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Air & Space Power Journal – 2º Trimestre/2009 1 A Persuasão e o Armamento Espacial Trevor Brown1 Abstrato Editorial: Os Estados Unidos deram alguns passos em direção ao armamento espacial, apesar das objeções de potências mundiais como a China e a Rússia. Outras nações interpretam as ações norte-americanas como uma tentativa de estabelecer o domínio do meio. O autor alega que essa percepção causou uma reação geopolítica adversa e diminuiu nosso poder de persuasão (a habilidade de atrair outros pela legitimidade de diretrizes e princípios que formam sua base). Traçando um paralelo com a história naval, apresenta uma nova abordagem que protege os interesses norte-americanos e alcança a supremacia espacial, buscando alternativas competitivas, científicas e mercantis menos agressivas. OS ESTADOS UNIDOS projetam o armamento espacial e já estão implantando plataformas de mísseis de defesa.1 Os artigos publicados em documentos oficiais esboçam projetos a longo prazo, inclusive mísseis antissatélite (ASAT) de alcance direto, lasers terrestres com mira em satélites de baixa órbita terrestre e hypervelocity rod bundles [feixes de varetas à hipervelocidade – feixes de varetas de 12” de urânio desativado lançados de baixa órbita terrestre, usando somente energia cinética].2 Segundo documentos de orçamento federal, o Pentágono pediu ao Congresso amplos recursos para testar armas, dando seu maior passo em direção à criação de um campo de batalha espacial, desde a Iniciativa de Defesa Estratégica durante a guerra fria.3 Embora dois veículos coorbitais de escolta, o XSS-11 microssatélite experimental e o Autonomous Nanosatellite Guardian for Evaluating Local Space [Sentinela Autônomo Não-Satélite para Avaliar o Espaço Local] sejam destinados a monitorar o ambiente espacial e inspecionar satélites amigos, possuem a tecnologia para obstruir satélites de reconhecimento militar e comunicação de outras nações.4 Isso causa grande apreensão em Moscou, Beijing e outras, resultando em dilema de segurança. A Rússia e a China acreditam que devem reagir a essa provocação estratégica, tomando medidas destinadas a dissuadir os Estados Unidos de ir ao encalço de armas espaciais e mísseis de defesa. A reação daqueles países provavelmente irá incluir o desenvolvimento de armas ASAT mais avançadas, a construção de outros mísseis balísticos intercontinentais, a expansão da vida útil dos atuais mísseis balísticos, a adoção de contramedidas para mísseis de defesa, o desenvolvimento de outras capacidades assimétricas espaciais e a revisão de compromissos relativos a controle de armas.5 1 Trevor Brown (BA, Universidade da Indiana: MSc, S [Mestrado em Ciências, Ciências. Rajaratnam School of International Studies, Nanyang Technological University [Singapura]) é um novo autor interessado em estratégia política, econômica e militar para o meio espacial. Air & Space Power Journal – 2º Trimestre/2009 2 As opções militares da Rússia e da China não são muito atraentes, porque não podem competir diretamente com os Estados Unidos no espaço, em pé de igualdade financeira, militar ou embasamento técnico. Por conseguinte, a primeira e a melhor opção é a diplomática, através da ONU, apresentando resoluções e tratados na esperança de conter o armamento espacial através de Direito Internacional. Embora essas tentativas fracassassem, até agora, em suspender os planos norte-americanos, conseguiram formar um consenso internacional contra esse país. Com efeito, no dia 5 de dezembro de 2007 um voto de resolução da ONU, apelando para medidas, a fim de deter essa corrida armamentista resultou em 178 a 1 contra os Estados Unidos. Israel absteu-se.6 O problema é que outras nações acreditam que os E.U.A. visam a monopolização espacial, a fim de solidificar seu domínio hegemônico.7 Nos últimos anos, um número cada vez maior de nações expressaram oposição a essa agenda. Uma falta de diplomacia sobre a questão de armas espaciais contribuiu para aumentar represálias geopolíticas que levaram ao recente declínio do poder de persuasão norte-americano − a habilidade de atrair outros pela legitimidade