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História do Direito RGB.

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HISTÓRIA DO DIREITO 
 
Renasce a Líbia Antiga: A história é estratégica para a população, tanto no individual quanto 
coletivo. Por que se rompe com a história anterior de um país? Para ter controle das pessoas. 
Ou formamos a nossa identidade conhecendo ou reconhecendo em nós a nossa história ou 
perdemos a nossa identidade. Kadafi queria que os líbios se identificassem com uma única 
etnia e religião. Agora os líbios estão retomando a historia deles. Verdade e Verossímil: 
verossímil parece ser a verdade de acordo com o método. A história é de extrema importância 
para formar a identidade. A história como narrativa única e verdade não nos ajuda formar uma 
identidade autônoma e livre, porque quando há manipulação ela tem que ser hegemônica, 
como aquilo que é verdade. 
História Tradicional: líder, indivíduo, uma versão de quem manda, do vencedor. 
Nova historia: coletiva, do povo, do homem comum, ampliar as fontes, mais versões sobre o 
que aconteceu. 
Ubi Societas Ibi Ius? Onde há sociedade ha direito? 
Porque as pessoas precisam estabelecer regras para conviver? Os conflitos surgem e não 
podem se eternar. Se ficar muito no tempo, tudo em volta é ameaçado. Homogeneidade era a 
prova da convivência. 
I- Ha direito na pré-história? Fenômeno normativo, jurisdição. 
Conhecimento jurídico: a tradição para as sociedades pré-modernas. 
II- Direito Romano: uma introdução 
1) Por que direito romano? Um recorte para traçar as origens da família dos sistemas 
romano-germânicos (ou continentais, em oposição dos anglo-americanos). 
2) Um "mapa" histórico do direito romano: 
- Das origens, pouco precisas, até a transição política da monarquia para a república: uma 
história encoberta por mitos. 
- O direito republicano: ascensão, diversificação e expansão; 
- O direito imperial: apogeu e queda, paralelos ao apogeu e queda do Império do Ocidente. 
- Breve período de sínteses (legislações romano-barbaras no ocidente, "Corpus Juris Civilies" 
no Oriente). 
- Período de quase completo desaparecimento do direito romano no ocidente. 
- Século IX e séculos XI - XII: dois momentos marcam o ressurgimento do direito romano no 
ocidente. 
- Estudo, comentário e apropriação progressiva do direito romano na Baixa Idade Meia e na 
Modernidade: a formação dos sistemas romano-germânicos. 
O Direito Romano nos Primeiros anos da Republica 
1) Fontes: Inicialmente, só o costume é fonte de direito. Em 451 a.c., surge a 2a fonte: a lei 
(LEX). As pessoas sabiam o que era correto ou não pelo costume, disciplina da vida social. 
2) Processo: o modelo é o das Legis Actiones. 
Legis Actiones (ações da lei): 
1o Estagio ou Fase: Estatal (presidida pelo cônsul). Extremamente solene. Juízo de 
admissibilidade. Pode haver consulta ao colégio dos pontífices. 
2o Estagio ou Fase: Privada (conduzida pelo IUDEX). Menos formal. Julgamento acerca da 
veracidade dos fatos. Não ha recurso. A decisão não e executada pelo estado. 
A vingança era visto como um atributo da vitima ou sua família se vingar de quem a tivesse 
ferido. 
O autor poderia buscar satisfação a sua pretensão através do processo, se dirigindo ao 
cônsul em alguns dias do ano e aquele que pretendia ter satisfação do estado, o autor da 
ação, deveria conduzir o réu a presença do cônsul. 
Diante do Cônsul o autor pronunciava palavras correspondentes ao tipo de ação contra o 
outro. Isso é um resquício da fase anterior. O direito não era escrito e tinha que pronunciar 
diversas palavras para se pretender uma jurisprudência. 
O Cônsul ira dizer "Sim, reconheço o direito da ação" ou "Não, não ha direito de ação". 
