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JULIANE SOUZA DE LIMA
 
 
Dedico este trabalho a Deus, por me permitir estar fazendo tudo o que faço. A minha família por me ajudarem durante toda a minha vida, e me apoiado nas minhas escolhas mais importantes.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me permitiu chegar até aqui. 
A minha família pela força, amor e dedicação.
As minhas amigas Flávia Pessoa e Rita, pelo incentivo, e companheirismo.
LIMA, Julianne Souza de. A atuação do assistente social na aplicabilidade da lei Maria da Penha. UNOPAR, Garanhuns-PE, 40 f., 2015.
RESUMO
Esse trabalho se propõe a expor e analisar a incidência da violência contra a mulher no estado de Pernambuco, colocando o foco no agir profissional do Assistente Social. Foi realizada uma análise sobre a Lei Maria da Penha e suas inovações, complementada por uma posterior problematização no enfrentamento da grave problemática da violência contra a mulher no país. Entretanto, a incidência desse tipo de violência sofreu poucas alterações. Buscamos nos apontamentos entender a violência doméstica em Pernambuco, seus aspectos históricos e culturais da violência. É necessário considerar a relevância de tal análise no sentido de compreender a implantação de formas complementares de prevenção e solução de conflitos que envolvem a violência de gênero. Neste processo de empoderamento o assistente social pode participar como mediador ou propulsor, no sentido de poder mostrar os caminhos institucionais pertinentes e atuar na proposição, elaboração e execução de políticas públicas que venham ao encontro das reivindicações destas mulheres.
Palavra Chave: Violência, Violência doméstica, Atuação do assistente social, Aplicabilidade da Lei.
LIMA, Julianne Souza de. A atuação do assistente social na aplicabilidade da lei Maria da Penha. UNOPAR, Garanhuns-PE, 40 f., 2015.
ABSTRACT
This work proposes to expose and analyze the incidence of violence against the women in the state of Pernambuco, focusing on the professional acting of the Social Worker. An analysis about the Maria da Penha’s law and its innovations was accomplished, complemented by a further problematisation in coping with the serious problems of violence against the women in the country. However, the incidence of this kind of violence underwent little change. We seek to understand the domestic violence in Pernambuco and its historical and cultural aspects. It’s necessary to consider the relevance of this analysis in order to understand the implementation of complementary forms of prevention and solution of conflicts involving gender violence. On this empowerment process, the social worker can participate as mediator or propellant, for the purpose of showing the pertinent institutional ways and act in proposing, drafting and execution of public policies that meet the demands of these women.
Key-Words: violence, domestic violence, action of the social worker, law’s applicability
SUMÁRIO
1 	INTRODUÇÃO	08
2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA VIOLÊNCIA – VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER COMO ESTIGMA CULTURALMENTE CONSTITUÍDO............................................11
3 APONTAMENTOS SOBRE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM PERNAMBUCO E A CONSTRUÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA.........................................................19
4 DESAFIOS PARA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CONTEXTO DE PERNAMBUCO........................................................................32
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................41
REFERÊNCIAS..........................................................................................................44
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INTRODUÇÃO
Esse trabalho propõe-se a expor e analisar a incidência da violência contra a mulher no estado de Pernambuco, colocando o foco na atuação profissional do Assistente Social. Foi realizada uma análise sobre a Lei Maria da Penha, referente ao enfrentamento da grave problemática da violência contra a mulher. 
Podemos buscar na história que apesar das mulheres chegarem ao século XXI com a liberdade de ter sua independência ela ainda está submissa ao poder patriarcal, carregando o peso da herança cultural.
 Diante desta realidade vimos nos apontamentos a violência doméstica em Pernambuco. Considerando a necessidade e a relevância de tal análise no sentido de compreender a implantação de formas complementares de prevenção e solução de conflitos que envolvem a violência de gênero, uma vez que desperta o interesse jurídico em discutir o tema, a partir da existência de legislações em vigor que dispõem sobre a não discriminação e a violência contra as mulheres com propósitos de proteção e prevenção. Violência doméstica pode acontecer com qualquer pessoa, mesmo assim quase sempre esse problema é negligenciado, desculpado ou negado pelo agressor. Neste ínterim, a violência, nas suas mais diversas formas, é utilizada como um mecanismo para demonstrar o poder do homem sobre a mulher de forma que os valores masculinos se sobrepusessem aos femininos, afetando diretamente à dignidade e à cidadania da mesma. 
A violência contra as mulheres tem conotação de gênero, uma vez que este termo é utilizado para denominar as relações construídas culturalmente entre homens e mulheres. Dessa forma, a representação de gênero, como toda identidade cultural é construída por meio de simbologismos, signos e representações sociais. Há séculos os homens estão apreendendo e internalizando essa construção cultural, e em função desse fato, cometem violência doméstica contra as mulheres nos espaços privados como “detentores” do comando da família, usam da força física como forma absoluta de resolver conflitos domésticos. 
Essa realidade secular posta no contexto mundial e brasileiro se perpetua mediante séculos de privilégios adquiridos pelos homens com a construção de um “status quo”, que eleva o homem a chefe de família. Segundo Saffioti (1995) “a violência de gênero é estrutural, mulheres são vitimizadas pela violência masculina, e as regras sociais imputadas nas sociedades corroboram com esse fenômeno.” As visões e posicionamentos de subalternidade culturalmente construídos ao longo dos anos pela sociedade machista fomentam a violência doméstica contra a mulher, uma vez que, a subordinação impõe a aceitação desse fenômeno por parte da maioria das mulheres vitimizadas, que acabam por interiorizar essa condição sob peso da resignação construída culturalmente.
O estigma da dominação masculina perpetrado durante milênios pelos mais diversos mecanismos de ideologização significa, romper com o silêncio e com o ciclo da violência doméstica, praticada pelo homem contra a mulher e tornar-se agente de transformação da própria vida exercendo plenamente a sua cidadania. 
Partindo desse pressuposto temos como objetivo geral Analisar a atuação do Assistente Social na aplicabilidade da lei Maria da Penha avaliar o papel deste profissional neste processo de empoderamento e de que forma ele pode participar como mediador ou propulsor, no sentido de poder mostrar os caminhos institucionais pertinentes e atuar na proposição, elaboração e execução de políticas públicas que venham ao encontro das reivindicações destas mulheres, tornando-as protagonistas dessas mudanças. Os objetivos específicos são: Identificar os aspectos históricos da violência: violência contra a mulher como estigma culturalmente construído; Apontar sobre a violência doméstica em Pernambuco e a construção da lei Maria da Penha; e Relatar a atuação do assistente social diante da problemática da violência contra a mulher em Pernambuco. 
O profissional do Serviço Social possa atuar e intervir junto àsdemandas apresentadas, dispõe de um conjunto de instrumentais, mas para escolher corretamente qual instrumental irá auxiliá-lo para a intervenção, o assistente social deve articular sua escolha entre às dimensões teóricas e ético política. Isso se faz necessário, devido o cotidiano profissional ser um espaço que impõe limites, oportunidades e desafios ao profissional, fazendo com que a reflexão, a investigação e a criticidade sejam alguns dos principais elementos utilizados para articular essas dimensões. Segundo Lisboa e Pinheiro (2005), “os instrumentais técnicos operativos que são utilizados na atuação profissional do assistente social no atendimento às vítimas de violência doméstica são: entrevista, visita domiciliar, reuniões em grupo, equipe multiprofissional, documentação, relatórios, parecer social, planejamento de programas, projetos, construção de indicadores, pesquisa, articulação em rede.” Outros instrumentais que exigem a ética profissional por parte dos assistentes sociais são: documentação e a elaboração de relatórios, onde se pontuam as situações de risco e vulnerabilidade como as mulheres e seus filhos se encontram. Ressaltando que a ética é um instrumento de compromisso profissional e pessoal do Assistente Social. 
 Por ser um problema social, antigo, grave, delicado e perverso, essa intervenção exige do profissional uma orientação ética que eleja: a democracia, a defesa das minorias, a luta por uma igualdade na orientação dos sexos, o respeito pelas mulheres, a explicitação da questão de gênero etc. É necessário ao profissional assistente social, que atua no combate à violência contra a mulher, descobrir alternativas e possibilidades para uma atuação que enfrente todos os desafios postos a essa área, decifrando as situações apresentadas, capacitando-se para o trabalho com as mulheres, trabalhado para a transformação no modo das condições de vida, na cultura de subalternidade imposta às mulheres, participando das discussões sobre a questão da violência contra a mulher, organizando eventos na área, militando nos conselhos, objetivando que o governo priorize as políticas públicas de combate à violência domestica.
2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA VIOLÊNCIA – VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER COMO ESTIGMA CULTURALMENTE CONSTITUÍDO
A violência contra as mulheres tem conotação de gênero, uma vez que este termo é utilizado para denominar as relações construídas culturalmente entre homens e mulheres. Segundo Scott (1995), esta interpretação limita ou aprisiona o conceito de gênero aos papéis domésticos que são construídos na historia familiar. Vive-se em um mundo violento, imerso em uma cultura de banalização da violência, a qual ao longo dos tempos é praticada diariamente, contra a mulher.
