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2 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS Danielle Saraiva Tuma dos Reis Irene de Jesus Silva INTRODUÇÃO Tanto a concepção quanto a prática da as- sistência de enfermagem prestada aos portadores de doenças transmissíveis estão atreladas ao avan- ço do conhecimento científico e aos significados atribuídos pela sociedade à saúde e à doença, ao longo da história da humanidade. A história das doenças transmissíveis é descrita desde a época das grandes epidemias que assolaram a Europa, como a lepra e a peste negra. Essas doenças eram compreendidas sob duas concepções: a ontológi- ca, como algo externo ao homem, que não fazia parte da natureza humana e sua origem poderia ser natural ou sobrenatural, representada como um castigo dos deuses para a impureza espiritual humana, e a dinâmica, resultante de um desequi- líbrio ou uma desarmonia entre as forças vitais, que compreendia um processo ocorrido no inte- rior do homem, talvez advindo de um desarranjo do equilíbrio dos quatro humores presentes no planeta: a terra, o ar, a água e o fogo (CANGUI- LHEM, 2006). Nessa época, a assistência à saúde funciona- va muito precariamente, pois pobres, inválidos e doentes eram abrigados em hospitais como pere- grinos e recebiam cuidados exercidos por leigos, principalmente religiosos e, paradoxalmente, por proscritos que pagavam penitência. Por sua vez o cuidado propriamente com os doentes era exerci- do pelos familiares nos seus domicílios. O hospi- tal passou a ser um local de assistência aos doen- tes, quando impulsionado pelo desenvolvimento do capitalismo industrial. De abrigo aos excluídos da sociedade à nova formulação, o hospital so- freu modificações, apesar das condições de higie- ne precárias e a prática de enfermagem realizada ainda de forma muito rudimentar (FOUCAULT, 1976). Relatos sobre o início das práticas de isola- mento pela enfermagem são escassos. Em 1863, Florence Nightingale, fundadora da escola de en- fermeiras em Londres e reconhecida como mar- co na chamada “enfermagem moderna”, estabe- leceu as primeiras recomendações sistematizadas relacionadas ao cuidado do paciente, enfatizando a necessidade de limpeza do ambiente hospitalar. Em consonância com os conhecimentos produ- zidos até aquele momento, os ensinamentos de Nightingale concebiam a transmissão de doenças por substâncias do corpo e a intervenção voltava- -se para o ambiente hospitalar, como cuidados em relação ao ar puro, luz, calor, limpeza, enfa- tizando a necessidade de separação dos doentes infectados dos não infectados (NIGHTINGALE, 1860). Somente mais tarde, com o estabelecimen- to de uma causa microbiológica da doença, pela demonstração experimental feita por Pasteur e Koch, entre 1877 a 1897, houve novas possibili- dades de formulações teóricas e intervenções so- bre a questão do controle das doenças transmis- síveis. O desenvolvimento nos conhecimentos da bacteriologia, da imunologia e da epidemiologia propiciaram a formulação dos conceitos relacio- nados ao microrganismo produtor de infecção e doença. Definiram-se, ainda, as propriedades dos hospedeiros e estabeleceram-se explicações sobre modos de transmissão, isto é, vias e condi- ções pelas quais os microrganismos penetram no 2 Medicina Tropical e Infectologia na Amazônia organismo, conhecidas como “cadeia epidemio- lógica” (CZERESNIA, 1997). Quanto à ocorrência das doenças transmissí- veis, novas doenças foram introduzidas, a exem- plo da aids e de outras que apresentam elevada velocidade de disseminação. Doenças “antigas”, como a cólera e a dengue, ressurgiram, e ende- mias importantes, como a tuberculose e as me- ningites, continuam persistindo, fazendo com que esse grupo de doenças represente um expressivo problema de saúde pública. Esse cenário reflete as transformações sociais ocorridas no mundo a partir da década de 70, com fatores que contribu- íram para o delineamento do atual perfil epide- miológico das doenças transmissíveis em todo o mundo (MARTINS, 2009; BRASIL, 2009). No Brasil, diversos estudos sobre a situação de saúde da população apontam para a ocorrên- cia, no final do século XX, de declínio nas taxas de mortalidade devido às doenças infecciosas e parasitárias (DIP) e, em especial, às doenças transmissíveis, para as quais se dispõe de medidas de prevenção e controle. Por outro lado, embora a tendência verificada para a morbidade por esse grupo de causas seja igualmente decrescente, a sua velocidade de queda não apresenta a mesma intensidade observada na mortalidade. Exem- plos: a mortalidade por DIP, em 1930, era res- ponsável por 45,7% de todos os óbitos do país, o que continuou decrescendo ao longo das décadas seguintes; no período de 2000 a 2007, ainda se mantinham em torno de 8,4% e em 2008 foi de 4,8%; nas regiões Norte (6,5% em 2008) e Nor- deste (5,0% em 2008), os valores são ainda mais elevados (MARTINS, 2009; BRASIL, 2009; BRA- SIL, 2010). Esses fatores agregam-se ao surgimento de novas doenças ou novas formas de manifestação das doenças na população, aumento na severi- dade, causado pelo surgimento de novas cepas patogênicas, ampliação da resistência aos anti- microbianos e persistência de problemas como a desnutrição e doenças endêmicas, a exemplo da tuberculose (MARTINS, 2009). Para tanto, é necessário compreender a cadeia epidemiológica das doenças transmissíveis no que diz respeito ao correto diagnóstico e tratamento dos pacientes, associada ao encaminhamento e adoção das me- didas de controle indicadas em tempo hábil, para desempenhar importante papel na redução de uma série de morbidades. CADEIA EPIDEMIOLÓGICA Segundo o modelo da tríade epidemiológi- ca, para que haja infecção é necessário haver um agente específico, um meio ambiente propício à transmissão e um hospedeiro suscetível. A inte- ração desses três elementos é representada pela cadeia epidemiológica, com a qual se tenta orde- nar a sequência dos principais aspectos biológi- cos envolvidos nos eventos que levam à doença. O desenvolvimento de uma infecção ocorre em um processo cíclico que depende de seis compo- nentes (Desenho 1.2): agente infeccioso ou pa- tógeno, reservatório para o desenvolvimento do patógeno, porta de saída do reservatório, meios ou veículos de transmissão, porta de entrada para o hospedeiro e hospedeiro suscetível (PEREIRA, 2003; BRUNNER; SUDDARTH, 2005). Nas doenças transmissíveis, a febre amarela, que é um exemplo da cadeia epidemiológica, pos- sui um ciclo silvestre da doença, devido à trans- missão do vírus entre macacos, através da picada de determinadas espécies de mosquitos infectados. Em algumas ocasiões, o homem entra no círculo, quando é infectado pelo mosquito, o que pode dar início a uma nova cadeia de transmissão, inter-hu- mana, também intermediada por mosquitos (PE- REIRA, 2003). Os esforços do profissional para controlar a infecção devem ser dirigidos à quebra da cadeia de infecção, a fim de impedir seu desen- volvimento (POTTER; PERRY, 2009). AGENTE INFECCIOSO Os agentes infecciosos são organismos pa- togênicos que incluem as bactérias, fungos, vírus, 3Assistência de Enfermagem em Doenças Transmissíveis riquétsias, protozoários e helmintos. A invasão do corpo por patógenos ou microrganismos cau- sa infecção capaz de dar origem à doença, através de lesão celular local, liberação de toxinas ou in- dução de reações antígeno-anticorpo. Entretanto o organismo possui suas próprias defesas contra infecções, mas, caso isso não aconteça, a infecção pode causar sérias complicações e até mesmo a morte (POTTER; PERRY, 2009). Os patógenos podem se originar de fontes endógenas, como a flora comensal endógena ou residente da qual o paciente é portador, adere à superfície da pele e não é removida com simples lavagem;e de fontes exógenas ou transitórias que têm aquisição recente através de objetos anima- dos ou inanimados dentro do hospital (AGUIAR; LIMA; SANTOS, 2008). Diversas características do agente são impor- tantes na manifestação ou