O Colégio dos pontífices poderia ser consultado. Eram pessoas mais velhas que tinham 
funções religiosas na sociedade. 
IUDEX: não era funcionário do estado romano. Havia lista de pessoas que podiam ser IUDEX. 
O IUDEX conduzia o procedimento ate que a natureza do fato fosse considerada falsa ou 
verdadeira. 
Todo o modelo de ação é um conjunto de providencias, como vai descobrir a verdade é 
ouvindo testemunhas, verificando documento apresentado ou o lugar que aconteceu o que se 
alega. O IUDEX procura a verdade e toma mais iniciativas do que o nosso juiz toma, inclusive 
se cercar com outras pessoas que o ajudem a descobrir a verdade. Ele é um representante do 
estado, naquele ato. 
O cônsul prevê que pode se prever uma serie de providencias tais como aprisionar a pessoa, 
leva-la para um espaço publico, pois é uma maneira de forçar a família a realizar esse 
desembolso. 
Eles (plebeu) não exigem que se crie um direito melhor para eles, eles querem só saber o 
conteúdo do direito e ter onde verificar. 
Mesmo direito escrito demanda Interpretação. A possibilidade de distorcer o direito quando 
esta escrito é menor do que o oral. 
A Comissão é incumbida de redigir aquilo que mais frequentemente é objeto de duvida e o que 
não esta tão claro no costume. 
O Romano chama o direito de IUS CIVILE = direito do cidadão. 
O estrangeiro não podia invocar os direitos romanos em seu favor. 
A lei das 12 Tábuas: é variada em seu conteúdo. Registra um sentimento de que a vingança 
não pode ultrapassar o quanto da inflação cometida. Prevê serie de regras sobre o processo: 
acredita que os primeiros e últimos artigos dizem respeito ao processo. O conteúdo dela foi 
modificado pela interpretação os romanos não gostavam de admitir que foi alterada. 
Legis Actiones são afetadas pela lei de 12 tábuas. Antes não ha possibilidade de saber quais 
palavras são pronunciadas. Depois a lei informa quais palavras devem ser pronunciadas e 
restringe os limites da vingança e da busca da autotutela. O recurso ao estado para buscar 
resolver o problema fica maior. 
A família é um ditado sagrado para o romano. Em briga de família a própria família deve 
resolver a questão. 
A função que antes era do cônsul passa a ser do Pretor, no inicio do século 4 a.c é nomeado o 
pretor que deve realizar o julgamento preliminar. O pretor é quem se dedica a isso, fica 
durante o ano realizando essa função, permitindo a especialização e elabora melhor sua tarefa. 
Ele começa a admitir que o autor e réu expliquem o que aconteceu. Isso é uma evolução 
para o direito romano. Quando o pretor passa a ouvir o caso, o relato dos fatos e ajudar a 
definir qual o direito esta em jogo ele abre espaço para que novos direitos sejam adquiridos 
pelas pessoas. 
Pretor: Cria novo modelo processual. 3a fonte de direito: o IUS Honorarium. 
O Direito Romano em meados da republica 
1) Fontes: Costume. Lei. “Juz hiopponorarium": direito do pretor 
2) Processo: Legis Actiones. Após a nomeação do pretor: per formulas. Variacoes das legis 
actiones (novos modelos: pretor/ index). Novas defesas e Interditos: Com esses 3: cria 
processo e permite que se reconheçam novos direitos materiais (subjetivos). 
Ius Civile: direito do cidadão: Ius civile não pode ser disponibilizado. Jurisdição romana não 
pode usar outro direito. Jurisdição estrangeira não pode atuar. Problema não pode ficar sem 
solução. Não acredita que direito é algo que se crie. 
Pretor urbano: que cuida dos casos entre romanos. 
Pretor peregrino: que cuida dos casos entre estrangeiro romano e estrangeiro estrangeiro. 
Aristocracia: virtude e poder 
Jurisprudência: virtude pratica. Tomar a decisão correta naquele momento. Para o romano 
direito é exercício de prudência. O jurista só comenta o direito em um caso. 
