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115Revista de divulgaçãotécnico-científica do ICPG Vol. 2 n. 8 - jan./jun./2006ISSN 1807-2836 1 INTRODUÇÃO A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música está presente em todas as culturas e nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas e políticas etc. Faz parte da educação desde muito tempo, sendo que, já na Grécia antiga, era considerada como fundamental para a formação dos futuros cidadãos, ao lado da matemática e da filosofia (BERCHEM, 1992, p.62). A música está presente em diversas situações da vida humana. Existe música para adormecer, música para dançar, para chorar os mortos, para conclamar o povo a lutar, o que remonta à sua função ritualística. Presente na vida diária de alguns povos, ainda hoje é tocada e dançada por todos, seguindo costumes que respeitam as festividades e os momentos próprios a cada manifestação musical. Nesses contextos, as crianças entram em contato com a cultura musical desde muito cedo e, assim, começam a aprender suas tradições musicais. Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas. Neste sentido, as instituições de educação infantil devem oferecer um ambiente físico e social onde as crianças se sintam protegidas, acolhidas e, ao mesmo tempo, seguras para se arriscarem e vencerem desafios. Quanto mais rico e desafiador for esse ambiente, mais possibilitará às crianças a ampliação do conhecimento acerca de si mesmas, dos outros e do meio em que vivem. Mesmo que as formas de organização social e o papel da música nas sociedades modernas tenham se transformado, algo de seu caráter ritual é preservado, assim como certa tradição do fazer e do ensinar por imitação e “por ouvido” em que se misturam intuição, conhecimento prático e transmissão oral. Essas questões A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM MUSICAL PARA A APRENDIZAGEM DA CRIANÇA Mazilda Teresinha da Silva Krzesinski Silmara Streit de Campos Resumo O presente artigo tem por objetivo fazer uma abordagem sobre a influência da música no processo educativo e mostrar a integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social que conferem caráter significativo à linguagem musical. A música é uma das formas importantes de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na educação infantil particularmente. No contexto da educação infantil, a música vem, ao longo de sua história, atendendo a vários objetivos, alguns dos quais alheios às próprias maneiras dessa linguagem. As canções costumam ser acompanhadas por gestos corporais, imitados pelas crianças de forma estimulante e sensitiva. A importância da linguagem musical para a aprendizagem da criança deve se fazer presente no dia-a-dia do contexto escolar da mesma para que a educação seja prazerosa e atrativa de fato, fazendo com que a criança apreenda os conteúdos sistematizados que a educação requer, interagindo e construindo seu próprio conhecimento. Palavras-chave: Música. Linguagem musical. Aprendizagem. Conhecimento. devem ser consideradas ao pensarmos na aprendizagem, pois o contato intuitivo e espontâneo com a expressão musical desde os primeiros anos de vida é importante ponto de partida para o processo de musicalização. Ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos, jogos de mãos etc. são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical, além de atenderem às necessidades de expressão que passam pelas esferas afetiva, estética e cognitiva. Aprender música significa integrar experiências que envolvem a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais elaborados. O trabalho com música deve considerar, portanto, que ela é um meio de expressão e forma de conhecimento acessível aos bebês, às crianças e aos jovens. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da auto-estima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. 2 MÚSICA: LINGUAGEM UNIVERSAL A música é uma linguagem universal, com muitos dialetos que variam de cultura para cultura, envolvendo a maneira de tocar, de cantar, de organizar os sons e de definir as notas básicas e seus instrumentos. “O conceito de música varia de cultura para cultura. Embora a linguagem verbal seja um meio de comunicação e relacionamento entre povos, constatamos que ela é universal, pois cada povo tem sua própria maneira de expressão através da palavra” (JEANDOT, 1990, p.12). A história da música começa na pré-história, quando o homem começou a fazê-la por meio de gritos, batendo o pé, batendo palmas, estalando os dedos e fazendo apitos confeccionados com um pedaço de chifre de rena que, “[...] constituído há cerca de 20 mil anos, foi encontrado na França e talvez tenha sido usado para imitar o canto dos pássaros” (CANTELE, 1980,p.84 ). 