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FUMESC – Fundação Machadense de Ensino Superior e Comunicação LINGUAGEM JURÍDICA PROFESSOR RODRIGO LUIZ NERY 2º SEMESTRE / 2011 FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 2 PLANEJAMENTO – LINGUAGEM JURÍDICA – 2º SEMESTRE/2011 Seg. 01/08 1º A CAPÍTULO I – LÍNGUA E VOCABULÁRIO CAPÍTULO II – LINGUAGEM JURÍDICATer. 02/08 1º B Seg. 08/08 1º A CAPÍTULO III – SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRASTer. 09/08 1º B Seg. 15/08 1º A CAPÍTULO IV - CORRESPONDÊNCIASTer. 16/08 1º B Seg. 22/08 1º A TRABALHO: CORRESPONDÊNCIASTer. 23/08 1º B Seg. 29/08 1º A (FERIADO)Ter. 30/08 1º B Seg. 05/09 1º A CAPÍTULO V – CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINALTer. 06/09 1º B Seg. 12/09 1º A (FERIADO)Ter. 13/09 1º B Seg. 19/09 1º A CAPÍTULO VI – REGÊNCIA VERBALTer. 20/09 1º B Seg. 26/09 1º A AVALIAÇÃO BIMESTRAL (CAPÍTULOS II, III, V e VI)Ter. 27/09 1º B Seg. 03/10 1º A CAPÍTULO VII – REGÊNCIAL NOMINAL CAPÍTULO VIII – O USO DA CRASETer. 04/10 1º B Seg. 10/10 1º A (FERIADO)Ter. 11/10 1º B Seg. 17/10 1º A CAPÍTULO IX – EXPRESSÕES QUE APRESENTAM DIFICULDADESTer. 18/10 1º B Seg. 24/10 1º A AVALIAÇÃO (CAPÍTULOS VII, VIII, IX)Ter. 25/10 1º B Seg. 31/10 1º A CAPÍTULO X – A LEI CAPÍTULO XI – TEXTO E DISCURSOTer. 01/11 1º B Seg. 07/11 1º A TRABALHO – LEITURA, INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOSTer. 08/11 1º B Seg. 14/11 1º A (FERIADO)Ter. 15/11 1º B Seg. 21/11 1º A AVALIAÇÃO BIMESTRAL (CAPÍTULOS VII, VIII, IX, X e XI)Ter. 22/11 1º B Seg. 28/11 1º A REVISÃO DE CONTEÚDO / EXERCÍCIOS PRÁTICOSTer. 29/11 1º B Seg. 05/12 1º A EXAME FINALTer. 06/12 1º B FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 3 CAPÍTULO 1 LÍNGUA E VOCABULÁRIO Conceitos básicos: Linguagem: é a capacidade comunicativa dos seres. A linguagem articulada é aquela em que se constrói um sistema organizado de signos. Signo: é uma unidade de representação. O signo representa, no ato da enunciação, um elemento que está ausente e é evocado quando da substituição pelo signo. Signo lingüístico: signo arbitrário que une um conceito a uma imagem acústica, ou seja, faz a ligação entre o significado e o significante. Denotação: uso do signo lingüístico em seu sentido comum, corrente, arbitrário. Conotação: uso do signo lingüístico em sentido figurado, criativo, não relacionado à arbitrariedade de sua significação, mas ao que suscita o conceito por ele evocado. Língua: conjunto de sinais organizados convencionalmente para servir à comunicação. A língua é uma das formas de linguagem, o código que melhor atende às necessidades de expressão humana. Fala: uso que cada indivíduo faz das combinações possibilitadas pela língua. Enquanto a língua constitui um depositório de signos, a fala pressupõe uma postura ativa sobre a língua. Campo etimológico e campo semântico: Construir um campo etimológico significa reunir vocábulos que tenham a mesma raiz ou o mesmo radical. O campo semântico reúne palavras cognatas, ou seja, palavras “parentes”. Exemplo: Exercício: 1 – Construa um campo etimológico (8 palavras, no mínimo) para cada um dos vocábulos abaixo. a) lei _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 4 b) pão _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ c) luz _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ d) livre _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ e) juiz _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ Construir um campo semântico significa reunir vocábulos por associação de significados, construindo um universo em que, a partir de uma palavra-chave, todas se remetam a ela por diversos critérios de aproximação. Exemplo: Exercício: 1 – Construa um campo semântico (8 palavras, no mínimo) para cada um dos vocábulos abaixo. a) boca _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 5 b) pé _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ c) justiça _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ d) prisão _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ e) drogas _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ _____________ Anotações: FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 6 CAPÍTULO 2 LINGUAGEM JURÍDICA Linguagem jurídica é, segundo Cornu1, um ramo de estudo da linguagem que vem se desenvolvendo, dedicado ao estudo da linguagem do direito. A linguagem que é observada é aquela do direito (da norma, da decisão, da convenção, das declarações, das negociações, das relações, do ensino). Este estudo é jurídico, porque a linguagem jurídica ou comum é sempre objeto de uma regra de direito (quando a lei exige, no uso de uma língua, o emprego de certas palavras etc.). Este estudo é jurídico, ainda, por todas as ações jurídicas que se exercem sobre a língua: a lei nomeia (os contratos, os delitos), a lei consagra num emprego novo (com sentido particular) um termo da língua usual, a jurisprudência2 e a doutrina concorrem para isso. A lingüística é aqui jurídica pela impregnação da linguagem pelo direito. Ela tem entre seus objetos as interações da linguagem e do direito, quer dizer, tanto a ação do direito sobre a linguagem como a ação da linguagem sobre o direito. É essencial compreender que o estudo lingüístico da linguagem do direito conduz necessariamente àquele do direito da linguagem. Vocabulário Jurídico Parece, à primeira vista, que o vocabulário jurídico não se limita apenas aos termos de pertinência jurídica exclusiva. Ele se estende a todas as palavras que o direito emprega numa acepção3 que lhe é própria. Ele engloba todos os termos que, tendo ao menos um sentido no uso ordinário4 e ao menos um sentido diferente aos olhos do direito, são marcados pela polissemia5. Resumidamente, pode-se dizer que o vocabulário jurídico é composto pelos seguintes tipos de termos: 1) termos que possuem o mesmo significado na língua corrente e na linguagem jurídica, por exemplo, hipótese, estrutura, confiança, reunião, critério, argumentos, etc.; 2) termos de polissemia externa, isto é, termos que possuem um significado na língua corrente e outro significado na linguagem jurídica, por exemplo: - sentença – na língua corrente significa uma frase, uma oração; já na linguagem jurídica, significa a decisão de um juiz; - ação – na linguagem corrente significa qualquer ato praticado por alguém, na linguagem jurídica é a manifestação do direito subjetivo de agir, isto é, de solicitar a intervenção do Poder Judiciário na soluça de um conflito, podendo, assim, ser sinônimo de processo, demanda; 3) termo de polissemia interna, isto é, termos que possuem mais de um significado no universo do Direito, por exemplo: - prescrição (prescrever) – pode significar na linguagem jurídica: determinação, orientação, por exemplo: A lei prescreve em tais caso que se aplica o art. ... pode também significar a perda de um direito pelo decurso6 do prazo, por exemplo: O direito de agir, em tais casos, prescreve em dois anos. 1 CORNU, G. Linguistique juridique. Paris: Montchrestien, 1990. 2 Jurisprudência: interpretação reiterada que os tribunaisdão à lei, nos casos concretos submetidos a seu julgamento. 3 Acepção: sentido em que se emprega um termo; significação. 4 Ordinário: que está na ordem usual das coisas; habitual, comum. Regular, freqüente. 5 Polissemia: é o fato de uma determinada palavra ou expressão adquirir um novo sentido além de seu sentido original, guardando uma relação de sentido entre elas. 6 Decurso: ato de decorrer; passagem do tempo. Tempo de duração. Sucessão, seqüência. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 7 4) termos que só tem significação no âmbito7 do Direito, não têm outro significado a não ser na linguagem jurídica, por exemplo, usucapião8, enfiteuse9, anticrese10, acórdão11, etc.; 5) termos latinos de uso jurídico; por exemplo: caput, data venia, ad judicia, etc. Níveis da Linguagem Jurídica A linguagem do direito compreende, pois, vários níveis. A suposição global de uma única realidade é substituída pela observação de muitos níveis lingüísticos. Não existe uma linguagem jurídica, mas uma linguagem legislativa, uma linguagem judiciária, uma linguagem convencional, uma linguagem administrativa, uma linguagem doutrinária. O estudo do discurso jurídico não pode ser feito a não ser por nível de linguagem. Assim, levando-se em consideração que a finalidade é que atribui a juridicidade à linguagem jurídica, pode-se detalhar seus níveis em: 1) linguagem legislativa – a linguagem dos códigos, das normas; sua finalidade: criar o direito; 2) linguagem judiciária, forense ou processual – é a linguagem dos processos; sua finalidade é aplicar o direito; 3) linguagem convencional ou contratual – é a linguagem dos contratos, por meio dos quais se criam direitos e obrigações entre as partes; 4) linguagem doutrinária – é a linguagem dos mestres, dos doutrinadores, cuja finalidade é explicar os institutos jurídicos, é ensinar o direito; 5) linguagem cartorária ou notarial – a linguagem jurídica que tem por finalidade registrar os atos de direito. Exercícios I. Pesquisar no dicionário de termos jurídicos o significado dos termos grifados: 1) “De início cumpre registrar, a respeito do instituto da litispendência, as imprecisões do Código de Processo Civil no trato do vocábulo, empregado indiscriminadamente, para duas situações totalmente distintas.” 2) “Em regra, a fungibilidade é própria dos bens móveis, e a infugibilidade, dos imóveis. Entretanto, há bens móveis que são infungíveis.” 