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Prof. Esdras Garcia Alves Instituto Politécnico – UNA Raja 14 Capítulo 25 – Corrente, Resistência e Força eletromotriz Corrente elétrica Todo material é constituído por átomos e, portanto, todo material possui prótons, nêutrons e elétrons. Nos metais, os elétrons mais externos da camada de valência de cada átomo se encontram praticamente livres da atração do núcleo e podem se movimentar livremente por todo o metal, constituindo uma nuvem ou um gás de elétrons livres. Na ausência de um campo elétrico aplicado, os elétrons desse gás de elétrons livres se movem de forma totalmente caótica no metal, de modo que não há um fluxo líquido de carga em uma direção preferencial (trajetória p1p2 na figura abaixo). No entanto, quando um campo elétrico é aplicado ao metal, os elétrons continuam em seu movimento caótico, mas agora há um pequeno deslocamento dos elétrons no sentido contrário ao do campo elétrico (trajetória p1p’2 na figura abaixo). O deslocamento dos elétrons ao longo do metal, devido ao campo elétrico aplicado (p2p’2 na figura acima) é o que chamamos de corrente elétrica. Embora, nesse momento, nos interesse a corrente elétrica formada pelo deslocamento de elétrons em um metal, não podemos deixar de mencionar que existem correntes elétricas formadas por íons, positivos e negativos, em uma solução iônica ou em um gás rarefeito em um tubo de descarga. Matematicamente, define-se a corrente elétrica i como a quantidade de carga Δq que atravessa uma área com seção reta de um condutor em um intervalo de tempo Δt. t Qi Δ Δ= Prof. Esdras Garcia Alves Instituto Politécnico – UNA Raja 15 Unidades: que é denominada ampère A Existe uma diferença enorme entre a velocidade dos elétrons em seu movimento caótico e a velocidade de deslocamento dos elétrons em função do campo aplicado, que chamaremos de velocidade de arraste va. A primeira tem valores típicos de 106 m/s, enquanto que a segunda tem valores típicos de 10-4 m/s. Ou seja, o deslocamento dos elétrons em um fio condutor é muito lento. Essa baixíssima velocidade de arraste dos elétrons é devida às constantes interações dos elétrons com os íons ou com as impurezas da rede cristalina do metal. Mas, se os elétrons se movem tão lentamente, por que a luz surge imediatamente quando ligamos o interruptor em nossa casa? (veja na página 136 do seu livro). Embora a maior parte dos metais tenha como portadores de carga majoritários os elétrons, convencionou-se adotar o sentido do deslocamento de cargas positivas para indicar o sentido da corrente elétrica em um material. Assim, quando representar a corrente elétrica em um circuito qualquer, use sempre este sentido convencional. É possível expressar a corrente elétrica i em função da velocidade de arraste va dos portadores de carga. Suponha um condutor qualquer com área da seção reta igual a A. Nesse condutor, portadores de carga, com carga q, se movem em função de um campo elétrico E com velocidade de arraste va. Em um tempo Δt a quantidade de carga ΔQ que passa pelo volume V do condutor da figura acima pode ser dada por: ΔQ = nqV , onde n é o número de portadores de carga por unidade de volume do condutor, q é a carga dos portadores e V é um volume qualquer do condutor. O volume V, no entanto, pode ser expresso como Awl, o que nos dá ΔQ = nqAl para a quantidade de carga. O comprimento l é exatamente a distância que o portador de carga percorre ao atravessar o volume V. s C segundo Coulomb = Prof. Esdras Garcia Alves Instituto Politécnico – UNA Raja 16 Se a velocidade do portador é va, então, no intervalo de tempo Δt, ele percorre uma distância l = va Δt (d=vt). Assim, a quantidade de carga que passa pelo volume V pode ser expressa como ΔQ = nqAvaΔt. Portanto, a corrente elétrica i que passa pelo condutor pode ser expressa por: A corrente elétrica i é uma grandeza escalar e é uma quantidade macroscópica, como a massa ou o volume de um objeto. A grandeza microscópica associada à corrente elétrica é a densidade de corrente j. A densidade de corrente j é uma grandeza vetorial, característica de um ponto interno ao condutor, e não do condutor como um todo. A densidade de corrente descreve como as cargas fluem em determinado ponto do condutor, e o sentido do vetor descreve o sentido do fluxo das cargas nesse ponto. Se a corrente elétrica i for