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50 ANOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS C o m i s s ã o N a c i o n a l 5 Procuradoria-Geral da RepúblicaGabinete de Documentação e Direito ComparadoI COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS Volume I COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS Volume I 005Índice Nota Introdutória 009 01. Carta das Nações Unidas e Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça 017 [1] Carta das Nações Unidas 019 [2] Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça 046 02. Carta Internacional dos Direitos Humanos 061 [1] Declaração Universal dos Direitos do Homem 063 [2] Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais 069 [3] Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos 080 [4] Protocolo Facultativo Referente ao Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos 098 [5] Segundo Protocolo Adicional ao Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos com vista à Abolição da Pena de Morte 102 03. Prevenção da Discriminação 107 A. INSTRUMENTOS UNIVERSAIS 108 a) TRATADOS INTERNACIONAIS 109 [1] Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial 109 [2] Convenção Relativa à Luta Contra a Discriminação no Campo do Ensino 122 [3] Protocolo que cria uma Comissão de Conciliação e Bons Ofícios Encarregada de Resolver os Diferendos que Possam Surgir entre os Estados Partes na Convenção relativa à Luta Contra a Discriminação no Campo do Ensino 129 b) OUTROS INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS 137 [4] Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial 137 [5] Declaração sobre a Eliminação de Todas as Formas de Intolerância e Discriminação Baseadas na Religião ou Convicção 141 [6] Declaração dos Princípios Fundamentais Relativos à Contribuição dos Meios de Comunicação Social para o Reforço da Paz e da Compreensão Internacionais, para a Promoção dos Direitos Humanos e para o Combate ao Racismo, ao Apartheid e ao Incitamento à Guerra 145 [7] Declaração sobre a Raça e os Preconceitos Raciais 151 [8] Declaração sobre os Direitos das Pessoas Pertencentes a Minorias Nacionais ou Étnicas, Religiosas e Linguísticas 158 ÍNDICE 006 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] B. INSTRUMENTOS REGIONAIS 162 a) CONSELHO DA EUROPA 163 [9] Convenção Quadro para a Protecção das Minorias Nacionais 163 [10] Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias 173 b) UNIÃO EUROPEIA 188 [11] Directiva 2000/43/CE do Conselho de 29 de Junho de 2000 que aplica o princípio da igualdade de tratamento entre as pessoas, sem distinção de origem racial ou étnica 188 [12] Resolução do Conselho e dos representantes dos governos dos Estados-membros, reunidos no Conselho, de 29 de Maio de 1990, relativa à luta contra o racismo e a xenofobia 197 04. Direitos da Criança 201 A. INSTRUMENTOS UNIVERSAIS 202 a) TRATADOS INTERNACIONAIS 203 [1] Convenção sobre os Direitos da Criança 203 [2] Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança relativo à Participação de Crianças em Conflitos Armados 223 [3] Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança relativo à Venda de Crianças, Prostituição Infantil e Pornografia Infantil 229 [4] Convenção Relativa à Protecção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adopção Internacional 238 [5] Convenção n.º 138 da OIT, sobre a idade mínima de admissão ao emprego 251 [6] Convenção n.º 182 da OIT, Relativa à Interdição das Piores Formas de Trabalho das Crianças e à Acção Imediata com vista à Sua Eliminação 259 b) OUTROS INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS 264 [7] Recomendação n.º 190 da OIT, Relativa à Interdição das Piores Formas de Trabalho das Crianças e à Acção Imediata com vista à Sua Eliminação 264 [8] Declaração dos Direitos da Criança 269 [9] Declaração dos princípios sociais e jurídicos relativos à protecção e ao bem-estar das crianças, com especial referência à adopção e colocação familiar, a nível nacional e internacional 272 B. INSTRUMENTOS REGIONAIS (CONSELHO DA EUROPA) 277 a) TRATADOS INTERNACIONAIS 278 [10] Convenção Europeia em Matéria de Adopção de Crianças 278 [11] Convenção Europeia sobre o Estatuto Jurídico das Crianças Nascidas fora do Casamento 287 [12] Convenção Europeia sobre o Reconhecimento e a Execução das Decisões Relativas à Guarda de Menores e sobre o Restabelecimento da Guarda de Menores 292 [13] Convenção Europeia sobre o Exercício dos Direitos das Crianças 304 [14] Convenção Europeia sobre o Repatriamento de Menores 314 007Índice 05. Direitos das Mulheres 323 A. INSTRUMENTOS UNIVERSAIS 324 a) TRATADOS INTERNACIONAIS 325 [1] Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres 325 [2] Protocolo Opcional à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres 338 [3] Convenção n.º 100 da OIT relativa à Igualdade de Remuneração entre a Mão-de-obra Masculina e a Mão-de-obra Feminina em Trabalho de Valor Igual 344 [4] Convenção sobre os Direitos Políticos das Mulheres 349 b) OUTROS INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS 352 [5] Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres 352 [6] Declaração sobre a Protecção de Mulheres e Crianças em Situações de Emergência e de Conflito Armado 356 [7] Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres 359 06. Direitos dos Migrantes 365 A. INSTRUMENTOS UNIVERSAIS 366 a) TRATADOS INTERNACIONAIS 367 [1] Convenção Internacional sobre a Protecção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das Suas Famílias 367 [2] Convenção n.º 97 da OIT, relativa aos trabalhadores migrantes 402 [3] Convenção n.º 143 da OIT, relativa às migrações em condições abusivas e à promoção de igualdade de oportunidades e de tratamento dos trabalhadores migrantes 418 [4] Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional, contra o Tráfico Ilícito de Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea 427 B. INSTRUMENTOS REGIONAIS (CONSELHO DA EUROPA) 441 a) TRATADOS INTERNACIONAIS 442 [5] Convenção Europeia Relativa ao Estatuto Jurídico do Trabalhador Migrante 442 [6] Acordo Europeu sobre o Regime da Circulação das Pessoas entre os Países Membros do Conselho da Europa 457 [7] Convenção sobre a Participação de Estrangeiros na Vida Pública a Nível Local 463 07. Direitos Humanos na Administração da Justiça 469 A. INSTRUMENTOS UNIVERSAIS 470 a) TRATADOS INTERNACIONAIS 471 [1] Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes 471 [2] Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes 485 [3] Convenção Internacional para a Protecção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados 498 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] b) OUTROS INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS 516 [4] Declaração sobre a Protecção de Todas as Pessoas contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes 516 [5] Princípios sobre a Investigação e Documentação Eficazes da Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes 519 [6] Princípios Relativos a uma Prevenção Eficaz e à Investigação das Execuções Extrajudiciais, Arbitrárias e Sumárias 522 [7] Declaração sobre a Protecção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados 526 [8] Regras Mínimas das Nações Unidas para a Elaboração de Medidas não Privativas de Liberdade (Regras de Tóquio) 534 [9] Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos 543 [10] Princípios BásicosRelativos ao Tratamento dos Reclusos 561 [11] Conjunto de Princípios para a Protecção de Todas as Pessoas Sujeitas a Qualquer Forma de Detenção ou Prisão 563 [12] Acordo Tipo sobre a Transferência de Reclusos Estrangeiros e Recomendações sobre o Tratamento de Reclusos Estrangeiros 572 [13] Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça de Jovens (Regras de Beijing) 576 [14] Princípios Orientadores das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil (Princípios Orientadores de Riade) 598 [15] Regras das Nações Unidas para a Protecção dos Jovens Privados de Liberdade 607 [16] Directrizes para a Acção sobre Crianças no Sistema de Justiça Penal 622 [17] Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei 634 [18] Princípios Orientadores para a Aplicação Efectiva do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei 639 [19] Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei 642 [20] Princípios Básicos Relativos à Função dos Advogados 648 [21] Princípios Básicos Relativos à Independência da Magistratura 654 [22] Princípios Orientadores Relativos à Função dos Magistrados do Ministério Público 658 [23] Princípios de Deontologia Médica aplicáveis à Actuação do Pessoal dos Serviços de Saúde, especialmente Médicos, para a Protecção das Pessoas Presas ou Detidas contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes 664 [24] Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso de Poder 666 [25] Garantias para a Protecção dos Direitos das Pessoas Sujeitas a Pena de Morte 670 [26] Princípios e Directrizes Básicas sobre o Direito a Recurso e Reparação para Vítimas de Violações Flagrantes das Normas Internacionais de Direitos Humanos e de Violações Graves de Direito Internacional Humanitário 672 B. INSTRUMENTOS REGIONAIS (CONSELHO DA EUROPA) 681 a) TRATADOS INTERNACIONAIS 682 [27] Convenção Europeia para a Prevenção da Tortura e das Penas ou Tratamentos Desumanos ou Degradantes 682 [28] Protocolo n.º 1 à Convenção Europeia para a Prevenção da Tortura e das Penas ou Tratamentos Desumanos ou Degradantes 690 [29] Protocolo n.