3) “Essa restauração de eficácia é categorizável como repristinação, e admitida em nome do princípio da segurança e da estabilidade das relações sociais.” 4) A ab-rogação, expressão raramente usada hodiernamente12, pode ser tácita13 ou expressa. 7 Âmbito: campo. 8 Usucapião: modo de adquirir propriedade móvel ou imóvel pela posse pacífica e ininterrupta desta, por certo tempo. 9 Enfiteuse: deriva diretamente do arrendamento por prazo longo ou perpétuo de terras públicas a particulares, mediante a obrigação, por parte do adquirente (enfiteuta), de manter em bom estado o imóvel e efetuar o pagamento de uma pensão ou foro anual (vectigal), certo e invariável, em numerário ou espécie, ao senhorio direto (proprietário). 10 Anticrese: é um instituto civil, espécie de direito real de garantia, ao lado do penhor e da hipoteca, no qual o devedor, ou representante deste, entrega um bem imóvel ao credor, para que os frutos deste bem compensem a dívida. 11 Acórdão: Decisão proferida em grau de recurso por tribunal coletivo. 12 Hodiernamente: Atualmente, dos dias de hoje. 13 Tácita: Implícita, silenciosa. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 8 5) “Daí a parecença14 entre a rescisão por vício redibitório e a resolução por inadimplemento, conforme a concebeu no art. 1.092, parágrafo único, do Código Civil.” 6) “Os poderes e as obrigações do curador são fixados pelo juiz, conforme as circunstâncias.” 7) “O seqüestro e o arresto são medidas cautelares cuja diferença se situa no objeto da medida.” 8) “É função típica, prevalecente, do Poder Judiciário exercer a jurisdição.” 9) “Os casos de contrafação são previstos pelo Código Civil.” 10) “Nada tem a teoria da decadência, ou seja, da temporariedade dos direitos, com a teoria da prescrição.” 11) “Na ementa do acórdão, o relator já dá a conhecer a decisão final.” 12) “A teoria de Direito Penal distingue os dois tipos de delito: furto e roubo, que o povo tem por hábito considerar como sinônimos.” 13) “A Constituição Federal assegura a isonomia no art. 5º.” 14) “O Código de Processo Civil de 1973 alterou profundamente o sistema das exceções.” 15) “A notificação, em regra, é ato dirigido à pessoa que não contende em juízo, no que difere da intimação e da citação.” II. Adjetivos de uso jurídico: Os adjetivos constituem uma classe de palavras variáveis que dão atributo ao substantivo, concordando com ele em gênero e número. Como todo signo lingüístico, apresentam um significante – as letras e/ou som – e um significado – o conceito que encerram. Tendo essas noções em vista, buscar o conceito para os adjetivos grifados: 1) Documento apócrifo 2) Pessoa inimputável 3) Casamento putativo 4) Tribunal incompetente 5) Bens fungíveis 6) Devedor inadimplente 7) Lei draconiana 8) Juiz prevaricador 9) Contrato leonino 10) Direito imprescritível 11) Ação reipersecutória 12) Bens aquestos 13) Petição inepta 14) Norma cogente 15) Herança jacente 16) Sentença terminativa 17) Prazo peremptório 18) Direito (processual) precluso 19) Depoimento intempestivo 20) Contrato inominado 14 Parecença: semelhança. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 9 21) Lei repristinatória 22) Despacho saneador 23) Crime preterintencional 24) Juiz prevento III. Locuções adjetivas de uso jurídico: Locuções adjetivas consistem em duas ou mais palavras, normalmente uma preposição e um adjetivo, que têm o mesmo valor dos adjetivos. A importância em conhecer as locuções adjetivas reside no fato de que os adjetivos a elas correspondentes vieram para língua portuguesa posteriormente aos substantivos, o que lhes dá ma forma, muitas vezes, mais próximas da forma latina. Por exemplo, a locução adjetiva “em dinheiro”, na expressão “bens em dinheiro”, pode ser substituída pelo adjetivo “pecuniários”, derivado do latim pecus, pecoris – rebanho, grande número de animais da mesma espécie, ovelhas, carneiros, que evoluiu para riqueza em gado, dinheiro. Assim, a expressão “bens pecuniários” significa a mesma coisa que “bens em dinheiro”. Tendo em vista as considerações acima, substituir as locuções adjetivas grifadas pelos adjetivos correspondentes: 1) Imposição da lei 2) Unidade de prisão 3) Decisão de juiz 4) Honorários de advogado 5) Dever de cidadão 6) Outorga de esposa 7) Curso de Direito 8) Ação no Direito Civil 9) Valor da moeda 10) Prisão em casa 11) Idade de casa 12) Direito fundado no costume 13) Cláusula de contrato 14) Interesse de patrão 15) Direito sobre a coisa 16) Vínculo de empregado 17) Pensão de alimentos 18) Nome de empresa 19) Crédito de hipoteca FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 10 IV. Vimos que o vocabulário Jurídico é composto por termos que apresentam pertinência exclusiva ao direito, isto é, termos que só têm significado no campo jurídico, além de outros tipos de termos. Os exercícios que seguem tratam de termos de pertinência exclusiva e consistem em consultar um dicionário jurídico para pesquisar o significado dos termos abaixo arrolados. Pesquisar o significado dos termos abaixo: 1) Arras 2) Acórdão 3) Aresto 4) Exegese 5) Evicção 6) Hermenêutica 7) Juntada 8) Litispendência 9) Mora 10) Malversação 11) Peculato 12) Preempção 13) Revelia 14) Supérstite 15) Sursis 16) Anticrese 17) Caução 18) Concussão19) Custas 20) Delito 21) Enfiteuse 22) Erário 23) Fideicomisso 24) Inadimplemento 25) Interpelação 26) Litisconsorte 27) Precatória 28) Quitação 29) Reconvenção 30) Rogatória FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 11 V. Sabemos que todos os institutos jurídicos contêm dois sujeitos, o ativo e o passivo. Os sufixos gramaticais nos auxiliam na formação desses sujeitos, a partir do substantivo que nomeia tais institutos. Assim, para o sujeito ativo, são comuns os sufixos: -ante, -ente, -inte, -or; por exemplo, agravo – agravante. Para o sujeito passivo, são comuns os sufixos: -ado, -ário; por exemplo, agravado. Com base na explicação supra, escrever os sujeitos ativo e passivo dos institutos arrolados abaixo: INSTITUTO JURÍDICO: SUJEITO ATIVO: SUJEITO PASSIVO: Agravo Alienação Apelação Comodato Depósito Deprecação Doação Embargos Exceção Execução Notificação Outorga Querela Reclamação Reconvenção Requerimento Súplica FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 12 CAPÍTULO 3 SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS O signo lingüístico, segundo a concepção semiológica de raiz saussuriana15, é constituído de duas partes indissolúveis: uma denominada significante, ou plano da expressão, perceptível, formada de sons, que podem ser representados por letras; e uma denominada significado, ou plano do conteúdo, inteligível, constituída de um conceito. Ao ouvirmos ou lermos, por exemplo, a palavra “cavalo”, percebemos a combinação de sons/letras – o significante – e o associamos a um conceito – o significado. Numa língua natural, é comum a ocorrência de um significante ser suporte de mais de um significado, ou seja, o mesmo termo apresenta vários significados. A palavra ação, por exemplo, apresenta vários significados registrados nos dicionários: 1) ato ou efeito de atuar; atuação, ato, feito, obra; 2) maneira como um corpo, um agente, atua sobre o outro; 3) modo de proceder, comportamento, atitude; 4) seqüência de gestos, movimentos e atitudes dos atores em cena; 5) capacidade de invocar o poder jurisdicional para fazer valer um direito que se julga ter; 6) meio pelo qual se pode movimentar o aparelho jurisdicional. Quando um significante remete a vários significados, dizemos que ocorre a polissemia. A polissemia, própria da maioria dos signos lingüísticos, não chega a constituir problema para a clareza e objetividade da comunicação, porque, em geral, fica neutralizada pelo contexto. Vamos entender por contexto uma unidade lingüística de âmbito maior, onde se insere outra unidade de âmbito menor. Assim, a palavra se insere no contexto da frase que, por sua vez, se insere no contexto do período, que por sua vez se insere no contexto do parágrafo e assim por diante. Uma vez inserida no contexto, a palavra perde seu caráter polissêmico, isto é, deixa de admitir vários significados e ganha um significado específico no contexto. Assim, na frase: “O advogado iniciou uma ação trabalhista”, o significado de ação é específico, é um significado dado pelo contexto. Para a compreensão de um texto, a depreensão do significado contextual é um dado importante. Num texto, tudo deve ser amarrado e coerente; a coerência do texto permite que se capte o sentido que as palavras assumem no contexto. A relação existente entre o plano da expressão e o plano de conteúdo configura o que chamamos de denotação, isto é, a palavra apresenta um significado conhecido por todos, o sentido dicionarizado. Por exemplo: “Com quem está a chave da porta?” “No inverno, o chocolate, servido bem quente, aquece”. Uma palavra, além do seu significado denotativo, pode apresentar outros significados paralelos, por vir carregada de impressões, valores afetivos, negativos e positivos. Esses valores sobrepostos ao signo constituem o que se denomina conotação, isto é, a palavra empregada em sentido conotativo tem a propriedade de apresentar significados diferentes do seu sentido original, mantendo inalterado o significante. Por exemplo: Aí está a chave do problema. Esta é a porta do sucesso. No inverno da vida, seus pensamentos retornam à juventude. 