O "pano de fundo" do período clássico: a crise da República e a Transição para o 
Império: - Os triunviratos: Pompeu Magno/ Julio Cesar/ Lepido Marco Antonio / Crasso / 
Otaviano - O inicio sem alardes do Império. 
A Organização do Direito no período clássico: três sínteses 
Quintus Mucius Scaevola: - Esquema que abordou os temas de direito privado. - 
Protagonismo do direito sucessório. 
Masutius Sabimus: - Baseado na estrutura da obra de Scaevola; - Tratou de vários temas do 
direito privado, sem dedicar especial atenção a uma área. - Autorda noção de delitos como 
gênero das espécies dano e furto. 
Gaio: - Obra: as Institutas. - Obscuro professor de direito, sua obra era bastante didática mas 
teve repercussão a época. - Dividiu-se em: pessoas (critério da nacionalidade, pátria famílias e 
liberdade), bens (coisas), ações. - Sao de Gaio as noções, ainda em uso, de bens incorpóreos 
(intangíveis), de obrigações.- Fontes das obrigações como sendo os delitos e os contratos são 
de Gaio. 
Quem era o J.R. Ocidente: 
Legislações Romano Barbaras: - Edito de Eurico. - Edito de Teodorico. - Ex Romana 
Burgundionum. - Lex Romana Visigothorum 
No J.R. do Oriente (inicio do século VI): 
Corpus Iuris Civiles: - Codex. - Digesto. - Institutas (apos a morte de Justiniano). - Novelas 
Historia do Direito: - 476: Queda do Império Romano do Ocidente. - 508/9: Lex Romana 
Visigothorum. - 530-40: CIC. - 774: Ascenção de Carlos Magno. - 800: Carlos Magno eh 
coroado imperador. - 1080/90: - 1122: Concordata de Woms. 
Doutrina acerdotium-imperium 
Geracoes de Mestres de Bolonha 
1a Pepo: - Causidico (arbitro). - Conhecia Digesto. - Ensinou CODEX, SNST 
2a Irnerius (Clerigo): 
Lançou as bases metodológicas do ensino do direito. O que se tornou padrão em Bolonha 
 voltavam para vários lugares e outras univerdades copiavam o modelo. - Gramatico: f. 
linguística. - Adotou a técnica da glosa. - Glosar é escolher um objeto e comenta-lo. - 
Reposiciona o direito também como ramo da lógica, conferindo maior autonomia linguística ao 
seu estado. - Direito é linguagem, só pode estuda-la quem domina o trivium (gramatica, 
retorica, e dialética): direito é curso superior. 
3a 4 Doutores: Bulgarus, Martinus, Gosia, Hugo, Jacobus. 4a Johannes Bassianus. 5a Azo. 6a 
Accursius 
Os glosadores do direito civil e o direito canônico 
I. As gerações de professores de Bolonha: 
1. Pepo 
2. Irnerius 
3. Os 4 doutores (Belgarno, Martinus, Hugo e Jacobus) 
- Canones da interpretação. 
4. Johanes Bassianus: 
- Inicio da literatura jurídica 
- Exposição em 4 etapas. 
5. Azo: summa codicis 
5. Accursius: Glossa Ordinaria, 
II. Direito Romano x Direito canônico 
- Canonistas pleiteiam catedra autônoma: - Razoes contra (dos civilistas). - Falta de uma 
síntese. - Direito canônico seria "um ramo"" do direito romano. - Razoes a favor: - É um 
ordenamento crescente. - Tem sua própria jurisdição. 
- O monge Graciano publica sua obra ""Concordantia Discordantia Canonum"" aplicada 
""Decretum". 
- 20 anos após a publicação, a cátedra é criada em Bolonha. 
- Nos próximos 150 anos, as normas de direito canônico se multiplicariam de maneira 
assombrosa, provocando a atualização do Deretum e a reorganização do material em novas 
sínteses, até o "Corpus Iusis Canonici". 