distribuída uniformemente através de uma área A de uma seção reta do condutor, o módulo da densidade de corrente j para todos os pontos daquela seção é dado por: . Substituindo o valor da expressão anterior: Resistividade, condutividade e lei de Ohm A densidade de corrente j em um condutor depende do campo elétrico aplicado E e das propriedades do material. Em geral essa dependência é muito complexa, porém, para certos materiais, especialmente para os metais, em uma dada temperatura, j é quase diretamente proporcional a E, e a razão entre os módulos de E e j permanece constante. Essa relação é chamada de lei de Ohm. Define-se a resistividade ρ (lê-se rô) de um material como a razão entre o módulo do campo elétrico E e o módulo da densidade de corrente j: unidades A unidade V/A recebe a denominação de Ω (ohm), de modo que as unidades da resistividade são Ωm (lê-se ohm vezes metro). Existem duas classes de materiais distinguidos pela lei de Ohm: os materiais ôhmicos ou lineares e os materiais não-ôhmicos ou não-lineares. Os materiais ôhmicos obedecem à lei de Ohm. Nesses materiais, o valor da resistividade não depende do campo elétrico aplicado. Para uma certa temperatura, o valor da resistividade se mantém constante (a dependência de E e j é linear, dada pela equação acima). Os materiais não-ôhmicos não obedecem à lei de Ohm. Nesses materiais a resistividade não se mantém como uma constante à medida que E varia. Veja nos gráficos abaixo representações para o comportamento desses dois materiais em função do campo elétrico aplicado. Anqvi t tnqAv t Qi aa =⇒Δ Δ=Δ Δ= A ij = anqvj = j E=ρ mAVm m A m V metro ampère metro volt ⋅Ω=== 22 Prof. Esdras Garcia Alves Instituto Politécnico – UNA Raja 17 A resistividade é uma característica do material e está associada às propriedades microscópicas do mesmo, como o tipo de ligação química, o número de portadores de carga por unidade de volume, a interação desses portadores com os íons da rede cristalina e com as impurezas. A equação acima nos diz que um bom condutor elétrico deve possuir uma baixa resistividade, ou seja, um pequeno campo elétrico seria capaz de produzir uma grande densidade de corrente nesse material. Já os materiais tidos como isolantes devem possuir uma alta resistividade, de modo que mesmo campos elétricos intensos não seriam capazes de produzir uma corrente elétrica nesse material. O inverso da resistividade é a condutividade elétrica σ. Bons condutores possuem alta condutividade. unidades: A resistividade de um material varia de acordo com a temperatura em que ele se encontra, mesmo se ele for um material ôhmico. Para muitos metais,a resistividade aumenta com o aumento da temperatura. Isso pode ser compreendido se pensarmos que o aumento da temperatura faz com que os íons da rede cristalina vibrem de modo mais intenso. Isso faz com que os elétrons interajam mais fortemente com os íons e encontrem maior dificuldade para se deslocar pelo material. De modo oposto, a resistividade dos materiais semicondutores diminui com o aumento de temperatura. Nos materiais semicondutores o aumento da temperatura faz com que os átomos da rede cristalina do material também passem a vibrar com maior intensidade. No entanto, nos semicondutores, o aumento da energia térmica faz com que um maior número de elétrons consiga se libertar de seus átomos de origem e se tornem livres para participar da condução elétrica no material (em função das características das bandas de energia, o mesmo não ocorre com um material metálico). O resultado é uma diminuição da resistividade elétrica desses materiais (para um tratamento mais aprofundado pesquise sobre teoria de bandas em sólidos). Resistência elétrica A resistividade ρ, o campo elétrico E e a densidade de corrente j são grandezas microscópicas, às vezes de difícil mensuração. É mais conveniente em alguns casos lidarmos com as grandezas macroscópicas associadas àquelas grandezas microscópicas, respectivamente: a resistência elétrica R, a diferença de potencial elétrico Vab entre dois pontos do material e a corrente elétrica i que atravessa o material. E j=⇒= σρσ 1 1)( −Ωm Prof. Esdras Garcia Alves Instituto Politécnico – UNA Raja 18 (1) (2) (3) Considere o material condutor da figura abaixo que possui resistividade ρ, comprimento l e seção reta uniforme com área A. A densidade de corrente j nesse