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Manual de Procedimentos no Sistema Interamericano de Direitos Humanos - Geledés – Instituto da Mulher Negra - 1. ed.

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Manual de Procedimentos no Sistema 
Interamericano de Direitos Humanos 
 
 
Guia Prático para ONGs 
 
 
 
 
 
 
 
 
Global Rights 
Geledés – Instituto da Mulher Negra (versão em português) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
A mais de duas décadas as organizações não governamentais vêm desempenhando 
papel cada vez mais importante na promoção e proteção dos direitos humanos em nível 
regional e internacional. Hoje, mais do que nunca os defensores de direitos humanos das 
Américas estão utilizando a Comissão Interamericana de Direitos Humanos para 
proteger os direitos humanos em nosso hemisfério. 
 
O Global Rights no começo dos anos 90 iniciou processo de coalizão com organizações 
internacionais, tendo no Brasil, como organização parceira, desde o ano de 2000 o 
Geledés – Instituto da Mulher Negra, uma organização de defesa dos direitos humanos 
que atua sobretudo em defesa dos fundamentais das mulheres negras e, através do 
Projeto SOS Racismo na defesa dos direitos das vitimas de racismo no âmbito nacional. 
Desta maneira surgiu a parceria entre Geledés e Global Rights, em especial no âmbito 
internacional com atuação no sistema interamericano de direitos humanos. 
 
Em razão do trabalho que vem sendo desenvolvido desde o ano de 2000, Geledés e 
Global Rights oferecem este manual como ferramenta para as ONGs interessadas em 
promover os direitos humanos em nível regional. Este manual foi desenvolvido 
originalmente nas versões em espanhol e inglês pelo Global Rights, esta parceria 
permitiu a produção da versão em português. Esperamos haver criado um instrumento 
que responda efetivamente a muitos segmentos temáticos que têm sido violados em seus 
direitos fundamentais e que o manual sirva como resposta a algumas perguntas comuns 
realizadas por diversos entes da sociedade civil, sobretudo para a incidência no sistema 
Interamericano de proteção de direitos humanos. 
 
Portanto, esperamos: 
 
� Prover às ONGs conhecimento acerca dos procedimentos formais e 
procedimentos práticos do sistema interamericano; 
 
� Permitir que às ONGs obtenham oportunidades de informação de como e 
quando devem intervir no sistema interamericano; 
 
� Prover às ONGs aliadas novas idéias e estratégias práticas que possam ser 
utilizadas para o avanço de suas agendas. 
 
O manual traz informações importantes às ONGs, tais como; de que maneira aceder ao 
status consultivo da OEA, perpassando pela mobilização política da população e pressão 
ante ao governo e ao próprio sistema interamericano. Como efetivar um pedido de visita 
in loco dos relatores aos Estados membros entre outras. 
 
Temos por expectativa que esta manual ajude sua ONG no desenvolvimento de suas 
atividades, em especial no âmbito regional de proteção dos direitos humanos. 
 
 
Rodnei Jericó da Silva. 
Advogado e Coordenador do Projeto SOS Racismo 
Geledés – Instituto da Mulher Negra 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradecimentos especiais aos escritores desse guia, Carlos Quesada, Global 
Rights, diretor do Programa para América Latina; Felipe Gonzalez; consultor 
para a América Latina do Global Rights (1991-2003), diretor do Programa de 
Direitos Humanos e Professor de Direitos Humanos Internacional da 
Universidade Diego Portales, em Santiago do Chile; Gaston Chillier, ex-diretor 
para América Latina do Programa para América Latina Global Rights (2000-
2003); e Mark Ensalaco, diretor do Programa de Direitos Humanos da 
Universidade de Dauton, Ohio. 
 
Gostaríamos de expressar nosso apreço também à Comissão Interamericana 
de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos por nos permitir 
a reprodução integral do material “Como Apresentar petições no Sistema 
Interamericano”, para compor este Manual de Procedimentos no Sistema 
Interamericano de proteção dos Direitos Humanos. 
 
Gostaríamos de agradecer às muitas organizações e pessoas que trabalharam 
conosco durante os últimos anos sobre o Sistema Interamericano. Agrademos 
especialmente à todas organizações parceiras que apoiaram os cursos sobre o 
sistema interamericano – Casa Alianza, Centro pela Justiça e Direito 
Internacional (CEJIL), a Associação de Profissionais Afroamericanos, e a 
Associação de Profissionais Afrocolombianos, a Rede de Advogados 
Afrolatinos e Caribenhos. 
 
Agradecimentos adicionais para Aimee Sullivan, Ann Andrews, Ariel Dulitzky, 
Claire Antonelli. Elizabeth West, Elvia Duque Castilho, Jennifer Rasmussen, 
Kate McCann, Kristina Campbell, Maria do Carmo Cruz, Marissa Ferri, Mark 
Bromley, Zakiya Carr Johnson, que por seu intenso trabalho e dedicação 
ajudaram a conduzir este projeto à sua finalização. 
 
Esperamos que este Manual seja um instrumento eficaz e possa contribuir nos 
esforços para promover os direitos humanos na América Latina. 
 
Este projeto não seria possível sem os fundos doados pelo Instituto da Paz dos 
Estados Unidos, ao Instituto Sociedade Aberta, à Fundação John D & 
Catherine T. MacArthur, ao doador anônimo e Agência dos Estados Unidos 
para o desenvolvimento Internacional. 
 
Esta versão em português teve apoio Fundação Ford Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
Pág. 
 
 
Capítulo I 
 
I – Visão geral da OEA em matéria de Direitos Humanos 
 
1.1 O que é a OEA 8
 1.2 Quais os organismos da OEA com incidência em 
 matéria de direitos humanos 8 
 1.3 Quais os principais Tratados e Declarações da OEA 9
 1.4 A Comissão Interamericana de Direitos Humanos 11 
 a) funções da CIDH 12 
 1.5 A corte Interamericana de Direitos Humanos 14 
 1.6 A Assembléia geral e o Conselho Permanente 
 Da OEA 16 
 1.7 Quais as formas de participação da sociedade 
 Civil na OEA ? 24 
 1.8 alguns aspectos práticos do Lobby no Conselho 
 Permanente e na Assembléia Geral 30 
 
Capítulo II 
 
II – Funções da Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
 2.1 Relatórios sobre países 36 
 2.2 Visitas in Loco 40 
 2.3 Trabalho especializado em algumas áreas temáticas 
 através de relatorias e outros mecanismos 48 
 2.4 Atividades de promoção dos Direitos Humanos 
 E outras iniciativas 51 
 
Capítulo III 
 
III – Papel da ONGs na Comissão Interamericana de DH 
 3.1 papel da ONGs 53 
 3.2 O que as ONGs podem fazer 55 
 3.3 Conclusões sobre o papel das ONGs 56 
 
Capítulo IV 
 
VI – Aplicação do Sistema Interamericano no âmbito interno 
 4.1 como se incorporam os tratados de Direitos humanos 
 No âmbito interno 58 
 4.2 Aplicação dos tratados no âmbito local 59 
 4.3 A implementação das decisões na Comissão e na Corte 62 
 4.4 A implementação das recomendações da Comissão 64 
 4.5 A implementação de acordos de solução amistosa 67 
 4.6 Assinaturas de acordos de cumprimento sem solução 
 Amistosa 68 
 4.7 Implementação das sentenças da Corte 70 
 4.8 Caso Neusa dos Santos e Gisele Ferreira 72 
 
 
Capítulo V 
 
V – O Valor do sistema Interamericano para as ONGs 
 5.1 O valor do sistema interamericano 84 
 5.2 a obtenção da justiça em casos individuais 85 
 
 5.3 A retirada de uma situação geral de violação aos 
 direitos humanos 85 
 5.4 O fortalecimento do estado de direito 865.5 A decisão de usar o sistema interamericano 87 
 
 
 
 
ANEXOS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
8 
Capitulo I 
 
 
 I. UMA VISÃO GERAL DA OEA EM MATÉRIA DE DIREITOS 
HUMANOS 
 
1.1 O que é a OEA? 
OEA é a sigla da Organização dos Estados Americanos 1 fundada em 1948, seus 
membros são todos os Estados do continente americano incluindo a América Latina, o 
Caribe e a América do Norte. Na atualidade conta com 35 Estados membros. Destes, 
Cuba é o único que atualmente não participa de maneira efetiva na OEA em razão dos 
seus direitos terem saído suspensos em 1962. 
 
A Organização foi criada em decorrência de um tratado chamado Carta da OEA2 que 
foi reformado em diversas oportunidades. Este documento estabelece as principais 
características da Organização e a sua estrutura orgânica, bem como os direitos e os 
deveres dos seus integrantes. 
 
A sede principal da Organização dos Estados Americanos está em Washington, D.C 
Estados Unidos. Porém, alguns dos seus organismos estão localizados em outros 
locais, por exemplo, a Corte Interamericana de Direitos Humanos3, em São José da 
Costa Rica, e o Instituto Interamericano da Criança 4 , com sede em Montevidéu, 
Uruguai. 
 
A OEA desenvolve ações no âmbito diplomático, político, econômico e dos direitos 
humanos, bem como em outras áreas. 
 
Graças aos esforços realizados por organizações não governamentais e por diversos 
Estados, as formas de participação da sociedade civil na OEA vêm ampliando-se desde 
a sua criação. 
 
