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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE AGRONOMIA ELISEU MACIEL DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA RURAL DISCIPLINA: HIDROLOGIA Professores: Marcelo Peske Hartwig, Vitor Emanuel Tavares & Luís Carlos Timm - Outubro-2007 INTRODUÇÃO GERAL A água é uma das substâncias mais importantes da crosta terrestre. Sendo a água um recurso natural utilizado pelo homem em seu benefício para vários fins, como por exemplo o abastecimento doméstico, abastecimento industrial, produção de energia elétrica, irrigação, pecuária, navegação, lazer, etc, o planejamento e gerenciamento deste recurso é extremamente complexo, mais ainda se levado em consideração fenômenos naturais como cheias e estiagens. Desta forma, torna-se evidente a necessidade de se estabelecer em termos quantitativos e qualitativos a disponibilidade deste recurso natural, visando um melhor aproveitamento da disponibilidade hídrica de uma bacia hidrográfica. A Hidrologia é a ciência que se preocupa com o estudo da água e em quantificar os volumes de água que se encontram distribuídos pela superfície terrestre e que pode ser aproveitada pelo homem. Dentro da Hidrologia existem subdivisões do seu estudo, como descrito a seguir: - Hidrometeorologia – estudo dos fenômenos que afetam a hidrologia e a meteorologia; - Limnologia – estudo dos lagos; - Criologia – estudo relacionado com o gelo e a neve; - Geohidrologia – estudo das águas subterrâneas. Assim, o hidrólogo deverá ser capaz de responder algumas perguntas, tais como: - Qual a vazão máxima que se pode esperar em um vertedor de uma barragem ou em um bueiro de uma rodovia?; - Qual o volume de água armazenado necessário para garantir o fornecimento para irrigação durante uma seca? - Quais serão os efeitos dos reservatórios e diques de controle sobre as ondas de cheia de um rio? A hidrologia é o elemento básico para o melhoramento das condições de navegabilidade dos rios, dragagem de trechos, fechamento de braços. A hidrologia fornece ainda dados de níveis de cursos de água, velocidades de escoamento de água, arraste de sedimentos. É elemento básico para irrigação, proteção contra erosão do solo agrícola, recuperação de terras, planejamento de construção de barragens, entre outras tantas aplicações. Este texto é uma versão preliminar, especificamente preparado como material auxiliar, para as disciplinas ministradas pelo Setor de Recursos Hídricos do DER/FAEM/UFPEL. 2 CAPÍTULO I NOÇÕES DA LEGISLAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 1. INTRODUÇÃO O planejamento e dimensionamento de projetos de irrigação e drenagem, bem como de qualquer outro empreendimento que faça uso da água, deve levar em consideração a legislação que regulamenta este tipo de empreendimento. Além das normas específicas do setor de irrigação, devem também ser observadas as leis relativas ao uso da água em geral e a legislação ambiental. A legislação que afeta o uso da irrigação pode apresentar três níveis de abrangência: federal, estadual e municipal. A definição de quais as normas a serem observadas depende de algumas características do empreendimento pretendido, como localização, área afetada, vazão e volume de água a serem utilizados, entre outras. Atualmente, no Rio Grande do Sul, as propostas de instalação de sistemas de irrigação e drenagem devem ser submetidas ao órgão estadual responsável pela proteção ambiental (atualmente a Fundação Estadual de Proteção Ambiental - FEPAM) e ao órgão estadual responsável pela outorga de direitos do uso da água (atualmente o Departamento de Recursos Hídricos - DRH), para fins de licenciamento da atividade. Tanto a legislação ambiental, como a de recursos hídricos são relativamente recentes, estando ainda em fase de implementação e adaptação. Sendo assim, mudanças nos procedimentos de licenciamento são relativamente normais e freqüentes, exigindo constante atenção dos profissionais ligados ao setor. 2. GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS A gestão de recursos hídricos é um assunto que afeta o planejamento de sistemas de irrigação e outros usos da água, para atividades no meio rural, de diversas formas. Para entender porque é necessário gerenciar corretamente o uso da água, quem é responsável por este gerenciamento e quais suas conseqüências, é necessário, primeiramente, responder algumas perguntas: Para responder a estas perguntas, é necessário, primeiramente, conhecer a legislação básica sobre o assunto, a qual inclui: Código de Águas de 1934; Lei 6.662/79 e Decreto 89.496/84 da Política Nacional de Irrigação; Lei 6.938/81 da Política Nacional do Meio Ambiente; Constituição de 1988; A QUEM PERTENCE A ÁGUA É A ÁGUA UM BEM INESGOTÁVEL QUAL PROFISSIONAL É RESPONSÁVEL PELA GESTÃO DA ÁGUA ? 3 A Constituição Estadual e a Lei 10.350/94 do Sistema Estadual de RH; Lei 9.433/97 do Sistema Nacional de RH. 2.1. Código de Águas O Código de Águas entrou em vigor com o Decreto 24.643 de 10 de julho de 1934, e sua execução competia ao Ministério da Agricultura. Posteriormente o Código foi modificado pelo Decreto-Lei 852 de 11 de novembro de 1.938, com vistas a adaptá-lo à constituição promulgada em 10 de novembro de 1937. O Código de Águas constitui um diploma fundamental para a legislação de recursos hídricos, trazendo em seu corpo uma série de conceitos que são bastante atuais, tendo sido um documento bastante avançado, principalmente se for levado em consideração a época em que foi concebido. Como conseqüência, apesar de antigo, o Código de Águas ainda está em vigor, naquilo em que não foi alterado pela legislação posterior, sendo que as principais alterações estão contidas na Constituição Federal de 1988 e na Lei 9.433, de 1997, que instituiu o Sistema Nacional de Recursos Hídricos (SNRH). Uma das diferenças fundamentais entre o Código das Águas e a moderna legislação de recursos hídricos, diz respeito aos direitos de propriedade. O Código de Águas classifica as águas em: águas públicas de uso comum ou dominicais e águas particulares. O domínio das águas poderia ser da União, dos Estados, dos Municípios e de particulares. Na constituição vigente, todo o domínio das águas foi atribuído à União e aos Estados. Em conseqüência, uma série de artigos do Código de Águas e leis e regulamentações posteriores perderam sua validade. O Código de Águas trata das águas pluviais como uma entidade à parte. Para o Código, águas pluviais são aquelas que procedem imediatamente das chuvas. Essas águas pertencem ao dono do prédio onde elas vierem a cair, podendo o mesmo dispor delas à vontade, salvo existindo direito em sentido contrário. Entretanto, ao dono do prédio é proibido desperdiçá-las em prejuízo dos outros prédios que delas se possam aproveitar. Neste caso, considerando uma distinção entre águas que procedem imediatamente das chuvas e águas fluentes - a estas a constituição da época dava o domínio à União - as primeiras seriam águas particulares, por não estarem enquadradas entre os bens da União, dos Estados ou dos Municípios. As prioridades para o uso da água, definidas no Código de Águas, eram o abastecimento e irrigação no Nordeste e a geração de energia elétrica. Isto refletia uma preocupação política com a Região Nordeste, bem como a predominância do setor energético no cenário decisivo. Até recentemente, grande parte do planejamento, coleta de dados e gerenciamento dos recursos hídricos no Brasil cabia ao setor energético, mais especificamente ao Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica - DNAEE. Quanto ao uso das águas públicas, o Código já previa a possibilidade de cobrança, ao estabelecer que o uso poderia ser gratuito ou retribuído. Por outro lado, assegura o uso gratuito de qualquer nascente ou corrente de água, para as primeiras necessidadesde vida, se houver caminho público que a torne acessível. No caso de não haver caminho público, prevê o acesso, desde que os proprietários dos prédios por onde transitarem os interessados sejam indenizados dos prejuízos que lhes sejam causados. 4 A preocupação com a proteção dos recursos hídricos e o reconhecimento do valor da água já está presente no Código, que prevê a indenização e pagamento ao poder público, por parte dos usuários que poluírem as águas públicas. Outro ponto importante do Código é a exigência de concessão ou autorização administrativa, para o uso de águas públicas, a qual poderia ser dispensada, todavia, na hipótese de derivações insignificantes. 