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Os Holandeses e o Nordeste Brasileiro 1630 1654

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Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. 
 OS HOLANDESES E O NORDESTE BRASILEIRO: 1630-1654 
 
Universidade Estadual de Maringá 
Orientador: Profº. Drº. Sezinando Luiz Menezes 
Orientando: Thiago Cavalcante dos Santos 
biro@uol.com.br 
 
 
 A ocupação flamenga no território nordestino foi um dos reflexos de dois fatos que 
ocorreram na Europa: A União Ibérica e a Independência dos Países – Baixos em relação à 
Espanha. À medida que o quadro conflituoso acentuava-se no Velho Mundo, a América 
Ibérica começava a sentir os reflexos das tensões de suas metrópoles. A costa brasileira era 
rondada constantemente por aventureiros dos países inimigos do Reino de Castela, e os 
ataques aqui ocorridos aumentavam gradativamente. Em 1598, por exemplo, o navegador 
holandês Oliver Van Noord tornou-se o primeiro flamengo a penetrar na região nordestina. Já 
em 1599, os navegadores flamengos Hartmann e Broer aportaram na Bahia e tentaram 
saquear a cidade; centro político da América Portuguesa de então. 
 Essas “visitas” iniciais, no século XVI seriam um prenúncio da prática corsária que 
ocorreria no século seguinte, isto é, um maior número de aventureiros atacando à costa 
brasileira. A população local não ignorava esse fato, e temiam pelo pior achando-se 
desamparados pela Coroa Ibérica. Ao mesmo tempo, as visitas à costa eram associadas ao 
interesse expansionista holandês e a necessidade de manter seu controle sobre o comércio de 
açúcar. 
 Evidentemente, em virtude de o mar ser a única rede de comunicação, as notícias 
demoravam meses para serem difundidas. Porém, o número de holandeses presos na Bahia1 e 
a dupla relação que se dava entre judeus e cristão-novos estabelecidos no eixo Holanda - 
Pernambuco2 propiciou um ambiente de boato (tanto na Europa como no Novo Mundo) sobre 
 
1 Segundo Rodrigues (81, 1961), em 1604 o porto da Bahia foi forçado por sete holandeses 
sob o comando de Paulus Van Caarden. Dentre suas práticas estavam: o saque a portos, a 
pilhagem aos navios e os ataques aos habitantes próximos a costa. Entretanto, alguns 
holandeses não tinham o mesmo sucesso e ficaram por um bom tempo presos na cidade 
que era o centro político da colônia. Invasores e libertados, eram os indivíduos que levavam 
as informações sobre a América Portuguesa para os Países Baixos. 
2 A expulsão de judeus da Península Ibérica (1492 na Espanha e 1497 em Portugal) provocou 
um êxodo desse grupo para outras regiões da Europa. Atraídos pela liberdade de 
consciência que reinava nos Países Baixos, grande parte de judeus foram para lá, e tiveram 
um importante papel no desenvolvimento comercial dos flamengos. Ao mesmo tempo, os 
cristãos-novos estabelecidos no Brasil eram temerosos em relação a uma possível vinda da 
Inquisição ao nordeste brasileiro. As relações existentes entre os judeus, tanto na Europa 
 
Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. 
uma iminente invasão à América Portuguesa. Tais boatos se concretizaram, e em 1624 deu-se 
a primeira invasão holandesa ao nordeste brasileiro. 
 Essa primeira invasão ficou restrita a Bahia e a notícia da tomada do centro político da 
América Portuguesa espalhou-se pela Europa e explodiu como um paiol na Península Ibérica; 
levando a criação de uma poderosa esquadra formada por lusos e espanhóis. Em 1625 a ação 
de tal esquadra reconquistou o território outrora perdido. 
 A derrota serviu como um duplo aprendizado para holandeses e portugueses. A cidade 
de Salvador passou a ser melhor fortificada e guardada, os fortes foram melhor providos e a 
preocupação com uma possível segunda invasão fez com que houvesse um crescimento no 
número de habitantes que portassem armas. Para os holandeses, esse duro golpe serviu como 
lição para uma maior organização e sistematização das futuras invasões. 
 E de fato foi isso o que ocorreu. A segunda invasão deu-se de maneira melhor pensada 
e com uma composição maior no corpo de guerra. A esquadra holandesa que desembarcou no 
Pernambuco em 1630 era composta por setenta navios e uma legião de combatentes 
mercenários que durante o período de ocupação passaram por situações de facilidades e 
dificuldades. 
 A facilidade encontrada deu-se em Olinda. A cidade que até então era o centro político 
e econômico da Capitania do Pernambuco foi facilmente conquistada, e sua população ou 
ficava a mercê da misericórdia do invasor ou fugia para as matas para salvar o único bem que 
lhes restava: a vida. Entretanto, a facilidade inicial, que causou alvoroço nos Países Baixos e 
no interior da Companhia das Índias Ocidentais,3 contrastou-se com a dificuldade que foi a 
batalha de ocupação no Recife. 
 Essa segunda cidade entregou caro a sua derrota. Os defensores do Recife usavam 
técnicas de guerrilha para resistirem aos ataques dos flamengos, e o principal centro de 
resistência (uma espécie de quartel-general) foi o Arraial do Bom Jesus. Tal lugar ficava nas 
mediações do Recife e cruzava o caminho que ligava esta cidade até Olinda, logo, transitar 
por essa região implicava passar pelo fogo cruzado de holandeses e portugueses. 
 