Compreender a difícil tarefa pretendida pela Lei n. 11.340/2006, denominada Lei Maria da Penha, significa observar que o mundo manteve, secularmente, a legitimidade da violência de gênero, tornando esta, portanto, institucionalizada, com enfoques estigmatizados da cultura e da religião, impondo à mulher, consequentemente, uma vida de subjugação (Campos 2010, p. 37).
Nessa perspectiva, a violência de gênero é passada de geração para geração, configurando modelos patriarcais de família, onde o homem detém o poder sobre a mulher, dominando-a e oprimindo-a. Dessa forma, vem permanecendo e se perpetuando nas relações, pois conforme destaca Rocha (2010, p. 5): ​"Nessa sociedade o que não vem descartável é a violência. Porque a marca dela não se retira com a facilidade com que ela entra".
A violência contra a mulher decorre de um processo histórico relacionado ao gênero, portanto não se pode falar sobre a questão sem abordar esse aspecto, uma vez que estão diretamente ligados. Conforme Saffioti (2001, p. 129): "O termo gênero indica rejeição ao determinismo biológico suposto no uso de palavras como sexo e evidencia que os papéis desempenhados por homens e mulheres são uma construção social".
Ainda para a mesma autora existe um conceito de gênero que trata de uma modelagem social estatisticamente, porém não necessariamente referida ao sexo, sendo este o único consenso que existe sobre a questão do gênero. Na construção social do feminino e do masculino atribuiu-se diferentes escalas de poder para o homem e para a mulher, sendo que o masculino ocupou um lugar privilegiado e de destacado poder, em detrimento da desvalorização e subalternidade feminina.
 	Nesse sentido, o gênero vai além do componente biológico, uma vez que a relação de homem e mulher precisa ser desvelada para além da diferença anatômica e fisiológica, mas fundamentalmente, como desigualdade, a qual é produzida e reproduzida de diferentes formas, garantindo o poder do homem sobre a mulher. Isso fica evidenciado também nas formas de opressão e de violência do homem contra a mulher. 
Segundo Saffioti (1995) a violência de gênero é estrutural; mulheres são vitimadas pela violência masculina e as regras sociais imputadas nas sociedades colaboram com esse fenômeno. A família se constitui numa das instituições mais autoritárias para algumas mulheres e crianças, o que acontece dentro dos lares, esconde os horrores típicos da violência doméstica e em torno da família se ergue um muro de silêncio difícil de ser rompido, o que impede a explicitação da violência e a ocorrência das denúncias. E a consolidação da família como estrutura da sociedade impenetrável constitui a esfera privada como um lugar culturalmente propício para que as relações violentas constituam-se em rotina. 
“Com efeito, o lar constitui um lugar extremamente violento para mulheres e crianças de ambos os sexos, especialmente as meninas. Desta sorte, as quatro paredes de uma casa guardam os segredos de humilhações e atos libidinosos/estupros, graças à posição subalterna da mulher, da criança face ao homem e de ampla legitimação social da supremacia masculina” (SAFFIOTI, 1995, p.33).
Sendo que, cada vez mais presente, a violência vem se generalizando no meio social. Especificamente sobre a violência doméstica os dados não são diferentes. Entretanto, nos estudos que abordam este tema, não existem estatísticas sistemáticas e oficiais que deem visibilidade à dimensão dessa realidade envolvendo mulheres vítimas.
A violência doméstica é silenciosa, não porque o chicote não tenha feito barulho, mas porque o choro delas foi embargado. Porque elas, por medo ou por vergonha, continuam a não revelar tudo que se passa, e isso não é só em uma classe social. A violência está presente em todas as classes sociais. Dessa maneira, o silêncio que decorre do aprisionamento das vítimas entre as quatro paredes da relação "doméstica" pode ser um dos responsáveis pela gravidade de muitos crimes contra a mulher, uma vez que ela sabe que a sociedade brasileira se acostumou e aprendeu a reproduzir e cumprir fielmente frases como: "Em briga de marido e mulher, não se mete a colher", ou ainda pior: "Se a mulher apanha é porque gosta". Nesse sentido, quando a violência é presenciada ou levada ao conhecimento de alguém, ocorre a cumplicidade com o agressor e a omissão perante a mulher.
 "Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher. Frequentemente, não só os familiares e pessoas de relações da mulher não querem meter a colher, como também os próprios agentes da lei" (SILVA, 1992, p. 67). 
Parece que a violência se tornou um hábito, parte do cotidiano e, como tal, banal, repetitiva. Coisa de pobre para alguns, coisa de bandidos e de traficantes para outros. Embora banalizada e naturalizada, a violência vem alimentando a cultura do medo, levando as pessoas, sutilmente, a tecerem novas formas de relações sociais e novos padrões éticos.
O medo é um fator constante entre as mulheres que vivem com a violência doméstica, e o componente que impede a formação de uma identidade social emancipatória. Constitui-se rotina que a violência contribua para que a mulher não consiga se perceber como ser social possuidor de direitos. O medo colabora para aniquilarsua capacidade crítica, e fazer com que a mulher entenda sua condição de vítima, de isolamento social. Ao contrário da percepção, o medo cria na mulher a baixo autoestima, a vergonha e o não auto respeito, deixando graves sequelas, não somente no corpo, mas principalmente na alma das mulheres. Essa submissão, apontada pela autora e exigida pelos homens em relação às mulheres, foi responsável pela perpetuação desse fenômeno que ocasionou a inibição e a demora por parte das mulheres em expor esse grave problema social que as aflige. O esforço, no sentido de combater esse crime, ocorre quando a luta pela erradicação a violência no final dos anos 70 iniciou a luta dos movimentos feministas. Dessa forma a militância passa a tornar público o debate sobre esse fenômeno. 
No Brasil, as respostas são provenientes da atuação do movimento feminista. Essa categoria conseguiu chamar atenção das autoridades para este problema, fazendo surgir as primeiras políticas públicas em combate à violência contra a mulher. As primeiras conquistas foram instituídas, sobretudo, nas áreas ligadas à segurança e justiça. Até a década de 80 as políticas públicas de combate à violência contra mulher eram praticamente inexistentes. 
A ausência da perspectiva de gênero no direito é responsável pelo encobrimento da violência doméstica contra mulheres (violência conjugal) como uma violação dos direitos humanos, com a consequente negação, por parte dos operadores do direito, dos respectivos tratados internacionais (CAMPOS, 2007, p.137). 
A afirmação esclarece que a área do direito demorou a entender a violência doméstica como uma violência contra o gênero feminino, e como fruto da construção de uma sociedade machista.
A primeira providência do poder público, relacionada ao combate da violência doméstica foi a criação de delegacias especializadas. As Delegacias de Polícia Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM) foram instituídas como fruto das conquistas da luta feminista em defesa das mulheres. A primeira Delegacia de Polícia Especializada de Atendimento à Mulher foi criada em São Paulo, em agosto de 1995, sob pressão do movimento de mulheres e do Conselho Estadual da Condição Feminina.
 Conforme Saffioti (1995), a partir dessa primeira, imediatamente foram criadas mais 152, mais da metade delas no Estado de São Paulo e as outras principalmente em capitais de outros Estados. Nesse contexto, segundo Diálogos Sobre Violência de Gênero (2003), foi muito positivo o impacto causado pela implantação das delegacias na viabilização do combate à violência doméstica e no aumento das denúncias, mas as delegacias também têm seus limites: se operadas de forma isolada e sem qualificação de seus integrantes para o atendimento especializado dispensado à mulher vítima, levam a um atendimento que provoca a rota crítica - exposição da vítima, novas agressões, isolamento social, constante deslocamento, visando fuga do agressor, provocados pela debilidade no sistema de proteção. Ainda hoje a maioria das delegacias de polícia não tem em seu quadro funcional um profissional do Serviço Social. 
A lei brasileira demorou muito a privilegiar o combate à violência doméstica, a condição de dominação do homem sempre esteve amparada legalmente por meio de leis e códigos civis como, por exemplo, o Código Civil de 1916, que pode ser considerado a verdadeira expressão dos costumes e padrões morais patriarcais. Na legislação do Código Civil de 1916, o poder era exercido somente pelo pai, que tinha direitos absolutos sobre toda a família. Esse código vigorou até 10 de janeiro de 2002, o que contabiliza 86 anos de leis que vigoraram e alicerçaram a superioridade masculina de forma legalmente reconhecida no país. 
A lei não previa prisão ao agressor, mas penas alternativas como o pagamento de cestas básicas e serviços comunitários. Essas medidas tomadas pelo poder judiciário banalizavam a questão da violência e contribuíam para agravar e perpetuar as agressões. Após vários anos de luta por justiça veio a Lei Maria da Penha - como ficou conhecida a Lei nº 11.340 /2006 - recebeu este nome em homenagem à cearense Maria da Penha Maia Fernandes. Foi a história desta Maria que mudou as leis de proteção às mulheres em todo o país. A biofarmacêutica foi agredida pelo marido durante seis anos. Em 1983, ele tentou assassiná-la duas vezes: na primeira, com um tiro, quando ela ficou paraplégica; e na segunda, por eletrocussão e afogamento. Somente depois de ficar presa à cadeira de rodas, ela foi lutar por seus direitos. Então lutou por 19 anos e meio até que o país tivesse uma lei que protegesse as mulheres contra as agressões domésticas. 