condutor é dada por: Assumindo que o condutor é uniforme, o campo elétrico E estabelecido no condutor pela diferença de potencial Vab é também uniforme e é dado por: Reescrevendo a equação para a resistividade na forma e substituindo os valores de (1) e (2), temos: A razão entre Vab e i para um dado condutor denomina-se resistência elétrica R: unidades: (lê-se ohm) Comparando a expressão acima com a expressão (3), temos: que define a resistência elétrica a partir das propriedades do material. Veja pela expressão acima que materiais mais longos e mais finos oferecem maior resistência elétrica que materiais mais curtos e mais grossos. Quando ρ for constante, como no caso dos materiais ôhmicos, então R também é constante e a equação V=Ri expressa, para alguns materiais, uma relação de proporcionalidade entre V e i. Para os materiais ôhmicos, a resistência elétrica não varia em função da diferença de potencial aplicada. Cabe ressaltar que a expressão V=Ri fornece a resistência elétrica de um condutor qualquer, seja ele ôhmico ou não-ôhmico. Ocorre que, para o caso dos materiais ôhmicos, a curva ixV é linear, isto é, R é independente de V e de i (um condutor obedece à lei de Ohm se a resistência entre qualquer par de pontos do condutor é independente da magnitude e da polaridade da diferença de potencial aplicada a esses dois pontos). A ij = l abVE = jE ρ= A iVab ρ=l iAVab lρ= i VR ab= A R lρ= Ω== A V ampère volt Prof. Esdras Garcia Alves Instituto Politécnico – UNA Raja 19 Assim como a resistividade, a resistência elétrica também varia com a temperatura do material. Força eletromotriz e circuitos Observe o circuito da figura ao lado. Uma lâmpada está transformando energia elétrica em luz e calor ao ser percorrida por uma corrente elétrica i. Para que a lâmpada permaneça acesa deve existir, no circuito, um local que forneça energia elétrica para as cargas. Esse local é a fonte de força eletromotriz (fem). Exemplos de fontes de fem são: pilhas e baterias, que transformam a energia potencial química em energia elétrica; célula fotovoltaica, que transforma a energia da luz em energia elétrica; gerador eletromecânico, que transforma a energia cinética – de uma queda d’água, do vento, de uma turbina a vapor – em energia elétrica; uma termopilha, que transforma a energia térmica em energia elétrica, entre outros exemplos. Uma fonte de fem ideal mantém uma diferença de potencial Vab constante entre seus terminais. Isso significa que cada carga que passa pela fonte de fem tem sua energia potencial elétrica aumentada. Ao percorrer o restante do circuito esta energia será transformada em outros tipos de energia pelos demais elementos do circuito: calor, em uma resistência; luz, em uma lâmpada; som, em um alto falante; movimento, em um motor; entre outros. Dizer que uma fonte de fem possui um valor ε = 12 volts (12 joules/coulomb) significa que cada coulomb de carga que atravessa a fonte recebe 12 joules de energia elétrica. Para uma fonte de fem ideal, isolada, a diferença de potencial Vab entre seus terminais é: Para uma fonte de fem ideal conectada a um circuito com um elemento de resistência R, a diferença de potencial Vab entre seus terminais será: Vab=ε. Mas o aumento no potencial na fonte é igual à queda de potencial no resistor (a energia potencial que uma carga ganha ao passar pela fonte é perdida no resistor, de modo que se uma carga sai do ponto a, circula pelo circuito e volta ao ponto a, a variação da energia potencial da carga deve ser nula, ou seja, o que a carga ganha na bateria ela perde no restante do circuito. Deste modo, para o circuito da figura acima também temos: onde Ri é a queda de potencial no resistor de resistência R ao ser percorrido pela corrente i. RiVab = Prof. Esdras Garcia Alves Instituto Politécnico – UNA Raja 20 No entanto, diferentemente das fontes de fem ideais, as fontes de fem reais apresentam uma resistência interna r, ou seja, as cargas que fluem por uma fonte de fem experimentam uma resistência elétrica interna à fonte, afinal, todos os materiais apresentam resistência elétrica. Assim a diferença de potencial Vab entre os terminais de uma fonte de fem real é dada por: Vab = ε - ri (4). A expressão (4) nos diz que a diferença de potencial de uma fonte de fem real é o potencial que a carga ganha devido à fonte (ε) menos a queda de potencial na