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O Princípio da Comunhão da Prova – GEN Jurídico

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QUEM SOMOS AUTORES CONTATO  
Advocacia Artigos Atualidades Concursos Dicas Educação Exame OAB Jurisprudência Legislação Notícias
ARTIGOS   PROCESSO CIVIL
O Princípio da Comunhão da Prova
Já tivemos oportunidade de expressar nossa preocupação com os
princípios processuais, em artigo escrito especificamente sobre os
princípios no processo de execução.
[1]
 Tal preocupação voltou ao centro
de nossas atenções num campo diferente da ciência processual; o do
direito probatório. Essa importante área do direito processual civil
contém uma série de princípios que mereceriam atenção
pormenorizada, cada qual em um artigo específico, mas dentre todos o
que nos chamou provocou a escrever o presente artigo é o princípio da
comunhão das provas.
Devemos confessar que a curiosidade nasceu de uma dificuldade
enfrentada em nossa prática profissional, em um processo determinado.
Fazemos esse esclarecimento inicial para demonstrar que são acertadas
as afirmativas de que o professor ou acadêmico de direito se completa
com a atividade jurisdicional desenvolvida na prática.
[2]
 Em nosso caso
específico, a advocacia nos fornece desafios que nos exigem constantes
estudos para serem superados, além de nos fornecer valiosos exemplos
práticos pra rechear as aulas, seminários, artigos e livros. No caso em
tela, a aridez do tratamento do assunto de forma concentrada nos
incentivou a elaboração do presente artigo.
De forma bastante sucinta o caso concreto que enfrentamos em nossa
prática profissional de desenvolveu da seguinte maneira: autor e réu
requereram genericamente a produção de provas em sua petição inicial
SOBRE O AUTOR
Daniel Amorim Assumpção
Neves é Mestre e Doutor em
Direito Processual Civil pela
USP. Professor assistente do
Prof. Antonio Carlos Marcato
na USP. Professor de Processo
Civil do Curso Forum (Rio de
Janeiro) e LFG (São Paulo).
Advogado em São Paulo, Rio de
Janeiro e Natal.
ÁREAS DE INTERESSE
Administrativo
Ambiental
Civil
Constitucional
Direito do Consumidor
Direito Eleitoral
Direitos Humanos
Econômico
Empresarial
Estatuto da Criança e do Adolescente
Ética
Filosofia do Direito
Imobiliário
Internacional
Leis Penais Especiais
Notarial
Penal
Português Jurídico
Previdenciário
Processo Civil
Processo Penal
Trabalho
Tributário
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Estatuto da Juventude será
sancionado nesta segunda‐feira
Primeira fase do Exame de Ordem
registra pior resultado desde 2010
17 4
e contestação, respectivamente. Pelo autor foi requerida a inversão do
ônus probatório, em virtude de alegada relação de consumo, pedido
esse indeferido na audiência preliminar. O réu, nessa mesma audiência,
reiterou seu desejo na produção da prova pericial, deferida pelo juiz.
Curiosamente, entretanto, após a apresentação dos quesitos e dos
assistentes técnicos por ambas as partes, o réu desistiu de seu pedido de
produção de perícia, sendo tal requerimento deferido pelo juiz inaudita
altera parte.
Além da evidente má‐fé e deslealdade processual do réu, que buscou
por meio de uma traiçoeira manobra afastar o juiz da verdade dos fatos,
na esperança de que nas águas turvas da presunção gerada pela
aplicação da regra do ônus da prova se sagrasse vitorioso, a decisão
padecia de grave vício gerado pela injustificável afronta ao princípio do
contraditório, já que o autor não pode se manifestar sobre o pedido de
desistência da prova. A par de tais considerações – que deixaremos de
lado para que o artigo não assuma a forma de peça processual – o mais
importante desse problema prático que enfrentamos era se o réu, como
“dono da prova”, poderia, a seu bel prazer, desistir de uma prova já
deferida, ainda que a parte contrária não concordasse com tal
desistência. Justamente a percepção de que a resposta deve ser dada de
forma negativa, à luz do direito constitucional da prova e do princípio da
comunhão das provas, nos motivou a elaboração do presente artigo.
2 – Conceito
Num primeiro momento o conceito tradicional do princípio da
comunhão das provas não parece suscitar grandes nem complexas
questões, apesar da aridez com que é tratado pela doutrina pátria.
Dentro do já pouco cuidado tema das provas, ao princípio da comunhão
das provas é reservado lugar ainda mais obscuro e subalterno. De
qualquer forma, aqueles que se dispuseram a tratar especificamente do
tema parecem convergir para uma conceituação em comum.
Segundo a doutrina que já enfrentou o fenômeno processual ora
analisado, o princípio da comunhão das provas determina que uma
prova produzida passa a ser do processo, pouco importando se o
responsável pelo requerimento ou determinação de sua produção tenha
sido o autor, réu, ou mesmo o juiz de ofício. Na verdade, até mesmo
outros sujeitos processuais poderão ter requerido a produção de tal
prova, como os terceiros intervenientes ou o Ministério Público como
fiscal da lei, que ainda assim a prova não será de A, B, ou C, mas sim do
processo. Significa dizer que não se admite que a prova tenha uma
identidade subjetiva, pouco importando quem tenha sido responsável
por sua produção.
Nesse sentido já havia se manifestado com acerto na doutrina nacional o
magistrado gaúcho Rui Portanova:
“Sendo o fim da prova levar a certeza à mente do juiz, para que possa
falar conforme a justiça, diz Echandia, há um interesse indubitável e
manifesto em razão da função que desempenha no processo. É o
princípio do interesse público na função da prova. É evidente, cada parte
persegue, com suas próprias forças, um benefício próprio e imediato.
Confira o gabarito da 2ª fase do XIII
Exame de Ordem
TRT‐PE oferece oito vagas de juiz com
salário de R$ 22 mil
TOP 5 | Os posts mais comentados da
semana (21/01/2013 a 25/01/2013)
Quanto ganham (em média) os
advogados no Brasil
Contudo, há de se considerar, ainda, o interesse público mediato que
está acima dos benefícios específicos das partes. Em conseqüência, a
prova nunca pertence a uma ou outra parte, mas ao juízo. Por igual, o
benefício que se retira do elemento probatório não se vincula somente
ao interesse da parte que produziu tal prova. É o princípio da comunhão
ou comunidade da prova, também chamado da aquisição”.
[3]
A principal característica desse princípio diz respeito à prova produzida,
embora nos parece que seja tal princípio também aplicável à fase
anterior à produção propriamente dita da prova, ainda no plano do
direito à prova adquirido concretamente no processo em razão do
deferimento pelo juiz da produção de determinado meio de prova.
Classicamente, uma vez tendo sido produzida a prova, pouco
importando quem seja o responsável pela introdução de tal prova no
processo, a mesma gerará efeitos para todos os sujeitos processuais
indistintamente, inclusive para aqueles que nada tiverem a ver com a
produção da prova.