Em 7 de agosto de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Penha, criada com o objetivo de punir com mais rigor os agressores contra a mulher no âmbito doméstico e familiar. Hoje, Maria da Penha é símbolo nacional da luta das mulheres contra a opressão e a violência. A lei alterou o Código Penal no sentido de permitir que os agressores sejam presos em flagrante ou tenham a prisão preventiva decretada. Antes disso, mulheres vítimas desse tipo de violência deixavam de prestar queixa contra os companheiros porque sabiam que a punição seria leve, como o pagamento de cestas básicas. A pena, que antes era de no máximo um ano, passou para três. Contudo, o propósito da legislação não é prender homens, mas proteger mulheres e filhos das agressões domésticas. Entre as medidas protetivas à mulher estão: proibição de determinadas condutas, suspensão ou restrição do porte de armas, restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, pedidos de afastamento do lar, prisão do agressor. 
Em 27 de novembro de 2005, o Brasil assumiu perante a comunidade Internacional o compromisso de implantar e cumprir os dispositivos desses tratados. A lei Maria da Penha, Lei nº 11. 340, de 7 de agosto de 2006, foi aprovada após muitas lutas do movimento feminista. Podemos pontuar que ao movimento feminista a própria Maria da Penha se encarregou de apresentar a denúncia à Comissão Internacional de Direitos Humanos e assim procedeu juntamente com o Centro pela Justiça e o Direito Internacional – CEJIL, entidade não governamental existente no Brasil desde 1994 que tem por objetivo a defesa e promoção dos direitos humanos junto aos estados membros da OEA, bem como ainda pelo Comitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher – CLADEM, entidade que possui sede no Brasil no Estado do Rio Grande do Sul, constituído por um grupo de mulheres empenhadas na defesa dos direitos da mulher da América Latina e do Caribe. Em virtude desses fatos a Comissão Interamericana de Direitos Humanos publicou, em 16 de abril de 2001, o relatório 54/2001. Esse relatório trata de um documento de grande importância para o entendimento da violência contra a mulher no Brasil, e serve de base para a promoção das discussões acerca do tema, haja vista a grande repercussão do referido relatório, inclusive, internacionalmente, o que provocou grandes debates que culminaram, cerca de cinco anos após, com o advento da Lei nº. 11.340/06, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha. 
No mencionado relatório são apontadas as falhas cometidas pelo Estado brasileiro no caso de Maria da Penha Maia Fernandes, pois na Convenção Americana (ratificada pelo Brasil em 25 de setembro de 1992) e Convenção de Belém do Pará, foi creditado o mérito por insistentemente lutar por vitória na busca por responsabilizar agressores de mulheres, e alardear que a violência contra a mulher nunca ganhou expressividade e foi realmente considerada pelos poderes públicos brasileiros. Essa lei leva o nome de uma mulher vítima de três tentativas de morte por parte do marido, sendo que uma das tentativas a deixou paralítica pelo resto da vida. A Lei Maria da Penha cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras providências.
Estudos apontam que, no primeiro ano de vigência efetiva da Lei Maria da Penha, 2007, as taxas experimentamum leve decréscimo, voltando imediatamente a crescer de forma rápida até o ano 2010, igualando o máximo patamar já observado no país: o de 1996. Indica-se que as políticas ainda são insuficientes para reverter a situação. O Estado de Pernambuco apresenta uma taxa de 5,5 homicídios em cada 100 mil mulheres, ocupando o 10º lugar entre os Estados da Federação. Somente no ano de 2010 foram assassinadas 251 mulheres. Com a criação das varas especializadas no processamento e julgamento dos crimes contra as mulheres figura entre as recomendações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) visando à implementação integral da Lei 11.340/2006. Os Estados vêm recebendo incentivos financeiros disponibilizados pelo Ministério da Justiça, através do PRONASCI – Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania – para a criação das varas. Cabe ressaltar que a implantação das novas Varas foi resultado do compromisso firmado pelo então Presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Des. Jovaldo Nunes Gomes, com a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre violência doméstica no Brasil, que realizou em abril de 2012, audiência pública em Recife.
 Em relatório posterior, a CPMI mapeou a necessidade de criação de varas especializadas nos municípios pernambucanos os quais foram incluídos, no Mapa da Violência (2012), entre os cem mais violentos do país, dentre os quais, os municípios de Abreu e Lima, Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho e Paulista. Vale dizer que nas demais comarcas do interior pernambucano, a Lei Maria da Penha também é aplicada através de uma malha de varas criminais cuja estrutura e atribuição foram adaptadas para acumular o julgamento de feitos da Lei 11.340/2006, possibilidade que está contemplada no artigo 33 da Lei, como alternativa para assegurar que as mulheres tenham acesso à justiça enquanto as Varas Especializadas não são criadas. As varas de violência doméstica e familiar contra a mulher possuem competência para processar e julgar medidas protetivas de urgência, os processos de conhecimento e os processos de execução. No Estado de Pernambuco existe apenas 1 (um) juiz por vara, com exceção das duas Varas Especializadas da Comarca do Recife, as quais dispõem de 1 (uma) juíza titular e 1 (uma) auxiliar. Esta medida segue a recomendação do CNJ, prevista no Manual de Rotinas e Estruturação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (CNJ, 2010), para que as unidades onde tramitem de cinco a dez mil processos disponham de dois juízes. A Instrução Normativa nº 06, de 11/09/2012, dentre outras coisas, estabelece diretrizes para lotação de servidores no âmbito do Poder Judiciário do Estado de Pernambuco.
 	A existência de quadro insuficiente para abarcar a demanda das varas especializadas não é realidade apenas no judiciário. O Ministério Público de Pernambuco/MPPE e a Defensoria Pública do Estado, tal como pode ser mapeado, também não disponibilizam de profissionais suficientes. Recentemente foi noticiado pelo Jornal do Senado que em todo o país o quadro de defensores está defasado. Em Pernambuco existem 300 cargos para abarcar os 185 municípios, sendo que apenas 270 destes estão ocupados. A despeito dos avanços obtidos, principalmente em se tratando da ampliação da rede de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher, ainda persistem alguns entraves decorrentes mesmo de um ranço patriarcal, o qual transpassa não só as relações entre as pessoas, mas também, de modo geral, as instituições – basta consultar o Relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência contra a Mulher/CPMIVCM para perceber as lacunas ainda existentes. Em Pernambuco, mais especificamente no Poder Judiciário, mesmo considerando a progressão da cobertura, a realidade ainda não é a “ideal”, visto que as unidades ainda demandam melhor infraestrutura física e maior quantitativo de recursos humanos que de fato supram as necessidades de atendimento às demandas da população usuária. A falta de juízes titulares nessas varas especializadas também se converte num entrave porquanto é incompatível com a celeridade dos processos. Entretanto, recentemente o Judiciário vem buscando sanar este problema com a abertura de editais para a titularização de juízes em todas as Varas das comarcas do interior.
Diante desse quadro, não obstante os avanços proporcionados pela Lei e pela criação das Varas, o maior desafio a ser superado pelo Sistema de Justiça de Pernambuco diz respeito tanto a mudanças quantitativas, quanto a mudanças qualitativas, seja no melhor aparelhamento dos serviços e ampliação do quadro de servidores, seja na criação de uma cultura institucional que priorize o combate à violência doméstica no estado.
	
3 APONTAMENTOS SOBRE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM PERNAMBUCO E A CONSTRUÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA
 
A Lei n° 11.340/2006, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha, foi inserida no ordenamento jurídico brasileiro em 07 de agosto de 2006, em consonância com o §8°, art. 226 da Constituição Federal, visando coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Fato Social de extrema relevância, tendo em vista que no Brasil parcela significativa da população feminina está exposta aos maus tratos físicos, morais e psicológicos, ocorridos, principalmente, no seio familiar. Os estudiosos da área entendem que este comportamento é decorrente de uma cultura patriarcal e machista que, infelizmente, não atinge somente as mulheres, mas repercute também nos demais membros da família, causando a desestabilidade do núcleo familiar.
A violência doméstica e familiar é uma questão que transcende o âmbito do direito privado, diz respeito ao interesse público, visto que se trata de um direito fundamental. Fere o princípio da dignidade humana, previsto no inciso III, do artigo 1° da Constituição Federal, bem como o inciso III, do artigo 5°, o qual afirma que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. Neste sentido a jurisprudência tem se sedimentado:
EMENTA: LEI MARIA DA PENHA. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA. AFASTAMENTO DO AGRESSOR DO LOCAL DE TRABALHO DA VÍTIMA. 
