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Trabalho 2013.02

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Na crise, perplexidade entre mercado e Estado. 
Desde que nova turbulência global pôs em xeque capitalismo liberal, não há consenso para lidar com 
nova realidade. 
GILBERTO SCOFIELD JR. – ECONOMIA – O GLOBO - Publicado: 29/01/12, p. 50. 
SÃO PAULO. Quando, a partir da década de 80, as reformas econômicas na China, a queda do Muro 
de Berlim e o colapso da União Soviética sepultaram a viabilidade das economias prósperas de 
esquerda, muitos historiadores e economistas decretaram a vitória do capitalismo como o único 
sistema capaz de conciliar riqueza e democracia. Essa nova ordem foi chamada pelo historiador 
americano Francis Fukuyama de "o fim da História". Trinta anos depois, com a crise econômica 
deflagrada em 2008 nos Estados Unidos, que arrastou a zona do euro, foi a vez de o capitalismo 
liberal ser bombardeado como incapaz de trazer justiça e inclusão social. 
Desde que a crise ceifou bilhões de dólares em riqueza e milhões de empregos em todo o mundo, 
não há consenso sobre como lidar com essa nova realidade, em que nem a mão invisível do mercado 
nem o Estado provedor parecem capazes de pôr fim à injustiça social e às tiranias políticas. De um 
lado, fala-se que a saída da crise inclui aumentar a regulação e fiscalização por parte dos governos, 
ampliar os investimentos públicos e reforçar a rede de proteção social. Do outro, pede-se que os 
Estados gastem menos e poupem mais, que sistemas de bem-estar social sejam reduzidos e que 
estatais sejam privatizadas. 
Rogoff: ‘Será o capitalismo vítima de seu próprio sucesso?’ 
Das reuniões do Fórum Econômico Mundial, em Davos, a universidades de todo o mundo, o futuro 
do capitalismo como o conhecemos parece estar em uma encruzilhada. O próprio Fukuyama — no 
artigo "O choque de ideias", publicado na revista "Foreign Affairs", do Council of Foreign Relations — 
admite que o capitalismo globalizado e ultraliberal das últimas décadas foi danoso, encolhendo a 
classe média nos países industrializados, aumentando o abismo entre ricos e pobres e ameaçando a 
própria democracia. 
Em sua penúltima edição, a revista britânica "The Economist" analisou o conceito de capitalismo de 
Estado, executado em China, Rússia e Brasil. Neste, a economia tem no Estado um de seus principais 
atores, ainda que competitividade, produtividade e livre iniciativa sejam os principais motores. O 
economista de Harvard e prêmio Nobel Kenneth Rogoff, em recente ensaio ("O capitalismo moderno 
é sustentável?"), garante que todas as formas de capitalismo são transitórias e que o sistema 
econômico ideal não é o ultraliberalismo americano, o bem-estar social europeu ou o capitalismo de 
Estado dos países emergentes. 
“Será o capitalismo uma vitima de seu próprio sucesso na criação de riqueza em massa? Até agora, 
apesar do modismo em torno do seu suposto fim. a possibilidade parece remota. Ainda assim, à 
medida que a poluição, a instabilidade financeira, os problemas na saúde pública e a desigualdade 
continuam a crescer, e os sistemas políticos permanecem paralisados, o futuro do capitalismo pode 
não parecer tão seguro daqui a algumas décadas como parece agora", afirmou Rogoff. 
— Mesmo durante o laissez faire liberal, as intervenções estatais nas economias nunca deixaram de 
acontecer. Os bancos centrais, por exemplo, são intervenções do Estado na economia — diz llan 
Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor de Política Econômica do BC. — A confusão 
atual deriva da perda de confiança das pessoas, especialmente nos EUA e Europa, na capacidade de 
autorregulação dos mercados. O que se percebe hoje é a defesa do capitalismo com o Estado mais 
presente. 
A perplexidade diante de sugestões de saída para a crise aparentemente antagônicas, diz a 
economista Eliana Cardoso, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), ex-Banco Mundial e 
Fundo Monetário Internacional (FMI), ocorre porque a crise atingiu, de forma diferente, países com 
sistemas econômicos em estágios diversificados. — Quem usa a expressão "fim do capitalismo da 
forma como o conhecemos" talvez se refira a fenômenos que coincidiram recentemente. Como o fim 
do período de forte expansão, que começou na década de 90 e durou até 2008; o fim do 
dogmatismo neoliberal, que cercou a liberalização exagerada dos mercados financeiros no mesmo 
período; a importância crescente da China no cenário internacional; e a consciência de que existe um 
processo de transição de riqueza e poder entre as nações do globo — explica Eliana. 
Para o professor, emergentes têm 'megakeynesianismo' 
Marcos Troyjo, diretor do BricLab da Universidade de Columbia e professor do Ibmec, cita o filósofo 
comunista italiano Antônio Gramsci para definir o atual momento de perplexidade econômica. Em 
1929, Gramsci descreveu a ebulição política do pós-guerra e da Grande Depressão como um tempo 
em que "o velho morre e o novo não pode nascer". Para Troyjo, a própria ideia de prosperidade 
ocidental está em jogo; 
— Nos EUA, houve um descolamento da ganância do setor financeiro do resto da sociedade, que é 
muito criadora e inovadora, ainda que irresponsável com dinheiro. Na Europa, a crise da dívida 
soberana atingiu com mais força os países que não são mais produtivos. Essa ideia de prosperidade a 
que todos almejavam foi atingida em cheio. Nos emergentes e países periféricos não há sequer 
capitalismo desenvolvido. Há um megakeynesianismo, ou seja, uma superênfase em regulação e 
investimento do Estado. São perfis econômicos diferentes que embaralham as soluções. 
O professor do Insper Ségio Lazzaríni, que com o professor de Harvard Aldo Musacchio elaborou o 
estudo "Leviatã como acionista minoritário", citado pela "Economist", vê exagero nas previsões do 
fim do capitalismo e lembra que a economia funciona em ciclos: 
— Apesar da gritaria antiprivatização da esquerda brasileira, o Estado manteve controle direto e 
indireto sobre muitas das empresas privatizadas, e até hoje é um dos principais atores econômicos 
no Brasil. Então que se vê é que a crise pegou países em estágios diferentes de capitalismo fora do 
eixo anglo-saxão. Além disso, o leme do crescimento vem desde 2003 se deslocando dos países 
desenvolvidos para os Brics. Então não é sem razão que vivemos tempos confusos.

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