Como ideia central do princípio encontra‐se justamente a comunhão da
eficácia probatória, sendo aqui entendido o termo “eficácia”, como
condição de gerar efeitos no caso concreto. Uma prova produzida dentro
do processo passa a gerar efeitos – benéficos ou prejudiciais – para
todos os sujeitos processuais, não sendo possível ao juiz valorar uma
prova de forma diferente para sujeitos processuais diferentes somente
porque um foi o responsável por sua produção e o outro não. Apesar do
sistema de livre convencimento motivado (persuasão racional), tal
postura do juiz seria até mesmo ilógica, em nada se justificando tratar o
valor da prova diferentemente para os sujeitos processuais. Ainda que
tenha ampla liberdade na valoração probatória, haverá certos limites à
atuação jurisdicional – como os resquícios de provas tarifadas (p.ex. art.
401, CPC c/c art. 227, CC) e a tentativa do Novo Código Civil de
ressuscitar a prova plena (arts. 215 e 225, CC)
[4]
 – sendo o princípio da
comunhão das provas justamente um deles. O juiz pode dar o valor que
entender a prova produzida, mas deverá fazê‐lo de forma homogênea
para todos os sujeitos processuais.
A justificativa lógica de aplicação do princípio da comunhão das provas
decorre da própria função desse instituto dentro do panorama
processual, qual seja, convencer o juiz da veracidade dos fatos alegados,
ainda que a veracidade processual ou veracidade possível, em
decorrência de ser a verdade absoluta um valor meramente utópico e
inalcançável.
[5]
 Seja como for, as provas servem como instrumento para
que o juiz chegue o mais próximo possível a percepção de como os fatos
realmente ocorreram, gerando‐se dessa aproximação o seu
convencimento.
[6]
 Sendo a prova instrumento de convencimento, seria
absolutamente ilógico que para uma das partes a prova fosse suficiente
para o juiz acreditar que o fato ocorreu, enquanto que para outra tal fato
seria considerado inverídico, somente porque não foi ela a responsável
pela produção da prova. A homogeneidade exigida no tocante ao
convencimento dos fatos é a base justificadora do princípio da
comunhão das provas, ao menos no tocante à prova já produzida, que
não é, como veremos, o campo exclusivo de aplicação do princípio.
Seria de fato inadmissível que um mesmo fato, diante de um mesmo
conjunto probatório, analisado por um só juiz, pudesse ser considerado
verdadeiro para a parte que a produziu e falso para a parte contrária –
não responsável pela sua produção – ou mesmo para litisconsortes da
parte responsável pela produção. Utilizando‐nos de um brocardo
popular, o fato dentro do processo, no tocante aos sujeitos processuais é
como a mulher grávida, ou seja, não existe mulher meio grávida, ou está
ou não está…
[7]
 Da mesma forma, para o fato considerado dentro do
processo, não existe fato meio verdadeiro, ou verdadeiro somente para
uns; ou o fato é verdadeiro para todos ou para ninguém, daí decorrente
a exigência da prova gerar efeitos homogêneos para todos os sujeitos
processuais, responsáveis ou não por sua produção.
Por fim, também se ampara no princípio da comunhão das provas a
impossibilidade da parte que tenha requerido a produção da prova
pretender, após sua produção e entendendo lhe ser a mesma prejudicial,
impedir que o juiz a utilize em seu convencimento. Como os advogados
não têm uma bola de cristal para antever o resultado de uma prova,
muitas vezes o produto probatório acaba por prejudicar a própria parte
que requereu sua produção, o que não é raro na praxe forense e que
espelha bem o dito popular de dar um tiro no próprio pé. Caso fosse
possível se afirmar que a prova pertence a quem a produz, seria
admissível que a parte, prejudicada pela prova, simplesmente
conseguisse seu desentranhamento dos autos, impedindo o juiz de
utilizá‐la em seu convencimento. Sendo “dona da prova”, se contrariado
com seu resultado, a retiraria do processo, como o menino “dono da
bola”, que ao ser colocado no gol pelos colegas, fica contrariado e leva a
bola embora, terminando com o jogo.
É evidente que rumaria contra as tendências mais modernas do processo
civil, em especial a promessa constitucional de um amplo acesso à
ordem jurídica justa, atual feição do tradicional princípio da
inafastabilidade da tutela jurisdicional (art. 5º, XXXV, CF), se permitir a
retirada de prova do processo somente porque essa não se mostrou
favorável à parte responsável por sua produção. O princípio da
comunhão das provas, ao indicar que a prova é do processo, e não das
partes e nem do juiz, evita que tal procedimento seja adotado, não
podendo a parte dispor de algo que não é dela, e sim do processo. A
prova, dessa forma, prejudicial ou benéfica a quem quer que seja, jamais
será afastada do convencimento do juiz por “arrependimento” da parte
que requereu sua produção.
[8]
3‐ Direito adquirido à prova de todos os sujeitos processuais
Já tivemos a oportunidade de afirmar, em trabalho anterior específico a
respeito do tema, que uma vez deferida uma prova, tendo ela sido
requerida por uma das partes, ou determinada de ofício pelo juiz, não
seria mais admissível, sem o ingresso do recurso cabível pela parte
interessada, a retratação por parte do juiz. Em nossa visão se verificaria
no caso a preclusão judicial, comumente e de forma errônea tratada
como preclusão pro iudicato, o que simplesmente impediria que o juiz
voltasse atrás em sua decisão anteriormente proferida.
A justificativa é que, embora o juiz possa – na verdade deva – indeferir as
provas inúteis e desnecessárias, uma vez deferida a produção de algum
meio de prova cria‐se um direito adquirido à prova, não sendo mais
possível o juiz voltar atrás em seu entendimento anterior para indeferir a
prova, ainda que passe, nesse segundo momento, a acreditar em sua
inutilidade ou desnecessidade.
Em nosso sentir, prova deferida é prova a ser produzida, ainda que a
percepção do juiz sobre ela se modifique no tempo. Em conclusão ao
pensamento desenvolvido afirmamos que:
“Assim, é correto afirmar, conclusivamente, que o art. 130 do Código de
Processo Civil permite a produção de provas por parte do juiz a qualquer
momento do processo, tendo essas sido indeferidas ou sendo novidades
na demanda judicial. Tal artigo, entretanto, sob pena de afronta ao
direito à prova que a parte vê nascer quando há seu deferimento, não
permite ao juiz o indeferimento de prova por ele deferida, tenha sido ela
fruto de requerimento da parte ou mesmo de iniciativa do próprio juiz,
em nítida verificação de preclusão judicial”.
[9]
Confessamos, entretanto, uma omissão cometida em nosso trabalho
anterior, que apesar de específico sobre o tema, essa questão não foi
abordado de forma tão completa quanto o necessário. Centramos
naquele trabalho a atenção na parte que requereu a prova, afirmando
não ser possível que o juiz a indeferisse sem concordância expressa da
mesma. Enfrentamos ainda a questão da prova deferida de ofício,
afirmando que nesse caso ambas as partes teriam um direito adquirido à
prova, não se admitindo o indeferimento de tal prova senão mediante a
concordância de ambas as partes. Não imaginamos, entretanto, o caso
específico de desistência da prova da parte que justamente a requereu, à
luz do direito adquirido da prova da parte contrária e do princípio da
comunhão das provas.