Em boa hora, a Lei 11.340/2006, chamada de Lei Maria da Penha, inseriu no ordenamento jurídico brasileiro um rol de medidas visando resgatar a cidadania feminina e assegurar à mulher o direito a uma vida sem violência. A partir de agora as agressões sofridas pelas mulheres sejam de caráter físico, psicológico, sexual, patrimonial e inclusive moral, passam a ter tratamento diferenciado pelo Estado. Dentro das medidas protetivas de urgência elencadas pela lei, o juiz possui a faculdade de fixar, inclusive em metros, a distância a ser mantida pelo agressor não apenas da residência, mas também dos locais de convivência da vítima, entre eles, de seu local de trabalho. A liberdade de locomoção encontra limite no direito do outro de preservação da vida e da integridade física. Assim, se mostra imperioso assegurar a integridade física e psíquica da recorrente, determinando que o agressor mantenha-se afastado a pelo menos 100 metros do local de trabalho da agravante. Aplicabilidade do art. 22, III, “a” da Lei 11.340/2006. Agravo parcialmente conhecido e provido. (SEGREDO DE JUSTIÇA) (Agravo de Instrumento Nº 70018581652, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Maria Berenice Dias, Julgado em 25/04/2007).
Como se depreende do acórdão em comento, cuja base legal está assentada na citada Lei Maria da Penha, tem por finalidade precípua assegurar a dignidade da vítima mulher, o juiz fixou limites a liberdade de locomoção do agressor, o qual deve manter-se a pelo menos 100 metros do local de trabalho da vítima de violência doméstica. Com isso, o judiciário pretende assegurar, inclusive, a fonte de sustento desta trabalhadora.
Haverá casos, no entanto, que os limites à locomoção do agressor não se mostrará suficiente, sendo necessária uma ordem de judicial de afastamento do local de trabalho da própria vítima. Este poder atribuído aojudiciário é matéria pouco enfrentada pela doutrina e pela própria jurisprudência e a lei não definiu questões fundamentais como, por exemplo, a natureza jurídica do afastamento, se neste período será garantido ao empregado estabilidade no emprego e, ainda, a competência para determinar o afastamento, temas que serão objeto de análise deste estudo.
De forma geral a Lei Maria da Penha, fruto do trabalho conjunto do Governo e entidades representativas traz inovações no combate à violência contra o sexo feminino, prevendo a criação de Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Integração entre Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e as áreas de segurança e assistência. Esses novos procedimentos auxiliarão o trabalho das Delegacias de Defesa da mulher, que vêm sendo instauradas no Brasil desde 1985. Ao marido agressor prevê detenção de três meses a três anos, encaminhamento a programas de recuperação, possibilidade de ter a prisão preventiva decretada a qualquer momento, viabilidade de ser afastado do lar e, ainda, vedada a permuta da condenação por cesta básica ou multa. E, à ofendida, atendimento em programas assistenciais, possibilidade de se afastar do trabalho por até seis meses, sem perda do vínculo, proteção policial ou garantia de ser abrigada em local seguro, assistência judiciária gratuita, suspensão da procuração conferida ao agressor, e também, caracterização da violência psicológica como crime, assim como a violência patrimonial.
De acordo com o artigo 3°, do referido regramento legal, é afirmado, à mulher que sofre tais abusos, condições para o exercício efetivo do direito à vida, cidadania, segurança, entre outros e o acesso à justiça e ao trabalho. Dessa forma, observa-se que o legislador não se limitou apenas às esferas do direito penal e civil, repercutindo, também, na seara jus laboral. Verifica-se que a lei, além de delegar ao juiz o poder de determinar o afastamento do perpetrador do próprio lar, e dos locais de convivência da vítima, conforme a ementa apresentada, também traz outras regras inerentes ao direito do trabalho.
No que tange a garantia de cunho trabalhista, objeto deste estudo, a qual está assentada no inciso II, §2°, art. 9° da Lei Maria da Penha. Conforme sua redação: “§2° o juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar a integridade física e psicológica: II – a manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho por até seis meses”.
Assim, uma vez constatada a situação de iminente risco, também é facultado ao magistrado, a possibilidade de conceder a medida de caráter protetivo à vítima, pois esta pode trabalhar no mesmo local do agressor, ou por ter que se distanciar do próprio lar, ficando impossibilitada de comparecer ao serviço.
Entretanto, insta ressaltar que a medida protetiva não é passível de aplicação imediata, devido à omissão do legislador acerca dos reflexos no âmbito jus laboral, restando necessária a análise de cada um dos institutos que estão relacionados à prerrogativa, e uma maior atenção as autoridades competentes, a fim de que se possa executá-la de fato. Conforme os ensinamentos de Ronaldo Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto: “A discussão não é de cunho acadêmico nem encerra mero interesse bizantino, tendo evidente reflexo prático”.
Primeiramente, destaca-se que o legislador, ao dispor esta garantia à trabalhadora, não definiu qual a natureza jurídica do afastamento. Uma vez que no Brasil, existem dois institutos relativos ao afastamento do trabalho. Há distinção entre suspensão e interrupção no contrato de trabalho. Como se observa no Capítulo IV, do Título IV da CLT, o artigo 471 denomina “Da suspensão e da interrupção”. Salienta-se que o que há é a suspensão ou interrupção não do contrato, mas sim, da prestação de serviços por parte do empregado. Sergio Pinto Martins afirma que, “[…] não há suspensão do contrato de trabalho, mas do trabalho, da execução, do pacto ou de seus efeitos”.
No vínculo empregatício, há dois efeitos que se projetam, ininterruptamente em uma permuta efetiva e contínua de obrigações, de um lado, a prestação de serviço pactuada, e de outro, a remuneração pelo trabalho realizado. Na suspensão dos efeitos do pacto laboral ocorre a inexigibilidade recíproca das cláusulas pactuadas, ou seja, de um lado, a empregada não presta serviços e de outro, não incide ao empregador o ônus da prestação pecuniária durante este período. Segundo Sergio Pinto Martins: “A suspensão é a cessação temporária e total da execução e dos efeitos do contrato de trabalho […]”. De outra banda, na interrupção haverá obrigação unilateral, pois embora ocorra a inércia transitória da empregada, o empregador deverá realizar o pagamento de salários. Diante deste instituto o autor afirma que: “Haverá interrupção do quando o empregado for remunerado normalmente, embora não preste serviço, contando-se também seu tempo de serviço, mostrando a existência de uma cessação provisória e parcial dos efeitos do contrato de trabalho”.
Amauri Mascaro do Nascimento define que “[…] suspensão do contrato de trabalho é a paralisação temporária dos seus principais efeitos, e interrupção do contrato de trabalho e a paralisação durante a qual a empresa paga salários e conta o tempo de serviço”.
Para tanto nas duas hipóteses o contrato é mantido. Apenas o exercício da atividade laboral é paralisado temporariamente, sem prejuízo do direito ao emprego. As obrigações acessórias perduram e, se violadas, podem acarretar a resolução contratual, incidindo culpa da parte. Ambas caracterizam-se pela preservação do vínculo trabalhista durante a sustação transitória da mão-de-obra, em decorrência de um fato juridicamente relevante. Neste caso, é inviabilizada a extinção contratual, sendo vedada a dispensa sem justa causa do empregado.
Há autores que entendem tratar-se de interrupção do contrato de trabalho. Todavia, diante desta hipótese, há um prejuízo para o empregador, tendo em vista que o mesmo permanecerá obrigado a pagar salários à empregada, sem que possa contar com a sua contraprestação. Ou seja, terá de pagar duas vezes, uma, em prol da funcionária afastada, e outra, em favor daquela que a substituiu. Importante salientar, que o empregador não concorreu para o afastamento da trabalhadora.
No entanto, a posição majoritária da doutrina e a que se presume ser a mais adequada, entende caracterizar-se suspensão. Vez que não será devido ao empregador o custeio do período de ausência da empregada, pois na lei não é mencionado tal ônus para o empregador e, ainda, este não concorreu para o afastamento. O distanciamento assegurado pela Lei 11.340/2006 ocorre independente da vontade da empregada e do empregador, pois configura um motivo de força maior, conforme dispõe o art. 501 da CLT. A medida é cedida por razões de segurança, na qual a vítima encontra-se impossibilitada de comparecer ao trabalho, em virtude da violência doméstica e familiar.
No entendimento de Sergio Pinto Martins: “Entendo que os fins sociais da lei mostram a necessidade do afastamento da empregada por seis meses do trabalho, mas não o pagamento de salários… O inciso II do § 2º do art. 9º da Lei não faz referência ao pagamento de salários, ao contrário do art. 473 da CLT.” Ainda, acerca do tema o doutrinador, ensina que: “Não há também disposições na Lei nº 11.340 a respeito da contagem de tempo de serviço para fins de férias, pagamento de 13º salário, incidência do FGTS e da contribuição previdenciária… Se não existe previsão na lei a respeito de pagamento de salário da empregada afastada por seis meses em razão de violência doméstica, não há obrigação do empregador de pagá-lo… Trata-se de hipótese de licença não remunerada. Se não há obrigação de pagar salários, é período de suspensão dos efeitos do contrato de trabalho”. 
