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D:\Marcus\Aulas\Pré-Historia II\Textos\AS ORIGENS DA AGRICULTURA.doc 
AS ORIGENS DA AGRICULTURA 
UMA PERSPECTIVA GLOBAL1 
 
C. Wesley Cowan 
Patty Jo Watson 
 
 
 Uma Perspectiva Histórica Sobre As Origens da Agricultura 
 
 O botânico suíço Alphonse de Candolle (1885) foi o primeiro a reconhecer que as 
informações botânicas, geográficas e arqueológicas deveriam ser integradas com o objetivo de 
compreender as origens da agricultura. Usando tais informações, de Candolle fez a primeira 
tentativa de definir onde os principais elementos agrícolas foram, pela primeira vez, 
domesticados. 
 Na primeira metade do século XX, o botânico russo Nicolai Vavilov continuou 
mantendo a tradição iniciada com de Candolle em articular as informações provenientes de 
variadas fontes, incluindo o crescente campo de estudo da genética. O trabalho de Vavilov, 
financiado pelo Estado russo, levou-o para muitas partes do mundo e proporcionou à ele a 
formulação de hipóteses sobre as origens da agricultura que, até hoje, são bastante influentes. 
 Vavilov sugeriu que as áreas nas quais a diversidade de espécies (e a diversidade 
genética das mesmas) fosse muito grande, seriam as áreas de provável centro de 
domesticação. Embora muitas de suas hipóteses já não se sustentam atualmente, sua busca 
pelas regiões onde a agricultura teria começado forneceu uma base e um impulso para futuras 
pesquisas. Um exemplo foram as pesquisas sobre as origens da agricultura no Oriente Médio 
e no México. 
 À medida em que as informações arqueobotânicas de várias regiões eram acumuladas, 
a idéia original de um único centro de domesticação começou a ser de difícil aceitação. 
Quando sítios arqueológicos, apresentando evidências antigas de domesticação, se espalham 
por áreas que englobam centenas de milhares de quilômetros quadrados, como seria possível 
definir um centro? 
 Ao mesmo tempo em que a ciência arqueológica crescia, a partir de meados do século 
XX, os pré-historiadores descobriram que poderiam contribuir diretamente no estudo sobre as 
origens da agricultura. Não apenas alguns tipos de artefatos ou estruturas construídas 
poderiam ser usadas para inferir agricultura mas também os vestígios (em geral carbonizados, 
já que melhor se preservam) de plantas encontrados em escavações poderiam fornecer 
evidências diretas do processo de domesticação. 
 Logo após a Segunda Guerra Mundial, dois grandes projetos de pesquisa voltados à 
busca de informações sobre o início do processo de domesticação foram implementados: o 
Projeto Iraque-Jarmo, dirigido por Robert Braidwood no Oriente Médio, de 1948 à 1955 
(Braidwood e Howe, 1960; Braidwood et al., 1983) e as pesquisas desenvolvidas por Richard 
MacNeish no México, em busca da origem da domesticação do milho (MacNeish, 1964). 
Ambos arqueólogos foram fortemente influenciados pelo conceito de centro de domesticação 
proposto por Vavilov e pela abordagem multidisciplinar iniciada por de Candolle, além do 
conceito de Revolução Neolítica, proposto por Gordon Childe (1936). 
 O interesse arqueológico pelas origens da agricultura recebeu um enorme impulso, a 
partir dos anos 60, especialmente levado pelo fato de que havia já um temor crescente com 
relação aos efeitos antrópicos sobre o ambiente natural. Esse crescimento de interesse foi 
 
1
 COWAN, C. Wesley, WATSON, Patty Jo. Introduction. In: The Origins of Agriculture. An International 
Perspective. (C. Wesley Cowan, Patty J. Watson, Eds.). Washington D.C., Smithsonian Institution Press, 1992, 
p. 1-6. Tradução e síntese de Jairo Henrique Rogge. 
 2 
verdadeiramente legítimo nos Estados Unidos, onde foram criadas um grande número de 
subdisciplinas dentro da Arqueologia, que possuíam ênfase em aspectos ambientais e 
ecológicos. Uma dessas subdisciplinas foi a Paleoetnobotânica. Graças à metodologia 
desenvolvida nessa área, com relação ao resgate de evidências botânicas em sítios 
arqueológicos, uma grande quantidade de informações sobre as origens da agricultura 
puderam ser recuperadas. 
 