116 Vol. 2 n. 8 - jan.-jun./2006ISSN 1807-2836 Revista de divulgaçãotécnico-científica do ICPG Nas sociedades primitivas, música e dança expressavam alegrias e inquietações da comunidade, pois eram imprescindíveis à vida grupal. Não apresentavam manifestações sofisticadas, mas construíam linguagens próprias de cada sociedade. Os primitivos relatos encontrados de que alguém tenha passado algum conhecimento musical a outros se encontram gravados e pintados sobre murais e vasos das culturas antigas, e muitos eram associados aos cultos religiosos. São os gregos os primeiros a pensarem em novas dimensões para a música, o que conseqüentemente contribuiu para a sua pedagogia, considerando-a fator fundamental na formação dos cidadãos tanto quanto as outras disciplinas. Conforme Cantele (1980, p.84), “A palavra música vem do grego Mousike, em homenagem às nove musas que eram as deusas da inspiração”. Nas festas e em homenagem aos deuses, o acompanhamento musical sempre se fazia presente. Os gregos tinham como crença viver em um universo equilibrado entre corpo e mente. Para eles, a música visava à purificação da alma do indivíduo e servia como importante instrumento terapêutico, enquanto a ginástica visava à depuração do corpo. Nos dizeres de Beyer (1999, p. 25 ), no Império Romano, a música estava voltada para a formação militar e, por isso, não foi bem vista. Muitos achavam que a música gerava uma sensibilidade e uma sexualidade mais acentuada nos soldados e que esses teriam seus corações amolecidos, fato que prejudicaria a performance dos mesmos cuja missão consistia em ampliar o território geográfico. Quanto à sexualidade, essa também poderia vir à tona com a prática da dança, uma vez que era usado o movimento corporal para expressá-la. A dança e a música não seriam atividades apropriadas às classes mais elevadas da sociedade. Quem as realizava eram as mulheres e os escravos, não possuindo os mesmos, por isso, boa reputação. A música poderia desencadear comportamentos indesejáveis nos futuros soldados do Império Romano. Para os hebreus, um dos valores mais importantes é que, tanto o homem como as mulheres são iguais perante Deus. Assim, os cantos e as danças ambos os sexos praticavam como forma de servir a Deus, proporcionando momentos nos quais todos poderiam manifestar sua religiosidade, mesmo esquecendo que Deus é o ser mais importante para todos. Na Idade Média, o ensino da música encontrava-se restrito aos mosteiros. “A igreja centralizava todas as relações da vida dos indivíduos na época, e considera-se que a música seria capaz de influir fortemente sobre as pessoas” (BEYER,1999. p.26). Com a reforma de Lutero, no século XVI, houve umaabertura para que o ensino da música fosse incluído no currículo escolar, dando a todas as crianças e jovens a oportunidade de aprenderem a cantar e escrever música. “Lutero dizia que a música governa o mundo e apregoava sua nivelação à filosofia e às ciências nas escolas públicas” (ROSA, 1990, p.14). Nas Missões Jesuíticas, a finalidade da música era difundir a doutrina cristã. Os missionários, percebendo o interesse dos índios pela música, passaram a traduzir seus cânticos para a língua nativa com o objetivo de atraí-los e tirá-los das condições bárbaras em que viviam. Os índios foram ensinados a construir instrumentos e a utilizá-los, mostrando-se muito talentosos. A partir do século XVII, a música deixou de ser uma ciência exata e passou a ser considerada uma ciência humana, começando a se assumir como Arte; já a partir do século XIX, a música voltou a ser estudada nas universidades européias, porém como disciplina do currículo, o que acabou colocando o seu estudo em condição de inferioridade, pois ainda se acreditava que as ciências matemáticas fossem mais importantes. Somente no século XX, houve uma reação do ensino da música devido aos métodos ativos adotados na Escola Nova cujos adeptos (Montessori, Dacroly, etc.) perceberam a linguagem musical como necessária e acessível a todos e não apenas a certa minoria. Eles reconheciam o ritmo como elemento ativo da música, favorecendo as atividades de expressão e criação e, por isso, sua importância nos sistemas educacionais. Estudos musicológicos e etnomusicológicos têm-se preocupado em demonstrar o quanto a música está impregnada de seu contexto social. Por isso, o fenômeno musical não pode ser apenas compreendido por meio de seus elementos