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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MINAS Israel Rodrigues Teixeira Yuri Moreira Vargas Capanema REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E ANÁLISE CRÍTICA A RESPEITO DOS ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA MINERAÇÃO BRASILEIRA Belo Horizonte 2015 Israel Rodrigues Teixeira Yuri Moreira Vargas Capanema REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E ANÁLISE CRÍTICA A RESPEITO DOS ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA MINERAÇÃO BRASILEIRA Trabalho disciplinar de graduação apresentado ao Departamento de Mineração da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais Área de habilitação: Economia Mineral Orientador: Prof. Dr. Renán Collantes Candia Belo Horizonte 2015 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS ......................................................................................... i LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... ii SUMÁRIO EXECUTIVO .......................................................................................................... 3 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 5 2. A SITUAÇÃO TRIBUTÁRIA DA MINERAÇÃO BRASILEIRA ................................... 8 2.1. A Tributação na Mineração Antes da Constituição Federal de 1988 .......................... 8 2.1.1. Imposto Único sobre Minerais - IUM .................................................................. 8 2.1.2. Imposto sobre a Renda de Pessoas Jurídicas – IRPJ .......................................... 10 2.2. As Mudanças Introduzidas pela Constituição de 1988 .............................................. 11 2.2.1. Impostos de Competência da União ................................................................... 11 2.2.2. Impostos de Competência dos Estados e Distrito Federal .................................. 12 2.3. A Situação Atual da Tributação na Mineração .......................................................... 14 2.3.1. IRPJ .................................................................................................................... 14 2.3.2. Alíquotas ............................................................................................................. 15 2.3.3. Deduções ............................................................................................................ 15 2.3.3.1. Impostos Incidentes sobre as Vendas .......................................................... 15 2.3.3.2. Depreciação ................................................................................................. 16 2.3.3.3. Depreciação Acelerada Contábil ................................................................. 16 2.3.3.4. Amortização ................................................................................................ 16 2.3.3.5. Exaustão ...................................................................................................... 18 2.3.3.6. Exaustão Mineral Incentivada ..................................................................... 19 2.3.3.7. Despesas Financeiras e Prejuízos Fiscais .................................................... 20 2.3.4. Contribuição Social sobre Lucro Líquido – CSLL ............................................. 20 2.3.5. Contribuição do PIS/PASEP e COFINS ............................................................ 20 2.3.6. Contribuição para o Instituto Nacional de Seguro Social – INSS ...................... 22 2.3.7. Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS ............................................. 22 2.3.8. Demais Encargos Trabalhistas ........................................................................... 22 2.3.9. Imposto Sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (Financeiras) – IOF . 23 2.3.10. O ICMS ........................................................................................................... 24 2.3.10.1. Alíquotas ..................................................................................................... 25 2.3.11. Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais – CFEM . 26 2.3.11.1. Fato de Geração ........................................................................................... 26 2.3.11.2. Base de Cálculo ........................................................................................... 27 2.3.11.3. Alíquotas ..................................................................................................... 27 2.3.11.4. Distribuição dos Recursos ........................................................................... 27 2.3.12. Outros Encargos .............................................................................................. 29 2.3.12.1. Participação do Superficiário ...................................................................... 29 2.3.12.2. Taxa Anual por Hectare - TAH ................................................................... 29 3. ANÁLISE DA CARGA TRIBUTÁRIA ........................................................................... 31 3.1. Resumo dos Tributos Incidentes ................................................................................ 31 3.2. A Carga Tributária no Brasil ..................................................................................... 32 3.3. A Carga Tributária na Mineração .............................................................................. 33 3.3.1. ERNST&YOUNG .............................................................................................. 33 3.3.2. Fraser Institute .................................................................................................... 36 3.3.2.1. Índice de Potencial Governamental............................................................. 36 3.3.2.2. Índice do Potencial Mineral Atual .............................................................. 38 3.3.2.3. Espaço para Melhorias ................................................................................ 39 4. PERSPECTIVAS DE MUDANÇA .................................................................................. 41 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 43 i LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS Figura 1: Imagem da capa do relatório usado como bibliografia básica para desenvolvimento deste trabalho. ............................................................................................................................. 3 Figura 2: Percentual da arrecadação do IUM direcionado à União, Estado e Município. ......... 9 Figura 3: Esquema das alíquotas incidentes para as três formas de se estabelecer o lucro como base de cálculo. ......................................................................................................................... 10 Figura 4: Esquema de distribuição do montante arrecadado com a CFEM. ............................ 28 Gráfico 1: Série histórica de arrecadação da CFEM ................................................................ 29 Gráfico 2: Evolução da arrecadação obtida com a TAH entre os anos de 2005 e 2013. .......... 30 Gráfico 3: Evolução da Carga Tributária Brasileira na série histórica compreendida entre os anos de 1986 e 2014. ................................................................................................................ 32Gráfico 4: Comparação entre a carga tributária brasileira e a média da carga tributária dos principais países produtores de bens minerais selecionados. ................................................... 35 Gráfico 5: Colocação brasileira com relação ao índice de Potencial da Política Governamental. .................................................................................................................................................. 37 Gráfico 6: Colocação do Brasil em relação ao Índice do Potencial Mineral Atual .................. 38 Gráfico 7: Representação do Espaço para Melhorias da mineração brasileira. ........................ 40 ii LISTA DE TABELAS Tabela 1: Alíquotas do IUM incidentes sobre diferentes substâncias minerais. ........................ 8 Tabela 2: Alíquotas aplicadas sobre lucro e excedentes........................................................... 15 Tabela 3: Coeficientes de depreciação acelerada de bens móveis............................................ 