 A Paleoetnobotânica 
 
 O termo ganhou evidência a partir do início dos anos 60, através de Hans Helbaek 
(1960), Richard Yarnell (1963) e outros pesquisadores que se perceberam como cientistas que 
aplicavam os princípios da etnobotânica às evidências arqueológicas sobre o uso de plantas. 
Entendendo a etnobotânica como o estudo sobre o conhecimento do uso de plantas por 
populações tradicionais (especialmente as indígenas), a paleoetnobotânica seria o estudo 
dessas interrelações e conhecimentos a partir de plantas e populações humanas pré-históricas. 
 Até muito recentemente, grande parte dos restos de plantas recolhidos em escavações 
arqueológicas eram casuais. Dependiam de que houvesse uma grande quantidade de vestígios 
ou que fossem visíveis a olho nu. Se um vestígio desse tipo fosse visto pelo arqueólogo, ele 
seria recuperado; senão, isso não acontecia. Esses vestígios macrobotânicos representam, 
obviamente, restos de plantas que possuem tamanho visível à olho nu e que podem se 
conservar em contextos arqueológicos; partes menores e as sementes de muitas plantas não 
são assim tão facilmente detectadas visualmente, sendo que para encontrá-las foram 
desenvolvidos meios de resgate específicos. O método mais comum pelo qual vestígios não 
diretamente visíveis à olho nu são resgatados é através de uma técnica conhecida como 
flotação. 
 Muitos sistemas diferentes de flotação foram criados nos últimos vinte anos, mas 
todos eles estão baseados no seguinte princípio básico: se os sedimentos contendo material 
arqueológico são jogados em um tanque com água, os sedimentos e os vestígios 
arqueológicos mais pesados afundam, enquanto que os vestígios de plantas, especialmente se 
estiverem carbonizadas, por serem mais leves flutuam. Embora, como já foi dito, existam 
vários sistemas de flotação, todos eles tem um mesmo objetivo: resgatar os restos 
macrobotânicos de plantas dispersos nos sítios arqueológicos, a partir de sua concentração na 
superfície de um recipiente com água. O desenvolvimento das técnicas de flotação 
revolucionaram a capacidade de coletar dados diretamente relevantes ao estudo das origens da 
agricultura. 
 Quando os vestígios de plantas chegam ao laboratório do paleoetnobotânico, eles são 
classificados, identificados, pesados, contados e descritos. Os paleoetnobotânicos utilizam 
uma grande variedade de instrumentos para auxiliá-los, mas os mais importantes são uma boa 
lupa binocular de grande aumento, um microscópio eletrônico de varredura, uma boa coleção 
de referência (espécimens de plantas e suas sementes para comparação) e todo o material 
bibliográfico possível sobre os aspectos botânicos da área em estudo. 
 Apesar de que os estudos paleoetnobotânicos são feitos quase sempre com vestígios de 
plantas e sementes carbonizadas, em muitos locais vestígios botânicos muito antigos podem 
ser preservados naturalmente, especialmente em ambientes áridos. Em lugares com clima 
muito árido e desertificado, como no Egito ou na costa pacífica do Peru, os vestígios de 
plantas podem se conservar indefinidamente. Mesmo em áreas de clima temperado (Europa 
Central, leste dos EUA), os vestígios botânicos podem se preservar muito bem em abrigos 
rochosos e cavernas. Uma boa preservação também se dá em ambientes saturados de água 
(ambientes anaeróbicos, como pântanos). 
 3 
 Embora um progresso considerável já tenha sido feito na interpretação de restos 
antigos de plantas, muitos problemas ainda necessitam ser solucionados. Ainda não existe 
uma padronização adequada quanto às técnicas de resgate dos restos botânicos nem quanto 
aos procedimentos de quantificação dos mesmos. Isso implica em que os resultados das 
análises paleoetnobotânicas são, muitas vezes, difíceis de serem diretamente comparados. 
Existem também muitos problemasquanto à identificação de vestígios carbonizados, devido 
às distorções que os processos de queima causam, especialmente com relação ao tamanho das 
sementes e frutos (que é um dos mais importantes parâmetros de identificação), além da 
fragmentação dos mesmos e da constante manipulação em contexto arqueológico e em 
laboratório. 
 Uma das mais importantes questões no campo arqueobotânico é a evolução das plantas 
domésticas. Obviamente, o paleoetnobotânico deve ser capaz de diferenciar as formas 
selvagens das formas domesticadas de uma determinada espécie vegetal. Isso é possível, na 
maioria das vezes, através das variações de tamanho, forma ou outros atributos morfológicos 
ou então a partir de aspectos geográficos ou espaciais, como quando uma planta é encontrada 
fora de sua área natural de distribuição ou quando encontrada em abundância associada à 
certos contextos, como em silos ou outros recipientes de armazenagem, indicando assim que 
ela era domesticada ou, pelo menos, cultivada. A maioria dos paleoetnobotânicos distinguem 
as plantas entre espécies que são usadas e cuja reprodução é simplesmente acompanhada e 
encorajada daquelas cuja reprodução é cuidadosamente controlada e gerenciada. A distinção 
entre esses dois tipos de plantas – plantas cultivadas versus plantas domesticadas - está 
baseada em um único fator. Enquanto que as plantas cultivadas continuarão a se reproduzir 
naturalmente sem a interferência humana, as plantas domesticadas são tão diferentes 
geneticamente de suas ancestrais selvagens que sua reprodução e existência dependerão 
exclusivamente da intervenção humana em seus ciclos de vida. Assim podemos dizer, como 
Ford (1985), que as plantas domesticadas são artefatos culturais que resultaram de processos 
de seleção feitos pelo Homem. 
 A presença de uma planta domesticada em um contexto arqueológico é o resultado 
final de muitas gerações de transformações genéticas cumulativas. Dessa forma, a descoberta 
das mais antigas plantas domesticadas representam apenas o ponto final de um processo que 
deve ter-se iniciado à centenas, ou mesmo milhares, de anos antes. 
 Sendo assim, é praticamente impossível delinear um único momento no passado, em 
qualquer continente ou região geográfica, que seja o marcador do início das economias 
agrícolas. As sociedades baseadas na agricultura não nasceram da noite para o dia, como o 
resultado de uma idéia que surgiu na mente de um gênio pré-histórico. A domesticação de 
plantas e, por conseguinte, a agricultura, é um processo precedido por milhares de anos de 
evolução cultural e biológica. 
 