2.2. Política Nacional de Irrigação Com o crescimento da demanda de água para irrigação, na década de 70, houve pressões e gestões, com vistas à criação de uma lei sobre o assunto. No final daquela década, em 1979, o Presidente da República sancionou a Lei 6.662 de 25 de junho daquele ano, que dispunha sobre a Política Nacional de Irrigação, posteriormente regulamentada pelo Decreto 89.496, de 1984. Essa Lei deu ao Ministério do Interior (MINTER) autoridade para conceder ou autorizar o uso de águas públicas quando o objetivo fosse irrigação ou atividades decorrentes. Como resultado da Lei de Irrigação, a outorga do uso de águas públicas do domínio da União passou a ser competência de duas instituições: o MINTER, quando o uso das águas fosse irrigação ou atividades decorrentes; e o DNAEE, para os demais usos. Posteriormente, a outorga de águas para irrigação passou a ser da competência do Ministério da Agricultura através da então Secretaria Nacional de Irrigação (SENIR). A Lei de Irrigação estabelecia que o uso de águas públicas, superficiais ou subterrâneas, para fins de irrigação ou atividades decorrentes, dependeria de prévia autorização ou concessão do Ministério do Interior, o que foi alterado pela legislação atual. A Lei de Irrigação e o Decreto 89.496 são omissos com relação à transferência do direito de derivação da água. A Lei também não explicita um prazo máximo para a validade das concessões e autorizações, entretanto fixa os casos em que o direito da derivação extingue-se. Entre as principais características desta legislação estão: a) o reconhecimento da função social da água; b) a busca do uso racional dos recursos hídricos, procurando atingir o maior benefício sócio-econômico; c) a preocupação com a integração entre os diferentes setores que fazem uso dos recursos hídricos; d) a orientação para o múltiplo aproveitamento da água; e) a preocupação com a preservação ambiental e a qualidade da água. Dentro do espírito da Política Nacional de Irrigação, foram realizadas algumas das primeiras experiências de cobrança pelo uso da água, em distritos de irrigação administrados pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do Rio São Francisco - CODEVASF. 2.3. Política Nacional do Meio Ambiente Em 1972 o Brasil participou da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo. Como resultado, em 30 de outubro de 1973, através do Decreto no 73.030, foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA, ligada ao Ministério do Interior. Esta secretaria foi criada de forma que sua atuação não entrasse em conflito com as atribuições legais de outros ministérios. Posteriormente, 5 em 14 de outubro de 1975, foi publicado o Decreto-Lei no 1.413, que dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente causada por atividades industriais. A Política Nacional do Meio Ambiente foi estabelecida pela Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que criou o Sistema Nacional do meio Ambiente - SISNAMA e o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. As normas sobre proteção dos recursos hídricos e qualidade de águas são definidas na Portaria 13, de 15 de janeiro de 1976 do Ministério do Interior, na Resolução n° 20 do CONAMA, de 18 de junho de1986 e nas leis estaduais n° 10.147, de 1o de dezembro de 1977, e n° 10.148, de 03 de dezembro de 1977. A Resolução no 20 do CONAMA estabeleceu uma nova classificação das águas do Território Nacional. Nessa classificação, o CONAMA dividiu as águas em águas doces, águas salinas e águas salobras, para as quais estabeleceu um total de nove classes, conforme sua utilização. As águas de melhor qualidade são classificadas como Classe Especial, sendo as demais classificadas, em ordem decrescente de qualidade, como águas de Classe 1 a 8. Os padrões de qualidade das águas, para as diversas classes, são definidas nesta Resolução, que apresenta uma extensa lista de características físicas e químicas. Nas águas de Classe Especial não são tolerados lançamentos de águas residuárias, domésticas e industriais, lixo e outros resíduos sólidos, substâncias potencialmente tóxicas, defensivos agrícolas, fertilizantes químicos e outros poluentes, mesmo que tratados. A lei da Política Nacional do Meio Ambiente estabelece alguns princípios que são fundamentais para a moderna gestão dos recursos naturais, como o princípio da prevenção e o princípio usuário-pagador (ou poluidor-pagador), a saber: · Princípio da prevenção: a Lei 6.938 estabelece que a Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivos a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental. · Princípio poluidor-pagador: a Lei 6.938 determina que o usuário é obrigado a contribuir pelo uso de recursos ambientais, enquanto o poluidor e o predador são obrigados a recuperar e/ou indenizar os danos causados. A Política Nacional do Meio Ambiente conta com uma série de instrumentos para sua implementação. Entre estes estão: o estudo de impacto ambiental, o zoneamento ambiental, os padrões de qualidade ambiental e o licenciamento de atividades. A obrigatoriedade do estudo de impacto ambiental está definida no Art. 9o da Lei 6.938/81, sendo que na Constituição Federal está disposto que é poder-dever do Poder Público exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se deve dar publicidade. Na Constituição do Estado do Rio Grande do Sul a exigência do estudo de impacto ambiental é feita no Art. 251. A lei a que se refere o parágrafo anterior deve ser federal, estadual ou municipal, sendo que, por força constitucional, cada entidade está obrigada a disciplinar, em lei própria, o estudo prévio de impacto ambiental e a forma de sua publicidade. 6 Em agosto de 1997, a Secretaria de Saúde e do Meio Ambiente do RS através da FEPAM e a Secretaria de Obras Públicas, Saneamento e Habitação através do Departamento de Recursos Hídricos (DRH), com a participação do Instituto Riograndense do Arroz (IRGA), a Federação da Agricultura no Estado do Rio Grande do Sul (FARSUL), a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (FEDERARROZ), a Federação de Cooperativas de Arroz do Rio Grande do Sul (FEARROZ) e a Federação das Cooperativas de Trigo e Soja do RS (FECOTRIGO), assinaram convênio, a fim de possibilitar a regularização de todos os irrigantes do RS e facilitar o "cadastramento ambiental" e o licenciamento ambiental. O convênio estabelece que ficam obrigados a realizar o cadastramento ambiental, junto à FEPAM, as obras hidráulicas para fins agrícolas já existentes na data de assinatura do convênio, em qualquer região do estado. O cadastramento deve ser feito por irrigantes (preferentemente os proprietários da terra), com a finalidade de que a FEPAM e o DRH possam conhecer o universo do passivo ambiental referente aos empreendimentos existentes e não licenciados ou autorizados por esses órgãos. Para realizar o Cadastramento Ambiental, o produtor deve preencher um formulário, entregá-lo na FEPAM e pagar uma taxa. O cadastramento foi uma solução paliativa,encontrada para regularizar a situação e consiste no preenchimento de um formulário. Este preenchimento, apesar de poder ser feito pelo próprio produtor, geralmente requer que seja preenchido por um técnico, sendo constituído, entre outros itens por: identificação do empreendedor, localização do empreendimento, classificação da obra, cultura principal, produção pecuária, recursos humanos disponíveis, dados da propriedade tais como área e obras, recursos hídricos existentes na região, e finalidade do seu uso, captação de água, descrição do recurso hídrico, sistema de irrigação, águas de retorno e suas características, caracterização ambiental (cobertura vegetal, relevo, solos, espécies vegetais e animais predominantes), práticas agrícolas (manejo do solo, uso de agroquímicos, etc.), avaliação de impactos ambientais e medidas de conservação/preservação empregadas na área. Também deve ser anexado um croqui da propriedade. Feito este cadastramento, a FEPAM emite um certificado de obra hidráulica decorrente de atividade agrícola. Quando foi implantado o sistema de cadastramento ambiental, o cadastramento dos irrigantes localizados nas bacias hidrográficas dos rios Negro, Santa Maria, Ibirapuitã, Quarai, Butui e Icamaquã, devido aos conflitos decorrentes do déficit de água nestas bacias e situados nas lagoas costeiras (de Torres ao Chuí), por serem áreas ambientalmente frágeis, permitiria que o licenciamento ambiental e a outorga da água fosse feito num prazo de 3 anos, a partir da data que a FEPAM emitisse o certificado do cadastramento. O demais irrigantes que fizessem o cadastramento teriam um prazo de 5 anos para apresentar a solicitação de licenciamento ambiental e a outorga da água. 2.4. Constituição de 1988 A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e futuras gerações". A constituição trata do tema "água" em várias seções. Quanto à definição da propriedade da água, a Constituição estabelece, como bens da União, "os lagos, rios 7 e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países ou se estendam a território estrangeiro ou deles provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;" e "os potenciais de energia hidráulica". Estão também incluídos, como bens da União, o mar territorial, as praias fluviais e marítimas, os recursos naturais da plataforma continental, os terrenos de marinha e seus acrescidos e os terrenos marginais, bem como alguns tipos de ilhas. A Constituição define como bens dos Estados todas as demais águas superficiais, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União. Compete à União: a) planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações; b) instituir um sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; c) instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos. A constituição Federal define, claramente, a competência privativa da União para legislar em matéria de águas, atribuindo aos Estados competência para, em conjunto com a União, proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas. Essas matérias, meio ambiente e poluição, têm estreita correlação com a preservação da qualidade das águas superficiais, subterrâneas e mesmo no vapor da atmosfera (problemas de chuvas ácidas