15 Ferdinand de Saussure (26 de novembro, 1857 - 22 de Fevereiro 1913) era um suíço lingüista cujas idéias colocou uma fundação para muitos desenvolvimentos significativos na lingüística no século 20. Saussure é amplamente considerado um dos pais da lingüística do século 20. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 13 Duas palavras podem ter a mesma denotação16, mas conotação17 completamente diversa, e essa propriedade pode servir para deixar clara a diferença entre essas duas dimensões do signo lingüístico. Por exemplo, as palavras docente, professor e instrutor, que denotam praticamente a mesma coisa: alguém que instrui alguém; as três, entretanto, são carregadas de conteúdos conotativos diversos, sobretudo no que diz respeito ao prestígio e ao grau de respeitabilidade que cada um desperta. A constatação desses fatos leva-nos a outras questões: a primeira é a da sinonímia lexical. Quando duas palavras podem ser consideradas sinônimas? Respondendo de forma simples, pode-se dizer que serão sinônimas quando houver identidade de significação. Esta resposta, no entanto, não é satisfatória, haja vista o exemplo acima. Para que duas palavras sejam sinônimas é necessário, além da discutível identidade de significação, que a sua contribuição para o significado de uma frase seja igual. A sinonímia lexical, ainda, depende do contexto em que as palavras são empregadas. Assim, muitas vezes a procura de uma “palavra certa” relaciona-se à busca de precisão; por exemplo, palavras que, num contexto informal, podem ser tomadas como sinônimas, num contexto técnico assumem sentidos específicos; é o caso de roubo e furto; e separação, desquite e divórcio, no vocabulário jurídico. Outra questão diz respeito à antonímia. Segundo as definições tradicionais, são antônimas as palavras que apresentam sentidos opostos, contrários, como os pares bom / mau; abrir / fechar; nascer / morrer; feliz / infeliz. A despeito de críticas sobre as significações contrárias das palavras, como no par nascer / morrer; que exprimem dois momentos extremos do mesmo processo de viver, e não realmente uma oposição, lexicalmente, os antônimos se formam de duas maneiras: 1) Com radicais diferentes: agitação / calma - agravar / atenuar altivez / submissão - ânimo / desalento análise / síntese - consentir / proibir 2) Com radical igual, acrescido de prefixo negativo ou de significação contrária: feliz / infeliz - agradável / desagradável evasão / invasão - importação / exportação emergir / imergir - ascendente / descendente Ainda em relação à significação das palavras, temos as questões da homonímia e da paronímia: 1. Homônimas – dizem-se homônimas aquelas palavras que apresentam a mesma pronúncia, ou a mesma grafia, porém significados diferentes. Subdividem-se em: 1.1 Homônimas perfeitas – têm a mesma grafia, o mesmo som, mas significados diferentes: rio (água fluvial) / rio (verbo rir) são (sadio) / são (santo) / são (verbo ser) espera (substantivo) / espera (verbo) vão (substantivo) / vão (adjetivo) / vão (verbo) sela (verbo selar = pôr selo) / sela (verbo selar = pôr sela no cavalo) 16 Denotação é a significação objetiva da palavra; é a palavra em "estado de dicionário". 17 Conotação é a significação subjetiva da palavra; ocorre quando a palavra evoca outras realidades por associações que ela provoca. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 14 1.2 Homônimas imperfeitas – podem ser: 1.2.1 Homófonas – mesma pronúncia, grafia diferente e significado diferente: sela / cela (de prisão) censo (dados estatísticos) / senso (sentido,discernimento) cessão / seção / sessão acender (alumiar) / ascender (subir) caçar (apanhar animais) / cassar (anular) laço (nó) / lasso (frouxo, gasto) taxa (imposto, tributo) / tacha (pequeno prego) concerto (espetáculo) / conserto (reparo) remição (libertação. Resgate) / remissão (perdão, renúncia) cheque (ordem de pagamento) / xeque (soberano árabe, risco, perigo) 1.2.2 Homógrafas = mesma grafia, pronúncia diferente e significado também diferente: tropeço (substantivo “ê”) / tropeço (verbo “é”) retorno (substantivo “ô”) / retorno (verbo “ó”) almoço (substantivo “ô”) / almoço (verbo “ó”) estrela (substantivo “e”) / estrela (verbo “é”) 2. Parônimas – são consideradas parônimas as palavras que têm a pronúncia semelhante, a grafia semelhante, mas a significação totalmente diferente: Deferimento (concessão) / diferimento (adiamento) Descrição (ato de descrever) / discrição (ser discreto) Descriminar (tirar a culpa) / discriminar (distinguir) Eminente (alto, excelente) / iminente (prestes a ocorrer) Incerto (duvidoso) / inserto (particípio de inserir) Flagrante (evidente) / fragrante (perfumado) Destratar (ofender) / distratar (romper o trato) Infligir (aplicar pena) / infringir (desobedecer) Exercícios: I. Sinônimos – Sabemos que não há sinônimos absolutos; entretanto muitas palavras de nosso vocabulário podem ter uma semelhança semântica muito grande com outras, e, dependendo do contexto, uma delas será mais adequada ou precisa. Com essas informações, realizar o exercício, pesquisando no dicionário sinônimos para os termos arrolados abaixo: 1) Ardil 2) Anuência 3) Armistício 4) Antinomia 5) Causídico 6) Conluio 7) Desídia 8) Defeso 9) Demanda 10) Indenização 11) Írrito FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 15 12) Isenção 13) Jacente 14) Maquiavélico 15) Provento II. Antônimos – Pesquisar no dicionário o antônimo dos termos arrolados abaixo: 1) Agravante 2) Conciso 3) Contingente 4) Dissensão 5) Dilação 6) Imanente 7) Espontâneo 8) Lesivo 9) Lato 10) Oneroso 11) Perito 12) Proibição 13) Suasório 14) Sintético 15) Tácito III. Parônimos – Selecionar, entre os parônimos, aquele que preenche corretamente as lacunas das frases: 1) Ele foi punido por _________________________ as normas. (infligir / infringir) 2) Ele _________________________ os privilégios de ser o presidente. (fluir / fruir) 3) Não convém _________________________ aquele compromisso. (destratar x distratar) 4) Ele errou ao não _________________________ o verdadeiro culpado (delatar / dilatar) 5) Aquela intenção ainda o deve _________________________. (obcecar / obsecrar) 6) O comportamento do filho causa-lhe grande _________________________. (consumação / consumição) 7) As medidas tomadas _________________________ os efeitos esperados. (sortir / surtir) 8) O _________________________ de escravos é uma forma indigna de comércio. (tráfego / tráfico) 9) O Direito, pelo poder coercitivo, é _________________________ da Moral. (destinto / distinto) 10) O advogado permaneceu _________________________, por isso perdeu o prazo. (inerme / inerte) 11) O magistrado não quis _________________________ a audiência. (deferir / diferir) 12) O juiz pode _________________________ quando não existirem provas suficientes para a condenação. (absolver / absorver) 13) A _________________________ do acórdão já contém o suporte legal da decisão da colenda câmara. (emenda / ementa) 14) O criminoso foi autuado em _________________________ delito. (flagrante / fragrante) FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 16 15) Devemos nos empenhar para _________________________ os vícios da burocracia. (proscrever / prescrever) 16) Pela nova legislação é crime _________________________ as pessoas por sua origem. (descriminar / discriminar) 17) Ser _________________________ no estudo do Direito, não justifica ser _________________________ no conhecimento das normas da língua culta. (incipiente / insipiente) 18) A _________________________ da dívida, por um dos credores não extingue a obrigação para com os outros que só a poderão exigir, uma vez descontada a quota do credor remitente. (remição / remissão) 19) Em sua sustentação oral, o advogado tudo fez para _________________________ os argumentos de seu aniversário. (elidir / ilidir) 20) Tendo em vista a situação, os advogados impetraram _________________________ de segurança. (mandado / mandato) Anotações: FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 17 CAPÍTULO 4 CORRESPONDÊNCIA Correspondência é o ato de se dirigir a outra pessoa por meio de um texto escrito – seja com finalidade comercial, oficial ou familiar – e demanda igualmente muito cuidado, pois pode comprometer o emissor, caso ele não saiba como se dirigir ao destinatário ou como tratar claramente de um assunto e resultar em prejuízos comerciais, sociais ou legais. É preciso atenção ao endereçar a correspondência, utilizando pronome de tratamento correspondente ao cargo que a pessoa ocupa, pois não se pode subestimar nem supervalorizar cargos e pessoas; trata-se de um erro imperdoável – evite-o. Veja alguns pronomes de tratamento mais usados em correspondência: Cargo / Título: Forma vocativa (como chamar a pessoa) Forma de tratamento (forma de se referir à pessoa) Presidente da República, governadores, prefeitos municipais, embaixadores, ministros de Estado, senadores, deputados (federais e estaduais), desembargadores, presidentes de tribunais, de empresas e autarquias Excelentíssimo Senhor, Vossa Excelência Sua Excelência Vereadores, marechais, almirantes, brigadeiros e generais Vossa Excelência Senhor Outros patentes militares Vossa Senhoria Senhor Juízes de Direito Meritíssimo Senhor, Vossa Excelência Sua Excelência Papa Vossa Santidade Sua Santidade, Santíssimo Reitor de universidade Vossa Magnificência Magnífico Reitor Chefe das casas Civil e Militar Vossa Excelência Senhor Chefe da Casa