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Organizações e Instituições Internacionais Resumo Organizações Internacionais – História e Práticas (HERZ, Mônica). Capítulo 3, Seção 3. O Sistema de Segurança Coletiva da ONU A ONU é uma organização intergovernamental, sendo a arena mais universal para a negociação de normas internacionais, mas também um ator, assumindo posições e produzindo ideias dentro dos limites estabelecidos pelos Estados que as constituíram. Seu caráter intergovernamental não impediu que as normas produzidas no âmbito do sistema abandonassem o principio de que o direito internacional se constitui de normas referentes às relações apenas entre Estados. O sistema ONU tem funções econômicas e sociais, mas a administração da segurança, a partir do principio de que o uso da força contra a integridade territorial ou independência de qualquer Estado está proscrita e de que disputas devem ser resolvidas pacificamente, é a principal função da organização. A Carta é seu documento constitutivo, estabelecendo as obrigações e os direitos dos membros e a estrutura da organização. A ONU é composta por seis principais órgãos: o Conselho de Segurança, a Assembleia Geral, o ECOSOC (Conselho Econômico e Social), o Conselho de Tutela, a Corte Internacional de Justiça e o Secretariado. O sistema ONU é formado ainda por 15 agencias, alem de diversos programas específicos. Cabe primordialmente ao Conselho administração da segurança. O Conselho pode enfrentar as ameaças à paz e segurança através da negociação, de decisões que sancionam os agressores, da investigação, da formação de operações de paz ou apenas através do estabelecimento de parâmetros para a resolução de um conflito. Ele é composto por cinco membros permanentes que exercem um mandado de dois anos. Outros países podem ser convidados a participar dos debates, quando envolvidos a participar dos debates, quando envolvidos em uma disputa. Os membros permanentes – Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China – tem o poder de veto sobre as decisões tomadas. O poder de veto é fortalecido pela impossibilidade de ratificar a Carta sem acordo dos membros permanentes e pode ainda ser usado para impedir que uma determinada questão seja declarada processual. Os 10 membros não permanentes exercem um mandato de dois anos. A distribuição geográfica confere maior universalidade ao Conselho. A norma da igualdade entre Estados soberanos é expressa no funcionamento da Assembleia Geral, pois o principio de um voto para cada Estado é a base do processo decisório e é seu órgão mais representativo. A Assembleia funciona como corpo legislativo da ONU. A admissão de novos membros, a eleição de membros não permanentes do Conselho, do ECOSOC, do Conselho de Tutela, a designação de juízes da CIJ, a aprovação do orçamento e a participação no processo de revisão da Carta são atribuições da Assembleia. A Assembleia pode fazer recomendações para medidas coletivas quando o Conselho está paralisado devido ao uso do veto. A Assembleia é também um espaço privilegiado para a formação de grupos regionais, ou com outro ponto de convergência, que visam pressionar por determinadas políticas. O secretário-geral é o administrador chefe da ONU, responsável pela preparação do orçamento da organização, por submeter um relatório anual à Assembleia Geral e pelos estudos sobre diferentes problemas. Ele pode trazer para agenda do Conselho problemas e temas no campo da segurança, tendo assim um papel crucial na prevenção e limitação de crises. Seu mandato de cinco anos é renovável apenas uma vez. O secretário exerce uma função de liderança, e suas atividades expressam e simbolizam o lugar da ONU como ator no SI. O Conselho Econômico e Social é responsável pela coordenação das atividades das agencias e programas especializados da ONU, além de fazer recomendações gerais sobre questões econômicas, sociais e aquelas pertinentes ao respeito aos direitos humanos. Os membros do ECOSOC são eleitos para um termo de três anos, sendo utilizado o critério da representação geográfica. O funcionamento do ECOSOC reflete a ideia de que a ONU deve ter um papel no campo econômico e social maior do que a Liga. A Corte Internacional de Justiça, formada por 15 juízes eleitos para um mandato de nove anos, emite decisões sobre as decisões sobre disputas legais entre Estados e opiniões sobre questões legais referidas a elas. A Corte contribui para resolução pacifica de disputas. Substituiu a Corte Internacional Permanente de Justiça, em Haia. O Conselho de Tutela era responsável por monitorar a administração de territórios sob