os produtores da ciência e utilizavam para tal métodos bastante diferentes das conhecidos atualmente. Por exemplo, os filósofos pré-socráticos utilizaram o procedimento da especulação racional, cuja tarefa de elaboração e de esclarecimento da possível ordem que havia por trás da aparente desordem dos fenômenos sensíveis e perceptíveis (KÖCHE, 1997). O pensamento socrático sobre a construção do conhecimento, até então filosófico em sua época, fundamenta-se numa “arte maravilhosa, capaz de extrair do interlocutor a verdadeira ciência que este já possui no seu íntimo, sem o saber”, conforme Giles (1979, p. 44) continua dizendo: […] é a maiêutica, a arte da parteira, que ajuda o intelecto a dar à luz criaturas do pensamento. Por um processo de interrogação contínua, Sócrates leva o interlocutor gradativamente à meta, que é o conceito, elemento constitutivo da ciência. Com essa ciência, a unidade de visão da realidade é conseguida sem detrimento da pluralidade e da variedade que o conceito pode refletir no sensível. Os momentos essenciais essa ciência são a definição, que coincide com a própria ideia de conceito, e a indução – a forma de argumentação que do particular vai ao geral, do indivíduo à espécie – que contém imanente em si a lei. É essa força dinâmica da ciência que leva daquilo que é conhecido àquilo que era desconhecido, da verdade conquistada à conquista de novas verdades. Mais adiante, no século V a.C. surgiu com Platão (429-348/7 a.C.) o modelo platônico, cuja “forma, acessível aos sentidos, apenas nos mostra como as coisas são, mas não o que elas são”. (Köche, 1997, p. 45). Como, para Platão, o real é o pensado, é o intuído, então: O que nos fornece o que são as coisas, o seu verdadeiro conhecimento, a ciência, é a inteligência, o entendimento, que é o conhecimento racional intuitivo, desenvolvido através da dialética – intuição dos princípios universais, análise e síntese –, concebido por Platão como um método científico racional. A essência do mundo só é acessível ao entendimento, pois as ideias, os modelos de todas as coisas, enquanto entidades reais, eternas, imutáveis, imateriais, perfeitas e invisíveis, não estão neste nosso mundo de aparências sensíveis e mutáveis, mas num mundo superior e eterno (Köche, 1997, p. 46) O pensamento platônico fundamenta-se na dialética, haja vista que o pensamento não toma posse imediata da verdade, mas deve procurá-la. Nas palavras de Giles (1979, p. 46): O primeiro momento no processo de dialética consiste em criticar as sensações e opiniões. Responder à pergunta: “Que é tal coisa?” significa ir além das suas aparências fugitivas, à procura de uma realidade estável. Aexperiência imediata, longe de possuir a verdade, a pressupõe, verdade que a vida sensível dissimula da vista, mas que a dialética nos revela. A racionalidade, a verdade, é o fruto de uma seleção e purificação dialética em que isolamos e libertamos o sensível de todo o peso da materialidade, para chegar àquilo sobre o que podemos fixar o olhar com segurança. A dialética nos revela a profunda oposição que existe entre o sensível e a verdadeira realidade. Diante da individualidade das sensações, vemos afirmar-se a universalidade das Formas ou Conceitos; diante da instabilidade e contingência das primeiras, a invariabilidade das segundas. A dialética também nos mostra qual a relação entre a alma e a ciência. Ela já tinha o saber antes de se aprisionar ao corpo. Ao entrar em contato com o objeto material deste mundo, ela se lembra de ter contemplado a Ideia, a Forma, o original deste objeto no mundo das formas. Essa lembrança, ou reminiscência das formas, pressupõe a imortalidade da alma, que sofrerá o castigo de se reencarnar até expiar todas as suas faltas. Ora, a arte da maiêutica, habilmente utilizada, pode extrair da mente essa ciência, que o indivíduo já possuía sem saber. Um século mais tarde, surge com Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, o modelo aristotélico, que pressupõe a análise da realidade por meio de suas partes e princípios que podem e devem ser observados, no fito de, em seguida, postular seus princípios universais, expressos na forma de juízos, encadeados logicamente entre si (KÖCHE, 1997). Sobre tal modelo, Köche (1997, p. 47) explana: Dessa forma o modelo aristotélico propõe uma ciência (episteme) que produz um conhecimento que pretende ser um fiel espelho da realidade, por estar sustentado no observável e pelo seu caráter de necessidade e universalidade. Desenvolve um conhecimento da essência das coisas e das suas causas, respondendo às perguntas o que é? e por que é? A ciência aristotélica manifesta-se com uma ciência do discurso, qualitativa, que proporciona um conhecimento universal, estável, certo e necessário, tal qual propunham os pré-socráticos. No período histórico-científico grego, que durou mais de 2300 anos, o mundo era visto pelos gregos como dotado de uma ordem e estrutura natural que governava o cosmos e que regia todos os acontecimentos, na qual todo o ser adquiria sentido, fitos essenciais da filosofia e da ciência (KÖCHE, 1997). Neste diapasão, “conhecimento científico era o demonstrado como certo e necessário através dos argumentos lógicos”, de modo que o “valor de uma explicação estava no seu poder poder argumentativo que justificava sua aceitação e plausibilidade” (KÖCHE, 1997, p. 48) A partir do século XV, todavia, e mormente no século XV, no decorrer