não do processo in- feccioso, no organismo do hospedeiro, tais como infectividade, patogenicidade e virulência. Varia- ções na composição genética do agente podem também alterar profundamente as manifestações do processo infeccioso, como as diferentes cepas de uma mesma espécie as quais variam em sua capacidade de produzir doença. Por exemplo: Tratamento com doenças adjacentes Identificação dos pacientes de alto risco AGENTE INFECCIOSO - Bactérias - Fungos - Vírus - Riquétsias - Protozoários RESERVATÓRIOS- Pessoas - Equipamento - Água Identificação rápida e exata dos organismos PORTA DE SAÍDA - Excreções - Secreções - Pele - Gotículas MEIOS DE TRANSMISSÃO - Contato direto - Gotículas - Aerossóis - Veículo comum - Vetor PORTA DE ENTRADA - Mucosa - Trato GI - Trato GU - Trato respiratório - Ruptura cutânea Técnica asséptica Cuidado do cateter Cuidado da ferida Lavagem das mãos Esterilização Precauções padronizadas Controle do fluxo de ar Manuseio de alimento Isolamento Descarte de lixo e resíduos Controle de excreções e secreções Lavagem das mãos Desinfecção/ esterilização Saúde do empregado Condições sanitárias ambientais HOSPEDEIRO SUSCETÍVEL - Imunossupressão - Diabetes - Cirurgia - Queimaduras - Idosos Desenho 1.2 - Cadeia Epidemiológica e as intervenções de profissionais de saúde para quebrar a cadeia de transmissão da infecção. Fonte: Brunner e Suddarth (2005). 4 Medicina Tropical e Infectologia na Amazônia uma das hipóteses para explicar a variação regio- nal das manifestações clínicas da doença de Cha- gas repousa na existência de diferentes cepas de tripanossomas. Mutações genéticas, por sua vez, fazem com que recursos já disponíveis, como as vacinas contra a gripe, deixem de ser eficazes para os vírus mutantes (PEREIRA, 2003). RESERVATÓRIO O reservatório é o termo empregado para pessoa, vegetal, animal, substância ou localização que forneça nutrição para os microrganismos e possibilite a dispersão adicional do organismo. As infecções podem ser evitadas ao se eliminar os organismos etiológicos do reservatório pela ma- nutenção da saúde do indivíduo, boas práticas de higiene, condições sanitárias ambientais adequa- das, métodos de desinfecção e esterilização de ar- tigos e equipamentos, entre outros (BRUNNER; SUDDARTH, 2005). PORTA DE SAÍDA Uma vez que os microrganismos encontram um local para multiplicar-se e desenvolver-se, de- vem encontrar uma porta de saída para penetrar em um hospedeiro e causar doença. Os microrga- nismos podem externar-se em vários locais, como a pele e membranas mucosas, tratos respiratório, gastrointestinal, reprodutor e corrente sanguínea, através de excreções, secreções e gotículas (POT- TER; PERRY, 2009). O tempo, durante o qual os agentes aban- donam o hospedeiro, representa o “período de transmissibilidade”, variável para cada doença, mas que pode ser conhecido pela observação de grupos de pacientes. A duração desses períodos permite fixar a extensão do isolamento requerido aos pacientes para que se evite ou se limite a pro- pagação da infecção (PEREIRA, 2003). MEIOS DE TRANSMISSÃO Os microrganismos podem ser transmitidos do reservatório ao hospedeiro por uma das cinco vias: contato, gotículas, aerossóis, veículo comum e vetor. Algumas doenças infecciosas tendem a ser transmitidas mais comumente através de mo- dos específicos. Mais de uma via pode servir às vezes de transmissão do agente patogênico du- rante um único episódio, e esse mesmo agente pode ser transmitido por diferentes vias em di- ferentes ocasiões, conforme descrito no Quadro 1.2 (AGUIAR; LIMA; SANTOS, 2008; GOMES; COUTO, 2004; RICHTMANN, 2008). PORTA DE ENTRADA Os organismos podem entrar no corpo de um indivíduo pelas mesmas vias que usam para sair, através da mucosa, trato gastrointestinal, trato ge- niturinário, respiratório ou ruptura cutânea. Por exemplo: quando agulhas contaminadas penetram na pele do paciente, os organismos se alojam no corpo; ou a obstrução do fluxo urinário, através de um cateter urinário, permite que os organismos penetrem na uretra (POTTER; PERRY, 2009). HOSPEDEIRO SUSCETÍVEL Para que aconteça a infecção, o hospedeiro deve ser suscetível (não possuir imunidade para determinado patógeno). A infecção prévia ou a administração de vacina podem tornar o hospe- deiro imune (não suscetível) à infecção adicional por um agente. Muitas infecções são evitadas por causa da defesa imune humana vigorosa. Embora a exposição a microrganismos, poten- cialmente infecciosos, ocorra essencialmente em uma base constante, os sistemas imunes elabora- dos, geralmente, evitam a ocorrência da infecção (AGUIAR; LIMA; SANTOS, 2008; BRUNNER; SUDDARTH, 2005). Por outro lado, o hospedeiro pode atuar como portador, ou seja, albergar um agente in- feccioso sem desenvolver a infecção. O estado de portador pode ocorrer nas infecções inaparentes (portador são), no período de incubação da doen- ça, na fase de convalescença e mesmo após a con- valescença (portador crônico) (PEREIRA, 2003). 5Assistência de Enfermagem em Doenças Transmissíveis MEDIDAS DE CONTROLE São consideradas medidas de controle ou preventivas todas aquelas utilizadas para evitar as doenças ou suas consequências e interromper o processo da doença que já se instalou no organis- mo humano (PEREIRA, 2003). Para evitar que uma infecção se desenvolva ou se dissemine, o profissional deve reduzir os números e tipos de microrganismos transmiti- dos aos locais em potencial para infecção, eli- minar os reservatórios de infecção, controlar as portas de entrada ou de saída e evitar ações que transmitam microrganismos (POTTER; PERRY, 2009). A assistência de enfermagem atua nas di- versas medidas preventivas contra as doenças transmissíveis, as quais, segundo Pereira (2003), se classificam em medidas inespecíficas e especí- ficas; prevenção primária, secundária e terciária; cinco níveis de prevenção, com sua terminologia própria; e as medidas universais, seletivas e indi- vidualizadas. Visando a enfocar os períodos da história natural da doença, das propriedades do agente infeccioso, da resistência do hospedeiro e dos fa- tores do meio ambiente, procurou-se direcionar, neste capítulo, as ações de enfermagem às medi- das de prevenção primária, secundária e terciária, com ênfase ao controle dos componentes da ca- deia epidemiológica. A prevenção primária desenvolve-se no pe- ríodo de pré-patogênese da história natural das doenças, período em que a perfeita interação en- tre agente, hospedeiro e meio ambiente favorece a manutenção da saúde do indivíduo, correspon- dendo, assim, à fase em que não ocorre doença no homem. Nessa fase, as medidas de promoção visam a nortear um padrão de vida compatível para a manutenção da saúde, enquanto as me- didas de proteção específica têm como objetivo “quebrar um dos elos da cadeia epidemiológica”, conforme descritos abaixo (LEAVELL; CLARK, 1978). Tão logo o processo da doença seja detec- tado, no início de patogênese, deve-se fazer a Mecanismo Definições e exemplos Agentes Infecciosos Contato Transferência de microrganismo por toque/ manipulação de reservatório Direto Pessoa a pessoa (toque, beijo, contato sexual etc) HIV, Hepatites A e B, estafilococos etc. Indireto Fômites (instrumentos cirúrgicos, curativos, brinquedos transferidos de boca em boca, bolsas coletoras de urina etc.) Hepatite B, CMV, pseudomonas,estafilococos etc. Gotículas Partículas grandes e pesadas expelidas por hospedeiro infectado, em contato próximo (< 90 cm) (tosse, espirro) Influenza, caxumba, rubéola, estreptococos, pertussis etc. Por Aerossóis Partículas pequenas e leves carreadas pelo ar e que podem ficar em suspensão aérea por longos períodos Sarampo, tuberculose, varicela Veículo Substância que mantém o microrganismo vivo até inoculação/ingestão do hospedeiro (água, sangue, fezes, alimentos, medicamentos, etc.) Salmonela, HIV, hepatites B, C e A, cólera, legionela etc. Vetor Artrópedes que transmitem agentes infecciosos por picadas ou depósito destes sobre a pele ou alimentos (mosquitos, moscas, etc.) Malária, febre amarela, dengue etc. Quadro 1.2 - Definições e exemplos dos mecanismos de transmissão. Fonte: Richtmann (2008). 