musicais, sônicos, mas também pelas características e condições de quem produz e de quem ouve. Em sociedades urbanas, como esta em que vivemos, tais questões tendem a se tornar mais complexas pela multiculturalidade que as caracterizam. No período da ditadura no Brasil (1964), a música foi utilizada sob a forma de repressão e resistência. Muitos compositores brasileiros usavam esse tipo de expressão artística para discordar das atitudes políticas e sociais impostas ao povo na época. Geraldo Vandré, com a música “Para não dizer que não falei das flores”, é um exemplo claro. A linguagem musical parece que esteve sempre presente na vida dos seres humanos, fazendo parte da educação de crianças, jovens e adultos. Ela nos dá a sensação de liberdade, permitindo-nos conhecer a nós mesmos. Por meio da música, conseguimos expressar desde os pequenos sentimentos aos importantes acontecimentos marcantes em nossa vida. 3 IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM MUSICAL PARA AS CRIANÇAS Ao nascer, a criança entra em contato com o universo sonoro que a cerca, ou seja, com os sons produzidos pelos seres vivos e pelos objetos. Sua relação com a música é imediata, seja por meio do acalento da mãe e do canto de outras pessoas, seja por meio dos aparelhos sonoros de sua casa. Antes mesmo de nascer, ainda no útero materno, a criança já toma contato com um dos elementos fundamentais da música – o ritmo – por meio das pulsões do coração de sua mãe. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 51), O ambiente sonoro, assim como a presença da música em diferentes e variadas situações do cotidiano, fazem com que os bebês e crianças iniciem seu processo de musicalização de forma intuitiva. Adultos cantam melodias curtas, cantigas de ninar, fazem brincadeiras cantadas, com rimas, parlendas etc., reconhecendo o fascínio que tais jogos exercem. Encantados com o que ouvem, os bebês tentam imitar e responder, criando momentos significativos no desenvolvimento afetivo e cognitivo, responsáveis pela criação de vínculos tanto com os adultos quanto com a música. Nas interações que se estabelecem, eles constroem um repertório que lhes permite iniciar uma forma de comunicação por meio de sons. O balbucio e o ato de cantarolar dos bebês têm sido objetos de melódicas cantaroladas até os dois anos de idade, 117Revista de divulgaçãotécnico-científica do ICPG Vol. 2 n. 8 - jan./jun./2006ISSN 1807-2836 aproximadamente. Procuram imitar o que ouvem e também inventam linhas melódicas ou ruídos, explorando possibilidades vocais, da mesma forma como interagem com os objetos e brinquedos sonoros disponíveis, estabelecendo, desde então, um jogo caracterizado pelo exercício sensorial e motor com esses materiais. As crianças gostam de acompanhar as músicas com movimentos do corpo, tais como palmas, sapateado, dança, volteios de cabeça, mas, inicialmente, são esses movimentos bilaterais que irá realizar. E é a partir dessa relação entre o gesto e o som que a criança, ouvindo, cantando, imitando, dançando, constrói seu conhecimento sobre a música, percorrendo o mesmo caminho do homem primitivo na exploração e nas descobertas dos sons. É interessante observar a grande influência que a música exerce sobre a criança. É por isso que os jogos ritmados, próprios dos primeiros anos de vida, devem ser trabalhados e incentivados na escola. Ao adulto caberá compreender em que medida a música constitui uma possibilidade expressiva privilegiada para a criança, uma vez que atinge diretamente sua sensibilidade. Música é linguagem. Assim, em relação à música, devemos seguir o mesmo processo de desenvolvimento que adotamos quanto à linguagem falada, ou seja, devemos expor à criança a linguagem musical e dialogar com ela sobre a música e por meio dela. O educador, antes de transmitir sua própria cultura musical, deve pesquisar o universo musical a que a criança pertence e encorajar atividades relacionadas com a descoberta e com a criação de novas formas de expressão. Uma aprendizagem voltada apenas para os aspectos técnicos da música é inútil e, até, prejudicial, se ela não despertar o senso musical e não desenvolver a sensibilidade. Mostra Rosa (1990, p.18) que, ao longo de toda a história, o conhecimento da música se fez presente no ser humano que, de início, descobre os sons e os ritmos em seu próprio corpo e natureza ao seu redor, depois desenha nas pedras, de forma rudimentar, a presença da música no seu cotidiano e registra nas pedras o uso de instrumentos de percussão, como tambores, e de sopro, como a flauta de bambu. O homem, em sua evolução, foi