- Tal aumento de volume fez-se a custa da invasão de um número cada vez maior de conditas, 
antes infrações civis/ penais, pelo direito canônico: o problema do limite entre direito civil e 
direito canônico torna-se o problema central da discussão jurídica, 
- A jurisdição canônica expande-se no que conhecemos como Inquisição. 
I, Processo Romano 
II. Estudo e Recepção do Direito Romano: do sec. XII ao sec. XIX 
I. Processo Romano na baixa idade média: 
- Demanda 
- "Excerpta Legum": dar uma ideia geral. Eh uma carta 
- "Ordo Judiciarum": dar uma visao geral. Eh um livro. 
- Papa Alexandre III: emite uma ordem recomendando o livro nas jurisdições canônicas. 
- O " Speculum Judiciale", G. Durandus. Em 1271 um provençal escreve essa obra que foi 
referencia do processo romano. O autor começa a ser chamado pelo nome da obra, devido a 
sua importância, Speculator. 
- Processo canônico e processo civil. Todas as jurisdições canônicas estão submetidas ao 
Papa. Isso não acontece nas jurisdições civis. O processo canônico se antecipou ao civil 
porque as canônicas são organizadas como um organismo chefiado pelo Papa. O canônico 
aproveita mais elementos do direito romano antes que o processo civil o faça. 
II - Estudo e recepção do Direito Romano: 
Como o Direito Romano moldou o direito Germânico e fez nascerem os sistemas romano-
germânicos 
1) Recepção: modos 
- Os egressos de Bolonha (alunos serão diplomatas, juízes, árbitros, advogados, notários e 
assessores jurídicos - estudaram o direito romano e canonico. Em todas essas atividades o 
direito romano exercer a sua influência e é fonte subsidiaria/ auxiliar de normas.) e de outras 
universidades atuam em diversas frentes. 
- As compilações de costumes. Embora a ação de compilar predomine o sentido de reunir o 
que ja existe ao invés de criar, predomina o Direito Romano. 
- A legislação: O legislador lança o olhar crítico sobre o costume e o filtro do olhar é o direito 
romano. Legislar não é criar, é trazer do direito natural. A compilação e legislação são 
mecanismos eficazes de entrada do direito romano no germânico. 
- A adoção do processo (pela via do processo canônico) favorece elementos do direito material 
de origem romana. 
2) O jusracionalismo: ruptura jusfilosofica, novo impulso a adoção do direito romano 
(máximas de Direito Romanos são as "verdades universais" sobre o direito, a partir das quais 
se deve criar novos sistemas jurídicos: Codificação. 
Com o jusracionalista tende-se a criar direito. Estimulo maior a legislação. Defende-se que seja 
criado novos sistemas jurídicos. 
Nosso sistema existe os códigos como fonte primaria de direito. 
3) O ultimo grande momento do estudo/ recepção do Direito Romano: o pandectismo 
alemão (e o protagonismo da ciência jurídica alemã, ainda hoje). 
No sex, XII: surge o novo direito: 
- Cidade, mercado, comercio, novas ocupações. 
- Formação e expansão dos reinos/ resistência da Igreja que se reorganizava. 
Aula inaugural: para que serve a história. O cérebro dele, como o nosso, possuía uma 
‘gramática narrativa’ interna que o ajudava a compreender o mundo não como uma série de 
proposições lógicas, mas como uma série de experiências. Ele se explicava e se relacionava 
com seus semelhantes através de histórias.” “As histórias são importantes eventos cognitivos, 
porque elas reúnem, num único pacote compacto, informação, conhecimento, contexto e 
emoção.” “A imaginação narrativa – a forma conhecida como história – é a ferramenta básica 
do pensamento. (...) As faculdades racionais dependem dela. (...) A maior parte daquilo que 
vivemos, do nosso conhecimento acumulado e da nossa atividade mental encontra-se 
organizada sob a forma de histórias.” 