6 Medicina Tropical e Infectologia na Amazônia prevenção secundária, por meio de diagnóstico precoce e tratamento imediato. Quando o pro- cesso de patogênese houver progredido e a do- ença, avançado além de seus primeiros estágios, a prevenção secundária deve ser continuada, por meio de tratamento adequado, para evitar sequelas e limitar a invalidez. Mais tarde, quando o defeito e a invalidez se tiverem fixado, pode-se aplicar a prevenção terciária, através de reabilita- ção (LEAVELL; CLARK, 1978). Recentemente, surgiu outro nível de preven- ção, a prevenção quaternária, também designada de prevenção da iatrogenia, a qual visa, por um lado, evitar ou atenuar o excesso de interven- cionismo médico associado a atos médicos ina- propriados e, por outro, fornecer aos pacientes a informação necessária para poderem tomar decisões autônomas, sem falsas expectativas, co- nhecendo as vantagens e as desvantagens dos métodos diagnósticos ou terapêuticos propostos. Assim a prevenção quaternária deve ser desenvol- vida continuamente e em paralelo com a ativida- de clínica, de modo a evitar o uso desnecessário e o risco das intervenções médicas (ALMEIDA, 2005; HESPANHOL; COUTO; MARTINS, 2008; JAMOULLE, 2000). PRECAUÇÕES BASEADAS NA TRANSMISSÃO As doenças transmissíveis representam um problema de abrangência mundial, constituindo uma das principais causas de morbidade e letali- dade. Além da magnitude relacionada ao pacien- te, há a problemática de igual importância do pro- fissional da área da saúde, que está em risco ocu- pacional permanente. Se a exposição é uma pre- missa constante, tanto para profissionais quanto para pacientes, medidas de intervenção têm sido propostas para minimizar tal situação, e uma das estratégias previstas refere-se à implementação das precauções baseadas na transmissão ou iso- lamento em doenças transmissíveis usadas para o controle de patógenos (MELO et al., 2006; POT- TER; PERRY, 2009). Visando padronizar as precauções para o isolamento de pacientes com infecções e doenças transmissíveis, os CDC’s dos Estados Unidos pu- blicaram vários manuais desde 1970, conforme descrição no Quadro 2.2. Recentemente foi lan- çado novo manual que manteve a terminologia de precauções-padrão e precauções baseadas na forma de transmissão (NICHIATA et al., 2004; SIEGEL et al., 2007). 1970 1975 1983 1987 1996 1- Isolamento total ou estrito 2- Isolamento respiratório 3- Isolamento protetor ou reverso 4- Precauções entéricas 1- Isolamento estrito 2- Isolamento respiratório 3- Isolamento protetor ou reverso 4- Precauções entéricas 5- Precauções com pele/feridas 6- Precauções com secreções 7- Precauções com sangue 1- Isolamento estrito 2- Isolamento respiratório 3- Isolamento para tuberculose 4- Precauções entéricas 5- Isolamento de contato 6- Precauções com secreções e drenagem 7- Precauções com sangue e fluidos corporais 1- Isolamento estrito 2- Isolamento respiratório 3- Isolamento para tuberculose 4- Precauções entéricas 5- Isolamento de contato 6- Precauções universais (PU) 1- Precauções-padrão (PP) 2- Precauções baseadas na forma de transmissão: 2.1- Precauções por aerossóis 2.2- Precauções por gotículas 2.3- Precauções por contato Quadro 2.2 - Categorias de isolamento/precauções, segundo o ano de publicação das recomendações (Brasil, 1970 a 1999). Fonte: Nichiata et al. (2004). 7Assistência de Enfermagem em Doenças Transmissíveis As precauções-padrão passaram a incorpo- rar as precauções universais e o isolamento para substâncias corpóreas, devendo ser adotadas em estabelecimentos de saúde, durante a assistência a qualquer paciente com processo infeccioso e/ ou suspeita de contaminação, sempre que houver possibilidade de exposição a fluidos corporais, se- creções e excreções, com ou sem sangue, à pele com solução de continuidade e às membranas mucosas (RICHTMANN, 2008). Para as precauções-padrão, são considera- dos o uso de equipamentos de proteção indivi- dual como barreiras para evitar a contaminação (máscaras, luvas, avental, óculos protetores), as vacinas e, principalmente, a medida mais antiga e eficiente, a higienização das mãos com água e sabão (MELO et al., 2006; NEVES et al., 2006). Em conjunto com as precauções-padrão, foram estabelecidas as precauções baseadas na transmissão, indicadas para pacientes comprova- damente infectados, ou suspeitos de sê-los, com patógenos altamente transmissíveis ou epidemio- logicamente importantes para os quais medidas adicionais às precauções-padrão são necessárias para interromper a transmissão nos hospitais. Há três tipos de precauções baseadas na trans- missão: precauções aéreas, por gotículas e por contato. Usadas isoladamente ou combinadas, pressupõem sempre o uso simultâneo das pre- cauções-padrão (GOMES; COUTO, 2004; NI- CHIATA et al., 2004). PRECAUÇÕES COM CONTATO As precauções com contato visam impedir o risco de transmissão de agentes epidemiologica- mente importantes, por contato direto ou indireto. Este tipo de transmissão envolve o contato pele a pele e a transferência física proveniente de indiví- duo infectado ou colonizado por microrganismo para um hospedeiro suscetível, tal como ocorre quando o profissional muda o paciente de posição, dá-lhe banho ou realiza atividades de atendimento que exigem o contato físico. Pode ocorrer também entre dois pacientes, pelo contato das mãos. Den- tre as doenças que são transmitidas por contato, incluem-se: as gastroenterites, o impetigo, a pedi- culose, a escabiose, o herpes simples, o zóster, a furunculose infantil, a difteria cutânea e a hepatite A. Para este tipo de precauções, é indicada a utili- zação de luvas e avental, quarto privativo ou coorte quando os pacientes apresentarem a mesma doen- ça (NICHIATA et al., 2004; RICHTMANN, 2008; SIEGEL et al., 2007). PRECAUÇÕES AÉREAS As precauções aéreas são indicadas para re- duzir o risco de transmissão de agentes infeccio- sos veiculados pelo ar (partículas residuais pe- quenas, com 5 mm ou menos), provenientes de gotículas evaporadas e que podem permanecer em suspensão no ar por longo período de tempo ou de partículas de poeira contendo um agente infeccioso. Os microrganismos carregados dessa forma podem ser dispersos para longe, pelas cor- rentes de ar e podem ser inalados ou depositados em um hospedeiro suscetível, dentro do mesmo quarto ou à longa distância do paciente-fonte, de- pendendo dos fatores ambientais. Por esse mo- tivo, exige-se um quarto privativo com pressão negativa em relação ao corredor e filtragem deste ar, antes da circulação em outras áreas, devendo manter a porta fechada. As precauções aéreas aplicam-se aos patógenos conhecidos que podem ser assim transmitidos, o que inclui o bacilo da tuberculose, o vírus do sarampo e o da varicela. Nesse tipo de precaução, indica-se o uso de más- caras especiaiscom maior poder de filtragem, a N95, e quando houver possibilidade de contato com secreções, usar aventais e máscaras (RICHT- MANN, 2008; SIEGEL et al, 2007). PRECAUÇÕES COM GOTÍCULAS As precauções com gotículas são indicadas para evitar o risco de transmissão de agentes in- fecciosos veiculados por vias aéreas, através de contato com a conjuntiva e com a mucosa do na- riz ou da boca de um indivíduo suscetível com gotículas de tamanho maior do que 5 mm, ori- 8 Medicina Tropical e Infectologia na Amazônia ginadas de um indivíduo-fonte, sobretudo du- rante a tosse, o espirro ou a conversa e durante a realização de certos procedimentos, como a sucção ou a broncoscopia. A transmissão dessas gotículas requer um contato mais próximo entre o indivíduo-fonte e o receptor, porque não per- manecem suspensas no ar e, geralmente, se espa- lham através dele, a uma distância de aproxima- damente um metro. Por esta razão, recomenda-se quarto privativo ou coorte quando os pacientes apresentarem a mesma doença. Como exemplo de infecções e doenças que exigem essas