Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 CLÍNICA – ASCITE SCHEILA MARIA Acúmulo de líquido livre de origem patológica na cavidade peritoneal (A partir de 500 mL de líquido acumulado é clinicamente detectável) A origem do líquido pode variar: bile, plasma, urina, linfa, sangue A grande maioria das ascites tem como causa a cirrose hepática. Ascite é gerada por retenção de água e sódio + hipoalbuminemia e hipertensão portal (fatores localizadores de edema da cirrose hepática). O aparecimento pode ser agudo ou insidioso (tem pior prognóstico) Na semiologia, atentar para: o Uso de álcool, tipo de bebida, uso diário ou não, quantidade e tempo de uso o a vírus de hepatites crônicas, de icterícia com colúria, transfusões ou uso de plasma o Uso anterior de drogas farmacológicas com potencial hepatotóxico o Exposição ocupacional a substâncias hepatotóxicas o Histórico de morte por insuficiência hepática na família sem causa conhecida Em geral a ascite não-complicada associada a cirrose NÃO produz dor abdominal. A presença dessa queixa pode indicar a existência de peritonite bacteriana espontânea ou de outra causa para a ascite (tuberculose peritoneal, ascite pancreática, ascite hemorrágica). Perda de massa muscular cirrose, tuberculose peritoneal, neoplasias. Pode ser classificada nos seguintes graus: o Grau1: detectada apenas por ultrassonografia o Grau2: abdômen de batráquio (dilatação dos flancos, com o doente em decúbito dorsal) e sinal da macicez móvel, ao exame físico. o Grau3: diretamente visível, confirmada pelo sinal da onda ascítica (Piparote positivo). A patogênese da ascite inclui o Aumento da pressão hidrostática (Hipertensão Portal) o Diminuição da pressão osmótica coloidal o Saída de fluidos para a cavidade peritoneal o Aumento da permeabilidade dos capilares peritoneais. Algumas das teorias sobre sua fisiopatologia são: o Overflow = “superabundância” (retenção renal inadequada): Doença hepática retenção primária de água e sódio expansão do volume vascular ascite o Underfilling = “enchimento incompleto” (diminuição do volume circulante efectivo): HT Portal saída de fluidos para o peritoneo ascite diminuição do volume intravascular retenção secundária (compensatória) de água e sódio. o Vasodilatação arterial periféria: dilatação vascular pelo óxido nítrico diminuição do volume plasmático retenção de água e sódio ascite 2 # Exame clínico abdominal # Abdome em ventre de batráquio – decúbito dorsal Avaliar aparecimento de estrias e herniações, aspecto da cicatriz umbilical Pode ocorrer circulação colateral venosa A. Tipo porta: presente quando ocorre hipertensão portal, ao redor da cicatriz umbilical, em cabeça de medusa. B. Tipo cava: surge nas obstruções de VCI ou ilíacas primitivas com fluxo indo de baixo para cima. C. Misto porto-cava: mais raro, quando há obstrução das duas veias ou o peso de grandes ascites comprime a VCI. Quantidades inferiores a 1500 mL são dificilmente detectadas à percussão. “Macicez nos flancos” = sinal útil para a pesquisa de ascite de pequeno volume. Diagnóstico diferencial dos aumentos de volume de outra natureza (obesidade, cisto de ovário, gravidez). “Macicez móvel”: raramente deixa de ser obtido nas ascites de pequenas a grandes. Realizar em todos os pctes. O “sinal do piparote” não é útil para ascites pequenas. É o menos sensível e mais específico. “Semi-círculos de Skoda”: a união dos pontos percutidos forma um semi- círculo com concavidade voltada para cima (na ascite), difere do cisto de ovário, bexigoma e gravidez (concavidade para baixo). Diagnóstico diferencial. # Exame clínico geral # Distribuição do edema periférico: na hepatopatia crônica se concentra nos MMII e abdome. No nefropata ou cardiopata com anasarca o edema se distribui até pelo rosto. Sinais de insuficiência hepática: podem ser encontrados no pcte com cirrose (aranhas vasculares, telangiectasias). Eritema palmar pode aparecer também e sinais de feminilização (queda de pelos e ginecomastia) nos homens. Derrame pleural: ocorre em 6% dos pctes; pode ocorrer também falsa macicez nas bases do pulmão ou pulmões ocupando menor espaço devido a elevação das cúpulas diafragmáticas. # principais causas para ascite # Cirrose hepática a. Causada por álcool, hepatites, toxinas, drogas ou doenças metabólicas. b. Leva a hipertensão portal devido a fibrose do tecido, hipoalbuminemia e liberação de NO (vasodilatador) c. Sintomas incluem astenia e perda de peso. Ao exame clínico há a ascite, eritema palmar, telangiectasias, icterícia, esplenomegalia. d. Leva a hipertensão portal, alteração no metabolismo de glicose, colesterol e fármacos e evolui para carcinoma hepatocelular. Insuficiência hepática fulminante 3 a. Necrose de um grande número de hepatócios, evolui para encefalopatia hepática b. Causas: infecção viral, drogas, hipóxia Hepatite alcoólica a. Esteatose hepática evolui para fibrose causando da resistência sinusoidal ao fluxo e hipertensão porta b. Os sintomas são os mesmo da cirrose. Neoplasias – metástaes. a. Metástases disseminadas pela veia