quanto na América, possibilitou a uma troca de informações sobre a situação na Europa e 
na América. 
3 A Companhia das Índias Ocidentais era a empresa que detinha o monopólio da 
exploração do Brasil – Holandês. A idéia de sua criação foi do mercador neerlandês Willem 
Usselincx. A princípio deveria ser uma empresa responsável pelo transporte marítimo dos 
produtos transportados nos navios flamengos e no estabelecimento de holandeses no 
povoamento de colônias fora da Europa. Porém, o sucesso que a outra Companhia de 
comércio holandesa (Companhia das Índias Orientais) tinha no momento em questão levou 
a Companhia das Índias Ocidentais a realizar pilhagens, ataques bélicos e exploração sem 
povoamento. 
 
Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. 
 O Arraial do Bom Jesus era responsável por metade da produção açucareira da 
Capitania. Conquistar esse território não implicava apenas em derrotar os resistentes, mas 
também apossar-se de uma estratégica zona agrária e comercial. Além disso, o longo período 
de cinco anos de batalhas estagnou a produção açucareira e, como a Companhia das Índias 
Ocidentais dependia dos lucros que o açúcar poderia lhe proporcionar, era de interesse da 
empresa holandesa destruir o foco resistente e restabelecer a economia da região. 
 O temor de perder todo o território para os flamengos foi o que animou a dura 
resistência local. Nesses longos anos de intensa disputa, intensificaram-se combates marcados 
pelo grande número de mortes de ambos os lados. 
 Além da brava resistência lusitana, os combatentes holandeses tinham que enfrentar 
outras adversidades. Desconhecendo o espaço ocupado, não conseguiam adaptar-se ao interior 
brasileiro e dessa forma, dificultavam a sobrevivência flamenga na região. 
 Porém, ao longo dos sangrentos anos de batalha a vitória holandesa parecia estar 
iminente. O desgaste dos defensores locais contrastou-se com o aumento do efetivo holandês 
em solos pernambucanos. Em 1635, a tropa holandesa no Pernambuco girava em torno de 
5500 homens, enquanto que do lado português, poucas almas restavam para os combates. 
 Um segundo fato importante que mudou o curso da guerrae contribuiu para a vitória 
holandesa foi a passagem do índio tupi Domingos Fernandes Calabar para o lado flamengo. 
Sua deserção foi uma perda significativa para os locais. Era Calabar que direcionava os rumos 
das operações militares holandeses na difícil geografia pernambucana. 
 Gradativamente, o desânimo exasperava entre os combatentes resistentes. Não 
demorou muito para que em 1635 se desse a rendição lusitana, e seus resistentes (dentre eles 
negros e índios) jogavam suas armas ao chão e entregavam-se de vez ao jugo holandês. 
 Ao mesmo tempo, a política flamenga no nordeste alterava-se. A princípio, as 
lideranças dentro da WIC4 eram divididas entre os chefes das forças militares e os 
representantes administrativos. Essa divisão de poder causava divergências entre os líderes e 
indisciplina aos combatentes e funcionários da WIC que não sabiam a qual autoridade 
submeter-se. 
 Dessa forma, a empresa holandesa pensou na idéia de nomear um bom administrador 
que centralizasse em si as funções políticas e militares da Nova – Holanda, e ocorreu assim 
que o Conde João Mauricio de Nassau (conhecido pela linhagem nobre, pelo conhecimento 
 