16 Tabela 4: Tabela das alíquotas para as Contribuições PIS/PASEP e COFINS, em regime de incidência cumulativa. .............................................................................................................. 21 Tabela 5: Alíquotas de PIS/PASEP e COFINS cobradas em regime de incidência não- cumulativa. ............................................................................................................................... 21 Tabela 6: Demais encargos trabalhistas e suas respectivas formas de cobrança. ..................... 22 Tabela 7: Alíquotas de incidência do ICMS em operações ou prestações de serviços interestaduais. ........................................................................................................................... 25 Tabela 8: Alíquotas da CFEM incidentes no aproveitamento econômico de diferentes recursos minerais. ................................................................................................................................... 27 Tabela 9: Resumo dos principais tributos incidentes sobre as atividades minerais. ................ 31 3 SUMÁRIO EXECUTIVO O trabalho aqui desenvolvido tem como fonte bibliográfica básica o relatório do Ministério das Minas e Energia (MME), elaborado pela empresa J. Mendo Consultoria no mês de junho de 2009, o qual possui o título: “Aspectos Tributários da Mineração Brasileira: Cenário Evolutivo da Situação Tributária na Mineração do Brasil e Análise Comparativa com Países Mineradores Selecionados”. A seguir, encontra-se uma imagem da capa de tal relatório, para referência completa. Figura 1: Imagem da capa do relatório usado como bibliografia básica para desenvolvimento deste trabalho. 4 O estudo desenvolvido ao longo do texto busca fazer uma análise crítica dos aspectos abordados em tal relatório. Ao mesmo tempo, é feito um paralelo com as possíveis mudanças que incorrerão a partir da aprovação de um novo código de mineração no Brasil. 5 1. INTRODUÇÃO Os empreendimentos de extração mineral têm como característica inerente utilizarem- se dos recursos presentes no solo (e subsolo) dos países nos quais atuam, com o intuito óbvio de obter lucro. As leis da maioria dos países mineradores regem que os recursos minerais pertencem ao Estado. Um bem mineral, seja ele qual for, é sempre exaurível, ou seja, uma empresa que explota um recurso natural de um país está sempre diminuindo a riqueza (in natura) do mesmo. Desta forma, é de se esperar que os governos cobrassem das mineradoras algum retorno financeiro ao conceder a elas o direito de uso de seus bens minerais. Essa cobrança é feita por meio da tributação, sendo essa basicamente encorpada por três instrumentos de cobrança: royalties específicos, royalties ad valorem e impostos especiais sobre lucro ou renda gerada a partir do uso dos recursos. A mineração brasileira foi submetida, ao longo de sua história de atuação, a diferentes formas de tributação. O Imposto Único sobre Minerais (IUM) e o Imposto sobre a Renda de Pessoas Jurídicas (IRPJ) vigoraram como instrumentos de cobrança sobre as empresas de mineração até o ano de 1988. Após esse ano, no qual foi promulgada a nova Constituição Brasileira, a mineração deixou de ter um regime tributário predominantemente diferenciado, de forma que a taxação atual é determinada por parâmetros gerais acrescidos de taxas e impostos característicos da atividade mineral. Atualmente, os principais tributos e encargos incidentes na mineração são: IRPJ; Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL; Programa de Integração Social – PIS; Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público – PASEP; Contribuição para Financiamento da Seguridade Social – COFINS; Fundo de Garantia de Tempo de Serviço – FGTS; Demais encargos trabalhistas: 6 o Salário-Educação; o Seguro de Acidentes; o Gratificação de Natal; o Adicional de Férias; Imposto sobre Operações Financeiras – IOF; Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS; Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais – CFEM; Participação do Superficiário; Taxa anual por hectare. Existe uma notável dificuldade para a determinação das taxas reais impostas à mineração, sendo essa decorrente do método de taxação agregada, que submete as empresas a diversos tributos e encargos. Esse método gera uma série de complicações, uma vez que tanto o estudo crítico do tema como um possível estudo de viabilidade de um projeto mineiro (o qual deve levar em conta também os custos de tributação), são dificultados por um sistema tributário confuso, encorpado por diversos instrumentos de cobrança. Em geral, existe uma grande necessidade de se tornar os regimes tributários incidentes sobre a mineração mais simples e racionais, sendo que essa realidade não é característica unicamente brasileira. No contexto mais amplo, existem inúmeras similaridades entre o sistema brasileiro e mundial, dentre as quais: Incidência do regime geral de tributação do país sobre, também a mineração; Incidência de imposto de renda; Incidência de imposto sobre o valor adicionado ou sobre o consumo, com isenção para as exportações; Incidência de imposto sobre as importações; Incidência de imposto sobre a propriedade; 7 Incidência de imposto ou encargo específico sobre a mineração. O que difere o sistema brasileiro dos demais consiste na grande incidência de impostos relacionados a contribuições sociais. Tais contribuições agem tanto sobre as vendas quanto sobre o lucro das empresas. Quando leva-se em conta os encargos específicos à mineração, percebe-se que os custos das empresas atantes no Brasil são praticamente o dobro, uma vez que a maioria dos países cobram apenas contribuições específicas tais quais a CFEM, e não utilizam-se de cobranças elevadas de participação do superficiário. 8 2. A SITUAÇÃO TRIBUTÁRIA DA MINERAÇÃO BRASILEIRA 2.1. A Tributação na Mineração Antes da Constituição Federal de 1988 A principal mudança no sistema tributário brasileiro nos últimos tempos foi observada com o advento da Constituição Federal de 1988. Antes de sua promulgação, os tributos que incidiam sobre as empresas mineradoras eram o IUM e o IRPJ, sendo que o IUM era responsável pela maior alíquota da cobrança. 2.1.1. Imposto Único sobre Minerais - IUM O IUM foi criado pelo governo brasileiro na década de 1940, com intuito de estabelecer uma alíquota única para a cobrança tributária sobre as minerações. O mecanismo de cobrança consistia em incidi-lo em uma das etapas de: explotção,beneficiamento, circulação, distribuição, exportação ou consumo de substâncias minerais, sendo sua aplicabilidade restrita a não variação essencial da identidade das substâncias minerais processadas. De acordo com a base de cálculo adotada, o IUM podia ser visto ou como um royalty ad valorem ou como um royalty específico. O primeiro caso era observado quando, por exemplo, as etapas de vendas a terceiros e transferências eram executadas, nas quais a base de cálculo era feita sobre o preço de operação e do valor industrial, respectivamente. O fator gerador ocorria na saída do bem mineral de sua área de concessão, o que fazia com que as etapas mencionadas acima ficassem isentas de tributação, caso não houvesse modificação essencial na identidade das substâncias minerais. Tabela 1: Alíquotas do IUM incidentes sobre diferentes substâncias minerais. Bem Mineral Alíquota (%) Minerais nobres, pedras preciosas, pedras semipreciosas lapidáveis 1 Minérios de ferro e manganês destinados ao mercado interno 15 Minérios de ferro e manganês destinados ao mercado externo 7,5 Demais substâncias minerais destinadas ao mercado interno 15 Demais substâncias minerais destinadas ao mercado externo 4 Fonte: Ministério das Minas e Energia (adaptado), 2009. 