º 2 à Convenção Europeia para a Prevenção da Tortura e das Penas ou Tratamentos Desumanos ou Degradantes 693 008 009Nota Introdutória Nunca são as pessoas que protestam contra a universalidade dos direitos humanos, nem são as pessoas que consideram os direitos humanos como uma imposição do Ocidente ou do Norte. São frequentemente os seus líderes que o fazem. Kofi Annan, SECRETÁRIO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS As primeiras iniciativas de algum significado com vista a assegurar a protecção inter-nacional da pessoa humana remontam ao século XIX, com os trabalhos destinados a erradicar a escravatura e o tráfico de escravos e a melhorar a situação dos doentes e feridos em tempo de guerra. No final da I Guerra Mundial, foram adoptados alguns trata- dos com vista a assegurar a protecção das minorias; também o Pacto da Sociedade das Nações reflecte preocupações ao nível da garantia de um “tratamento justo” das pessoas sujeitas à jurisdição dos Estados Partes. Simultaneamente, a criação da Organização Inter- nacional do Trabalho (OIT) foi motivada por preocupações humanitárias, a par de considerações políticas e económicas. Contudo, só com a terrível experiência da II Guerra Mundial – que demonstrou até que ponto o desrespeito da dignidade e do valor da pessoa humana — não só viola normas éticas fundamentais e ameaça a estabilidade interna — mas coloca também seriamente em risco a paz e a segurança internacionais – a comunidade internacional tomou definitivamente cons- ciência do imperativo de proteger juridicamente, a nível internacional, os direitos e liberdades que constituem o património comum e inalienável de todos os seres humanos. Por isso, os direitos humanos – universais, inalienáveis e inerentes a todos os membros da família humana – constituem um dos pilares fundamentais da nova ordem mundial nascida no rescaldo de uma II Guerra Mundial causadora de indescritível sofrimento. Nota Introdutória 010 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] I. As Nações Unidas 1. A Carta das Nações Unidas Conscientes da necessidade de proteger a pessoa humana face ao exercício arbitrário do poder do Estado e de “promover o progresso social e melhores condições de vida den- tro de um conceito mais amplo de liberdade”, os Estados participantes na Conferência de São Francisco, que adoptou a Carta das Nações Unidas em 1945, estabeleceram como um dos objectivos da ONU Realizar a cooperação internacional, resolvendo os problemas internacionais de carácter económico, social, cultural ou humanitário, promovendo e estimulando o respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião1. Em cumprimento deste objectivo, foi criada pelo Conselho Económico e Social, em iní- cios de 1946, a Comissão de Direitos Humanos, que começou imediatamente a trabalhar com vista à elaboração de uma Carta Internacional dos Direitos Humanos. 2. A Carta Internacional dos Direitos Humanos O primeiro dos instrumentos que viriam a integrar a Carta – a Declaração Universal dos Direitos do Homem – foi adoptado a 10 de Dezembro de 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas na sua resolução 217 A (III). Não sendo, em termos formais, juridicamente vinculativa, a Declaração Universal constitui “um ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações” e tem vindo a inspirar todo o trabalho ulteriormente desenvolvido pelas Nações Unidas no domínio da promoção e protecção dos direitos humanos. Os princípios nela consagrados têm contudo sido considerados, nomeadamente pelo Tribunal Interna- cional de Justiça, como vinculativos para os Estados por via do direito internacional costumeiro, dos princípios gerais de direito ou dos princípios fundamentais de humani- dade. Exerce ainda uma importantíssima influência nos sistemas jurídicos e constitucionais de muitos países do mundo (entre os quais Portugal, cuja Constituição impõe expressa- mente que as normas em matéria de direitos fundamentais sejam interpretadas e integradas em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos do Homem). Dezoito anos passaram antes da adopção dos dois outros principais instrumentos que integram a Carta Internacional dos Direitos Humanos: o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e o Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais (PIDESC), tratados internacionais que conferem força jurídica vin- culativa a muitas das disposições consagradas na Declaração Universal. Ambos foram adoptados pela Assembleia Geral das Nações Unidas na sua resolução 2200 A (XXI), de 16 de Dezembro de 1966, juntamente com o Protocolo Facultativo referente ao Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, que prevê a possibili- dade de apresentação de queixas individuais em caso de violação das 1 Carta das Nações Unidas, artigo 1.º, n.º 3. 011Nota Introdutória disposições do PIDCP. Embora tenham decorrido dez anos antes da respectiva entrada em vigor (1976), ambos os Pactos contam actualmente com mais de 150 Estados Partes, o que demonstra bem o grau de adesão dos membros da comunidade internacional às normas e princípios neles contidos. 3. Outros “instrumentos fundamentais de direitos humanos” Em 1965, ainda antes da adopção dos dois pactos internacionais sobre direitos huma- nos, a Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou um tratado especificamente dedicado ao combate à discriminaçãoracial: a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial. Desde aí, vários outros tratados internacio- nais foram aprovados e entraram em vigor sob a égide das Nações Unidas, nomeadamente: a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulhe- res (1979), a Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984), a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) e a Convenção Internacional sobre a Protecção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas Famílias (1990). Estas cinco convenções e os dois Pactos Internacionais sobre Direitos Humanos, e respec- tivos protocolos facultativos, designam-se, no seu conjunto, por “tratados fundamentais de direitos humanos” (core human rights treaties). Para controlar o cumprimento, pelos respec- tivos Estados Partes, das disposições de cada um deles, foram instituídos comités internacionais de peritos que examinam relatórios apresentados por cada um dos Estados Partes, formulam comentários gerais interpretativos das normas consagradas no instrumento em causa e, em certos casos, examinam comunicações apresentadas por particulares. 4. Outros instrumentos das Nações Unidas Para além destes, muitos outros tratados com impacto ao nível da protecção interna- cional dos direitos humanos têm sido adoptados pelas Nações Unidas ou por sua iniciativa, nomeadamente a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, em 1948, e o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, em 1998, bem como diversos outros instrumentos relativos, por exemplo, à protecção contra a escravatura e o tráfico de escravos, aos refugiados e à nacionalidade. Também as agências especializadas do sistema das Nações Unidas desenvolvem um importante trabalho nesta área, em particular a Organização Internacional do Trabalho (OIT), na área da protecção dos trabalhadores, e a UNESCO, no domínio do direito à educação. O trabalho normativo das Nações Unidas na área dos direitos humanos não se esgota, porém, com a adopção de tratados internacionais: quer a Assembleia Geral das Nações Unidas, quer diversas conferências e congressos organizados sob a égide da ONU têm vindo a adoptar um grande número de declarações, recomendações e conjuntos de prin- 012 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] cípios de enorme relevância. Muito embora não sejam juridicamente vinculativos per se, podem oferecer importantes indícios de normas costumeiras de direito internacional, bem como ajudar a clarificar as obrigações dos Estados em virtude do costume interna- cional ou dos tratados de direitos humanos. II. As Organizações Regionais 1. O Conselho da Europa Também a nível regional se faz sentir a necessidade de assegurar e reforçar a protecção dos direitos da pessoa humana. O Conselho da Europa foi criado em 1949, quatro anos depois da ONU, com o objectivo de realizar uma união mais estreita entre os seus Membros, a fim de salvaguardar e de promover os ideais e os princípios que são o seu património comum e de favorecer o seu progresso económico e social, […] através do exame de questões de interesse comum, pela conclusão de acordos e pela adopção de uma acção comum nos domínios económico, social, cultural, científico, jurídico e administra- tivo, bem como pela salvaguarda e desenvolvimento dos direitos do homem e das liberdades fundamentais2. Em prossecução deste objectivo foi adoptada, em 1950, a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, ao abrigo da qual qualquer pessoa sujeita à jurisdição de um Estado Parte pode apresentar queixas em caso de violação de qualquer dos direitos previstos na Convenção e seus Protocolos Facultativos. Após a entrada em vigor do Protocolo n.