É evidente que a partir do momento em que defendemos a existência de
um direito adquirido tanto de autor como do réu à produção de prova
determinada de ofício, fica bem claro que não importa o sujeito
responsável pelo pedido ou determinação da produção da prova,
considerando‐se a própria natureza pública do processo, conquista
inafastável da ciência processual moderna. Procuraremos expor com
maior clareza tal ponto de vista, o que nos levará a conclusão de que não
basta à parte que requereu a produção da prova concordar com sua não
produção depois de seu deferimento, também sendo necessária a
concordância da parte contrária para que tal prova não seja mais
produzida. É nessa conclusão que nos parece legítimo a aplicação do
princípio da comunhão das provas em momento processual diverso do
tradicionalmente enfrentado pela doutrina.
Sendo a prova do processo, e não da parte que a requereu, a partir do
momento em que a mesma é deferida pelo juiz, ela perde
completamente a sua identidade subjetiva, passando desde já a
pertencer ao processo. Não há de fato qualquer razão – acadêmica ou
lógica – que reserve tal constatação somente a prova já produzida,
bastando para tanto lembrar que a fase de produção da prova é apenas
uma entre aquelas que compõe o procedimento probatório. E é
justamente o princípio da comunhão das provas, responsável pela perda
da identidade pelo seu surgimento no processo,que nos autoriza tal
conclusão. Nesse tocante, inclusive, cabe recordar as lições de Cândido
Rangel Dinamarco, para quem a propositura da prova já faz parte de sua
produção.
Tomando por base as lições do processualista das Arcadas, fica ainda
mais irrefutável a ideia de que a prova, embora não tenha sido pedida
por uma das partes, passa a também lhe pertencer após seu
deferimento, não se podendo admitir a não realização da mesma a não
ser mediante sua concordância. Pelo princípio da comunhão das provas a
prova é do processo, e o processo, segundo conceituação mais moderna,
é o procedimento animado por uma relação jurídica em contraditório. A
relação processual é formada pelos sujeitos processuais – todos eles –
que exercem no processo ônus, faculdades, deveres, direitos e sujeições.
Em última análise, os sujeitos processuais são titulares dos direitos
processuais, sendo o direito à produção de prova já deferida um deles.
Haverá, portanto, um direito adquirido de todos os sujeitos processuais
– em especial os parciais – para que a prova deferida,
independentemente de quem requereu sua produção, seja devidamente
produzida. Uma eventual retratação do juiz, indeferindo uma prova que
já havia sido anteriormente deferida, somente será admitida se, ouvidas
as partes, titulares em comum do direito à produção da prova, houver
concordância de ambas no tocante à sua não produção da prova. E aqui
pouco importa qual o sujeito responsável pelo desejo de não mais
produzir a prova; sendo o juiz, ouvirá ambas as partes, e, sendo a parte
que a requereu, será ouvida a parte contrária.
É evidente que nesse caso haverá uma inversão dos ônus de
adiantamento para a produção da prova, passando esse a ser carreado à
parte que se mantém desejosa de produzir a prova. Assim, se o autor
tinha pedido prova pericial e desiste de tal produção, após o
deferimento do juiz, o réu será ouvido, e se discordar, por qualquer
razão, da desistência, passará a ser o responsável pela realização da
prova, de forma que deverá, nos termos do art. 21, CPC, adiantar as
verbas honorárias do perito para que a prova possa ser produzida. O
indeferimento, entretanto, será absolutamente nulo, por
inconstitucional, já que agressor do princípio do direito à prova. É, em
nosso entender, a aplicação do princípio da comunhão das provas já em
seu nascedouro, quando nasce concretamente o direito a todos os
sujeitos processuais a produzir uma prova, independentemente de quem
tenha sido o responsável pelo pedido de sua produção. Apesar do pouco
trato da matéria pela doutrina nacional, cumpre registrar que Rui
Portanova, ao tratar do princípio da comunhão das provas, tece
comentários no sentido do texto, tomando como exemplo a
possibilidade aberta à parte pelo art. 408, CPC, de substituição de
testemunhas já arroladas:
“Entendemos que no sistema brasileiro vige o princípio da comunidade
da prova e que, não raras vezes, a parte‐ré deixa de arrolar testemunha
comum já arrolada pela parte autora. Assim, uma desistência pode
causar danos à outra parte (particular) e à busca da verdade real (em
geral). A melhor solução para o caso de desistência não suficientemente
motivada de testemunha é colher a concordância da parte contrária e,
em caso de dúvida, ouvir tanto a nova testemunha indicada com a
testemunha que se tentou substituir”.
[10]
Nos servindo da feliz lição do processualista gaúcho, e a ampliando para
outros meios de prova, nos parece que requerido qualquer meio de
prova, não seria possível à parte que a requereu desistir unilateralmente
de sua produção. O deferimento de pedido nesses termos, em
discordância da parte contrária, desejosa na produção de tal prova,
afrontaria o direito à produção da prova à luz do princípio da comunhão
das provas.
4 – Aplicações práticas do princípio da comunhão das provas
Embora a doutrina nacional tenha em sua grande maioria diligenciado no
tocante ao trato específico do princípio da comunhão das provas, em
alguns fenômenos processuais sua aplicação é sempre lembrada,
demonstrando a doutrina uma preocupação mais casuística que pontual
com o princípio. Não tendo feito uma análise exaustiva do ordenamento
processual brasileiro, lembramos de três fenômenos em que o princípio
ora analisado terá grande importância: (I) prova produzida por
litisconsorte; (II) prova produzida no recurso de agravo para comprovar a
determinação do art. 526, caput, CPC; (III) ônus da prova. Faremos com
relação a esses três fenômenos algumas considerações que nos parecem
relevantes.
a) Prova produzida por litisconsorte
A atuação dos litisconsortes vem regulada pelo art. 48, CPC, que cria,
ainda que em termos, o princípio da autonomia da atuação dos
litisconsortes. Segundo o dispositivo legal, “salvo disposição em
contrário, os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a
parte adversa, como litigantes distintos; os atos e as omissões de um não
prejudicarão nem beneficiarão os outros”. Apesar da clara redação do
texto legal levar a conclusão de que existe uma verdadeira autonomia de
atuação entre os litisconsortes, a melhor doutrina vem flexibilizando tal
autonomia, pontuando as exceções a tal regra.
[11]
De início é interessante frisar que a aplicação do art. 48, CPC, aos
litisconsortes no caso concreto dependerá num primeiro momento da
espécie de litisconsórcio que os une para litigar em conjunto. Das
diversas classificações possíveis, nos interessa aquele que separa o
litisconsórcio em unitário e simples, tomando como critério a
possibilidade ou não aberta ao juiz para resolver o processo de forma
diferenciada para os litisconsortes. Dessa forma, havendo a possibilidade
de distintas decisões para os litisconsortes, o litisconsórcio será simples,
enquanto que a obrigatoriedade de decisão uniforme para todos os
litisconsortes gera o litisconsórcio unitário.