já ocorrem em regiões altamente industriais com ar poluído). Também é atribuída aos Estados competência para, juntamente com a União, registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões do uso das águas. Esse registro de concessão de águas deve fazer parte do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, visto que não faria sentido um sistema de administração de um recurso sem os registros de suas concessões. Deve-se entender, então, que este dispositivo constitucional precisa garantir o direito de acompanhar o desenvolvimento do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. A Constituição aborda a questão da irrigação como meio de redução das desigualdades sociais e fator de desenvolvimento. A "prioridade para o aproveitamento econômico e social dos rios e das massas de água represadas, ou represáveis nas regiões de baixa renda, sujeitas a secas periódicas" é apontada como uma das formas de incentivo regional. Nas áreas referidas, a União incentivará a recuperação de terras áridas e irá cooperar com os pequenos e médios proprietários rurais para o estabelecimento, em suas glebas, de fontes de água e de pequena irrigação. Nas Disposições Transitórias está estabelecido que "Durante quinze anos, a União aplicará, dos recursos destinados à irrigação: I - vinte por cento na região Centro-Oeste; e) II - cinqüenta por cento na região Nordeste, preferencialmente no semiárido". Em síntese, a Constituição delega ao Poder Público e à sociedade o dever de proteger, preservar e fiscalizar a qualidade ambiental, a qual está diretamente relacionada à qualidade dos recursos hídricos. 2.5. A Constituição Estadual e a Lei do Sistema Estadual de Recursos Hídricos 8 A Lei Nº 10.350, de 30 de dezembro de 1994, instituiu o Sistema Estadual de Recursos Hídricos (SERH), regulamentando o artigo 171 da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul. O referido artigo determina que o SERH deve ser integrado ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. O SERH tem por objetivos: a) a melhoria de qualidade dos recursos hídricos do Estado; e b) regular abastecimento de água às populações urbanas e rurais, às industrias e aos estabelecimentos agrícolas. Os objetivos acima devem ser alcançados adotando as bacias hidrográficas como unidades básicas de planejamento e gestão, observados os aspectos de uso e ocupação do solo. O SERH deve estabelecer os critérios de outorga de uso da água, garantindo o respectivo acompanhamento, fiscalização e tarifação, de modo a proteger e controlar a água, buscando racionalizar e compatibilizar os usos, inclusive quanto à construção de reservatórios, barragens e usinas hidrelétricas. O abastecimento das populações é definido como o uso prioritário no aproveitamento das águas superficiais e subterrâneas. Um dos pontos mais importantes da Constituição Estadual, em relação ao gerenciamento dos recursos hídricos, é a garantia de aplicação, na própria bacia, dos recursos arrecadados pelo uso da água, que deverão ser utilizados especificamente para a realização de intervenções destinadas à gestão dos recursos hídricos. Deve ser salientada a preocupação em priorizar ações preventivas, que garantam a conservação dos recursos hídricos e ambientais. Existe um esforço no sentido de compatibilizar os processos de concessão do licenciamento ambiental e da outorga de direitos de uso. Este esforço já aparece no processo de cadastramento ambiental de irrigantes, como mencionado no item relativo à política ambiental. Ao analisar os objetivos da Política Estadual de Recursos Hídricos, estabelecidos na Lei 10.350, pode-se destacar os seguintes pontos: · Promoção da harmonização entre os múltiplos usos dos recursos hídricos; · Assegurar o abastecimento das populações humanas; · Viabilizar a continuidade e desenvolvimento das atividades econômicas; · Combater os efeitos adversos das enchentes, estiagens e da erosão do solo; · Impedir a degradação e promover a melhoria de qualidade dos recursos hídricos; · Promover o aumento da disponibilidade de água, contemplandoas necessidades das gerações atuais e futuras. A gestão dos recursos hídricos conta com uma série de instrumentos para a sua implementação. Estes instrumentos são: · Outorga de uso: é uma autorização ou licença de uso, emitida pelo Departamento de Recursos Hídricos, quando o uso causar alteração quantitativa nas condições da água, e pelo órgão ambiental do Estado, quando se tratar de alteração qualitativa. A concessão de outorga está condicionada às prioridades de uso estabelecidas no Plano Estadual de Recursos Hídricos e no Plano de Bacia Hidrográfica. 9 · Cobrança pelo uso da água: é definida nos planos de Bacia Hidrográfica, levando em consideração as características quantitativas e qualitativas dos recursos hídricos disponíveis e as particularidades de cada tipo de uso, em relação a alterações nas referidas características. A cobrança só poderá ocorrer após a definição das intervenções a que serão destinados os recursos. · Rateio de custos: visa distribuir os custos das intervenções de uso múltiplo, ou de interesse comum ou coletivo, entre os possíveis beneficiários. É prevista a possibilidade de uso de subsídios, quando houver interesse público relevante. A participação da sociedade, no gerenciamento dos recursos hídricos, está garantida pela formação, em cada bacia hidrográfica, de um Comitê de Gerenciamento de Bacia Hidrográfica. Estes comitês são responsáveis pela organização das atividades dos agentes públicos e privados, relacionados aos recursos hídricos de uma forma compatível com as metas do Plano Estadual de Recursos Hídricos, visando a melhoria da qualidade dos corpos de água. Os Comitê devem apresentar a seguinte constituição: 40% de votos para representantes dos usuários da água, 40% de votos para representantes da população da bacia e 20% para os representantes dos diversos órgãos da administração direta federal e estadual, atuantes na região. A definição da composição de cada comitê deve refletir os diversos interesses relativos ao uso da água na bacia e o peso de cada atividade, tanto em termos econômicos como em termos de impacto sobre os recursos hídricos. Entre as diversas atribuições dos Comitês estão: · Encaminhar ao Departamento de Recursos Hídricos a proposta relativa à bacia hidrográfica, contemplando, inclusive, objetivos de qualidade, para ser incluída no anteprojeto de lei do Plano Estadual de Recursos Hídricos; · Aprovar o Plano da respectiva bacia hidrográfica e acompanhar sua implementação; · Propor ao órgão competente o enquadramento dos corpos de água da bacia hidrográfica em classes de uso e conservação; · Aprovar os valores a serem cobrados pelo uso da água da bacia hidrográfica; · Compatibilizar os interesses dos diferentes usuários da água, dirimindo, em primeira instância, os eventuais conflitos. 2.6. Lei do Sistema Nacional de Recursos Hídricos A Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Esta lei estabeleceu os fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, quais sejam: · A água é um bem de domínio público; · A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; · Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais; · A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; 10 · A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; · A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. A Lei Federal é muito semelhante à lei gaúcha de recursos hídricos, mantidas, naturalmente, as devidas proporções. A Lei Federal instituiu as Agências de Água que deverão exercer a função de secretaria executiva do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica, tendo a mesma área de atuação de um ou mais Comitês de Bacia Hidrográfica. Entre as diversas atribuições das Agências de Água estão: · Manter balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos em sua área de atuação; · Manter o cadastro de usuários de recursos hídricos; · Efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de recursos hídricos; · Analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financiados com recursos gerados pela cobrança pelo uso de recursos hídricos e encaminhá-los à instituição financeira responsável pela administração desses recursos; · Promover os estudos necessários para a gestão dos recursos hídricos em sua área de atuação; · Elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica; 3. DISPONIBILIDADE DE ÁGUA E AGRICULTURA É a água um bem inesgotável? Esta pergunta aparece logo no início do presente texto e, para respondê-la, algumas considerações devem ser feitas. Em primeiro lugar, a disponibilidade de água deve ser avaliada sob dois aspectos: o da quantidade e o da qualidade. Quando a água é insuficiente para atender toda a demanda de seus diversos usuários, seja em termos quantitativos, seja em termos qualitativos, surgem os conflitos entre os usuários. Muitas vezes, estes conflitos têm no Poder Judiciário o seu mediador final. Em uma situação de conflito, nem sempre os usos que são contemplados refletem a melhor alternativa para a alocação da água, do ponto de vista da sociedade como um todo. Quando isto acontece, o desenvolvimento econômico e social não atinge os níveis que poderiam ser atingidos, se houvesse a correta alocação dos recursos hídricos disponíveis. Esta realidade torna clara a importância de um