9 A divisão da arrecadação obtida pela aplicação da IUM era dividida entre União, Estado e Município, conforme o esquema apresentado na figura abaixo. Figura 2: Percentual da arrecadação do IUM direcionado à União, Estado e Município. Fonte: Ministério das Minas e Energia (adaptado), 2009. Um aspecto válido de atenção a respeito do IUM diz respeito ao destino dado ao montante arrecado. Os Estados deveriam aplicar os recursos advindos deste imposto em investimentos e financiamentos cujos quais poderiam influenciar beneficamente a indústria da mineração. Outro aspecto interessante diz respeito à isenção que era provida às empresas que extraiam minerais e os forneciam em obras públicas. Além disso, substâncias empregadas como matéria-prima de insumos utilizados na agricultura, também eram isentas da incidência do IUM. Ademais, as indústrias consumidoras de bens minerais poderiam abater o IUM relativo aos minerais que utilizavam em seus processos de produção de outros impostos que incidiam sobre elas. Desta forma, encontrava-se um importante meio incentivador de consumo de bens minerais. IU M UNIÃO - 10% ESTADO - 70% MUNICÍPIO - 20% 10 2.1.2. Imposto sobre a Renda de Pessoas Jurídicas – IRPJ O cálculo do valor a ser pago para o governo por meio do IRPJ era feito com base no lucro das empresas. A base do cálculo podia tomar três valores distintos: o lucro real, o lucro presumido e o lucro arbitrado. O lucro real consistia no lucro líquido, ajustado de forma a levar em conta as deduções, compensações e incentivos autorizados pelo Estado. O lucro presumido era uma forma de simplificar o cálculo, na qual uma alíquota fixa era cobrada de empresas que não ultrapassassem certo teto de receita total bruta. Já o lucro arbitrado era imposto às empresas cujas quais definiram seu lucro de forma errônea, podendo, ou não, haver a constatação de intencionalidade. Todas as empresas jurídicas com operações no País estavam obrigadas a declarar seus rendimentos. As alíquotas aplicadas a cada forma de se calcular o lucro encontram-se discriminadas na figura abaixo. Figura 3: Esquema das alíquotas incidentes para as três formas de se estabelecer o lucro como base de cálculo. Fonte: Ministério das Minas e Energia (adaptado), 2009. É importante salientar que existiam várias deduções possíveis de serem feitas, as quais se tornavam incentivos importantes para a indústria da mineração. Eram permitidas deduções relacionadas à exaustão real, depreciação, gastos com pesquisa mineral e gastos com pesquisa mineral e desenvolvimento da mina. Além disso, as operações nas quais o IUM incidia também eram passíveis de acarretar deduções. IR P J (A n te s d e 1 9 8 8 ) Lucro Real 35% Lucro Presumido 25% Lucro Arbitrado 35% 11 Na década de 1970 foi criado outro importante incentivo, a exaustão incentivada. Esse consistia em permitir que as empresas mineradoras deduzissem uma quota de exaustão de 20% da receita buta referida, o que reduziria consideravelmente o montante a ser pago. 2.2. As Mudanças Introduzidas pela Constituição de 1988 O método de incidência de impostos sobre a mineração foi drasticamente alterado na Constituição Federal de 1988. Dentre as principais mudanças, podem ser destacadas a extinção do IUM e o início da incidência do ICMS sobre os empreendimentos mineiros. Mais adiante a CFEM foi regulamentada e também aplicada às minerações. 2.2.1. Impostos de Competência da União Na Constituição promulgada, foi definido como de responsabilidade e direito da União a instituição de impostos que incidiriam sobre: Importações e exportações; Renda e proventos; Produtos industrializados; Operações financeiras tais como: crédito, câmbio, seguro e relativas a títulos ou valores imobiliários; Propriedades rurais; Grandes fortunas. Era comum utilizar-se ouro como ativo financeiro na época em questão. Desta forma, ao empregar-lhe com tal propósito, incidiria sobre o ouro apenas imposto relativo a operações financeiras, tais como as descritas acima. A mínima alíquota aplicada era 1% sendo a arrecadação distribuída entre o Estado e o Município de origem do bem. As parcelas destinadas ao Estado e ao Município eram, respectivamente, 30% e 70%. 12 As ditas contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico também eram de competência da União. Vale ressaltar que tais mecanismos de cobrança não seriam aplicados às receitas decorrentes da exportação de bens. 2.2.2. Impostos de Competência dos Estados e Distrito Federal Na Constituição de 1988, a mineração não foi segregada das demais atividades geradoras de renda. Levando em conta esse pressuposto, foi definido que incidiria sobre suas atividades o ICMS. O ICMS é o imposto que incide sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre a prestação de serviços, ainda que tais operações e prestação de serviços se iniciem no exterior. De acordo com o art. 155 da Constituição Federal de 1988 é descrito e parametrizado conforme a seguir: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: II – operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: I – será não cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços como o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou por outro Estado ou pelo Distrito Federal; II – a isenção ou não-incidência, salvo em determinação ao contrário da legislação: a) não aplicará crédito para compensação com o montante devido nas operações ou prestações seguintes; b) acarretará a anulação do crédito relativo as prestações anteriores; III – poderá ser seletivo, em função da essencialidade das mercadorias e serviços; IV – resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presidente da República ou de um terço dos Senadores, aprovada por maioria absoluta de seus membros, estabelecerá as alíquotas aplicadas às operações e prestações, interestaduais e de exportação; V – É facultado ao Senado Federal: 13 a) estabelecer alíquotasmínimas nas operações internas, mediante resolução de iniciativa de um terço e aprovada pela maioria absoluta de seus membros; b) fixar alíquotas máximas nas mesmas operações para resolver conflito específico que envolva interesse de Estados, mediante iniciativa da maioria absoluta e aprovada por dois terços de seus membros; VI – salvo deliberação em contrário dos Estados e do Distrito Federal, nos termos do disposto no inciso XII, g, as alíquotas internas, nas operações relativas a circulação de mercadorias e prestação de serviços, não poderão ser inferiores as previstas para as operações interestaduais; VII – em relação as operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final localizado em outro Estado, adotar-se-á: a) a alíquota interestadual, quando o destinatário for contribuinte do imposto; b) a alíquota interna, quando o destinatário não for contribuinte; VIII – na hipótese da alínea a do inciso anterior, caberá o Estado da localização do destinatário o imposto correspondente a diferença entre a alíquota interna e a interestadual; IX – incidirá também: a) sobre a entrada de bem ou mercadoria importados do exterior por pessoa física ou jurídica, inda que não seja contribuinte habitual do imposto, qualquer que seja a finalidade, assim como sobre o serviço prestado no exterior, cabendo o imposto ao Estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento do destinatário da mercadoria, bem ou serviço; b) sobre o valor total da operação, quando as mercadorias forem fornecidas com serviços não compreendidos na competência tributária dos Municípios; X – não incidirá: a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003); b) sobre operações que destinem a outros Estados petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados e energia elétrica; c) sobre ouro, nas hipóteses definidas no art. 153, § 5º; XI – não compreenderá, sem sua base de cálculo, o montante de impostos sobre produtos industrializados, quando a operação, realizada entre contribuintes e relativa 14 a produto destinado à industrialização ou comercialização, configure fato gerador dos dois impostos; XII – cabe à lei complementar: e) excluir da incidência do imposto, nas exportações para o exterior, serviços e outros produtos além dos mencionados no inciso X, a; g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos ou revogados.” Um fato importante diz respeito ao § 3º do art. 155, o qual rege que, à exceção do ICMS, do imposto de importação e do imposto de exportação, nenhum outro imposto poderia incidir sobre operações relativas a minerais no País. 2.3. A Situação Atual da Tributação na Mineração O sistema tributário brasileiro, como um todo, é extremamente complicado e vasto. Uma reforma em suas bases seria extremamente vantajosa, não só a mineração, mas à economia em geral. Mais de oitenta encargos, dentre impostos, contribuições, taxas e fundos incidem sobre a mineração, o que mostra o quão complicado é o sistema atual. Nas seções seguintes, encontram-se discriminados alguns de maior relevância para o empreendimento mineiro. 2.3.1. IRPJ As definições antigas de lucro real, presumido e arbitrado; as quais são usadas como base de cálculo; continuam a valer. Além disso, algumas das deduções como a depreciação, amortização e exaustão, foram mantidas, o que é um fato importante para a mineração. Em contrapartida as alíquotas foram modificadas. De forma simplista, pode-se tomar a base de cálculo do imposto, em cada mês, aplicando-se 8% sobre a receita bruta tomada. Toda empresa cuja receita total seja superior a um limite definido (24 milhões de reais à priori) são obrigadas à apuração do lucro real as pessoas jurídicas. 