do Renascimento, os modelos platônico e aristotélico foram duramente atacados. Os renascentistas Galileu (1564-1642) e Bacon (1561-1626) rejeitavam tais modelos filosóficos de produzir ciência, opondo-se à ciência grega e ao dogmatismo religioso que imperava naquela época. Galileu e Bacon introduziram a experimentação científica, “modificando radicalmente a compreensão e concepção teórica de mundo, de ciência, de verdade, de conhecimento e de método” (KÖCHE, 1997, p. 49). A revolução científica ocorrida no século XVII surgiu da exigência de métodos precisos, quantitativos, de investigação e explicação dos fenômenos naturais. A necessidade de uma relação numérica para tratar de questões tais como a velocidade da mudança e do movimento na física, mostrou o quanto era inadequada a ciência qualitativa grega (KÖCHE, 1997). Criticando severamente o aristotelismo e o empirismo ingênuo, Bacon defende que a experiência vulgar conduzia a enganos (KÖCHE, 1997). Para ele “a leviandade com que os observadores se deixavam levar pelas impressões dos sentidos e concluíam generalizações utilizando indevidamente a indução”, próprio do método silogístico e da abstração, “não ofereciam um conhecimento completo do universo” (KÖCHE, 1997, p. 50). Sobre esse aspecto, Köche (1997, p. 50) acentua: […] Bacon propôs a necessidade de se inventar um novo instrumento, um método de invenção e da validação que desse maior eficácia à investigação. […] Cabia à experiência confirmar a verdade. Somente ela seria capaz de proporcionar uma verdadeira demonstração sobre o que é verdadeiro ou falso. A autoridade (do conhecimento religioso e dogmático) podia fazer crer, porém, não facultava a compreensão da natureza das coisas em que se acreditava. A razão (no conhecimento filosófico) poderia completar a autoridade; não teria, porém, condições de distinguir entre o verdadeiro e o falso. Foram grandes as contribuições baconianas para a concepção científica moderna. Contudo, foram ainda maiores as galileanas, conforme Köche (1997, p. 51) destaca: Bacon não conseguiu dar o salto do qualitativo para o quantitativo, como fez Galileu, verdadeiro pai d evolução científica moderna. No entanto, foi grande a influência do empirismo e do indutivismo de Bacon sobre a vulgarização do pensamento científico moderno. E também não foram poucos os cientistas que reafirmaram a ideia de que a ciência deveria fundamentar-se na pura observação dos fatos e não se deixar levar por hipóteses apriorísticas para alcançar a objetividade no conhecimento. E entre eles esteve Newton. O pensamento científico galileano defendia que “a certeza da validação da explicação não poderia ser fornecia através da simples demonstração utilizando argumentos lógicos (verdade sintática), de acordo com o modelo aristotélico” (KÖCHE, 1997, p. 51). Contrapondo-se ao método silogístico grego, meramente qualitativo, Galileu introduziu o denominado método científico- experimental, caracterizado essencialmente pela inserção da matemática e da geometria “como linguagens da ciência e o teste quantitativo-experimental das suposições teóricas como o mecanismo necessário para avaliar a veracidade das hipóteses e estipular a chamada verdade científica” (KÖCHE, 1997, p. 51). Ainda na mesma direção do indutivismo e empirismo baconianos e do método científico- experimental galileano, Newton vai mais além, introduzindo o modelo popularizado do método indutivo-confirmável. Recusando-se a admitir que trabalhava com hipóteses apriorísticas, Newton “afirmava que suas leis e teorias eram tiradas dos fatos, sem interferência da especulação hipotética” (KÖCHE, 1997, p. 55). Entretanto, a visão perfeccionista newtonianas sobre o seu método de fazer ciência, induziu os cientistas a erroneamente tomarem o seu modelo como a verdade absoluta, o conhecimento irrefutável e inquestionável, raiz do pensamento positivista. Corroborando tais afirmações, Köche 1997, p. 57) enfatiza: O paradigma newtoniano, impregnado pelo indutivismo e empirismo, gerou uma cega confiabilidade na ciência, sem dúvida alguma, sustentada na certeza e exatidão dos resultados das teorias obtidas por um procedimento julgado perfeito: pensou-se que se poderia, sem interferências de ordem subjetiva, teórica, ou metafísica, descobrir as leis ou princípios que comandavam os fenômenos da realidade. A exatidão dos resultados dos experimentos newtonianos e o acordo perfeito de suas provas com as teorias facilitou a aceitação da crença de que a física newtoniana, construída com o uso de um método científico-experimental indutivista e confirmabilista, estava proporcionando ao homem um conhecimento “comprovado”, “confirmado” definitivamente, inquestionável e desprovido de interferências subjetivas. Era, portanto, um conhecimento que havia alcançado a “objetividade”, isto é, era um espelho fiel da realidade, fundamentado nos fatose não nas suposições da subjetividade humana. O experimento da física, seguindo a teorização coerente com o paradigma newtoniano, passou a ser o modelo ideal que deveria ser copiado por todas as outras áreas de conhecimento. Não obstante, tal confiabilidade cega no poderoso método científico-experimental indutivo newtoniano, culminou no surgimento do cientificismo, isto é, da crença de que o único conhecimento válido era o científico e de que tudo poderia ser conhecido pela ciência, “fazendo com que outras áreas do conhecimento, não apenas