eficiente sistema de gerenciamento de recursos hídricos. A idéia de que a água é um recurso abundante e inesgotável, tem sua origem em uma mentalidade forjada em épocas passadas, quando as atividades humanas não tinham a intensidade e o poder de degradação dos recursos naturais que têm atualmente. A cada dia que passa, com o aumento da demanda pela água, bem como da degradação 11 de sua qualidade, mais claro se torna o fato de que a água é, na verdade, um recurso escasso e, portanto, dotado de valor econômico. A maioria dos especialistas prevê que a disputa pela água será, em um futuro não muito distante, a principal causa de conflitos regionais e internacionais. Esta crescente demanda pela água está fazendo com que este recurso seja considerado como “A commodity da virada do século”. O fato de que aproximadamente 75% da superfície terrestre é coberta por água, propicia a falsa noção de que existe grande disponibilidade de água. Entretanto, deve ser considerado que, do volume total de água existente no mundo, estima-se que, em termos aproximados, apenas 0,26% seja de água diretamente disponível para os usos atuais, como ilustra a tabela a seguir. Tabela 1: Distribuição da água no globo terrestre Tipo/Localização Volume (%) Água salgada dos mares e oceanos 97,5 Água aprisionada nas calotas polares, geleiras e água subterrânea profunda 2,24 Água facilmente disponível 0,26 Fonte: Shiklomanov et al., 1996, apud WMO, 1997. O Brasil é um dos países com a maior disponibilidade de água no mundo. Entretanto, isto não significa que não ocorram situações de escassez e conflito. Os problemas de distribuição de água no Brasil, não se restringem à ocorrência de secas no sertão nordestino. Na verdade, aproximadamente 75% da água disponível no Brasil, está localizada na Bacia Amazônica, onde se encontra apenas 5% da população brasileira, enquanto que os demais 25% estão distribuídos pelas demais regiões, devendo atender à demanda de 95% da população.No Rio Grande do Sul, que é um estado privilegiado em termo de disponibilidade de água, as situações de escassez e conflito estão se tornando cada vez mais freqüentes. Na bacia do Rio dos Sinos, por exemplo, ocorrem graves problemas de degradação da qualidade da água, pela poluição gerada pelas atividades industriais, o que tem ocasionado o aumento dos custos de tratamento da água para atendimento das demandas de abastecimento da população. Em outras regiões, como nas bacias hidrográficas dos rios Negro, Santa Maria, Ibirapuitã, Quarai, Butui e Icamaquã, ocorrem problemas de conflito entre o uso da água para a irrigação e o abastecimento da população, durante o verão. Na região de entorno da Estação Ecológica do Taim, nos municípios de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, existe uma disputa judicial sobre o manejo da água, envolvendo a preservação ambiental e a irrigação das lavouras de arroz. Estima-se que 95% da demanda de água existente, se deva ao uso pelo setor agrícola, principalmente para atender às demandas de irrigação. No Rio Grande do Sul, a irrigação do arroz mobiliza aproximadamente 15,5 bilhões de metros cúbicos de água, em cada safra, durante um período de aproximadamente 120 dias. Para que se tenha uma noção de grandeza sobre o que representa este volume, basta dizer que corresponde a 30% da produção anual do Rio Nilo, ou 2,5% da produção anual do Rio Paraná. 12 O uso de água na irrigação se caracteriza por ser um uso consumptivo, ou seja, a quase totalidade da água captada é realmente consumida (na maioria das culturas), não retornando diretamente para a fonte de captação. Não é o caso da água utilizada para a geração de energia elétrica ou para o resfriamento de caldeiras. Um dos maiores problemas relacionados com o uso da água na irrigação, é o uso excessivo de água, devido ao mal dimensionamento dos sistemas. Como conseqüências, pode-se citar: - A erosão, causada pelo escoamento sobre a superfície do solo; - A lixiviação de nutrientes e agroquímicos, causada pela percolação do excesso de água para as camadas mais profundas do solo, podendo ocorrer a contaminação de aqüíferos; - O uso de estruturas hidráulicas maiores e, portanto, mais caras; - O consumo excessivo de energia, nas estações de bombeamento; Pelo exposto acima, percebe-se que, além de afetar a disponibilidade de água em termos quantitativos, o mal dimensionamento dos sistemas de irrigação possui efeitos negativos sob os pontos de vista econômico e ambiental. A importância da irrigação para a agricultura e sua tendência de crescimento, pode ser avaliada pela constatação de que, no Brasil, aproximadamente 4% da área agrícola é irrigada, sendo a área irrigada responsável por 16% da produção e 25% da renda gerada. Outro indicativo, é a lista de prioridades do Departamento de Aproveitamento Hidroagrícola, ligado ao Ministério do Meio Ambiente, Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, entre as quais se destacam: - Conscientização da importância da irrigação; - Promoção da agricultura irrigada; - Desenvolvimento tecnológico da agricultura irrigada; - Formação de recursos humanos; - Máquinas e equipamentos para a agricultura irrigada; - Modernização dos projetos públicos. 4. ATUAÇÃO PROFISSIONAL Uma das perguntas feitas no início deste texto foi: "Qual profissional é responsável pela gestão da água?". Considerando todos os aspectos abordados, percebe-se que a gestão dos recursos hídricos possui desdobramentos econômicos, sociais e ambientais. Assim sendo, não cabe a um único profissional esta responsabilidade, mas à sociedade como um todo, envolvendo profissionais das mais diversas áreas. Em relação ao uso da água no setor agrícola, existe um espaço importante para profissionais que tenham formação em áreas específicas, como Hidráulica, Hidrologia, Irrigação, Drenagem, Saneamento Rural, Estruturas Hidráulicas, Economia e Sociologia Rural, Erosão e Sedimentação e Uso e Conservação de Solos. Para que um profissional tenha sucesso nesta área, é fundamental que esteja em sintonia com as tendências do setor, que incluem: 13 - A consideração da água como um bem escasso, dotado de valor econômico; - A busca constante do aumento da eficiência, com redução de custos e uso de recursos; - A preocupação com o desenvolvimento sustentável; - O incentivo ao desenvolvimento tecnológico; - A formação de assistência técnica especializada; - A crescente demanda por pessoal capacitado. 5. CONCLUSÃO A crescente demanda de água, em termos quantitativos, aliada ao aumento da degradação dos recursos naturais, especialmente da água, resultou na geração de sérios conflitos entre seus múltiplos usos. Esta situação suscitou o surgimento de novos modelos de gerenciamento dos recursos hídricos. A Lei 9.433, de 1997, que instituiu o Sistema Nacional de Recursos Hídricos e a Lei 10.350, de 1994, que instituiu o Sistema Estadual de Recursos Hídricos, representam a concretização desta mudança no Brasil e no Rio Grande do Sul. O novo modelo de gestão se caracteriza pela consideração da água como bem escasso, dotado de valor econômico, pela consideração da variável ambiental e pela participação da sociedade no processo de tomada de decisão. O grande peso da agricultura no uso dos recursos hídricos, torna necessária a formação de profissionais com uma nova mentalidade, capacitados para atuarem com uma visão ampla e de longo prazo a respeito dos aspectos econômicos, sociais e ambientais envolvidos no uso dos recursos hídricos. 6. BIBLIOGRAFIA E LEITURAS RECOMENDADAS Além da legislação citada: CÁNEPA, E.M., TAVARES, V.E.Q., PEREIRA, J.S. et al. Perspectivas de utilização de instrumentos econômicos na política e gestão ambiental: o caso dos recursos hídricos. Organizado por HAUSEN, E.C., TEIXEIRA, O.P.B., ÁLVARES, P.B.. Temas de direito ambiental - uma visão interdisciplinar. Porto Alegre, 2000, p.191-200. CHOMENKO, L. Impactos negativos do arroz irrigado nos ecossitemas e recursos hídricos In. Anais da XXII Reunião do Arroz Irrigado. Baln. Camboriu, Santa Catarina. 1997. GANEM, N. A irrigação e a lei. Brasília. Editerra Editorial Ltda. 1987. 176p. GRANZIERA, M. L. Direito de águas e meio ambiente. São Paulo. Ícone Ed. 1993. 136p. LANNA, A. E. Gerenciamento de bacia hidrográfica: conceitos, princípios e aplicações no Brasil. Instituto de Pesquisas Hidráulicas/UFRGS. Recursos Hídricos, Publicação 29. Porto Alegre. 1993. 70p. MACHADO, P. A. Direito ambiental brasileiro. São Paulo. Helvética Editorial Ltda. 4 ed. 1992. 606p. TAVARES, V.E.Q. O novo panorama da água. Enfoque Sul, Pelotas, v.1, p.16-19,1999. www.fepam.rs.gov.br/central/central.asp (página da FEPAM sobre Licenciamento Ambiental) 14 www.sema.rs.gov.br/sema/html/rechidro.htm (página da Secretaria Estadual de Meio Ambiente sobre o Sistema Estadual de Recursos Hídricos). ZAFFARONI, E. e TAVARES, V.E.Q. O licenciamento ambiental dos produtores de arroz irrigado no Rio Grande do Sul, Brasil. In: II ENCUENTRO DE LAS AGUAS, 1999, Montevideo. Anais do II Encuentro de las Aguas. Montevideo: 1999. disponível em: www.iica.org.uy/p2-8.htm ou www.ambiental.net/agroverde/LicenciaArrozRS.htm SHIKLOMANOV et al. Assessment of water resources and water availability in the world. State Hydrological Institute. St. Petersburg. Russia, 1996. WMO. The world's water: is there enough? World Meteorological Organisation. WMO-No. 857. 