1.2 Quais são os organismos da OEA com incidência em matéria de direitos 
humanos? 
 
É importante saber que “Sistema Interamericano” é o nome dado aos diversos 
organismos regionais que se ocupam dos direitos humanos. A Organização dos 
Estados Americanos conta com dois órgãos principais dedicados à proteção e a 
promoção dos direitos humanos: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a 
Corte Interamericana de Direitos Humanos. Estes organismos estão constituídos por 
especialistas independentes, isto é, não representam os seus países de origem. 
 
Existem dois órgãos políticos na OEA, o Conselho Permanente 5 e a Assembléia 
Geral6, que também desempenham um papel importante na área dos direitos humanos. 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
9 
Por sua vez, no Conselho Permanente funcionam vários organismos, entre os quais se 
destaca a Comissão de Assuntos Jurídicos e Políticos (CAJP)7 . Estes órgãos são 
integrados pelos Estados membros da Organização. 
 
Existem ainda no interior da OEA outros organismos que atendem temas específicos 
relacionados com direitos humanos, como a Comissão Interamericana de Mulheres 
(CIM) 8 , o Instituto Indigenista Interamericano 9 , o Instituto Interamericano da 
Criança 10 , a Unidade de Promoção da Democracia 11 e o Comitê Jurídico 
Interamericano 12 . Porém, estes organismos se concentram fundamentalmente em 
atividades de estudo e divulgação temática mais do que em trabalhos de proteção aos 
direitos propriamente ditos. 
 
1.3 Quais são os principais tratados e declarações da OEA? 
 
Qual é a diferença entre um tratado e uma declaração? 
 
Os tratados são acordos jurídicos internacionais que estabelecem direitos e deveres 
para quem os ratifica. Podem ser subscritos por organismos internacionais ou pelos 
países. Este é o caso de todos os tratados da OEA. Os tratados são juridicamente 
obrigatórios para quem os subscreve. 
 
Uma declaração é um acordo menos formal, mas quando se refere a uma prática 
internacional estendida ou a normas imperativas do Direito Internacional Público 
(conhecidas como normas de Ius Cogens) também resulta juridicamente obrigatória. 
Por exemplo, os órgãos internacionais de direitos humanos consideram que várias 
disposições da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem são 
obrigatórias pelas razões mencionadas. 
Existem declarações solenes e não solenes. As solenes geralmente contêm um 
preâmbulo e artigos, e a sua adoção pode demorar (às vezes vários anos), pois são 
precedidas por um intenso debate. Por esta razão, são mais importantes do que as não 
solenes, que são mais curtas e com freqüências mais específicas. Porém, estas últimas 
também podem ser importantes em um contexto determinado, por exemplo, quando 
incluem um pronunciamento a respeito de um determinado país. 
 
Como já foi mencionado, a própria OEA foi criada em decorrência de um tratado, a 
Carta da Organização. Para se incorporar à OEA, um Estado deve ratificar este 
documento. 
 
A Carta impõe certas obrigações aos países em matéria de direitos humanos e por isso 
todos os Estados membros da OEA têm o dever de proteger tais direitos, 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
10 
independentemente de que tenham ou não ratificado outros tratados ou declarações da 
OEA. 
 
A respeito dos direitos humanos, o principal tratado é a Convenção Americana de 
Direitos Humanos (CADH)13, também conhecida como “Pacto de San José da Costa 
Rica” por ter sido aprovada nessa cidade, em 1969. 
 
A Convenção entrou em vigência em 1978, quando um número suficiente de Estados 
ratificou. Ela rege o funcionamento da Comissão e da Corte e consagra os principais 
direitos. Na sua versão original a Convenção refere-se fundamentalmente a direitos 
civis e políticos, tais como o direito à vida, à liberdade pessoal, à liberdade de 
expressão, à eleição das autoridades e à possibilidade de ser eleito para cargos públicos 
etc... 
Apesar da Convenção Americana de Direitos Humanos incluir referências aos direitos 
econômicos, sociais e culturais (DHESCs), estas são raras. Por isso a Convenção foi 
complementada posteriormente com o Protocolo Adicional Sobre Direitos Humanos 
em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 14 , chamado também de 
“Protocolo de San Salvador”, em referência ao lugar em que foi aprovado. Este 
Protocolo entrou em vigor em 1998. 
Outro instrumento de caráter geral sobre direitos humanos é a Declaração Americana 
dos Direitos e Deveres do Homem15, adotada em Bogotá (Colômbia) por ocasião da 
fundação da OEA em 1948. Contém uma relação dos direitos civis e políticos e dos 
direitos econômicos, sociais e culturais mais importantes. 
 
Nos marcos da OEA também foram aprovados vários instrumentos sobre aspectos 
específicos dos direitos humanos. Entre os mais importantes estão: a Convenção 
Interamericana Para Prevenir e Sancionar a Tortura 16 , o Protocolo Adicional à 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos Referente à Abolição da Pena de 
Morte17, a Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas18, 
a Convenção Interamericana Para Prevenir, Sancionar e Erradicar a Violência Contra a 
Mulher 19 (também chamada “Convenção de Belém do Pará”) e a Convenção 
Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as 
Pessoas Portadoras de Deficiência20. 
 
É importante ressaltar que estes tratados impõem algumas obrigações aos Estados. Os 
artigos 1º e 2º da Convenção Americana estabelecem o compromisso dos Estados 
membros no sentido de não só respeitar os direitos e liberdades reconhecidos na 
Convenção, mas também de “adotar, de acordo com as suas normas constitucionais e 
com as disposições desta Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza que 
forem necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades.” Os outros tratados 
também impõem a obrigação de tornar efetivos os direitos neles consagrados. 
 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
11A peculiaridade dos tratados de direitos humanos: 
 Obrigação os Estados protegerem as pessoas 
 
Geralmente, os tratados internacionais estabelecem obrigações para os Estados. Por 
exemplo, um tratado entre dois países vizinhos pode definir as fronteiras comuns. Em 
outras ocasiões muitos Estados assinam um tratado e estabelecem obrigações entre eles 
(por exemplo, em matéria comercial). Geralmente, nesses tratados, quando um Estado 
deixa de cumprir as suas obrigações, os outros Estados também podem se vir isentos 
do cumprimento. 
 
A peculiaridade dos tratados sobre direitos humanos é que impõem aos Estados a 
forma em que devem se comportar em relação com as pessoas que moram no território 
sob a sua jurisdição. Em conseqüência, cada Estado é obrigado perante os outros a 
proteger os direitos humanos dessas pessoas. Da mesma forma, estes tratados 
outorgam poderes a alguns órgãos (como a Comissão e a Corte Interamericana) para 
que supervisionem o cumprimento das obrigações estabelecidas. Neste caso, a falta de 
cumprimento por parte de um Estado não isenta os outros das obrigações. 
 
 
1.4 A Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
 
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) foi criada em 1959 e entrou 
em funcionamento em 1960. Desde 1967 possui caráter de órgão reconhecido pela 
Carta da OEA. Posteriormente, a Convenção Americana Sobre Direitos Humanos 
definiu a Comissão como um dos órgãos principais do Sistema Interamericano dos 
Direitos Humanos. 
 
A estrutura, competência e funções da Comissão estão descritas na Convenção 
Americana e no Estatuto e no Regulamento21 da própria CIDH. 
 
A Comissão tem sede em Washington, D.C escritório central da OEA, é integrada por 
sete comissionados eleitos pelos Estados membros. O seu mandado dura quatro anos e 
eles podem ser reeleitos uma única vez. Os comissionados são independentes, isto é, 
não representam o seu país de procedência, porém, não pode haver mais de um 
comissionado com a mesma nacionalidade. 
 
 
 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
12 
Porque é importante que os membros da Comissão sejam independentes, isto é, 
não representem os seus países de origem? 
 
Nem todos os órgãos internacionais de direitos humanos estão integrados por pessoas 
independentes. Por exemplo, na Comissão de Direitos Humanos da ONU, os próprios 
Estados estão representados e considerações de tipo diplomático podem influenciar as 
decisões. Por sua vez, na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o fato de que 
os seus integrantes não representem nenhum dos países contribui significativamente 
com a eficácia e independência da Comissão. Desta forma, mesmo na época em que 
existiam muitas ditaduras no continente americano, a Comissão fiscalizou o 
comportamento desses governos em matéria de direitos humanos e pôde fazer um 
chamado à comunidade internacional para tomar medidas que impedissem a 
continuação das violações a esses direitos. 
 
 
Funções da Comissão 
 
As funções da Comissão podem ser resumidas da seguinte forma: 
Preparação de relatórios 
 
A CIDH prepara relatórios sobre a situação dos direitos humanos em 
determinados países. Geralmente, estes relatórios se referem à situação geral, mas 
algumas vezes tratam de aspectos específicos (por exemplo, as condições 
carcerárias em um determinado país). 
 
A Comissão também prepara relatórios referentes à forma em que os Estados da 
OEA tratam um assunto em particular; por exemplo, a abordagem dos direitos 
humanos da mulher. 
 
Realização de visitas in loco 
 
A Comissão realiza visitas in loco, isto é, no local em que considera necessário 
avaliar a situação dos direitos humanos. Em mais de quatro décadas de trabalho, a 
Comissão visitou a grande maioria dos Estados da OEA. 
 
Estas visitas são de enorme importância porque permitem à CIDH levantar 
informações de primeira mão sobre a situação dos direitos humanos, entrarem em 
contato direto com a sociedade civil, interagir com as autoridades e manifestar os 
reparos que possam existir a respeito das suas políticas e condutas, de modo geral 
dar visibilidade à Comissão ao colocar o tema dos direitos humanos em um lugar 
mais destacado na agenda e no debate público. Para isso, a Comissão 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
13 
normalmente mantém a imprensa informada sobre a sua visita e organiza uma 
entrevista coletiva no final. 
 