de diretrizes e princípios inerentes − o que, por sua vez, restringe o poder nacional como um todo, apesar de eventuais ganhos em poder da força bruta (ou seja, a capacidade de coagir).8 Os Estados Unidos não devem tratar o poder de persuasão com indiferença, uma vez que perdas desse atributo ao longo da última década fez com que a influência de competidores estratégicos, particularmente Rússia e China, aumentasse. As ramificações incluiram um realinhamento político, econômico e social gradativo, também denominado “multipolarismo” que resultou em declinio de poder e influência. “Portanto, o poder de persuasão não é apenas uma questão de popularidade efêmera. É um meio de obter os resultados desejados. Quando os Estados Unidos forem tão detestados que só o fato de um país ser pró-Americano cause a ruína de sua política interna, não vai ser provável que os líderes políticos estrangeiros se prontifiquem a outorgar concessões. E quando a política dos EUA perde a legitimidade, a desconfiança cresce, reduzindo sua influência em assuntos internacionais.”9 Devido à erosão de seu poder de persuasão, a comunidade internacional vê com desconfiança qualquer preocupação legítima que os Estados Unidos possam ter a respeito da proteção de meios espaciais críticos, tornando-se muito mais difícil, politicamente, para a Força Aérea fazer planos para oferecer tal proteção. A Necessidade de Defesa Sem dúvida, é necessário proteger a todo custo, as linhas de comunicações que conectam a sociedade aos militares. Considere as consequências de falha inesperada de satélites que usamos diariamente para operações militares, financeiras, comunicações, meteorologia e navegação aérea. Ataques devastadores à bases espaciais críticas, não só colocariam milhões de vidas em sério risco, mas também resultariam em perdas econômicas incalculáveis para a nação. Durante a guerra fria, os Estados Unidos fizeram o possível para obter a supremacia militar sobre a União Soviética, a fim de proteger seus interesses e princípios. Um legado resultante é a atual capacidade espacial. Será que devem permitir um lapso em segurança de princípios e interesses ao cessar tentativas para manter a superioridade militar alcançada? Será que devemos acreditar que a segurança norte-americana poderia, de certa maneira, aumentar se abrirmos mão da supremacia militar? Algumas pessoas falam como se acreditassem que um país pode optar em garantir a segurança nacional por meio de armas ou controle de armas.10 Mas o interesse da Rússia Air & Space Power Journal – 2º Trimestre/2009 3 em banir armas espaciais é motivado pelo desejo de atrofiar o crescimento de programas espaciais militares norte-americanos, a fim de ganhar tempo para, secretamente, avançar o próprio programa de armamentos espaciais e atingir paridade tecnológica.11 A Rússia fundamenta sua oposição ao armamento espacial não em princípios escrupulosos, mas em objetivos estratégicos. Dois analistas declaram que “para entender se a Rússia realmente mudaria de posição, é preciso ir além de declarações oficiais e discussões entre peritos militares russos. O curso do programa espacial militar russo será determinado, principalmente, pela disponibilidade de recursos necessários para apoiar o programa e pela habilidade da indústria e militares em gerenciar o desenvolvimento de projetos para o uso militar espacial.”12 Apesar dos constantes apelos da China para abolir armas espaciais, a evidência histórica sugere que a China e a Rússia pensam do mesmo modo. “Já que uma interpretação genérica de armas espaciais excluiria quase todos os sistemasde defesa de mísseis norte- americanos, as autoridades chinesas que querem limitar a implantação de mísseis de defesa advogariam uma proibição que utilizasse essa interpretação.”13 O interessante é que após a administração Clinton desmantelar a Iniciativa de Defesa Estratégica em 1993, a China redobrou os empreendimentos militares espaciais e, ganhou terreno.14 Em 1999 “o teste da China de nave espacial destinada a voo tripulado apresentou um foguete com sistema propulsor de baixa aceleração que poderia ser usado para manobrar ogivas, a fim de derrotar