Da definição apresentada acima – propositalmente simples – já se pode
perceber a primeira diferença no tratamento da autonomia de atuação
dos litigantes no tocante à espécie de litisconsórcio. No litisconsórcio
unitário, em que o destino dos litisconsortes obrigatoriamente será o
mesmo, resta evidenciado que qualquer ato de disposição de direito por
parte de somente um litisconsorte, sem o consentimento do outro, será
plenamente ineficaz.
Não há como se admitir, por exemplo, que somente um dos
litisconsortes transacione com a parte contrária, porque homologado o
acordo, a decisão final será diferente para os litisconsortes. Para um,
haverá uma sentença homologatória de transação, para o outro, desde
que a demanda seja julgada no mérito, uma sentença de procedência ou
improcedência.
Por outro lado, todos os atos benéficos praticados por um dos
litisconsortes certamente gerarão efeitos para os outros sujeitos que
com ele litigam em conjunto. Sendo o destino de todos o mesmo dentro
do processo, qualquer ato que auxilie processualmente um dos
litisconsortes obrigatoriamente auxiliará também a todos os demais.
Assim, na hipótese de litisconsórcio unitário, de total aplicação o
disposto no art. 320, I, CPC (não presunção de veracidade dos fatos
quando um dos réus contesta a ação) e art. 509, CPC (o recurso de um
litisconsorte aproveita aos demais).
Como se percebe, portanto, não parece ser possível se afirmar que na
hipótese de litisconsórcio unitário seja efetivamente aplicada a regra da
comunhão das provas
[12]
. No litisconsórcio simples, por outro lado, se
percebe uma maior aplicação do princípio, ainda que, ao menos nos
casos do art. 320, I e 509, ambos do CPC, seja possível excepcioná‐los
desde que não exista entre os litisconsortes uma comunhão de
interesses, ou seja, que o ato praticado por um deles não tenha como
objeto algo que aproveite ao outro, alguma matéria que teria sido
alegada pelo próprio litisconsorte omisso.
Seja como for, e nesse tocante pouco importando a espécie de
litisconsórcio, a questãoda prova produzida por um dos litisconsortes
passa a margem da regra – ou princípio – da autonomia de atuação dos
litisconsortes. A doutrina é uníssona em afirmar que a prova produzida
por um litisconsorte poderá plenamente prejudicar aos demais, que em
nada colaboraram para sua produção, mas que sofrerão seus efeitos da
mesma forma que os sofrerá o responsável pela produção. Prejudicial ou
benéfica, a prova produzida servirá a formar o convencimento do juiz, e
naturalmente esse convencimento será o mesmo para todos os sujeitos
processuais, o que incluiu os litisconsortes. E essa circunstância é
decorrência da aplicação do princípio da comunhão das provas.
Nesse sentido vem afirmando reiteradamente nossa melhor doutrina,
como se pode notar das lições de Humberto Theodoro Jr:
“As provas, todavia, não se consideram como pertinentes apenas ao
litisconsorte que as tenha promovido, sejam favoráveis ou contrárias ao
interesse comum do litisconsórcio. É que, pelo princípio da livre pesquisa
da verdade material, as provas são do juízo, ao importando a quem
tenha cabido a iniciativa de produzi‐las. Prevalece, modernamente, o
princípio da comunhão das provas”.
[13]
Diga‐se em síntese conclusiva que a aplicação do princípio da comunhão
das provas impede uma situação no mínimo surreal se permitido fosse
ao juiz considerar a prova produzida somente com relação ao
litisconsórcio responsável por sua produção. Sabendo‐se que a prova
serve a formar o convencimento do juiz a respeito da veracidade de um
fato, seria admitir que um mesmo fato, perante o mesmo juiz, pudesse
ser considerado verdadeiro para um litisconsorte e falso para outro, o
que logicamente é insustentável. Não custa frisar novamente, mas se a
prova não pertence nem ao autor, nem ao réu, e nem mesmo ao juiz,
estão incluídos aí também, por consequência óbvia, os litisconsortes.
b) A confissão e o litisconsórcio
A par da acirrada discussão a respeito da verdadeira natureza da
confissão, que para parcela significativa da doutrina não pode ser
considerada meio de prova, é notório a colocação de tal instituto entre
os meios de prova arrolados pelo Código de Processo Civil. Nos estreitos
limites do presente artigo, centraremos nossas preocupações no
disposto no art. 350, caput, CPC: “A confissão judicial faz prova contra o
confitente, não prejudicando, todavia, os litisconsortes”. Conforme se
nota do dispositivo legal transcrito, a sua literalidade leva o operador a
acreditar que na hipótese de litisconsórcio um meio de prova específico
– confissão – somente geraria efeitos para um dos litisconsortes, no caso
aquele responsável por sua produção, o confitente. Seria, portanto, uma
exceção ao princípio da comunhão das provas e de aplicação da regra de
autonomia de atuação dos litisconsortes.
Já nos adiantando a nossas próprias conclusões, o art. 350, caput, CPC,
apesar de sua tortuosa redação, não excepciona em nada o princípio da
comunhão das provas, e isso independentemente da espécie de
litisconsórcio. Para justificar nossa conclusão é preciso partir do
pressuposto que a confissão vincula o confitente, senão com força de
prova plena, noção rechaçada pela melhor doutrina à luz do princípio da
persuasão racional do juiz
[14]
, servindo como importante meio para seu
convencimento. Significa dizer que uma confissão eficaz é aquela que
convence o juiz da veracidade de um fato, sendo justamente esse
convencimento o efeito programado da confissão.
É natural que em decorrência do atual sistema de valoração de provas
que vigora em nosso ordenamento processual civil, a confissão seja
analisada em conjunto com as outras provas produzidas, em princípio
em pé de igualdade com as mesmas, não se admitindo nenhuma espécie
de tarifação prévia dos meios de prova. Inegável, entretanto, que a
confissão guarda na praxe forense lugar de destaque dentre os meios de
prova, sendo invariavelmente importante elemento na formação de
convencimento do juiz. Significa dizer que não tem força de prova plena
– nenhuma prova o tem – mas se mostra na prática como importante
elemento na demonstração da veracidade do fato alegado.
O mais importante aspecto da confissão para a análise ora feita é a
questão de sua eficácia. Há a regra de que a confissão vincula o
confitente, o que significa dizer que a confissão gera seus regulares
efeitos para aquele que confessou, ou seja, havendo a confissão o fato
será considerado com verdadeiro. Esse efeito, como já visto, somente
será gerado se a confissão, diante de outras provas produzidas, for
suficiente para convencer o juiz, mas de qualquer forma é possível se
concluir que, ao menos com relação ao confitente, haverá uma
vinculação. Nesse ponto é preciso, desde já, fazer uma observação:
partindo‐se de uma análise sob a perspectiva dos resultados, a confissão
não vincula somente o confitente, mas também, e naturalmente, a parte
contrária, em razão da aplicação do princípio da comunhão das provas.