22p. 1997. CAPÍTULO II O CICLO HIDROLÓGICO 1 -INTRODUÇÃO 15 O movimento contínuo da água, passando por diferentes estados e fases, entre os continentes, oceanos e a atmosfera é chamado de ciclo hidrológico. O ciclo hidrológicoé impulsionado por energia, proveniente do sol, e pela energia gravitacional. Os processos chaves do ciclo hidrológico são: evaporação, transpiração, precipitação e a infiltração. Além de outros processos como a respiração e a combustão. A evaporação se dá pela energia fornecida pelo sol. Na atmosfera, o vapor da água em forma de nuvens pode ser transformado em chuva, neve ou granizo, dependendo das condições do clima. Essa transformação provoca o que se chama de precipitação. A precipitação ocorre sobre a superfície do planeta, tanto nos continentes como nos oceanos. Nos continentes, uma parte das precipitações é devolvida para a atmosfera, graças à evapotranspiração: processo conjunto que representa a evaporação na superfície das águas e do solo, transpiração dos animais e plantas. Outra parte acaba desaguando nos oceanos depois de percorrer os caminhos recortados pelos rios. Os oceanos, portanto, recebem água de duas fontes: das precipitações e do desaguamento dos rios, e perdem pela evaporação através da energia solar. Na atmosfera, o excesso de vapor sobre os oceanos é transportado para os continentes, em sentido inverso ao desaguamento. Toda a água que sai dos oceanos é para ele devolvida, sob a forma de precipitação ou de fluxos de água líquida. A quantidade total de água na Terra permanece constante. Todo esse processo está integrado com o desenvolvimento da biosfera e com o fluxo de calor e luz que vem do Sol e do interior da Terra. A forma líquida da água existe graças à temperatura adequada de nosso planeta, que é mantida em parte pela radiação solar e em parte pelo calor gerado pelas substâncias radioativas nas camadas profundas do nosso planeta. A atmosfera exerce um papel fundamental na manutenção da temperatura, através do efeito estufa. Os oceanos têm um papel importante na remoção do gás carbônico da atmosfera, controlando a sua concentração e funcionando como um mediador das suas influências. Essa importante função dos oceanos está sendo prejudicada pelo aumento de temperatura global, que faz com que o gás carbônico absorvido diluído nas águas oceânicas retorne a atmosfera, aumentando a concentração desses gases e, conseqüentemente, o efeito estufa. Na "contabilidade global", chove mais nos continentes que nos oceanos, e os oceanos evaporam mais que os continentes. Nos continentes, os locais onde a precipitação é abundante surgem as florestas e onde há escassez de precipitação, estão os desertos. Explorar a relação entre as características climáticas, tais como precipitação, temperatura e altitude, com os tipos de vegetação, faz parte da Biogeografia. 16 Figura 1 – Sistema hidrológico.(adaptado de http://www.higiservice.com.br - acessado em 11/05/2004). O ciclo hidrológico, em um sentido mais amplo, pode ser considerado como um grande sistema, ou seja, uma estrutura alimentada por uma entrada e que produz uma resposta. Por exemplo, um rio é um exemplo de sistema, ou seja, recebe as vazões que chegam nele (entrada), gerando além de vazões efluentes também energia (saída). Os sistemas hidrológicos podem se enquadrados em três categorias: Valores médios: relaciona-se a definição de valores médios anuais e ou mensais da variável hidrológica envolvida no processo (precipitação, vazão, evaporação, nível freático, etc...). Estes valores médios relacionam-se a grandes áreas geográficas, que geralmente são heterogêneas do ponto de vista climático, geográfico e topográfico. Os valores médios são utilizados para planejamento de recursos hídricos e definição de políticas gerais. Valores extremos: refere-se aos valores máximos ou mínimos da variável hidrológica. Estes valores, juntamente com critérios econômicos, permitem determinar dimensões de vertedores, alturas de barragens, capacidade de bombas, altura de pontes, volumes de reservatórios, obras e irrigação, etc...Estes valores são utilizados nas especificações de obras hidráulicas. Séries temporais: são utilizadas quando necessita-se da história completa de um sistema hidrológico a um dado impulso (operação de obras hidráulicas). 2 BACIA HIDROGRÁFICA Bacia Hidrográfica é o conjunto de terras drenadas por um rio principal, seus afluentes e subafluentes. Essa idéia está associada à noção da divisores de água e características dos cursos de água, principais e secundários, denominados afluentes e subafluentes. Uma bacia hidrográfica evidencia a hierarquização dos rios, ou seja , a organização natural por ordem de menor que vai das partes mais altas para as mais baixas. A bacia hidrográfica é uma área definida topograficamente, drenada por um curso d'água ou um sistema conectado de cursos d'água tal que toda a vazão efluente seja descarregada através de uma simples saída, no caso, os exutórios. O estudo de bacia hidrográfica é importante pois esta contém o conceito de integração na ciência ambiental. Seu uso e aplicação para estudos de problemas ambientais são fundamentais pois esta contém as de informações físicas, biológicas, sócio populações que ali se estabelecem. Figura 2 – Representação de uma bacia hidrográfica e seus componentes ( Agência Nacional de Águas) A bacia hidrográfica é delimitada por uma periféricas, denominada divisor de águas na seção de saída. A seção de saída é a garganta mais baixa da linha cumeada. O comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfic climáticos e fisiográficos. Os fatores climáticos que mais afetam o comportamento hidrológico são: - Precipitação - Transpiração - Evaporação Os fatores fisiográficos que mais afetam são: - Condições geológicas e topográficas da su - Tipo de solo - Uso da terra Bacia Hidrográfica é o conjunto de terras drenadas por um rio principal, seus afluentes e subafluentes. Essa idéia está associada à noção da existência de nascentes, divisores de água e características dos cursos de água, principais e secundários, denominados afluentes e subafluentes. Uma bacia hidrográfica evidencia a hierarquização dos rios, ou seja , a organização natural por ordem de menor volume para os de maior, que vai das partes mais altas para as mais baixas. A bacia hidrográfica é uma área definida topograficamente, drenada por um curso d'água ou um sistema conectado de cursos d'água tal que toda a vazão efluente seja vés de uma simples saída, no caso, os exutórios. O estudo de bacia hidrográfica é importante pois esta contém o conceito de integração na ciência ambiental. Seu uso e aplicação para estudos de problemas ambientais são fundamentais pois esta formações físicas, biológicas, sócio-econômica e inclusive cultural das populações que ali se estabelecem. Representação de uma bacia hidrográfica e seus componentes ( A bacia hidrográfica é delimitada por uma linha que passa pelo cume das elevações divisor de águas, cuja linha corta a corrente somente uma vez na seção de saída. A seção de saída é a garganta mais baixa da linha cumeada. O comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica, é afetado por fatores Os fatores climáticos que mais afetam o comportamento hidrológico são: Os fatores fisiográficos que mais afetam são: Condições geológicas e topográficas da superfície de infiltração 17 Bacia Hidrográfica é o conjunto de terras drenadas por um rio principal, seus existência de nascentes, divisores de água e características dos cursos de água, principais e secundários, denominados afluentes e subafluentes. Uma bacia hidrográfica evidencia a hierarquização volume para os de maior, A bacia hidrográfica é uma área definida topograficamente, drenada por um curso d'água ou um sistema conectado de cursos d'água tal que toda a vazão efluente seja vés de uma simples saída, no caso, os exutórios. O estudo de bacia hidrográfica é importante pois estacontém o conceito de integração na ciência ambiental. Seu uso e aplicação para estudos de problemas ambientais são fundamentais pois esta econômica e inclusive cultural das Representação de uma bacia hidrográfica e seus componentes (ANA - linha que passa pelo cume das elevações , cuja linha corta a corrente somente uma vez na seção de saída. A seção de saída é a garganta mais baixa da linha cumeada. a, é afetado por fatores 18 - Características físicas da bacia Pode-se dizer que um dos principais objetivos da hidrologia é desenvolver relações físico-matemáticas que apoiadas em amostragens ou medições diretas, quantifiquem razoavelmente os recursos hídricos disponíveis para uso e consumo do homem nas suas diversas atividades. Tipos de bacia hidrográficas Bacias representativas: são típicas de uma determinada região hidrológica, ou seja, uma região onde exista uma certa homogeneidade do ponto de vista hidrológico. Uma bacia representativa deve permanecer o mais inalterada possível dentro do período de estudo. Os tamanhos destas bacias variam de 1 a 250 km2, podendo chegar até 1000 km2. Bacias experimentais: são bacias onde a vegetação é relativamente uniforme e é possível alterar pelo menos uma das condições naturais para estudar o efeito sobre o comportamento hidrológico da bacia. Seu tamanho é limitado em 4 km2. Geralmente se requer que o executor da pesquisa seja proprietário ou locatário da terra. Em relação ao tamanho da bacia hidrográfica ela pode ser classificada como pequena ou grande. Bacia hidrográfica pequena – quando o efeito do escoamento superficial não canalizado sobre o pico de descarga é predominantemente ao efeito decorrente do escoamento superficial canalizado; Bacia hidrográfica grande – são aquelas em que o escoamento superficial não canalizado sobre o pico de descarga, não predomina sobre o efeito do escoamento superficial canalizado. Entende-se por escoamento superficial canalizado aquele que ocorre no curso d’água e por escoamento superficial não canalizado aquele que ocorre na superfície do terreno. 