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DIREITO PENAL V CRIME ORGANIZADO AULA 10 Professor Eduardo BRASÍLIA 2015 1 CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Leitura obrigatória: LEI Nº 11.340/06; Doutrina: livros de qualidade. Rogério S. Cunha por exemplo. Jurisprudência: - Súmulas STF - Súmulas STJ - Informativos STF - Informativos STJ 2 CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 3 Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. A Lei nº 11.340/2006 tem por finalidade coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Esse diploma normativo é amplamente conhecido como Lei Maria da Penha, uma referência a Maria da Penha Maria Fernandes. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 4 Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social. Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 5 A Lei Maria da Penha não é apenas uma norma protetiva. Ela também tem caráter programático, determinando ao Estado que desenvolva políticas capazes de assegurar às mulheres o exercício de direitos fundamentais, estendendo também à família e à sociedade em geral o dever de criar as condições necessárias ao efetivo exercício desses direitos. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 6 Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 7 É interessante saber que o STJ já decidiu que a Lei Maria da Penha pode ser aplicada mesmo que não tenha havido coabitação, e mesmo quando as agressões ocorrerem quando já se tiver encerrado o relacionamento entre as partes, desde que guardem vínculo com a relação anteriormente existente. As relações pessoais aqui enunciadas independem de orientação sexual. A orientação sexual da mulher não pode servir de parâmetro para determinar se ela sofreu ou não violência doméstica e familiar. A Lei, no intento de asseverar o caráter desprezível dos crimes por ela tratados, qualifica a violência doméstica e familiar contra a mulher como uma violação dos direitos humanos. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 8 São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularizarão, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 9 III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 10 V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. RESUMINDO: VIOLÊNCIA FÍSICA: Ofensa à integridade ou saúde corporal. VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA: Qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões. VIOLÊNCIA SEXUAL: relação sexual não desejada. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 11 VIOLÊNCIA PATRIMONIAL: Bens e valores. Retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. VIOLÊNCIA MORAL: Calúnia, difamação ou injúria. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 12 A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso. A inclusão da mulher em programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal será determinada pelo magistrado, por prazo certo. O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicológica: I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração direta ou indireta; II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis meses. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 13 A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual. A Lei Maria da Penha protege a mulher com relação à sua liberdade no uso de sua capacidade reprodutiva . São considerados sexualmente violentos os atos que impedirem o acesso da mulher a métodos contraceptivos. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 14 Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências legais cabíveis. Aplica-se essa ação ao descumprimento de medida protetiva de urgência deferida. As providências que devem ser adotadas imediatamente pela autoridade policial diante de situações de violência familiar contra a mulher incluem a garantia de proteção policial, comunicação imediata ao Poder Judiciário e ao Ministério Público, o encaminhamento da ofendida a estabelecimentos de tratamento médico, o fornecimento de transporte à ofendida que corra risco de vida e seus dependentes para local seguro, a informação à ofendida dos direitos a ela assegurados e dos serviços disponíveis. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 15 Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal: I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada; II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias; III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência; CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 16 IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessários; V - ouvir o agressor e as testemunhas; VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele; VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 17 Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização judiciária. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher acumulam competência cível e criminal, e fazem parte da Justiça comum estadual, mas o STF já decidiu que esses órgãos não podem aplicar os " institutos despenalizadores" típicos dos juizados criminais. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 18 É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado: I - do seu domicílio ou de sua residência; II - do lugar do fato em que se baseou a demanda; III - do domicílio do agressor. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 19 Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher que vierem a ser criados poderão contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser integrada por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde. É por essa razão que a lei também estabelece a obrigatoriedade de, em todos os atos processuais cíveis ou criminais, a mulher em situação de violência ser acompanhada por advogado. Essa regra comporta uma exceção, relacionada à situação em que a mulher pede diretamente ao magistrado a adoção de medidas protetivas de urgência. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 20 Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em audiência, e desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e aos adolescentes. Uma das principais funções da equipe multidisciplinar é fornecer subsídios ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública, mas, além disso, cabe à equipe orientar a ofendida, o agressor e os familiares, especialmente as crianças e adolescentes envolvidos na situação de violência contra a mulher. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 21 Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal final idade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. Este dispositivo foi considerado inconstitucional pelo STF em relação aos crimes de lesão corporal, no julgamento da ADI nº 4.424. A ação penal nos crimes de lesão é de natureza pública incondicionada, ou seja, a ação é proposta pelo Ministério Público, sem necessidade de representação por parte da ofendida. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 22 É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 23 MEDIDAS QUE OBRIGAM O AGRESSOR Suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente. Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida. Proibição de determinadas condutas: a) Aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor. b) Contato com a ofendida e seus familiares. c) Frequentar determinados lugares. d) Restrição ou suspensão de visitas aos dependentes. e) Prestação de alimentos CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 24 MEDIDAS QUE PROTEGEM A OFENDIDA Encaminhamento da ofendida e seus dependentes a programas de proteção e de atendimento. Recondução da ofendida e dos dependentes ao domicílio. Afastamento do ofensor do lar. Determinar a separação de corpos. Restituição dos bens subtraídos pelo agressor. Proibição temporária de compra, venda e aluguel de imóveis. Suspensão das procurações Caução pelos danos sofridos. CRIME VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 25 O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da violência doméstica e familiar contra a mulher. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e promover, no limite das respectivas competências: I - centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e respectivos dependentes em situação de violência doméstica e familiar; II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em situação de violência doméstica e familiar; III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços desaúde e centros de perícia médico-legal especializados no atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar; IV - programas e campanhas de enfrentamento da violência doméstica e familiar; V - centros de educação e de reabilitação para os agressores. EXERCÍCIOS 26 01 - Na Lei Maria da Penha, está prevista a assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar, coadunada aos direitos sociais. Assinale a alternativa que não representa um tipo de assistência oferecida pela Lei Maria da Penha . a) Acesso ao Sistema Único de Segurança Pública. b) Acesso aos benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de emergência . c) Acesso à profilaxia das doenças sexualmente transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). d) Acesso a procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual. e) Acesso ao benefício emergencial para vítimas de violência. EXERCÍCIOS 27 02 - Nos termos da Lei n.º 11.340/06 (Lei contra a violência doméstica e familiar contra a mulher), assinale a alternativa incorreta. a) A lei compreende o dano patrimonial à mulher. b) A lei compreende o dano moral à mulher. c) A coabitação entre os sujeitos ativo e passivo é condição para a aplicação da lei. d) A empregada doméstica pode ser sujeito passivo. e) O parentesco entre os sujeitos ativo e passivo não é condição para a aplicação da lei. EXERCÍCIOS 28 03 - A Lei nº 11.340/06 que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher prevê que a) será considerado autor apenas o indivíduo que coabita com a vítima. b) será considerado autor não apenas aquele que coabita com a vítima, mas que tenha relação doméstica e familiar. c) a vítima declare antecipadamente quais são seus parentes residentes no município sob pena de ser acusada de desajuste emocional. d) será considerado autor apenas o indivíduo que tenha com a vítima um grau de parentesco. e) a vítima não pode denunciar como sendo violência doméstica a agressão que ocorreu fora do âmbito de sua residência. EXERCÍCIOS 29 04 - Nas ações penais abrangidas pela chamada Lei Maria da Penha, admissível a renúncia à representação da ofendida perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público, a) nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa. b) em qualquer crime. c) apenas no crime de lesão corporal leve. d) nos crimes de lesão corporal leve e de ameaça . e) no crime de ameaça . EXERCÍCIOS 30 05 – A possibilidade real de o acusado de prática de crime contra a mulher no âmbito doméstico e familiar cumprir ameaças de morte dirigidas a sua ex-esposa basta como fundamento para a sua segregação, sobretudo ante a disciplina protetiva da Lei Maria da Penha, que visa a proteção da saúde mental e física da mulher. ( ) CERTO ( ) ERRADO GABARITO 31 01 – E 02 – C 03 – B 04 – E 05 – C 32
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