15 2.3.2. Alíquotas A alíquota básica a ser paga pelas empresas, a partir do ano de 1996 (até a data de publicação do relatório correspondente a bibliografia básica deste trabalho), corresponde a 15%. Tal alíquota, conforme já mencionado, incide sobre uma das três formas da base de cálculo: o lucro real, presumido ou arbitrado. A legislação contempla também os casos onde o valor do lucro utilizado como base de cálculo excede o limite superior definido pelos parâmetros da época de análise (24 milhões de reais nos primórdios de sua aplicação). Sobre a parcela do lucro real, presumido ou arbitrado excedente, um adicional de 10% à alíquota é aplicado. Tabela 2: Alíquotas aplicadas sobre lucro e excedentes. Base de cálculo Alíquota (%) Lucros de até R$ 24 mi anuais ou R$ 20 mil mensais 15 Lucro excedente (15 + 10) Fonte: Ministério das Minas e Energia (adaptado), 2009. É válido salientar que o lucro considerado para a base de cálculo é o lucro líquido. Assim, os custos e despesas operacionais são descontados do cálculo. 2.3.3. Deduções Na apuração do lucro tributável, além do desconto dos custos e despesas de operação, uma série de deduções são feitas, o que reduz o montante passível de cobrança. Tais deduções sofreram algumas modificações ao longo do tempo, contudo, as deduções mais relevantes para a mineração podem ser consideradas conforme apresentado a seguir. 2.3.3.1. Impostos Incidentes sobre as Vendas Os impostos que guardam proporcionalidade com o preço de venda efetuada ou serviços prestados, como ICMS, ISS e IE (Imposto sobre Exportação), são dedutíveis. Ainda dentro desta categoria, são também dedutíveis COFINS, PIS/PASEP e demais taxas que também guardam proporcionalidade com o preço de venda. 16 2.3.3.2. Depreciação A depreciação de um bem do ativo imobilizado consiste na diminuição de seu valor, relacionando essa perda de valor com seu desgaste por uso, ação da natureza ou obsolescência normal. Exclui-se do cálculo da depreciação os bens para os quais para os quais seja registrada cota de exaustão (explicada adiante neste texto). Em uma abordagem generalista a taxa de depreciação é obtida em função do tempo em que se espera utilizar o bem. Assim, a dedução é aplicável por todo o período de geração de riqueza do bem. 2.3.3.3. Depreciação Acelerada Contábil Um bem móvel pode ser depreciado por um fator de aceleração. Esse fator de aceleração é relacionado com a utilização do bem, levando em conta a quantidade e intensidade dos turnos de operação. Tabela 3: Coeficientes de depreciação acelerada de bens móveis. Quantidade de Turnos Duração dos Turnos (h) Coeficiente de aceleração 1 8 1,0 2 8 1,5 3 8 2,0 Fonte: Ministério das Minas e Energia (adaptado), 2009. Existe de uma forma de incentivo bastante apreciada pelas mineradoras relacionadas à depreciação acelerada. Para determinados setores, considerados estrategicamente importantes para o governo, a depreciação acelerada dos bens móveis do ativo imobilizado pode ser aplicada após ação de multiplicativos. 2.3.3.4. Amortização A amortização é realizada em processos que contam com prazo de utilização. O capital aplicado na aquisição de direitos dotados de duração limitada, ou mesmo em bens cuja utilização tenha prazo legal e / ou contratualmente limitado, pode ser amortizado. A seguir, encontram-se dispostos alguns bens ou direitos enquadrados nessa classe: 17 Patentes, fórmulas, processos de fabricação, direitos autorais, licenças, autorização ou concessões; Investimento em bens que, nos termos da lei ou contratos ou contrato que regule a concessão de serviço público, devem reverter ao poder concedente, ao fim do prazo da concessão, sem indenização; Custo de aquisição, prorrogação ou modificação de contratos e direitos de qualquer natureza, inclusive de exploração de fundo de comércio; Custo das construções ou benfeitorias em bens locados ou arrendados, ou bens de terceiros, quando não houver direito ao recebimento de seu valor. Também podem ser amortizados os custos, encargos ou despesas registradas no ativo diferido que contribuirão para a formação do resultado de mais de um período de apuração, tais como: A partir do início das operações, as despesas de organização pré-operacionais oi pré-industriais; As despesas com pesquisas científicas ou tecnológicas, inclusive com experimentação para a criação ou aperfeiçoamento de produtos, processos, fórmulas e técnicas de produção, administração ou venda, se o contribuinte optar pela sua capitalização; Despesas com prospecção e cubagem, mediante concessão de pesquisa ou lavra, sob orientação técnica de engenheiro de minas; A partir da exploração, ou do início das atividades das novas instalações, os custos e as despesas de desenvolvimento de minas ou expansão de atividades industriais; A partir do início das operações ou do atingimento da plena utilização das instalações, a parte dos custos, encargos e despesas operacionais registrados como ativo diferido durante o período em que a empresas, na fase inicial da operação, utilizou apenas parcialmente o seu equipamento ou suas instalações; 18 Ou juros durante o período de construção e pré-operação registrados no ativo diferido; Os juros pagos ou creditados aos acionistas durante o período que anteceder o início das operações sociais, ou de implantação do empreendimento inicial, registrados no ático diferido; Os custos, despesas e outros encargos com a reestruturação, reorganização ou modernização da empresa, registrados no ativo diferido. 2.3.3.5. Exaustão A exaustão é um “parâmetro” bastante relacionado com projetos de explotação mineral. Seu conceito básico vem da inevitável diminuição do valor da reserva ao passo que é explotada. Isso pois, logicamente, por ser um bem exaurível, seu valor é diretamente ligado à quantidade previamente definida, logo, ao consumir parcelas desse todo, seu valor diminuirá. No balanço, os direitos serão classificados no ativo imobilizado e deverão ser avaliados pelo custo de aquisição, deduzido do saldo da respectiva conta de exaustão acumulada. Pela simples definição de exaustão, as reservas cujas quais o exaurimento é indeterminável (vida extremamente longa do empreendimento), não entram no cálculo de dedução por exaustão. A metodologia de cálculo consiste em relacionar o volume da produção em determinado período (usado como base temporal do cálculo) com a potência conhecida da jazida. Outra forma de se parametrizar a exaustão diz respeito a relação do período já utilizado com o prazo total previsto de utilização da mina. É importante ressaltar que os encargos de depreciação, amortização e exaustão podem ser registrados como despesas operacionais. Contudo, havendo a possibilidade de aplicação de mais de uma dessas deduções, apenas uma poderá ser escolhida pelo contribuinte. 19 2.3.3.6. Exaustão Mineral Incentivada A Exaustão Mineral pode ser incentivada, de forma a fornecer melhores condições de operações para as empresas mineradoras, principalmente no início de suas operações. De acordo com a legislação, este incentivo fiscal atende as seguintes disposições: Art. 331. Para efeito de determinar o lucro real, as empresas de mineração cujas jazidas tenham tido início de exploração a partir de 1º de janeiro de 1980 até 21 de dezembro de 1987, poderão excluir do lucro líquido, em cada período de apuração, quota de exaustão de recursos minerais equivalente à diferença vinte por cento da receita bruta auferida nos dez primeiros anos de exploração de cada jazida e o valor computado nos termos do artigo anterior (Decreto-Lei nº 1.096, de 23 de março de 1970, art. 1º, Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art.15, § 2º, e Decreto-Lei nº 2.397, de 1987, art. 16, e § 1º, alínea "b"). § 1º A receita bruta que servirá de base de cálculo da quota de exaustão incentivada corresponderá ao valor de faturamento dos minerais. § 2º O limite global de dedução abrangerá as quotas de exaustão que já tenham sido deduzidas com base na Lei nº 4.506, de 1964, e no Decreto-Lei nº 1.096, de 1970 (Decreto-Lei nº 1.779, de 26 de março de 1980, art. 2º). § 3º A dedução da quota de exaustão, na forma deste artigo, não prejudica o direito à dedução de quotas de depreciação e de amortização, nos termos das Subseções II a IV, respectivamente (Decreto-Lei nº 1.096, de 1970, art. 1º, § 5º). § 4º O benefício fiscal previsto neste artigo é assegurado (Decreto-Lei nº 2.397, de 1987, art. 16, § 1º): I - às empresas de mineração que, em 24 de março de 1970, eram detentoras, a qualquer título, de direitos de decreto de lavra; II - às empresas de mineração cujas jazidas tenham tido início de exploração a partir de 1ºde janeiro de 1980, em relação à receita bruta auferida nos dez primeiros anos de exploração de cada jazida. § 5º O início do período de exploração será aquele que constar do plano de aproveitamento econômico da jazida, de que trata o Código de Mineração, aprovado 20 pelo Departamento Nacional da Produção Mineral (Decreto-Lei nº 1.096, de 1970, art. 1º, § 1º). 