tutela, ainda de acordo com sistema criado pela Liga. O Conselho gerou relatórios sobre as condições dos povos e fazia visitas no contexto de suas atribuições de supervisão. A Carta enfatiza a importância de promover o desenvolvimento do autogoverno, ou independência, já indicando uma visão positiva em face do processo de descolonização. O papel especial das grandes potencias foi reconhecido na forma das atribuições especificas do Conselho de Segurança (CS) e em um processo decisório que concede prerrogativas de soberania especiais às grandes potências, na forma do poder do veto. O direito de veto bloqueia o processo decisório no Conselho caso haja discordância entre as grandes potencias; a ONU só pode se envolver em atividades no campo da segurança, se todos os membros permanentes estiverem de acordo. O suposto é que uma ação coletiva só pode ser realizada quando há unanimidade entre os Estados mais poderosos e nunca contra um desses. Esse é um tema controverso, porque contradiz o principio da igualdade entre Estados soberanos e porque a mudança da distribuição de poder no SI deveria ser expressa na composição do Conselho. As resoluções do Conselho que lidam com ameaças à paz são obrigatórias, e não recomendações, como ocorria no Conselho da Liga, e a Carta enfatiza a necessidade de uma capacidade militar para dar suporte ao sistema de ação coleiva. Contudo, o poder do Conselho é limitado pela sua dependência nos Estados para adquirir os meios militares e financeiros, o apoio político e a implementação de embargos. O caráter intergovernamental da ONU explica essa realidade. A base legal do sistema de SC da ONU pode ser encontrada no Capitulo VII da Carta; que estabelece que ameaças à paz e à segurança internacional devem ser tratadas pelo CS. Como não há uma definição clara sobre o que consiste uma ameaça, é conferido amplo poder discricionário ao Conselho. Uma ameaça à paz não envolve, necessariamente, o uso da violência armada, nem se limita aos conflitos entre os Estados. A mais importante limitação ao amplo poder discricionário do Conselho na sua definição de ameaças à paz e à segurança está presente no artigo 51 da Carta. Ele define o direito legitimo à autodefesa restrito ao caso especifico de uma reação a um ataque armado. Ataques preventivos não são considerados. De acordo com o artigo 39, uma ameaça ou quebra da paz, ou um ato de agressão permite ao Conselho exercer seus poderes de imposição de resoluções, e, nesses casos, a exceção da jurisdição doméstica não é aceitável. O artigo 40 refere-se às medidas de emergência preliminares a outra resolução, baseada no capitulo VII, em que o Conselho demanda, requer com urgência, medidas que evitem a escalada de um conflito (ex.: requerimento de um cessar fogo, pedidos para que Estados não apoiem partes de um conflito e lhe ofereçam armas, etc.). O artigo 41 faz menção às medidas que não envolvem o uso da força, mas determinam sanções contra um Estado que tenha quebrado ou ameaçado a paz, ou é considerado um agressor. As medidas incluem embargos, boicotes, restrições de ordem financeira,ou de relacionamento cultural ou esportivo, corte de relações diplomáticas, ou outras medidas que levam o isolamento do Estado em questão. De uma forma geral, essas são decisões obrigatórias, embora o artigo 50 faça exceção aos países com necessidades econômicas especiais. Foi baseado no artigo 16 da LN. Como, diferentemente do artigo 16 da LG, o artigo 41 tem caráter obrigatório, a comunidade internacional adquiriu a capacidade de impor sanções coletivamente. O artigo 42 estabelece a possibilidade do uso direto da força contra um Estado. Está especificado no artigo 43 que no sistema de SC da ONU a ação direta consiste no uso de contingentes de forças armadas nacionais submetidas ao CS. Os artigos 43, 44 e 45 estabelecem a obrigação dos Estados-membro de assinar acordos com o Conselho para determinar o tamanho e a prontidão das tropas a serem utilizadas. Quando um país contribui para uma operação, ele pode participar dos debates no Conselho. Os artigos 46 e 47 estabelecem que o uso de contingentes nacionais será decidido pelo Comitê do Alto Comando composta pelos comandantes em chefe dos cinco membros permanentes do Conselho, sob a autoridade do mesmo. Contudo, o mecanismo de implementação do sistema de SC previsto no artigo 43 da Carta não foi posto em prática. As negociações para conclusão dos “acordos especiais”, que teriam permitido à ONU dispor de forças armadas e direitos de passagem foram interrompidas em decorrência do inicio das tensões entre as superpotências. Assim, as operações