3 BALANÇO HÍDRICO Entende-se por Balanço Hídrico como a contabilização das quantidades de água que entram e que saem de uma camada de solo que vai de sua superfície até uma determinada profundidade, durante um certo período de tempo. O volume de solo considerado depende da cultura em estudo, pois deve englobar seu sistema radicular. Assim sendo, considera-se como limite superior deste volume a superfície do solo e como limite inferior, a profundidade do sistema radicular da cultura. Se a quantidade de água que entra (Qe) neste volume de solo num período t2 – t1 for maior do que a quantidade de água que dele sai (Qs), durante o mesmo período, o saldo de água será positivo e se sair mais do que entrar, negativo. Este saldo de água no solo 19 é obtido pela variação do armazenamento de água (Dh) do perfil de solo durante o período considerado, isto é, Dh = Qe – Qs, onde Dh = h2 – h1, sendo h1 a armazenagem no instante t1 (início do período) e h2 a armazenagem no instante t2 (fim do período). O balanço hídrico é importante para um acompanhamento da quantidade de água armazenada no solo. Esta quantidade deve ser mantida em níveis ótimos para maximizar a produtividade agrícola. Assim, através do balanço hídrico, pode-se estabelecer critérios para a drenagem de um solo ou para irrigação. A quantidade de água que entra pode consistir de precipitação (P) e/ou irrigação (I). Portanto: Qe = P + I A quantidade de água que sai pode consistir de drenagem interna ou drenagem profunda (DP), da evapotranspiração (ET) e do escorrimento superficial (RO). Portanto: Qs = DP + ET + RO Numa situação onde se deseja avaliar o balanço hídrico de uma cultura agrícola, teríamos o que mostra a figura 3. Nessa figura, acha-se esquematizado um corte de uma cultura indicando os componentes do balanço hídrico. Figura 3 – Representação esquemática dos fluxos do balanço hídrico. ENTRADAS SAÍDAS P – precipitação ET – evapotranspiração I – irrigação Ro – escorrimento superficial (saída) O – orvalho DLo – drenagem lateral (saída) Ri – escorrimento superficial (entrada) DP – drenagem profunda DLi – drenagem lateral (entrada) AC – ascensão capilar Precipitação - O processo de ganho de água pelo solo realiza-se, principalmente, através das precipitações pluviais e pela irrigação. O solo, recebendo essa água, vai tendo seus poros preenchidos. Em relação às precipitações a água cedida à superfície do P I O ET Ri Ro DLi DLo AC DP P I O ET Ri Ro DLi DLo AC DP 20 solo é função da intensidade e da duração do fenômeno. A quantidade de água que infiltra no solo também é função do tipo de precipitação, sendo ainda função da textura, profundidade da camada impermeável e inclinação da superfície (Ometto, 1981). Ascensão capilar - Em períodos sem chuva pode ocorrer um gradiente de potencial negativo, dependendo do referencial adotado, indicando que a água entra na camada considerada para o balanço. Trata-se de um fluxo de água de baixo para cima, denominado de ascensão capilar (Reichardt, 1990). Esta situação ocorre somente depois que a drenagem profunda cessou e o gradiente matricial passa a ser negativo e de intensidade maior que o gravitacional, esta situação ocorre geralmente em solos com lençol freático pouco profundo. Estas condições de fluxo ascendente ocorrem, geralmente, em condições de solo com a umidade menor que a capacidade de campo. Em solos com lençol freático muito profundo, a ascensão capilar é desprezada em cálculos de balanço hídrico. Em situações especiais, como por exemplo, em várzeas, onde o lençol freático está próximo à superfície do solo a contribuição da ascensão capilar pode ser significativa. Em tais situações, a ascensão capilar pode ser considerável, chegando a igualar-se com a evapotranspiração. O suprimento total de água para as plantas pode se dar por esse processo a partir do lençol freático. Escorrimento superficial - Quando a água da chuva não se infiltra totalmente no solo, o excesso escorre por sua superfície, depositando-se em depressões. A água que não infiltra, escorre e forma a enxurrada e o processo denomina-se escorrimento superficial ou “run off”. Vários fatores afetam o processo de escorrimento superficial, sendo os principais a declividade do terreno e as características de infiltração do solo. Pode-se dizer que, em princípio, há enxurrada toda vez que a intensidade da chuva ultrapassar a velocidade de infiltração da água no solo. Quando a declividade do terreno é nula, mesmo que a intensidade da chuva seja maior que capacidade de infiltração do solo, toda a água acaba se infiltrando ou dependendo da umidade empoçando na superfície do solo, e o valor da enxurrada é nulo. Havendo declividade diferente de zero, potencialmente pode haver enxurrada. Evapotranspiração - A evapotranspiração constitui a transferência de água na forma de vapor, do sistema solo – planta para a atmosfera. Por ser a água total perdida pelo sistema, deve ser determinada com o maior cuidado possível, a fim de ser reposta e manter sempre o sistema em cultivo nas condições de máximo relacionamento com o meio. Sabe-se que a planta retém em torno de 1 a 2 % da água que utiliza, portanto, quanto maior a quantidade de água utilizada, melhor o desempenho das plantas. Para a ocorrência deste fenômeno, é necessária a entrada de energia para levar a água do estado líquido ao gasoso, sendo que esta energia provém, quase que totalmente, da radiação solar. Evaporação - A evaporação é um fenômeno físico de mudança da fase líquida para vapor, da água presente em condições naturais. A grande importância do processo resume-se noaspecto quantitativo, haja vista o grande volume de água que deixa seu recipiente original, seja o solo, seja a superfície livre d’água. É uma perda indesejável, do ponto de vista agronômico, pois é uma água que sai do solo sem participar das atividades biológicas da planta. As perdas por evaporação são importantes nos períodos em que o solo se encontra sem vegetação, quando a vegetação 21 é pequena (início de culturas anuais) ou quando existe área grande de solo nu entre as plantas (culturas perenes). Quando a cultura se desenvolve bem e cobre o solo com sua vegetação, a evaporação perde importância. Transpiração - A transpiração propriamente dita se dá na interface folha – atmosfera, onde ocorre a passagem do estado líquido para o de vapor. Trata-se da perda de água pelos estômatos e cutícula das plantas. A transpiração, até certo ponto, é uma perda desejável de água, pois esta água que passa pela planta e se perde na atmosfera, participa imprescindivelmente de suas atividades biológicas. Devido à diferenças de potencial total entre a água do solo e a água da raiz, caule e folhas, esta se move, geralmente, do solo para as raízes e destas para a parte aérea da planta e daí para a atmosfera. Em uma cultura bem estabelecida e desenvolvida, a taxa de transpiração é bem superior à taxa de evaporação. Fatores que afetam a evapotranspiração - Fatores meteorológicos - Radiação solar - A radiação solar torna-se um fator de considerável importância para fornecer as 585 cal.g-1 da água que passa do estado líquido ao de vapor. - Temperatura - Desde que as temperaturas do ar e da água dependem da radiação solar, espera-se estreita relação delas com as taxas de evapotranspiração. A temperatura da superfície da água governa a taxa em que as moléculas deixam e entram no ar envolvendo a massa aquosa. - Umidade do ar - A umidade do ar depende da temperatura, que age diretamente. A taxa de evaporação é proporcional à diferença entre as umidades real e de saturação do ar às temperaturas consideradas. À medida que a temperatura decresce numa mesma umidade absoluta do ar, haverá aumento na umidade relativa e queda na evaporação. - Vento - O movimento do ar, levando o ar úmido que envolve uma massa líquida até o ar seco, promove variação na perda de água pelas superfícies líquidas. Entretanto, sua influência vai até um certo valor crítico, quando outras variáveis podem atuar mais intensamente. O vento diminui a espessura da “camada limite” das folhas. No entanto, comparada à radiação solar, a velocidade do vento tem influência secundária nas taxas de evaporação, mas, em determinadas condições de umidade do ar, sua interferência tende a aumentar, à medida que a temperatura decresce. - Pressão Barométrica - Espera-se que um decréscimo na pressão barométrica seja acompanhado por um aumento na taxa de evaporação. No entanto, alterações na pressão barométrica são associados à mudanças em outros fenômenos meteorológicos, de sorte que o efeito individual da pressão é inevitavelmente mascarado. Por exemplo: as variações da pressão com a altitude nas áreas montanhosas são associadas a decréscimos da temperatura