2.3.3.7. Despesas Financeiras e Prejuízos Fiscais A empresa mineradora pode classificar os juros pagos ou incorridos como despesas financeiras. Desta forma, torna-se dedutível como custo ou despesa operacional. Já os prejuízos fiscais, compensáveis para fins de imposto de renda, podem ser compensados independentemente do prazo. Essa compensação deve levar em conta a apuração em cada em cada período, tomando um limite de 30% do lucro líquido ajustado. 2.3.4. Contribuição Social sobre Lucro Líquido – CSLL Essa Contribuição destina-se (pelo menos na letra fria da lei) ao financiamento da Seguridade Social, sendo incidente sobre todas as pessoas jurídicas domiciliadas no País. As normas de apuração e pagamento da CSLL são as mesmas das do IRPJ, sendo, contudo, determinada uma alíquota diferente – 9% (nove por cento) – sobre o resultado financeiro ajustado (lucro real), presumido ou ajustado. Na verificação da negatividade da base de cálculo, poderá ocorrer da base de cálculo ser compensada em até 30% dos resultados apurados em períodos posteriores, ajustando as adições e exclusões previstas na legislação. Com intuito de determinação do lucro de exploração, adiciona-se a CSLL ao lucro líquido do período apurado antes da provisão para o imposto de renda. O seu valor não pode ser deduzido para efeito de determinação do lucro real, nem da sua própria base de cálculo. 2.3.5. Contribuição do PIS/PASEP e COFINS A Contribuição PIS/PASEP trata-se de uma contribuição social de natureza tributária obrigatoriamente paga pelas pessoas jurídicas e plicada com o objetivo de financiar o seguro- desemprego, assim como o abono dos trabalhadores com ganho de até dois salários mínimos. 21 O COFINS, de mesma natureza do PIS/PASEP, incide sobre a receita bruta das empresas em geral, com objetivo de financiamento da seguridade social. No regime de incidência é cumulativo, a base de cálculo é tomada como o total das receitas da pessoa jurídica, sem deduções em relação aos custos, despesas e encargos. As alíquotas, nesseregime, são apresentadas na tabela a seguir. Tabela 4: Tabela das alíquotas para as Contribuições PIS/PASEP e COFINS, em regime de incidência cumulativa. Contribuição Alíquota (%) PIS/PASEP 0,65 COFINS 3,00 Fonte: Ministério das Minas e Energia (adaptado), 2009 A incidência em regime cumulativo é aplicada às pessoas jurídicas de direito privado, e as que lhe são equiparadas pela legislação do imposto de renda, que apuram o IRPJ com base no lucro presumido ou arbitrado. Já o regime de incidência não-cumulativa permite desconto de créditos relacionados a custos, despesas e encargos. Para tal regime as alíquotas para PIS/PASEP e COFINS encontram-se discriminadas na tabela abaixo. Tabela 5: Alíquotas de PIS/PASEP e COFINS cobradas em regime de incidência não-cumulativa. Contribuição Alíquota (%) PIS/PASEP 1,65 COFINS 7,60 Fonte: Ministério das Minas e Energia (adaptado), 2009. A base de cálculo no regime de incidência não-cumulativa é o valor do faturamento mensal, independente da sua classificação contábil. Como forma de incentivo à indústria extrativa, ou mesmo de adequação à realidade do observado no mercado, o Estado lança mão de artifícios tais como: redução de alíquotas, definição de imunidades, outorga de isenções. Desta forma, são gerados subsídios a ramos estrategicamente importantes. Salta aos olhos, em uma breve leitura da legislação, a tentativa 22 do governo em incentivar as exportações, no intuito de fomentar o superávit da balança comercial brasileira. 2.3.6. Contribuição para o Instituto Nacional de Seguro Social – INSS Os trabalhadores brasileiros, em geral, contribuem mensalmente para o INSS. Além dessa contribuição, as empresas devem recolher 20% como forma de contribuição à seguridade social. Essa alíquota incidente sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas mensalmente aos empregados e trabalhadores avulsos que lhes prestam qualquer tipo de serviço, sob qualquer remuneração. 2.3.7. Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS O FGTS é um imposto dedutível do lucro operacional dos empregadores, sendo que as importâncias levantadas a seu favor implicam receita tributáveis. A sua metodologia de cobrança estabelece que as empresas são obrigadas a depositar, em conta bancária vinculada, valor correspondente a 8% das remunerações pagas ou devidas aos trabalhadores no mês anterior. Em sua base de cálculo, são inseridas remunerações extras ou não oficiais, como comissões, gorjetas e gratificações. 2.3.8. Demais Encargos Trabalhistas Na complexa legislação brasileira, estão previstas cobranças complementares, algumas delas enquadradas como demais encargos trabalhistas. Alguns desses encargos encontram-se dispostos na tabela abaixo Tabela 6: Demais encargos trabalhistas e suas respectivas formas de cobrança. Contribuição Forma de cobrança Salário Educação 2,5% dos salários + adicionais Seguro Acidentes 3,0% dos salários + adicionais Gratificação de Natal (13º salário) Um salário adicional por trabalhador Adicional de Férias 1/3 do salário do trabalhador Multa por dispensa sem justa causa 40% do saldo da conta do FGTS Fonte: Ministério das Minas e Energia (adaptado), 2009. 23 2.3.9. Imposto Sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (Financeiras) – IOF O IOF incide de formas diferentes de acordo com o enquadramento da operação dentro de uma das três grandes: Crédito, Câmbio e Seguros. Além das três mencionadas, o IOF incide também sobre operações tais como: as relativas a títulos ou valores mobiliários e as operações nas quais o ouro como ativo financeiro ou instrumento cambial. Para essas duas operações sua alíquota é, respectivamente, 1,5 % ao dia e 1%. Operações de Crédito A alíquota máxima de cobrança é de 1,5%, porém seu valor varia bastante conforme as deliberações do governo. A alíquota reduzida, em 2009, para pessoas jurídicas consiste em: o 0,00137% ao dia para pessoas jurídicas optantes pelo Simples Nacional, em operações iguais ou inferiores a R$ 30.000,00; o 0,0041% ao dia para os demais casos. Além dessas taxas, uma alíquota de 0,38% incide sobre toda e qualquer operação, independentemente do prazo. Operações de Câmbio Os dados correntes em 2009 apontavam uma alíquota máxima de 25% em operações cambiais. Sobre o valor entrante no país relacionados a empréstimos em moeda ou com prazos mínimos com média de noventa dias, aplica-se uma alíquota de 5,38%. Ao importar serviços, sobre o valor do pagamento incide um valor de 0,38%. Caso investidores estrangeiros ingressem dinheiro no país, com intuito de aplicações no mercado financeiro, a alíquota aplicada é de 1,50%. Operações de Seguro Em operações deste tipo a alíquota incidente é de 25%. Em diversas operações, tais como: resseguro, seguro obrigatório vinculado a financiamento de imóvel habitacional, realizado por agente do Sistema Financeiro de Habitação, seguro de crédito à exportação e de transporte internacional de mercadorias, seguro aeronáutico e seguro de responsabilidade civil 24 pagos por transportador aéreo e nas operações em que o valor dos prêmios seja destinado ao custeio dos planos de seguro de vida com cobertura por sobrevivência; a alíquota é zero. 2.3.10. O ICMS Na aplicação do ICMS é compensado o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, de forma não-cumulativa, com montante cobrado nas operações anteriores pelo mesmo ou pelo Estado. Dessa forma, pode ser tido como um imposto sobre o valor adicionado. A alíquota efetivamente incidente do ICMS é maior que a nominal, isso pois tal imposto integra sua própria base de cálculo. Exemplificando, a alíquota efetiva para a aplicação de uma alíquota nominal de 17% torna-se 20,48%. A aplicação do ICMS conta com um mecanismo de autofiscalização, pela