das ciências naturais mas também das sociais e das humanas, procurassem esse ideal científico e o aplicassem para obter resultados teóricos comprovados experimentalmente”, uma vez que todas queriam gozar do mesmo status de cientificidade granjeado pela física (KÖCHE, 1997, p. 58). No início do século XX, entretanto, surge uma nova concepção de ciência. Muitos cientistas, inclusive físicos, começam a perceber que a ciência até então produzida não era absoluta, na medida em que novas descobertas científicas derrubaram outras precedentes. Como exemplos dessas revoluções científicas temos o advento da mecânica quântica, a partir das teorias dos quanta de Max Planck, as teorias da relatividade de Einstein, o princípio da complementaridade de Bohr, o novo modelo de átomo idealizado por Schrodinger, o princípio da incerteza de Heisenberg, a microfísica e outras teorias relevantes na física. Logo, foi no interior da própria física que se iniciou a ruptura com o cientificismo (KÖCHE, 1997). Sobre os motivos das mudanças ideológicas da Filosofia no que concerne ao conhecimento bem como à concepção científica de modo geral, Chauí (2005, p. 124) explana: A perspectiva cristã introduziu algumas distinções que romperam com a ideia grega de uma participação direta e harmoniosa entre o nosso intelecto e a verdade, nosso ser e o mundo, pois os filósofos antigos consideravam que éramos entes participantes de todas as formas de realidade: por nosso corpo, participamos da natureza; por nossa alma, participamos da Inteligência divina. Dentre as contribuições para a nova concepção científica em que se respalda a visão contemporânea de ciência e método, as de Einstein foram as maiores, “não apenas pelo conteúdo que apresentaram, mas pelo forma como foram alcançadas (KÖCHE, 1997, p. 60). Sobre esse aspecto, Köche, 1997, p. 60, relata: […] Bacon afirmava que as ideias preconcebidas deveriam ser eliminadas da mente do investigador. Einstein não as eliminou. Ao contrário, semelhante ao artista, deu asas à sensibilidade e à imaginação. Projetou subjetivamente um modelo de mundo que não fora captado registando passivamente dados sensoriais, mas influenciado por suas emoções, paixão mística, impulsos de sua imaginação, convicções filosóficas e, como ele próprio afirmou, por um “sentimento religioso cósmico”. […] Demonstrou que, mais do que uma simples descrição da realidade, a ciência é a proposta de uma interpretação. O cientista se aproxima mais do artista que do fotógrafo. Desse modo, foram duas as contribuições de Einstein para a descoberta da visão moderna de ciência: uma foi a primeira ruptura que atingiu diretamente esse processo de descoberta da visão moderna de ciência, e outra foi “a demonstração de que, por maior que seja o número de provas acumuladas em favor de uma teoria, ela jamais poderá ser aceita como definitivamente confirmada” (KÖCHE, 1997, p. 60). Satisfeito com essa posição, Köche (1997, p. 60) corrobora com os dizeres: […] Os esquemas explicativos mais sólidos podem ser substituídos por outros melhores. O progresso científico, então, deixa de ser acumulativo para se revolucionário. E o critério até então adotado para distinguir a ciência da não-ciência, o da confirmabilidade obtida pelo uso do método experimental indutivo, cai por terra. E uma nova pergunta se coloca: Que critério utilizar para demarcar e distinguir a ciência de outras formas de conhecer? É possível ter um procedimento padrão, um método científico, para fazer ciência? A ciência moderna e as ideologias perspectivistas do conhecimento partiram da indagação de como nós, seres humanos pervertidos e finitos, podemos conhecer a verdade infinita e divina, tal como Chauí (2005, p. 125) corrobora: Para os modernos, a situação é exatamente contrária. Perguntam: “Como o conhecimento da verdade é possível?” De fato, se a verdade é o que está no intelecto infinito de Deus, então está escondida de nossa razão finita e não temos acesso a ela. A verdade, portanto, não é o que está manifesto na realidade, mas depende da revelação divina. Ora, a revelação só é conhecida pela fé e para esta a verdade é emunah, a confiança que nos leva a dizer “assim seja” e que nossa razão não pode entender. Por outro lado, visto que nosso intelecto limitado foi pervertido pela nossa vontade pecadora, como podemos conhecer até mesmo as verdades de razão, isto é, as que estariam ao nosso alcance sem o auxílio da revelação e da fé? Ou seja, até que ponto podemos admitir que nossa razão ou luz natural é capaz de um saber verdadeiro? Destarte, percebe-se claramente que o exame da capacidade humana de conhecer torna-se o problema crucial do conhecimento, razão alicerce do nascimento da Filosofia moderna e também da denominada Ciência moderna (CHAUI, 2005). Na visão contemporânea de ciência, não existe método científico, no sentido de que não há fórmulas, ou modelos ou receitas mágicas, ou mesmo prescrições dogmáticas de se criar o conhecimento. Sobre esse aspecto, Köche (1997, p. 68) diz convictamente: […] Não existe um modelo com normas prontas, definitivas, pelo simples fato de que a investigação deve orientar-se de acordo com as características do problema a ser investigado, das hipóteses formuladas, das condições conjunturais e da habilidade crítica e capacidade criativa do investigador. Praticamente, há tantos métodos quantos forem os problemas analisados e os investigadores existentes. Todavia, existem