militares foram executadas de duas formas diferentes: criando forças das Nações Unidas para operações de paz ou autorizando o uso de força por Estados-membro, individualmente, em coalizões ou no contexto de organizações regionais. O apoio do Conselho a processos de resolução de conflito faz parte dos papeis da ONU na administração da segurança internacional. Enquanto o capitulo VII lida com situações em que houve quebra de paz, situações em que uma crise já se estabeleceu, o capitulo VI lida com ameaças à paz em potencial. Nesses casos, o papel principal cabe às partes – e não ao Conselho – que devem buscar uma forma de conciliar suas diferenças. Quando o Conselho age sob o aspecto do capitulo VI, a cooperação entre as partes em disputa é o foco das recomendações, enquanto quando a ação é feita sob o aspecto do capitulo VII a cooperação dos outros Estados para tornar efetivas as medidas sobre as quais o Conselho tomou decisões é fundamental, e as decisões são direcionadas contra os agressores. As operações de paz representam a mais significativa participação da ONU na administração do sistema da segurança internacional, fazendo parte de um esforço de controle de conflitos, ou seja, realizando os objetivos expressos no capitulo VI. Essas atividades deixaram uma porta aberta para a retomada das propostas de um sistema de SC após o final da Guerra Fria. Duas categorias de operações de paz são foram desenvolvidas: missões de observadores e missões de manutenção da paz. As operações de paz são executadas a partir de um mandato por tempo determinado, normalmente de seis meses, podendo ser estendido. As missões de observação são formadas por um pequeno contingente desarmado, distribuído em uma região após o estabelecimento de um cessar fogo. As operações de manutenção da paz são formadas por um contingente maior, armado para autodefesa, tendo como função principal a interposição entre forças hostis. Elas geralmente visaram resolver uma crise ou estabilizar uma situação. A separação das partes e o monitoramento dos acordos firmados são realizadas. As forças eram de Estados neutros em relação ao conflito especifico e ao conflito sistêmico. A neutralidade era considerada fundamental para o sucesso das operações. O Conselho delega ao secretário-geral a responsabilidade de prover forças internacionais por meio de acordos com membros e de delegar o comando das operações. As forças operam com o consentimento do Estado onde estão estacionadas. O consentimento é considerado um requisito básico para esse tipo de operação. A crise do Canal de Suez em 1956 permitiu o desenvolvimento do novo conceito de operação de paz. Em 1956, foi criada a primeira força de manutenção da paz. A operação tinha como mandato a separação de forças israelenses e egípcias e durou 11 anos. Essa missão foi peculiar já que foi criada pela Assembleia Geral, dada à obstrução do processo decisório dos vetos britânicos e Frances no Conselho. A missão presente no Congo entre 1960 e 1964 (ONUC) para restaurar a ordem civil no pais é considerada o “Vietnã da ONU” e afastou a possibilidade de intervenções coercitivas por muitos anos. A amplitude do mandato, nesse caso, incluindo a permissão para a utilização de força ofensiva, acabou envolvendo a ONU em um conflito intraestatal de grande proporção e a organização ainda não estava preparada para essa experiência. A operação no Chipre (UNFICYP), criada em 1964, é um exemplo do congelamento de conflito que essas operações podem gerar, não sendo resolvida a disputa entre as partes. O sistema de SC não funcionou como previsto durante a Guerra Fria. As grandes potências vetaram sistematicamente sua aplicação, e as negociações em torno da Guerra Fria ocorreram em outros fóruns. O sistema de SC manteve-se congelado, e a ONU preencheu um papel relevante na manutenção da paz através das operações de paz e de seu apoio às negociações internacionais. A administração da segurança internacional é realizada também no âmbito regional, e essa realidade é contemplada pela Carta da ONU. O Capitulo VIII apresenta a possibilidade de autorização por parte do Conselho de ações implementadas por arranjos regionais. Além disso, o artigo 51 refere-se à autodefesa individual e coletiva. Contudo, o direito à autodefesa, não deve ser confundido com as medidas que uma organização regional pode tomar sob direção do CS, de acordo com o artigo 53 da Carta. O sistema de SC pode conviver com acordos de segurança territorialmente circunscritos, podendo estes constituir mecanismos de SC regionais ou alianças militares.
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