Objetivos de HD: Permitir que se apreenda o direito como produto da cultura, localizado no 
tempo e no espaço, como fenômeno exposto à influência de diversos fatores não jurídicos, 
simultaneamente objeto e causa de fenômenos sociais; Apreender o direito como fenômeno, 
portanto, essencialmente dinâmico, residindo, na sua organicidade, sua capacidade de 
subsistir como instrumento de regulação social; Desenvolver a sensibilidade para perceber a 
história em movimento, percebendo, na experiência jurídica, elementos que sinalizam para 
mudanças necessárias em um futuro próximo. 
História Tradicional: historia individual, personagem líder, linearidade, fontes documentais, 
fatos isolados ou pouco encadeados vistos sob uma perspectiva, versão única dos vencedores. 
Noção de que o fato é apresentado objetivamente. 
Nova história: historia coletiva, personagens: as pessoas comuns, circularidade, evoluções e 
involuções, ampliação das fontes: vestigios, fatos contextualizados, vistos sob perspectiva 
interdisciplinar, versões alternatias (vencedor/ vencido), consciência da impossibilidade de se 
construir uma historia absolutamente objetiva. 
 
1. A LEI DAS XII TÁBUAS: Quando se começa a registrar sua história, Roma era regida por 
uma monarquia, mas ao final do sexto século antes de Cristo os reis foram depostos e uma 
república foi instaurada. A essa época, Roma era uma pequena comunidade situada na 
margem esquerda do Rio Tibre, próxima ao seu estuário.Seu povo acreditava descender de 
refugiados da cidade de Tróia que deixaram a cidade após o saque promovido pelos gregos. 
Seu direito se compunha de uma série de costumes não escritos, passados adiante geração 
após geração e considerados parte integrante de sua tradição como romanos. Tais normas 
eram aplicáveis apenas àqueles que pudessem sustentar sua condição de cidadãos romanos 
(cives). 
Nos casos em que a aplicação de uma norma costumeira a um caso em particular se tornava 
duvidosa, recorria-se à interpretação do colégio de pontífices – um corpo aristocrático 
responsável pela manutenção dos cultos religiosos do estado – que se pronunciava de modo 
decisivo sobre o conteúdo em questão. A população romana dividia-se em dois grupos 
socialmente distintos, os patrícios e os plebeus, sendo os primeiros proprietários de terras, 
pouco numerosos, mas de origem nobre, enquanto os segundos eram numericamente 
superiores mas em desvantagem sob vários aspectos. Somente patrícios tinham acesso à 
função de pontífices, sendo natural, portanto, que os plebeus desconfiassem da imparcialidade 
de seus pronunciamentos jurídicos. Os plebeus arguíam que, caso os costumes fossem 
reduzidos à forma escrita, previamente à ocorrência dos casos sobre os quais incidiriam, isso 
lhes seria vantajoso, pois conheceriam de antemão o conteúdo do direito aplicável à sua 
situação e, em muitos casos, sequer seria necessário consultar o colegiado para compreendê-
lo. Ademais, estando o poder de interpretação dos pontífices limitado aos textos legais, 
diminuiria o risco de os plebeus sofrerem arbitrariedades resultantes de interpretações parciais. 
O resultado desse pleito foi a designação, em 451 AC, de uma comissão de dez cidadãos (os 
decênviros) para preparar uma compilação escrita do conteúdo normativo dos costumes. 
Essa compilação foi denominada “A Lei das XII Tábuas” e, formalmente proposta à 
assembléia popular dos cidadãos, foi aprovada. É importante ressaltar que, ao aprová-la, tal 
assembléia não considerava estar criando norma nova, mas apenas fixando mais claramente, 
e em texto, o que sempre fora o direito em Roma e que, desde então, passa a receber a 
designação de lex (oriundo do verbo legere, ler em voz alta), significando a declaração pública 
e autorizada do que já era o conteúdo tradicional do direito (jus). 