critérios básicos que precisam ser utilizados no processo de investigação científica no fito de que o conhecimento possa ser considerado válido, isto é, verdadeiro. São exatamente esses critérios básicos, ou passos gerais, que orientam e sustentam aquilo que histórica e epistemologicamente se denomina “método científico” (KÖCHE, 1997). É, pois, desse modo de pensar a construção do saber que se descobriu o método científico hipotético-dedutivo, que propõe nada mais nada menos do que partir de “um questionamento elaborado pelo sujeito que põe em dúvida o conhecimento já produzido, por percebê-lo ou como teoricamente inconsistente ou mesmo incompatível com outras teorias, ou como inadequado para explicar os fatos” (KÖCHE, 1997, p. 71). Ainda sobre o processo do conhecer a partir da ciência contemporânea, Köche (1997, p. 71) explana: […] Na ciência contemporânea, a pesquisa é um processo decorrente da identificação de dúvidas e da necessidade de elaborar e construir respostas para esclarecê-las […] porque há a necessidade de construir e testa uma possível resposta ou solução para um problema, decorrente de algum fato ou de algum conjunto de conhecimentos teóricos […] O problema de investigação é aquela dúvida, é aquela pergunta que não consegue ser respondida com o conhecimento disponível. […] Nesses casos levantam-se perguntas, dúvidas, que estão sem resposta no quadro do conhecimento disponível. Ou então, à luz de novos referenciais teóricos, questiona-se a confiabilidade daquelas teorias enquanto explicações válidas para determinados casos, percebendo nelas inconsistências ou lacunas que devem ser corrigidas ou eliminadas. […] O problema de investigação, portanto,surge da crise do conhecimento disponível, enquanto modelo teórico insuficiente para explicar os fatos. Via de regra, toda hipótese deve ser testável e rigorosamente testada no fito de ser validada e qualquer conhecimento considerado cientificamente válido não o é definitivamente, mas provisoriamente. Dito isto, Köche (1997, p. 74) concorda dizendo que: […] Proposta a hipótese, deve-se dela deduzir logicamente consequências expressas em uma linguagem comum em que predominam temos de observação. Essa tradução proporciona a passagem da linguagem de um nível mais abstrato da ciência para um menos abstrato que contenha um conteúdo diretamente empírico que possibilite a observação e a testagem. […] A hipótese não será rejeitada se aguentar os testes de rejeição e permanecerá provisoriamente como corroborada. Se no confronto com a base empírica não aguentar às contra-evidências, será rejeitada. Haja vista que a história da ciência está repleta de exemplos denominados “recalcitrantes” de teorias e hipóteses que, apesar de terem provas falseadoras, ainda assim continuaram a ser aceitas na comunidade científica, infere-se, então, que apenas submeter uma hipótese a testes isolados, confrontando-a exclusivamente com a sua base empírica, não é o suficiente (KÖCHE, 1997). Sobre esse aspecto, Köche (1997, p. 75) elucida: […] Essa fase é necessária, mas não é suficiente. Há a necessidade, ainda, de confrontá-la também com outras hipóteses concorrentes, comparando o seu desempenho com o de outras hipóteses e teorias. […] Uma vez testada e avaliada a hipótese, não é conveniente afirmar “a hipótese foi aceita”, ou confirmada, pois jamais um experimento a confirmar, ou a válida em sentido positivo (i.e., absoluto), por maior severidade, controle e rigor que tenham sido adotados. Deve-se afirmar “a hipótese não foi rejeitada”, isto é, a partir das provas de não se ter encontrado algo em contrário quando submetida a testes de falseabilidade e confrontada com o resultado de outas teorias, ela passa a proporcionar uma aceitação temporariamente válida. […] Destarte, em se tratando de conhecimento produzido por humanos, imperfeitos, não existe (m) verdade (s) absoluta (s). Nesse caso, tal qual aponto Köche (1997, p. 75), “o valor de uma teoria está em sua corroboração, isto é, no fato de não ter sido ainda rejeitada, após ter passado por severas povas”. Com base nesses pressupostos, a ciência é, não um sistema de enunciados certos ou bem estabelecidos, mas sim no processo de investigação, sistemático e contínuo, que utiliza procedimentos adequados no fito de localizar os possíveis erros de suas teorias, por meio de testes de falseabilidade e do confronto com outras teorias, para substituí-las por outras que não contenham os erros da anterior e com maior conteúdo informativo. A ciência, portanto, nunca alcança a verdade, jamais podendo proclamar tê-la atingido ou um substituto da verdade, jamais podendo proclamar tê-la atingido ou um substituto da verdade, como a probabilidade, mas ela tão somente torna mais clara a compreensão da realidade e menos distante da verdade a nossa compreensão. 