º 11 à Convenção, a 1 de Novembro de 1998, o sistema de protecção instituído pela Convenção Europeia transformou-se no primeiro sistema internacional de protecção dos direitos humanos de carácter puramente jurisdicional. Ao longo dos seus mais de 50 anos de actividade, o Conselho da Europa tem vindo a adoptar uma série de outros instrumentos internacionais de grande relevância no domí- nio da protecção dos direitos humanos: são disto exemplo a Carta Social Europeia, de 1961, e a Carta Social Europeia Revista, de 1996, que se destinam a proteger uma série de direitos económicos, sociais e culturais (ao passo que a Convenção Europeia dos Direi- tos do Homem e seus Protocolos incidem sobretudo sobre direitos civis e políticos) e ao abrigo das quais existe a possibilidade de apresentação de queixas colectivas em caso de violação dos direitos por elas protegidos. O Conselho da Europa adoptou ainda uma série de outros instrumentos internacionais, nomeadamente em matéria de protecção das minorias, das crianças, dos trabalhadores migrantes e dos refugiados, prevenção da tortura, nacionalidade, assistência social e médica, pro- tecção de dados pessoais e bioética. 2 Estatuto do Conselho da Europa, artigo 1.º, alíneas a) e b). 013Nota Introdutória 2. Outras organizações regionais Ainda ao nível do continente europeu, também a União Europeia (UE) tem vindo a incorporar os direitos humanos na sua política comum, em especial desde a explícita consagração destes direitos como objectivos da União no Tratado da União Europeia, que entrou em vigor em Novembro de 1993. Esta integração foi reforçada com o Tratado de Amesterdão, que prevê ainda a possibilidade de suspensão dos direitos de um Estado Membro em caso de violação grave e persistente dos direitos humanos e dos princípios democráticos. Em Dezembro de 2000, foi proclamada, pelo Conselho, a Comissão e o Parlamento Europeu, a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, que enu- mera uma série de direitos – civis, políticos, económicos e sociais – reconhecidos a todas as pessoas sujeitas à jurisdição dos Estados Membros da UE em virtude da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, da Carta Social Europeia, das tradições constitucionais dos Estados Membros e de outros tratados internacionais dos quais a UE ou os seus Mem- bros sejam Partes. Apesar de esta Carta não ser ainda formalmente vinculativa per se – pendente que está a entrada em vigor do Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa, do qual constitui a II Parte – a sua influência faz-se já sentir, designadamente ao nível da visibilidade dos direitos enumerados, e tem vindo a ser cada vez mais citada nas petições e comunicações apresentadas às instâncias europeias. Relevante também é o trabalho da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), criada nos anos 70 e que reúne actualmente 56 Estados Membros da Europa, Ásia Central e América do Norte. Concebida como um instrumento de detecção precoce de ameaças à segurança, prevenção de conflitos, gestão de crises e reabilitação pós-conflito, a OSCE aborda as três dimensões da segurança: político-militar, económica e ambiental, e humana. As actividades relativas à promoção e protecção dos direitos humanos privilegiam áreas como as liberdades de circulação e de religião, a prevenção da tortura e o combate ao tráfico de pessoas. Em África, assume particular relevância o trabalho da Organização de Unidade Afri- cana (OEA), antecessora da actual União Africana, que adoptou nomeadamente, em 1981, a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos. Ao nível do continente americano, a Organização de Estados Americanos (OEA) tem também desenvolvido um assinalável trabalho, em particular desde a adopção da Convenção Americana sobre Direitos Huma- nos, em 1967. III. Objectivos e estrutura da presente compilação A presente compilação – composta por dois volumes – pretende oferecer uma panorâ-mica geral dos instrumentos de direitos humanos que vinculam actualmente, ou poderão vir a vincular, o Estado português. 014 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] O primeiro volume inclui capítulos sobre a Carta das Nações Unidas e o Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça; a Carta Internacional dos Direitos Humanos; a Preven- ção da Discriminação; os Direitos das Crianças; os Direitos das Mulheres; os Direitos dos Migrantes; e os Direitos Humanos na Administração da Justiça. Contém, assim, os textos dos sete “instrumentos fundamentais de direitos humanos”, e respectivos protocolos facultativos, de âmbito universal. O segundo volume inclui capítulos dedicados às principais Conferências e Cimeiras Mundiais sobre Direitos Humanos; ao Emprego e Trabalho; à Escravatura, Servidão, Tra- balhos Forçados e Práticas Similares; às Liberdades de Associação e de Informação; ao Casamento, Família e Juventude; aos Refugiados e Asilo; à Nacionalidade; aos Idosos; às Pessoas com Deficiência; ao Bem-Estar Social, Progresso e Desenvolvimento; à Saúde e Assistência Médica; à Protecção de Dados Pessoais; à Bioética; aos Direitos Culturais; ao Direito à Autodeterminação; e à Promoção e Protecção dos Direitos Humanos. Em cada um dos capítulos de ambos os volumes, surgem em primeiro lugar os instru- mentos de âmbito universal, começando pelos instrumentos juridicamente vinculativos (tratados internacionais) e prosseguindo com os instrumentos sem força vinculativa for- mal (declarações, recomendações, conjuntos de princípios). Aparecem depois os instrumentos de âmbito regional europeu (por serem os únicos aplicáveis a Portugal), caso existam. Refira-se que, para que um tratado entre em vigor na ordem jurídica interna portu- guesa, é designadamente necessária a sua prévia publicação no jornal oficial (Diário da República). São em geral publicadas, no mesmo jornal oficial, as versões do instrumento na língua ou línguas originais (quase sempre, o inglês e/ou o francês) e em língua portu- guesa. Por esta razão, no caso de instrumentos juridicamente vinculativos, existe uma versão oficial em língua portuguesa, só essa devendo ser utilizada e citada, sempre que necessário. A presente compilação reproduz assim, na íntegra, as versões oficiais em vigor em Portugal de cada um dos tratados dela constantes que tenham sido ratificados ou aprovados pelo nosso país. Num pequeno número de casos, verificou-se existirem lapsos manifestos ao nível da tradução dos textos oficialmente publicados. Nestas situações, foram inseridas pequenas notas (assinaladas *) referindo o texto oficial e os motivos pelos quais se pensa que deverão ser consideradas alterações pontuais. Nos casos de instrumentos não ratificados por Portugal, quer pelo facto de o nosso país não se ter ainda tornado Parte nos mesmos, quer por se tratar de textos insusceptíveis de ratificação ou adesão (i.e., declarações, recomendações, conjuntos de princípios, resolu- ções da Assembleia Geral das Nações Unidas), não existiu publicação oficial, pelo que também não existe versão oficial em língua portuguesa. Estes textos foram traduzidos para português – alguns deles pela primeira vez – pelo Gabinete de Documentação e 015Nota Introdutória Direito Comparado (GDDC) para inclusão nesta obra. A única excepção é a Declaração Universal dos Direitos do Homem que, pela sua importância, mereceu publicação no Diário da República, pelo que se incluiu a respectiva tradução oficial. Para além do texto de cada um dos instrumentos, foram também incluídas informa- ções sobre, nomeadamente, os seguintes aspectos: data e local de adopção; data de entrada em vigor na ordem internacional; datas de assinatura, aprovação, e ratificação ou adesão; data do depósito do instrumento de ratificação ou adesão, e depositário; data de entrada em vigor na ordem jurídica portuguesa; declarações ou reservas formuladas por Portugal relativamente a cada instrumento; local onde pode ser obtida a lista de Estados Partes. Esta é a mais completa compilação de instrumentos internacionais de direitos humanos publicada em Portugal até ao momento. No entanto, uma obra deste tipo está sempre, por natureza, incompleta. O trabalho de produção normativa das diferentes organizações internacionais – universais e regionais – é constante e encontra-se em permanente evolução. Ao nível das Nações Unidas, por exemplo, estão pendentes de aprovação pela Assembleia Geral uma nova Convenção contra o Desaparecimento For- çado de Pessoas e uma nova Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Encontram-se também em negociação uma Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e um protocolo facultativo ao Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais – este último pretende instituir a possibilidade de apresentação de queixas por violação dos direitos previstos no PIDESC, à semelhança do que já acontece com o PIDCP. Para informação actualizada sobre os desenvolvimentos mais recentes no trabalho das organizações internacionais no domínio da produção normativa, consulte designada- mente os websites do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (www.ohchr.org) e do Conselho da Europa (www.coe.int). Assim se poderá manter a par da evolução das negociações dos novos instrumentos, das respectivas datas de entrada em vigor e dos Estados que se vão tornando Partes nos mesmos. No website do GDDC (www.gddc.pt) poderá encontrar informações sobre os sistemas de protecção dos direitos humanos de âmbito universal e regional (nomeadamente os mecanismos de aplicação dos tratados mais importantes). Por outro lado, o texto integral de cada instrumento está aces- sível on-line, gratuitamente. IV. Conclusões A universalidade, indivisibilidade, interdependência e