precau- ções, têm-se a meningite meningocócica, a me- ningite por Haemophilus influenzae, as pneumonias e as difterias em geral. Como equipamentos de proteção individual, é indicado o uso de máscaras cirúrgicas e, quando houver contato com secre- ções, o avental e a luva (NICHIATA et al., 2004; RICHTMANN, 2008; SIEGEL et al, 2007). FUNDAMENTOS DE ISOLAMENTO E PRECAUÇÕES É importante que o profissional esteja sem- pre atento às técnicas de assepsia clínica quando estiver atendendo um paciente em um quarto de isolamento. Se o profissional trouxer qualquer tipo de material para dentro do quarto, ou deixar um objeto em contato com material infectado e então tocá-lo ou removê-lo, aumenta o risco de transmi- tir infecções a outros pacientes ou profissionais. A seguir, são descritos alguns fundamentos que devem ser adotados durante a prestação da assis- tência ao paciente com doenças transmissíveis. HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS A higienização das mãos é a medida mais importante e eficaz na prevenção e controle da transmissão de patógenos. Recentemente, o ter- mo “lavagem das mãos” foi substituído por “hi- gienização das mãos”, englobando a higienização simples, a higienização antisséptica, a fricção an- tisséptica e a antissepsia cirúrgica das mãos (AS- SOCIAÇÃO PAULISTA DE ESTUDOS E CON- TROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR, 2003; NEVES, 2006; BRASIL, 2007). A higienização simples das mãos tem a fina- lidade de remover os microrganismos que coloni- zam as camadas superficiais da pele, assim como o suor, a oleosidade e as células mortas, retirando a sujidade propícia à permanência e à prolifera- ção de microrganismos. O procedimento deve ter duração de 40 a 60 segundos e as mãos devem ser higienizadas com água e sabonete nas seguintes situações (SOUSA; SANTANA, 2009): • quando estiverem visivelmente sujas ou contaminadas com sangue ou outros flui- dos corporais; • ao iniciar e terminar o turno de trabalho; • antes e após o uso do banheiro; • antes e depois das refeições; • antes de preparar alimentos; • antes de preparar e manipular medica- mentos; • antes e após contato com pacientes co- lonizado ou infectado ou infectado por Clostridium difficile; • após várias aplicações consecutivas de produto alcoólico; • nas situações indicadas para o uso de pre- parações alcoólicas. Quanto à higienização antisséptica, tem a fi- nalidade também de reduzir a carga microbiana das mãos. A técnica utilizada é a mesma para a higienização simples das mãos, substituindo-se o sabonete comum por um associado a antissépti- co, por exemplo: antisséptico degermante. Esses produtos associam detergentes com antissépti- cos e se destinam à higienização antisséptica das mãos e à degermação da pele das mãos nas se- guintes situações (SOUSA; SANTANA, 2009): • nos casos de precaução de contato reco- mendada para pacientes portadores de microrganismos multirressistentes; • nos casos de surtos; • no pré-operatório, antes de qualquer pro- cedimento cirúrgico (indicado para toda a equipe cirúrgica); 9Assistência de Enfermagem em Doenças Transmissíveis • antes da realização de procedimentos in- vasivos (por exemplo, inserção de cateter intravascular central, punções, drenagens de cavidades, instalação de diálise, peque- nas suturas e outros). A técnica da higienização das mãos é ilustra- da no Desenho 2.2. Com relação à fricção das mãos com antis- séptico (preparações alcoólicas), reduz também a carga microbiana das mãos, contudo não há re- moção de sujidades. A utilização de gel alcoólico, preferencialmente a 70%, ou de solução alcoóli- ca a 70% com 1-3% de glicerina pode substituir a higienização com água e sabonete quando as mãos não estiverem visivelmente sujas. O proce- dimento deve ter duração de 20 a 30 segundos, sendo indicado nas seguintes situações (SOUSA; SANTANA, 2009): Desenho 2.2: Técnica de higienização das mãos. Fonte: Organização Mundial da Saúde, 2008. Molhe as mãos com água Cubra as mãos com a espuma do sabão Lave as palmas com os dedos entrelaçados Esfregue a base dos dedos nas palmas das mãos Esfregue o dorso com a palma das mãos Limpe o polegar esquerdo com a palma da mão direita e vice-versa Esfregue novamente as palmas das mãos com a ponta dos dedos Enxágue todo o sabão Pronto, suas mãos estão completamente limpas! Use esta mesma toalha para desligar a torneira Enxugue as mãos com uma toalha descartável Esfregue bem as palmas 10 Medicina Tropical e Infectologia na Amazônia • após ter contato com o paciente; • antes de realizar procedimentos assisten- ciais e manipular dispositivos invasivos; • antes de calçar luvas para inserção de dis- positivos invasivos que não requeiram preparo cirúrgico; • após risco de exposição a fluidos corpo- rais; • ao mudar de um sítio corporal contami- nado para outro, limpo, durante o cuida- do ao paciente; • após ter contato com objetos inanimados e superfícies imediatamente próximas ao paciente; • antes e após remoção de luvas. A técnica da fricção das mãos com antissép- tico (preparações alcoólicas), é ilustrada no De- senho 3.2. E a antissepsia cirúrgica das mãos está indi- cada para a prevenção da infecção de sítio cirúr- gico, na qual elimina a microbiota transitória da pele e reduz a microbiota residente, além de pro- porcionar efeito residual na pele do profissional (SOUSA; SANTANA, 2009). A Organização Mundial de Saúde (OMS), por meio da Agência Nacional de Vigilância Sa- nitária (ANVISA) e da Organização Pan-Ameri- cana de Saúde (OPAS), propôs estratégias para a higienização das mãos, que recomenda cinco etapas para prevenir as infecções relacionadas à assistência à saúde e também auxiliar na raciona- lização do tempo do profissional de saúde quanto Desenho 3.2 - Técnica de fricção das mãos com antisséptico (preparações alcoólicas). Fonte: Organização Mundial de Saúde, 2008. Aplique o produto numa mão em forma de concha para cobrir todas as superfícies Esfregue as palmas das mãos, uma na outra Parte de trás dos dedos nas palmas opostas com dedos entralaçados Palma direita sobre o dorso esquerdo com os dedos entrelaçados e vice-versa Esfregue o polegar esquerdo em sentido rotativo, entrelaçado na palma direita e vice-versa Esfregue rotativamente para trás e para frente os dedos da mão direita na palma da mão esquerda e vice-versa Uma vez secas, as suas mãos estão seguras As palmas das mãos com dedos entrelaçados 11Assistência de Enfermagem em Doenças Transmissíveis a essa pratica, conforme Desenho 4.2 (ORGANI- ZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2008; SOUSA; SANTANA; LIMA, 2009). VERIFICAÇÃO DE SINAIS VITAISOs equipamentos para verificação dos sinais vitais, tais como estetoscópio, termômetro e es- figmomanômetro, devem ser de uso exclusivo para isolamentos. Caso isto não seja possível, deve-se tomar precauções para evitar a contami- nação cruzada. O manguito utilizado para medir a pressão sanguínea deve ser colocado em um lo- cal limpo sobre uma toalha de papel, no quarto do paciente. Este paciente veste um avental de mangas curtas, limpo, que cobre o braço acima da fossa antecubital. O profissional coloca o man- guito sobre o pano fino do avental, para evitar o contato direto com a pele do paciente. Após medir a pressão sanguínea, retira-se o manguito e recoloca-o em lugar seguro e limpo, antes de to- car o paciente ou qualquer material contaminado. Assim, o profissional pode levar de volta o man- guito, com segurança, após ter lavado suas mãos. O estetoscópio pode também ser usado dentro e fora do quarto de isolamento, contanto que o profissional não retire o estetoscópio e coloque-o sobre uma superfície contaminada. Após a veri- ficação dos sinais vitais, o profissional deve lavar o diafragma com uma solução desinfetante ade- quada. A mesma conduta deve ser adotada com o termômetro (POTTER; PERRY, 2005). TRANSPORTE DE PACIENTES INFECTADOS Devem-se limitar o movimento e transporte de pacientes infectados com microrganismos vi- rulentos e garantir que esses pacientes saiam