aperfeiçoando a linguagem musical, passando a utilizar instrumentos mais complexos, registros mais adequados das músicas, criando canções mais simples e também mais sofisticadas. A sua expressão corporal ficou mais evidente (sensual, delicada, agressiva). Enfim, acompanhou o desenvolvimento da humanidade e acabou por se beneficiar dos avanços tecnológicos. A criança, de certa maneira, reproduz a própria história do desenvolvimento: ela cresce em seu conhecimento da música, descobrindo sons e ritmos, desenhando, experimentando e confeccionando instrumentos. A música pode contribuir bastante para que ela interaja com o mundo e seus semelhantes, expressando seus sentimentos e demonstrando como percebe sua sociedade. “A música é uma linguagem expressiva e as canções são vínculos de emoções e sentimentos e podem fazer com que a criança reconheça nelas seu próprio sentir” (ROSA, 1990, p.19). A expressão existe em toda ação humana e é criadora, pois é própria do homem. Tudo o que nós fazemos resulta em algo criativo, mesmo representado de diferentes formas e situações. A mente humana é criativa e, por isso, o trabalho pedagógico por meio da linguagem musical deve proporcionar uma educação crítica e inovadora na qual o educando é visto por inteiro e também fragmentado. Na escola, a educação musical favorece o desenvolvimento estético e artístico, bem como promove senso musical, formando um educando capaz de usufruir a música, de analisá-la e, principalmente, de compreendê-la. Está certo o Referencial Curricular Nacionalpara a Educação Infantil ( BRASIL, 1998, p.52) quando afirma que: [...] aos poucos, a criança começa a contar com maior precisão de entonação, a reproduzir ritmos simples orientados por um pulso regular. Os batimentos rítmicos corporais (palmas, batidas nas pernas, pés etc.) são observados e reproduzidos com cuidado e, evidentemente, a maior ou menor complexidade das estruturas rítmicas dependerá do nível de desenvolvimento de cada criança ou grupo. O educador pode trabalhar a música em todas as áreas da educação, beneficiando com isso a linguagem motora, o raciocínio, a memorização e a atenção. O simples ato de cantar proporcionará isso à criança. [...] as crianças integram a música às demais brincadeiras e jogos, cantam enquanto brincam, acompanham com sons os movimentos de seus carrinhos, dançam e dramatizam situações sonoras diversas, conferindo ‘personalidade’ e significados simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos musicais à sua produção musical. O brincar permeia a relação que se estabelece com os materiais: mais do que sons podem representar personagens, como animais, carros, máquinas, super-heróis etc. (BRASIL, 1998, p.52) A escuta de diferentes sons (produzidos por brinquedos sonoros ou oriundos do próprio ambiente doméstico) também significam fonte de observação e de descobertas, provocando respostas. A audição de obras musicais enseja as mais diversas reações: os bebês podem manter-se atentos, tranqüilos ou agitados. Do primeiro ao terceiro ano de vida, os bebês ampliam os modos de expressão musical pelas conquistas vocais e corporais. Podem articular e entoar um maior número de sons, inclusive os da língua materna, reproduzindo letras simples, refrões, onomatopéias, explorando gestos sonoros, como bater palmas, pernas, pés, especialmente depois de conquistada a capacidade de correr, pular e movimentar-se acompanhando uma música. Para Gonçalves (1999, p.65), o poder de transformação da música e a percepção de que cada tipo induz a determinado comportamento perduram através dos séculos, haja vista o papel que desempenhou nos cultos religiosos da Idade Média, na exaltação dos sentimentos do período romântico e na liberdade almejada pelos jovens na década de 1960. Hoje, embora essa força continue atuante e determinando contínuas transformações, principalmente entre os jovens, o confronto é raramente estabelecido e o comportamento da juventude, dificilmente relacionado ao contexto musical vivenciado. Basta atentar para o poder de persuasão exercido pelos atuais cantores, bandas e grupos musicais que se apresentam nos palcos, nos estádios e nos programas de televisão. Esses grupos influenciam os jovens nos modos de vestir, de falar, de se relacionar com grupos e individualmente, imprimindo identidades e induzindo comportamentos. O tipo de comportamento está intimamente ligado às mensagens transmitidas pela música, pela poesia, pelo ritmo ou pela coreografia, contagiando a todos com o prazer e a alegria próprios da vivência musical. Cabe perguntar: Que 118 Vol. 2 n. 8 - jan.