Diretores de empresas e de autarquias, médicos, chefes de setores, professores, etc. Vossa Senhoria Senhor FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 18 Carta Comercial É enviada de uma pessoa física para uma pessoa jurídica (ou vice-versa) e de uma pessoa jurídica a outra ou a um órgão público. Ao escrever uma carta comercial, use palavras objetivas e sem afetação, de modo a causar boa impressão, mas sem dar ao destinatário a sensação de que sua correspondência é muito mais importante do que a de outras pessoas. Utilize expressões que revelem sua objetividade, pois se deve partir do pressuposto de que ninguém tem, hoje, muito tempo a perder com informações desnecessárias. Limite-se a escrever essencialmente aquilo que motivou sua escrita, ou seja, desapegue-se de chavões ou de pieguismos supérfluos. EXPRESSÕES QUE, EMBORA MUITO USADAS, DEVEM SER EVITADAS: EXPRESSÕES CONDENADAS PARA INÍCIO DE CARTAS: SUBSTITUIR POR: - Venho por meio desta solicitar... - Servimo-nos da presente para... - Vimos pela presente... - Por intermédio desta, solicitamos... - Acusamos o recebimento de seu prezado pedido... - Chegou-nos às mãos... - Está (ou Encontra-se) em nosso poder... - Venho, por intermédio desta, informar... (Obs.: o advérbio através deve ser usado somente com sentido exato de “de um lado para outro” ou “por entre dois pontos”. Jamais o use no lugar de “por meio de”). Inicie a correspondência indicando sinteticamente sua finalidade, sem a necessidade de explicar que você escreve para tal fim, reduzindo toda a expressão a um único verbo. Ex.: Solicitamos, Recebemos, Encaminhamos, Informamos, Convidamos, etc. EXPRESSÕES CONDENADAS PARA FECHO DE CARTAS: SUBSTITUIR POR: -Sem mais, para o momento... - Na certeza de contarmos com sua preciosa colaboração, subscrevemo-nos... - Com muito apreço... - Nossa mais elevada estima e consideração atenciosa... - Nossos protestos de elevada estima e consideração... - Subscrevemo-nos com todo apreço... Encerre a correspondência sem o uso de expressões de falsa modéstia e de bajulação, reduzindo as expressão ao lado a: - Atenciosamente – quando se está oferecendo algo e, assim, se declara à disposição do destinatário com sua atenção; ou - Cordialmente – em outras situações, quando não se oferece nada e, simplesmente, se encerra a carta. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 19 FORMA FÍSICA DA CARTA COMERCIAL Quando uma pessoa jurídica destina correspondência a outra, o mais comum é o uso de papel timbrado, evitando-se, assim, o excesso de informações a respeito da empresa emissora no corpo da carta. No entanto, quando se trata de correspondência emitida por pessoa física (sem logomarca), é necessário que o emissor se identifique no fim da correspondência, considerando o tipo de informação necessária ao contexto. Esse tipo de correspondência tem uma distribuição espacial muito peculiar: São Paulo, 21 de janeiro de 2008. Destinatário (completo) Prezados Senhores: Inicie a carta com parágrafo Fecho Assinatura Fulano de Tal Cargo Anotações: No alto, à esquerda, escreva a data. Não se esqueça de deixar o nome do mês sempre em letra minúscula e colocar o ponto no fim da data. Aqui se coloca o nome da empresa completo, inclusive a localidade. Use, neste local, o vocativo correto, ou seja, o nome do destinatário. Recorra à expressão acima somente se não souber quem é o destinatário, como no caso de carta enviada a uma empresa quando sua hierarquia for desconhecida. Hoje é comum usar também a forma do parágrafo americano, que consiste em dar espaço maior entre o fim de um parágrafo e o começo de outro, iniciados à esquerda, sem o espaço destinado à marca do parágrafo. Lembre-se de não escrever muitos parágrafos, limitando-se ao essencial. Afinal, não se trata de bate-papo com amigos. Como exposto na tabela da página anterior. Atenção: nunca faça linha para a assinatura, pois se presume que o emissor saiba escrever sem necessidade de demarcação de espaço. Há necessidade de centralizar as informações sobre o emissor, logo abaixo da assinatura. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 20 Requerimento É um pedido especial endereçado a uma autoridade, com o objetivo de obter algo que se entende como direito do emissor. A característica principal é a impessoalidade – o emissor deve se colocar em 3ª pessoa e nunca usar “eu” ou “nós”. A formatação obedece rigorosamente a esta ordem: Ilustríssimo Senhor Diretor do Departamento Estadual de Trânsito, Dr. Fulano de Tal. _ _ _ _ _ _ _ Fulano de Tal, documento de identidade nº 22222- 22, requer a expedição de segunda via de sua Carteira Nacional de Habilitação de nº 88888, por ter sido vítima de furto de seus documentos pessoais. Localidade, data. Assinatura Anotações: No alto da página, ocupando todo o espaço da 1ª linha, vai o vocativo, destacando-se a função antes do nome da autoridade a quem se destina. Deixa-se obrigatoriamente espaço correspondente a sete linhas duplas, destinadas à repartição recebedora, para que seja ali registrada, com o carimbo adequado, a entrada do documento, com data e assinatura do recebedor, de modo a permitir ao interessado obter o comprovante de entrega com dados iguais. Esse procedimento é obrigatório, pois o requerente tem o direito de obter uma resposta ao que solicitou – ainda que seja para comunicar a negativa de seu pedido – no prazo de 15 dias úteis, contados a partir da entrega, tal como registrado no carimbo do protocolo. A identidade deve fornecer dados suficientes e pertinentes à situação requerida: se o requerimento for dirigido ao Detran, os dados de interesse são aqueles destinados a identificar o condutor ou o veículo; se for dirigido a um banco, é preciso especificar o número da conta e o nome da agência onde o requerente é correntista e assim por diante. Não é necessário colocar dados do emissor abaixo, pois se sabe quem é, pela identificação já apresentada no corpo do requerimento. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 21 Memorando Como o próprio nome sugere, é uma comunicação interna e de pequena extensão destinada a veicular informações para membros de uma empresa ou de uma equipe, com a finalidade de lembrar e/ou comunicar fatos. Não se trata de texto que exija formalidades em sua redação, embora esse não deva conter erros (pois desvalorizam seu autor) nem ser informal demais. A estrutura de um memorando deve ser constituída tal como se vê no modelo a seguir. Nº do memorando Data De: Departamento de Direito Penal Para: Departamento de Direito do Trabalho Assunto: Protocolo no Fórum Central Em virtude de mudança do local de protocolo de ações iniciais, situado no 1º andar do Fórum João Mendes, solicito que os estagiários se dirijam a esse local somente depois de terem coletado nos diversos setores desta empresa todos os documentos a serem protocolados. Atenciosamente, Nome Cargo Anotações: Ofício Ao contrário das correspondências anteriormente descritas, o ofício é uma correspondência cerimoniosa enviada de um órgão público para outro ou para uma empresa. Sua finalidade é solicitar, convidar ou oferecer algo oficialmente, ou seja, a mensagem é assinada por uma autoridade desse órgão e endereçada a outra pessoa de igual nível hierárquico. Pode também, excepcionalmente, ser endereçada a uma pessoa física, embora essa não possa responder em forma de ofício; a resposta, nesse caso, será em carta comercial. A distribuição de espaços no corpo do texto deve ser rigorosamente observada como a seguir: Canto esquerdo: Nº do memorando. Canto direito: Data (opcional) Atenção: por ser uma correspondência sem muita formalidade, o memorando deve ser escrito como nesse exemplo, sem margens nem parágrafos especiais: tudo é escrito na mesma direção e sem destaques. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 22 <LOGOTIPO> Data Ofício nº ___/07 Interessado: Juiz Presidente do STJ Assunto: Convite para posse de novo Juiz Titular Excelentíssimo Senhor Presidente, (...) Temos o prazer de convidar Vossa Excelência para a cerimônia de posso do Desembargador neste Tribunal de Justiça, Juiz Deodoro da Costa e Souza, a ser realizada no dia 11 de março de 2008, nesta casa, às 16 horas. Antecipadamente nossos agradecimentos pela atenção e por sua honrosa presença. Cordiais saudações, Pedro de Alcântara de Castro Desembargador Presidente do TJ/SP Para: Dr. Carlos Castro de Sampaio Digníssimo Juiz Presidente do Superior Tribunal Brasília - DF Anotações: No alto da página, geralmente, está o logotipo do órgão. A numeração começa a cada início de ano a partir do nº I/ano, sem indicação do mês, já citada na data. Nome da empresa / órgão a quem se destina. Síntese clara sobre o que será tratado no texto a seguir. Vocativo, lembrando de respeitar convenientemente os cargos e hierarquias, com seus respectivos pronomes de tratamentos – veja a p.17. Corpo do texto, lembrando que autoridades têm pouco tempo para ler textos longos – observe a clareza e a concisão. Os dados desse endereçamento são os mesmos que vêm no envelope que contém o ofício. Ao contrário da carta comercial, o destinatário virá no fim do texto, à esquerda, na mesma direção da assinatura do emissor. FUMESC– Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 23 Procuração É o ato legal de designar uma pessoa como sua procuradora e que, como tal, toma a si uma incumbência que lhe é destinada, ou seja, um mandante atribui a um mandatário uma incumbência. Pode-se designar uma pessoa sua procuradora mediante procuração particular – aquela em que se designa alguém para realizar atos particulares em nome de outrem. Nesse caso, é necessário qualificar (oferecer dados pessoais completos) o mandante e o mandatário, além de ser obrigatório especificar a que finalidade ela se destina. Essa procuração deve ter a firma do mandante reconhecida. PROCURAÇÃO PARTICULAR Por este instrumento particular de procuração, eu, _______________________ (nome do mandante), portador(a) da cédula de identidade RG nº ________, inscrito(a) no CPF/MF sob o nº _________________, residente e domiciliado(a) nesta Capital na _______________________ (endereço), nomeio e constituo como meu (minha) bastante procurador(a) o(a) Sr.