do quarto apenas para um propósito essencial, redu- zindo, assim, a oportunidade de transmissão de microrganismos no hospital (GOMES; COUTO, 2004). Cuidados para transportar pacientes: a) usar barreiras apropriadas, conforme o tipo de isolamento: - precauções por aerossóis e gotículas – o paciente deverá usar máscara cirúrgica para reduzir a oportunidade de transmis- são de microrganismos a outros pacien- tes, profissionais de saúde e visitas, além de diminuir a contaminação do ambiente; - precauções com contato – é necessário manter as secreções do paciente contidas; b) avisar os profissionais de saúde da área para a qual o paciente está sendo levado. Aqueles deverão ser avisados da chegada do paciente ao local e das precauções a serem tomadas para reduzir o risco de transmissão; c) informar o paciente dos meios pelos quais ele pode ajudar na prevenção de transmissão dos seus microrganismos in- fectantes para outros pacientes. MANUSEIO DE EQUIPAMENTOS E ARTIGOS Os artigos contaminados disponíveis de- verão ser manuseados de maneira que reduza o risco de transmissão de microrganismos e dimi- nua a contaminação ambiental no hospital. Esses artigos ou equipamentos usados devem ser em- pacotados em recipientes ou sacos. As embala- gens serão adequadas, se elas forem resistentes e Desenho 4.2 - Os cinco momentos para a higienização das mãos. Fonte: Organização Mundial de Saúde, 2008. 12 Medicina Tropical e Infectologia na Amazônia os artigos colocados nelas não contaminarem o lado externo. Do contrário, devem-se usar duas embalagens (GOMES; COUTO, 2004). Cuidados no manuseio de equipamentos e artigos: a) artigos críticos, semicríticos e não críticos são limpos e esterilizados ou desinfeta- dos depois do uso, para reduzir o risco de transmissão de microrganismos a outros pacientes; b) roupas de cama contaminadas com mi- crorganismos patogênicos não apresen- tam risco de transmissão de doenças, desde que sejam manuseadas, transporta- das e lavadas de uma maneira que evite essa transferência a pessoas, pacientes ou ambientes. Deve-se evitar movimentos bruscos nas trocas de roupas, pois po- dem provocar a formação de aerossóis contendo microrganismos, a seguir, de- positar a roupa usada em hamper forrado com saco plástico; c) pratos, copos, xícaras e talheres não ne- cessitam de precauções especiais. Qual- quer prato e utensílio disponível podem ser usados por pacientes em isolamento e precauções. A combinação de água quen- te e detergente, usada em hospitais, é su- ficiente para descontaminá-los; d) rotina de limpeza do quarto do paciente isolado deve ser feita da mesma maneira que no quarto de pacientes não infecta- dos, procedendo limpeza e desinfecção diariamente; e desinfecção terminal ao término do isolamento. UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL Segundo o Ministério do Trabalho e Empre- go (BRASIL, 1978), na Norma Regulamentadora 6 (NR 6), da Portaria 3.214, considera-se equipa- mento de proteção individual (EPI) todo disposi- tivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos susce- tíveis de ameaçar a segurança e a saúde no traba- lho. Os principais EPIs utilizados no atendimento ao paciente com doenças transmissíveis consistem em aventais ou capotes, luvas, máscara e óculos. Aventais ou capotes Diariamente inúmeras células epiteliais des- prendem-se da pele, sendo que muitas delas le- vam consigo bactérias. A utilização do avental objetiva reduzir a dispersão das bactérias no ar (aproximadamente 30%) e evitar o contato da pele da equipe com sangue e fluidos corporais que possam contaminar a roupa privativa. O CDC recomenda troca de avental quando estiver visivelmente sujo de sangue ou outro fluido cor- poral potencialmente infectante, devendo este ser impermeável à água e à bactéria. O uso do avental ou capote rotineiramente (ex.: na UTI) não é ne- cessário a menos que um membro do staff esteja manipulando o paciente ou itens associados a ele (CATANEO et al., 2004; AYLIFFE et al., 2004). Luvas As luvas têm a função de proteger o paciente das mãos da equipe e proteger a equipe de flui- dos potencialmente contaminados, com a finali- dade de reduzir e prevenir o risco de exposição ao sangue (CATANEO et al., 2004; LEVIN, et al., 2011). Existem três razões para o uso de luvas, se- gundo Potter e Perry (2009) e Sousa e Santana (2009): a) reduzir a possibilidade de contaminação grosseira das mãos da equipe quando en- trar em contato com sangue, fluidos cor- póreos, secreções, excreções, membrana mucosa e pele não intacta; b) reduzir a probabilidade de a equipe trans- mitir sua flora endógena aos pacientes durante a realização de procedimentos invasivos ou outros cuidados que envol- vam membranas mucosas de pacientes e pele não intacta; 13Assistência de Enfermagem em Doenças Transmissíveis c) reduzir a possibilidade de a equipe tor- nar-se transitoriamente colonizada por microrganismos que possam ser transmi- tidos a outros pacientes. Após o contato com qualquer tipo de ma- terial infectado, o profissional deve trocar as lu- vas, caso os cuidados com o paciente não tive- rem sido finalizados. Entretanto, se as ações do profissional não envolverem contato direto com o paciente, a troca de luvas é desnecessária (POT- TER; PERRY, 2009). Máscara e óculos Vários tipos de máscaras e óculos são usados sozinhos ou em combinação para proporcionar uma proteção de barreira. Essas proteções são usadas durante procedimentos e cuidados com pacientes que podem produzir respingos ou sprays com sangue, fluidos corpóreos, secreções ou excreções, protegendo a membrana mucosa dos olhos, nariz e boca de transmissão de pató- genos (GOMES; COUTO, 2004; LEVIN et al., 2011). Uma máscara bem colocada ajusta-se con- fortável e adequadamente sobre a boca e nariz e evita a entrada e saída de patógenos pelas laterais. Se a pessoa usa óculos, a borda superior da más- cara deve estar bem ajustada sob os óculos para que eles não fiquem embaçados quando a pessoa respirar. Uma máscara úmida é ineficiente e deve ser substituída. Uma máscara nunca deve ser reu- tilizada. Uma regra de segurança, quanto ao seu uso, é que deve ser trocada a cada hora. Pacien- tes e familiares devem ser informados de que a máscara pode causar sensação de sufocamentoe, ao sentirem tal sensação desconfortável, devem deixar o quarto e desprezá-la (CATANEO et al., 2004; POTTER; PERRY, 2009). ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO O enfermeiro concentra atenção prioritária nas áreas administrativa, assistencial, ensino e pesquisa, onde realiza planejamento, organiza- ção, direção e controle das atividades. Elabora plano de cuidados utilizando metodologia cientí- fica, por meio do processo de enfermagem, a fim de prestar assistência individualizada (AGUIAR; LIMA; SANTOS, 2008; CATANEO et al., 2004). No cenário de doenças transmissíveis, as in- fecções hospitalares merecem atenção especial para prevenção e controle, por intermédio da educação, supervisão e aprimoramento da equipe de enfermagem, a qual integra a equipe multi- profissional de saúde e colabora com cuidados, a fim de minimizar a incidência, otimizando o tempo nas internações e intervenções. A equipe de enfermagem deve estar capacitada para cuidar desses pacientes por meio das precauções-padrão e isolamento, atendendo as políticas governamen- tais com práticas de enfermagem como monito- rar as técnicas assépticas, incluindo a higienização das mãos; pedir colheita de amostras para cultu- ra, em qualquer paciente com sinais de infecção ou doença transmissível, quando o médico não estiver imediatamente disponível; limitar a expo- sição dos pacientes a infecções provenientes das visitas, dos profissionais, de outros pacientes ou de equipamentos utilizados para diagnóstico ou tratamento; e manter provisões adequadas e se- guras de equipamentos, fármacos e material para a prestação de cuidados (CATANEO et al., 2004; MELO et al., 2006). Ao identificar os problemas de saúde do pa- ciente, o enfermeiro traça um plano de cuidados baseado em sinais e sintomas para a formulação dos diagnósticos de enfermagem (DE), segundo a taxonomia de North American Nursing Disea- ses Association (NANDA), considerando as ne- cessidades humanas básicas e a individualidades do paciente. A seguir, são apresentados os principais diag- nósticos de enfermagem – DE, segundo Carpeni-– DE, segundo Carpeni- DE, segundo Carpeni- to (2011), Nanda (2010) e Souza (2004), que po- dem estar presentes nos portadores de doenças transmissíveis e suas intervenções, considerando fatores relacionados às alterações fisiopatológi- cas, ao tratamento e aos situacionais. 