Trabalho especializado em algumas áreas temáticas, através de Relatorias e outros 
mecanismos Existe assuntos que a Comissão considera de particular relevância e 
para os quais estabelece Relatorias ou outros órgãos especiais. 
 
Um relator é alguém designado individualmente por um comitê para pesquisar 
temas específicos sobre direitos humanos e preparar relatórios. Por exemplo, 
atualmente existem Relatorias sobre liberdade de expressão, direitos humanos da 
mulher, condições carcerárias, indígenas, crianças e trabalhadores migratórios. 
Também existe uma unidade dedicada à proteção dos defensores dos direitos 
humanos, que leva em consideração os riscos aos que estão submetidos por conta 
do seu trabalho. 
 
Conhecimento e resolução de denúncias em casos específicos 
 
Qualquer indivíduo ou organização pode apresentar denúncias de violação aos 
direitos humanos de uma ou mais pessoas perante a Comissão. 
 
A Comissão estuda estas denúncias, recebe as provas, emite resoluções, 
acompanha o cumprimento das resoluções por parte dos Estados e encaminha 
casos à Corte Interamericana de Direitos Humanos. 
 
A Comissão também pode adotar medidas cautelares urgentes em casos graves, 
com o objetivo de proteger a vida ou outros direitos das pessoas envolvidas. 
Também pode solicitar à Corte que estabeleça medidas provisórias com o mesmo 
objetivo. 
 
Outras funções 
 
Uma das funções adicionais da Comissão é a promoção dos direitos humanos, isto 
é, a divulgação da importância de proteger tais direitos e do papel que realiza o 
Sistema Interamericano nesse sentido. 
 
Outra tarefa relevante consiste na participação da Comissão na preparação de 
tratados e declarações. 
 
Mais recentemente, a Comissão vem desenvolvendo uma função consultiva. 
 
A Comissão realiza todas estas funções utilizando especialmente os parâmetros 
estabelecidos na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, na Declaração 
Americana de Direitos e Deveres do Homem e em outros instrumentos 
internacionais de direitos humanos. 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
14 
As vítimas, os seus familiares, os seus advogados, e em geral as organizações da 
sociedade civil podem participar em diversas formas para que a Comissão 
desempenhe estas funções com eficácia. De fato esta participação da sociedade 
civil freqüentemente resulta fundamental. 
 
No Capítulo II deste Manual serão apresentadas com mais detalhes as funções da 
Comissão, e o seu uso prático, bem como as formas de incidência da sociedade 
civil. 
 
A evolução da Comissão Interamericana. 
De governos ditatoriais a governos civis 
 
A Comissão Interamericana foi estabelecida originalmente em um contexto em que 
existiam inúmeras ditaduras na América. Nos seus primeiros anos de atividade, a 
CIDH concentrou o seu trabalho na elaboração de relatórios sobre a situação dos 
direitos humanos em países sob regimes ditatoriais. Posteriormente, desde meados da 
década de 60, começou também a receber e resolver denúncias de casos específicos. 
Estas denúncias se referiam em sua grande maioria a violações massivas e sistemáticas 
do direito à vida, à integridade física e psíquica (casos de tortura e outras agressões) e a 
outros direitos básicos. Porém, a maior parte das suas tarefas continuou centradana 
elaboração de relatórios, pois através deles era possível apresentar um quadro geral de 
tais violações, as suas causas e as formas de superá-las. 
 
A partir de meados da década de 80 e, em especial da década de 90, já com um claro 
predomínio de governos civis na OEA, o conhecimento de denúncias específicas 
passou a ser a tarefa principal da Comissão. Apesar de que até a presente data a 
maioria destas denúncias continua referindo-se a violações à vida e à integridade 
pessoal, elas começaram a se diversificar do ponto de vista temático. Hoje a Comissão 
recebe também um número enorme de casos relacionados a problemas de 
discriminação e liberdade de expressão, entre outros assuntos. 
 
1.5 A Corte Interamericana de Direitos Humanos 
 
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) foi criada pela Convenção 
Americana e entrou em funcionamento efetivo em 1979. A estrutura, competência e 
funções da Corte estão descritas na própria Convenção e no Estatuto e Regulamento da 
Corte. 
 
A sede da Corte está localizada em San José da Costa Rica, é integrada por sete juízes 
eleitos pelos Estados membros, por um período de seis anos, e podem se reeleger uma 
única vez. Pela sua condição de juízes, são eleitos de forma independente, isto é, não 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
15 
representam o seu país de origem, porém, a Corte não pode ter mais de um juiz da 
mesma nacionalidade ao mesmo tempo. 
 
 
A Corte Interamericana de Direitos Humanos tem duas funções principais: 
Função contenciosa 
 
Através da função contenciosa a Corte recebe denúncias de casos específicos que 
podem ser encaminhadas pela Comissão ou pelos Estados, mas não de forma 
direta por pessoas ou organizações da sociedade civil. 
 
A Corte recebe as provas e decide os casos e, ao mesmo tempo estabelece 
indenizações ou outras formas de compensação, ordenando aos Estados reformas 
a sua legislação ou adoção de outras medidas. Posteriormente, a Corte acompanha 
as resoluções para garantir o seu cumprimento, e só depois que a sentença é 
cumprida na sua totalidade o caso é encerrado. Somente aqueles Estados que 
reconheceram de forma expressa a jurisdição contenciosa da Corte são 
submetidos a ela. 
 
Em casos urgentes a Corte também pode adotar medidas provisórias urgentes para 
proteger os direitos básicos das pessoas. 
 
Apesar de que não possível que um cidadão leve diretamente um caso perante a 
Corte, ele pode participar do processo de tramitação para garantir uma adequada 
defesa dos seus direitos. 
Função consultiva 
 
Por meio da função consultiva a Corte se pronuncia sobre problemas jurídicos 
relevantes em matéria de direitos humanos no continente americano. Para isso, se 
baseia nos tratados e declarações do Sistema Interamericano e nos instrumentos 
internacionais de outros sistemas internacionais de proteção desses direitos. No 
exercício de sua função consultiva a Corte também pode emitir pronunciamentos 
sobre a interpretação de determinadas normas de instrumentos interamericanos. A 
Corte exerce esta função com relação a todos os Estados membros da OEA. 
 
 
 
 
 
 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
16 
A evolução da Corte Interamericana 
 
Durante a sua primeira década de trabalho, desde a sua criação em 1979, a Corte se 
concentrou quase exclusivamente na emissão de opiniões consultivas, e firmou 
algumas bases importantes para a jurisprudência do Sistema Interamericano. A partir 
do final dos anos 80, a Comissão começou a encaminhar casos contenciosos com 
maior regularidade, apesar de ainda representar uma porcentagem pequena do total de 
casos decididos pela Comissão. Isto mudou a partir da adoção dos novos regulamentos 
da Corte e da Comissão em 2001, e o volume de casos contenciosos perante a Corte 
aumentou significativamente. Apesar de que os Estados também têm o poder de 
encaminhar casos à Corte, isto só aconteceu em uma oportunidade, em 2002, quando 
tanto o Peru quanto a Comissão encaminharam o caso de Lori Berenson 
simultaneamente. 
Mais adiante este Manual apresentara com mais detalhes as funções da Corte e o seu 
uso prático, bem como as formas de incidência da sociedade civil. 
 
1.6 A Assembléia Geral e o Conselho Permanente da OEA 
 
A Assembléia Geral está integrada pelos Estados membros da OEA. Geralmente, os 
Ministros das Relações Exteriores lideram as delegações dos seus respectivos Estados 
em certos casos, pouco freqüentes, algumas delegações são lideradas pelo Presidente 
da República ou outra autoridade em exercício do cargo de Chefe de Estado ou de 
governo. 
 
Há mais de uma década a OEA realiza anualmente uma Assembléia Geral Ordinária e, 
quando considera necessário, Assembléias Gerais Extraordinárias. A Assembléia Geral 
Ordinária é itinerante e normalmente acontece durante três dias a partir da primeira 
segunda-feira de junho de cada ano. As Assembléias Gerais Extraordinárias são 
realizadas quase sempre em Washington, D.C. 
 
O Conselho Permanente da OEA é o órgão político desta organização, funciona 
regularmente e tem a sua sede em Washington, D.C. Está integrado pelos Estados 
membros da OEA, representados por seus respectivos Embaixadores. 
 
Junto com o Secretário Geral da Organização, o Conselho Permanente desempenha o 
trabalho cotidiano em assuntos políticos, diplomáticos, econômicos, comerciais, etc. 
Estes temas incluem também os direitos humanos é comum que as pessoas e 
instituições da sociedade civil desconheçam esse fato. 
 
Apesar de que ao longo da história da OEA o papel do Conselho Permanente vem 
tendo conseqüências tanto positivas quanto negativas para a proteção dos direitos 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
17 
humanos na América, é preciso reconhecer a relevância do trabalho de incidência e a 
necessidade de conhecer as suas funções. 
 
O Conselho Permanente está integrado por uma série de comissões em que também 
podem participar as organizações da sociedade civil. A mais relevante em matéria de 
direitos humanos é a Comissão de Assuntos Jurídicos e Políticos (CAJP). 
 