(a) ____________________________, portador(a) da cédula de identidade RG nº ________, inscrito(a) no CPF/MF sob o nº _________________, residente e domiciliado(a) nesta Capital na _______________________ (endereço), ao (à) qual confiro os mais amplos e gerais poderes para o fim específico de tratar de pendências em meu nome junto à Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, podendo, para tanto, requerer, assinar papéis, pagar valores, receber e emitir documentos, concordar ou não com o que se faça necessário, para esse fim e tudo mais que seja necessário para o bom e fiel cumprimento do presente mandato. São Paulo, __ de ___________ de ___ Assinatura do(a) mandante Paralelamente a essa modalidade de procuração, há também a procuração ad juditia, na qual um mandante constitui um advogado para mover uma ação em seu nome. Nesse caso, por ser um documento da ação, é dispensável o reconhecimento da firma, mas não se pode prescindir dos mesmos dados de qualificação das partes, bem como do fim específico a que se destina, nomeando corretamente a ação judicial. PROCURAÇÃO AD JUDITIA Karina Pessoa dos Santos, brasileira, separada judicialmente, médica, portadora da cédula de identidade RG nº 178.600.090-8 – SSP-SP, inscrita no CPF/MF sob nº 125.376.078-4X, residente e domiciliada na Alameda dos Tupis, nº 256, Indianópolis, na Capital do Estado de São Paulo, nomeia e constitui sua bastante procuradora Ana Teresa de Santana, brasileira, casada, advogada, inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil, Secção de São Paulo, sob o nº 178.954 e no CPF/MF sob o nº 288.899.800-87, com escritório na Rua Teresa de Souza, nº 446, Jardim das Palmas, CEP 99541-100, em São Paulo, Estado de São Paulo, a quem confere todos os poderes da cláusula ad juditia et extra, notadamente no que se refere a sua representação perante autoridades estaduais, federais e municipais, judiciais e administrativas, podendo, para tanto, transigir, desistir, reconvir, fazer acordos e conciliar, bem como representar a outorgante em audiências, firmar compromissos, assinar documentos e substabelecer a outrem com ou sem reserva de poderes, com fim específico para ação judicial de Divórcio, a ser interposta perante uma das Varas Cíveis da Cidade de São Paulo. São Paulo, __ de ___________ de ___ Assinatura do(a) mandante FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 24 Petição É o ato pelo qual o advogado, previamente constituído pela(s) parte(s), aciona o Poder Judiciário, a fim de pedir o que é de direito de seu cliente. A petição deve atender aos requisitos legais contidos Código de Processo da área a que se refere à ação, seja essa civil, trabalhista, penal comercial, tributária ou de outra natureza. Formalmente, veja como fazer uma petição: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ª VARA DA FAMÍLIA E SUCESSÕES DO FÓRUM CENTRAL DE SÃO PAULO _ _ _ _ _ _ _ PAULO CANÁRIO, brasileiro, separado judicialmente, bancário, portador da cédula de identidade RG nº 12.221.144-6 – SSP-SP, inscrito no CPF/MF sob o nº 234.488.598-93, residente e domiciliado na Alameda Campinas, nº 3.221, ap. 61, Jardim Paulista, São Paulo – SP, e NAIR ROSÁRIO DE OLIVEIRA, brasileira, enfermeira, separada judicialmente, portadora da cédula de identidade RG nº 27.655.322-8 – SSP-SP, inscrita no CPF/MF sob o nº 205.371.578-24, residente e domiciliada na Rua Maria Massad, nº 270, São Paulo – SP, por seu advogado (doc. nº 01 e 02) vêm à presença de Vossa Excelência promover a CONVERSÃO DE SEPARAÇÃO CONSENSUAL EM DIVÓRCIO CONSENSUAL Com fundamento nos artigos 24 e 25, parágrafo único, da Lei 6.515/77, combinados com o artigo 1.580, caput e parágrafo 1º, do Código Civil Brasileiro, pelas razões de fato e de direito adiante articuladas, expondo e, ao final, requerendo o quanto segue: I – DOS FATOS Os Requerentes se casaram, aos doze de julho de mil novecentos e oitenta e oito, na cidade de São Paulo (SP) e adotaram o regime de Comunhão Parcial de Bens, no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais do 28º Subdistrito, Indianópolis (SP), livro B, às fls. 344, sob o nº 302, conforme a certidão de casamento (doc. nº 03). Foi averbado, conforme Mandado datado (06/12/1998) do MM.º Juiz de Direito da 8ª Vara Cível da Comarca (SP), Processo nº 05.5466-5 e, por sentença desse mesmo Juízo, datada de 29/06/1997, que transitou em julgado, foi homologada a SEPARAÇÃO CONSENSUAL dos Requerentes, tendo passado a separanda a assinar seu nome de solteira, NAIR ROSÁRIO DE OLIVEIRA (doc. nº 04). No alto da página deve constar o vocativo (todo em maiúsculas e observando atentamente os pronomes de tratamento a serem usados), que deve atender à competência do juízo ao qual se destina. Caso a competência seja inadequada, a ação será considerada inepta. Abaixo do vocativo, é necessário deixar espaço de sete linhas para o protocolo do recebimento. A qualificação do interessado deve ser claramente enunciada, nesta ordem: nacionalidade, estado civil, profissão, documento de identidade, inscrição no Ministério da Fazenda (CPF), endereço e domicílio. O nome da ação impetrada deve ser claramente enunciado, sob pena de ser anulada, caso não fique clara ou adequada ao que se pleiteia. (Observe os espaços antes e depois de seu título, destacado também com maiúsculas). É indispensável que a fundamentação legal seja bem detalhada e específica para o caso. Atenção: toda a exposição das partes a seguir deve ser feita em ordem numérica crescente e em algarismos romanos (lembre-se de que os numerais são lidos como ordinais apenas quando antecedem o substantivo e, no caso dos algarismos romanos, apenas até o X – dez – é lido dessa maneira, sendo os numerais maiores lidos como cardinais). Dê espaço, antes e depois de iniciar a enumeração dos fatos. Observe, sobretudo nessa parte, a clareza, a objetividade e a concisão, e respeite rigorosamente a cronologia e a progressão do que se expõe. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 25 II – DO DIREITO Preceitua o artigo 226, § 6º, da Constituição Federal e artigo 1.580, § 1º, do Código Civil Brasileiro, que cumpre transcrever: “Decorrido um ano do trânsito em julgado da sentença que houver decretado a separação judicial ou da decisão concessiva da medida cautelar da separação de corpos, qualquer das partes poderá requerer sua conversão em divórcio. § 1º - A conversão em divórcio da separação judicial dos cônjuges será decretada por sentença, da qual não constará referência à causa que a determinou”. III – DOS FILHOS Não houve filhos. IV – DOS BENS Durante o casamento, os Requerentes não adquiriram nenhum bem móvel ou imóvel. V – DO PEDIDO Diante do exposto, os Requerentes pleiteiam a CONVERSÃO DA SEPARAÇÃO CONSENSUAL EM DIVÓRCIOCONSENSUAL, com seus conseqüentes efeitos. Igualmente, requerem a esse DIGNO JUÍZO seja dada ciência da presente Ação ao MINISTÉRIO PÚBLICO, requerendo, ao final, se digne esse DOUTOR JUÍZO julgar procedente o pedido, decretando o divórcio direto do casal. Finalmente, requerem que, após o cumprimento das formalidades legais, seja expedido o competente mandado de averbação do divórcio, a fim de que seja oficiado o Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais, para os respectivos fins. Atribui-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), para efeitos fiscais. Termos em que pede deferimento, São Paulo, 7 de julho de 1999. Ângela Maria Campos de Castro OAB/SP nº 76.950 Anotações: É indispensável organizar provas/documentos anexos, à medida que são citados no corpo da petição, numerando-os em ordem crescente. Novamente, observe o espaço antes e depois da especificação desse item. IMPORTANTE: Observar a concisão nesta organização, visto que o juiz conhece a legislação e não precisa de esclarecimentos supérfluos sobre ela. O pedido deve ser cuidadosamente explicitado, para que o juiz o acolha, visto que a legislação não lhe permite conceder algo que não seja claramente mencionado nessa parte do texto – daí a necessidade de clareza mais uma vez e, sobretudo, não presuma que está óbvio aquilo que se pleiteia. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 26 CAPÍTULO 5 CONCORDÂNCIA Concordância é o processo pelo qual se relacionam adequadamente dois termos da oração, a saber: 01. Verbo + sujeito = concordância verbal; 02. Substantivo + adjetivo / artigo / numeral / pronome = concordância nominal A concordância verbal exige atenção do redator para os casos como estes que teremos que corrigir. Seja atento: EXPRESSÃO CONDENADA: FORMA CORRETA: Haviam muitas pessoas na sala. Devem haver muitas pessoas na sala. Existe elementos condenáveis na peça. Deve existir pessoas com dificuldade. Fazem dez dias que não chove. A boiada invadiram a propriedade da vizinha. A 6ª Turma do Tribunal negaram o recurso. Precisam-se de reforços. Nota-se alguns sinais de má-fé do réu. Foi arquivado vários processos. Alunos, mestres e funcionários, ninguém faltaram. Será divulgado os gabaritos da prova. Logo vai começar a aparecer os efeitos... Eu, tu e ele farão a petição no prazo. * “A multidão de trabalhadores exige...” ou “A multidão de trabalhadores exigem...” (?) Foram eles que prometeu cumprir o prazo. Fui eu que escreveu aquele artigo. São atitudes cuja as conseqüências... FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 27 O réu cujo a mãe o visitou. Algum de nós falhamos? Vossa Excelência fostes rigoroso na condenação. Garanto a vocês que vosso problema será resolvido. A questão será resolvida haja visto o resultado obtido. Segue os arquivos. A concordância nominal precisa ser observada em casos como os seguintes. Vamos identificar o que há de incorreto, de acordo com a norma culta da língua. EXPRESSÃO CONDENADA: FORMA CORRETA: Fez tudo com entusiasmo e paixão arrebatadora. Bebida natural é boa para a saúde. A bebida natural é bom para a saúde. É proibida entrada. É proibido a entrada. Há bastante razões... Os carros ficaram bastantes danificados... Segue anexo as listas... Os soldados se mantinham alertas. Menas pessoas apresentam este perfil. Anotações: FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 28 UM POUCO MAIS... CONCORDÂNCIA VERBAL: O estudo da concordância verbal é importantíssimo para uma boa redação. Nós, no semestre passado, durante as primeiras aulas de Nivelamento de Língua Portuguesa, já tivemos um primeiro contato com algumas regras de concordância, que relembraremos agora, antes de entrarmos em alguns casos especiais. Vimos que, em regra geral, o verbo sempre concorda com o sujeito em número e pessoa: O pássaro voa. Os pássaros voam. Eu estou feliz. Nós estamos felizes. O menino brinca. Os meninos brincam. O livro é bom. Os livros são bons. As crianças e os idosos foram liberados pelos traficantes. O NÚCLEO DO SUJEITO é a palavra mais significativa e importante do SUJEITO; é o “centro” do termo, ao redor do qual podem existir outras palavras. A assessoria de imprensa dos canais Fox deverá manifestar-se em breve. Aprofundando um pouco mais, verificamos que na verdade o VERBO sempre concorda com o NÚCLEO DO SUJEITO, e devemos ter muito cuidado para não cometermos desvios ao padrão culto da língua devido às palavras que acompanham o núcleo. Vejamos: A equipe de segurança das instituições bancárias de diversos estados brasileiros deverão fazer um treinamento de reciclagem até o final do próximo mês. “A equipe de segurança das instituições bancárias de diversos estados brasileiros” = Sujeito “Equipe” = núcleo do sujeito (singular) “Deverão fazer” = Locução Verbal (plural) Isso ocorre devido à contaminação do verbo pelos termos pluralizados que o antecedem: instituições – bancárias – diversos – estados – brasileiros NUNCA DEVEMOS NOS ESQUECER DA REGRA GERAL PARA ENCONTRARMOS O SUJEITO DE UMA ORAÇÃO: REGRA: O QUE / QUEM + VERBO ? = SUJEITO SUJEITO VERBO (Singular) NÚCLEO DO SUJEITO (SINGULAR) FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 29 VERBOS IMPESSOAIS: Os verbos impessoais são aqueles que não possuem sujeito (oração sem sujeito ou sujeito inexistente). Todo verbo impessoal fica no singular, visto que não possui sujeito para concordar. Vejamos alguns casos: a) Verbos que exprimem fenômenos da natureza: Anoiteceu docemente sobre a cidadezinha. Está amanhecendo. Choveu pouco no último mês de março b) O verbo HAVER no sentido de EXISTIR e ACONTECER: Existem crianças na cidade. Há crianças na cidade. Aconteceram festas na região. Houve festas na região. Devem existir políticos honestos. Deve haver políticos honestos. Podemos perceber que os verbos EXISTIR e ACONTECER possuem SUJEITO; porém, o verbo HAVER (quando nesses sentidos) não possui. c) Verbo HAVER indicando tempo decorrido: Há dois dias cheguei a Machado. Há duas semanas venho estudando. Obs.: Temos que tomar cuidado para não sermos redundante (pleonasmo): Há dois dias atrás cheguei a Machado. Logo, o correto seria eliminar um dos dois termos que causam o pleonasmo: Há dois dias cheguei a Machado. Dois dias atrás cheguei a Machado. d) Verbo FAZER indicando tempo e temperatura: Faz três meses que Teresa faleceu. Fazem três meses que Teresa faleceu. Fez nove anos que estou casado. Fizeram nove meses que estou casado. Faz quarenta graus à sombra. Fazem quarenta graus à sombra. e) Verbo SER indicando tempo ou distância: O verbo SER se diferencia dos demais verbos impessoais porque ele se flexiona para o plural concordando com o numeral: É uma hora da manhã. São duas horas da tarde. É 1º de abril. São dezenove de fevereiro de 2009. Daqui a sua casa é um quilômetro. Daqui a Carvalhópolis são 12 quilômetros. O verbo “Há” e o advérbio “atrás” indicam tempo decorrido. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 30 f) Com verbos BASTAR e CHEGAR, seguidos de preposição DE: Chega de confusão. Chega de confusões. Basta de correria. Basta de correrias. OUTROS CASOS DE CONCORDÂNCIA VERBAL: I. CONCORDÂNCIA DO VERBO COM O SUJEITO COMPOSTO: 1º Caso: Quando o sujeito composto vier anteposto ao verbo, o verbo irá para o plural: Ex.: O milho e a soja subiram de preço. / Helena e Ricardo caminhavam na praia. Observações: - Quando os núcleos do sujeito forem sinônimos, o verbo poderá ficar no singular ou no plural: Ex.: Medo e terror nos acompanha (acompanham) sempre.- Quando os núcleos do sujeito vierem resumidos por ‘tudo’, ‘nada’, ‘alguém’ ou ‘ninguém’, o verbo ficará no singular: Ex.: Dinheiro, mulheres, bebida, nada o atraía. - Quando o sujeito for formado por núcleos dispostos em gradação (ascendente ou descendente) o verbo ficará no singular ou plural: Ex.: Um briga, um vento, o maior furacão não os inquietava (inquietavam). 2º Caso: Quando o sujeito composto vier posposto ao verbo, o verbo irá para o plural ou concordará apenas com o núcleo do sujeito que estiver mais próximo. Ex.: Chegou o pai e a filha. / Chegaram o pai e a filha. 3º Caso: Quando o sujeito composto for formado por pessoas gramaticais diferentes, o verbo irá para o plural na pessoa que tiver prevalência - (1ª pessoa, 2ª pessoa, 3ª pessoa) / (2ª pessoa / 3ª pessoa): Ex.: Eu, tu e ele fizemos o exercício. / Tu e ele fizestes (fizeram) o exercício. 4º Caso: Quando os núcleos do sujeito vierem ligados pela conjunção “ou”, o verbo ficará no singular se houver ideia de exclusão. Se houver ideia de inclusão o verbo irá para o plural. Ex.:Pedro ou Antônio será o presidente do clube. (exclusão) Laranja ou mamão fazem bem a saúde. (inclusão) II. CASOS ESPECIAIS DE CONCORDÂNCIA VERBAL: 1º Caso: Com a expressão “um dos que” o verbo ficará no singular ou no plural. O plural é construção dominante. Ex.: Você é um dos que mais estudam (estuda). 2º Caso: Quando o sujeito for constituído das expressões “mais de”, “menos de”, “cerca de” ou verbo concordará com o numeral que segue as expressões. Ex.: Mais de uma pessoa protestou contra a lei. / Mais de vinte pessoas protestaram contra a decisão. 3º Caso: Quando o sujeito for um coletivo, o verbo ficará no singular. Ex.: A multidão gritava desesperadamente. Obs.: Quando o coletivo vier seguido de adjunto no plural, o verbo ficará no singular ou poderá ir para o plural. Ex.: A multidão de torcedores gritava (gritavam) desesperadamente. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 31 4º Caso: Quando o sujeito for formado por nome próprio que só tem plural, não antecipado de artigo (o, a, um, uma e plurais), o verbo ficará no singular; se o nome próprio vier antecipado de artigo, o verbo irá para o plural. Ex.:Minas Gerais possui grandes fazendas. Os Estados Unidos são uma nação poderosa. 5º Caso: Quando o sujeito for formado por um pronome de tratamento, o verbo irá sempre para a 3ª pessoa. Ex.: Vossa Excelência leu meus relatórios? 6º Caso: O verbo parecer, seguido de infinitivo, admite duas construções: - Flexiona-se o verbo parecer e não se flexiona o infinitivo: Os prédios parecem cair. - Flexiona-se o infinitivo e não se flexiona o verbo parecer: Os prédios parece caírem. Atividades práticas: Faça a concordância do verbo nas frases que se seguem: a) Uma alcatéia de lobos _________________________ o sítio. (invadir) b) Mais de um soldado _______________________ diante do capitão. (morrer) c) Os Estados Unidos ______________________ o campeonato. (vencer) d) O soldado foi justamente um dos que ______________________ a vítima. (ver) e) Calmantes, massagem, nada ______________________ a noiva. (acalmar) f) A constelação _______________________ os navegadores. (orientar) g) Mais de cem estudantes _______________________ seus diplomas. (buscar) h) Encontramos a menina que nos ______________________ muito bem. (receber) i) Campinas ____________________ uma das melhores bibliotecas do país. (possuir) j) Calmantes e massagens não ______________________ a noiva. (acalmar) k) Um grupo de empregados ________________________ conversar com o presidente. (ir) l) A maioria dos doentes _________________________ as ordens médicas. (cumprir) m) Mais de uma oportunidade ____________________ durante todos esses anos. (surgir) n) Foram os hóspedes que _______________________ esta pousada. (indicar) o) “Os Maias” ____________________ uma belíssima obra de Eça de Queiroz. (ser) Obs.: Existem outras regras de concordância verbal que podem ser encontradas em gramáticas. Aqui constam apenas as principais delas. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 32 p) Um bando de alunos _____________________ as escadas correndo. (descer) q) Uma corja ______________________ diante do guichê. (reunir-se) r) Grande parte dos candidatos ___________________ revisão da prova. (exigir) s) Mais de uma criança _____________________ naqueles lugares (perder-se) t) Mais de dez dias _____________________ até que eu pudesse encontrá-la novamente. (passar) u) No final, foram os estudantes que _____________________ o impasse. (decidir) v) Santos ______________ uma recordação feliz para mim. (ser) w) _____________ muitas festas ano passado. (haver) x) Daqui a Alfenas _____________ trinta e três quilômetros. (ser) y) _____________ muitos segredos entre nós. (existir) z) A presidente das associações femininas das cidades mineiras __________ na capital. (estar) Anotações: FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 33 CAPÍTULO 6 REGÊNCIA VERBAL É a relação entre o verbo e seus complementos. Não confundir complementos – elementos indispensáveis ao sentido do verbo – com acessórios – palavras ou expressões dispensáveis, que especificam apenas circunstâncias em relação ao verbo. Antes de verificarmos alguns casos especiais, vamos nos atentar à transitividade dos verbos: VERBOS (CLASSIFICAÇÃO) Sintaticamente, os verbos podem ser classificados como verbos de ligação ou verbos significativos (ou nocionais): VERBOS DE LIGAÇÃO: são aqueles que ligam uma característica, uma qualificação ao sujeito. Aquelas cidades são maravilhosas. aquelas cidades = sujeito / maravilhosas = característica do sujeito (Predicativo do Sujeito) / são = VL Maria é bonita. Camila parece nervosa João continua pensativo. VERBOS SIGNIFICATIVOS (OU NOCIONAIS): são aqueles que trazem um valor semântico, significativo explícito e que são classificados, de acordo com a sua transitividade, em: intransitivos, transitivos diretos, transitivos indiretos e transitivos diretos e indiretos. Transitivo Direto (VTD) Exige um complemento verbal, sem preposição obrigatória. Esse complemento recebe o nome de objeto direto (OD) Transitivo Indireto (VTI) Exige um complemento verbal, com preposição obrigatória. Esse complemento recebe o nome de objeto indireto (OI). Transitivo Direto e Indireto (VTDI) Exige dois complementos verbais: um sem preposição (OD) e outro com preposição (OI). Intransitivo (VI) Não exige complemento verbal. Pessoas trocam mercadorias. O verbo exige complemento, pois “quem troca”, “troca algumacoisa”, “troca o quê?”. O complemento “mercadorias” completa o sentido do verbo “trocar” sem a presença obrigatória de preposição. Pessoas precisam de amor. O verbo exige complemento, pois “quem precisa”, “precisa dealguma coisa”, “precisa de quê?”. O complemento “de amor” completa o sentido do verbo “precisar” com a presença obrigatória de preposição. Pessoas dão vida às cidades. O verbo exige dois complementos: “quem dá”, “dá alguma coisa, a(para) alguém”, “deu o quê” e “a (para) quem?”. Os complementos “vida” e “às cidades” completam o sentido do verbo “dar” sem e com preposição, respectivamente. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 34 Pessoas trabalham e transitam. Os verbos não exigem complemento, pois a sua significação já écompleta sozinha. O sentido do verbo não transita do verbo para um complemento. Observação: É importante estarmos cientes de que não devemos, simplesmente, memorizar a classificação de um verbo, sem analisar a oração em que ele é utilizado. Veja que, dependendo do contexto, um mesmo verbo pode apresentar transitividades distintas: Aquelas crianças cantam muito bem. V I Aquelas crianças cantam várias músicas.V TD OD Aquelas crianças cantam músicas para qualquer público. V TDI OD OI REGÊNCIA VERBAL: 1- Chegar/ ir – deve ser introduzido pela preposição a e não pela preposição em. Ex.: Vou ao dentista./ Cheguei a Belo Horizonte. 2- Morar / residir – normalmente vêm introduzidos pela preposição em. Ex.: Ele mora em São Paulo./ Maria reside em Santa Catarina. 3- Namorar - não se usa com preposição. Ex.: Joana namora Antônio. 4- Obedecer / Desobedecer - exigem a preposição a. Ex.: As crianças obedecem aos pais./ O aluno desobedeceu ao professor. 5- Simpatizar / antipatizar – exigem a preposição com. Ex.: Simpatizo com Lúcio./ Antipatizo com meu professor de História. Dica: Esses verbos não são pronominais, portanto, são considerados construções erradas quando aparecem acompanhados de pronome oblíquo: Simpatizo-me com Lúcio./ Antipatizo-me com meu professor de História. 6- Preferir - este verbo exige dois complementos sendo que um usa-se sem preposição e o outro com a preposição a. Ex.: Prefiro dançar a fazer ginástica. Dica: Segundo a linguagem formal, é errado usar este verbo reforçado pelas expressões ou palavras: antes, mais, muito mais, mil vezes mais, etc. Ex.: Prefiro mil vezes dançar a fazer ginástica. Anotações: FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 35 Verbos que apresentam mais de uma regência 1 – Aspirar: a) no sentido de cheirar, sorver: usa-se sem preposição. Ex.: Aspirou o ar puro da manhã. b) no sentido de almejar, pretender: exige a preposição a. Ex.: Esta era a vida a que aspirava. 2 – Assistir: a) no sentido de prestar assistência, ajudar, socorrer: usa-se sem preposição. Ex.: O técnico assistia os jogadores novatos. b) no sentido de ver, presenciar: exige a preposição a. Ex.: Não assistimos ao show. c) no sentido de caber, pertencer: exige a preposição a. Ex.: Assiste ao homem tal direito. d) no sentido de morar, residir: é intransitivo e exige a preposição em. Ex.: Assistiu em Maceió por muito tempo. 3 – Esquecer / lembrar: a) Quando não forem pronominais: são usados sem preposição. Ex.: Esqueci o nome dela. b) Quando forem pronominais: são regidos pela preposição de. Ex.: Lembrei-me do nome de todos. 4 – Visar: a) no sentido de mirar: usa-se sem preposição. Ex.: Disparou o tiro visando o alvo. b) no sentido de dar visto: usa-se sem preposição. Ex.: Visaram os documentos. c) no sentido de ter em vista, objetivar: é regido pela preposição a. Ex.: Viso a uma situação melhor. 5 – Querer: a) no sentido de desejar: usa-se sem preposição. Ex.: Quero viajar hoje. b) no sentido de estimar, ter afeto: usa-se com a preposição a. Ex.: Quero muito aos meus amigos. 6 – Proceder: a) no sentido de ter fundamento: usa-se sem preposição. Ex.: Suas queixas não procedem. b) no sentido de originar-se, vir de algum lugar: exige a preposição de. Ex.: Muitos males da humanidade procedem da falta de respeito ao próximo. c) no sentido de dar início, executar: usa-se a preposição a. Ex.: Os detetives procederam a uma investigação criteriosa. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 36 7 - Pagar/ perdoar: a) se tem por complemento palavra que denote coisa: não exigem preposição. Ex.: Ela pagou a conta do restaurante. b) se tem por complemento palavra que denote pessoa: são regidos pela preposição a. Ex.: Perdoou a todos. 8 – Informar: No sentido de comunicar, avisar, dar informação: admite duas construções: 1) objeto direto de pessoa e indireto de coisa (regido pelas preposições de ou sobre). Ex.: Informou todos do ocorrido. 2) objeto indireto de pessoa ( regido pela preposição a) e direto de coisa. Ex.: Informou a todos o ocorrido. 9 – Implicar: a) no sentido de causar, acarretar: usa-se sem preposição. Ex.: Esta decisão implicará sérias conseqüências. b) no sentido de envolver, comprometer: usa-se com dois complementos, um direto e um indireto com a preposição em. Ex.: Implicou o negociante no crime. c) no sentido de antipatizar: é regido pela preposição com. Ex.: Implica com ela todo o tempo. 10- Custar: a) no sentido de ser custoso, ser difícil: é regido pela preposição a. Ex.: Custou ao aluno entender o problema. b) no sentido de acarretar, exigir, obter por meio de: usa-se sem preposição. Ex.: O carro custou- me todas as economias. c) no sentido de ter valor de, ter o preço: usa-se sem preposição. Ex.: Imóveis custam caro. Anotações: FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 37 Exercícios: 01. Explique a diferença de sentido entre as frases seguintes: a) Chegou à noite. / Chegou a noite. b) Saiu à francesa. / Saiu a francesa. c) Parecia agradável à primeira vista. / Parecia agradável a primeira vista. d) Às vencedoras enviaram felicitações. / As vencedoras enviaram felicitações. e) À indústria nacional prejudicou o acordo. / A indústria nacional prejudicou o acordo. f) Fez seu trabalho à maquina. / Fez seu trabalho a maquina. 