porta, circulação sistêmica ou vasos linfáticos. b. Leva a estenose e oclusão de ramos da VP hipertensão porta Obstrução de veia porta Síndrome de Budd-Chiari a. Obstrução venosa do efluxo hepático b. Causada por contraceptivos orais ou trombose de veias hepáticas c. A obstrução ao efluxo leva ao aumento da pressão pós-sinusoidal com consequente dilatação e aumento da pressão sinusoidal. Isso aumenta a filtração nos sinusóides, formação da linfa e ascite. Doença veno-oclusiva Pericardite constrictiva Insuficiência cardíaca Infecções (tuberculose peritoneal) Renal (síndrome nefrótica – causa + comum de ascite em criança, hemodiálise) Endócrina (hipotireoidismo – mixedema) Lúpus eritematoso sistêmico # diagnóstico # “todo caso de ascite de recente começo ou de recente piora deve ser puncionado”. Punção do líquido ascítico. A paracentese pode ser diagnóstica ou terapêutica e deve ser realizada em todos os doentes (contra indicações apenas em CID e fibrinólise primária) Na cirrose esse líquido é transparente ou em amarelo citrino. Deve-se observar se o líquido é claro, turvo ou purulento (a quantidade de leucócitos contribui para essa definição). [neutrófilos] – 1000/µL = líquido claro [neutrófilos] – 5000/µL = líquido turvo [neutrófilos] > 50.000/µL = líquido purulento Liquido turvo representa infecção ou células tumorais; líquido branco leitoso = ascite alquilosa; marrom-escuro = concentração de bilirrubina ou perfuração do trato biliar; negro = necrose pancreática ou melanoma metastático. A quantidade de hemácias determina a coloração para os tons rosa e avermelhado – não confundir com líquido hemorrágico Contagem celular, gradiente soro-ascite de albumina (GSAA), o método Gram e a cultura do líquido são testes obrigatórios. 4 a. Contagem celular: 10 µL de líquido ascítico. Contagem de leucócitos na ascite cirrótica não complicada: 281 ± 25 células/mm³ com limite superior de 500 células/mm³, podendo chegar até 1000 mm³ com predomínio de linfócitos. Contagem de PMN sendo < 250/µL o valor normal. PMN >250/µL indica processo inflamatório agudo ou peritonite bacteriana. b. GSAA: tem correlação direta com a pressão portal. Além disso, [proteína] na ascite tem relação direta com [proteína] sérica e inversa com a pressão portal, ou seja ( pressão portal [proteína] GSAA). GSAA > 1,1g/dL (95 a 97% hipertensão portal). c. Para ascites com GASA > 1,1 os níveis de proteína devem ser analisados. Para a contagem da proteína temos, quando ≥ 25 g/dL indicam que os sinusóides hepáticos estão normais e permitem a passagem de proteína para o líquido, como ocorre na ascite cardíaca. Níveis <25g/dL indicam que foram lesados e cicatrizaram e não permitem mais a passagem de proteína como na cirrose. Algumas classificações consideram: Transudado densidade inferior a 1,016 Menos de 25g/L de proteína Peritonio Normal Exsudado Mais de 25g/L de proteína Peritonio Doente (Infecção ou Tumor) Cultura e coloração de GRam, laparoscopia, raio X são outras formas de diagnóstico. Entidade Asp. Mac. Prot. g/L SAAG g/dL Erit. >10000/µ L Leuc. por µL Outros ex Cirrose Cor de palha ou tinto bile <25 >1,1 1% <250 Neoplasia Cor de palha, hemorrágico, mucinoso ou quiloso >25 <1,1 20% >1000 Citologia, bloco de cél., biópsia peritoneal Peritonit e tuberculo sa Claro, turvo, hemorrágico, quiloso >25 <1,1 7% >1000 (+ linfóci tos) Biópsia peritoneal, coloração e cultura p/ bacilos Peritonit e piogénica Turvo ou purulento >25 (puru lento ) <1,1 Pouco comum PMN Coloração de Gram e cultura+ I.C.C. Cor de palha 15 a 53 >1,1 10% <1000 Nefrose Cor de palha <25 <1,1 Pouco <250 Extracção c/ 5 ou quiloso comum éter, coloração por sudão (qdo quiloso) Ascite pancreáti ca Turvo, hemorrágico ou quiloso >25 <1,1 Variável Variáve l Amilase # complicações # PBE (peritonite bacteriana espontânea): mais frequente complicação da ascite do cirrótico (pode ocorrer também quando as etiologias são síndrome nefrótica, IC ou IHA). Cultura positiva do líquido ascítico para apenas um agente microbiano e contagem de PMN ≥ 250/mm³. Sua etiologia se baseia na translocação de bactérias intestinais (E.coli e Klebsiella) que passam para o interior dos linfáticos e atingem o sangue. Apenas as ascites de baixo teor proteico podem desenvolver PBE (pois as opsoninas – defesa – estão diretamente relacionadas a [proteína] na ascite. O paciente com PBE pode apresentar-se com febre, náuseas e vômitos, ou com instalação recente de encefalopatia hepática ou agravação de preexistente. O ttt inclui antibioticoterapia intravenosa com cefotaxima. OBS: pctes com presença de múltiplos patógenos e aumento da PMN (>250) sugere peritonite secundário a aruptura de víscera ou abcesso. Já a presença de múltiplos patógenos sem aumento de PMN (<250) sugere perfuração intestinal pela agulha da paracentese. Peritonite secundária: deve srr diferenciada da PBE. Nessa, a cultura do líquido é positiva para múltiplos organismos. Hérnias Hidrotórax hepático oBS: lembrar que a hepatite B e C apresentam potencial de cronificação podendo causar cirrose hepática na evolução
Compartilhar