Na seguinte seção trataremos das funções da Assembléia Geral e do Conselho 
Permanente devido a que os seus papéis são complementares: 
Elaboração de tratados e declarações sobre direitos humanos 
 
Para iniciar a elaboração de um tratado ou de uma declaração na OEA é 
indispensável a decisão favorável da Assembléia Geral. Em ocasiões, é possível 
que surja na Comissão Interamericana ou em alguma organização não 
governamental a idéia de preparar um tratado ou declaração sobre direitos 
humanos. Mas para oficializar a sua elaboração, a Assembléia Geral deve adotar 
uma decisão neste sentido. 
 
Uma vez tomada à decisão, a Assembléia Geral pede ao Conselho Permanente 
que inicie a preparação. Geralmente este forma um Grupo de Trabalho dentro da 
Comissão de Assuntos Jurídicos e Políticos para elaborar os artigos do projeto de 
instrumento internacional. O Grupo de Trabalho está integrado por representantes 
daqueles Estados que desejam integrá-lo. 
 
A possibilidade que tem a sociedade civil de incidir na tarefa que desenvolverá o 
Grupo de Trabalho depende, em boa parte, da vontade dos Estados, mas também 
dos esforços de lobby realizados pelas mesmas organizações não governamentais. 
 
Neste sentido, é importante que as ONGs motivem os Estados que possuem 
políticas de maior proteção dos direitos humanos para participar do Grupo de 
Trabalho respectivo. 
 
Também é importante que a sociedade civil mantenha canais de diálogo fluidos e 
constantes com os Estados, tanto através de diálogos informais como de 
apresentações escritas e verbais perante o Grupo. Além disso, pode ser útil que asorganizações da sociedade civil convençam o Grupo de Trabalho para convidar 
especialistas na matéria com o objetivo de realizar palestras. 
 
Normalmente a elaboração de um tratado ou de uma declaração leva vários anos. 
Ao longo do processo de elaboração são preparados sucessivos rascunhos que, 
por sua vez, são apresentados para consideração por parte do Conselho 
Permanente e, em alguns casos, da Assembléia Geral. 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
18 
Às vezes pode ser importante promover a abertura de um debate sobre o estado de 
um projeto de instrumento na Assembléia Geral, pois as prioridades ou os pontos 
de vista dos Embaixadores perante a OEA nem sempre coincidem com os dos 
seus respectivos Ministérios das Relações Exteriores e um impulso da Assembléia 
Geral pode ser decisivo. Além disso, é importante o lobby nos Ministérios das 
Relações Exteriores, porque no marco da elaboração de tratados, com freqüência 
são eles que encaminham estas apresentações escritas ao Grupo de Trabalho. 
 
Uma vez que o Conselho Permanente considera que um rascunho está na sua fase 
final, normalmente o próprio Conselho aperfeiçoa alguns aspectos do texto. Esta 
etapa também pode ser decisiva, pois às vezes no último momento podem ser 
introduzidas mudanças importantes. 
 
Por tal razão, o acompanhamento por parte das organizações da sociedade civil 
também deve se manter nesta etapa. Como há vários anos que as Assembléias 
Gerais são curtas (três dias, e não mais cinco como antigamente), é provável que 
o texto do instrumento internacional aprovado pelo Conselho Permanente seja 
adotado sem mudanças por parte da Assembléia Geral. 
 
Dai a importância de que a sociedade civil intervenha perante o Conselho 
Permanente. 
 
 
Um caso de participação ativa da sociedade civil na preparação de um tratado: 
a Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas 
 
A idéia de elaborar uma Convenção sobre desaparecimentos tinha começado a ser 
discutida na OEA em meados da década de oitenta. Isto também influenciou a ONU22, 
onde começou o trabalho de preparação de uma declaração solene (com artigos) sobre 
o tema. 
 
Na ONU, a preocupação pelos desaparecimentos tinha surgido a partir de sua prática 
sistemática na América Latina, posteriormente, tinha se estendido a outros continentes, 
em especial a Ásia. Na OEA, a CIDH tinha preparado em fins da década de oitenta 
uma versão preliminar da Convenção que reunia os avanços de jurisprudência mais 
importantes. 
 
Porém, apesar de ter sido criado um Grupo de Trabalho na OEA para análise, na 
prática se passaram vários anos sem que os Estados realizassem um acompanhamento 
efetivo do tema. 
 
Por sua vez, em janeiro de 1992, a ONU aprovou a declaração que vinha preparando e 
surgia então o paradoxo de que, tendo a ONU iniciado o seu trabalho na matéria com 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
19 
base no impulso inicial do Sistema Interamericano, a tarefa terminava antes do que na 
OEA. 
 
Claro que por se tratar de uma declaração e não de uma convenção (como era o caso da 
OEA), a sua aprovação resultava menos complexa. Mas considerando a quantidade de 
trabalho dedicado ao tema em ambos os sistemas, evidente que a ONU tinha 
contribuído com esforços bem maiores. 
 
A aprovação da Declaração Sobre a Proteção de Todas as Pessoas Contra o 
Desaparecimento Forçado ou Involuntário por parte da ONU fez com que o assunto 
ganhasse agilidade na OEA. Mas a Declaração não incluía um critério protetor dos 
direitos humanos. 
 
Então, o Grupo de Trabalho, conformado por Estados membros da OEA, preparou uma 
nova versão da Convenção cujas normas significavam um retrocesso absoluto a 
respeito do estado de coisas no Sistema em matéria de desaparecimentos. Ao se 
afastar totalmente do projeto preparado pela Comissão, da jurisprudência da Corte em 
casos como o de Velásquez Rodríguez (entre outros) e de várias resoluções da 
Assembléia Geral, o novo rascunho eliminava toda referência ao caráter de crime 
contra a humanidade dos desaparecimentos forçados, aceitava a invocação da 
obediência devida como causa de justificação, considerava legítimo o ditado de 
normas de anistia no assunto e permitia o asilo político para os seus perpetradores, 
entre outras disposições. 
 
Este Projeto, ainda inconcluso, chegou até a Assembléia Geral realizada em maio de 
1992 que devia decidir os passos a seguir. O pequeno grupo de organizações não 
governamentais presentes, integrado pela FEDEFAM23 (Federação das Associações de 
Familiares de Presos Políticos Desaparecidos), a Global Rights24 (antes conhecida 
como International Human Rights Law Group), a Anistia Internacional25 e a Comissão 
Internacional de Juristas 26 , conseguiu que a resolução aprovada incorporasse a 
necessidade de escutar as entidades da sociedade civil durante a seguinte etapa de 
tramitação do projeto de Convenção. 
 
Antes, houve um intenso debate com Estados que apoiavam e Estados que rejeitavam 
tal participação. Finalmente, foi possível uma solução de consenso segundo a qual o 
Grupo de Trabalho teria que “escutar” as organizações da sociedade civil. 
 
Ao longo dos dois anos seguintes, as ONGs formaram uma coalizão ampla e 
trabalharam ativamente para fortalecer a Convenção, com o propósito de garantir que 
fosse considerado o desenvolvimento internacional na matéria. A Argentina, o Canadá, 
o Chile e os Estados Unidos desempenharam um papel relevante nesse sentido. Por sua 
vez, os Estados mantiveram a Comissão Interamericana em um papel secundário 
apesar de ser experta na matéria. 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
20 
Finalmente, foi adotado um texto que, em termos gerais, resultava satisfatório no 
referente às normas, pois alterava a regulação dos quatro aspectos mencionados que 
tinham sido objeto de críticas severas. 
 
Em essência, a Convenção consolidava em um instrumento com caráter de tratado uma 
série de normas que até esse momento tinham sido desenvolvidas no Sistema 
Interamericano, especialmente pela via da interpretação da Convenção Americana de 
Direitos Humanos. Todavia, a criação de mecanismos específicos destinados a tornar 
mais eficiente á proteção (outro elemento que se supõe deve estar presente em um 
tratado desta natureza) mereceu pouca regulamentação. 
 
No projeto original, a CIDH tinha criado alguns mecanismos específicos para enfrentar 
com urgência a situação dos desaparecimentos, mas foram eliminados completamente 
no texto final. Por isso será necessário continuar utilizando os mecanismos 
estabelecidos na Convenção Americana de Direitos Humanos. 
 
De qualquer forma, no balanço final a experiência resultou positiva, tanto por ter 
fortalecido significativamente a Convenção quanto por ter desenvolvido uma iniciativa 
de trabalho conjunto de uma ampla coalizão de ONG, que depois se projetou em um 
trabalho sistemático perante os órgãos políticos da OEA. 
O pedido, a recepção, a discussão e a aprovação de relatórios em matéria de 
direitos humanos e a adoção de resoluções. 
 
A Assembléia Geral e o Conselho Permanente da OEA são os órgãos que 
ordenam a preparação de relatórios no âmbito dos direitos humanos e, da mesma 
forma, recebem tais relatórios e os submetem a debate e eventual aprovação. 
 
Os órgãos políticos da OEA pedem numerosos relatórios que têm relação direta 
ou indireta com o tema de direitos humanos. Ainda, a Comissão e a Corte 
Interamericana (esta última por ordem da Convenção Americana) devem 
apresentar um Relatório Anual sobre as suas atividades. 
 
Estes Relatórios são submetidos primeiramente à consideração do Conselho 
Permanente. O Presidente da Comissão e o Presidente da Corte realizam 
exposiçõesorais e depois os Estados manifestam os seus pontos de vista. 
 