02. Em cada item você encontrará uma frase típica da linguagem coloquial de várias regiões do Brasil. Adapte cada uma dessas frases à regência verbal da língua culta: a) Fique tranqüila, querida: eu lhe amo muito. b) Desde que lhe vi, minha vida não é mais a mesma. c) Não me simpatizo muito com essa tese. d) O marginal urbano não obedece sinal vermelho. e) Não pude responder o bilhete que você me mandou. f) Que Deus lhe proteja! g) Se Deus lhe amparar, tudo vai dar certo. h) Ela já parou de lhe amolar? i) Fali questão de lhe abraçar. Anotações: FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 38 CAPÍTULO 7 REGÊNCIA NOMINAL É necessária “combinação” do substantivo e/ou do adjetivo com seus acompanhantes, mediante o uso de uma preposição que os ligue. Abaixo, selecionamos o uso condenado de alguns termos. Indique qual é o uso recomendado, de acordo com a norma culta da língua. USO CONDENADO: USO RECOMENDADO: Adequado com (ou outras preposições) Análogo com (ou outras preposições) Bacharel de Benéfico (sem preposição) Capacidade em (ou outras preposições) Circunvizinho a (ou outras preposições) Condizente a (ou outras preposições) Desfavorável (sozinho ou com outras preposições) Domiciliado a (ou outras preposições) Dúvida com (ou outras preposições) Equivalente com (ou outras preposições) Gravoso com (ou outras preposições) Hostil com (ou outras preposições) Idêntico com (ou outras preposições) Incompatível a (ou outras preposições) Intolerante por (ou outras preposições) De menor Negligente com (ou outras preposições) Obediente (sem preposição) Passível a, com (ou outras preposições) FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 39 Preferível que (ou outras preposições) Próximo com (ou outras preposições) Residente a (ou outras preposições) Semelhante com (ou outras preposições) Sito a (ou outras preposições) Situado (sozinho ou com outras preposições) Tachado em (ou sem preposição) Taxado a (ou outras preposições) Vacine de (ou com outras preposições) Anotações: FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 40 CAPÍTULO 8 CRASE Origem da crase: De acordo com a Gramática Histórica, crase é um metaplasmo por subtração, ou seja, ocorre quando se tiram ou diminuem fonemas à palavra. A crase consiste na fusão de dois sons vocálicos contíguos. Exemplos: pede > pee > pé aviolu > avoo > avô dolore > door > dor Atualmente, ocorre a crase apenas com dois aa: preposição + artigo definido (à, às) ou preposição + pronome demonstrativo (àquele, àquela, àquilo, etc). Emprego atual da crase:É o nome que se dá à fusão, à contração de dois aa. Simplificaremos este assunto em dois casos, apenas, tirante os casos facultativos do uso do acento grave indicativo de crase: 1º CASO: Ocorre a crase quando o termo regente (subordinante) exigir a preposição “a” e o termo regido (subordinado) admitir o artigo definido “a”, ou quanto este último foi representado por um pronome demonstrativo iniciado por “a”. Exemplos: a) Vou à praça O termo regente vou exige a preposição a: quem vai, vai a algum lugar; o termo regido praça admite o artigo definido a (a praça é bonita). Neste caso, ocorreu a crase, e este a recebe acento grave. b) Chegamos a Fortaleza O termo regente Chegamos exige a preposição a: quem chega, chega a algum lugar; o termo regido Fortaleza não admite o artigo definido a (Fortaleza é capital do Ceará). Portanto, não ocorreu a crase, sendo este a preposição essencial. c) Entendi a questão O termo regente Entendi não exige preposição a: quem entende, entende alguma coisa; o termo regido questão admite o artigo definido a (a questão está correta). Logo, não ocorreu a crase, e este a é simplesmente um artigo definido. a+a a+Ø Ø+a FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 41 O mesmo ocorre quando o termo regido for pronome demonstrativo. Exemplos: a) Ainda não assisti àquele filme. ou Ainda não assisti a esse filme. b) Não encontrei aquela resposta. ou Não encontrei essa reposta. Não há necessidade de o aluno decorar todos os casos de “crase proibida”, conforme as gramáticas tradicionais apresentam, pois caímos sempre no 1º caso (b), em que o termo regido não aceita o artigo definido a. Exemplos: Sua roupa está cheirando a suor. (suor = substantivo masculino) “Tudo cheirava-me a asneiras.” (asneiras = substantivo em sentido genérico) Está começando a esfrias. (esfriar = verbo) Irei a uma festa. (uma = artigo indefinido) NOTA: Ocorrerá a crase antes das palavras casa (lar), terra (antônima de bordo) e distância se aparecerem com modificador ou forem delimitadas. Exemplos: Cheguei a casa de madrugada. / Voltei à casa de minha namorada cedo. Retornamos a terra à noitinha. / Retornarei à terra de meus avós. No zoológico, os animais ficam a distância. / Os guardas ficaram à distância de vinte metros. 2º CASO: Ocorre a crase em locuções (prepositivas, adverbiais ou conjuntivas) com palavras femininas. Exemplos: Às vezes, não a encontro à noite. (locuções adverbiais) Os policiais estão à procura do ladrão. (locução prepositiva) À proporção que chove, mais preocupados ficamos. (locução conjuntiva) Fazer uma redação à Rui Barbosa. (está subentendido a locução à semelhança de). CASOS FACULTATIVOS DO USO DO ACENTRO GRAVE, INDICADOR DE CRASE: Nestes casos, o uso do acento grave é facultativo desde que o termo regente exija preposição a. Caso contrário, não podemos pensar nas ocorrências da crase. - Antes de pronome possessivo feminino. Escrevi a minha professora. Escrevi à minha professora. (quem escreve, escreve a alguém) - Antes de nome próprio de pessoa (íntima, familiar). Não fiz referência a Teresa. Não fiz referência à Teresa. (quem faz referência, faz referência a alguém) - Com a locução até a, antes de palavra feminina. Fui até a esquina, mas não o encontrei. Fui até à esquina, mas não o encontrei. (quem vai, vai a algum lugar) a+aquele Ø+aquele FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 42 Atividades práticas: 01) Coloque o acento indicador de crase quando for necessário: a) Comunique nossos preços as empresas interessadas. b) Envie dinheiro a estas instituições beneficentes. c) Nunca disse nada a respeito disso. d) Sempre evitei comprar a crédito. e) Não nego minha contribuição a cultura brasileira. f) Não há mais nada a fazer. g) Transmita a cada um dos presentes as instruções necessárias a continuidade da sessão. h) Não vou a festas, não assisto a novelas e não aspiro a grandes posses. Estou fora de moda. i) Vamos a Bahia ou a Santa Carina nas próximas férias? j) Cheguei a casa tarde da noite. k) Fui a velha casa onde passei a infância. m) Tente se manter a tona. n) Traga um belo filé a parmiggiana. o) Não é fácil jogar a moda da seleção holandesa de 1974. p) Prefiro isto aquilo. q) Entreguei tudo aquele homem. Anotações: FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 43 CAPÍTULO 9 EXPRESSÕES QUE APRESENTAM DIFICULDADES: 1) Emprego de A – HÁ – À I. Há (verbo haver) a) quando indicar passado b) quando puder ser substituído pelo verbo “fazer” Exemplo: Há muitos anos não o vejo. Observação: Constitui redundância o uso: “Há dois anos atrás”. Como há e atrás indicam passado, não se deve usar os dois juntos. II. A (preposição) a) quando indicar uma ação que ainda vai ser realizada b) indicando distância Exemplos: Daqui a duas horas iremos ao teatro. Ele está situado a 10 metros do prédio. III. A (artigo) a) diante de substantivo feminino singular. Exemplo: A arte é imitação da vida. IV. A (pronome pessoal de 3ª pessoa, feminino singular) (correspondente a ela) Exemplo: Não a vejo desde ontem. V. A (pronome demonstrativo) (corresponde a aquela) Exemplo: A de azul é minha prima. VI. À (preposição + artigo definido feminino singular) Exemplo: Irei à cidade. VII. Expressão: Haja vista / Hajam vista Esta expressão pode ser construída de três modos diferentes: 1. Hajam vista os livros desse autor. (= tenham vista, vejam-se) 2. Haja vista os livros desse autor. (= por exemplo) 3. Haja vista aos livros desse autor. (olhe-se) 2) ABAIXO-ASSINADO – ABAIXO ASSINADO – para indicar o documento, usa-se o hífen ligando os dois termos, ficando invariável o advérbio abaixo. Exemplo: Não foi feito apenas um abaixo-assinado; foram feitos vários abaixo-assinados. Como locução adjetiva, para indicar quem subscreve um abaixo-assinado, não se usa o hífen. Ex.: O abaixo assinado, os abaixo assinados, a abaixo assinada, as abaixo assinadas. FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 44 3) ACERCA DE – A CERCA DE – HÁ CERCA DE ACERCA DE significa a respeito de, sobre Exemplo: O juiz, ouvido o Ministério Público, decidirá acerca da realização das provas propostas pelo assistente (CPP, art. 271, § 1º) A CERCA DE significa uma distancia (espacial ou temporal) aproximada de Exemplos: Montevidéu fica a cerca de 900 km de Porto Alegre. Os alunos entraram em greve a cerca de duas semanas do término das aulas. HÁ CERCA DE tem o sentido de: o faz aproximadamente, faz perto de Exemplo: A sessão teve início há cerca de vinte minutos. o Existe(m) aproximadamente, existe(m) perto de Exemplo: Há cerca de sessenta pacientes à espera de doadores de órgãos. 4) À CUSTA – é essa a expressão correta em frases como: Vive à custa do governo. É erro, pois, dizer: Vive às custas do governo. Custas são as despesas judiciais. 5) AFIM – A FIM DE (QUE) AFIM – significa parente por afinidade (vínculo que liga cada um dos cônjuges aos parentes do outro) Exemplo: Não podem casar [...]; II – os afins em linha reta, seja o vínculo legítimo ou ilegítimo (CC, art. 183, II). Por extensão, é sinônimo de semelhante, análogo. Exemplo: Objetivos afins, termos afins, etc. A FIM DE (QUE) é sinônimo de para (que) Exemplos: Citação é o ato pela qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender (CPC, art. 213). O advogado poderá, a qualquer momento, renunciar ao mandato, notificando o mandante, a fim de que lhe nomeie sucessor [...] (CPC, art. 45). Anotações: FUMESC – Faculdade de Direito Disciplina: Linguagem Jurídica – Professor Rodrigo Luiz Nery 45 6) À MEDIDA (PROPORÇÃO) QUE – NA MEDIDA (PROPORÇÃO) EM QUE À MEDIDA QUE indica tempo proporcional, concomitância:
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