Na mesma linha de raciocínio Rogério Sanches Padilha e Ronaldo Batista Pinto adotam o posicionamento de que: “A solução que nos parece mais adequada seriade suspensão do contrato de trabalho, no qual a mulher teria mantido o seu vínculo empregatício, não recebendo, porém, salário do empregador, mas sim do órgão previdenciário. É o que ocorre, por exemplo, na licença da gestante (art.392 da CLT) ou na ausência do empregado por doença ou acidente de trabalho a partir do 16º dia (art. 476 da CLT e art. 75, §3º, do Regulamento de Benefícios da Previdência Social- Dec. 3.048/99, de 06.05.1999). Nesses casos, quem paga pelo período de afastamento da gestante ou o auxílio-doença do empregado é a Previdência, não gerando nenhum ônus para o empregador.” Entretanto há um impedimento diante da atribuição de tal ônus ao órgão previdenciário, uma vez que configura uma afronta ao princípio da preexistência de custeio, o qual aduz que…
Porém, para que a ofendida não padeça de uma dupla penalidade, visto que já é vítima de maus tratos, também, passando a não receber seus vencimentos, impossibilitando o seu próprio sustento, o que agravará a sua situação desesperadora. Há o posicionamento de que deve ser criado um benefício de caráter assistencial.
De acordo com o caput do artigo 9°, da Lei 11.340/2006 dispõe que: “A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso.”. No artigo 203 da Constituição Federal é previsto que: “A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social”. E, ainda, no §8°, do artigo 226 da Lei Maior está disposto que: “O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”.
Segundo a posição de Maurício de Carvalho Salviano: “Esta assistência está prevista nos riscos protegidos a ser atendidos pela assistência social, como o inciso I, do art. 203, da CF, que determina a proteção à família (e aí estando incluída a mulher, “sujeito” da Lei 11.340/06), sendo que é princípio da Assistência Social a universalidade da cobertura e do atendimento (art. 194, parágrafo único, inciso I, da CF), tendo o legislador ordinário selecionado a mulher que sofre violência doméstica para ter acesso a benefícios e serviços a ela distribuídos, conforme inciso III, do citado parágrafo único do art. 194 da CF., portanto, a mulher empregada, quando tem seu contrato de trabalho suspenso, não está totalmente desamparada financeiramente, devendo dirigir-se à Secretaria de Assistência Social de seu Município, Estado ou da União, que deverão fornecer àquela mulher benefícios e serviços para conseguir se manter, até que a mesma tenha segurança para voltar para sua casa, e não mais sofrer atos violentos que atentem contra sua integridade física ou moral.”.
No mesmo sentido, Francisco José Monteiro Júnior: “[…] deveria ser criado um benefício assistencial a esses indivíduos vítimas de violência familiar e doméstica, sob pena de não concretização do seu direito à dignidade, à segurança na sociedade, ao trabalho e à integridade física, todos de caráter constitucional e fundamental, cuja eficácia é imediata à luz do art.5°, §1°, da Carta Magna.”. 
Entrementes, entende-se que tal proveito, deva ser inserido no rol de benefícios da Lei n° 8.247/1993, intitulada Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), em consonância com o caput do art. 9º da Lei Maria da Penha, e com as referidas disposições constitucionais.
Outro ponto duvidoso acerca da medida de caráter protetivo é no que tange à estabilidade da empregada, pois há o questionamento se a prerrogativa incorrerá apenas enquanto vigorar o afastamento da trabalhadora, ou se terá continuidade após o retorno da ofendida ao posto de trabalho. Perante este instituto do direito trabalhista, em que pese a ausência da empregada, é vedada a dispensa arbitrária, uma vez que caracteriza-se por motivo alheio à sua vontade. Ou seja, não poderá ser dispensada, salvo comprovada a justa causa.
Na Lei 11.340/2006, é afirmado o direito à trabalhadora, que se encontra em situação comprovada de violência doméstica e familiar, o afastamento do trabalho por até seis meses. Sem que nada obste em prejuízo à relação empregatícia da vítima, em virtude do não comparecimento da mesma, no local onde exerce a sua atividade laboral, devido ao impedimento apresentado.
A priori, a disposição silencia a respeito da continuidade da incidência do instituto, com a retomada da trabalhadora ao seu labor. Segundo o princípio da Legalidade, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, a não ser em virtude de lei (art. 5º, II, da Constituição Federal). Tendo em vista que na sua redação não há menção, acerca da estabilidade da empregada após o retorno ao posto de trabalho, haverá a manutenção do contrato de trabalho apenas enquanto decorrer o afastamento de fato, encerrando com a com a sua volta. Desse modo, verifica-se que o legislador objetivou preservar o vínculo empregatício da vítima, apenas enquanto vigorar a medida.
A estabilidade no emprego pode de imediato ser afastada, em virtude da interpretação literal da norma, a manutenção do vínculo não significa garantia ou estabilidade no emprego após o retorno, mas tão somente a manutenção durante o período de afastamento. Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Pinto Batista afirmam que “[…] verificada a violência (que não possui data previamente estipulada para ocorrer), a manutenção do vínculo trabalhista pode perdurar por até seis meses.”.
Sergio Pinto Martins assevera que: “O objetivo da norma é não rescindir o contrato de trabalho. É mantê-lo. A questão não é de manter o vinculo de emprego depois dos seis meses, mas o contrato de trabalho não pode ser rescindido nos seis meses de afastamento”.
Ainda, cumpre salientar, que será assegurado à trabalhadora todo o êxito atribuído à sua categoria, no período da sua ausência.
De outra banda, o tema mais polêmico a respeito do inciso II, do §2°, do artigo 9º da Lei Maria da Penha, que enseja infindáveis discussões, trata da competência para a concessão da medida à trabalhadora, vítima de violência doméstica e familiar. Em virtude da omissão presente, não há a determinação se o pedido será atribuído aos Juizados Especializados em Violência Doméstica e Familiar e, enquanto não instalados estes, caberá às Varas Criminais a atuação nestes casos, ou se será dirigido à esfera trabalhista.
Há autores que entendem tratar-se de competência da justiça do trabalho, processar e julgar o pedido de afastamento atividade empregatícia, pois aduzem que acerca da inaptidão da justiça comum para atuar em matéria trabalhista, visto que envolve uma relação de emprego. Aduzem que, uma vez comprovada à situação de iminente risco pelo juiz criminal, a questão deverá ser remetida à seara jus laboral, para que o magistrado após analisar a existência do vínculo empregatício de fato, possa conceder a medida à trabalhadora. Entendem ser uma afronta, ao sistema de distribuição de competências e ao art. 114, inciso I da Constituição Federal.
Em contraponto, parte da doutrina manifesta inconformidade acerca da posição apresentada, asseverando ser atribuição da justiça comum, sendo a posição que se apresenta a mais plausível. Acerca desta posição, considera-se que caberá ao juiz criminal conceder o benefício. Tendo em vista que, se compete justiça comum investigar e determinar a situação de iminência, também será prerrogativa o reconhecimento da necessidade de distanciamento do local onde a vítima exerce sua atividade laboral. Tal decisão deverá ser comunicada ao empregador que, indiscutivelmente, terá o ônus de cumpri-la, permitindo que a trabalhadora se ausente, e que para isso, não reste prejuízo na relação de emprego.
Neste sentido, Maria Berenice Dias entende ser possível a concessão da medida protetiva à ofendida,de ofício pelo magistrado de tais juizados: “Reconhecendo o magistrado, de ofício, a requerimento da parte ou do Ministério Publico a necessidade de a vítima manter-se afastada do trabalho, comunicada a decisão à empresa empregadora, que tem a obrigação de cumprir a determinação judicial”.
Não se trata de atribuir competência à justiça comum, criminal ou cível, no sentido de reconhecer o vínculo empregatício ou de algum direito inerente ao contrato de trabalho existente. Trata-se, por oportuno, de reconhecimento de direito constitucional individual e social do trabalhador, direito de permanência no emprego – baseado no princípio da dignidade da pessoa humana (art. 3°, III, da Constituição Federal), e da proteção à integridade física do trabalhador, enquanto integrante da família (arts. 5°, III, 6°, 226, § 8°, da Constituição Federal), assegurado por lei federal. 
Em torno da colocação, é adotado o entendimento de que o motivo que deu ensejo ao afastamento da trabalhadora não é originário da relação de emprego. Visto que a situação mostra-se absolutamente estranha ao vínculo trabalhista, a qual independe da vontade da empregada e do empregador, presume-se ser uma medida de caráter cautelar, que deverá ser aplicada com certa urgência, devido ao risco em que se encontra a vítima de violência doméstica e familiar. O empregador não é o causador do problema.
Conforme ensina Carlos Eduardo Rios do Amaral: “A cessação temporária do contrato de trabalho e a garantia de emprego devem ser tomadas como uma questão secundária, que incide sobre o processo principal, merecendo solução antes da decisão da causa ser proferida”.