sistemas BDM [míssil balístico de defesa].”15 Talvez a comunidade estratégica norte-americana ainda acredite que “a implantação de armas espaciais provavelmente torna esses meios − inclusive satélites comerciais de comunicação e difusão− ainda mais vulneráveis, já que nenhum outro país se dedica a esse objetivo e menos ainda à implantação de armas espaciais.”16 Essa noção desapareceu quando a China realizou, com sucesso, o primeiro teste ASAT em janeiro de 2007, sugerindo que havia passado muitos anos no desenvolvimento de capacidade ASAT. Os Estados Unidos e, aliás, o resto do mundo, não se devem deixar enganar. A História demonstra que, embora as autoridades do Partido Comunista Chinês bradem que o espaço militarizado seria uma ameaça à paz e à estabilidade, o Exército Popular de Liberação, diligentemente, adquire armas espaciais. A noção de que os Estados Unidos podem impedir que o espaço se torne uma “galeria de tiro ao alvo” ao concordar com uma proibição total de armas espaciais, é ingênua.17 A dura realidade é que, uma vez que o poder econômico e militar norte-americanos dependem de vastos meios espaciais vulneráveis, complexos e de alto custo, o incentivo para que possíveis inimigos projetem formas de ataque, continua grande demais para ser superado por mero tratado internacional.18 Se, no entanto, tal tratado restringir os Estados Unidos de desenvolver e implantar contramedidas eficazes, os inimigos teriam todos os motivos para pressionar Washington a limitar as próprias atividades.19 À medida que a tecnologia espacial se difunde, aumenta a motivação de pequenos e médios países a fomentar capacidades de guerra espacial e, a destruição de um satélite norte-americano importante representaria uma vitória material e simbólica.20 Não existe, portanto, qualquer dúvida se devemos ou não proceder com armas espaciais−a questão é como fazê-lo com o tato político necessário, a fim de manter o poder de persuasão e, ao mesmo tempo, expandir o poder da força bruta. A Retórica e a Postura A retórica oficial possui, claramente, um papel significativo a desempenhar na destra execução da política espacial norte-americana. Vejamos o exemplo do documento de Air & Space Power Journal – 2º Trimestre/2009 4 Diretrizes Nacionais do Espaço de 2006. Outras nações acreditavam que o documento continha linguagem inflexível e que os Estados Unidos haviam tomado uma “atitude proprietária” em relação ao espaço.21 Ainda está em debate se a terminologia do documento é ou não proprietária. No entanto, foi assim vista pela audiência internacional. Na arena política, a percepção é frequentemente mais importante que a realidade e, é provável que o gerenciamento da política externa pela administração Bush levou a comunidade internacional a crer que os Estados Unidos buscavam impor um sólido domínio espacial em relação às outras nações. Os analistas argumentam que o resto do mundo aceita a supremacia espacial dos EUA, mas a administração Bush reivindicava o domínio espacial−uma condição que outros países não irão aceitar.22 Evidentemente o mundo consegue tolerar a ideia de que os Estados Unidos possuirão a supremacia espacial−o que implica em capacidade de domínio−mas consideram insuportável a ideia de que a América do Norte venha exercer tal domínio. Talvez o mundo acredite que a conotação de “domínio” seja uma posição opressiva, unilateral ou ditatorial, enquanto “supremacia” sugere apenas uma posição de liderança. Assim, que creem as nações que significa esse futuro domínio espacial norte-americano? Bao Shixiu, oficial militar Chinês reformado, pesquisador da Academia Militar de Ciências de Beijing, afirmou que “a monopolização do espaço por um só país. . . é inaceitável.”23 Talvez o resto do mundo tende a compartilhar essa noção de “monopólio”, devido à preocupação de analistas “de que o governo dos EUA possa adotar uma estratégia que visa manter o poder de veto em relação à habilidade de outros países de acessar o espaço”.24 O fato é que o espaço atualmente é um grande “parque comum” para potências espaciais, tanto quanto foi o mar para as potências marítimas, séculos atrás. Isso, não em virtude de lei