inter-relação de todos os direitos humanos – sejam eles civis, culturais, económicos, políticos ou sociais – são conceitos que se encontram já reflectidos no conteúdo e na estrutura da Declaração 016 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] Universal dos Direitos do Homem. Constituem hoje postulados fundamentais no domínio dos direitos humanos, universalmente reconhecidos pela comunidade das Nações, em especial após terem sido proclamados por consenso pelos Estados parti- cipantes na Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, realizada em Viena no ano de 1993. Por esta razão, nenhum direito humano deve ser considerado isoladamente dos restan- tes. É, assim, importante adoptar sempre uma perspectiva integrada, que tenha em conta de que forma e até que ponto o gozo de um direito, ou a sua violação, podem afectar o gozo dos restantes direitos humanos. Espera-se que esta obra, pela estrutura adoptada, facilite este trabalho. A presente compilação destina-se, desde logo, a estudantes e aos profissionais cujo trabalho tenha um impacto directo no gozo dos direitos humanos, nomeadamente juris- tas, funcionários responsáveis pela aplicação da lei, funcionários dos serviços de estrangeiros e fronteiras e outros funcionários públicos, médicos, assistentes sociais, diplomatas e especialistas em relações internacionais, entre outros. Destina-se ainda ao público em geral e a todos os que pretendam, na sua acção quoti- diana, fazer valer os seus direitos e contribuir para o reforço da promoção e protecção dos direitos humanos dos demais: seja no seio da respectiva família, enquanto profissionais ou como simples cidadãos. Nas palavras de Boutros Boutros-Ghali, Secretário Geral das Nações Unidas entre 1992 e 1996: Reconhece-se desde há muito que um elemento essencial da protecção dos direitos humanos é um conhecimento generalizado entre a população de quais são os seus direitose de como podem ser defendidos. Esperamos, por isso, que esta obra represente uma valiosa contribuição para tal fim. Utilize-a e dê-a a conhecer aos demais! Gabinete de Documentação e Direito Comparado Julho de 2006 Carta das Nações Unidas e Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça 01 Carta das Nações Unidas e Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça 01 019Carta das Nações Unidas [1] Carta das Nações Unidas ■ Assinada em São Francisco a 26 de Junho de 1945. ■ Entrada em vigor na ordem jurídica internacional: 24 de Outubro de 1945 (de acordo com o arti- go 110.º). ■ Aceitação por Portugal das obrigações constantes da Carta: Portugal foi admitido como membro das Nações Unidas em sessão especial da Assembleia Geral realizada a 14 de Dezembro de 1955, no âmbito de um acordo entre os EUA e a então União Soviética (resolução 995 (X) da Assem- bleia Geral). A declaração de aceitação por parte de Portugal das obrigações constantes da Carta foi depositada junto do Secretário-Geral das Nações Unidas a 21 de Fevereiro de 1956 (registo n.º 3155), estando publicada na United Nations Treaty Series, vol. 229, página 3, de 1958. ■ Entrada em vigor para Portugal: 21 de Fevereiro de 1956. ■ Publicação: o texto da Carta das Nações Unidas foi publicado no Diário da República I Série-A, n.º 117/91, mediante o Aviso n.º 66/91, de 22 de Maio de 1991. ■ Estados Partes: todos os membros das Nações Unidas. Para lista actualizada, consulte o website da Organização das Nações Unidas (www.un.org). Nota introdutória A Carta das Nações Unidas foi assinada em São Francisco a 26 de Junho de 1945, no final da Conferência das Nações Unidas sobre a Organização Internacional, e entrou em vigor a 24 de Outubro de 1945. O Estatuto do Tribunal(*) Internacional de Justiça é parte inte- grante da Carta. A 17 de Dezembro de 1963 foram adoptadas pela Assembleia Geral emendas aos arti- gos 23, 27 e 61 da Carta as quais entraram em vigor a 31 de Agosto de 1965. Outra emenda ao artigo 61 foi adoptada pela Assembleia Geral a 20 de Dezembro de 1971 e entrou em vigor a 24 de Setembro de 1973. Uma emenda ao artigo 109, adoptada pela Assembleia Geral a 20 de Dezembro de 1965, entrou em vigor a 12 de Junho de 1968. A emenda ao artigo 23 eleva de 11 para 15 o número de membros do Conselho de Segurança. A emenda ao artigo 27 dispõe que as decisões (*) Corte – em uso no Brasil 020 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] do Conselho de Segurança sobre questões de procedimento são tomadas pelo voto afir- mativo de nove membros (anteriormente sete) e que as suas decisões sobre todas as outras questões são tomadas pelo voto afirmativo de nove dos seus membros (anteriormente sete), incluídos os votos dos cinco membros permanentes do Conselho. A emenda ao artigo 61, que entrou em vigor a 31 de Agosto de 1965, elevava de 18 para 27 o número de membros do Conselho Económico e Social. A emenda seguinte a esse artigo, que entrou em vigor a 24 de Setembro de 1973, elevou de 27 para 54 o número de membros do Conselho. A emenda ao artigo 109, que diz respeito ao n.º 1 desse artigo, determina que uma Conferência Geral dos membros das Nações Unidas, com o propósito de rever a Carta, poderá reunir-se em local e data a serem fixados pelo voto de dois terços dos membros da Assembleia Geral e pelo voto de nove (anteriormente sete) dos membros do Conselho de Segurança. O n.º 3 do artigo 109, que trata do exame pela Assembleia Geral, na sua 10.º sessão ordinária, da questão de uma possível conferência para a revisão da Carta, foi mantido na sua forma original, no que se refere ao «voto de sete membros quaisquer do Conselho de Segurança», tendo a Assembleia Geral, em sua 10.ª sessão ordinária, e o Conselho de Segurança, em 1955, tomado medidas acerca desse parágrafo. Carta das Nações Unidas Nós, os povos das Nações Unidas, decididos: A preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade; A reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas; A estabelecer as condições necessárias à manutenção da justiça e do respeito das obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional; A promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de um conceito mais amplo de liberdade; e para tais fins: A praticar a tolerância e a viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos; A unir as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais; A garantir, pela aceitação de princípios e a instituição de métodos, que a força armada não será usada, a não ser no interesse comum; A empregar mecanismos internacionais para promover o progresso económico e social de todos os povos; 021Carta das Nações Unidas resolvemos conjugar os nossos esforços para a consecução desses objectivos. Em vista disso, os nossos respectivos governos, por intermédio dos seus representantes reunidos na cidade de São Francisco, depois de exibirem os seus plenos poderes, que foram achados em boa e devida forma, adoptaram a presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por meio dela, uma organização internacional que será conhecida pelo nome de Nações Unidas. Capítulo I [Objectivos e princípios] Artigo 1 Os objectivos das Nações Unidas são: 1) Manter a paz e a segurança internacionais e para esse fim: tomar medidas colectivas eficazes para prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os actos de agressão, ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos, e em conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajustamento ou solução das controvérsias ou situações internacionais que possam levar a uma perturbação da paz; 2) Desenvolver relações de amizade entre as nações baseadas no respeito do princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropria- das ao fortalecimento da paz universal; 3) Realizar a cooperação internacional, resolvendo os problemas internacionais de carác- ter económico, social, cultural ou humanitário, promovendo e estimulando o respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; 4) Ser um centro destinado a harmonizar a acção das nações para a consecução desses objectivos comuns. Artigo 2 A Organização e os seus membros, para a realização dos objectivos mencionados no artigo 1, agirão de acordo com os seguintes princípios: 1) A Organização é baseada no princípio da igualdade soberana de todos os seus mem- bros; 2) Os membros da Organização, a fim de assegurarem a todos em geral os direitos e van- tagens resultantes da sua qualidade de membros, deverão cumprir de boa fé as obrigações por eles assumidas em conformidade com a presente carta; 3) Os membros da Organização deverão resolver as suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo a que a paz e a segurança internacionais, bem como a justiça, não sejam ameaçadas; 4) Os membros deverão abster-se nas suas relações internacionais de recorrer à ameaça ou ao uso da força, quer seja contra a integridade territorial ou a independência política 022 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] de um Estado, quer seja de qualquer outro modo incompatível com os objectivos das Nações Unidas; 5) Os membros da Organização dar-lhe-ão toda a assistência em qualquer acção que ela empreender em conformidade com a presente Carta e se absterão de dar assistência a qualquer Estadocontra o qual ela agir de modo preventivo ou coercitivo; 6) A Organização fará com que os Estados que não são membros das Nações Unidas ajam de acordo com esses princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da segurança internacionais; 7) Nenhuma disposição da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervir em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição interna de qualquer Estado, ou obrigará os membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas cons- tantes do capítulo VII. Capítulo II [Membros] Artigo 3 Os membros originários das Nações Unidas serão os Estados que, tendo participado na Conferência das Nações Unidas sobre a Organização Internacional, realizada em São Fran- cisco, ou, tendo assinado previamente a Declaração das Nações Unidas, de 1 de Janeiro de 1942, assinaram a presente Carta e a ratificaram, de acordo com o artigo 110. Artigo 4 1. A admissão como membro das Nações Unidas fica aberta a todos os outros Estados amantes da paz que aceitarem as obrigações contidas na presente carta e que, a juízo da Organização, estiverem aptos e dispostos a cumprir tais obrigações. 