 
 Referências Bibliográficas 
 
BRAIDWOOD, R. J., HOWE, B. (Eds.). Prehistoric investigations in Iraqi Kurdistan. Studies 
in Ancient Oriental Civilization, 31. Chicago, University of Chicago Press, 1960. 
 
BRAIDWOOD, R. J. et al. Prehistoric Archeology Along the Zagros Flanks. Chicago, 
University of Chicago Press, 1983. 
 
De CANDOLLE, A. Origins of Cultivated Plants. New York, D. Appleton, 1885. 
 
MacNEISH, R. S. Ancient Mesoamerican Civilization. Science, 143, p. 531-537, 1964. 
 4 
 
CHILDE, V. G. Man Makes Himself. London, Watts, 1936. 
 
HELBAEK, H. The Palaeoethnobotany of the Near East and Europe. In: Prehistoric 
Investigations in Iraqi Kurdistan (R. J. Braidwood, B. Howe, Eds.). Studies in Ancient 
Oriental Civilization, 31. Chicago, University of Chicago Press, 1960. 
 
YARNELL, R. A. Palaeoethnobotany in America. In: Science in Archaeology (D. Brothwell, 
e Higgs, Eds.). London, Thames and Hudson, p. 215-228, 1963. 
 
FORD, R. I. The Processes of Plant Food Production in Prehistoric North America. In: 
Prehistoric Food Production in North America (R. I. Ford, Ed.). Ann Arbor, University 
of Michigan, Anthropological Papers n. 75, p. 1-18, 1985.

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