Especificamente no tocante ao disposto no dispositivo legal ora
enfrentado, há a afirmação de que a confissão faz prova contra o
confitente, mas não prejudica os litisconsortes. A afirmativa não se
mostra aplicável diante da própria lógica exigida pelo sistema processual.
Fazer prova só pode ser entendido como convencer o juiz da veracidade
de um fato, o que, conforme exaustivamente visto, não pode se
configurar em fenômeno subjetivo parcial, dando‐se o fato verdadeiro
para somente alguns dos sujeitos processuais, e não para outros.
Esse verdadeiro absurdo lógico – antes mesmo de se tratar de absurdo
jurídico – é exatamente o sugerido pelo art. 350, caput, CPC, ao afirmar
que para o confitente fato seria dado como verdadeiro, mas ao
litisconsorte seria plenamente possível que o fato fosse considerado
falso.
[15]
 E tudo isso na mesma demanda…
Se a confissão gerar seus efeitos de convencer o juiz, todos os sujeitos
sofreram tais efeitos, considerando‐se que o fato será considerado
verdadeiro pelo juiz para todos os sujeitos processuais, tenham esses
participado ou não da confissão. É justamente em virtude desse nosso
entendimento que pouco nos interessa qual a espécie de litisconsórcio
para que a confissão vincule ou não o litisconsorte não confitente. Sendo
unitário ou simples, o fato será sempre um só, de forma que sendo a
confissão eficaz vinculará a todos, sendo ineficaz, não vinculará a
ninguém.
[16]
 Simples assim, a confissão pode ser plenamente eficaz ou
plenamente ineficaz, independentemente da espécie de litisconsórcio,
não existindo eficácia parcial justamente por não existir um fato que
possa ser ao mesmo tempo verdadeiro pra alguns e falso par outros.
Apenas uma consideração deve ser feita à luz da espécie de
litisconsórcio, a título de esclarecimento. Na hipótese de litisconsórcio
simples, é plenamente possível que um fato diga respeito a apenas um
dos litisconsortes, o que não ocorrerá no litisconsórcio simples. Essa
realidade poderia levar um leitor mais incauto a acreditar que nessa
hipótese seria aplicável a regra da eficácia subjetivamente parcial da
confissão, prevista pelo art. 350, caput, CPC, já que somente com relação
à parte confitente, única interessada no fato, a confissão geraria seus
efeitos. Essa, entretanto, é uma conclusão enganosa. Ainda que o fato
diga respeito a somente uma das partes, a confissão será plenamente
eficaz, se o juiz no caso concreto se convencer em razão dela, e a
veracidade do fato se dará a todos os litigantes, inclusive ao litisconsorte
que não confessou e que nada tem a ver com aquele fato. A ausência de
relação entre o litisconsorte e o fato narrado, entretanto, não enseja a
conclusão de que a confissão fez prova somente contra o confitente; fez
prova “contra” todos os sujeitos processuais, mas dependendo do caso
concreto no litisconsórcio simples, tal veracidade não importará em
absolutamente nada ao litisconsorte não confitente.[17]
Em compasso ao entendimento exposto, reforçamos nossa crença de
que o princípio da comunhão das prova afasta qualquer possibilidade de
aplicação da regra da autonomia dos litisconsortes no tocante às provas
produzidas no processo. E isso independentemente da espécie de
litisconsórcio – unitário ou simples – ou ainda do meio de prova,
incluindo‐se aí também a confissão. Em qualquer espécie de
litisconsórcio, e qualquer que seja o meio de prova, se o juiz se
convencer, o convencimento será idêntico para todos os litigantes, o
mesmo podendo se afirmar na hipótese de não convencimento.
c) O princípio da comunhão das provas e o art. 526, CPC
Nas recentes reformas processuais – ao menos na mais recente onda
reformista; Lei 10.352/02 – houve uma importante modificação no
tocante ao procedimento de comunicação de interposição do agravo de
instrumento perante o juízo de primeiro grau.
A partir do novo texto legal do art. 526, CPC, em especial com a inclusão
de um parágrafo único, a ausência de comunicação da interposição do
agravo de instrumento perante o juízo de primeiro grau somente será
razão para a inadmissibilidade do recurso se o agravado arguir e provar o
descumprimento do disposto no art. 526, caput, CPC. Apesar de
contrariar a teoria geral dos requisitos de admissibilidade recursal, o
dispositivo legal tentou colocar fim a antiga divergência doutrinaria e
jurisprudencial a respeito de ser a comunicação um ônus ou mera
faculdade do agravante.
Apesar de superada a discussão, em razão da nova redação do
dispositivo legal, sempre entendemos que a comunicação no prazo de
três dias, prevista em lei, não se tratava de mera faculdade do agravante,
mas sim de ônus processual, que uma vez descumprido geraria o não
conhecimento do recurso. E assim nos parecia em virtude de não
entendermos que a única função da comunicação era possibilitar ao juiz
de primeiro grau a retratação. Além disso, aspecto inegável de um dos
efeitos da comunicação, sempre nos pareceu que a norma prestigiava o
princípio da boa‐fé e lealdade processual, já que forçando a
comunicação em três dias, o agravado, quando intimado, não seria
obrigado a se deslocar até a sede do tribunal, em alguns casos
consideravelmente longe do local em que milita, bastando para ter
ciência do teor do recurso fazer uma visita ao Fórum da cidade e analisar
os autos principais. Quem sabe para aqueles que, como nós, militam em
capitais do Estado, a observação seja esquisita, mas nem só de capital
vive a atividade advocatícia desse enorme país.
Seja como for, nos parece que, a par de eventuais críticas, a nova
redação do art. 526, CPC, estancou qualquer dúvida a respeito da
natureza jurídica da informação lá prevista, embora tenha criado um
curioso e singular requisito de cabimento recursal que não é tratado
como matéria de ordem pública, só podendo ser considerado pelo
Tribunal se a parte recorrida expressamente alegar o desrespeito a
exigência legal.
[18]
Alegar e provar, segundo a segunda atividade a que mais nos interessa
no presente artigo.
Nos parece indubitável que, se o agravado não arguir o descumprimento
do disposto no art. 526, caput, CPC, o Tribunal estará obrigado a
prosseguir no julgamento do agravo de instrumento,
independentemente do agravante ter ou não informado o juízo de
primeiro grau da interposição do recurso. Tal exigência, inclusive, conota
de manifesta ilegalidade a prática relativamente disseminada do relator
de exigir do agravante a comprovação da comunicação perante o juízo
de primeiro grau.
[19]
 Se à luz da redação anterior tal exigência já era
deveras discutível, atualmente é um absurdo sem qualquer respaldo na
legislação, devendo o advogado simplesmente ignorar tal requisição do
juiz relator, ou ainda lembrá‐lo pacientemente que com a mudança
legislativa, o ônus de, ao menos alegar o descumprimento da
comunicação prevista pelo art. 526, CPC, caberá ao agravado, e nunca ao
agravado. Goste‐se ou não, é isso que determina a lei.