Algumas vezes estes debates são intensos, com Estados que apóiam o trabalho 
dos órgãos de direitos humanos mencionados e outros Estados que o questionam, 
geralmente como reação às críticas ao seu recorde de proteção dos direitos 
humanos. Estes debates costumam refletir diferentes visões dos Estados sobre o 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
21 
papel que desenvolvem os direitos humanos, bem como do papel dos órgãos 
interamericanos na matéria. 
 
Devido ao formato reduzido da Assembléia Geral, atualmente não costumam 
acontecer ali debates significativos a propósito destes Relatórios. 
 
Apesar de que em razão de práticas diplomáticas, o Conselho Permanente e a 
Assembléia Geral nunca rejeitam formalmente os Relatórios da Comissão ou da 
Corte, é importante ter em consideração que tais órgãos políticos emitem 
resoluções a propósito dos Relatórios apresentados, e que o conteúdo dessas 
resoluções pode influenciar a agenda dos órgãos de direitos humanos. 
 
Por isso é muito importante que a sociedade civil intervenha de forma ativa em 
atividades de lobby em relação com estas resoluções. 
 
E convém a sua prática tanto no Conselho Permanente como na Assembléia 
Geral, pois se trata de resoluções que com freqüência são alteradas em alguns 
aspectos. 
 
Além disso, o Conselho Permanente e a Assembléia Geral conhecem e decidem 
sobre muitas outras resoluções com incidência em direitos humanos. Estas podem 
se referir aos assuntos mais diversos, tais como o sistema judicial e os direitos 
humanos, o terrorismo e os direitos humanos, o fortalecimento do Sistema 
Interamericano, a participação da sociedade civil nesta área, a proteção dos 
defensores de direitos humanos, etc. 
 
Na maioria dos casos, uma vez aprovadas as resoluções pelo Conselho 
Permanente, são adotadas sem maiores debates pela Assembléia Geral. Porém, em 
muitos casos a Assembléia introduz alterações (às vezes importantes) e a 
sociedade civil desempenha um papel central nesse sentido por meio de atividades 
de lobby com alguns Estados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
22 
Os órgãos políticos e a Comissão Interamericana 
 
Durante os anos 1960, 70 e 80, apesar de que muitos dos governos representados nos 
órgãos políticos eram ditatoriais, tais órgãos assumiam geralmente os aspectos 
substantivos dos Relatórios da Comissão e debatiam a situação dos direitos humanos 
dos Estados com base nesses Relatórios. Além disso, era comum que a Assembléia 
Geral emitisse uma resolução se referindo de forma específica ao país de que tratava o 
Relatório. Apesar de que os governos acusados algumas vezes impediam as visitas da 
Comissão e apresentavam defesas de peso, os órgãos políticos não evitavam o debate e 
o seu apoio à CIDH era claro. 
 
Naquela época, o Sistema Interamericano apresentava dois grupos muito bem 
definidos: de um lado, os Estados com governos claramente ditatoriais que, massiva e 
sistematicamente, violavam os direitos humanos, do outro, aqueles que não estavam 
nessas condições e que apareciam em uma situação comparativa superior à dos 
primeiros, por possuirem governos civis e não praticar os atentados contra o direito à 
vida. 
 
Era de se esperar que no momento em que mudasse o contexto com predomínio de 
governos civis haveria um apoio significativo ao trabalho da Comissão. Porém, isto 
não tem acontecido. Apesar de que vários Estados apóiam o trabalho da Comissão, a 
maioria deles desempenha um papel passivo a maior parte do tempo, e reage com 
veemência quando se sente questionada. Isto também abre espaço para o protagonismo 
dos Estados mais beligerantes. Por isso, a participação da sociedade civil no 
Conselho Permanente e na Assembléia Geral é especialmente importante. 
Competências exclusivas da Assembléia Geral 
 
Além de ter as funções complementares com o Conselho Permanente que já 
foram mencionadas, a Assembléia Geral possui certas competências exclusivas 
em matéria de direitos humanos. As principais são: 
A eleição dos juízes da Corte e dos membros da Comissão 
 
� A Assembléia Geral elege os juízes e os comissionados dentre os 
candidatos que os Estados indicam. Também são os Estados que votam na 
Assembléia Geral, como acontece em todas as organizações 
intergovernamentais (a ONU, a Organização da Unidade Africana, o 
Conselho da Europa etc...) 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
23 
� Em conseqüência, a sociedade civil não pode participar diretamente na 
indicação de candidatos nem na sua eleição. Porém, através do lobby 
pode exercer a sua influência, que se apresenta em várias etapas: 
 
� Convencer alguns Estados a apresentar candidatos(as) que sejam 
especialistas em direitos humanos (uma exigência incluida na Convenção 
Americana que nem sempre é respeitada) e promover as suas candidaturas 
entre outros Estados. É importante mencionar que esta tarefa é realizada 
fundamentalmente nos respectivos Ministérios das Relações Exteriores e 
não no Conselho Permanente, pois geralmente são os próprios Ministérios 
que tomam essas decisões. Para isso também é possível recorrer à 
imprensa. De qualquer maneira, as ONGs deverão avaliar, caso a caso, 
não só as vantagens mas também as desvantagens que para um 
candidato(a) possa representar o apoio expresso de uma ONG; 
 
� Deixar clara para os Estados a inconveniência de escolher candidatos(as) 
com um histórico negativo em matéria de direitos humanos, por exemplo, 
pessoas que tenham desempenhado funções governamentais em regimes 
ditatoriais. Este lobby pode ser realizado tanto através dos Ministérios das 
Relações Exteriores como durante a própria Assembléia Geral e, em geral, 
por meio de chamados de atenção à opinião pública; 
 
� Em termos gerais, promover a necessidade de desenvolver um processo 
transparente e bem informado, e com um debate amplo, a respeito da 
qualidade técnica dos(as) candidatos(as) e da sua experiência no assunto. 
Acompanhar as sentenças da Corte 
 
A Assembléia Geral da OEA conta com uma ordem expressa, que tem origem no 
artigo 65 da Convenção Americana, para acompanhar as sentenças da Corte e 
garantir o seu cumprimento efetivo por parte dos Estados cuja responsabilidade 
tenha sido estabelecida na sentença. 
 
A Corte deve informar à Assembléia sobre aqueles casos em que os Estados não 
tenham cumprido com as suas resoluções para que sejam adotadas as medidas do 
caso. Este papel surge do caráter de garantes coletivos do Sistema que possuem os 
Estados. 
 
Porém, na prática a Assembléia Geral se limita a cumprir com a formalidade desta 
função, sem fazer um acompanhamento realmente efetivo, por isso é 
imprescindível o papel ativo das organizações da sociedade civil a este respeito. 
Determinar os orçamentos dos órgãos de direitos humanos. 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
24 
A Assembléia Geral desempenha uma função importante na determinação dos 
orçamentos financeiros da Comissão e da Corte Interamericana, mesmo sendo o 
Secretário Geral da OEA quem determina os valores de maneira específica. Trata-
se de uma atribuição que vem adquirindo crescente importância nos últimos anos, 
uma vez que o aumento do volume de casos na Corte produz novas necessidades 
de financiamento. 
 
1.7 Quais são as formas de participação da sociedade civil na OEA? 
 
As organizações da sociedade civil sempre tiveram uma participação muito ativa no 
trabalho da Comissão e da Corte Interamericana. No caso da primeira, elas vêm 
desempenhando um papel fundamental para apoiar suas tarefas, denunciando 
violações,proporcionando informação relevante para a elaboração de Informativos 
sobre países, convocando as vítimas para que declarem perante a Comissão nas visitas 
in loco que são realizadas etc... 
 
Além do mais, a participação das ONG tem sido relevante na tramitação de casos 
perante a Corte Interamericana, tanto em casos contenciosos (seja como assessoras da 
Comissão ou, mais recentemente, atuando de forma autônoma na representação das 
vítimas) como em opiniões consultivas. Estas formas de participação serão revistas no 
Capítulo II deste Manual. 
 
Tanto o Conselho Permanente quanto a Assembléia Geral da OEA produzem um 
impacto em matéria de direitos humanos. Porém, ao longo da história da OEA, a 
sociedade civil não vem prestando a mesma atenção a estes organismos. Isto começou 
a mudar a partir da década de 90, quando a sociedade civil aumentou a sua presença 
nos órgãos políticos. 
 
Como o Conselho Permanente e a Assembléia Geral estavam acostumados com uma 
forma de trabalho que não era monitorada, nem contavam com a participação direta 
das ONG, o processo de abertura para aceitar uma maior participação não foi fácil. 
Mas foi justamente devido ao impulso de uma coalizão de organizações não 
governamentais que conseguiram reunir o apoio de governos favoráveis à idéia, que as 
formas de participação da sociedade civil perante os órgãos políticos da OEA foram 
ampliadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
25 
Uma breve história dos esforços da sociedade civil 
por alcançar uma maior participação na OEA 
 
Até alguns anos atrás, as poucas ONGs que participavam da Assembléia Geral da OEA 
contavam com uma "concessão condescendente", pois era completamente discrecional 
para a OEA convidá-las ou não. Isto, junto com o fato das ONGs não poderem, realizar 
apresentações perante a Assembléia, criava um círculo vicioso, pois tais organizações 
não viam lógica em destinar recursos para assistir às Assembléias. 
 