ou tratado internacional, mas devido a natureza desse meio. Similar às comunicações marítimas de outrora, os recursos espaciais devem gerenciar toda a vigilância e reconhecimento, alerta de ataque e avaliação, comunicações, intercepção de sinais, navegação, munição, meteorologia, e assim por diante, em zona neutra ou “comum”. De acordo com Sir Julian S. Corbett, “Não se pode conquistar o mar porque não é suscetível à apropriação, pelo menos além das águas territoriais. Não se pode, como dizem os advogados, „reduzi-lo a um bem‟, porque não se pode excluir os neutros, como em território que se conquista. Em segundo lugar, as forças armadas não podem ali subsistir como em território inimigo.”25 As forças espaciais permitem aos Estados Unidos agirem com rapidez e por completo em todo o mundo, algo sem precedentes, da mesma maneira que a potência marítima inglesa permitia que suas forças atuassem em pontos distantes e separados, como Cuba, Portugal, Índia e Filipinas, sem temer séria ruptura de comunicações.”26 No entanto, bens e informação espaciais, como as marítimas, devem passar ao longo de linhas de comunicação não só compartilhadas por outros participantes, mas também abertas à disputa. O resultado é que, uma vez que o espaço possui valor inerente como meio de obtenção de dados e comunicação, o objetivo espacial crítico é manter seguras as linhas de comunicação espacial. Corbett observa que: o domínio marítimo, portanto, nada significa, além do controle de comunicações marítimas, quer seja para fins comerciais ou militares. O objetivo da guerra naval é o controle das comunicações e não a conquista de território, como em guerras terrestres. A diferença é fundamental. É verdade que a estratégia em terra é principalmente uma questão de comunicação, mas comunicação em outro sentido. A frase refere-se somente às comunicações do exército e não de uma comunicação mais ampla que diz respeito à toda nação.27 Air & Space Power Journal – 2º Trimestre/2009 5 Uma análise recente argumenta que “o ponto crucial para compreendermos Corbett é que comando do mar, na verdade, só existe em estado de guerra. Quando alguém afirma que possue o comando do mar em tempos de paz, isso se faz de forma retórica e somente significa que uma nação possui pontos navais adequados e considerável frota para garantir comando, uma vez que se iniciem as hostilidades.”28 Corbett adiciona: “Ir ao encalce de um padrão de força naval ou distribuição estratégica que tornaria nosso comércio absolutamente invulnerável é ir a caminho de ruína econômica. Seria mutilar o poder de travar guerra para se chegar à vitória e ir em busca a uma posição de despotismo marítimo que, mesmo se pudesse ser atingido, colocaria todos contra nós. Todos esses males e, o objetivo ainda assim estaria bem fora de alcance.”29 Por este motivo, os Estados Unidos devem buscar uma posição de supremacia espacial, onde possam exercer controle e efetivamente dominar o meio em caso de guerra. Ao mesmo tempo, devem manter uma postura de paz, politicamente aceitável por todos os outros participantes, abstendo-sede exercícios de domínio desnecessários e prolongados. Os Estados Unidos devem evitar, sobretudo, criar a percepção de grandiosidade em impor um domínio que soa à tirania orbital. Evidentemente, a retórica proveniente dos Estados Unidos referente ao espaço deixou os membros da comunidade internacional com a suspeita de que poderiam barrá-los do meio, somente por capricho. Tais apreensões contribuem, desnecessariamente, a uma maior perda de poder de persuasão. Os Estados Unidos devem assegurar às outras nações que não têm a intenção de dificultar o uso pacífico do espaço. Se esses países pensam que a atual supremacia espacial norte-americana é tolerável, talvez, com tempo, venham a suportar a posse de armas por esse país se isso for um aspecto importante de sua primazia no espaço e manutenção do status quo. Mas, se sua retórica e postura deixarem as outras nações com a convicção de que contamos com estratagemas para despotismo orbital, a sociedade internacional hesitará em considerá-los líderes. Além disso, mesmo que a maioria das nações não possa