-jun./2006ISSN 1807-2836 Revista de divulgaçãotécnico-científica do ICPG comportamento queremos para as nossas crianças e jovens? Que mensagens devemos lhes transmitir? Gonçalves (1999, p.65) indaga: O que oferecer à criança e ao jovem para que possa, por meio da música, vivenciar as forças virtuosas que promovem as transformações positivas almejadas pelas instituições educacionais? Para o autor, devemos acreditar na força do conhecimento, lato sensu , em que se destaca, no ápice, aquele sentido da música que, conhecendo, a criança e o jovem podem compreender, discernir, aceitar, rejeitar, construir, destruir, participar ou optar por ficarem alheios às manifestações musicais. No campo intelectual, incontáveis são os resultados positivos que demonstram a eficiência da música no desenvolvimento das crianças. O aumento da capacidade de aprendizagem nas crianças, segundo pesquisas, é superior em até 60%, quando estimuladas pelo convívio musical, e representa avanço significativo em suas vidas, propiciando-lhes maiores conquistas futuras no âmbito das relações sociais, econômicas, pessoais e interpessoais. A musicoterapia tem sido a solução para inúmeros casos de deficiência física e mental. Para Gonçalves (1999, p.68), educar na música é trabalhar o belo e estimular as sensibilidades, que são atributos essenciais das artes. A música, a mais individual e a mais coletiva nesse meio, detém grande força e poder para realizar no homem as transformações idealizadas pelos organismos que estruturam os passos dessa busca. Juntar a música aos demais componentes dessa estrutura é possibilitar que as experiências e vivências destinadas à formação do indivíduo, como o reconhecimento dos valores morais, o desenvolvimento da sensibilidade, da personalidade e das faculdades criadoras, se processem com eficiência superior, mas, sobretudo, com prazer, satisfação e interesse, ingredientes pouco aproveitados pelos educandos na busca de sua formação. A escola deverá permitir a seus estudantes não memorizar um número infinito de informações, mas ordenar os conhecimentos científicos, aplicá-los em problemas práticos e refletir sobre as conseqüências de tais aplicações de modo responsável. Mas os estudantes só poderão realizar esse aprendizado se os professores lhes derem o exemplo. Aquele que se enclausura voluntariamente em sua especialidade não pode exigir de seus alunos que tenham uma visão de conjunto. Aquele que não explica e não debate em público as possíveis conseqüências de certos processos científicos e técnicos não poderá transmitir aos estudantes o modelo de um comportamento responsável (BERCHEM, 1992, p. 41). De acordo com Gonçalves (1999, p.68), o uso de músicas em algumas atividades nos recintos escolares dá, às vezes, a impressão de que esteja sendo utilizada no processo educativo. Mas consumir música, como estimula a mídia, não significa que as infinitas possibilidades educacionais, advindas de trabalho musical bem estruturado, estejam sendo aproveitadas em prol do desenvolvimento humano. Dispor do elemento musical com força transformadora, significa apropriar-se dele, conhecê-lo por inteiro, compreender suas múltiplas facetas, seu jogo, seus processos e, sobretudo, fazer com que esse conhecimento seja revertido para o desenvolvimento humano. Para que a aprendizagem da música possa ser fundamental na formação de cidadãos, é necessário que todos tenham a oportunidade de participar ativamente como ouvintes, intérpretes e compositores, dentro e fora da sala de aula. É de suma importância que o professor utilize a música em suas atividades pedagógicas, oportunize aos alunos o cantar, o ouvir, o dançar e, assim, possibilite o enriquecimento do ensino, promovendo interação, socialização e valorização de talentos a despontar. 4 A MÚSICA COMO RECURSO PEDAGÓGICO A música tem papel fundamental no desenvolvimento e formação do ser humano. Grandes estudiosos, como Piaget e Jean Jacques Rousseau, ressaltam a importância da música na construção do conhecimento. O pedagogo e educador Snyders (1992, p.128) vê a música na sala de aula como uma atividade criativa e integradora do currículo escolar, ou seja, a música ou o texto musical podem revelar muitas perspectivas sob as quais um tema pode ser trabalhado na escola, e o ideal é que o professor desenvolva uma ação interdisciplinar. Cada vez mais, as escolas utilizam a música como um recurso pedagógico para alfabetizar seus alunos. A música atrai e envolve os alunos, serve de motivação, eleva a auto-estima, estimula áreas do cérebro, desenvolve a sensibilidade, a