2.2 Critérios ou mecanismos de cientificidade ou verdade No contexto histórico-evolutivo da Teoria do Conhecimento surgiram muitas “teorias da verdade”, no fito de estabelecer critérios confiáveis de verdade, ou cientificidade, dentre as quais se destacam a “teoria da correspondência”, de Aristóteles, a “teoria da evidência”, de Descartes, e a “teoria da coerência”, também de Descartes, mas revisada por Hegel (GILES, 1979, p. 126-128). Sobre cada uma delas, Giles (1979, p. 126-129) pontua: […] Conforme essa teoria, toda proposição afirma algo como sendo o caso for realmente o caso; e é falsa se, e só se, aquilo que expressa não for o caso. [….] Conforme a teoria da evidência, uma proposição é verdadeira se, e só se, for evidente por si ou, embora não sendo evidente por si, seja implicada logicamente por premissas que são evidentes por si. Essa teoria considera uma convicção ou um sentimento de evidência por si como condição suficiente de verdade, embora tal convicção ou sentimento possam (e isto acontece de fato) mudar tanto na mesma pessoa como de pessoa para pessoa. A experiência mostra que as convicções e os sentimentos de evidência por si podem ser ilusórios e a teoria não estabelece critérios para distinguir entre aqueles que são e não são ilusórios. […] Na primeira parte de seu livro, quando trata da teoria da ciência, Köche (1997, p. 27)) apresenta as dessemelhanças entre o conhecimento de senso comum e o conhecimento científico, acentuando que “a vaguidade da linguagem utilizada no sensu comum conduz a um baixo poder de discriminação entre os confirmadores e os falseadores potenciais de seus enunciados”, tornando-se, desse modo, quase impossível o seu controle e a sua avaliação experimental. Por outro lado, o referido autor (1997, p. 30) pontua que o conhecimento científico, enquanto processo de investigação que age no fito de construir uma resposta segura para responder às dúvidas existentes, “propõe-se atingir dois ideais: o ideal da racionalidade e o ideal da subjetividade”. Explanando o ideal da racionalidade, Köche (1997, p. 31) ressalta: O ideal da racionalidade está em atingir uma sistematização coerente do conhecimento presente em todas as suas leis e teorias. […] Essa verificação da coerência lógica entre os enunciados, ou entre teorias e leis, é um dos mecanismos que fornece um dos padrões de aceitação ou rejeição de uma teoria pela comunidade científica: os padrões da verdade sintática. Os enunciados científicos devem estar isentos de ambiguidade e de contradição lógica. É uma das condições necessárias, embora não suficiente. Esse critério de verdade refere-se exclusivamente à forma dos enunciados e serve para avaliar o acordo que existe entre as diferentes teorias utilizadas pela comunidade científica, permitindo o seu diálogo intersubjetivo e possível consenso. Em seguida, o referido autor (1997, p. 32) passa a explanar o ideal da objetividade, com os seguintes dizeres: O ideal da objetividade, por sua vez, pretende que as teorias cientificas, como modelos teóricos representativos da realidade, sejam construções conceituais que representem com fidelidade o mundo real, que contenham imagens dessa realidade que sejam “cercadeiras”, evidentes, impessoais, passíveis de serem submetidas a testes experimentais e aceitas pela comunidade científica como provadas em sua veracidade. Esse é o mecanismo utilizado para avaliar a verdade semântica. A objetividade do conhecimento científico se fundamenta em dois fatores, interdependentes entre si: (a) a possibilidade de um enunciado poder ser testado através de provas fatuais e (b) a possibilidade dessa testagem e seus resultados poderem passar pela avaliação crítica intersubjetiva feita pela comunidade científica. Apesar de as verdades sintática e semântica, em si só, serem suficientes para a validade do conhecimento religioso e do filosófico, as mesmas não garantem a objetividade do conhecimento científico, motivo pelo qual Köche (1997, p. 32) destaca: […] Apesar de a ciência trabalhar com dados, provas fatuais, ela não fica isenta de erros de interpretação dessas provas. Por mais que se esforce, o cientista, o investigador, estará sempre sendo influenciado pro uma ideologia, por uma visão de mundo, pela sua formação, pelos elementos culturais e pela época em que vive. Há uma expectativa que orienta a sua visão de mundo e a busca de explicações. Para minimizar os possíveis erros decorrentes de uma expectativa subjetiva, é que a ciência exige a intersubjetividade, isto é, a possibilidade de a comunidadecientífica ajuizar consensualmente sobre a investigação, seus resultados e métodos utilizados. A intersubjetividade é o terceiro mecanismo utilizado no conhecimento científico e que proporciona a verdade pragmática. Como se percebe, existem três verdades que imperam o processo de investigação científica: a verdade sintática, a verdade semântica e a verdade pragmática. São essas as principais razões pelas quais de o conhecimento científico ser considerado mais seguro, mais correto e mais confiável. Daí que as principais dessemelhanças entre o conhecimento dito científico do popular são: o seu sistematismo de investigação, o rigor da sua avaliação e a alta confiabilidade de suas informações e resultados. Neste diapasão, para que um conhecimento seja aceito como científico pela comunidade científica, ele “deverá, necessariamente, satisfazer a critérios que justifiquem a sua aceitação” (KÖCHE, 1997, p. 34), os quais são resultantes da utilização do denominado método científico, isto é, do conjunto de “procedimentos não padronizados adotados pelo investigador, orientados por postura e atitudes críticas e adequados à natureza de cada problema investigado” (KÖCHE, 1997, p. 35) Especificando os três critérios de cientificidade atualmente adotados pela comunidade científica, quando da validação do conhecimento como científico, Köche (1997. p. 35 e 36) passa a dizer: […] O que se aceita chamar de método científico é a forma crítica de produzir o conhecimento