adoção do método de crédito fiscal, uma vez que o contribuinte recolhe a diferença entre o imposto total devido e o total de crédito do imposto recolhido nas operações ou prestações anteriores. Na extinção do IUM o ICMS passou a ser o principal imposto incidente sobre a mineração, de forma a não segregar e a indústria mineral das demais. Para adequar a nova incidência com a realidade diversos acordos foram estabelecidos entre os Estados, com o objetivo de adequar a taxa de 13% de ICMS incidente nas exportações com as taxas vigentes à época do IUM. Inicialmente a criação do ICMS diminuiu a competividade dos produtores brasileiros nas exportações. A explicação para isso recai no fato de que não era possível repassar para os consumidores externos os “custos” do ICMS, o que deixava a margem de negociação e barganha brasileira menor. Tal “anomalia” foi resolvida com a Lei Complementar nº 87, conhecida como Lei Kandir: Art. 3º. O imposto não incide sobre: II – operações e prestações que destinem ao exterior mercadorias, inclusive produtos primários e produtos industrializados semielaborados, ou serviços; 25 Uma outra importante deliberação desta lei, consiste em dar direito a crédito tributário às mercadorias entradas no estabelecimento cujas quais seriam aplicadas na elaboração e viabilização de bens destinados ao exterior. O ICMS, é um imposto estadual, sendo sua alíquota variável de Estado para Estado, mediante aprovação do Governo Federal. 2.3.10.1. Alíquotas Além da variação das alíquotas de Estado para Estado, cada tipo de produto é submetido a uma alíquota diferenciada, de acordo com estratégia e deliberação do Estado produtor ou prestador. Como exemplodessa variabilidade as alíquotas para operações e prestações de serviço internas no Estado de Minas Gerais, são (dados de 2009) variáveis entre os valores de: 30%, 27%, 25%, 19%, 18%, 15%, 12% e 7%. Cada um desses valores incide sobre um grupo de operações ou prestações de serviços. Já para operações ou prestações interestaduais alíquotas acertadas e adequadas pela União e Estados são definidas. A tabela abaixo discrimina tais alíquotas, levando em conta a origem e o destino da operação ou prestação de serviços. Tabela 7: Alíquotas de incidência do ICMS em operações ou prestações de serviços interestaduais. Fonte: Fiscontex (site), 2015. 26 2.3.11. Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais – CFEM Com a extinção do IUM os governos passaram a não segregar a carga tributária das minerações das demais. Contudo, dada as particularidades da atividade mineral, alguns encargos tributários específicos foram fomentados e aplicados (até hoje) à mineração. A particularidade mais notável da mineração é a característica exaurível de seus recursos. E é daí que tais impostos/contribuições específicas ganham sua explicação. Ao explotar uma jazida mineral, a empresas está diminuindo a riqueza natural da área. A Constituição de 1988 rege que os recursos minerais, inclusive os do subsolo, são de propriedade da União. Desta forma, os Governos podem “cobrar” pelo seu aproveitamento econômico. A Lei nº 7.990, de 28/12/1989, em seu art. 6º, diz que: “a compensação financeira pela exploração dos recursos minerais, para fins de aproveitamento econômico, será de 3% (três por cento) sobre o valor do faturamento líquido resultante da venda do produto mineral, obtido após a última etapa do processo de beneficiamento adotado e antes de sua transformação industrial”. O faturamento líquido, usado como base de cálculo para a CFEM, é definido como sendo o total das receitas de vendas, excluídos os tributos incidentes sobre a comercialização do produto mineral (ICMS, COFINS, PIS/PASEP), as despesas de transporte e as de seguro. No caso de permissões de lavra garimpeira, o valor da CFEM será pago pelo primeiro adquirente da substância mineral extraída. 2.3.11.1. Fato de Geração A CFEM é gerada na saída por venda do produto mineral das áreas de jazida, mina, salina ou outros depósitos minerais. O fato de se vender o bem é o gerador do cálculo e aplicação da CFEM. A separação entre a operação submetida ou não à aplicação da CFEM é determinada da seguinte forma: a aplicabilidade é restrita a etapa de venda verificada após o último processo de beneficiamento adotado e antes de sua transformação industrial. Também é considerado como ato gerador a transformação industrial do produto mineral ou seu consumo, quando estes são feitos pelo minerador. 27 2.3.11.2. Base de Cálculo Existem duas formas de se estabelecer a base de cálculo da CFEM, relacionadas com a verificação ou não da venda do bem. No primeiro caso a base de cálculo é estabelecida como o lucro líquido da empresa. Já no segundo caso, sendo o bem aproveitado internamente pelo próprio minerador, com intuito de transformação industrial ou mesmo como insumo de diversos processos, a base de cálculo é tomada como o valor das despesas diretas e indiretas ocorridas até o momento da utilização do produto. 2.3.11.3. Alíquotas Na tabela abaixo encontram-se discriminadas as alíquotas praticadas para diferentes minerais/minérios. Tabela 8: Alíquotas da CFEM incidentes no aproveitamento econômico de diferentes recursos minerais. Bem mineral Alíquota (%) Alumínio, manganês, sal-gema e potássio 3,0 Ferro, fertilizantes, carvão e demais substâncias 2,0 Pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonatos e metais nobres 0,2 Ouro quando extraído por empresas mineradoras (não garimpeiros) 1,0 Fonte: Ministério das Minas e Energia (adaptado), 2009. 2.3.11.4. Distribuição dos Recursos Por ser um bem da União, os governos regulamentam a redistribuição do montante arrecadado. O esquema a seguir apresenta como é feita a partilha da arrecadação da CFEM. Essa partilha é feita entre a União (alguns de seus órgãos ligados a atividade mineradora, direta ou indiretamente, o Estado Produtor e o Município Produtor. Os órgãos da União cujos quais tem direito a parte da CFEM são: DNPM, IBAMA e MCT/FNDCT, sendo as alíquotas destinadas a eles, respectivamente: 9,8%; 0,2% e 2,0%. Segundo a legislação, cabe ao DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) regulamentar e fiscalizar a arrecadação da CFEM. (DNPM, 2013). 28 Ainda segundo a legislação, os recursos da CFEM não podem ser aplicados no pagamento de dívidas ou do quadro de pessoal permanente da União, Estados e Distrito Federal e Municípios. As receitas devem ser aplicadas em projetos que tragam benefícios às comunidades nas quais a explotação é realizada. Os projetos podem, direta ou indiretamente, por exemplo, melhorar as condições de infraestrutura, saúde, educação e ambientais da população local. Figura 4: Esquema de distribuição do montante arrecadado com a CFEM. Fonte: Ministério das Minas e Energia (adaptado), 2009 A CFEM mostra-se uma importante forma de repasse em forma de compensação para a população. Em uma série histórica percebe-se a tendência crescente do valor de sua arrecadação, ano após ano, com raras exceções. O gráfico abaixo exemplifica essa constatação, tomando a série histórica entre os anos de 2004 e 2015, sendo que a arrecadação de 2015 ainda continua em aberto. Observa-se que, para essa série histórica, o valor máximo arrecadado foi de R$ 2.376.174.913,87; no ano de 2013. C F E M 12% União 23% Estado 65% Município 29 Gráfico 1: Série histórica de arrecadação da CFEM Fonte: Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM (adaptado), 2015. 2.3.12. Outros Encargos 2.3.12.1. Participação do Superficiário O superficiário, proprietário do solo, tem direito à participação sobre os resultados da lavra, caso ele não seja o próprio minerador. Legalmente, à tal pessoa será repassado o percentual de 50% do valor apurado para a CFEM. 2.3.12.2. Taxa Anual por Hectare - TAH A Taxa Anual por Hectare consiste no repasse anual de certos valores em reais por hectare sobre cujo qual as empresas detêm alvarás de pesquisa. Dada sua natureza relacionada aos serviços exploratórios, a cobrança de tal taxa é cessada com a entrega do Relatório de Pesquisa, junto ao DNPM. Os valores estipulados para a taxa são de R$1,90/ha e R$2,87/ha. O segundo valor corresponde a taxa cobrada no caso de renovação do alvará de pesquisa. 0,00 500,00 1.000,00 1.500,00 2.000,00 2.500,00 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015* A rr e ca d aç ão ( m ilh o e s d e r e ai s) Ano (*) - 2015 ainda em aberto Arrecadação da CFEM: 2004 - 2015* 30 O gráfico abaixo apresenta a variação do montante arrecadado com a TAH, entre os anos de 2005 e 2013, em milhões de reais. Gráfico 2: Evolução da arrecadação obtida com a TAH entre os anos de 2005 e 2013. Fonte: Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Diretoria de Procedimentos Arrecadatórios (DIPAR), 2013. 