Entretanto, caso o empregador não obedeça a decisão acerca da disposição, dispensando a trabalhadora durante o período de vigência da medida, haverá a possibilidade de pleitear uma demanda perante a justiça laboral, com o objetivo de reintegração no emprego. De acordo com os ensinamentos de Felipe Antônio Lopes Santos, “é que caso o empregador não cumpra a determinação de manutenção do vínculo, surgiria aí uma lide trabalhista”. Tendo em vista que apenas caracterizaria uma questão de interesse trabalhista, havendo desrespeito ou negação do direito à estabilidade da empregada, que é uma prerrogativa da trabalhadora.
Todavia, devido à tamanha lacuna existente em torno dos aspectos trabalhistas da Lei Maria da Penha, é constatada a necessidade de regulamentação da garantia de cunho trabalhista, que tem por objetivo a proteção da mulher trabalhadora, vítima de violência doméstica e familiar, a fim de que se possa ser efetivamente aplicada.
A violência de gênero, neste caso, a violência praticada contra a mulher, é também uma forma de agressão aos direitos humanos. O ciúme é o motivo para agressões contra mulheres, e para a maioria da população (83%), os homens agridem as mulheres principalmente após o consumo de bebidas alcoólicas.
 	A OMS (2011) realizou um estudo com 24 mil mulheres em dez países. No Brasil, o estudo ouviu mulheres com idade entre 15 e 49 anos na cidade de São Paulo e na Zona da Mata de Pernambuco. Na comparação com os outros nove países pesquisados, os índices das cidades brasileiras foram semelhantes aos registrados na Tailândia e na Namíbia. O estado de Pernambuco registrou um número alarmante de 305 mulheres mortas no ano de 2010 e apresenta as maiores taxas de assassinatos no país. Após a promulgação da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06), as denúncias de violência contra mulher aumentaram em quase 50% em Pernambuco, estado líder em casos de morte de mulheres por companheiros, e em cinco dias foram registrados 16 flagrantes.
 	Por isso a necessidade de políticas públicas, de incentivos à mulher para que denuncie quaisquer espécies de violência sofrida, seja ela qual for a criação de vara especial da violência doméstica e familiar contra a mulher e as delegacias especializadas da mulher têm contribuído para o aumento da efetividade da Lei Maria da Penha, colocando mulheres em busca da igualdade.
Do ponto de vista pragmático podemos afirmar que a violência consiste em ações de indivíduos, grupos, classes, nações que ocasionam a morte de outros seres humanos ou que afetam sua integridade física, moral, mental ou espiritual. 
“Na verdade, é mais conveniente falar de violências, pois se trata de uma realidade plural, diferenciada, cujas especificidades necessitam ser conhecidas” (Cavalcanti, 2010, p. 25). 
Stela Valéria Cavalcanti aponta que a definição de violência contra a mulher mais completa está expressa na Conferência de Beijing, que afirma que: qualquer ato de violência que tem por base o gênero e que resulta ou pode resultar em dano ou sofrimento de natureza física, sexual ou psicológica, inclusive ameaças, a coerção ou a privação arbitrária da liberdade, quer se produzem na vida pública ou privada (Cavalcanti, 2010, p. 38).
 A dignidade da pessoa humana tem sido algo bastante debatida nas últimas décadas. Princípio-fundamento, de alta complexidade e relevância, tem caráter de análise subjetiva com relação ao histórico da discriminação em relação às mulheres. Percebe-se que a contribuição para o cenário atual, especialmente de violência doméstica e familiar, sempre foi o conservadorismo do pensamento de que o “chefe da casa”, anteriormente sendo imposto como o gênero masculino, poderia sobrepor-se a tudo na vida da esposa ou companheira, inclusive podendo agredi-la física, sexual ou psicologicamente. A violência doméstica e familiar é uma das modalidades de violência contra a mulher. A Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha) prevê que a violência, seja ela oriunda de qualquer ação ou omissão que possa causar morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, é considerada de natureza doméstica e familiar desde que ocorra: a) no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas, no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a agredida.
A violência doméstica fundamenta-se em relações interpessoais de desigualdade e de poder entre mulheres e homens ligados por vínculos parentais, de afetividade ou de amizade. O agressor se vale da condição privilegiada de uma relação de casamento, convívio, confiança, amizade, namoro, intimidade, privacidade que tenha ou tenha tido com a vítima, bem como da relação de hierarquia ou poder que detenha sobre a vítima para praticar a violência (Cavalcanti, 2010, p. 51).
 Portanto, a Lei Maria da Penha veio cuidar de todo tipo de violência que possa ser sofrida pela mulher, no âmbito doméstico e familiar, conforme já demonstrado anteriormente, não somente a violência de natureza física, sexual ou psicológica, mas abordando até mesmo a patrimonial e a moral.
 	A história da humanidade tem mudado, porém alguns pensamentos retrógrados e conservadores ainda afetam a sociedade em que vivemos. O tratamento dispensado às mulheres, principalmente em seus lares, mas também diante desta sociedade atual, tem que percorrer com a mesma simetria dos seus avanços. Inúmeros ainda são os casos de violência praticados contra as mulheres, à sombra do que acima foi explicitado. Grandes polêmicas giraram em torno da Lei Maria da Penha, sendo utilizado como argumento principal que a mesma fere o princípio da igualdade, violando o direito fundamental à igualdade entre homens e mulheres, assim sendo considerada em muitos julgados como inconstitucional. No entanto, necessário se faz observar grande lição dada por Flávia Piovesan e Sílvia Pimentel (Piovesan; Pimentel, 2007), que prelecionam que: A Constituição Federal de 1988, marco jurídico da transição democrática e da institucionalização dos direitos humanos no país, consagra, dentre os objetivos fundamentais da RepúblicaFederativa do Brasil, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (artigo 1º, IV). Prevê, no universo de direitos e garantias fundamentais, que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”. 
O texto constitucional transcende a chamada “igualdade formal”, tradicionalmente reduzida à fórmula “todos são iguais perante a lei”, para consolidar a exigência ética da “igualdade material”, a igualdade como um processo em construção, como uma busca constitucionalmente demandada. Tanto é assim que a mesma Constituição que afirma a igualdade entre os gêneros estabelece, por exemplo, no seu artigo 7º, XX, “a proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos”. Se, para a concepção formal de igualdade, esta é tomada como pressuposto, como um dado e um ponto de partida abstrato, para a concepção material de igualdade, esta é tomada como um resultado ao qual se pretende chegar, tendo como ponto de partida a visibilidade às diferenças. Isto é, essencial mostra-se distinguir a diferença e a desigualdade. A Lei Maria da Penha exige o funcionamento dos serviços em rede. Só é possível garantir a eficácia da lei se ela for compreendida na sua totalidade e se houver um diálogo permanente entre os diversos sujeitos político-institucionais que compõem a Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica. 
Outra dificuldade identificada refere-se à incorporação de novas compreensões teóricas políticas e metodológicas pelos sujeitos envolvidos direta e indiretamente no processo de implementação dos serviços. Esta, na avaliação de Barcellos et al., (2010), se coloca como um desafio importante, porque a tarefa de sensibilizar profissionais e gestores (as) que não atuam diretamente com políticas de promoção da equidade de gênero e de enfrentamento à violência contra mulheres, tem sido difícil devido ao seu pouco ou nenhum entendimento das causas e implicações da violência de gênero. 
A violência de gênero é uma das formas mais antigas de violência da humanidade, exercida no cenário mundial de forma cotidiana e muito presente na sociedade com dados alarmantes, pois ela ocorre tanto no espaço público quanto no espaço doméstico. Neste, muitas vezes ela é naturalizada e banalizada, uma vez que, em geral, é praticada por alguém com quem a vítima mantém ou manteve uma relação afetiva. Só nos resta aguardar e torcer para que essas vítimas tomem as providências necessárias para se proteger, pois a eficácia da lei dependerá somente das mulheres que vivem em risco. 
A lei está criada e promulgada, mas o grande desafio enfrentado pelos assistentes sociais e os profissionais que atuam no combate à violência doméstica contra a mulher, é a efetivação de uma rede de serviços interdisciplinar e que agregue todos os programas e projetos das diversas áreas que compõem a política pública de atendimento e combate à violência. 
 
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4 DESAFIOS PARA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CONTEXTO DE PERNAMBUCO.
O Serviço Social é uma profissão historicamente determinada, tendo sua gênese intrinsecamente ligada às relações sociais construídas com o surgimento do sistema capitalista. Essas relações sociais desde a industrialização - marco do sistema capitalista - se constituem de forma antagônica e contraditória. A proposta para o Serviço Social em seu surgimento é determinada pelas classes dominantes e influência da Igreja Católica. 
O serviço social surgiu no Brasil em 1934, período em que o capitalismo ingressava na sua fase monopólica, onde houve a necessidade de um estado regulador das relações sociais, em razão dos antagonismos gerados entre capital e trabalho nesta fase do capitalismo. Tem como proposição a intervenção e atuação ante a “questão social”, implementando uma ação doutrinária e corretiva que buscava um consenso entre as classes dominantes e trabalhadoras, objetivando a construção de uma legitimação política para as classes dominantes, e uma legitimação ideológica para a Igreja Católica. 