científico, que consiste na proposição de hipóteses bem fundamentadas e estruturas em sua coerência teórica (verdade sintática) e na possibilidade de serem submetidas a uma testagem crítica severa (verdade semântica) avaliada pela comunidade científica (verdade pragmática). Como se pode constatar, não há apenas um critério de verdade a ser adotado, mas três: o sintático, o semântico e o pragmático. Mesmo assim, a soma dos três não é suficiente para demonstrar a verdade de um determinado enunciado e justificar a sua aceitação como um resultado questionável. Esquematicamente, os três critérios ou mecanismos de cientificidade ou de verdade atualmente adotado pela comunidade científica para determinar se um conhecimento é válido ou não, podem ser representados do seguinte modo: CRITÉRIOS DE CIENTIFICIDADE Verdade sintática São enunciados lógicos, coerentes, consistentes e testáveis. Verdade semântica Alude-se à correspondência dos enunciados com os fatos, após a aplicação dos testes de falseabilidade. Verdade pragmática Resultante de rigorosa avaliação consensual pela comunidade científica quanto ao processo de investigação, seus resultados e métodos utilizados. Fonte: KÖCHE, 1997. Elaboração própria. Inobstante, infere-se que, no processo de investigação científica, sujeito e objeto são sempre dependentes e indissociáveis, razão pela qual é estimulada a criação de fundamentos mais sólidos para a construção do conhecimento e a testagem permanente de suas hipóteses de uma forma mais rígida e severa, por meio do “uso de enunciados com elevado poder de discriminação de testagem” e do “uso de métodos de investigação o máximo confiáveis” (KÖCHE, 1997, p. 33). Em contrapartida, embora o conhecimento científico seja mais seguro que o do senso comum, ainda assim ele também é falível. Sua natureza hipotética precisa ser continuamente submetida a uma revisão crítica, tanto na consistência lógica interna das suas teorias, quanto na validade dos seus métodos e técnicas de investigação, o que, consoante Köche (1997), percebe-se que historicamente já ocorre. 3 METODOLOGIA O presente trabalho caracteriza-se como uma pesquisa do tipo bibliográfico, abordado qualitativamente, e que utiliza o método crítico-dialético (histórico-estrutural) como sua base epistemológica, o método hipotético-dedutivo como sua base lógica e o método observacional não participante como sua base técnica. Utiliza a leitura como técnica multifuncional para coletar, organizar, analisar e interpretar os dados. Também utiliza a análise do discurso (AD) para a análise ou a interpretação dos dados. Segue explanação de cada um dos seus eixos metodológicos: 3.1 Eixo epistemológico: enfoque crítico-dialético (ou histórico-estrutural) Considerando que os fatos sociais não podem ser compreendidos quando considerados isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas e culturais, a tendência metodológica crítico-analítica fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade (MARTINS, 2008; GIL, 1999; 2010). Para Oliveira (1997, p. 69), são as seguintes as leis da dialética: a) Cada coisa é um processo, isto é, uma marcha, um tornar-se. Se se examina uma pera, vê-se que é uma síntese momentânea deste processo. Antes de ser pera foi flor e, posteriormente, poderá ser uma árvore. Conclui-se que está, no momento, submetida a uma lei interna de movimento. Dessa forma, as coisas não são consideradas como realizadas, mas, isto sim, em processo de realização. As coisas se modificam e se transformam em virtude das leis internas, do seu autodinamismo e das contradições que encerram. b) Existe um encadeamento dos processos. A flor se modifica em pera, esta em árvore e a árvore em húmus, este em novos processos vitais, químicos ou físicos, meio ambiente, etc. O mundo é o conjunto de todos os processos, onde tudo sofre uma transformação concentrada e progressiva. Este encadeamento dos processos não é circular, mas espiral. Basta ver que uma pera gera uma árvore, mas uma árvore gera milhares de peras, que não são integralmente idênticas à ancestral. c) No movimento dialético, as coisas trazem em si suas contradições. São levadas a transformar-se no seu contrário. O vivo, por exemplo, caminha para a morte. Conclui-se, de acordo com Hegel, que uma coisa é ao mesmo tempo ela própria – Tese – e uma contrária – Antítese. A coisa no momento é simplesmente uma Síntese. No método dialético temos duas divisões opostas: a que leva o ser para a sua construção, para ser precisamente o que não é. d) Em várias oportunidades, um processo que se orienta em ritmo quantitativo de repente muda qualitativamente. Considera-se qualitativo quando ocorre a mudança na natureza. Se quisermos uma certa quantidade de água, sua temperatura vai subindo quantitativamente 10, 15, 20 … 90 graus centígrados; aos 100 graus, entretanto, ocorre uma mudança brusca de estado físico. Ela entra em ponto de ebulição. Trata-se de uma mudança qualitativa. Ela deixa o estado líquido e passa para o gasoso, evaporação. Por estas razões, percebe-se que no encadeamento dos processos dialéticos as transformações acontecem quantitativa e qualitativamente (OLIVEIRA, 1997). 