Apesar disso, a participação das ONGs foi aumentando progressivamente ao longo dos 
anos noventa, devido a crescente percepção de que, mesmo com todas as limitações, o 
lobby nas Assembléias conseguia algumas conquistas. Assim, a partir de 1997, foi 
quebrado o círculo vicioso e a presença da sociedade civil aumentou 
significativamente com a assistência de muitas ONG na Assembléia Geral e a 
assinatura de outras tantas de uma declaração conjunta. 
 
Com relação ao Conselho Permanente, desde meados dos anos noventa començou a ser 
permitida de maneira informal e não regular, a assistência das ONGs, mas sem que 
fossem convocadas nem informadas sobre a agenda. A informação sobre as reuniões 
dependia da boa vontade de alguns representantes. 
 
Em outras ocasiões e sem que existissem critérios predefinidos para isso, simplesmente 
as ONGs eram excluidas de determinadas reuniões. Formalmente não tinham 
autorização para circular documentos ou realizar intervenções orais. Devido a estas 
deficiências e ao impulso das mesmas ONGs e de alguns Estados, o Conselho 
Permanente estabeleceu em 1994 um Grupo de Trabalho sobre a situação das 
organizações não governamentais, destinado a orientar a criação de um mecanismo de 
status consultivo que reconhecesse e institucionalizasse o seu direito de participar dos 
assuntos da OEA. 
 
Todavia, em uma primeira etapa, este Grupo deu por encerradas as suas tarefas sem 
recomendar o estabelecimento de um status consultivo nem nada parecido. Enquanto o 
Grupo de Trabalho estava ativo, algumas ONG prepararam um rascunho com um 
conjunto de regulações sobre o status consultivo. 
 
Este documento foi distribuído entre diversas delegações governamentais, mas 
nenhuma o submeteu ao Grupo de Trabalho, por considerar que não haveria disposição 
coletiva para trabalhar sobre as regulações. 
 
Quando parecia que o processo em direção ao estabelecimento de um status consultivo 
ficaria parado definitivamente, o assunto recuperou um inesperado vigor como 
conseqüência das orientações da segunda Cúpula das Américas, realizada em Santiago 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
26 
do Chile em abril de 1998, em que colocou-se a necessidade de fortalecer as formas de 
participação da sociedade civil. 
 
Isto fez com que na Assembléia Geral da OEA desse ano fosse adotada uma resolução 
que conclamava a efetivar tal participação. Um Grupo de Trabalho conjunto do 
Conselho Permanente e do CIDI (Conselho Interamericano de Desenvolvimento 
Integral) sobre o fortalecimiento e a modernização da OEA assumiu então a tarefa de 
abrir novos espaços para a participação da sociedade civil. 
 
Ao mesmo tempo, as organizações não governamentais estabeleceram uma 
coordenação permanente para acompanhar formalmente o processo e formular aportes 
ao mencionado Grupo de Trabalho. 
 
A seguir, o Grupo de Trabalho preparou um rascunho que incluia um conjunto de 
diretrizes detalhadas estabelecendo um mecanismo de status consultivo. A Assembléia 
Geral de 1999 referendou o trabalho e aprovou uma resolução sobre a OEA e a 
sociedade civil, incluindo um anexo com tais diretrizes. 
 
A resolução da Assembléia criou uma Comissão no interior do Conselho Permanente 
encarregada de acompanhar as diretrizes e de completá-las antes de terminar o ano 
1999. 
 
A coalição de ONGs continuou com a sua tarefa de acompanhamento nesta etapa e 
encaminhou um conjunto de observações sobre o rascunho de diretrizes para a referida 
Comissão. Este processo finalizou efetivamente em dezembro de 1999, ao ser 
consagrado um sistema de status consultivo para as entidades da sociedade civil na 
OEA. 
 
A aprovação por parte da Comissão de um documento chamado "Diretrizes para a 
participação das organizações da sociedade civil nas atividades da OEA"27 (incluído 
nos anexos) e a sua adoção poucos dias depois por parte do Conselho Permanente 
concretizou o processo. 
 
O sistema de status consultivo das ONGs perante a OEA 
 
O estabelecimento de um sistema de status consultivo para as organizações da 
sociedade civil pode se transformar, caso seja bem implementado, em um passo 
significativo para ter uma OEA mais transparente e eficiente. 
 
O sistema estabelecido ainda apresenta insuficiências e, apesar de que as ONGs 
formularam ao longo do processo de sua criação uma série de propostas que foram 
incorporadas, subsistem algumas limitações para a sua participação que não parecem 
coerentes com o propósito geral de fortalecer a participação da sociedade civil. 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
27 
De alguma forma, subsiste um certo "receio" por parte de alguns Estados a respeito de 
que as organizações da sociedade civil possam assumir efetivamente um papel que 
transfira o protagonismo dos Estados membros da OEA para tais organizações. 
Porém, o estabelecimento de um mecanismo de status consultivo abre as portas para o 
desenvolvimento de uma dinâmica diferente, que deveria conduzir a uma ampliação 
das formas de participação das ONGs e de interação entre elas e os organismos da 
OEA. 
 
As diretrizes que estabelecem o status consultivo começam indicando (páragrafo 1) 
que o seu objetivo é regulamentar a participação das organizações da sociedade civil 
na OEA. 
 
A seguir, afirma que vai se entender por organização da sociedade civil "toda 
instituição, organização ou entidade nacional ou internacional integrada por pessoas 
naturais ou jurídicas de caráter não governamental" (páragrafo 2). 
 
Também inclui um conjunto de princípios que regem a participação das ONGs, entre 
os quais se destaca que os assuntos de que se ocupem deverão ser de competência da 
OEA, e as finalidades e propósitos que os orientam deverão estar de acordo como 
espírito, os propósitos e os princípios estabelecidos na Carta da OEA (4.a), e que a sua 
atividade deverá contribuir com o desenvolvimento das atividades dos órgãos da OEA 
(4.b). 
 
O status consultivo reconhece o direito das ONGs cadastradas de participarem nas 
Conferências da OEA. Mas as inovações mais significativas são as relacionadas com o 
Conselho Permanente e a CIDH. Assim, fica estabelecido que "[l] as organizações da 
sociedade civil que tenham sido registradas no cadastro poderão nomear representantes 
para que participem das reuniões públicas do Conselho Permanente, do CIDH e dos 
seus órgãos subsidiários". Isto pode se estender às reuniões particulares com a 
autorização do Presidente, desde que os Estados participantes tenham sido consultados 
previamente (páragrafo 13.a). As ONGs ainda deverão ser informadas sobre o 
calendário de reuniões públicas e sobre as respectivas agendas (13.b). 
 
Também fica estabelecido o direito das ONGs de apresentar documentos escritos sobre 
os temas de discussão, que deverão ser distribuídos pela Secretaria da OEA para os 
Estados membros. Quando o documento tiver mais de 2000 palavras, a ONG deverá 
assumir o custo da sua distribuição (13.c). Fica assim consagrado um direito até agora 
inexistente para as organizações da sociedade civil: fazer circular documentos por 
canais oficiais da OEA. 
 
Outro passo sem precedentes na OEA é o fato de que as ONGs poderão realizar 
apresentações orais perante determinados órgãos políticos. Estas poderão se realizar 
nas reuniões das comissões, grupos de expertos e Grupos de Trabalho do Conselho 
Permanente ou das ONGs. No caso das comissões só é autorizada uma apresentação no 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
28 
começo do debate mas nos outros organismos é possível fazer uma nova apresentação 
no final das considerações de cada tema. 
 
Da mesma forma, só no caso das reuniões dos grupos de experts e Grupos de Trabalho 
(e não nas reuniões das comissões) fica estabelecido que as ONGs (receberão a 
documentação pertinente antes da reunião. 
 
Porém, em disposições aplicáveis a todos os casos anteriores, as diretrizes enfatizam 
que "[l] as organizações da sociedade civil não poderão participar nas deliberações, 
negociações e decisões que adotem os Estados membros" (com idênticas palavras em 
13d e 13e). 
 
Estas disposições são ambíguas e não deixam claro se eventualmente autorizariam a 
exclusão das ONGs em determinados momentos durante as discussões, o que seria 
completamente contraditório com os propósitos que guiam o estabelecimento de um 
sistema de status consultivo. 
 
É dever dos organismos da sociedade civil promover uma interpretação destas 
disposições que permita a mais ampla participação. 
 
Para tornar o mecanismo do status consultivo o mais benêfico possível, será 
indispensável que as ONGs do hemisfério utilizem efetivamente as novas vias 
disponíveis, de forma que tirem delas o maior proveito para o fortalecimento do 
Sistema Interamericano. Além do mais, devido à ambigüidade de algumas 
regulamentações do status consultivo, resulta indispensável um papel ativo das 
organizações da sociedade civil para que tais normas sejam interpretadas da maneira 
que melhor favoreçam a transparência e a participação. 
 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
29 
COMO ADQUIRIR STATUS CONSULTIVO PERANTE A OEA 
 
Para adquirir status consultivo perante os órgãos políticos da OEA, as organizações da 
sociedade civil devem encaminhar o pedido respectivo ao Secretário Geral da OEA, ao 
seguinte endereço: 
 
Secretaria Geral da OEA 
17th Street and Constitution Avenue, NW 
Washington, DC 20006 USA 
 
O pedido deve conter os seguintes elementos: 
 
• Nome ou razão social, domicílio e data de constitução da organização, 
bem como os nomes de seus diretivos e de seus representantes legais; 
 
• Áreas principais de trabalho da organização e indicação da sua relação 
com as atividades dos órgãos da OEA em que pretende participar; 
 
• Motivos pelos quais considera que os aportes que possa fazer às 
atividades da OEA serão do interesse desta; 
 
• Identificação das áreas de trabalho da OEA em que se compromete a 
apoiar as tarefas realizadas ou a formular recomendações sobre a 
melhor maneira de alcançar os objetivos da OEA. 
 