2. A admissão de qualquer desses Estados como membros das Nações Unidas será efectuada por decisão da Assembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. Artigo 5 O membro das Nações Unidas contra o qual for levada a efeito qualquer acção preventiva ou coercitiva por parte do Conselho de Segurança poderá ser suspenso do exercício dos direitos e privilégios de membro pela Assembleia Geral, mediante recomendação do Con- selho de Segurança. O exercício desses direitos e privilégios poderá ser restabelecido pelo Conselho de Segurança. Artigo 6 O membro das Nações Unidas que houver violado persistentemente os princípios conti- dos na presente Carta poderá ser expulso da Organização pela Assembleia Geral mediante recomendação do Conselho de Segurança. 023Carta das Nações Unidas Capítulo III [Órgãos] Artigo 7 1. Ficam estabelecidos como órgãos principais das Nações Unidas: uma Assembleia Geral, um Conselho de Segurança, um Conselho Económico e Social, um Conselho de Tutela, um Tribunal(*) Internacional de Justiça e um Secretariado. 2. Poderão ser criados, de acordo com a presente Carta, os órgãos subsidiários considera- dos necessários. Artigo 8 As Nações Unidas não farão restrições quanto ao acesso de homens e mulheres, em con- dições de igualdade, a qualquer função nos seus órgãos principais e subsidiários. Capítulo IV [Assembleia geral] COMPOSIÇÃO Artigo 9 1. A Assembleia Geral será constituída por todos os membros das Nações Unidas. 2. Nenhum membro deverá ter mais de cinco representantes na Assembleia Geral. FUNÇÕES E PODERES Artigo 10 A Assembleia Geral poderá discutir quaisquer questões ou assuntos que estiverem den- tro das finalidades da presente Carta ou que se relacionarem com os poderes e funções de qualquer dos órgãos nela previstos, e, com excepção do estipulado no artigo 12, poderá fazer recomendações aos membros das Nações Unidas ou ao Conselho de Segu- rança, ou a este e àqueles, conjuntamente, com a referência a quaisquer daquelas questões ou assuntos. Artigo 11 1. A Assembleia Geral poderá considerar os princípios gerais de cooperação na manu- tenção da paz e da segurança internacionais, inclusive os princípios que disponham sobre o desarmamento e a regulamentação dos armamentos, e poderá fazer recomen- dações relativas a tais princípios aos membros ou ao Conselho de Segurança, ou a este e àqueles conjuntamente. 2. A Assembleia Geral poderá discutir quaisquer questões relativas à manutenção da paz e da segurança internacionais, que lhe forem submetidas por qualquer membro das Nações Unidas, ou pelo Conselho de Segu-(*) Corte – em uso no Brasil 024 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] rança, ou por um Estado que não seja membro das Nações Unidas, de acordo com o artigo 35, n.º 2, e, com excepção do que fica estipulado no artigo 12, poderá fazer reco- mendações relativas a quaisquer destas questões ao Estado ou Estados interessados ou ao Conselho de Segurança ou a este e àqueles. Qualquer destas questões, para cuja solução seja necessária uma acção, será submetida ao Conselho de Segurança pela Assembleia Geral, antes ou depois da discussão. 3. A Assembleia Geral poderá chamar a atenção do Conselho de Segurança para situa- ções que possam constituir ameaça à paz e à segurança internacionais. 4. Os poderes da Assembleia Geral enumerados neste artigo não limitarão o alcance geral do artigo 10. Artigo 12 1. Enquanto o Conselho de Segurança estiver a exercer, em relação a qualquer controvér- sia ou situação, as funções que lhe são atribuídas na presente Carta, a Assembleia Geral não fará nenhuma recomendação a respeito dessa controvérsia ou situação, a menos que o Conselho de Segurança o solicite. 2. O Secretário-Geral, com o consentimento do Conselho de Segurança, comunicará à Assembleia Geral, em cada sessão, quaisquer assuntos relativos à manutenção da paz e da segurança internacionais que estiverem a ser tratados pelo Conselho de Segurança, e da mesma maneira dará conhecimento de tais assuntos à Assembleia Geral, ou aos mem- bros das Nações Unidas se a Assembleia Geral não estiver em sessão, logo que o Conselho de Segurança terminar o exame dos referidos assuntos. Artigo 13 1. A Assembleia Geral promoverá estudos e fará recomendações, tendo em vista: a) Fomentar a cooperação internacional no plano político e incentivar o desenvolvi- mento progressivo do direito internacional e a sua codificação; b) Fomentar a cooperação internacional no domínio económico, social, cultural, educa- cional e da saúde e favorecer o pleno gozo dos direitos do homem e das liberdades fundamentais, por parte de todos os povos, sem distinção de raça, sexo, língua ou reli- gião. 2. As demais responsabilidades, funções e poderes da Assembleia Geral em relação aos assuntos acima mencionados, no n.º 1, alínea b), estão enumerados nos capítulos IX e X. Artigo 14 A Assembleia Geral, com ressalva das disposições do artigo 12, poderá recomendar medidas para a solução pacífica de qualquer situação, qualquer que seja a sua origem, que julgue prejudicial ao bem-estar geral ou às relações amistosas entre nações, inclu- sive as situações que resultem da violação das disposições da presente Carta que estabelecem os objectivos e princípios das Nações Unidas. 025Carta das Nações Unidas Artigo 15 1. A Assembleia Geral receberá e examinará os relatórios anuais e especiais do Conselho de Segurança. Esses relatórios incluirão uma relação das medidas que o Conselho de Segu- rança tenha adoptado ou aplicado a fim de manter a paz e a segurança internacionais. 2. A Assembleia Geral receberá e examinará os relatórios dos outros órgãos das Nações Unidas. Artigo 16 A Assembleia Geral desempenhará, em relação ao regime internacional de tutela, as funções que lhe são atribuídas nos capítulos XII e XIII, inclusive as de aprovação de acordos de tutela referentes às zonas não designadas como estratégicas. Artigo 17 1. A Assembleia Geral apreciará e aprovará o orçamento da Organização. 2. As despesas da Organização serão custeadas pelos membros segundo quotas fixadas pela Assembleia geral. 3. A Assembleia Geral apreciará e aprovará quaisquer ajustes financeiros e orçamentais com as organizações especializadas, a que se refere o artigo 57, e examinará os orçamentos admi- nistrativos das referidas instituições especializadas, com o fim de lhes fazer recomendações. VOTAÇÃO Artigo 18 1. Cada membro da AssembleiaGeral terá um voto. 2. As decisões da Assembleia Geral sobre questões importantes serão tomadas por maioria de dois terços dos membros presentes e votantes. Essas questões compreenderão: as reco- mendações relativas à manutenção da paz e da segurança internacionais, a eleição dos membros não permanentes do Conselho de Segurança, a eleição dos membros do Conse- lho Económico e Social, a eleição dos membros do Conselho de Tutela de acordo com o n.º 1, alínea c), do artigo 86, a admissão de novos membros das Nações Unidas, a suspen- são dos direitos e privilégios de membros, a expulsão de membros, as questões referentes ao funcionamento do regime de tutela e questões orçamentais. 3. As decisões sobre outras questões, inclusive a determinação de categorias adicionais de assuntos a serem debatidos por maioria de dois terços, serão tomadas por maioria dos membros presentes e votantes. Artigo 19 O membro das Nações Unidas em atraso no pagamento da sua contribuição financeira à Organização não terá voto na Assembleia Geral, se o total das suas contribuições atrasadas igualar ou exceder a soma das contribuições correspondentes aos dois anos anteriores com- pletos. A Assembleia Geral poderá, entretanto, permitir que o referido membro vote, se ficar provado que a falta de pagamento é devida a circunstâncias alheias à sua vontade. 026 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] PROCEDIMENTO Artigo 20 A Assembleia Geral reunir-se-á em sessões anuais ordinárias e em sessões extraordinárias sempre que as circunstâncias o exigirem. As sessões extraordinárias serão convocadas pelo Secretário-Geral, a pedido do Conselho de Segurança ou da maioria dos membros das Nações Unidas. Artigo 21 A Assembleia Geral adoptará o seu próprio regulamento e elegerá o seu presidente para cada sessão. Artigo 22 A Assembleia Geral poderá estabelecer os órgãos subsidiários que julgar necessários ao desempenho das suas funções. Capítulo V [Conselho de Segurança] COMPOSIÇÃO Artigo 23 1. O Conselho de Segurança será constituído por 15 membros das Nações Unidas. A Repú- blica da China, a França, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América serão membros perma- nentes do Conselho de Segurança. A Assembleia Geral elegerá 10 outros membros das Nações Unidas para membros não permanentes do Conselho de Segurança, tendo espe- cialmente em vista, em primeiro lugar, a contribuição dos membros das Nações Unidas para a manutenção da paz e da segurança internacionais e para os outros objectivos da Organização e também uma distribuição geográfica equitativa. 