A Lei das XII Tábuas marca o início do Direito Romano tal como o conhecemos, e trata de 
matérias de todos os âmbitos do direito, incluindo normas de direito público e de direito sacro. 
O texto original não sobreviveu até nossos dias, mas tantas são as referências feitas em 
escritos posteriores que boa parte de seu conteúdo pode ser reconstruído. A ordem em que 
esses fragmentos apareciam no texto original não é conhecida, e certamente o caráter 
sistemático dessa legislação, a ela atribuído por eruditos do séc XIX, é um exagero. O que se 
sabe ao certo é que se iniciava com a disposição referente à intimação do réu para iniciar a 
ação e terminava disciplinando a execução do julgamento. 
As XII Tábuas não esgotavam todo o conteúdo do direito conhecido por todos e sobre o qual 
não pairassem dúvidas; diversamente, concentrava-se em aspectos que haviam sido objeto de 
disputas e consultas aos pontífices. Seu conteúdo não era particularmente favorável aos 
plebeus, mas o fato de que grande parte do direito vigente houvesse sido convertido em texto 
já representava, em si, maior segurança para este grupo social. Em particular, esta lei expunha 
os procedimentos que as partes podiam realizar sem socorrer-se de uma corte (autotutela), 
bem como esclarecia as providências referentes ao acesso à tutela judicial. No início do 
período republicano havia poucos servidores estatais disponíveis para o trabalho na jurisdição, 
então era difícil movimentar a máquina estatal para auxiliar a quem houvesse sofrido um dano. 
Em certos casos, a autotutela era tolerada, uma vez que a comunidade ainda não se tornara 
forte o suficiente para eliminá-la. A lei, contudo, mostrou-se determinada a institucionalizar tais 
casos e a mantê-los em estreitos limites. 
Quando surgia uma disputa que as partes não pudessem resolver por si mesmas, elas deviam 
comparecer diante de um magistrado. O propósito dessa audiência era decidir se tal disputa 
envolvia matéria disciplinada pela lei civil e, caso fosse, como deveria ser decidida. Antes do 
advento da república, os ordálios eram recursos utilizados pelos romanos para decidir tais 
litígios; contudo, no período republicano, o procedimento habitual era a submissão do caso a 
um cidadão ou grupo de cidadãos, escolhidos pelas partes e pelo magistrado. Esse cidadão, 
chamado de iudex, investigaria os fatos (a princípio recorresse, talvez, ao que já soubesse por 
si mesmo acerca do ocorrido), ouviria as evidências trazidas pelas testemunhas e os 
argumentos das partes e, então, decidiria pela condenação ou absolvição do acusado. 
O maior problema para quem fosse iniciar tais procedimentos era o de levar o acusado à 
presença do magistrado. O acusado podia cooperar, de modo a obter, ele mesmo, uma 
solução para a disputa; contudo, caso não colaborasse voluntariamente, o pleiteante podia 
forçá-lo a comparecer em juízo. Os limites precisos desse poder não estavam estabelecidos 
claramente pela norma consuetudinária, mas a Lei das XII Tábuas os fixou. Caso o acusado se 
recusasse, diante de testemunhas, a comparecer perante o magistrado, ou tentasse fugir, o 
pleiteante podia usar de força para compeli-lo a ir. Se o acusado se encontrasse doente ou em 
idade avançada, o pleiteante não podia forçá-lo a comparecer nesta audiência sem 
providenciar-lhe transporte adequado. Mas, como já se afirmou acima, havia algumas condutas 
que o cidadão prejudicado por outro podia adotar sem recorrer ao magistrado. Por exemplo, a 
Lei das XII Tábuas dispunha que, quando um ladrão fosse flagrado no ato de furtar à noite, ou 
ainda se isto ocorresse durante o dia e o delinquente oferecesse resistência à prisão, o 
ocupante do imóvel invadido podia matá-lo. Contudo, na maior parte dos casos, um 
pronunciamento da justiça era necessário antes de qualquer ação direta do interessado. Nos 
casos de sério dano físico, as partes eram encorajadas a chegar a um acordo sobre o 
montante a ser pago a título de indenização à vítima; falhando a possibilidade de acordo, a lei 
autorizava o talião, ou seja, a vítima podia infligir dano em espécie, mas limitado àquele que lhe 
fora causado (“olho por olho”). A possibilidade de tal retaliação servia como um estímulo a 
que as partes se esforçassem por chegar a um acordo, de modo que o talião teria sido 
exercido somente quando a família do ofensor não pudesse ajudá-lo de modo a oferecer uma 
compensação apropriada. Para casos de ofensas mais leves, nenhuma retaliação era 
permitida, e quantias fixas eram prescritas a título de compensação. 