com a elevação, o que pode resultar em mais baixas taxas líquidas de perdas superficiais de água por evaporação com o aumento da altitude. - Fatores geográficos 22 - Qualidade da água - O aumento de 1% na salinidade da água faz decrescer em cerca de 1% a evaporação, devido à queda na pressão de vapor da água salinizada. O turvamento afeta o albedo e consequentemente o balanço de calor, tendo um efeito indireto. Profundidade, Forma e Tamanho de Massas de Água - No caso de evaporação de massas de água menores, como pequenos lagos, o regime de temperatura está estreitamente ligado ao do ar, o que não acontece com águas mais profundas, quando ocorrem atrasos no aquecimento e resfriamento. A evaporação de superfícies abertas de água decresce com o aumento da área, sendo importante na avaliação das perdas de água das culturas, quando se usam como referência tanques de evaporação; outros aspectos devem ser considerados, como a refletibilidade do tanque e do meio que o envolve. Para superfícies contínuas de água, há interferência na umidade relativa do ar. - Fatores de Solo - Teor de umidade - A evaporação da água do solo é meramente a evaporação dos filmes de água envolvendo os grânulos de solo e da água que preenche os vazios. Logo, o teor de umidade torna-se o fator obviamente mais direto, influindo na evaporação, decrescendo rapidamente com a queda da umidade do solo, devido às forças de retenção terem sua atuação ampliada. A primeira camada superficial (± 10 cm) tem efeito decisivo na evaporação da água do solo; o subsolo pode estar saturado, mas, devido à lenta movimentação da água, a evaporação cai drasticamente se a camada superficial estiver seca. O tipo de solo torna-se então primordial, com os solos argilosos tendo maior facilidade na condução de água, quando não saturados, que os de textura mais grosseira e os não estruturados. - Profundidade do lençol freático - É um fator importante porque, se estiver próximo da superfície, a evaporação irá alcançar os valores mais elevados e decrescerá tanto rapidamente quanto o lençol baixar. Este decréscimo é tão mais rápido quanto mais arenoso for o solo. - Coloração do solo - É um fator diretamente ligado às características reflectivas; os solos escuros, absorvendo mais calor que os claros, terão aumentadas suas temperaturas superficiais, influindo significativamente na taxa de evaporação. - Fatores da planta A presença de vegetação produz sombreamento no solo, diminuindo a temperatura, a incidência de ventos, podendo aumentar a umidade relativa do ar próxima do solo. Considerando a planta em si, a transpiração decresce com a queda dos potenciais de água no solo. Em qualquer hora do dia, a transpiração é afetada por fatores climáticos e das folhas e a absorção de água é afetada pelas raízes e pelo solo. Drenagem – O processo de drenagem ocorre quando o solo esta com uma quantidade de água em excesso no seu perfil, promovida por uma chuva ou irrigação. O estudo da perda de água por drenagem dependerá do tipo de cultura implantada no local 23 estudado, mais especificamente do seu sistema radicular. Toda a água drenada abaixo do sistema radicular onde esta não é mais alcançada por este sistema radicular é considerada como perda, pois não é aproveitada. Infiltração de água no solo - Embora a infiltração não faça parte dos componentes do balanço hídrico, é de fundamental importância que façamos uma referência sobre esse processo pois o mesmo interfere diretamente naqueles componentes. Denomina-se de infiltração o processo pelo qual a água entra no solo, sendo o mesmo de grande importância prática, pois sua taxa ou velocidade muitas vezes determina o deflúvio superficial “run off”, responsável pelo fenômeno da erosão causado pela água proveniente das precipitações pluviais. Assim, por determinar o balanço da água na zona das raízes, o conhecimento deste processo e suas relações com as propriedades do solo é de fundamental importância para o eficiente manejo do solo e da água (Reichardt, 1985). Durante o processo de infiltração, a água distribui-se dentro do solo, movimento este que não pára, mesmo cessada a infiltração e parte desta água vai percolar para horizontes mais profundos, caracterizando a drenagem interna. O processo de infiltração ocorre porque a água da chuva ou da irrigação tem potencial total aproximadamente nulo e a água do solo tem potencial negativo, isto é, tanto mais negativo quanto mais seco o solo. Estabelece-se, portanto, um gradiente de potencial total que é a soma do gravitacional e do matricial. No início da infiltração, quandoo solo ainda está relativamente seco, o gradiente é muito grande e, depois de longo tempo de infiltração, o gradiente total passa a ser igual ao gravitacional (1 cm de água/cm de solo) que é relativamente pequeno em relação ao início do processo. Por isso, o processo de infiltração é um processo desacelerado, isto é, rápido no início, decaindo com o tempo. 4 PRECIPITAÇÃO – RELAÇÃO INTENSIDADE-DURAÇÃO-FREQÜÊNCIA A quantidade de chuva é expressa pela altura de água caída e acumulada sobre uma superfície plana e impermeável. Existem duas maneiras de medir chuva: - pontualmente com pluviômetros ou pluviógrafos; - radares. O pluviômetro é um aparelho totalizador que marca a altura de chuva total acumulada num dado período de tempo, sendo esta registrada por um operador que resida próximo da instalação do aparelho. O pluviômetro é um recipiente de volume suficiente para conter as maiores precipitações dentro do intervalo de tempo definido para a freqüência das observações (em geral 24 horas). O pluviógrafo é um aparelho que registra automaticamente as variações de precipitação ao longo do tempo. Podendo ser gráfico ou digital e é visitado periodicamente por um observador ou equipe que controla a rede de aparelhos. 24 Admite-se de forma geral que a interceptação da chuva deve ser feita a uma altura média acima da superfície do solo (entre 1,0 m e 1,5 m). O aparelho deve ficar longe de qualquer obstáculo que possa prejudicar a medida ou a captação da chuva (prédios, árvores, relevo, etc...). Figura 4 – Instalação de pluviômetro ou pluviógrafo. A chuva é caracterizada pelas seguintes grandezas: altura pluviométrica, duração, intensidade e freqüência. Altura pluviométrica (p ou r) é a espessura média da lâmina de água precipitada que recobriria a região atingida pela precipitação admitindo-se que essa água não infiltrasse, não evaporasse e nem escorresse para fora dos limites da região. A unidade de medição habitual é o milímetro de chuva, definido como a quantidade de precipitação correspondente ao volume de 1 litro por metro quadrado de superfície ou seja: 211 m l mm = Duração (t) é o período de tempo durante o qual a precipitação ocorre. As unidades normalmente utilizadas são o minuto ou a hora. Intensidade (i) é a precipitação por unidade de tempo, obtida com a relação i=p/t, expressa normalmente em mm/h ou mm/min. A intensidade de uma precipitação apresenta variabilidade temporal, mas, para análise dos processos hidrológicos, geralmente são definidos intervalos de tempo nos quais é considerada constante. Freqüência (F) é o número de ocorrências de precipitações de mesma intensidade em um tempo fixo, por exemplo, uma intensidade de chuva ocorreu 5 vezes em 50 anos, a freqüência (F) = 5/50 = 1/10 Freqüência de probabilidade e tempo de recorrência (tr) a precipitação é um fenômeno do tipo aleatório. Na análise de alturas pluviométricas (ou intensidades) máximas, o tr é interpretado como o número médio de anos durante o qual espera-se que a precipitação analisada seja igualada ou superada. O seu inverso é a probabilidade de um fenômeno igual ou superior ao analisado, se apresentar em ano qualquer (probabilidade anual). Por exemplo, uma precipitação com 1% de probabilidade de ser igualada ou superada num ano tem um tr = 100 anos. Na análise de precipitações extremas mínimas deve-se mudar a interpretação no sentido da superação ocorrer por D>2h h 1,0 – 1,5 m D>2h h 1,0 – 1,5 m 25 defeito (valores menores que o analisado). Neste caso tr é o inverso da probabilidade de não superação. F tr 1 = 5 RELAÇÃO CHUVA – VAZÃO Tempo de concentração (tc) é o tempo a partir do início da precipitação, necessário para que toda a bacia contribua para o escoamento superficial na seção efluente da mesma. O tempo de concentração é uma característica da bacia hidrográfica, dependendo principalmente da sua rugosidade e declividade superficial. Previsão de vazões máximas: Os métodos indiretos são utilizados em locais onde há ausência de registro de vazões observadas; tal fato é sentido, particularmente, em pequenas bacias hidrográficas. A ausência de dados de vazão é o caso mais comum que os engenheiros hidráulicos/ hidrólogos, envolvidos no dimensionamento de obras hidráulicas, enfrentam nas atividades do dia a dia. Métodos indiretos mais utilizados para estimar a vazão: · Método racional; · Método do hidrograma unitário e · Método do “Soil Conservation Service (SCS)”. Todos os métodos indiretos estimam as vazões a partir dos dados de chuva que são menos escassos do que os dados de vazão. A vazão máxima é utilizada na previsão de enchentes e nos projetos de obras hidráulicas, tais como: condutos, canais, bueiros, barragens, etc... A vazão máxima pode ser estimada com base no ajuste de uma distribuição de