4 West Indische Compagnie é o nome holandês para Companhia das Índias Ocidentais 
 
Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. 
humanístico e pela coragem nas campanhas militares da Guerra dos Trinta Anos5) fosse 
escolhido como administrador geral do Brasil - Holandês. 
 Sua chegada ao país é datada de 1637, e com ele vem um séquito de profissionais, 
como médicos, cientistas, pintores e arquitetos que imbuídos de um espírito naturalista 
traziam em seu bojo os compassos de metamorfose que a cidade do Recife teria em seu futuro 
próximo. 
 Aliás, a escolha da cidade como capital é um caso a parte. Assim que a WIC constatou 
a fragilidade de defesa de Olinda e sua distância de acesso ao mar, revolveu escolher outro 
lugar para ser a sede do governo flamengo. Depois de pensar em adotar a Ilha de Itamaracá 
como capital do Brasil Holandês, optou-se por eleger Recife a sede permanente da Nova – 
Holanda. 
 Em geral, a cidade atraía funcionários da WIC, pessoas pobres e prostitutas. Tais 
atores terão um lugar social em comum e partilharão de uma intersecção que marcará a vida 
urbana no Recife Holandês, trazendo como conseqüência a proliferação do número de 
doenças ocasionadas em virtude das relações sexuais desregradas e a miscigenação do 
posterior homem pernambucano 
 Era também essa cidade que atraia as pessoas que exerciam ofícios manuais, e nesse 
quesito os holandeses se destacavam. Operários e marceneiros começavam a despontar em 
uma região outrora rural e que carecia de soluções que uma nascente urbe tinha necessidade. 
 Para os senhores, a cidade acabava exercendo uma atração menor, e por isso optaram 
em permanecerem fixos ao interior. A verdade é que essa cidade trazia sobre as suas vidas a 
amargura da presença do invasor, em compensação, o Recife era a oportunidade dos senhores 
lusitanos divertirem-se nas muitas tavernas abertas e com a diversidade de procedência das 
prostitutas. 
 Outra introdução do período holandês foi o surgimento da Câmara dos Escabinos, em 
substituição a Câmara dos Vereadores. Essa instituição era formada pelas pessoas eleitas por 
suas posses ou pela influência que exerciam. As regiões conquistadas pelos flamengos 
dispunham de dois escabinos, um holandês e um português. Entretanto, o escolteto (espécie 
de chefe da Câmara) era de procedência holandesa, e isso era um empecilho aos interesses dos 
portugueses. 
 Ao mesmo tempo, a fixação do senhor lusitano ao interior o impossibilitava de ir às 
reuniões que a Câmara dos Escabinos realizava. Preocupados mais com as suas plantações, 
 
5 A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) foi uma série de guerras travadas por diversas nações 
na Europa por motivos religiosos, dinásticos, territoriais e comerciais. Seu fim se deu com a 
Paz de Westfália, em 1648. 
 
Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. 
deixavam as obrigações administrativas nas mãos dos escabinos holandeses que tomavam as 
decisões conforme o querer da WIC. 
 Entretanto, a permanência do senhor lusitano no meio rural era uma oportunidade para 
que ele continuasse exercendo sua autoridade e influência, pois enquanto no Recife a 
intolerância calvinista proibia as missas a portas abertas e as procissões; no interior os 
senhores exerciam a liberdade religiosa nas capelas que os engenhos dispunham. 
 A relativa autonomia do senhor lusitano no campo ocorria pela pouca penetração 
holandesa no interior. Em geral, os holandeses emigrados que para cá vieram eram pessoas 
aventureiras de diversas partes da Europa, e que tinham os Países Baixos como um lugar em 
comum, isto é, um ponto de partida para a reconstrução de suas vidas. Assim, esses 
indivíduos urbanos não praticavam o trabalho agrícola 
 A possibilidade de lucros que o Brasil Holandês poderia proporcionar nutriu nas 
consciências desses aventureiros o anseio de partirem para a região nordestina. Entretanto, a 
busca pelo “Éden” no Novo Mundo trazia alguns percalços, tais como travessias oceânicas 
mal sucedidas; inadaptações ao clima, ao solo, as doenças, aos alimentos, etc. Essas situações 
criaram uma barreira gradual entre o interior e estes aventureiros, que sem alternativa 
fixavam-se no Recife; aumentando o contingente populacional, inflacionando os alimentos e 
contribuindo para o aumento das práticas tidas como imorais. 
 Um terceiro elemento que apareceu nessa teia social foi o judeu. Como os senhores 
atuavam no interior cuidando da plantação e os holandeses cuidavam dos ofícios urbanos, 
coube ao judeu (que chega ao nordeste com os holandeses) desempenhar um papel 
intermediário que lhe trouxesse proveito na Nova Holanda. 
 No Recife, eles negociavam, emprestavam e vendiam escravos, alimentavam a cidade 
em tempos de fome e agitavam os choques entre flamengos e lusitanos; usando de 
informações e deserções. No mesmo período, a adesão ao judaísmo floresce e torna-se mais 
aberto, de modo que antigos cristãos novos acabam assumindo-se judeus. A força da presença 
judaica é expressa na construção de uma sinagoga e a vinda de Isaac Aboab da Fonseca, o 
primeiro rabino para a América do Sul 
 Para os holandeses, os judeus também apareciam como uma ameaça que muito 
incomodava. Ao exercerem o papel de negociantes ou mercadores, acabavam auferindo 
vultosas rendas. Eram eles que passaram a transportar e a revender o escravo negro, 
conseguindo lucros de até 300%. Como o interesse da Companhia das Índias Ocidentais era 
obter lucros do nordeste, os judeus começaram a ser vistos pelas lideranças da empresa 
holandesa como rivais comercias. Porém, mesmo com essas práticas, esse grupo era tido pelos 
flamengos como pessoas de confiança e lealdade, diferentemente dos portugueses 
 
Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. 
 Esses três elementos principais da presença flamenga no nordeste, ou seja, o 
português, o holandês calvinista e o judeu; não constituíam os únicos atores da presença 
flamenga no nordeste. Não podemos nos esquecer dos outros dois grupos que desempenham 
um papel importante no Brasil Holandês: o negro e o índio. 
 Desde o período que antecedeu a invasão holandesa, o negro já tinha um elevado grau 
de importânciana colônia. Era ele que fazia a terra frutificar, trabalhando de domingo a 
domingo para dar continuidade e prosperidade a produção açucareira. Por mais que o senhor 
lusitano fosse o melhor gerente do campo, a produção açucareira era dependente do negro, e 
sem ele não se obtinham lucros. 
 Com a presença holandesa, a situação do negro não se alterou muito, isto é, ele 
continuava sendo cativo. Mesmo que no período inicial da ocupação holandesa as lideranças 
calvinistas se mostravam hostis a escravidão, a constatação da necessidade de seu uso fez o 
posicionamento flamengo mudar, pois acreditavam que era impossível obter os lucros sem a 
força do escravo negro no campo. 
 Entretanto, é preciso lembrar que durante tal período, os negros puderam alcançar uma 
relativa melhora do seu estado de servidão. A conquista de Olinda e o longo período de 
batalha possibilitaram que os negros que trabalhavam nos engenhos fugissem para as matas 
ou para outras regiões, formando quilombos. No decorrer dos anos, os negros que tomassem 
partido no front de batalha, seja ao lado de portugueses ou de holandeses, tinham a chance de 
se tornarem livres e até alcançarem honras, como foi o caso do negro Henrique Dias que 
chegou a receber da Coroa Portuguesa a comenda da Ordem de Cristo6. 
 Já com os índios, a situação foi bem diferente, visto que se formou uma política de 
alianças entre determinados grupos indígenas tanto com portugueses quanto com holandeses. 
Do lado lusitano, a aliança constituída deu-se com os Tupis, já do lado flamengo, a aliança 
deu-se com os Tapuias. 
 O primeiro grupo era definido pelos cronistas da época como “civilizado”7. Com 
maior contato com os portugueses, grande parte de seus membros assumiam-se católicos, e 
algumas de suas mulheres tinham relações com lusitanos; levando ao surgimento de um 
relativo número de crianças miscigenadas. A importância do grupo tupi para os portugueses 
 
6 Para uma melhor análise sobre esse conhecido negro do período holandês, indico a leitura 
de José Antonio Gonsalves de Mello: Henrique Dias: Governador dos Negros, Crioulos e 
Mulatos 
7 Dentre os cronistas que usavam o termo “civilizado”, destacam-se: BARLÉU (Gaspar. 
História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil), CALADO (O 
Valeroso Lucideno e O Triunfo da Liberdade), MOREAU (História das últimas lutas no Brasil 
entre holandeses e portugueses) E NIEUHOF (Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao 
Brasil). 
 
Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. 
também é vista na comenda da Ordem de Cristo concebida para o índio Filipe Camarão em 
decorrência dos longos anos em que este líder silvícola esteve à frente da resistência 
pernambucana. 
 Já os tapuias constituíam um grupo indígena mais hostil. A aliança com os holandeses 
ocorreu em virtude do inimigo em comum que tinham, isto é, o português. Para os flamengos, 
a ligação com os tapuias era uma chance de dilatar o seu poder nos territórios não ocupados 
pelos europeus setentrionais. 
 Porém, dentro de cada grupo, havia as suas exceções que fugiam a regra, e exemplos 
para isso não faltam. Um primeiro exemplo é o fato da existência de senhores lusitanos que 
defendiam a presença holandesa no Nordeste. Por outro lado, houve um relativo número de 
flamengos que por amor ao solo pernambucano permaneceram no nordeste mesmo após a 
rendição holandesa. Também não se deve ignorar o grande número de judeus que mesmo 
depois do período de expulsão das lideranças calvinistas permaneceram fixos ao Recife. Por 
fim, também é interessante lembrar que as relações entre os holandeses e os índios tapuias 
foram cortadas em um momento crucial da luta pela manutenção flamenga na capital 
pernambucana8. 
 É dentro do desenrolar de cada uma dessas particularidades, que buscamos enriquecer 
essa pesquisa histórica, enquadrando os diversos atores estudados com os fatos ocorridos. 
Entendemos assim, que a inserção das peculiaridades nessa perspectiva analítica poderia dar 
um melhor auxilio ao estudo do período holandês no nordeste brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 A principal causa do rompimento das relações deu-se em virtude da morte de Jacob 
Rabbi. Rabbi era um intérprete alemão, que a pedido de Nassau viveu por quatro anos 
entre os Tapuias. Quem o matou foi o general da Companhia das Índias Ocidentais, Jorge 
Garstmann. O assassinato de Rabbi por um funcionário da WIC enraiveceu aos tapuias, que 
queriam se vingar da morte do interprete germânico. 
 
Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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1973 
BARLÉU, Gaspar. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil e 
noutras partes sob o governo do ilustríssimo João Maurício, Conde de Nassau. Trad. Cláudio 
Brandão Imprenta Belo Horizonte : Itatiaia São Paulo : EDUSP , 1974. 
BOXER, Charles Ralph. Os holandeses no Brasil: 1624 – 1654. Trad. Olivério Pinto. 
Nacional, São Paulo. 1961. 
CALADO, Frei Manoel. O Valeroso Lucideno e o Triunfo da liberdade. Recife, 1942 
DUSSEN, Adrien Van der. Relatório Sobre As Capitanias Conquistadas No Brasil Pelos 
Holandeses (1639): Suas Condições Econômicas e Sociais. Rio de Janeiro, 1947 
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 25ª Edição. Olympio, Rio de Janeiro, 1987 
FREYRE, Gilberto. Guia Prático Histórico e Sentimental do Recife. 2ª Edição. Olympio, Rio 
de Janeiro. 1942 
FREYRE, Gilberto. Interpretações do Brasil. Companhia das Letras, São Paulo. 2001 
FREYRE, Gilberto. Nordeste. 3ª Edição. Olympio, Rio de Janeiro. 1961 
FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mocambos. Nacional, São Paulo. 1936 
HOLLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 8 ª Edição. José Olympio, Rio de Janeiro. 
1975 
MELLO NETO, José A. Gonsalves de: Henrique Dias: Governador dos Crioulos, Negros e 
Mulatos do Brasil. Joaquim Nabuco, Recife. 1988 
MELLO NETO, José A. Gonsalves de. Tempo dos Flamengos. José Olympio, Rio de Janeiro. 
1947 
MOREAU, Pierre. História das Últimas Lutas no Brasil entre holandeses e portugueses. 
Edusp, São Paulo. Itatiaia, Belo Horizonte. 1979 
NETSCHER, P.M. Os Holandeses no Brasil. Nacional, São Paulo. 1942 
 
Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. 
NIEUHOF, John. Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil. Martins, São Paulo. 
1942 
NOVINSKY, Anita. Cristãos-Novos na Bahia. Perspectiva, São Paulo. 1992 
PORTO SEGURO, Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Silva. Historia Das Lutas 
Com Os Holandeses No Brasil: Desde 1624 A 1654. Progresso, Salvador. 1955 
RODRIGUES, José Honório. Civilização Holandesa no Brasil. Nacional, São Paulo. 1940 
RODRIGUES, José Honório. Historiografia e Bibliografia do domínio holandês no Brasil. 
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VAINFAS, Ronaldo. A questão dos Judeus Novos. In A presença holandesa no Brasil: 
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WÄTJEN, Hermann. O Domínio Colonial Holandês no Brasil. Nacional, São Paulo. 1938 
WIZNITZER, Arnold.Os Judeus no Brasil Colonial. Pioneira, São Paulo. 1966

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