14 Medicina Tropical e Infectologia na Amazônia DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM Os diagnósticos de enfermagem (DE) são: ansiedade; comunicação verbal prejudicada; con- fusão aguda e confusão aguda crônica; controle ineficaz do regime terapêutico; desesperança; dé- ficit do volume de líquidos; déficit de autocui- dado – banho/higiene; déficit de autocuidado – vestir-se/arrumar-se; déficit de autocuidado – alimentação; distúrbio do autoconceito; diar- reia; dor aguda e dor crônica; eliminação uriná- ria prejudicada; fadiga; incontinência intestinal; interação social prejudicada; integridade da pele prejudicada e integridade tissular prejudicada; intolerância à atividade; medo; mobilidade físi- ca prejudicada, mobilidade no leito prejudicada e deambulação prejudicada; mucosa oral preju- dicada; nutrição desequilibrada; padrão de sono perturbado; risco de função respiratória prejudi- cada, padrão respiratório ineficaz e troca de gases prejudicada; risco para infecção e risco de trans- missão de infecção; termorregulação ineficaz, hi- pertermia e hipotermia. Ansiedade Estado em que o indivíduo ou grupo apre- senta sentimentos de desconforto (apreensão) e ativação do sistema nervoso autônomo em res- posta a uma ameaça vaga, inespecífica. Intervenções de enfermagem: • investigar o nível de ansiedade: leve, mo- derado, severo, pânico; • proporcionar tranquilidade e conforto; • observar quando a ansiedade estiver di- minuída a ponto de permitir o aprendi- zado, auxiliar o paciente a reconhecer a ansiedade de forma a iniciar a resolução de problemas; • explorar intervenções que diminuam a ansiedade, como jogos educativos, mú- sica, aromaterapia, exercícios de relaxa- mento, interrupção de pensamentos, hi- droterapia, solicitando ou encaminhando a profissionais especializados, quando necessário. Comunicação verbal prejudicada Estado em que o indivíduo apresenta, ou está em alto risco de apresentar, diminuição da capa- cidade de falar, embora possa entender os outros. Intervenções de enfermagem: • identificar métodos alternativos através dos quais o paciente possa comunicar suas necessidades básicas, através de blo- co de papel, sinais com as mãos, piscar dos olhos; • consultar um fonoaudiólogo no ínicio do regime de tratamento. Confusão aguda e confusão aguda crônica Confusão aguda: estado em que existe o sur- gimento abrupto de um conjunto de distúrbios globais e oscilantes de consciência, orientação, ciclo de sono-vigilância e comportamento psico- motor. Confusão aguda crônica: estado em que o in- divíduo apresenta uma deterioração irreversível, duradoura e/ou progressiva do intelecto e da per- sonalidade. Intervenções de enfermagem: • investigar fatores causadores e contri- buintes para a confusão; • promover comunicação que contribua para o senso de integridade da pessoa; • proporcionar estímulo sensorial suficien- te e significativo; • observar o paciente para determinar o comportamento habitual; • garantir o conforto físico e a manutenção das necessidades básicas de saúde (exemplo: eliminação, nutrição, banho, uso do vaso sa- nitário, higiene, vestuário, segurança). Controle ineficaz do regime terapêutico Padrão em que o indivíduo apresenta, ou está em risco de apresentar, dificuldade na integração à vida diária de um programa para o tratamento da doença e de suas sequelas e para a redução das situações de risco (exemplo: falta de segurança e poluição). 15Assistência de Enfermagem em Doenças Transmissíveis Intervenções de enfermagem: • identificar os fatores causadores ou con- tribuintes que impedem o controle eficaz e os fatores que influenciam o aprendi- zado; • explicar que as mudanças no estilo de vida e o aprendizado são necessários para ser integrados ao tratamento; • encaminhar aos serviços comunitários para prosseguimento ao atendimento. Desesperança Estado emocional duradouro, subjetivo, no qual o indivíduo não vê alternativas ou escolhas pessoais disponíveis para a solução de problemas em seu benefício. Intervenções de enfermagem: • transmitir empatia para promover a verba- lização de dúvidas, medos e preocupações; • identificar o risco de suicídio; • auxiliar a identificação de fontes de espe- rança (exemplo: relacionamentos e cren- ças); • criar um ambiente no qual é encorajada a expressão espiritual; • ensinar o paciente a antecipar as experi- ências agradáveis de cada dia (exemplo: caminhar); • auxiliar o paciente a reconhecer que é amado, importante na vida de outros; • estimular o paciente a compartilhar suas preocupações com outras pessoas com problemas e/ou doenças semelhantes e que tiveram experiências positivas; • permitir ao paciente tempo e oportuni- dades para refletir sobre o significado do sofrimento, da morte e do ato de morrer. Déficit do volume de líquidos Estado no qual o indivíduo experimenta au- mentada retenção de líquidos e edema. Intervenções de enfermagem: • investigar a ingesta dietética e os hábitos que podem contribuir para a retenção de fluidos; • encorajar o paciente a diminuir a ingesta de sal; • investigar a evidência de edema periférico ou venoestase; • manter a extremidade edemaciada, eleva- da acima do nível do coração, sempre que possível (exceto se houver contraindica- ção por insuficiência cardíaca). Déficit de autocuidado – banho/higiene Estado emque o indivíduo apresenta capa- cidade prejudicada para realizar ou completar as atividades de banho/higiene dele mesmo. Intervenções de enfermagem: • manter aquecido o banheiro, estabelecen- do com o paciente a temperatura preferi- da da água; • proporcionar privacidade durante a roti- na do banho; • colocar todo equipamento para o banho ao alcance do paciente; • providenciar equipamento auxiliar neces- sário para a mobilidade, como: cadeira ou banco no chuveiro; barras de apoio e piso antiderrapante no banheiro; e ducha ma- nual do chuveiro. Déficit de autocuidado – vestir-se/arrumar-se Estado em que o indivíduo apresenta capa- cidade prejudicada para realizar ou completar as atividades de vestir-se e arrumar-se. Intervenções de enfermagem: • promover a independência no vestir-se pela prática contínua sem auxílio; • escolher roupas folgadas, com mangas e pernas largas e com fechamento anterior; • permitir tempo suficiente para o vestir-se e o despir-se, por ser tarefa fatigante; • planejar a atividade de vestir-se e arru- mar-se com o paciente; • colocar as roupas na ordem em que de- vem ser vestidas; • encorajar o paciente a usar roupas co- muns ou especiais em lugar de roupas de dormir; 16 Medicina Tropical e Infectologia na Amazônia • proporcionar privacidade para a rotina de vestir-se; • estabelecer para o paciente com déficit visual, local conveniente para as roupas; • adaptar o ambiente para melhor realizar a tarefa; e anunciar-se, verbalmente, antes de entrar e sair da área de vestir-se. Déficit de autocuidado – alimentação Estado em que o indivíduo apresenta capaci- dade prejudicada para alimentar-se. Intervenções de enfermagem: • oferecer ambiente fixo, agradável, sem distrações para realização das refeições; • manter a temperatura correta dos alimen- tos (os alimentos quentes e os frios); • proporcionar o alívio da dor, pois ela pode afetar o apetite e a habilidade de alimentar-se; • proporcionar uma boa higiene oral antes e depois das refeições; • encorajar a ingestão de alimentos com as mãos, exemplo: pão, frutas, para