Deverão ser anexados os seguintes documentos: 
 
• Ata constitutiva da organização 
 
• Estatutos 
 
• Relatório anual mais recente 
 
• Declaração de missão institucional 
 
• Estados financeiros correspondentes ao ano anterior ao pedido. 
Deverão ser incluídas as fontes financeiras públicas e particulares, com 
referência especial às fontes financeiras governamentais. 
 
Existe um Comitê sobre a Participação da Sociedade Civil nas Atividades da OEA, encarregado 
de tramitar os pedidos. O Comitê estuda os pedidos e pode requerer informação adicional. 
Depois, os encaminha ao Conselho Permanente da OEA, que é quem decide sobre o pedido. 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
30 
É indispensável a obtenção de status consultivo para participar na OEA? 
 
Em primeiro lugar, é preciso reafirmar que quando nos referimos a ‘status consultivo’ 
estamos falando da participação da sociedade civil com relação aos órgãos políticos da 
OEA. A obtenção ou não do status consultivo não tem relação, por sua vez, com as 
atuações das entidades da sociedade civil perante a Comissão e a Corte Interamericana 
de Direitos Humanos. As atuações junto a estes órgãos estão regulamentadas pela 
Convenção Americana de Direitos Humanos e pelos respectivos regulamentos da 
Comissão e da Corte e não pelo sistema de status consultivo. 
 
Com relação aos órgãos políticos (Conselho Permanente e Assembléia Geral), apesar 
de que a obtenção de status consultivo não é imprescindível para que uma organização 
não governamental participe das suas atividades, é bastante recomendável. Quando 
uma ONG não tem status consultivo, fica a critério dos órgãos políticos aceitarem ou 
não a sua participação. Por sua vez, quando ela conta com o status, essa participação 
corresponde ao exercício de um direito, do qual a ONG não pode ser privada 
discrecionalmente. 
 
Além do mais, a aquisição de um status consultivo permitirá a ONG se manter melhor 
informada sobre o trabalho da OEA, e a colocará em melhores condições para fazer 
mais eficaz a sua participação. 
 
Uma resolução do Conselho Permanente do ano 2003 fortaleceu a participação das 
organizações da sociedade civil, especialmente daquelas cadastradas no sistema de 
status consultivo. O documento, chamado “Estratégias para aumentar e fortalecer a 
participação das organizações da sociedade civil nas atividades da OEA28”, solicitava a 
vários organismos da instituição a implementação de uma série de medidas práticas 
com o objetivo de aumentar o acesso à informação sobre a OEA por parte das ONGs, 
de criar instâncias regulares de debate com a participação das ONGs e de estabelecer 
mecanismos adequados de divulgação sobre estes assuntos. A resolução também 
incentivava os Estados membros da OEA para que adotaram medidas específicas com 
esse mesmo objetivo. 
 
1.8 Alguns aspectos práticos do lobby no Conselho Permanente e na Assembléia 
Geral 
 
Efetivamente, para acompanhar da melhor forma os assuntos do Conselho Permanente, 
o ideal e realizar um trabalho de lobby constante. Porém, isto pode ser difícil para as 
ONGs que não têm sede ou representantes na cidade onde funciona o Conselho 
Permanente. Por este motivo, uma boa recomendação é o desenvolvimento de contatos 
com ONGs semelhantes sediadas em Washington, D.C. Por outra parte, é importante 
saber quais são os momentos chaves a cada ano para participarde forma direta no 
Conselho Permanente. 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
31 
Também é preciso conhecer a forma de preparar e desenvolver essa participação na 
Assembléia Geral. 
 
Como a Assembléia Geral da OEA é realizada em princípio de junho, este é o ponto de 
partida de cada ciclo anual de trabalho. 
 
A Assembléia emite grande quantidade de resoluções para serem implementadas pelo 
Conselho Permanente e os seus órgãos subsidiários ao longo do ano. Estes, por sua 
vez, geralmente devem prestar contas do trabalho realizado na próxima Assembléia 
Geral. 
 
Os momentos de maior atividade das ONGs com relação ao Conselho Permanente e à 
Comissão de Assuntos Jurídicos e Políticos coincidem com os períodos de sessões da 
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que é quando se reúne o maior número 
de organizações não governamentais de todo o continente americano em Washington, 
D.C. 
 
O primeiro destes períodos de sessões acontece normalmente no final de fevereiro e 
princípio de março de cada ano. O segundo é realizado geralmente o final de setembro 
e princípio de outubro. 
 
As ONGs devem aproveitar esses períodos para acordar estratégias e realizar 
apresentações orais no Conselho Permanente da OEA e nos seus organismos 
subsidiários. Tais apresentações costumam ir acompanhadas por apresentações 
escritas. Estas podem ser complementadas por outras que se realizem ao longo do ano. 
 
Além do mais, na época dessas visitas, as ONGs costumam se reunir com as 
Embaixadas dos Estados da OEA. 
 
Nas sessões de finais de fevereiro e princípio de março, as ONGs acompanham essas 
tarefas. 
 
O ideal seria que o maior número possível de ONGs participassem nas sessões do 
Conselho Permanente dedicadas a matérias de direitos humanos. Todavia, com 
freqüência isto não é possível pela falta de recursos, então as apresentações podem ser 
encaminhadas por escrito e estabelecer formas de coordenação com ONGs que 
efetivamente assistam às sessões. 
 
Outro meio complementar de lobby é o realizado nos próprios Ministérios das 
Relações Exteriores com o propósito de influenciar as instruções que eles encaminham 
às suas Missões na OEA. 
 
É importante considerar que, se para uma ONG a decisão sobre uma resolução é 
fundamental (por exemplo, em caso de que tenha relação com o respectivo país), é 
conveniente se esforçar ao máximo para intervir nas sessões respectivas do Conselho 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
32 
Permanente e não esperar até a Assembléia Geral. Na grande maioria dos casos, as 
resoluções acordadas no Conselho Permanente são aprovadas sem alterações na 
Assembléia Geral porque esta não tem tempo suficiente para reabrir um debate 
substancial sobre cada assunto. 
 
Para participar da Assembléia Geral deve se encaminhar uma carta para o Secretário 
Geral da OEA, com um mínimo de 60 dias de antecedência (ver exemplo de carta nos 
anexos do Manual). Se a ONG possui status consultivo a sua participação estará 
garantida, mas se não tem, mesmo que na prática seja mais provável que não haja 
problemas para participar, a rigor trata-se de uma decisão individual do Secretário 
Geral fazer ou não o convite. 
 
Uma ONG não precisa realizar trabalhos em vários países para participar da 
Assembléia; isto é, a situação é diferente da dos órgãos da ONU, como a Comissão de 
Direitos Humanos, onde é necessário realizar um trabalho internacional (ou assistir sob 
o patrocínio de uma ONG internacional) para poder participar. 
 
Para se preparar adequadamente para a Assembléia Geral é preciso entender que o seu 
trabalho é uma continuação do que realiza o Conselho Permanente. Como já foi 
mencionado, a Assembléia Geral é o lugar onde começa e termina cada ciclo anual, e 
até ela chega o que o Conselho Permanente vem realizando ao longo desse período. 
 
Isto não quer dizer que para uma ONG que não tenha participado de sessões do 
Conselho Permanente, ou que não tenha interagido de qualquer outra forma com o 
Conselho, não faça sentido participar da Assembléia Geral. Mas deve considerar que, 
neste último caso, a sua possibilidade de impacto vai diminuir bastante. 
 
Existe uma coalizão internacional de ONGs de direitos humanos que trabalham junto 
ao Sistema Interamericano e que, além de acompanhar as atividades do Conselho 
Permanente, desenvolvem várias iniciativas como preparação para a Assembléia Geral 
(ver nos anexos as informaçoes sobre o contato da coalisão). 
 
Uma destas iniciativas consiste em uma declaração conjunta que inclui tanto as ONGs 
que participarão da Assembléia como as outras que, ainda que não possam ir, têm 
interesse em expor o seu ponto de vista. 
 
Imediatamente antes da Assembléia Geral, as ONGs geralmente realizam um 
seminário ou outro encontro para debater os temas mais pertinentes que serão tratados 
na Assembléia. 
 
Também são convidados para participar deste seminário delegados nacionais. O 
objetivo é sensibilizá-los sobre as principais preocupações das entidades da sociedade 
civil. 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
33 
As ONGs também organizam uma entrevista coletiva para apresentar as suas propostas 
para a Assembléia Geral. Esta habilita uma Sala para a Imprensa onde é possível 
manter um contato direto durante a realização das sessões. Por seu caráter 
internacional, não somente a mídia do país sede dá cobertura à Assembléia, mas 
também a de outros países, bem como agências internacionais de notícias. Por isso, 
pelo menos potencialmente, é possível que as colocações da sociedade civil obtenham 
uma maior divulgação. 
 
Ainda, desde que foi estabelecido o sistema de status consultivo, também é realizado 
imediatamente antes da Assembléia um Fórum convocado pela OEA do qual 
participam e intervêm a sociedade civil, os Estados e as autoridades da OEA, inclusive 
o Secretário Geral. Esta é outra possibilidade para dar a conhecer aos Estados e à OEA 
os pontos de vista das organizações não governamentais. 
 