competir no espaço, fará o possível para adotar postura contrária aos Estados Unidos. “O Transporte de Carga Militar” Os Estados Unidos fariam bem em manter baixo perfil em seu programa espacial militar e polir sua imagem tecnológica, publicando os programas comerciais e científicos espaciais. Assim fazendo, possibilitariam o aumento e não a erosão do poder de persuasão. Os Chineses assim raciocinam e certamente alcançaram sucesso em anos recentes, intensificando o poder de persuasão, usando-o para estender a influência internacional. Segundo o administrador Michael Griffin da NASA, os Chineses possuem um programa, cuidadosamente elaborado, de voos espaciais tripulados que irá levá-los à paridade com os Estados Unidos e a Rússia. Investem para que a China venha ser uma potência mundial estratégica, sem ficar devendo a ninguém, a fim de aproveitar o comércio e vantagens que beneficiam as nações líderes.30 Os analistas creem que a determinação dos Estados Unidos em manter o domínio militar espacial fez com que perdessem terreno em comércio espacial e exploração desse recurso. Alegam que os Estados Unidos abandonaram a liderança civil espacial−ação que produzirá enormes inferências estratégicas.31 Pode ser que o público norte-americano seja indiferente ao comércio espacial ou à atividades científicas mas, as façanhas tecnológicas espaciais continuam a fascinar a grande maioria. Em 1969, cativamos o mundo todo com o Air & Space Power Journal – 2º Trimestre/2009 6 primeiro passo de um ser humano na Lua. O programa Apollo rendeu enormes dividendos ao poder de persuasão no momento em que os Estados Unidos competiam seriamente com os Soviéticos para atrair outras nações à sua ideologia. A menos que os Estados Unidos contem com sólida presença na Lua no momento da alunissagem tripulada da China, prevista para 2017, grande parte do mundo vai levar a impressão de que a China está se acercando cada vez mais de nosso paîs, em termos de sofisticação tecnológica e potência nacional absoluta.32 Se as tendências atuais predominarem, isso provavelmente vai ocorrer, quando os novos confrontos ideológicos entre Beijing e Washington intensifiquem de modo considerável.33 A corrida espacial mais recente reflete a evolução dinâmica da potência mundial. O “tecnonacionalismo” continua a ser o ímpeto para os programas espaciais de muitas nações, em especial na Ásia: “Comparada à corrida espacial da guerra fria entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, a presente competição global está sendo inflamada pelo orgulho nacional, riqueza recém-adquirida, um quadro cada vez maior de funcionários altamente qualificados e pela certeza de que as conquistas espaciais resultarão em grande poder de persuasão, bem como benefícios militares. O ardor de todo o planeta em tomar parte do clube de nações capazes de construir e lançar veículos ao espaço é algo palpável.”34 A Índia e o Japão projetam, de maneira agressiva, seus programas espaciais.35 Mas, não é necessário que os Estados Unidos optem entre um programa espacial civil ou militar, pois grande parte da tecnologia espacial projetada é de dupla utilização. A indústria espacial oferece enorme oportunidade a militares que desejem maior acesso e aquisição de meios espaciais a mais baixo custo e que também incrementam as forças terrestres. Conforme salientou Alfred Thayer Mahan, “O estabelecimento de importante transporte de carga mecantil desenvolve ampla base para o transporte de carga militar.”36 As Forças Armadas desse país podem maximizar os recursos, não só financeira, mas também politicamente, revestindo as atividades espaciais militares, tanto quanto possível, em atividades espaciais comerciais. Citamos o exemplo de comunicação via satélite. O acordo entre o Pentágono e a Iridium Satellite LLC confere aos militares acesso ilimitado à sua rede, permitindo que os usuários façam chamadas seguras e não-seguras e enviem e recebam mensagens de texto de e para quase todas as partes do mundo.37 Outro exemplo tem a ver com imagens espaciais. Mesmo que o governo necessite de processadores de imagem sofisticados para situações especiais, poderia facilmente