Se nenhuma dúvida nos resta quanto à exigência de alegação do
agravado de que o agravante não informou o primeiro grau em 3 dias da
interposição do agravo, não concordamos com a interpretação literal do
dispositivo legal ora analisado no tocante a exigência de que a
comprovação de tal omissão também seja de responsabilidade exclusiva
do agravado.
É evidente que no mais das vezes será o próprio agravado que
comprovará, por meio de certidão de objeto e pé, que o agravante
descumpriu a informação, mas não nos parece que ele seja o único
responsável por tal prova.
[20]
 Em nosso sentir, uma vez alegado o
descumprimento, qualquer prova, produzida por qualquer dos sujeitos
processuais, poderá servir ao Tribunal para deixar de conhecer o recurso,
justamente em razão do princípio da comunhão das provas.
Cândido Rangel Dinamarco, amparado em lições de Paulo Cezar Pinheiro
Carneiro, já se manifestou nesse sentido, respondendo à questão a
respeito da rigidez do ônus da prova ao agravado nesse caso:
“Mas será tão rígido esse onus probandi posto a cargo do agravado? Se
ele alegar a infração ao art. 526 e o agravante admitir a omissão ou
silenciar, ainda assim o recurso será conhecido? Seguramente, o agravo
não será conhecido se o agravado fizer a arguição, nada provar, mas as
informações prestadas pelo juiz de primeiro grau derem conta de que a
comunicação não foi feita pelo agravante – porque essa é uma aplicação
do princípio da aquisição da prova, pelo qual a prova vinda aos autos
produz seus efeitos sempre, sem importar qual sua origem ou quem a
produziu.”
[21]
Concordamos plenamente com os doutrinadores citados acima, nos
parecendo que, independentemente do sujeito responsável pela
produção da prova de que a comunicação não ocorre conforme os
ditames legais, o Tribunal pode se convencer do descumprimento –
desde que alegado pelo agravado – gerando o não conhecimento do
agravo de instrumento. O princípio da comunhão das provas,
determinando que a prova é do processo, e não dos sujeitos processuais,
impede que o Tribunal desconsidere a prova somente porque a mesma
não foi produzida pelo agravado, bastando para o não conhecimento do
recurso a existência da prova. Assim, a informação do agravado é um
ônus perfeito, enquanto a comprovação é um ônus imperfeito.
d) Ônus da prova
Outro tema em que se constata a importância da aplicação do princípio
da comunhão das provas é o do ônus da prova, em especial no tocante a
seu elemento objetivo. Não é esse o momento para considerações mais
especificas a respeito do tema, mas sucintamente, apenas para
sedimentar aquilo que pretendemos de fato expor, nos deteremos nos
aspectos objetivos e subjetivos do instituto.
O ônus da prova é comumente encarado pela doutrina sob dois
aspectos; o subjetivo e objetivo. Pelo aspecto subjetivo do ônus da prova
se estabelecem as regras de qual sujeito processual sofrerá situação
processual de desvantagem no caso da prova não ser produzida,
parcialmente ou integralmente. Nesse sentido o ônus da prova serve
como uma regra de conduta das partes durante a instrução probatória,
indicando quem é o responsável pelo convencimento do juiz dos fatos
alegados pelo autor. Pelo aspecto objetivo o ônus da prova funciona
como uma regra de julgamento, aplicada pelo juiz sempre que não exista
qualquer prova produzida ou a mesma se mostre insuficiente. Não
podendo declarar o non liquet, ou seja, estando obrigado a decidir,
independentemente da prova produzida, o juiz, tomando por base as
regras que definem o caráter subjetivo do ônus da prova, coloca a parte
que dele não se desincumbiu em situação processual de desvantagem.
[22]
Mas o que teria o ônus da prova a ver com o princípio da comunhão das
provas? Na verdade essa relação se cristaliza partindo‐se de uma análise
do ônus sob o aspecto objetivo, sendo certo que a regra de julgamento
estabelecida pelo ônus da prova sódeve ser aplicada na ausência – total
ou parcial – de prova, não se justificando sua aplicação nas hipóteses de
existir nos autos elementos de convicção do juiz. Nem poderia ser
diferente, considerando‐se que ao julgar pelo ônus da prova o juiz decide
baseado numa mera presunção, que poderia ser singelamente traduzida
da seguinte forma: aquele que alegou e não provou deve ter alegado
algo que não correspondia com a realidade. Por outro lado, julgando
baseado na prova, o juiz deixa de lado a presunção, se baseando na
certeza a respeito do conjunto fático que compõe o processo judicial.
Resta evidente ser preferível ao juiz decidir baseando‐se na certeza
gerada pela prova do que na presunção típica da aplicação da regra de
julgamento chamada de ônus da prova.
O interessante aqui, e nisso o aspecto objetivo do ônus da prova se
interage com o aspecto subjetivo, é que a regra de julgamento não se
importa com quem tinha o ônus de provar, mas sim com a efetiva
produção da mesma, independentemente de seu responsável. O juiz
somente passará no caso concreto a analisar o aspecto subjetivo do ônus
da prova se for forçado a aplica‐lo como regra de julgamento (aspecto
objetivo), o que só ocorrerá, conforme já afirmado, se não houver prova
suficiente para forma seu convencimento. Somente nessa situação terá
alguma importância ao processo de quem era o ônus da prova, e qual o
sujeito processual será colocado numa situação processual de
desvantagem. Em outras palavras, o juiz não investiga o caráter subjetivo
da prova, quem foi o responsável pela sua produção, situando sua
analise tão somente ao produto probatório; se as provas forem
suficientes ele decide baseado nelas, em caso contrário, aplica o ônus da
prova.
A nenhuma importância de quem foi o responsável pela produção da
prova, mas sim de sua efetiva produção, decorre da aplicação do
princípio da comunhão das provas. O juiz não se interessa pelo
responsável pela produção da prova porque somente lhe interessa se ela
foi produzida ou não, em decorrência lógica do princípio que determina
que toda prova produzida é do processo, e não de forma exclusiva
daquele que se desincumbiu de seu ônus a produzindo ou mesmo
daquele que, mesmo não tendo tal ônus, a produziu. Assim já havia se
manifestado com precisão José Carlos Barbosa Moreira:
“Ao juiz, por conseguinte, toca ver se são completos ou incompletos os
resultados da atividade instrutória. Não lhe importa, na primeira
hipótese, a quem se deve o serem completos os resultados. Importar‐
lhe‐á, sim, na segunda, a quem se deve o serem incompletos; ou, mais
precisamente, a quem se hão de atribuir as consequências da
remanescente incerteza. Se quisermos usar a terminologia habitual,
poderemos dizer que o órgão judicial só tem de preocupar‐se, a rigor,
com o aspecto objetivo do ônus da prova, não com o seu aspecto
subjetivo.”
[23]
Não existe a possibilidade, portanto, do juiz deixar de levar em
consideração uma prova efetivamente produzida somente porque seu
responsável não tinha o ônus de produzi‐la. Essa questão, na verdade,
não é nem ao menos colocada, contando que o aspecto subjetivo do
ônus da prova só passa a ter alguma importância a partir do momento
em que o juiz se vê obrigado a aplica‐lo em seu aspecto objetivo. Com
prova produzida, independentemente de seu responsável, o juiz decidirá
sem qualquer remissão ao ônus da prova, pouco importando para seu
julgamento quem tinha o ônus de provar, e essa situação se justifica
justamente em razão do princípio da comunhão das provas.