criatividade, a capacidade de concentração, o raciocínio lógico, a socialização e a expressão corporal. Snyders (1992, p.128) ressalta que, para qualquer faixa etária, as atividades musicais devem ser de caráter lúdico envolvendo as vivências dos alunos.Souza (1997), ao abordar o aspecto da influência da mídia na cultura infantil, salienta que “recomendar às crianças e jovens que se afastem dessas produções alienantes seria inadequado, pois não podemos ignorar a realidade que está à nossa volta.” Resumindo, nós os educadores, devemos valorizar a música na sala de aula e formarmos um sujeito crítico em relação à realidade do seu cotidiano, no qual estamos inseridos, visando um processo de construção significativa da prática docente. Souza (1998) nos faz refletir sobre a música na educação quando diz que acredita [...] ser possível trabalhar os fundamentos básicos de leitura e escrita na escola fundamental. É claro que para ler e escrever música necessita-se de um certo aprendizado. Para tal, a metodologia a ser utilizada deve partir da experiência musical cotidiana dos alunos e o programa deve se orientar em duas perguntas básicas: 1. Que música esses sinais gráficos apresentam? Como decifrá-los? Quanto ao currículo, devemos, então, estar atentos sobre quais valores e tradições culturais devem ser incluídos e quais devem ser excluídos, sobre quais formas de conhecer e aprender devem ser privilegiados. “Saber o que selecionamos e o que os alunos selecionam faz parte da nossa função de educar e aprender” (SOUZA, 1988, p.18 ). 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim como não há forma de dissociar a criança de seu contexto sociocultural, de igual forma não há como dissociar a música do contexto escolar dentro de um processo de ensino- aprendizagem que, de fato, vise ao desenvolvimento pleno do educando por meio de uma metodologia inovadora, dinâmica, multicultural e socioconstrutivista. Os estudos comprovam que o aumento da capacidade de 119Revista de divulgaçãotécnico-científica do ICPG Vol. 2 n. 8 - jan./jun./2006ISSN 1807-2836 aprendizagem chega a ser superior em até 60% quando a criança é estimulada pelo convívio musical, representando avanço significativo na vida dos educandos, propiciando-lhes maiores conquistas futuras no âmbito das relações sociais, econômicas, pessoais e interpessoais. Diante do exposto, não podemos fechar os olhos para o que de fato inova, agrega e dinamiza o processo de educação em um contexto educacional que quer o desenvolvimento pleno do educando, desfazendo, assim, as amarras de um método tradicional e conservador que, durante décadas, castrou, limitou e frustrou muitas gerações de educandos. A escola precisa ser um espaço atrativo, dinâmico, encantador e propiciador de inúmeras oportunidades para que seus educandos se sintam inteirados e construtores de seus conhecimentos. Então, precisa haver todo um universo que instigue diferentes manifestações culturais, dentre elas, a musical. Ao concluir este artigo, fica mais do que evidente que a educação musical se deve fazer presente no dia-a-dia escolar do educando, uma vez que a música suscita um grande prazer e possibilita a manifestação de sentimentos, movimentos e dinamismo nas crianças. As crianças são atraídas pelo que lhes dá prazer, lhes causa excitação, e a escola precisa, por meio desse eixo, atrair constantemente os educandos para o mundo escolar e criar métodos que causem neles esse impacto da excitação em aprender. 6 REFERÊNCIAS BERCHEM, Th. A missão da Universidade na formação e no desenvolvimento cultural. In: Temas Universitários I. Porto Alegre: PUC/RS, 1992. BEYER, Esther(Org.) Idéias em Educação Musical. Porto Alegre: Mediação, 1999. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. CANTELE.Bruna. R. História Dinâmica: Antiga e Medieval. São Paulo: IBEP, 1980. GONÇALVES, Maria Inês Diniz. A virtude da força nas práticas interdisciplinares. Campinas: Papirus, 1999. JEANDOT, Nicole. Explorando o universo da música. São Paulo: Scipione, 1990. ROSA, Nereide S. Santana. Educação musical para pré-escola. São Paulo: Ática, 1990. SNYDERS, Georges. A escola pode ensinar as alegrias da música? São Paulo: Cortez, 1992. SOUZA, Jussamara. Transformações globais e respostas de Educação Musical. IN: Anais do 6º Simpósio Paranaense de Educação Musical. Apostila de musicalização na educação. Londrina, 1997. _______. Educação musical como prática social e cidadania. In: Anais do XI CONFAEB. Apostila de musicalização na educação. Brasília, 1998.
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