satisfazer a grande maioria dos requisitos de rotina a custo mais baixo, usando o que já se encontra disponível comercialmente.38 A Força Aérea também poderia utilizar o transporte espacial, outra indústria emergente, para maximizar recursos. Os empreendimentos privados já em curso, reduzem consideravelmente o custo de acesso ao espaço. É possível que um desses empreendimentos seja a alternativa para a nave espacial russa Soyuz em missões da NASA à Estação Espacial Internacional.39 Pode ser que essas empresas venham a ser boas opções de baixo custo para a entrega de cargas úteis menos sensíveis à órbita terrestre para a Força Aérea. O turismo espacial, indústria crescente, permitiria à Força Aérea a aquisição, a preços acessíveis, de capacidade para operar rotineiramente a 60-90 milhas acima da Terra.40 Os avanços empresariais em voo espacial suborbital eventualmente evoluirão a tal ponto que a Força Aérea verá ser mais fácil, política e financeiramente, a aquisição de plataformas que poderão fazer a entrega de munição do espaço. Air & Space Power Journal – 2º Trimestre/2009 7 Conclusão Ao observarmos a situação estratégica global vemos que muitas nações engalfinham-se para desenvolver capacidades espaciais. As que se encontram em desenvolvimento ao redor do mundo, aparentemente de uso civil são, na maioria, de dupla utilização e terão efeitos profundos sobre o equilíbrio de potências. Seria insensato para os Estados Unidos diminuirem o ritmo de desenvolvimento espacial. A questão não é se seguimos avante com o armamento espacial, mas como prosseguir e gerenciar, eficazmente, os dilemas de segurança que inevitavelmente irão surgir. Ao assumir uma postura que sugere que o intento desse país é ir ao encalço de empreendimentos científicos e comerciais, sem qualquer indício que o desejo é bloquear o meio espacial em tempo de paz com a finalidade de aumentar o poder geopolítico, os Estados Unidos podem prosseguir sem causar indevida angústia à comunidade internacional. Uma vez implantada a base de atividades comerciais (i.e., “carga mercantil”), a capacidade militar (“carga militar”) seguirá em devido tempo, sem muitas controvérsias. Se as autoridades competentes norte-americanas tornarem público descobertas espaciais científicas e comerciais, evitando a percepção de despotismo orbital aumentarão, gradativamente, a capacidade espacial dominante, continuando a deter, dessa forma, o poder de persuasão. Notas: 1. Leonard David, “Weapons in Space: Dawn of a New Era,” Space.com, 17 de junho de 2005, disponível em http://www.space.com/news/050617_space_warfare.html(obtido em 20 de agosto de 2008). 2. Bryan Bender, “Pentagon Eyeing Weapons in Space: Budget Seeks Millions to Test New Technologies,” Boston Globe, 14 de março de 2006, disponível em http://www.boston.com/news/nation/articles/2006/03/14/pentagon_eyeing_weapons_in_space (obtido em 12 de outubro de 2008). 3. Ibid. 4. David Shiga, “ANGELS to Watch over US Air Force Satellites,” NewScientist, 4 de agosto de 2006, disponível em http://space.new scientist.com/article/dn9674 (obtido em 12 de outubro de 2008); e Tim Weiner, “Air Force Seeks Bush‟s Approval for Space Weapons Programs,” New York Times, 18 de maio de 2005, disponível em http://www.nytimes.com/2005/05/18/business/18space.html ?hp (obtido em 12 de outubro de 2008). 5. Pavel Podvig and Hui Zhang, Russian and Chinese Responses to U.S. Military Plans in Space (Cambridge, MA: American Academy of Arts and Sciences, 2008), v–vi, disponível em http://www.amacad.org/publications/military Space.pdf. 6. Assembleia Geral da ONU, “Resolution Adopted by the General Assembly: 62/20. Prevention of an Arms Race in Outer Space,” 62ª sessão, 10 de janeiro de 2008, disponível em http://disarmament.un.org/vote.nsf (obtido em 20 de agosto de 2008). 7. Kevin Whitelaw, “China Aims High,” U.S. News and World Report, 4 de dezembro de 2007, 2, disponível em http://www.usnews.com/articles/news/2007/12/04/china-aims-high.html?PageNr=1 (obtido em 20 de agosto de 2008). 8. Joseph S. Nye Jr., “The Decline of America‟s Soft Power,” Foreign Affairs 83, nº. 3 (maio/junho de 2004): 1. 