3.2 Eixo lógico: método hipotético-dedutivo A base estrutural dedutiva consiste no método de estrutura de pensamento mais utilizada, aceita, respeitada e defendida pelos cientistas racionalistas, devido ao nível de certeza por ela produzido (BÊRNI e FERNANDEZ, 2012). Historicamente, esse método originou outros dois bem parecidos no que tange à estrutura de pensamento: o axiomático-dedutivo e o hipotético-dedutivo. Sobre esses aspectos, Bêrni e Fernandez (2012, p. 49) ratificam: No método dedutivo, o caminho é inverso àquele seguido no método indutivo, uma vez que, partindo de alguns enunciados de caráter universal, inferem-se enunciados particulares. Como fruto do desenvolvimento conjunto da lógica e da matemática, a partir do final do século XIX, o método dedutivo pode ser aplicado a dois esquemas, historicamente mais recentes, que são o axiomático-dedutivo e o hipotético-dedutivo. O primeiro caso é útil quando as premissas de partidasão axiomas, não demonstráveis, como no caso das ciências formais. No segundo, ilustrado pelas ciências empíricas, os melhores resultados emergem de situações em que as premissas sejam hipóteses que se refiram a algum aspecto da realidade. [...] Com base nos pressupostos apresentados, deduz-se que o método dedutivo é a base mais confiável, razoável, e, portanto, segura de se estruturar o pensamento no processo de produção de conhecimento (BÊRNI e FERNANDEZ, 2012). 3.3 Eixo técnico: pesquisa observacional não participante, do tipo bibliográfico a) Abordagem de pesquisa: qualitativa A abordagem qualitativa é aquele que trata os dados concernentes à natureza dos fenômeno(s) investigado(s). Sobre essa abordagem de pesquisa, Rodrigues (2007, p. 38) diz: Qualitativa é a pesquisa que - predominantemente - pondera, sopesa, analisa e interpreta dados relativos à natureza dos fenômenos, sem que os aspectos quantitativos sejam a sua preocupação precípua, a lógica que conduz o fio do seu raciocínio, a linguagem que expressa as suas razões. Também não denota filiação teórico-metodológica, nem implica o uso de hipótese, de experimentação ou de qualquer outro detalhe. Sintetizando: qualitativa é a denominação dada à pesquisa que se vale da razão discursiva. [...] Levando-se em consideração a preocupação com a natureza do fenômeno investigado, ou seja, o caráter perspectivista da ciência, muito mais do que quaisquer aspectos quantitativos nele presente, então foi utilizada a abordagem qualitativa para a elaboração do artigo. b) Técnicas de pesquisa: b.1) Para coleta e organização dos dados Levantamento bibliográfico O levantamento bibliográfico, visa a coleta de dados secundários, ou seja, aqueles que já foram submetidos a algum tipo de manipulação, denominados literatura crítica. Ele é utilizado para a revisão da literatura e, portanto, necessário a todas as espécies de pesquisa. Configura-se na técnica de coleta de dados dos livros e dos trabalhos acadêmicos em geral, tais como TCC’s, monografias, dissertações, teses, artigos científicos, resenhas científicas, etc. Os seus instrumentos fundamentais são as bibliografias. Gil (2010, p. 29) explana sobre tal tipo de pesquisa com os seguintes dizeres: A pesquisa bibliográfica é elaborada com base em material já publicado. Tradicionalmente, esta modalidade de pesquisa inclui material impresso, como livros, revistas, jornais, teses, dissertações e anais de eventos científicos. Todavia, em virtude da disseminação de novos formatos de informação, estas pesquisas passaram a incluir outros tipos de fontes, como discos, fitas magnéticas, CDs, bem como o material disponibilizado pela internet. Para a execução do presente anteprojeto, pretende-se consultar trabalhos acadêmicos atualizados e relevantes buscando os esclarecimentos necessários sobre a regulação e a fiscalização das terceirizações e das quarteirizações do setor de telecomunicações brasileiro. De acordo com Gil (1999; 2010), não existem regras fixas para a realização de pesquisas bibliográficas, mas algumas tarefas que a experiência demonstra serem importantes. Dessa forma, seguiu-se o seguinte roteiro de trabalho: a) Exploração das fontes bibliográficas: livros, revistas científicas, teses, relatórios de pesquisa entre outros, que contêm não só informação sobre determinados temas, mas indicações de outras fontes de pesquisa; b) Leitura do material: conduzida de forma seletiva, retendo as partes essenciais para o desenvolvimento do estudo, e analítica, avaliando a qualidade das informações coletadas; c) Elaboração de fichas: foram elaborados fichas de citações, de resumo e bibliográficas, contendo as partes mais relevantes dos materiais consultados; d) Ordenação e análise das fichas: organizadas e ordenadas de acordo com o seu conteúdo, conferindo sua confiabilidade; e) Conclusões: obtidas a partir da análise qualitativa e quantitativa dos dados. Consultou-se, no decorrer da elaboração do artigo, bibliografias relevantes sobre o tema aplicando os procedimentos técnicos acima descritos (PIAGET, 1973; TEIXEIRA, 2012; KÖCHE, 1997; GIL, 1999, 2010; BÊRNI e FERNANDEZ, 2012; MARTINS, 2008; OLIVEIRA, 1997). b.2) Para análise ou interpretação dos dados: Análise de Discurso A Análise de Discurso (AD) é a técnica de interpretação de dados específica para a abordagem qualitativa. Ela está atrelada à metodologia das pesquisas observacionais, sendo bastante utilizada no campo das ciências sociais, visando descobrir fatos e causas do comportamento humano bem como compreender as interações humanas. Sobre tal técnica, Martins (2008, p. 55 e 58) elucida: [...] Ao perseguir o desafio de construir interpretações, a Análise do Dicurso (AD) parte do pressuposto de que