A profissão não se caracteriza apenas como nova forma de exercer a caridade, mas como forma de intervenção ideológica na vida da classe trabalhadora, com base na atividade assistencial; seus efeitos são essencialmente políticos: o enquadramento dos trabalhadores nas relações sociais vigentes, reforçando a mútua colaboração entre capital e trabalho (IAMAMOTO, 2007, p. 20). 
O Serviço Social atuava junto aos trabalhadores não com uma proposta caritativa de filantropia, e sim como uma profissão, porém, de forma assistencialista e com ações corretivas que tenham por intenção a busca do consenso e conformidade dos trabalhadores em relação ao sistema capitalista e a apropriação do lucro pelo capital.
O Serviço Social atuava desenvolvendo um controle sobre a população trabalhadora, inserido nas instituições por meio de ações paliativas, normativas e assistencialistas, com intuito de repelir a organização dos trabalhadores e as possíveis mobilizações e reivindicações de melhorias nas situações de trabalho e ganhos salariais. Os assistentes sociais estavam voltados ao cumprimento das determinações das instituições assistenciais e previdenciárias atreladas às classes dominantes, e respondiam as pressões dos trabalhadores com iniciativas paliativas que corroboravam com o crescimento do Estado e processo de desenvolvimentismo, à medida que com programas assistenciais repassados como forma compensatória das desigualdades, conquistavam o consenso da classe trabalhadora. Essa forma de atuação profissional do Serviço Social permaneceu até meados dos anos 60, quando a categoria inicia um processo de questionamento sobre uma atuação mais voltada a resolução dos problemas sociais da classe trabalhadora, e uma atuação crítica e questionadora do posicionamento e atuação tradicional da profissão. Ressaltando que a vertente modernizadora, conforme a autora aponta, não representa ainda o processo de mudança e ruptura com a forma de atuação tradicional, mas deu início, ou esboçou os questionamentos que desencadearam no Movimento de Reconceituação da profissão de Serviço Social. Essa vertente modernizadora apenas expressou o esforço da profissão para modernizar as técnicas e ampliar as funções da profissão, não representou um compromisso com a resolução dos problemas enfrentados pela classe trabalhadora, mas ao contrário, tem o objetivo de atender aos interesses do capital para a consolidação do capitalismo monopolista no Brasil. 
O Movimento de Reconceituação propicia ao Serviço Social uma busca pela redefinição de uma prática profissional voltada para as demandas reais vividas na sociedade brasileira e suscitada pela sociedade organizada e a classe trabalhadora. Essa dinâmica no contexto da profissão desemboca na formação de alianças com a classe trabalhadora, no firmamento de um posicionamento ético e a construção de um projeto político na categoria do Serviço Social. 
Assim que ocorrem os questionamentos sobre essa forma de atuação, a qual não impacta nos problemas sociais brasileiros, haja vista que, as teorias citadas não estavam voltadas para o contexto histórico brasileiro, a profissão se permite o encontro com o método dialético de Karl Marx, reconstruindo uma nova concepção de compreensão da realidade social e entendendo o homem fazedor de sua própria história inserido em uma realidade conflitante, dinâmica, desigual, e que os problemas sociais advêm deste contexto dialético, e não como consequência do comportamento dos próprios homens, assim deixando de lado a tradicional prática profissional de culpabilizar os usuários de seus serviços pelos problemas sociais. Essas mudanças desencadeadas na década de 70 na profissão abrem um novo posicionamento ético político para a profissão. 
Apontamos o ético e o político por que:
Segundo Barroco (2008) a ética e a política estão associadas e são fundamentais para que o projeto contra hegemônico da profissão possa criar corpo, e objetivarprojetos humanos que permitam o ideal emancipatório, em face da barbárie da exploração, e possa caminhar para a busca de superação da realidade capitalista. 
A ética e a política foram assumindo dimensões amplas na profissão ao longo de sua trajetória histórica. A função do serviço social, dada por esta demanda histórica, a qual era do âmbito da ordem vigente, era ajustar este homem aos princípios cristãos, ou seja, molda-lo de acordo com a filosofia da igreja, tendo como finalidade trazer um consenso social, porém a elaboração de teorias em sólida fundamentação Marxista levou à compreensão dos fundamentos sócio históricos da profissão do Serviço Social e conduziu a uma ruptura com os pressupostos da visão conservadora, possibilitando uma base crítica de reflexão sobre a ética profissional, e uma reorientação para construção de um novo Código de Ética.
A ética é preceito fundamental para a atuação comprometida no Serviço Social. A ética e a política foram assumindo dimensões amplas na profissão ao longo de sua trajetória histórica. A profissão do Serviço Social possui um Código de Ética que foi reformulado em 1986 e 1993. Segundo Barroco (2008) O novo Código de Ética foi instituído pela resolução CFESS nº237/93 de março de 1993, e traz em seu texto a perspectiva para uma atuação profissional compromissada com a classe trabalhadora, a ética, a liberdade, a emancipação, a autonomia, a democracia, a justiça social, a socialização da riqueza, a participação política, o pluralismo e não discriminação. Esses valores são fulcrais para o trabalho do assistente social na busca pela igualdade e a luta por um projeto social que conduza a igualdade e fim da exploração de qualquer espécie, cultivando o respeito e a construção de uma sociedade igualitária. 
 “A ética se objetiva na intervenção profissional, teoricamente (através de uma dada concepção ética crítica e histórica); praticamente (através das ações que viabilizem a apropriação, por partir dos indivíduos, de suas capacidades e potencialidades, de suas necessidades e direitos). Na medida em que a ética profissional vincula-se a um ideário emancipatório, objetiva contribuir para a preservação desse ideário, buscando alargar as suas bases sociais na sociedade, junto aos movimentos e sujeitos defensores destes valores e desse projeto, o que é evidentemente um objetivo ético- político (BARROCO, 2008, p.230).
 Após a reconceituação da profissão e a defesa de um projeto ético-político em favor da construção de uma sociedade mais justa, a profissão tem sido reconhecida, valorizada e requisitada, configurando um espaço na divisão sócio técnica do trabalho, merecendo a confiança das outras profissões e entidades diversas, conquistando espaço e demarcando a identidade da assistência social. Para entender a atuação desta categoria na dimensão teórico-metodológica tem como objetivo iluminar a prática profissional, à medida que subsidia o profissional para a criação de estratégias para o enfrentamento das demandas postas nesta área.
São muitos os desafios que o profissional de Serviço Social enfrenta no combate à violência doméstica. Os serviços disponíveis onde se inserem estes profissionais, tanto nas áreas da saúde, da segurança pública e da assistência social não conseguem atender às mulheres de forma integral e articulada. 
O Serviço Social atua no combate à violência doméstica inserido nas instituições que prestam atendimento à mulher vítima de violência. 
Segundo Iamamoto (2000, p.53), “a apropriação da fundamentação teórico-metodológica é caminho necessário para a construção de novas alternativas no exercício profissional”. 
A dimensão técnico-operativa instrumentaliza o profissional do Serviço Social para a atuação e intervenção junto às demandas apresentadas. O conjunto de instrumentais utilizados pelos assistentes sociais é variado, mas para escolher corretamente qual instrumental irá auxiliá-lo para a intervenção, o assistente social deve articular sua escolha às dimensões teórica e ético-política. Isso se faz necessário, devido ao cotidiano profissional ser um espaço que impõe limites, oportunidades e desafios ao assistente social, fazendo com que a reflexão, a investigação e a criticidade sejam alguns dos principais elementos utilizados para articular essas dimensões. 
 É preciso apreender que a profissão atua embasada em três dimensões: a dimensão ética política, a dimensão teórica metodológica e a dimensão técnica operativa. Para o manuseio desses instrumentais, a utilização da ética profissional e o posicionamento ético político são fundamentais no sentido de estabelecer estratégias que possam responder às demandas e criar uma identidade profissional que inspire o respeito e compromisso no combate à violência doméstica. 
Outros instrumentais que exigem a ética profissional por parte dos assistentes sociais são: documentação e a elaboração de relatórios, onde se pontuam as situações de risco e vulnerabilidade como as mulheres e seus filhos se encontram. E ainda o parecer social, que viabiliza os direitos sociais necessários às mulheres para o rompimento com as situações violentas. Ressaltando que a ética é um instrumento de compromisso profissional e pessoal do Assistente Social, levando em conta que:
Segundo Lisboa e Pinheiro (2005), as condições institucionais de trabalho do assistente social nem sempre são favoráveis e tem orçamento reduzido, e as intervenções nas situações violentas sempre causam desgaste físico e psicológico nos profissionais. 
Dessa forma, aos assistentes sociais cabe a clareza de saber se apropriar dos instrumentais de forma correta, e fazer uma ponte com as orientações teórico-metodológicas, sempre pautadas no projeto ético-político da profissão, a fim de na atuação junto às vítimas de violência doméstica poder estimular a denúncia, esclarecer os direitos, incentivar o registro da queixa, orientar sobre os exames de corpo delito, realizar dinâmicas e reuniões para resgatar a autoestima, elaborar pareceres, encaminhar as vítimas aos programas assistenciais e também para as ações da rede de saúde, e por fim exercitar o trabalho em rede nos diversos tipos de atendimento necessários à mulher vítima de violência doméstica. 