Durante a Assembléia propriamente dita, as possibilidades que as ONGs têm de 
realizar apresentações orais são muito poucas. Ainda que com o estabelecimiento do 
status consultivo as ONGs tenham ampliado as suas formas de participação oral em 
outras instâncias da OEA, o mesmo não aconteceu a respeito da Assembléia Geral por 
conta da sua curta duração. 
 
Não obstante, uma fórmula prática vem sendo utilizada em algumas oportunidades. 
Consiste em conseguir que algum Estado permita que as ONGs ocupem parte do seu 
tempo ou que um Estado leia algum documento preparado pelas ONGs . 
 
Um exemplo do primeiro caso aconteceu quando o Panamá, país anfitrião da 
Assembléia Geral da OEA em 1996, cedeu parte do seu tempo a uma ONG de pessoas 
portadoras de deficiência visual para expressar as suas observações sobre o projeto de 
‘Convenção Interamericana Para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência’ (aprovada alguns anos depois). 
 
Exemplo do segundo caso foi a leitura que realizou o Ministro das Relações Exteriores 
da Costa Rica (Estado anfitrião da Assembléia realizada em 2001) de um documento 
preparado por um grupo de ONGs. 
 
Independentemente do anterior, as ONGs podem realizar apresentações escritas, que 
serão divulgadas pelas vias oficiais da OEA (isto é, passam a ser documentos da 
Assembléia). Todavia, o principal trabalho que podem desenvolver as organizações da 
sociedade civil durante a Assembléia propriamente dita é a atividade de lobby. 
 
Neste sentido, de forma coordenada, as ONGs realizam reuniões com as delegações 
nacionais e as autoridades da OEA, tanto para influenciar as decisões que a 
Assembléia pode adotar quanto para planejar estratégiasde trabalho futuros. Também 
acontecem diversos contatos informais, incluindo alguns durante o processo de revisão 
e emenda de alguns projetos de resoluções. 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
34 
Durante a Assembléia, as ONGs se reúnem constantemente para se manter informadas 
e coordenadas sobre os avanços e obstáculos nas atividades de lobby. No último dia da 
Assembléia é realizada uma reunião de balanço e projeções do trabalho desenvolvido. 
 
É evidente a importância de ampliar a participação das organizações da sociedade civil 
na OEA, não somente na Comissão e na Corte Interamericana de Direitos Humanos, 
mas também nos órgãos políticos, considerando a influência (às vezes decisiva) que 
eles exercem sobre o trabalho de direitos humanos da OEA. 
 
AS RELAÇÕES ENTRE O CARIBE INGLÊS E O SISTEMA 
INTERAMERICANO 
DE PROTEÇÃO DE DIREITOS HUMANOS 
 
Desde o primeiro momento, as relações entre os países do Caribe Inglês e o Sistema 
Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos não têm sido muito boas. Em 
meados dos anos 60, quando estes países obtiveram a sua independência, houve um 
forte debate nas elites políticas sobre a questão de se integrar ou não à Organização dos 
Estados Americanos, institução que os países do Caribe Inglês percebem como um 
lugar para os latino-americanos “falarem”. 
 
Os aspectos geográficos, bem como a possibilidade de receber apoio da OEA, em 
especial do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), prevaleceram sobre os 
receios aos aspectos culturais e políticos. Mesmo assim, alguns países demoraram 
vários anos para se unir à OEA: Trinidad e Tobago, cinco anos, e a Jamaica, sete anos 
após a sua independência.29 
 
A questão da língua foi e continua sendo um aspecto que distancia as relações entre o 
Caribe Inglês e os países latino-americanos. Além do mais, os sistemas políticos do 
Caribe Inglês foram percebidos como mais estáveis do que os correspondentes na 
América Latina. 
 
Mas talvez o elemento que mais influenciou a atitude do Caribe a respeito da OEA é o 
artigo 8 da Carta. O artigo 8 excluiu a Guiana e o Belize da OEA por causa de alguns 
territórios em litígio: a Venezuela reclamava uma quinta parte do território da Guiana e 
a Guatemala reclamava o Belize como próprio. 
 
É preciso considerar que a ratificação da Granada em 1978 foi o que permitiu que a 
Convenção Americana entrasse em vigência. Por outra parte, Trinidad e Tobago o 
único país do Caribe Inglês aceitassem a jurisdição da Corte Interamericana, se 
transformou no primeiro país em denunciar um tratado de direitos humanos em 199830. 
 
A denúncia feita por Trinidad e Tobago causou uma reviravolta na região e a Jamaica 
ameaçou fazer a mesma coisa. Se somarmos o fracasso em conseguir que os outros 
quatro Estados do Caribe Inglês aceitaram a jurisdição contenciosa da Corte, e a 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
35 
negativa de todos os outros países do Caribe de ratificar a Convenção Americana (com 
exceção de Barbados), é óbvio que o uso do Sistema Interamericano no Caribe 
constitui um desafio. 
 
Não há dúvida de que boa parte da discórdia entre os países do Caribe inglês e o 
Sistema Interamericano é a pena de morte, presente em todos os livros de direito dos 
países de língua inglesa e que vem representando uma razão de peso para não ratificar 
a Convenção Americana ou aceitar a jurisdição contenciosa da Corte. 
 
É importante que dentro da participação das ONGs tente se incorporar e incentivar a 
participação das ONGs de direitos humanos do Caribe inglês. Existem organizações 
relevantes no Belize, Barbados, Jamaica e São Vicente e Granadinas, que poderiam ser 
convidadas para participar nas Assembléias da OEA e em outras atividades com o fim 
de incentivar ações no interior destes países que promovam o Sistema Interamericano. 
 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
36 
Capítulo II 
 
 
II. FUNÇÕES DA COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS 
HUMANOS 
 
Neste capítulo serão apresentadas as diferentes funções da Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos (adiante, “Comissão” ou “CIDH”), com exceção dos casos 
específicos devido a sua maior extensão. 
 
A Comissão possui as seguintes funções: 
 
• Elaborar Relatórios sobre países; 
 
• Realizar visitas in loco (isto é, no local dos acontecimentos); 
 
• Desenvolver um trabalho especializado em certas áreas temáticas, através 
de Relatorias e outros mecanismos; 
 
• Realizar ações de divulgação e promoção e outras iniciativas; 
 
• Tomar conhecimento e resolver denúncias em casos específicos. 
 
2.1 Relatórios sobre países 
 
A Comissão prepara e publica Relatórios sobre países de duas formas. A primeira, 
trata-se de um relatório dedicado exclusivamente a um país, que pode ser muito 
extenso (com mais de 100 páginas) e que geralmente está precedido por uma visita ao 
respectivo Estado, salvo se este não autorize a CIDH para entrar no seu território. 
 
A segunda forma consiste em um relatório menor, que geralmente tem entre 10 e 20 
páginas e está incorporado ao Relatório Anual da Comissão. A função destes relatórios 
curtos costuma ser a de acompanhar os relatórios dedicados exclusivamente a um país. 
Podem ou não estar precedidos por uma visita da Comissão ou de alguns dos seus 
membros. 
 
Os Comissionados distribuem entre si os diferentes países que fazem parte da OEA. 
Por isso, para garantir a eficácia do trabalho das ONGs, é conveniente identificar o 
Comissionado encarregado do respectivo país31. Da mesma forma, os integrantes da 
Procedimentos no Sistema Interamericano dos Direitos Humanos 
 
 
37 
Comissão contam com uma ou mais pessoas dedicadas a determinados países, que 
também é importante identificar. 
 
Durante as primeras décadas de funcionamento da Comissão, os Relatórios sobre 
países concentravam-se quase exclusivamente nas violações aos direitos civis e 
políticos. Isso devido a que estes (o direito à vida, a não ser torturado, a não ser detido 
arbitrariamente etc...) constituiam os direitos violados em grande escala pelos regimes 
ditatoriais. 
 
Posteriormente, os Relatórios sobre países começaram a incluir direitos econômicos, 
sociais e culturais (DHESCs). Os relatórios também incorporaram uma perspectiva de 
gênero para analisar as violações, e incluiram outros coletivos vulneráveis, por 
exemplo, os povos indígenas e as populações afrodescendentes. 
 
A elaboração e publicação de Relatórios sobre países se constituiu praticamente na 
única tarefa da Comissão nos seus primeiros anos de funcionamento. Nessa época, a 
Comissão elaborou relatórios sobre a Cuba, Guatemala, Haiti e República Dominicana. 
 
Inclusive quando a tramitação de casos individuais começou a se desenvolver em 
meados da década de sessenta, a tarefa principal da CIDH continuou sendo a 
preparação de Relatórios sobre países. Esta foi a situação até quase 1990. 
 
Existiam duas razões básicas para isto. Em primeiro lugar, muitos dos Estados contra 
os quais se apresentavam denúncias individuais não participavam na tramitação do 
caso, isto é, não contestavam a denúncia e não encaminhavam nenhuma resposta aos 
requerimentos da Comissão, ou só respondiam de forma sumária, sem se aprofundar 
nas alegações nem apresentar provas. 
 
Em segundo lugar, e levando em consideração que a Comissão lidava 
fundamentalmente com violações massivas e sistemáticas, isto é, aquelas que 
obedeciam a um plano deliberado de alguns Estados, a solução de casos individuais, 
mesmo que o Estado houvesse ou não participado da tramitação, resultava insuficiente. 
 
Como se tratava de enfrentar centenas ou até milhares de violações cometidas em um 
período curto por um mesmo

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