em todo discurso há um sentido oculto que pode ser captado, o qual, sem uma técnica apropriada, permanece inacessível. [...] A AD permite conhecer o significado tanto do que está explícito na mensagem quanto do que está implícito - não só o que se fala, mas também como se fala. [...] A Análise do Discurso pode demonstrar que o que é lido não é a realidade, mas apenas um relato da realidade propositadamente construído de determinado modo, por determinado sujeito. Ao longo da história da ciência, na medida em que os métodos e as técnicas de pesquisa foram evoluindo, a AD foi dividida em duas grandes linhas, a anglo-saxã e a européia. Sobre esse aspecto, Martins (2008, p. 56-57) pontua: A AD pode ser dividida em duas amplas linhas que, embora apresentem diferenças metodológicas e teóricas, surgem, ambas, da necessidade imposta pela Linguística de definir uma nova unidade de análise que ultrapasse os limites da frase: o texto. Na linha anglo-saxã, ao contrário do que ocorre na corrente europeia, a AD não é afetada pela dicotomia saussuriana língua e fala e constitui, assim, mera extrapolação da gramática. [...] A linha europeia da AD segue a tradição, mais especificamente francesa, de atrelar uma perspectiva histórica ao estudo reflexivo dos textos. [...] A diferença fundamental entre a AD e a AC – Análise de Conteúdo – é que a primeira é utilizada para analisar e interpretar dados qualitativos, ao passo que a segunda, dados quantitativos (MARTINS, 2008). Desse modo, após a coleta, a organização, a sistematização e o registro dos dados, utilizou-se a análise do discurso buscando na visão dos autores da literatura crítica sobre o tema um retrato fidedigno do caráter perspectivista da ciência. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Constata-se que o conhecimento científico possui natureza hipotética, testável e, por esse motivo, falível; trata-se das denominadas ciências particulares, cujos objetos de investigação sã ps seres particulares; as ciências particulares, por abrangerem os mais diversos temas e áreas de pesquisa podem se valer de praticamente todos os meios lógicos e técnicos de investigação, adequando-os sempre, é claro, ao tipo de pesquisa realizada. O conhecimento filosófico difere do científico quanto à natureza, ao objeto de investigação, à abordagem bem como aos meios lógicos e técnicos utilizados na sua produção. O primeiro possui natureza não-hipotética, não-testável e, por essa razão, infalível; a filosofia é uma ciência que trata universalmente do ser como ser; sua abordagem é essencialmente qualitativa, não-experimental; os meios lógicos comumente utilizados são a maiêutica, de Sócrates, a dialética, de Platão, e a lógica, de Aristóteles, e os meios técnicos comumente utilizados são a indução, a descrição, a generalização. O conhecimento religioso, por sua vez, possui a mesma natureza, abordagem e meios lógicos e técnicos utilizados dofilosófico, diferindo-se dele, entretanto, quanto ao objeto de investigação, que, nesse caso, trata da relação entre a razão e a fé. Com base na literatura crítica investigada, infere-se que em razão do caráter perspectivista da ciência, ou seja, da sua provisoriedade, testabilidade, infinitude e infabilidade, existem três verdades que imperam o processo de investigação científica: a verdade sintática, a verdade semântica e a verdade pragmática. São essas as principais razões pelas quais de o conhecimento científico ser considerado mais seguro, mais correto e mais confiável. Uma vez superados os testes de falseabilidade, as hipóteses não rejeitadas são consideradas razovelmente fidedignas. REFERÊNCIAS BÊRNI, Duilio de Avila; FERNANDEZ, Brena Paula Magro. Métodos e técnicas de pesquisa: modelando as ciências empresariais. São Paulo: Saraiva, 2012. 440 p. CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13ª edição. São Paulo: Afiliada, 2005. 424 p. DINIZ, Célia Regina; DA SILVA, Iolanda Barbosa. Leitura: análise e interpretação. Natal: UEPB/UFRN, 2008. 20 p. Disponível em <www.ead.uepb.edu.br/ava/.../Met_Cie_ A06_ M_WEB_310708.pdf>. Acessado em: 13 de agosto de 2014. ECO, Umberto. Como se faz uma tese. Tradução de Gilson César Cardoso de Souza. São Paulo: Perspectiva, 2012. 24ª edição. 174 p. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ª edição. São Paulo: Atlas, 1999. 206 p. _______________. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª edição. São Paulo: Atlas, 2010. 184 p. GILES, Thomas Ransom. Introdução à filosofia. São Paulo: EPU/USP, 1979. 324 p. KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e iniciação à pesquisa. Petrópolis: Vozes, 1997. 182 p. MARTINS, Gilberto de Andrade. Estudo de caso: uma estratégia de pesquisa. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2008. 101 p. OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratado de Metodologia Científica. São Paulo: Pioneira, 1997. PIAGET, Jean. Psicologia e epistemologia: por uma teoria do conhecimento. 1ª edição. Rio de Janeiro: Forense Rio, 1973. 158 p. RODRIGUES, Rui Martinho. Pesquisa acadêmica: como facilitar o processo de preparação de suas etapas. São Paulo: Atlas, 2007. 177 p. SOARES, Edvaldo. Metodologia científica: lógica, epistemologia e normas. São Paulo: Atlas, 2003. 138 p. TEIXEIRA, Elizabeth. As três metodologias: acadêmica, da ciência e da pesquisa. 9ª edição. Petópolis-RJ: Vozes, 2012. 203 p.
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