2. Os membros não permanentes do Conselho de Segurança serão eleitos por um período de dois anos. Na primeira eleição dos membros não permanentes, depois do aumento do número de membros do Conselho de Segurança de 11 para 15, dois dos quatro membros adicionais serão eleitos por um período de um ano. Nenhum membro que termine o seu mandato poderá ser reeleito para o período imediato. 3. Cada membro do Conselho de Segurança terá um representante. FUNÇÕES E PODERES Artigo 24 1. A fim de assegurar uma acção pronta e eficaz por parte das Nações Unidas, os seus mem- bros conferem ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade na manutenção da 027Carta das Nações Unidas paz e da segurança internacionais e concordam em que, no cumprimento dos deveres impostos por essa responsabilidade, o Conselho de Segurança aja em nome deles. 2. No cumprimento desses deveres, o Conselho de Segurança agirá de acordo com os objectivos e os princípios das Nações Unidas. Os poderes específicos concedidos ao Conselho de Segurança para o cumprimento dos referidos deveres estão definidos nos capítulos VI, VII, VIII e XII. 3. O Conselho de Segurança submeterá à apreciação da Assembleia Geral relatórios anuais e, quando necessário, relatórios especiais. Artigo 25 Os membros das Nações Unidas concordam em aceitar e aplicar as decisões do Conselho de Segurança, de acordo com a presente Carta. Artigo 26 A fim de promover o estabelecimento e a manutenção da paz e da segurança internacionais, desviando para armamentos o mínimo possível dos recursos humanos e económicos do mundo, o Conselho de Segurança terá o encargo de elaborar, com a assistência da Comissão de Estado-Maior a que se refere o artigo 47, os planos, a serem submetidos aos membros das Nações Unidas, tendo em vista estabelecer um sistema de regulamentação dos armamentos. VOTAÇÃO Artigo 27 1. Cada membro do Conselho de Segurança terá um voto. 2. As decisões do Conselho de Segurança, em questões de procedimento, serão tomadas por um voto afirmativo de nove membros. 3. As decisões do Conselho de Segurança sobre quaisquer outros assuntos serão toma- das por voto favorável de nove membros, incluindo os votos de todos os membros permanentes, ficando entendido que, no que se refere às decisões tomadas nos termos do capítulo VI e do n.º 3 do artigo 52, aquele que for parte numa controvérsia se absterá de votar. PROCEDIMENTO Artigo 28 1. O Conselho de Segurança será organizado de maneira que possa funcionar continua- mente. Cada membro do Conselho de Segurança estará, para tal fim, em todos os momentos, representado na sede da Organização. 2. O Conselho de Segurança terá reuniões periódicas, nas quais cada um dos seus mem- bros poderá, se assim o desejar, ser representado por um membro do governo ou por outro representante especialmente designado. 3. O Conselho de Segurança poderá reunir-se em outros lugares fora da sede da Organi- zação, que julgue mais apropriados para facilitar o seu trabalho. 028 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] Artigo 29 O Conselho de Segurança poderá estabelecer os órgãos subsidiários que julgar necessá- rios para o desempenho das suas funções. Artigo 30 O Conselho de Segurança adoptará o seu próprio regulamento, que incluirá o modo de designação do seu presidente. Artigo 31 Qualquer membro das Nações Unidas que não seja membro do Conselho de Segurança poderá participar, sem direito a voto, na discussão de qualquer questão submetida ao Conselho de Segurança, sempre que este considere que os interesses do referido membro estão especialmente em jogo. Artigo 32 Qualquer membro das Nações Unidas que não seja membro do Conselho de Segurança ou qualquer Estado que não seja membro das Nações Unidas será convidado, desde que seja parte numa controvérsia submetida ao Conselho de Segurança, a participar, sem direito a voto, na discussão dessa controvérsia. O Conselho de Segurança determinará as condições que lhe parecerem justas para a participação de um Estado que não seja mem- bro das Nações Unidas. Capítulo VI [Solução pacífica de controvérsias] Artigo 33 1. As partes numa controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inqué- rito, mediação, conciliação, arbitragem, via judicial, recurso a organizações ou acordos regionais, ou qualquer outro meio pacífico à sua escolha. 2. O Conselho de Segurança convidará, se o julgar necessário, as referidas partes a resol- ver por tais meios as suas controvérsias. Artigo 34 O Conselho de Segurança poderá investigar sobre qualquer controvérsia ou situação sus- ceptível de provocar atritos entre as Nações ou de dar origem a uma controvérsia, a fim de determinar se a continuação de tal controvérsia ou situação pode constituir ameaça à manutenção da paz e da segurança internacionais. Artigo 35 1. Qualquer membro das Nações Unidas poderá chamar a atenção do Conselho de Segu- 029Carta das Nações Unidasrança ou da Assembleia Geral para qualquer controvérsia ou qualquer situação da natureza das que se acham previstas no artigo 34. 2. Um Estado que não seja membro das Nações Unidas poderá chamar a atenção do Con- selho de Segurança ou da Assembleia Geral para qualquer controvérsia em que seja parte, uma vez que aceite previamente, em relação a essa controvérsia, as obrigações de solução pacífica previstas na presente Carta. 3. Os actos da Assembleia Geral a respeito dos assuntos submetidos à sua atenção, de acordo com este artigo, estarão sujeitos às disposições dos artigos 11 e 12. Artigo 36 1. O Conselho de Segurança poderá, em qualquer fase de uma controvérsia da natureza daquelas a que se refere o artigo 33, ou de uma situação de natureza semelhante, reco- mendar os procedimentos ou métodos de solução apropriados. 2. O Conselho de Segurança deverá tomar em consideração quaisquer procedimentos para a solução de uma controvérsia que já tenham sido adoptados pelas partes. 3. Ao fazer recomendações, de acordo com este artigo, o Conselho de Segurança deverá também tomar em consideração que as controvérsias de carácter jurídico devem, em regra, ser submetidas pelas partes ao Tribunal(*) Internacional de Justiça, de acordo com as disposições do Estatuto do Tribunal(*). Artigo 37 1. Se as partes numa controvérsia da natureza daquelas a que se refere o artigo 33 não conseguirem resolvê-la pelos meios indicados no mesmo artigo, deverão submetê-la ao Conselho de Segurança. 2. Se o Conselho de Segurança julgar que a continuação dessa controvérsia pode, de facto, constituir uma ameaça à manutenção da paz e da segurança internacionais, decidirá se deve agir de acordo com o artigo 36 ou recomendar os termos de solução que julgue adequados. Artigo 38 Sem prejuízo das disposições dos artigos 33 a 37, o Conselho de Segurança poderá, se todas as partes numa controvérsia assim o solicitarem, fazer recomendações às partes, tendo em vista uma solução pacífica da controvérsia. Capítulo VII [Acção em caso de ameaça à paz, ruptura da paz e acto de agressão] Artigo 39 O Conselho de Segurança determinará a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou acto de agressão e fará recomendações ou decidirá que medidas deverão ser tomadas de acordo com os artigos 41 e 42, a fim de manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. (*) Corte – em uso no Brasil 030 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] Artigo 40 A fim de evitar que a situação se agrave, o Conselho de Segurança poderá, antes de fazer as recomendações ou decidir a respeito das medidas previstas no artigo 39, instar as partes interessadas a aceitar as medidas provisórias que lhe pareçam necessárias ou aconselháveis. Tais medidas provisórias não prejudicarão os direitos ou pretensões nem a situação das partes interessadas. O Conselho de Segurança tomará devida nota do não cumprimento dessas medidas. Artigo 41 O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem envolver o emprego de forças armadas, deverão ser tomadas para tornar efectivas as suas decisões e poderá ins- tar os membros das Nações Unidas a aplicarem tais medidas. Estas poderão incluir a interrupção completa ou parcial das relações económicas, dos meios de comunicação ferroviários, marítimos, aéreos, postais, telegráficos, radioeléctricos, ou de outra qual- quer espécie, e o rompimento das relações diplomáticas. Artigo 42 Se o Conselho de Segurança considerar que as medidas previstas no artigo 41 seriam ou demonstraram ser inadequadas, poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a acção que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal acção poderá compreender demonstrações, bloqueios e outras opera- ções, por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos membros das Nações Unidas. Artigo 43 1. Todos os membros das Nações Unidas se comprometem, a fim de contribuir para a manutenção da paz e da segurança internacionais, a proporcionar ao Conselho de Segu- rança, a seu pedido e em conformidade com um acordo ou acordos especiais, forças armadas, assistência e facilidades, inclusive direitos de passagem, necessários à manu- tenção da paz e da segurança internacionais. 