propor- cionar-lhe independência; • auxiliar o paciente a servir-se, se necessá- rio, abrindo as embalagens, os guardana- pos, os condimentos; cortando a carne; passando manteiga no pão. Distúrbio do autoconceito Estado em que o indivíduo apresenta, ou está em risco de apresentar, uma mudança negativa na maneira de sentir, pensar ou ver a si mesmo, com mudança na imagem corporal, na autoestima. Intervenções de enfermagem: • estimular o paciente a expressar senti- mentos, de como sente, pensa ou vê a si mesmo; • encorajar o paciente a fazer perguntas sobre seu tratamento, progresso e prog- nóstico; • proporcionar informações confiáveis e reforçar informações já fornecidas; • proporcionar privacidade e um ambiente seguro; • informar o paciente sobre os recursos comunitários disponíveis, se necessários (exemplo: centros de saúde mental, gru- po de autoajuda). Diarreia Estado em que o indivíduo apresenta, ou está em risco de apresentar, passagens frequentes de fezes líquidas ou não formadas. Intervenções de enfermagem: • investigar os fatores causadores/contri- buintes: alimentação por sonda, exageros dietéticos, alimentos contaminados, aler- gias alimentares, viagem ao exterior, im- pactação fecal; • administrar mais lentamente, se ocorre- rem sinais de intolerância gastrintestinal; • estimular a ingestão de líquidos ricos em potássio e sódio (água, suco de maçã); • advertir sobre o uso de líquidos muito quentes ou muito frios; • prevenir a transmissão de infecção (lava- gem das mãos; estocagem, manipulação e cozimento adequado dos alimentos; ali- mentos em piqueniques). Dor aguda e dor crônica Dor aguda: estado em que o indivíduo expe- rimenta e relata a presença de desconforto grave ou sensação desconfortável com duração de um segundo até menos de seis meses. Dor crônica: estado em que o indivíduo apre- senta dor persistente ou intermitente por mais de seis meses. Intervenções de enfermagem: • proporcionar informações corretas para reduzir o medo de adição a drogas; • relatar a aceitação do paciente com rela- ção à dor sentida; • proporcionar ao paciente oportunidades para repousar durante o dia e períodos de sono ininterrupto durante a noite (deve repousar quando a dor estiver diminuída); • discutir com o paciente e com a família os 17Assistência de Enfermagem em Doenças Transmissíveis usos terapêuticos de distração, juntamen- te com outros métodos de alívio da dor; • proporcionar à pessoa o alívio ideal da dor com os analgésicos prescritos; • avaliar a eficácia do analgésico após 30 minutos de sua administração; • proporcionar ao paciente oportunidades para discutir seus medos, raiva e frustra- ções de forma particular e reconhecer a dificuldade da situação. Eliminação urinária prejudicada Estado em que o indivíduo apresenta, ou está em risco de apresentar, disfunção na eliminação urinária. Intervenções de enfermagem: • determinar se existem causas agudas para o problema, como ex. incontinência; • encaminhar ao urologista, se for determi- nada uma causa aguda. Fadiga Estado autorreconhecido no qual o indi- víduo apresenta uma sensação avassaladora de exaustão e capacidade reduzida para o trabalho físico e mental que não é aliviada pelo repouso. Intervenções de enfermagem: • explicar as causas da fadiga da pessoa; • permitir a expressão dos sentimentos re- lativos aos efeitos da fadiga sobre a vida do paciente; • auxiliar o paciente a identificar os pontos fortes, as capacidades e os interesses; • planejar as tarefas importantes durante os períodos de grande energia; • auxiliar o paciente a identificar as priori- dades e eliminar as atividades não essen- ciais. Incontinência intestinal Estado em que o indivíduo apresenta uma mudança nos hábitos intestinais normais caracte- rizado por eliminação involuntária das fezes. Intervenções de enfermagem: • investigar os padrões anteriores de elimi- nação intestinal, a dieta e o estilo de vida; • determinar o estado físico e neurológico atual, bem como o nível funcional; • planejar horário apropriado e consistente para a eliminação; • posicionar a pessoa deitada sobre o lado esquerdo em caso de tetraplegia e usar a estimulação digital; • colocar o paciente em posição vertical ou sentada, se for funcionalmente capaz; usar equipamentos auxiliares, assento elevado do vaso, lubrificante e luvas con- forme apropriado; ensinar as técnicas de facilitação intestinal; • ensinar a importância de uma alimenta- ção com alto teor de fibras e de ingestão líquida ideal; • limpar a pele após cada movimento in- testinal. Proteger a pele íntegra com um unguento, creme à base de alumínio. Se a pele não estiver íntegra, consultar o en- fermeiro clínico especialista ou um tera- peuta em enterostomia; • ensinar o uso apropriado de emolientes de fezes e supositórios e os riscos dos enemas; • ensinar os sinais e sintomas de impacta- ção fecal e de constipação; • proporcionar treinamento para os cuida- dos domésticos para indivíduos que são funcionalmente independentes no pro- grama intestinal. Interação social prejudicada Estado em que o indivíduo apresenta, ou está em risco de apresentar, respostas negativas, insu- ficientes ou insatisfatórias às interações. Intervenções de enfermagem: • proporcionar um relacionamento indivi- dual de apoio; ajudar a identificar como o estresse precipita os problemas; apoiar as defesas saudáveis; 18 Medicina Tropical e Infectologia na Amazônia • auxiliar na identificação de cursos alterna- tivos de açãoe na análise das abordagens que funcionam melhor; • representar situações problemáticas. Dis- cutir os sentimentos. Integridade da pele prejudicada e integrida- de tissular prejudicada Integridade da pele prejudicada – estado em que o indivíduo apresenta ou está em risco de apresentar, alteração do tecido epidérmico e/ou dérmico. Integridade tissular prejudicada – estado em que o indivíduo apresenta, ou está em risco de apresentar, alteração em tecidos da membrana te- gumentar, da córnea ou da mucosa. Intervenções de enfermagem: • identificar e avaliar o estágio de desenvol- vimento da úlcera/lesão; • elaborar um plano para o controle da úl- cera de pressão; • proteger a superfície da pele saudável e massageá-la para estimular a circulação; • lavar a área avermelhada delicadamente com sabonete neutro, enxaguar comple- tamente para remover o sabonete e secar sem esfregar; • aumentar a ingesta de proteína e de car- boidrato para manter um equilíbrio posi- tivo do nitrogênio; pesar o paciente dia- riamente e acompanhar o nível de albu- mina sérica. Intolerância à atividade Redução na capacidade fisiológica do pacien- te para tolerar as atividades no grau desejado ou exigido. Intervenções de enfermagem: • investigar a resposta do indivíduo à ati- vidade; • aumentar gradualmente a atividade; • ensinar métodos de conservação de ener- gia para as atividades. Medo Estado no qual o indivíduo ou grupo apre- senta um sentimento de perturbação fisiológica ou emocional, relacionado a uma fonte identifi- cável percebida como perigosa. Intervenções de enfermagem: • falar calmamente; usar declarações sim- ples, conforme entendimento do pacien- te; permitir espaço pessoal; • encorajar a expressão dos sentimentos (impotência, raiva); • incentivar respostas que reflitam a reali- dade, discutir os aspectos que sejam ou não mudados; • proporcionar uma atmosfera emocional- mente não ameaçadora; • ensinar técnicas de relaxamento. Mobilidade física prejudicada, mobilidade no leito prejudicada e deambulação prejudi- cada Mobilidade física prejudicada – estado em que o indivíduo apresenta, ou está em risco de apresentar, limitação do movimento físico, em- bora não esteja imóvel. Mobilidade no leito prejudicada – estado em que o indivíduo apresenta, ou está em risco de apresentar, limitação de movimentos na cama. Deambulação prejudicada – estado em que o indivíduo apresenta, ou está em risco de apresen- tar, limitação para andar. Intervenções de enfermagem: • providenciar mobilização progressiva; • ensinar o paciente os exercícios