[24]
[1] Daniel Amorim Assumpção Neves, “Princípios do processo de execução”, in Revista
Dialética de direito processual, vol. 27, São Paulo, Dialética, 2005, pp. 36/48.
[2] Nesse sentido José Ignácio de Botelho Mesquita, em entrevista concedida ao
Jornal Tribuna do Direito, nº 147, julho 2005: “O professor de Direito que não advoga
conhece só metade da realidade. Conhece a teoria, mas não tem idéia da vida como
ela é. Não sabe o que é estar com um cliente aflito. O professor precisa ter
experiência. Na Advocacia, por sua vez, é preciso ter conhecimento de ponta, estar
sempre atualizado, e a universidade proporciona isso”. Destacando a interseção entre
a “academia” e a “advocacia”, Alexandre Freitas Câmara, “A banca única e as
prerrogativas do advogado (ou “um advogado em defesa da banca única”), in Escritos
de Direito Processual, segunda série, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2005, p. 207.
[3] Cfr. Princípios do processo civil, 3ª ed., Campinas, Livraria do Advogado, 1999, p.
217. A respeito do tema, valiosa a liça de Hernando Devis Echandía, Teoria general de
la prueba judicial, tomo I, 5ª ed., Bogotá Temis, 2002, p. 110: “Consecuencia de la
unidad de la prueba es su comunidad; esto es, que ella no pertenece a quien la aporta
y que es improcedente pretender que solo a este beneficie, puesto que, una vez
introducida legalmene al proceso, debe tenérsela em cuenta para determinar la
existência o inexistencia Del hecho a que se refiere, sea que resulte em beneficio de
quien la adujo o de la parte contraria, que bien puede invocarla. Como el fin del
proceso es La realización del derecho mediante la aplicación de la ley al caso concreto
y como las pruebas constituyen los elementos utilizados por el juez para llegar a esse
resultado, nada importa quién lãs haya pedido o aportado; desde el momento que
ellas producen la convicción o certeza necesaria, la función del juez se limita a aplicar
la norma reguladora de esa situación de hecho”. Com as mesmas considerações as
lições de Victor de Santo, El proceso civil, tomo II, Buenos Aires, Universidad, 2000,
pp. 257/258. Ainda Juan Montero Aroca, La prueba em el Proceso Civil, 3ª ed., Madri,
Civitas, 2002, p. 83: “Aunque el principio tiene contenido general (si uma parte
interpone el recurso de apelación, este se tramitará para las dos), es em la prueba
donde adquiere mayor sentido, significando que si um hecho ha sido probado, el
juzgador tiene que partir de él em la sentencia, siendo indiferente qué parte lo haya
probado. Dicho de outra manera, todas las pruebas se incorporan al proceso, son del
proceso em que producirán certeza, y tienen como destinatário al juez”.
[4] Para comentários mais aprofundados sobre o tema, consultar Fredie Didier Jr.,
Regras processuais no Novo Código Civil, São Paulo, Saraiva, 2004, pp. 29/35. No
direito argentino, Victor de Santo, El proceso civil, op. cit., p. 668, fala na confissão e
na escritura pública como exemplos de prova plena. Jaime Guasp e Pedro Aragoneses,
Derecho procesal civil, tomo I, 5ª ed., Madri, Civitas, 2002, p. 364, apontam algumas
disposições concretas que estabelecem previamente força probatória a determinados
meios de provas.
[5] Já tivemos a oportunidade de tratar do tema com maior profundidade em
“Algumas considerações sobre as limitações procedimentais à busca da verdade no
processo civil brasileiro”, in Revista Dialética, vol. 30. Em lição que liga o
convencimento do juiz à verdade processual, Victor de Santo, El proceso civil, op cit.,
2000, p. 695.
[6] Nesse sentido as lições de Eduardo Couture, Fundamentos de direito processual
civil, trad. Benedicto Giaccobini, Campinas, Red Livros, 1999, pp. 137/138: “Encarada
do ponto de vista das partes, a prova é também, uma forma de provocar a convicção
do magistrado. O regime vigente leva as partes a esgotarem os meios facultados pela
lei para formar no espírito do juiz um estado de convicção acerca da existência ou
inexistência das circunstâncias relevantes do processo”. Ainda Jaime Guasp e Pedro
Aragoneses, Derecho procesal civil, op. cit., p. 343.
[7] É clássica a afirmação feita por Carnelutti que a verdade é como água, ou é pura ou
não é verdade, lembrada nas lições de Santiago Santis Melendo, La prueba – los
grandes temas Del derecho probatório, Buenos Aires, Ediciones Jurídicas Europa‐
America, 1979, p. 42.
[8] Nesse sentido Hernando Devis Echandia,Teoria general de la prueba judicial, op.
cit., p. 111: “Este principio determina la inadmisibilidad de la renuncia o desistimiento
a la prueba ya practicada, pues solo si se considerara patrimonio procesal del
aportante o peticionario o para su solo beneficio, podría aceptarse que la retira o
dejara sin efectos”.
[9] Cfr. Preclusões para o juiz – preclusão pro iudicato e preclusão judicial no processo
civil, São Paulo, Método, 2004, pp. 265/272. A respeito do direito adquirido à
produção de prova já deferida pelo juiz, as lições de José Garberí Llobregat e
Guadalupe Buitrón Ramírez, La prueba civil, Valencia, Tirant lo blanch, 2004, p. 148:
“En cuarto lugar, también se deriva del derecho a La prueba consagrado em el art.
24.2 CE el derecho a que la prueba admitida por el órgano judicial sea efectivamente
practicada, de forma que la admisión de la prueba no quede reducida a ser uma
actuación meramente retórica al no ir acompañada de la adopción de todas medidas
imprescindibles para asegurar que dichos medios probatorios admitidos a trámite
sean ejecutados confore a las exigências legales”.
[10] Cfr. Princípios do processo civil, op. cit., p. 217.
[11] Cândido Rangel Dinamarco, Litisconsórcio, 7ª ed., São Paulo, Malheiros, 2002, p.
125: “A autonomia dos litisconsortes, que não prevalece no litisconsórcio unitário em
razão da indispensável homogeneidade no julgamento do mérito, também no
litisconsórcio comum constitui regra de aplicação apenas relativa. Não‐obstante
cindíveis as situações jurídico‐substanciais a julgar e portanto comum o litisconsórcio,
ocorrem situações em que o julgamento precisa convergir à harmonia, não se
concebendo que uma só e única sentença venha a afirmar e ao mesmo tempo negar o
mesmo fato, ou venha adotar duas teses jurídicas antagônicas. Nesses casos, certas
condutas individuais d litisconsorte serão capazes de favorecer os demais”.