 Assim, a intervenção se dá no sentido de elevar o nível econômico e cultural das famílias, por meio de atividades educativas e assistenciais, prevenido sua decadência, o que evitará os problemas sociais. 
Questões que demandam a intervenção do Assistente Social, tal qual a violência doméstica, consistem em um conjunto de elementos alteráveis, imprevisíveis, pleitos que exigem operacionalizações flexíveis e individualizadas, assim sendo, demandam um profissional qualificado e capacitado para intervir junto a estas necessidades: O Serviço social emergiu na história como profissão fundamentada na intervenção, tendo em vista, que a mesma, visa proporcionar modificações no cotidiano da vida social dos indivíduos atendidos. 
A ação profissional dos Assistentes Sociais em demandas familiares, inclusive na questão da violência, se apresenta desafiadora aos profissionais do Serviço Social, entretanto, estes vêm avançando com muita acuidade e competência. 
A percepção do Assistente Social que atua junto às famílias que sofreram ou sofrem violências é de que a violência atinge todas as classes, raças e etnias, sendo o alcoolismo e as drogas os desencadeadores na maioria das vezes da violência.
 “A violência que ocorre no âmbito doméstico, obrigou-nos a entrar em contato com a triste realidade de que a casa é como sempre, foi também um lugar de risco” (MIOTO, 2003: 97). 
A noção de autocuidado, em geral, é substituída por uma postura destrutiva e autodestrutiva. Essa noção se desenvolve de diferentes maneiras e em diferentes lugares, não importa o local, o que importam são os mecanismos de brutalidade que levarão os homens a tornarem-se violentos, tendo em vista que a violência é, em sua maioria, uma manifestação característica do sexo masculino para resolução de conflitos.A questão da violência de gênero da qual faz parte a violência contra a mulher seja ela física, psicológica, moral, sexual ou patrimonial, deve ser compreendida não apenas em seus aspectos subjetivos, mas também devem ser analisadas sob a égide de suas categorias histórica fundantes, as relações sociais capitalistas e as relações sociais patriarcais. Para Safiotti, o patriarcado é o principal responsável pela a violência de gênero. Para ela, as relações sociais de gênero. Em meio a esse panorama de desigualdade de gênero e de resquícios de patriarcalismo, o papel da mulher parece estar aos poucos sofrendo mudanças perante a sociedade. Atualmente, as mulheres trabalham assim como seus maridos para manterem a subsistência de sua casa e manter o custeio de suas crianças. 
 Entretanto, para Mioto (2003:102), para o agir profissional no âmbito da violência doméstica não basta saber da existência dos elementos que constroem este fenômeno, nem as teorias explicativas que lhes dão sustentação. É necessário um conhecimento profundo do objeto sobre o qual se trabalha, para que se possam captar todas as inter-relações possíveis entre as diferentes dimensões e a forma como elas se articulam. A capacidade adquirida pelo profissional transforma as relações sociais do cotidiano das partes envolvidas na violência doméstica, ou seja, “a instrumentalidade é a condição do reconhecimento social profissional” (GUERRA, 2000: 02). 
Questões que demandam a intervenção do Assistente Social, tal qual a violência doméstica, consistem em um conjunto de elementos alteráveis, imprevisíveis, pleitos que exigem operacionalizações flexíveis e individualizadas, assim sendo, demandam um profissional qualificado e capacitado para intervir junto a estas necessidades: 
O desenvolvimento das forças produtivas e as relações sociais engendradas nesse processo determinam novas necessidades sociais e novos impasses que passam a exigir profissionais especialmente qualificados para o seu atendimento, segundo os parâmetros da racionalidade e eficiência inerentes à sociedade capitalista (IAMAMOTO; CARVALHO, 2012: 83).
Entretanto, na maioria das vezes o desemprego, a situação financeira, e, em especial, a pobreza e a falta de informação, são agravantes do ciclo de violência. Buscar fortalecer as mulheres, mostrando-lhes que, se elas se sujeitarem a todo tipo de discriminação, humilhação e violência, não sairão desta situação em que se encontram, pois o medo apenas colabora com a dominação de se mesma. Preocupada mais com a reparação das emoções da vítima, do que com a guarda do ofensor, atuando para que este perceba o delito e o mal que ocasionou a outras pessoas e, quando possível, procura corrigir situações muito mais do que valorizar a punição. O Assistente Social, por meio da escuta ativa nas entrevistas, busca entender a dinâmica da violência sofrida pela mulher atendida, a sua origem, as causas, os tipos de violência implícitos ou explícitos, os sentimentos e as pessoas envolvidas além do perfil do agressor. A maioria dos atendimentos se refere às mulheres agredidas pelos próprios companheiros e ex-companheiros. 
O profissional em Serviço Social atuando junto aos conflitos relativos à violência doméstica e familiar, tendo em vista, sua capacidade instrumental e metodológica em lidar com questões interpessoais. Vivemos ainda sob o domínio de um sistema patriarcal construído há milênios. No entanto, devido a uma forte atuação do movimento a parti do final da década de 1950 no mundo, e na transição dos anos 1970 a 1980 no Brasil, houve mais alterações entre os sexos e as visibilização das assimetrias de gênero do que nos sete mil anos anteriores de historia deste patriarcado. Assim este patriarcado construiu conceitos que se materializam na ideologia machista e em uma rede de poder e de controle que quer se perpetuar. As mulheres morrem não porque se submetem a esse poder, mas porque resistem. Morrem por que desejam serem sujeitos de direitos e não uma mercadoria de posse. Morrem ao manifestar sua vontade de se separar, sair da relação que quer impedir de realizar suas capacidades humanas de serem livres, porque ousam em dizer basta a violência, ousam querer viver a vida com justiça social.
 	A busca das mediações que deverão ser utilizadas no atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica, talvez seja o principal desafio para o/a Assistente Social. O comprometimento profissional não é apenas ético e político, mas exige competência técnico-política para intervenção na realidade, um questionamento inquieto da realidade social.
As regras sociais ou comportamentos culturais são responsáveis por determinar a vida coletiva em sociedade, e a criação de instituições como a família. A família constitui-se numa das instituições mais autoritárias e castradoras para algumas mulheres e crianças, o que acontece dentro dos lares, esconde os horrores típicos da violência doméstica e em torno da família se ergue um muro de silêncio difícil de ser rompido, o que impede a explicitação da violência e a ocorrência das denúncias. Essa submissão, apontada e exigida pelos homens em relação às mulheres, foi responsável pela perpetuação desse fenômeno que ocasionou a inibição e a demora por parte das mulheres em expor esse grave problema social que as aflige. 
O profissional de Serviço Social enfrenta barreiras no seu cotidiano, impactos em relação à sua autonomia profissional, um desafio dentro do exercício de negociação política necessário ao seu trabalho, que limita, muitas vezes, sua prática profissional. Esses infortúnios roubam as condições históricas da categoria, podendo comprometer o fazer profissional individual e coletivo, tornando instável a sinalização do projeto ético-político. Iamamoto contribui nesse assunto, quando relata:
"Assim, as alterações que incidem no chamado 'mundo do trabalho' e nas relações entre Estado e sociedade [...], atingem diretamente o trabalho cotidiano do assistente social". (IAMAMOTO, 2011, p. 21-22). 
A autora ainda reitera que um dos maiores desafios para decifrar o exercício profissional está em apreender as particularidades dos processos de trabalho que diante de circunstâncias diversas, vão atribuindo limites e possibilidades ao exercício profissional. Desde a origem da profissão do Serviço social se observa que tanto o profissional quanto as conquistas dos movimentos feministas caminham juntos na busca de melhorias para as condições de vidas das mulheres sempre priorizando seu valor na sociedade, onde aos poucos foram conquistando seu espaço. É nesta linha de pensamento que até hoje os Assistentes Sociais trilham sua atuação e cada vez mais se atualizando frente às transformações da sociedade. 
Diante disto, em relação à violência contra a mulher, O Assistente Social orienta, discute estratégias e encaminha as mulheres para onde possam receber atendimento eficiente e ter os seus direitos garantidos. O Assistente social utiliza alguns instrumentos técnicos para uma melhor avaliação dos casos de violência contra a mulher. Pode-se citar a entrevista, que é feita com a mulher vítima da violência, onde se desenvolve através do processo de escuta e observação, sempre priorizando a atenção aos sentimentos expressos pela mulher. Também a visita domiciliar é utilizada para conhecer a realidade da qual a mulher vive. A reunião com grupos de mulheres que sofrem violência, contribuído muito para retirá-las do processo de angústia e baixa estima onde elas acabam sendo inseridas depois da violência sofrida.
Em Pernambuco o grande desafio enfrentado pelo profissional é de auxiliar a vítima de violência doméstica na questão de abrigá-la em local seguro no primeiro momento da violência ocorrida, logo após garantir que levando em frente o boletim ocorrência não mais sofrerá agressões. Outro desafio é a independência emocional e financeira que a vítima tem com o agressor, fazendo com que a mesma fique acorrentada ao sendo sujeitada a constantes humilhações. Sem este porto seguro a vítima volta

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