2. Tal acordo ou tais acordos determinarão o número e tipos das forças, o seu grau de preparação e a sua localização geral, bem como a natureza das facilidades e da assistên- cia a serem proporcionadas. 3. O acordo ou acordos serão negociados o mais cedo possível, por iniciativa do Conse- lho de Segurança. Serão concluídos entre o Conselho de Segurança e membros da Organização ou entre o Conselho de Segurança e grupos de membros e submetidos à ratificação, pelos Estados signatários, em conformidade com os respectivos procedimen- tos constitucionais. Artigo 44 Quando o Conselho de Segurança decidir recorrer ao uso da força, deverá, antes de soli- citar a um membro nele não representado o fornecimento de forças armadas em 031Carta das Nações Unidas cumprimento das obrigações assumidas em virtude do artigo 43, convidar o referido membro, se este assim o desejar, a participar nas decisões do Conselho de Segurança relativas ao emprego de contigentes das forças armadas do dito membro. Artigo 45 A fim de habilitar as Nações Unidas a tomar medidas militares urgentes, os membros das Nações Unidas deverão manter, imediatamente utilizáveis, contingentes das forças aéreas nacionais para a execução combinada de uma acção coercitiva internacional. A potência e o grau de preparação desses contingentes, bem como os planos de acção combinada, serão determinados pelo Conselho de Segurança com a assistência da Comis- são de Estado-Maior, dentro dos limites estabelecidos no acordo ou acordos especiais a que se refere o artigo 43. Artigo 46 Os planos para a utilização da força armada serão elaborados pelo Conselho de Segu- rança com a assistência da Comissão de Estado-Maior. Artigo 47 1. Será estabelecida uma Comissão de Estado-Maior destinada a orientar e assistir o Con- selho de Segurança, em todas as questões relativas às exigências militares do mesmo Conselho, para a manutenção da paz e da segurança internacionais, utilização e comando das forças colocadas à sua disposição, regulamentação de armamentos e possível desar- mamento. 2. A Comissão de Estado-Maior será composta pelos chefes de estado-maior dos membros permanentes do Conselho de Segurança ou pelos seus representantes. Qualquer membro das Nações Unidas que não estiver permanentemente representado na Comissão será por esta convidado a tomar parte nos seus trabalhos, sempre que a sua participação for neces- sária ao eficiente cumprimento das responsabilidades da Comissão. 3. A Comissão de Estado-Maior será responsável, sob a autoridade do Conselho de Segu- rança, pela direcção estratégica de todas as forças armadas postas à disposição do dito Conselho. As questões relativas ao comando dessas forças serão resolvidas ulteriormente. 4. A Comissão de Estado-Maior, com a autorização da Conselho de Segurança e depois de consultar os organismos regionais adequados, poderá estabelecer subcomissões regionais. Artigo 48 1. A acção necessária ao cumprimento das decisões do Conselho de Segurança para a manutenção da paz e da segurança internacionais será levada a efeito por todos os mem- bros das Nações Unidas ou por alguns deles, conforme seja determinado pelo Conselho de Segurança. 2. Essas decisões serão executadas pelos membros das Nações Unidas directamente e mediante a sua acção nos organismos internacionais apropriados de que façam parte. 032 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] Artigo 49 Os membrosdas Nações Unidas associar-se-ão para a prestação de assistência mútua na execução das medidas determinadas pelo Conselho de Segurança. Artigo 50 Se um Estado for objecto de medidas preventivas ou coercivas tomadas pelo Conselho de Segurança, qualquer outro Estado, quer seja ou não membro das Nações Unidas, que enfrente dificuldades económicas especiais resultantes da execução daquelas medidas terá o direito de consultar o Conselho de Segurança no que respeita à solução de tais dificuldades. Artigo 51 Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa individual ou colec- tiva, no caso de ocorrer um ataque armado contra um membro das Nações Unidas, até que o Conselho de Segurança tenha tomado as medidas necessárias para a manutenção da paz e da segurança internacionais. As medidas tomadas pelos membros no exercício desse direito de legítima defesa serão comunicadas imediatamente ao Conselho de Segurança e não deve- rão, de modo algum, atingir a autoridade e a responsabilidade que a presente Carta atribui ao Conselho para levar a efeito, em qualquer momento, a acção que julgar necessária à manu- tenção ou ao restabelecimento da paz e da segurança internacionais. Capítulo VIII [Acordos regionais] Artigo 52 1. Nada na presente Carta impede a existência de acordos ou de organizações regionais destinados a tratar dos assuntos relativos à manutenção da paz e da segurança interna- cionais que forem susceptíveis de uma acção regional, desde que tais acordos ou organizações regionais e suas actividades sejam compatíveis com os objectivos e princí- pios das Nações Unidas. 2. Os membros das Nações Unidas que forem parte em tais acordos ou que constituírem tais organizações empregarão todos os esforços para chegar a uma solução pacífica das controvérsias locais por meio desses acordos e organizações regionais, antes de as sub- meter ao Conselho de Segurança. 3. O Conselho de Segurança estimulará o desenvolvimento da solução pacífica de con- trovérsias locais mediante os referidos acordos ou organizações regionais, por iniciativa dos Estados interessados ou a instâncias do próprio Conselho de Segurança. 4. Este artigo não prejudica de modo algum a aplicação dos artigos 34 e 35. Artigo 53 1. O Conselho de Segurança utilizará, quando for caso, tais acordos e organizações regio- nais para uma acção coercitiva sob a sua própria autoridade. Nenhuma acção coercitiva 033Carta das Nações Unidas será, no entanto, levada a efeito em conformidade com acordos ou organizações regio- nais sem autorização do Conselho de Segurança, com excepção das medidas contra um Estado inimigo, como está definido no n.º 2 deste artigo, que forem determinadas em consequência do artigo 107 ou em acordos regionais destinados a impedir a renovação de uma política agressiva por parte de qualquer desses Estados, até ao momento em que a Organização possa, a pedido dos Governos interessados, ser incumbida de impedir qualquer nova agressão por parte de tal Estado. 2. O termo «Estado inimigo», usado no n.º 1 deste artigo, aplica-se a qualquer Estado que, durante a 2.ª Guerra Mundial, tenha sido inimigo de qualquer signatário da presente Carta. Artigo 54 O Conselho de Segurança será sempre informado de toda a acção empreendida ou pro- jectada em conformidade com os acordos ou organizações regionais para a manutenção da paz e da segurança internacionais. Capítulo IX [Cooperação económica e social internacional] Artigo 55 Com o fim de criar condições de estabilidade e bem-estar, necessárias às relações pacífi- cas e amistosas entre as Nações, baseadas no respeito do princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, as Nações Unidas promoverão: a) A elevação dos níveis de vida, o pleno emprego e condições de progresso e desen- volvimento económico e social; b) A solução dos problemas internacionais económicos, sociais, de saúde e conexos, bem como a cooperação internacional, de carácter cultural e educacional; c) O respeito universal e efectivo dos direitos do homem e das liberdades fundamen- tais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. Artigo 56 Para a realização dos objectivos enumerados no artigo 55, todos os membros da Organi- zação se comprometem a agir em cooperação com esta, em conjunto ou separadamente. Artigo 57 1. As várias organizações especializadas, criadas por acordos intergovernamentais e com amplas responsabilidades internacionais, definidas nos seus estatutos, nos campos eco- nómico, social, cultural, educacional, de saúde e conexos, serão vinculadas às Nações Unidas, em conformidade com as disposições do artigo 63. 2. Tais organizações assim vinculadas às Nações Unidas serão designadas, daqui em diante, como organizações especializadas. 034 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] Artigo 58 A Organização fará recomendações para coordenação dos programas e actividades das organizações especializadas. Artigo 59 A Organização, quando for o caso, iniciará negociações entre os Estados interessados para a criação de novas organizações especializadas que forem necessárias ao cumpri- mento dos objectivos enumerados no artigo 55. Artigo 60 A Assembleia Geral e, sob a sua autoridade, o Conselho Económico e Social, que dispõe, para esse efeito, da competência que lhe é atribuída no capítulo X, são incumbidos de exercer as funções da Organização estipuladas no presente capítulo. Capítulo X [Conselho Económico e Social] COMPOSIÇÃO Artigo 61 1. O Conselho Económico e Social será composto por 54 membros das Nações Unidas eleitos pela Assembleia Geral. 2. Com ressalva do disposto no n.º 3, serão eleitos cada ano, para um período de três anos, 18 membros do Conselho Económico e Social. Um membro cessante pode ser ree- leito para o período imediato. 