40,61 61,43 66,40 86,45 87,40 99,02 116,86 125,79 98,73 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00 100,00 110,00 120,00 130,00 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 A rr ec ad aç ão ( em m ilh o es d e re ai s) Ano Arrecadação da TAH: 2005 - 2013 313. ANÁLISE DA CARGA TRIBUTÁRIA 3.1. Resumo dos Tributos Incidentes Conforme já mencionado neste texto, a carga tributária brasileira é complexa e vasta. Na tabela apresentada a seguir, encontram-se discriminados um resumo dos tributos e encargos incidentes sobre a mineração. Tabela 9: Resumo dos principais tributos incidentes sobre as atividades minerais. Tributo ou Encargo Alíquota ou Valor Pago Mercado Interno Mercado Externo IRPJ 15% sobre o lucro real + 10% sobre o excedente à R$20.000,00 Mesma CSLL 9% sobre o lucro líquido antes da provisão para o IRPJ Mesma PIS/PASEP não- cumulativo 1,65% sobre o total das receitas auferidas Imune COFINS não- cumulativo 7,6% sobre o total das receitas auferidas Imune IOF Variáveis conforme a operação feita Mesma ICMS 17% ou 18%: mesmo estado 7% ou 12%: operações interestaduais Não-incide INSS 20% do total das remunerações pagas Mesma FGTS 8% das remunerações pagas Mesma Salário-Educação 2,5% das remunerações pagas mais adicionais Mesma Seguro de Acidentes 3,0% dos salários mais adicionais Mesma Gratificação de Natal Um salário adicional por trabalhador Mesmo Adicional de Férias 1/3 do salário Mesmo Multa por dispensa sem justa causa 40% do saldo da conta do FGTS Mesmo CFEM 0,2% a 3,0% sobre o lucro líquido os sobre as despesas diretas e indiretas; dependendo do bem mineral aproveitado Mesma Participação do Superficiário 50% do valor da CFEM Mesma Taxa Anual por Hectare R$1,90/ha: alvará “inédito” R$2,87/ha: renovação de alvará Mesmo Fonte: Ministério das Minas e Energia (adaptado), 2009 e Valor tributário: < http://www.valortributario.com.br/>, 2015. 32 3.2. A Carga Tributária no Brasil O cálculo da carga tributária geral é feita por meio do simples cálculo percentual entre os tributos arrecadados e o PIB. Além da carga tributária brasileira ser elevada, seu valor percentual em relação ao PIB vem, historicamente, apresentando forte tendência ao crescimento. O gráfico a seguir mostra a evolução da carga tributária brasileira em sua série histórica. Sua simples observação ratifica a tendência percebida. Gráfico 3: Evolução da Carga Tributária Brasileira na série histórica compreendida entre os anos de 1986 e 2014. Fonte: Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), 2015. Outro fator extremamente relevante diz respeito à comparação da carga tributária brasileira com as aplicadas nos demais países. A carga tributária brasileira, além de elevada, é mais alta do que as praticadas em outros países. Esse fator, analisado em uma esfera macroeconômica, faz com que a competitividade da indústria mineradora brasileira seja 2 2 ,3 9 2 0 ,2 8 2 0 ,0 1 2 2 ,1 6 2 9 ,9 1 2 4 ,6 1 2 5 ,3 8 2 5 ,0 9 2 8 ,6 1 2 8 ,9 2 2 4 ,7 8 2 5 ,0 3 2 6 ,6 5 2 7 ,9 2 2 9 ,4 6 3 0 ,6 7 3 2 ,3 6 3 2 ,1 6 3 3 ,1 9 3 3 ,8 3 3 ,9 1 3 3 ,9 8 3 4 ,1 3 3 ,1 4 3 3 ,7 6 3 4 ,9 1 3 4 ,6 1 3 5 ,0 4 3 5 ,4 2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 1 9 8 6 1 9 8 7 1 9 8 8 1 9 8 9 1 9 9 0 1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 C ar ga T ri b u tá ri a/ P IB ( % ) Ano Evolução da Carga Tributária Brasileira 33 prejudicada, uma vez que essa é mais onerada que as demais, recebendo por isso contrapartidas não suficientes. 3.3. A Carga Tributária na Mineração O estudo e análise crítica a respeito da incidência de taxas tributárias na mineração é extremamente complicado. A dificuldade reside no fato de que os dados existentes, na maioria dos países do mundo, são relacionados a incidência agregada das taxas tributárias, tornando uma tarefa árdua a análise para setores específicos como a mineração. No intuito de pelo menos relativizar a influência da tributação no setor mineral, estudos comparativos são feitos. Desta forma, pode-se quantificar de maneira adequada os tributos incidentes na mineração. Um estudo utilizado constantemente como parâmetro comparativo da mineração brasileira com a do resto do mundo foi realizado pela consultoria ERNST&YOUNG (E&Y), em 2008. Além de tal estudo, o relatório anualmente produzido pelo Fraser Institute, denominado Fraser Institute Annual Survey of Mining Companies, também é considerado extremamente relevante. Os dois relatórios mencionados, por si só, mostram a dificuldade do estudo da tributação e sua influência na indústria mineral. A simples diferença na metodologia adotada pelas duas instituições gera dados considerados por muitos divergentes. O primeiro estudo (da E&Y), apresenta resultados que consideram a condição competitiva da mineração brasileira extremamente desfavorável. Já o relatório do Fraser Institute, mostra que, apesar da influência negativa das políticas públicas na mineração, o Brasil tem ainda um grande potencial a explorar. Com intuito de análise crítica, resultados gerados nos dois estudos são considerados neste texto. 3.3.1. ERNST&YOUNG O estudo da E&Y consiste em uma análise comparativa da carga tributária aplicada sobre empresas mineradoras em alguns países selecionados. Dada a complexidade da análise, alternativas metodológicas foram parametrizadas pela E&Y. O processo de avaliação consistiu em considerar uma empresa com receita totalmente oriunda da mineração como modelo. A 34 partir desse modelo de empresa, foram construídos cenários diversos, variando-se: as condições tributárias (país), o bem mineral, o faturamento da empresa, a margem de lucro esperada e a proporção entre as vendas internas e externas. Os dados apresentados consideram o cenário específico constituído de: Margem de lucro de 30%; Exportações condizentes com o nível observado no país; Faturamento simulado em concordância com cada bem mineral averiguado; Impostos ou encargos considerados: o CFEM + Participação do Superficiário (0,5CEFEM); o IVA – equivalente à ICMS + PIS + COFINS. Os resultados obtidos pelo estudo em questão mostram um cenário extremamente desfavorável para as empresas mineradoras com projetos no Brasil. O Brasil, segundo tal estudo, ocupa o indesejável pódio de países com as maiores cargas tributárias para a maioria dos bens considerados. Bem Mineral Carga Tributária Estimada (%) Posição Relativa Bauxita 35,14 2º Carvão Mineral 40,10 2º Caulim 15,35 2º Cobre 26,92 1º Fosfato 40,10 1º Potássio 41,60 1º Manganês 24,11 2º Minério de Ferro 19,70 3º Níquel 31,48 1 Ouro 17,89 2º Rochas Ornamentais 30,95 1º Zinco 40,10 1º 35 Ao comparar a média da tributação incidente nos países produtores dos bens minerais discriminados acima, mesmo os países sendo diferentes para cada bem, com a carga tributária brasileira para um mesmo bem mineral, percebemos uma grande diferença entre os valores. Em todos os bens analisados a carga tributária brasileira é maior, como mostrado no gráfico abaixo. Gráfico 4: Comparação entre a carga tributária brasileira e a média da cargatributária dos principais países produtores de bens minerais selecionados. Fonte: ERNST&YOUNG, 2008. O estudo considerado nessa seção, como já mencionado, estabelece um cenário extremamente desfavorável à mineração brasileira. A alta carga de impostos onera de forma excessiva a indústria mineral, o que influencia negativamente em sua competitividade. Apesar de parecer se enquadrar aos fatos realmente observados na indústria mineral brasileira o relatório da E&Y é bastante criticado em alguns estudos, principalmente os ligados a análises governamentais. As críticas baseiam-se, em suma, em contestar a metodologia 35,14 40,10 15,35 26,92 30,80 41,60 24,11 19,70 31,49 17,89 30,95 40,10 26,75 27,79 12,59 19,08 24,51 23,43 18,85 16,96 18,54 13,79 21,94 23,47 Bauxita Carvão Mineral Caulim Cobre Fosfato Potássio Manganês Minério de Ferro Níquel Ouro Rochas Ornam. Zinco Carga Tributária (%) B em M in er al Carga Tributária Brasileira e Mundial Média da Carga Tributária Mundial Carga Tributária no Brasil 36 utilizada na parametrização dos tributos considerados, além de discutirem a não consideração da dedução de ICMS, PIS, COFINS e CFEM na apuração do Imposto de Renda. Outro fato passível de ressalva, diz respeito à não consideração da possibilidade de repasse de alguns custos tributários indiretos para os consumidores de seus produtos. Mesmo com tais ressalvas o estudo da E&Y deve ser considerado em uma análise mais ampla. Seus resultados, analisados de uma forma crítica, exemplifica um dos fatores de maior desincentivo ao estabelecimento de empreendimentos mineiros. 