probabilidade estatística, na regionalização das vazões e na precipitação. Quando existem dados históricos de vazão no local de interesse e as condições da bacia hidrográfica não se modificarem, pode ser ajustada uma distribuição de probabilidade estatística. Quando não existem dados, ou a série é pequena, pode-se utilizar a regionalização de vazões máximas ou a precipitação. A regionalização permite estimar a vazão máxima em locais sem dados, com base em postos da região. A vazão máxima pode ser estimada com base na precipitação, por métodos que representam os principais processos da transformação da precipitação em vazão, e pelo método racional, que engloba todos os processos em apenas um coeficiente a saber: 26 Método racional: O método racional é largamente utilizado na determinação da vazão máxima de projeto para bacias hidrográficas pequenas de até 500 ha. Os princípios básicos do método racional são: - Considerar a duração da precipitação intensa de projeto igual ao tempo de concentração da bacia; - Adotar um único coeficiente de escorrimento superficial (C), estimado com base nas características da bacia hidrográfica; e - Não avaliar o volume da cheia e a distribuição temporal das vazões. O método racional considerando a duração da precipitação intensa igual ao tempo de concentração da bacia, admite que esta é suficientemente pequena, para que esta situação seja possível. A determinação da vazão máxima através do método racional é obtida pela seguinte expressão: 360max AIC Q ´´ = Onde: Qmax = Vazão máxima (m3/s); C = Coeficiente de escorrimento superficial adimensional; I = Intensidade de precipitação (mm/h); A = Área da bacia hidrográfica (ha). O coeficiente de escorrimento superficial (C) pode ser obtido pela tabela 1, em função do tipo de cobertura existente na bacia hidrográfica, tipo de solo, da declividade do talvegue e a área da bacia hidrográfica. Normalmente as bacias hidrográfica apresentam mais de um tipo de cobertura vegetal, tipo de solo e mais de uma declividade, neste caso são feitos cálculos levando-se em consideração estes aspectos da seguinte maneira: por exemplo se estivermos calculando a vazão máxima de uma bacia hidrográfica com três tipos de coberturas vegetais, dois tipos de solo e cada área com uma declividade, calculamos um coeficiente de escorrimento superficial médio, ou seja, em função do tipo de cobertura que se tem, da declividade e do tipo de solo, procura-se na tabela o coeficiente C correspondente, após multiplica-se cada um dos coeficientes pela sua respectiva área, obtém-se três valores, em seguida somam-se estes três valores e divide-se pela área total da bacia e se obterá um novo coeficiente de escorrimento levando em consideração as diferentes características da bacia hidrográfica. Equacionando este sistema teríamos: At ACACAC C 332211´+´+´ = onde: 27 C1 = coeficiente de escorrimento da Área 1 da bacia, em função da declividade, tipo de solo e cobertura vegetal; C2 = coeficiente de escorrimento da Área 2 da bacia, em função da declividade, tipo de solo e cobertura vegetal; C3 = coeficiente de escorrimento da Área 3 da bacia, em função da declividade, tipo de solo e cobertura vegetal; A1 = Área 1 da bacia hidrográfica em hectare; A2 = Área 2 da bacia hidrográfica em hectare; A3 = Área 3 da bacia hidrográfica em hectare; At = Área total da bacia hidrográfica em hectare. Tabela 1 - Coeficiente de escoamento (c), para áreas agrícolas inferiores a 500 ha , em função da topografia, da cobertura e do tipo de solo. Classes de Topografia e declividade Cobertura do solo Tipo de solo Plana 0-2,5% Suavemente ondulada 2,5-5% Ondulada 5-10% Fortemente ondulada 10-20% Amorrada 20-40% Montanhosa 40-100% Culturas anuais Massapé Arenosa Roxa 0,50 0,44 0,40 0,60 0,52 0,48 0,68 0,59 0,54 0,76 0,66 0,61 0,85 0,73 0,67 0,95 0,81 0,75 Culturas Permanentes Massapé Arenosa Roxa 0,40 0,34 0,31 0,48 0,41 0,38 0,54 0,46 0,43 0,61 0,52 0,48 0,67 0,56 0,53 0,75 0,64 0,59 Pastagens limpas Massapé Arenosa Roxa 0,31 0,27 0,25 0,38 0,32 0,30 0,43 0,37 0,34 0,48 0,41 0,38 0,53 0,45 0,42 0,59 0,50 0,46 Capoeiras Massapé Arenosa Roxa 0,22 0,19 0,17 0,26 0,23 0,21 0,29 0,25 0,23 0,33 0,28 0,26 0,37 0,32 0,29 0,41 0,35 0,32 Matas Massapé Arenosa Roxa 0,15 0,13 0,12 0,18 0,15 0,14 0,20 0,18 0,16 0,22 0,20 0,18 0,25 0,22 0,20 0,28 0,24 0,22 A intensidade de precipitação (I) que também é levada em consideração no método racional é calculada através da seguinte equação: ( ) ( ) ( ) Tc PTcTr I TrTc )10;60(5,054,052,0ln21,0 25,0 ; ´-´´+´ = Onde: I = intensidade de chuva crítica (mm/min); tc = tempo de concentração (min) tr = tempo de recorrência (anos) 28 P(60;10) = precipitação com duração de 60 minutos e Tr de 10 anos. Os valores de P(60;10) podem, para os diferentes Estados do Brasil ser obtidos através da tabela 2, onde estão numerados os postos de observação e a cidade onde se encontram. Tabela 2 -Valores da precipitação (mm) com duração de 60 minutos. e tr=10 anos. ESTADO POST O CIDADE (mm) RIO GRANDE DO SUL 1 7 21 24 27 35 56 61 68 71 73 80 94 96 ALEGRETE BAGÉ CAXIAS DO SUL CRUZ ALTA ENCRUZILHADA IRAÍ PASSO FUNDO PORTO ALEGRE RIO GRANDE SANTA MARIA STª. VITÓRIADO PALMAR SÃO LUIZ GONZAGA URUGUAIANA VIAMÃO 62 49 54 65 48 56 43 64 68 62 62 64 56 37 SANTA CATARINA 14 29 77 BLUMENAU FLORIANÓPOLIS SÃO FRANCISCO DO SUL 72 70 65 PARANÁ 26 37 53 60 CURITIBA JACAREZINH PARANAGUÁ PONTA GROSSA 68 52 70 54 SÃO PAULO 6 42 59 74 75 76 81 AVARÉ LINS PIRACICABA SANTOS-ITAPEMA SANTOS SÃO CARLOS SÃO SIMÃO 64 52 58 140 84 70 51 RIO DE JANEIRO 2 8 16 17 34 38 41 48 49 57 58 63 64 66 70 89 95 98 ALTO ITATIAIA BANGU CABO FRIO CAMPOS IPANEMA JARDIM BOTÂNCIO KM 47 ROD. PRESIDENTE DUTRA NITERÓIO NOVA FIBURGO PETRÓPOLIS PINHEIRAL PRAÇA XV PRAÇA SAEMS PEÑA RESENDE SANTA CRUZ TERESÓPOLIS VASSOURAS VOLTA REDONDA 60 68 50 55 72 67 78 64 60 76 64 74 60 70 57 66 58 67 ESPIRITO SANTO 97 VITÓRIA 56 9 BARBACENA 58 29 MINAS GERAIS 13 55 83 BELO HORIZONTE PASSA QUATRO SETE LAGOAS 62 44 52 BAHIA 69 SALVADOR 60 SERGIPE 5 ARACAJU 66 ALAGOAS 43 MACEIÓ 55 PERNAMBUCO 47 50 NAZARÉ OLINDA 44 60 PARAÍBA 40 78 JOÃO PESSOA SÃO GONÇALO 50 62 RIO GRANDE DO NORTE 46 NATAL 56 TER.FER.DE NORONHA 28 FERNANDO DE NORONHA 70 CEARÁ 31 33 65 FORTALEZA GUARAMIRANGÁ QUIXERAMOMBIM 54 54 66 PIAUI 88 TERESINA 90 MARANHÃO 10 79 91 BARRA DO CORDA SÃO LUIZ TURIASSU 70 59 66 PARÁ 3 12 84 85 ALTO TAPAJÓS BELÉM SOURE TAPERINHA 80 62 86 76 AMAZONAS 39 44 54 92 JUARETÉ MANAUS PARINTINS VAUPÉS 82 68 80 80 RONDÔNIA 62 PORTO ALEGRE 72 MATO GROSSO 25 CUIABÁ 68 GOIÁS 19 30 32 CATALÃO FORMOSA GOIÂNIA 60 57 70 O tempo de concentração (tc) utilizado para calcular a intensidade de precipitação pode ser determinado através da seguinte equação: ( ) ( ) 04,01002,005,1 16 Sp L tc ´´´- ´ = Onde: tc = tempo de concentração (min); L = desenvolvimento do talvegue (km); S = declividade do talvegue (m/m); p = relação entre a área coberta de vegetação e a área total da bacia hidrográfica. Com todos este resultados é possível calcular a vazão máxima de uma bacia hidrográfica de até 500 ha apenas com os dados de precipitação coletados em postos de observação da região. 30 6 BIBLIOGRAFIA E LITERATURA CITADA PEREIRA, A. R., ANGELOCI, L. R., SENTELHAS, P. C. Agrometeorologia: fundamentos e aplicações práticas. Guaíba: Agropecuária, 2002. 478p. DAKER, A. Água aplicada à agricultura. Água na agricultura V. 1, ed 7, Livraria Freitas Bastos S.A. 316p. 1987. FRANZ, A. F. H., ROCHEDO, P. R. C., Açudagem. – Pelotas: Ed UFPel, 1998. 71p.:il. VILLELA, S. M., MATTOS, A. Hidrologia aplicada, São Paulo, McGraw-Hill do Brasil. 245p, 1975. 31 CAPÍTULO III ARMAZENAMENTO DE ÁGUA - AÇUDAGEM 1 INTRODUÇÃO A acumulação de água torna-se necessária quando os mananciais naturais são ou se tornam insuficientes para atender a demanda da irrigação ou haja conveniência em elevar o nível da água. A água a acumular pode ser proveniente de córregos cuja vazão permanente é pequena ou ainda das chuvas. Figura 5 - Perfil de barragem com seus diversos componentes. Escolha do local da barragem: Nem todos os locais se prestam a um represamento ou açudagem, sendo necessário que detalhes topográficos, bem como a formação geológica do terreno, sejam favoráveis à construção da barragem e a formação do lago artificial. A barragem deve se localizar em um estreitamento ou garganta da bacia hidrográfica, a fim de reduzir seu comprimento e custo. A natureza geológica do local, obtida por cuidadosas sondagens, deve oferecer condições favoráveis à construção. Quando se trata de afloramento de rocha, deve-se optar por barragens de alvenaria, uma vez que as de terra não ligam bem neste material. No caso de se tratar de terrenos profundos, as barragens de terra têm preferência, em vista do seu baixo custo. Se o terreno for permeável até uma certa profundidade, torna-se necessário construir um núcleo central impermeável que atravesse toda a camada porosa até encontrar a camada ou rocha impermeável. O local a ser submerso deve ter um alargamento suficiente para um maior armazenamento e uma declividade pequena para se ter um maior volume com menor altura de barragem. Além disso, o local não deve apresentar acumulações ou estratificações salitrosas ou outras formações que sejam solúveis na água, tornando-a prejudicial à irrigação ou outros usos. Determinação de
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