9. Ibid. 10. Colin Gray, American Military Space Policy: Information Systems, Weapon Systems, and Arms Control (Cambridge, MA: Abt Books, 1982), 77. 11. Ibid., 53. 12. Podvig and Hui Zhang, Russian and Chinese Responses, 5. 13. Ibid., 73. 14. Baker Spring, “Clinton‟s Failed Missile Defense Policy: A Legacy of Missed Opportunities,” Heritage Foundation, 21 de setembro 2000, disponível em http://www.heritage.org/Research/MissileDefense/BG1396.cfm (obtido em 20 de agosto de 2008). 15. Podvig and Hui Zhang, Russian and Chinese Responses, 56. 16. Sean Kay and Theresa Hitchens, “Bush Policy Would Start New Arms Race in Space,” Cleveland Plain Dealer, 25 de maio de 2005, in Center for Defense Information, http://www.cdi.org/program/document.cfm?DocumentID=3022&from_page=../index.cfm (obtido em 20 de agosto de 2008). 17. Michael Krepon, “Russia and China Propose a Treaty Banning Space Weapons, While the Pentagon Plans an ASAT Test,” Stimson Center, 14 de fevereiro de 2008, disponível em http://www.stimson.org/pub.cfm ?ID=568 (obtido em 13 de outubro de 2008). 18. Taylor Dinerman, “Space Weapons Agreements, Treaties, and Politics,” Space Review, 10 March 2008, disponível em http://www.thespacereview.com/article/1078/ 1 (obtido em 20 de agosto de 2008). Air & Space Power Journal – 2º Trimestre/2009 8 19. Ibid. 20. Taylor Dinerman, “Messy Battlefields,” Space Review, 24 March 2008, disponível em http://www.thespacereview.com/article/1089/1 (obtido em 20 de agosto de 2008). 21. Matthew Davis, “Dominating the Final Frontier,” BBC, 19 de outubro de 2006, disponível em http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/6068304.stm (obtido em 12 de outubro de 2008). 22. Whitelaw, “China Aims High,” 2. 23. Quoted in ibid. 24. Ibid. 25. Julian S. Corbett, Some Principles of Maritime Strategy (London: Longmans, Green, 1911), 89. 26. Alfred Thayer Mahan, The Influence of Sea Power upon History, 1660–1783 (Boston: Little, Brown, 1890), 317. 27. Corbett, Some Principles of Maritime Strategy, 90. 28. John J. Klein, Space Warfare: Strategy, Principles, and Policy (London: Routledge, 2006), 24. 29. Corbett, Some Principles of Maritime Strategy, 284. 30. Marc Kaufman, “U.S. Finds It‟s Getting Crowded Out There: Dominance in Space Slips As Other Nations Step Up Efforts,” Washington Post, 9 de julho de 2008, disponível em http://www.washingtonpost.com/wpdyn/content/article/2008/07/8/AR2008070803185_pf.html (obtido em 20 de agosto de 2008). 31. Ibid. 32. David Barboza, “China Launches Space Walk Mission,” International Herald Tribune, 26 de setembro de 2008, disponível em http://www.iht.com/articles/2008/ 09/26/asia/26space.php (obtido em 14 de outubro de 2008). 33. James Mann, “A Shining Model of Wealth without Liberty,” Washington Post, 20 May 2007, disponível em http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/ 2007/05/18/AR2007051801640.html (obtido em 14 de outubro de 2008). 34. Peter Ford, “What‟s behind Asia‟s Moon Race?” Christian Science Monitor, 25 de outubro de 2007, disponível em http://www.csmonitor.com/2007/1025/p06s01-woap.html (obtido em 20 de agosto de 2008); e Kaufman, “U.S. Finds.” 35. Barboza, “China Launches Space Walk Mission.” 36. Mahan, Influence of Sea Power, 106. 37. Simon Romero, “TECHNOLOGY: Military Now Often Enlists Commercial Technology,” New York Times, 10 de março de 2003, disponível em http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9406E4D81F3FF933A25750C0A9659C8B63& sec=&spon=&pagewanted=all (obtido em 14 de outubro de 2003). 38. Thomas Snitch, “A BASICally Bad Decision,” Space Review, 29 de setembro de 2008, http://www.thespacereview.com/article/1221/1 (obtido em 14 de outubro de 2008). 39. Loretta Hidalgo Whitesides, “Next for SpaceX: Falcon 9, NASA, Humans and the Moon?” Wired, 29 de setembro de 2008, http://blog.wired.com/wiredscience/ 2008/09/whats-next-at-s.html (obtido em 14 de outubro de 2008). 40. Brian Berger and Lon Rains, “Northrop to Buy SpaceShipOne Builder: Scaled Composites Already Crafting „SpaceShipTwo‟ for Tourists,” MSNBC, 20 julho 2007, http://www.msnbc.msn.com/id/19877344 (disponível 9 março 2008).
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