3.3.2. Fraser Institute A metodologia de análise da Fraser Institute é completamente diferente. A instituição realiza anualmente uma pesquisa ampla junto às empresas de mineração atuantes em diversas partes do mundo, com o intuito de avaliar como as políticas governamentais e o potencial mineral afetam suas decisões. A pesquisas mais recentes, do ano de 2014, compilou as respostas de 485 empresas a respeito de suas “impressões” sobre os mercados nos quais atuam. Os “mercados” de atuação são separados por jurisdições, as quais podem ser um País, Estado ou Província. Os pesquisadores tentam quantificar a opinião dos executivos por meio de índices, os quais, além de dar um caráter quantitativo à subjetividade inerente da pesquisa, são uma forma de relativizar a competitividade de diferentes jurisdições. 3.3.2.1. Índice de Potencial Governamental Um dos índices importantes diz respeito aos efeitos causados na mineração pelas políticas governamentais. Esse índice é denominado Índice de Potencial da Política Governamental (Political Potential Index). No relatório atual (2014) o Brasil encontra-se ranqueado em 86º lugar. As políticas governamentais, haja vista a colocação brasileira, realmente parecem afetar negativamente a mineração. As imagens abaixo mostram duas nuances interessantes. Além da péssima colocação do Brasil no ranking geral, é notável seu mal desempenho em relação a seus concorrentes nos mercados de diversos bens minerais. 37 O valor do índice brasileiro é de 33,01; contrastando com valores bem superiores de, por exemplo, Peru, Chile, México, Uruguai, Estados Unidos, Canadá, África do Sul e muitos outros países mineradores. Gráfico 5: Colocação brasileira com relação ao índice de Potencial da Política Governamental. Fonte: Fraser Institute, 2014. 38 3.3.2.2. Índice do Potencial Mineral Atual Este índice tenta gerar informações sobre o quanto que o potencial mineral da jurisdição, mantendo-se as mesmas políticas públicas, influencia na predisposição ao investimento em empreendimentos minerais. A imagem abaixo apresenta o ranking geral obtido. Gráfico 6: Colocação do Brasil em relação ao Índice do Potencial Mineral Atual Fonte: Fraser Institute, 2014. 39 Mais uma vez observa-se uma posição desagradável para o Brasil. Tal situação indica que, pouco a pouco, o Brasil vem se tornando menos interessante para investimentos em mineração. 3.3.2.3. Espaço para Melhorias Apesar da negatividade nos índices abordados, há um parâmetro que permite se pensar em uma melhora futura. O Brasil apresenta um elevado espaço para melhorias. Esse parâmetro, por si só, não garante uma melhoria direta, uma vez que só existe espaço para melhorias naquilo que ainda não se encontra em um nível satisfatório. Porém, um sistema mais robusto, simples e condizente com o exigido no mundo da mineração é possível de ser atingido. 40 Gráfico 7: Representação do Espaço para Melhorias da mineração brasileira. Fonte: Fraser Institute, 2014. 41 4. PERSPECTIVAS DE MUDANÇA É de conhecimento comum a tramitação na esfera política brasileira do Projeto de Lei PL 5807-2013, o qual consiste em uma proposta para o Marco Regulatório da mineração brasileira. Neste Projeto de Lei encontram-se discussões diversas como: a criação do Conselho Nacional de Política Mineral (CNPM) e da Agência Nacional de Mineração (ANM), além de uma “adequação” estrutural da indústria mineral. Este PL traz em seu texto uma nova parametrização das alíquotas, taxas e encargos incidentes sobre a mineração. Infelizmente, tal nova ordem não altera a complicação tributária vigente, sendo as mudanças perceptíveis relacionadas com a alteração da CFEM. É importante salientar que a mudança relaciona-se tanto com a alíquota aplicada quanto com a base de cálculo da contribuição. A abordagem a respeito da CFEM é encontrada, principalmente, no CAPÍTULO VII do Projeto de Lei. Em seu art. 36, encontram-se descritas a alíquota a ser aplicada e a nova base de cálculo do encargo: “Art. 36. A alíquota da CFEM será de até quatro por cento e incidirá receita bruta da venda, deduzidos os tributos efetivamente pagos incidentes sobre a comercialização, nos termos do regulamento”. Em uma análise do artigo apresentado pode-se perceber a origem da mudança. Além da alíquota máxima aumentar, a base de cálculo sofreu um grande crescimento. A CFEM, caso o PL seja aprovado, será incidente sobre a receita bruta e não mais sobre o lucro líquido. Outro fato importante é a desvinculação das deduções aos custos, o que faz por aumentar ainda mais a base de cálculo. 42 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A indústria mineral tem notável importância para a economia de diversos países, dentre eles o Brasil. Esse importante ramo da atividade econômica é dotado de especificidades raramente encontradas em outro setor, sendo a incerteza inerente ao empreendimento mineiro uma delas. Dada os riscos de um projeto de mineração, os investidores e empresas necessitam de uma análise global de diversos aspectos quando da decisão pela continuidade ou não do empreendimento. Um dos fatores a ser analisado corresponde aos aspectos políticos do país em que se deseja empreender, sendo englobados nesses os aspectos tributários. Nesse sentido o Brasil perde em competitividade quando comparado a maioria dos demais países mineradores, uma vez que possui um sistema tributário arcaico, ultrapassado, de grande complexidade e com alíquotas numerosas e pesadas. Diversos são os estudos que apontam a alta e complexa carga tributária brasileira como um dos gargalos da produção mineral, colocando o Brasil em péssima posição competitiva. O Brasil é um país dotado de vasta riqueza mineral e apresenta um considerável potencial de crescimento na indústria da mineração. Contudo, verifica-se uma grande necessidade de mudançada estrutura tributária brasileira, de modo a incentivar investimentos futuros e viabilizar inúmeros empreendimentos, os quais poderão trazer riquezas e fomentar o desenvolvimento do setor mineral brasileiro. Uma ótima oportunidade de mudança surge com o advento do Marco Regulatório da Mineração, em 2013. Apesar disso, a oportunidade de mudança vem sendo perdida, haja vista que as mudanças verificadas no novo texto parecem abordar apenas um aumento na arrecadação, sem preocupar-se com as necessidades e especificidades dos empreendimentos minerais. 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brasil. Congresso Nacional. Projeto de Lei PL 5807-2013. Brasília, 2013. Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Diretoria de Procedimentos Arrecadatórios (DIPAR). Relatório de Gestão. Brasília, 2013. Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Disponível em: <https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/arrecadacao_cfem.aspx>. Acessado em: 28 nov. 2015, 15:40. ERNST&YOUNG. Práticas Tributárias Internacionais – Indústria de Mineração. Parceria: Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). Agosto, 2008. Fraser Institute. Annual Survey of Mining Companies. 2014. FISCONTEX. Disponível em: <http://www.fiscontex.com.br/legislacao/ICMS/aliquotainternaicms.htm>. Acesso em: 28 nov. 2015, 13:20. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Séries Históricas e Estatísticas. Disponível em: < http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/default.aspx>. Acesso em: 28 nov. 2015, 18:05. Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). Evolução da Carga Tributária Brasileira. Coordenação Gilberto Luiz do Amaral, João Eloi Olenike, Leticia Mary Fernandes do Amaral, Cristiano Lisboa Yasbek. Maio, 2015. Ministério das Minas e Energia (MME). Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral. Produto 03 – Aspectos Tributários da Mineração Brasileira. Relatório Técnico 07 – Cenário Evolutivo da Situação Tributária no Brasil e Análise Comparativa com Países Mineradores Selecionados. J. Mendo Consultoria. Consultor Eliezer Braz. Brasília, Junho, 2009. Valor Tributário. Disponível em: < http://www.valortributario.com.br/>. Acesso em: 28 nov. 2015, 17:34.
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