[12] A melhor doutrina afasta a aplicação da regra da autonomia do litisconsórcio
unitário: Cândido Rangel Dinamarco, Litisconsórcio, op. cit., pp. 124/125; Cássio
Scarpinella Bueno, Partes e terceiros no processo civil brasileiro, São Paulo, Saraiva,
2003, pp. 125/126; Ovídio A. Baptista da Silva, Comentários ao Código de Processo
Civil, vol. 1, São Paulo, RT, 2000, p. 253.
[13] Cfr.Curso de direito processual civil, vol. I, 34ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 2000,
p. 100. Com o mesmo entendimento: Moacyr Amaral Santos, Primeiras linhas de
direito processual civil, vol. 2, 21ª ed., São Paulo, Saraiva, 2000, p. 13; Celso Agrícola
Barbi, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. I, 11ª ed., Rio de Janeiro, Forense,
2002, p. 210.
[14] Não concordamos com o pensamento de Antônio Carlos de Araújo Cintra,
Comentários ao Código de Processo Civil, vol. IV, Rio de Janeiro, Forense, 2001, p. 64,
para quem, apesar de expressa previsão legal, a confissão faria prova plena,
escapando da valoração do juiz.
[15] Alexandre Freitas Câmara, Lições de direito processual civil, vol. I, 9ª ed., Rio de
Janeiro, Lumen Juris, 2003, p. 182: “Considerando‐se que não se poderia admitir, por
contrariar a lógica, que o juiz tivesse por provado o fato em relação ao litisconsorte
que confessou, e não comprovado em relação aos demais, é certo que na sentença se
poderá verificar que aquela confissão produziu efeitos em relação aos demais
litisconsortes”. Ernane Fidélis dos Santos, Manual de direito processual civil, vol. 1,
10ª ed., São Paulo, Saraiva, 2003, p. 454, no tratamento do tema, afirma que “não se
pode considerar, no mesmo processo, um fato como existente e inexistente ao
mesmo tempo”.
[16] Parece ser esse o entendimento de Cândido Rangel Dinamarco, Litisconsórcio, op.
cit., p. 147: “Conclusão: a confissão de um dos litisconsortes tem a mesma eficácia
que teria se fosse ele litigante isolado (sem litisconsórcio), ou seja, o juiz a sopesará
em face do conjunto probatório e lhe atribuirá o valor que lhe parecer, em relação a
todos os litisconsortes (quer se trate de litisconsórcio comum ou unitário)”.
[17] Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, Comentários ao Código de
Processo Civil, vol. 5, tomo I, São Paulo, RT, 2000, p. 356 afirmam que “os fatos
exclusivos de cada um dos consortes, embora admitidos como verdadeiros pela
confissão, não importam qualquer reflexo para o interesse dos demais”.
[18] A curiosidade já havia sido percebida por Leonardo José Carneiro da Cunha,
Inovações no processo civil, São Paulo, Dialética, 2002, p. 101. A estranheza com a
novidade levou alguns doutrinadores, inclusive, a rumarem contra a literalidade do
texto legal, afirmando que por se tratar de matéria de ordem pública o juiz poderia
conhecer a matéria de ofício. Nesse sentido Fabiano Carvalho, “Os agravos e a
reforma do Código de Processo Civil”, in A nova etapa da reforma do Código de
Processo Civil, São Paulo, Saraiva, 2002, p. 285.
[19] Também contrários a tal prática, Luiz Rodrigues Wambier e Teresa Arruda Alvim
Wambier, Breves comentários à 2ª fase da reforma do Código de Processo Civil, 2ª
ed., São Paulo, RT, 2002, p.161.
[20]  Apontando para a certidão como forma de prova, as lições de Cândido Rangel
Dinamarco, A Reforma da Reforma, 2 ª ed., São Paulo, Malheiros, 2002, p. 181; José
Rogério Cruz e Tucci, Lineamentos da nova reforma do CPC, 2ª ed., São Paulo, RT,
2002, p. 116; José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil,
vol. V, 11ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 2003, p. 507.
[21] Cfr. A reforma da reforma, 2ª ed., São Paulo, Malheiros, 2002, p. 182. No mesmo
sentido, lembrando que a prova pode vir nas informações do juízo de primeiro grau,
Luiz Rodriguez Wambier e Teresa Arruda Alvim Wambier, Breves comentários à 2ª
fase da reforma do Código de Processo Civil, op. cit., p. 162; Ricardo de Carvalho
Aprigliano, Nova reforma processual civil, 2ª ed., São Paulo, Método, 2002, p. 279 e
Fávio Cheim Jorge, A nova reforma processual, 2ª ed., São Paulo, Saraiva, 2003, p.
171.
[22] Nesse sentido, por todos, consultar José Carlos Barbosa Moreira, “Julgamento e
ônus da prova”, in Temas de direito processual, Segunda Série, São Paulo, Saraiva,
1980, pp. 74/75. Para uma análise exaustiva do tema, a obra clássica de Leo
Rosenberg, La carga de la prueba, trad. Ernesto Krotoschin, 2ª ed., Montevideo, Julio
César Faria, 2002, pp. 27/61.
[23] Cfr. “Julgamento e ônus da prova”, op. cit., p. 75. No mesmo sentido as lições de
João Batista Lopes, A prova no direito processual civil, São Paulo, RT, 2000, p. 43: “É
que, na verdade, havendo nos autos elementos probatórios suficientes, não há razão
para o juiz preocupar‐se com a questão do ônus da prova, isto é, se tais elementos
foram carreados ao processo pela parte a quem tocava o ônus de faze‐lo. Em verdade,
no momento da produção da prova, o juiz não se preocupa com a questão do
respectivo ônus, isto é, não diz a quem incumbe a demonstração das alegações, tema
que só será objeto de indagação por ocasião do julgamento”. No direito português,
Jorge Augusto Pais de Amaral, Direito processual civil, 3ª ed., Lisboa, Almedina, 2002,
p. 235: “Não é, porém, indispensável que a prova seja feita pela parte sobre a qual
recai o ónus. O que importa é que a prova seja feita, isto é, que o juiz fique
convencido. A prova pode ser produzida pela outra parte ou ser obtida por iniciativa
do juiz”. No mesmo sentido, Andrea Proto Pisani, Lezioni di diritto processuale civile,
4ª ed., Napoli, Jovene, 2001, pp. 442/443.
[24] Falando especificamente a respeito da comunhão das prova afastando a
aplicação da regra de julgamento ônus da prova, Crisanto Mandrioli, Diritto
processuale civile, vol. II, 14ª ed., Torino, Giappichelli, 2002, p.188: “Come
superamento dell’onere della prova si presenta innanzi tutto la c. d. acquisizione della
prova che si sostanzia nella regola generale secondo la quale uma volta Che la prova
sia entrata nel processo, ossia acquisita, il giudice può prescindere dalfatto che vi sai
entrata per iniziativa della parte onerata, oppure dell’altra parte, o, nei casi um cui ciò
é possibile addirittura per iniziativa dello stesso giudice, purché però i fatti oggetto di
prova siano stati allegati dalla parte che fruisce della prova.”
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COMUNHÃO   COMUNHÃO DAS PROVAS   DIREITO PROBATÓRIO   PROVA  
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