de for- talecimento, exercícios de amplitude de movimentos, cuidados com equipamen- tos auxiliares (muletas, cadeira de rodas, próteses) e precauções de segurança, e pedir a ele que os demonstre; • explicar que a deambulação segura é um movimento completo, envolvendo os sis- temas musculoesquelético, neurológico e cardiovascular, bem como fatores cogni- tivos; 19Assistência de Enfermagem em Doenças Transmissíveis • orientar e encaminhar a serviço e profis- sional especializado quando necessário. Mucosa oral prejudicada Estado em que o indivíduo apresenta, ou está em risco de apresentar, lesões na cavidade oral. Intervenções de enfermagem: • orientar e discutir a importância da higie- ne oral diária, principalmente em pacien- tes com risco de estomatite; e orientar sobre os exames dentários periódicos, se necessário; • avaliar a habilidade do paciente para reali- zar a higiene oral; • realizar a higiene oral do paciente incons- ciente ou com risco de aspiração; • fazer com que o paciente descreva ou de- monstre o regime de cuidados doméstico antes da alta hospitalar. Nutrição desequilibrada Estado em que o paciente apresenta, ou está em risco de apresentar, ingesta ou metabolismo inadequado dos nutrientes para as necessidades metabólicas, com ou sem perda de peso. Intervenções de enfermagem: • explicar a importância da nutrição ade- quada; • ensinar o paciente a usar temperos que ajudem a melhorar o sabor e o aroma dos alimentos (suco de limão, hortelã, canela, cravo da índia, manjericão, salsa, se pu- der); • encorajar o paciente a fazer refeições com outras pessoas em área comum; • planejar o atendimento de forma que procedimentos desagradáveis ou doloro- sos não ocorram antes das refeições; • organizar um plano de cuidados para re- duzir ou eliminar odores nauseantes; • orientar o paciente a manter uma boa hi- giene oral; • oferecer pequenas refeições para reduzir a sensação de estômago distendido; • organizar as refeições de forma que os nutrientes com mais proteínas/calorias sejam servidos quando o paciente tiver mais apetite; • ensinar o paciente com pouco apetite a comer alimentos secos ao levantar; • tentar os suplementos industrializados em suas diversas formas (líquidos, pós e pudins); • para pacientes com transtorno alimentar: estabelecer metas de ingestão com o pa- ciente, médico e nutricionista. Padrão de sono perturbado Estado em que o indivíduo apresenta, ou está em risco de apresentar, uma mudança na quanti- dade ou na qualidade do seu padrão de repouso que interfira no estilo de vida desejado. Intervenções de enfermagem: • reduzir o ruído no local promovendo o menor número de procedimento durante o sono; • orientar o paciente a limitar a ingestão de líquidos à noite e urinar antes de deitar; • estabelecer atividades diurnas (caminha- da, fisioterapia), limitando o tempo de sono ao dia; • investigar com o paciente, com a família ou com os pais a rotina habitual para dor- mir; • limitar a ingestão de bebidas com cafeína após o meio da tarde; • proporcionar conforto e registrar as ações de enfermagem. Risco de função respiratória prejudicada, padrão respiratório ineficaz e troca de gases prejudicada Risco de função respiratória prejudicada – estado em que o indivíduo está em risco de apre- sentar uma ameaça à passagem de ar através do trato respiratório e à troca de gases (O2 e CO2) entre os pulmões e o sistema vascular. 20 Medicina Tropical e Infectologia na Amazônia Padrão respiratório ineficaz – estado em que o indivíduo apresenta perda real ou potencial da ventilação adequada, relacionada a uma alteração no padrão respiratório. Troca de gases prejudicada – estado em que o indivíduo apresenta diminuição real ou poten- cial da passagem de gases entre os alvéolos pul- monares e sistema vascular. Intervenções de enfermagem: • investigar o alívio ideal da dor com um período mínimo de fadiga ou depressão respiratória; • aumentar a atividade gradualmente, in- centivando a mudança de decúbito e de- ambulação; e estabelecer um regime para a permanência fora do leito, em uma ca- deira; • encorajar os exercícios de respiração pro- funda e de tosse controlada, cinco vezes por hora; • ensinar o indivíduo a usar um aparelho para soprar ou espirômetro de incentivo de hora em hora, quando desperto, com acompanhamento da fisioterapia; • monitorar a frequência respiratória e car- díaca; • auscultar o campo pulmonar a cada 8 ho- ras; aumentar a frequência se houver alte- rações nos sons respiratórios; • explicar que uma pessoa pode aprender a superar a hiperventilação por meio do controle consciente da respiração, mes- mo quando sua causa for desconhecida; • instruir o paciente a consultar seu médico e fisiatra sobre um programa de exercícios a longo prazo; encaminhar a programas especializados de reabilitação cardíaca. Risco para infecção e risco de transmissão de infecção Risco para infecção – estado em que o indi-– estado em que o indi- estado em que o indi- víduo está em risco de ser invadido por agenteoportunista ou patogênico (vírus, fungo, bactéria) de fontes endógenas ou exógenas. Risco de transmissão de infecção – estado em que o indivíduo apresenta risco de transferir um agente patogênico ou oportunista para outros. Intervenções de enfermagem: • identificar os indivíduos em risco de in- fecção hospitalar; • observar as manifestações clínicas de in- fecção, comunicá-las e registrá-las; • minimizar a entrada de microrganismo nos indivíduos através de medidas de proteção, como: higienizar as mãos; res- tringir os procedimentos invasivos (son- da vesical, sonda nasogástrica, ventilação mecânica) e quando necessário, utilizar técnica asséptica; • limitar as visitas, quando apropriado; • instruir o indivíduo e a família quanto às causas, aos riscos e ao contágio de infec- ção; • proteger o indivíduo imunodeficiente de infecções através de barreiras protetoras; • comunicar a presença de doenças trans- missíveis aos órgãos competentes; • preconizar medidas de isolamento para doenças transmissíveis, orientando em conjunto com o serviço de controle de infecção hospitalar (SCIH); • orientar e explicar ao paciente o tipo e a necessidade da instalação do isolamento em doenças transmissíveis, conforme os fundamentos de isolamento e precaução; • administrar a terapia antimicrobiana de forma racional. Termorregulação ineficaz, hipertermia e hi- potermia Termorregulação ineficaz – estado em que o indivíduo apresenta, ou está em risco de apresen- tar, incapacidade de manter a temperatura normal do corpo. Hipertermia – estado em que o indivíduo apresenta, ou está em risco de apresentar, uma elevação sustentada da temperatura do corpo, oral, acima de 37,8 °C, ou retal, acima de 38,8 °C. 21Assistência de Enfermagem em Doenças Transmissíveis Hipotermia – estado em que o indivíduo apresenta, ou pode apresentar, uma redução sus- tentada da temperatura corporal, inferior a 35,5 ºC retal, devido à maior vulnerabilidade a fatores externos. Intervenções de enfermagem: • regular temperatura e controle do am- biente e a monitoração dos sinais vitais; • estimular pacientes com hipertermia so- bre a importância de manter ingestão adequada de líquidos (no mínimo 2.000 ml/dia, se não houver contraindicação por doença cardíaca ou renal), prevenin- do a desidratação; • orientar o paciente com hipertermia a re- duzir a exposição prolongada a ambien- te frio e a usar mais roupas pela manhã, quando o metabolismo está no ponto mais baixo. REFERÊNCIAS AGUIAR, D. F.; LIMA A. B. G.; SANTOS, R. B. Uso das Precauções-Padrão na assistência de enfermagem: Um estudo retrospectivo. Escola Anna Nery Revista de En- fermagem, v. 12, n. 3, p. 571-575, set. 2008. ALMEIDA, L. M. Da prevenção primordial à prevenção quaternária. Revista Portuguesa de Saúde Pública, v. 23, n. 1, p. 91-96, 2005. AYLIFFE, G. A. J. et al. Prevenção da Infecção nas en-Prevenção da Infecção nas en- fermarias I: Procedimentos de enfermaria e técnicas de curativo. 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