resistência interna da fonte (ri). A diferença de potencial entre os terminais de uma fonte de fem real é igual a ε apenas quando não há corrente circulando pelo circuito (se i = 0 então Vab = ε). Se uma corrente flui pela fonte então a diferença de potencial Vab entre os terminais dessa fonte será sempre menor que ε. Alguns casos particulares: 1 – Fonte em circuito aberto. Nesse caso não há um circuito fechado e portanto não há corrente circulando pela fonte. A equação (4) nessa situação resulta em Vab = ε. 2 – Fonte em curto circuito. Nesse caso o pólo negativo da fonte de fem é conectado ao pólo positivo da fonte de fem por um fio de resistência desprezível. Deste modo não há diferença de potencial entre os terminais da bateria, ou seja, Vab = 0. A equação (4) se torna então: 0 = ε - ri. Elementos utilizados na representação esquemática de circuitos elétricos Prof. Esdras Garcia Alves Instituto Politécnico – UNA Raja 21Energia e potência em circuitos elétricos Considere o circuito da figura ao lado. Quando uma carga positiva passa do ponto a para o ponto b ela ganha energia potencial elétrica, pois ela está se movendo de um ponto que se encontra a um potencial mais baixo para um ponto que está a um potencial mais alto. A energia potencial química da bateria é transformada em energia elétrica. Quando uma carga positiva passa de c para d há uma redução na energia potencial elétrica, mas não ocorre aumento da energia cinética das cargas, uma vez que a velocidade de arraste das cargas é constante ao longo do condutor, devido às interações entre os portadores de carga e a rede cristalina do condutor. A energia elétrica está sendo transformada em outro tipo de energia no elemento que se encontra entre os pontos c e d: luz, calor, som, movimento, entre outros. A taxa temporal com que a energia elétrica é fornecida ou extraída de um elemento de um circuito é denominada de potência elétrica P. Pode-se mostrar que para um elemento qualquer de um circuito, submetido a uma diferença de potencial Vab, percorrido por uma corrente elétrica i, a potencia elétrica P é dada por: P = Vab i. unidades : (lê-se watt) Perceba que a unidade de potência elétrica é uma unidade de energia (joule) dividida por uma unidade de tempo (segundo), ou seja, a potência elétrica nos informa sobre a taxa com que a energia é fornecida ou extraída de um elemento do circuito. Se for uma fonte de fem, por exemplo uma bateria, a potência elétrica da fonte nos diz com que taxa a energia química é transformada em energia elétrica. Se for um resistor, uma lâmpada ou um alto falante, a potência desses elementos nos informa com que taxa a energia elétrica é transformada em outro tipo de energia (calor, luz, som). Se estivermos lidando com uma resistência pura, então combinando as equações V = Ri e P = Vi podemos obter expressões que se mostram úteis em algumas situações: Ambas as expressões acima fornecem a potencia elétrica de um resistor R submetido a uma diferença de potencial V ou percorrido por uma corrente i. Para uma fonte de fem a potência fornecida por uma fonte será dada combinado as expressões P=Vabi e Vab=ε-ri : O termo εi representa a taxa com que a energia não elétrica é convertida em energia elétrica na fonte e o termo ri2 representa a taxa com que a energia elétrica é transformada em calor na resistência interna da fonte, ou seja, parte da potência fornecida por uma fonte é perdida na própria fonte. Por fim, para uma fonte de fem que está absorvendo energia em vez de fornecendo (como uma bateria recarregável ao ser carregada, por exemplo), a potência elétrica será P=εi + ri2, isto é, a fonte de fem que fornece a energia para carregar a bateria precisa fornecer a energia a ser W s J segundo joule segundo coulomb coulomb jouleampèrevolt ===⋅=⋅ R VP ab 2 = 2RiP = 2riiP −= ε Prof. Esdras Garcia Alves Instituto Politécnico – UNA Raja 22 armazenada na bateria mais a energia que será dissipada na resistência interna da bateria, devido à passagem da corrente elétrica i durante o processo de carga. Exercícios do livro (capítulo 25 – página 159): Questões: 25.11, 25.12, 25.14, 25.15, 25.16 Exercícios: 25.1, 25.3, 25.5, 25.10, 25.12, 25.13, 25.17, 25.20, 25.26, 25.31, 25.33, 25.34, 25.35, 25.37, 25.40, 25.42, 25.43, 25.44, 25.45, 25.47, 25.48, 25.51, 25.52, 25.53
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