3. Na primeira eleição a realizar-se depois de elevado o número de 27 para 54 membros, 27 membros adicionais serão eleitos, além dos membros eleitos para a substituição dos nove membros cujo mandato expira ao fim daquele ano. Desses 27 membros adicionais, nove serão eleitos para um mandato que expirará ao fim de um ano, e nove outros para um mandato que expirará ao fim de dois anos, de acordo com disposições adoptadas pela Assembleia Geral. 4. Cada membro do Conselho Económico e Social terá um representante. FUNÇÃO E PODERES Artigo 62 1. O Conselho Económico e Social poderá fazer ou iniciar estudos e relatórios a respeito de assuntos internacionais de carácter económico, social, cultural, educacional, de saúde e conexos, e poderá fazer recomendações a respeito de tais assuntos à Assembleia Geral, aos membros das Nações Unidas e às organizações especializadas interessadas. 2. Poderá fazer recomendações destinadas a assegurar o respeito efectivo dos direitos do homem e das liberdades fundamentais para todos. 035Carta das Nações Unidas 3. Poderá preparar, sobre assuntos da sua competência, projectos de convenções a serem submetidos à Assembleia Geral. 4. Poderá convocar, de acordo com as regras estipuladas pelas Nações Unidas, conferên- cias internacionais sobre assuntos da sua competência. Artigo 63 1. O Conselho Económico e Social poderá estabelecer acordos com qualquer das organi- zações a que se refere o artigo 57, a fim de determinar as condições em que a Organização interessada será vinculada às Nações Unidas. Tais acordos serão submetidos à aprovação da Assembleia Geral. 2. Poderá coordenar as actividades das organizações especializadas, por meio de consul- tas e recomendações às mesmas e de recomendações à Assembleia Geral e aos membros das Nações Unidas. Artigo 64 1. O Conselho Económico e Social poderá tomar as medidas adequadasa fim de obter relatórios regulares das organizações especializadas. Poderá entrar em entendimento com os membros das Nações Unidas e com as organizações especializadas a fim de obter relatórios sobre as medidas tomadas para cumprimento das suas próprias recomenda- ções e das que forem feitas pela Assembleia Geral sobre assuntos da competência do Conselho. 2. Poderá comunicar à Assembleia Geral as suas observações a respeito desses relatórios. Artigo 65 O Conselho Económico e Social poderá fornecer informações ao Conselho de Segurança e, a pedido deste, prestar-lhe assistência. Artigo 66 1. O Conselho Económico e Social desempenhará as funções que forem da sua compe- tência em cumprimento das recomendações da Assembleia Geral. 2. Poderá, mediante aprovação da Assembleia Geral, prestar os serviços que lhe forem solicitados pelos membros das Nações Unidas e pelas organizações especializadas. 3. Desempenhará as demais funções especificadas em outras partes da presente Carta ou as que lhe forem atribuídas pela Assembleia Geral. VOTAÇÃO Artigo 67 1. Cada membro do Conselho Económico e Social terá um voto. 2. As decisões do Conselho Económico e Social serão tomadas por maioria dos membros presentes e votantes. 036 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] PROCEDIMENTO Artigo 68 O Conselho Económico e Social criará comissões para os assuntos económicos e sociais e para a protecção dos direitos do homem, assim como outras comissões necessárias ao desempenho das suas funções. Artigo 69 O Conselho Económico convidará qualquer membro das Nações Unidas a tomar parte, sem voto, nas deliberações sobre qualquer assunto que interesse particularmente a esse membro. Artigo 70 O Conselho Económico e Social poderá entrar em entendimentos para que representan- tes das organizações especializadas tomem parte, sem voto, nas suas deliberações e nas das comissões por ele criadas e para que os seus próprios representantes tomem parte nas deliberações das organizações especializadas. Artigo 71 O Conselho Económico e Social poderá entrar em entendimentos convenientes para a consulta com organizações não governamentais que se ocupem de assuntos no âmbito da sua própria competência. Tais entendimentos poderão ser feitos com organizações internacionais e, quando for o caso, com organizações nacionais, depois de efectuadas consultas com o membro das Nações Unidas interessado no caso. Artigo 72 1. O Conselho Económico e Social adoptará o seu próprio regulamento, que incluirá o método de escolha do seu presidente. 2. O Conselho Económico e Social reunir-se-á quando necessário, de acordo com o seu regulamento, que deverá incluir disposições referentes à convocação de reuniões a pedido da maioria dos seus membros. Capítulo XI [Declaração relativa a territórios não autónomos] Artigo 73 Os membros das Nações Unidas que assumiram ou assumam responsabilidades pela administração de territórios cujos povos ainda não se governem completamente a si mesmos reconhecem o princípio do primado dos interesses dos habitantes desses terri- tórios e aceitam, como missão sagrada, a obrigação de promover no mais alto grau, dentro do sistema de paz e segurança internacionais estabelecido na presente Carta, o bem-estar dos habitantes desses territórios, e, para tal fim: 037Carta das Nações Unidas a) Assegurar, com o devido respeito pela cultura dos povos interessados, o seu pro- gresso político, económico, social e educacional, o seu tratamento equitativo e a sua protecção contra qualquer abuso; b) Promover o seu governo próprio, ter na devida conta as aspirações políticas dos povos e auxiliá-los no desenvolvimento progressivo das suas instituições políticas livres, de acordo com as circunstâncias peculiares a cada território e seus habitantes, e os diferentes graus do seu adiantamento; c) Consolidar a paz e a segurança internacionais; d) Favorecer medidas construtivas de desenvolvimento, estimular pesquisas, cooperar entre si e, quando e onde for o caso, com organizações internacionais especializadas, tendo em vista a realização prática dos objectivos de ordem social, económica e cien- tífica enumerados neste artigo; e) Transmitir regularmente ao Secretário-Geral, para fins de informação, sujeitas às reservas impostas por considerações de segurança e de ordem constitucional, infor- mações estatísticas ou de outro carácter técnico relativas às condições económicas, sociais e educacionais dos territórios pelos quais são respectivamente responsáveis e que não estejam compreendidos entre aqueles a que se referem os capítulos XII e XIII. Artigo 74 Os membros das Nações Unidas concordam também em que a sua política relativa aos territórios a que se aplica o presente capítulo deve ser baseada, do mesmo modo que a política seguida nos respectivos territórios metropolitanos, no princípio geral de boa vizinhança, tendo na devida conta os interesses e o bem-estar do resto do mundo no que se refere às questões sociais, económicas e comerciais. Capítulo XII [Regime internacional de tutela] Artigo 75 As Nações Unidas estabelecerão sob a sua autoridade um regime internacional de tutela para a administração e fiscalização dos territórios que possam ser colocados sob esse regime em consequência de futuros acordos individuais. Esses territórios serão, daqui em diante, designados como territórios sob tutela. Artigo 76 As finalidades básicas do regime de tutela, de acordo com os objectivos das Nações Uni- das enumerados no artigo 1 da presente Carta, serão: a) Consolidar a paz e a segurança internacionais; b) Fomentar o programa político, económico, social e educacional dos habitantes dos territórios sob tutela e o seu desenvolvimento progressivo para alcançar governo pró- 038 COMPILAÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS [VOLUME I] prio ou independência, como mais convenha às circunstâncias particulares de cada território e dos seus habitantes e aos desejos livremente expressos dos povos interes- sados e como for previsto nos termos de cada acordo de tutela; c) Encorajar o respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião, e favorecer o reconhecimento da interdependência de todos os povos; d) Assegurar igualdade de tratamento nos domínios social, económico e comercial a todos os membros das Nações Unidas e seus nacionais e, a estes últimos, igual trata- mento na administração da justiça, sem prejuízo dos objectivos acima expostos e sob reserva das disposições do artigo 80. Artigo 77 1. O regime de tutela será aplicado aos territórios das categorias seguintes que venham a ser colocados sob esse regime por meio de acordos de tutela: a) Territórios actualmente sob mandato; b) Territórios que possam ser separados de Estados inimigos em consequência da 2.ª Guerra Mundial; c) Territórios voluntariamente colocados sob esse regime por Estados responsáveis pela sua administração. 2. Será objecto de acordo ulterior a determinação dos territórios das categorias acima mencionadas a serem colocados sob o regime de tutela e das condições em que o serão. Artigo 78 O regime de tutela não será aplicado a territórios que se tenham tornado membros das Nações Unidas, cujas relações mútuas deverão basear-se no respeito pelo princípio da igualdade soberana. Artigo 79 As condições de tutela em que cada território será colocado sob este regime, bem como qualquer alteração ou emenda, serão determinadas por acordo entre os Estados directa- mente interessados, inclusive a potência mandatária no caso de território sob mandato de um membro das Nações Unidas, e serão aprovadas em
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