Até então se falou em disputas entre indivíduos, mas na realidade, uma pessoa na Roma 
Antiga era mais propriamente considerada como membro de um grupo. A unidade com a qual o 
direito romano se preocupava, em seus primórdios, era a família; a lei não se ocupava do que 
acontecia dentro dos limites da família, as relações entre seus membros eram consideradas 
um assunto privado sobre o qual a comunidade não deveria exercer qualquer controle. No que 
se refere ao relacionamento com outros que não se encontravam na família, esta era 
representada pelo pater familias, e toda a propriedade do grupo familiar encontrava-se em 
suas mãos. Todos os seus descendentes masculinos em linha direta (agnatos) encontravam-
se sob seu poder. Um menino não deixava de estar sob o controle de seu pai meramente por 
atingir uma certa idade; até que seu pai morresse, ele não podia ter qualquer propriedade sua. 
Consequentemente, todo o patrimônio familiar era mantido íntegro e os recursos da família 
como um todo eram otimizados e fortalecidos. Na prática,portanto, o pleito de uma vítima de 
furto ou injúria pessoal cometida por um escravo ou um filho ainda dependente tinha que ser 
dirigido ao chefe de família, uma vez que este era o único em condições de oferecer a 
compensação financeira a partir dos fundos do grupo. A Lei das XII Tábuas oferecia a este, 
contudo, a opção de, ou satisfazer a pretensão indenizatória da vítima, ou entregar o 
delinquente a esta ou ao chefe da família à qual ela pertencesse. 
Em casos de homicídio não havia ação no âmbito da lei civil (lei dos cidadãos); 
diversamente, um magistrado tomava a iniciativa, em nome de toda a comunidade, de 
processar o ofensor, de modo a evitar vinganças familiares ou derramamento de sangue. 
Normalmente, contudo, a lei fornecia uma disciplina genérica dentro da qual as partes eram 
deixadas livres para resolver suas diferenças. No período posterior à edição da Lei das XII 
Tábuas um pleiteante que não recebesse, no período de 30 dias, a indenização fixada pelo 
iudex , podia pressionar o réu e até chegar a matá-lo. O pleiteante podia trazê-lo à força diante 
do magistrado e, se nenhum pagamento ou nenhuma garantia substancial fossem oferecidos, 
ele poderia ser posto em correntes por até sessenta dias. Durante este período, o réu devia 
apresentar-se na praça do mercado e anunciar sua dívida, de modo que sua família ou seus 
amigos tivessem a oportunidade de tomar conhecimento de sua situação e lidar com a dívida. 
A última ameaça era a possibilidade de sua venda para fora de Roma como escravo, de modo 
a solver os débitos com os credores. Se assim o preferissem, os credores poderiam cortar o 
réu em quantas partes fossem necessárias para solver os débitos com cada um, desde que 
nenhum credor se locupletasse à custa de outro. 
Com o passar do tempo os romanos reconheceram o caráter primitivo de muitos dispositivos 
dessa lei, mas ela precisa ser vista no contexto de uma comunidade que possuía poucos 
recursos, em termos de servidores do estado, que pudessem fornecer uma estrutura 
institucional consistente para a solução judicial dos conflitos. A legislação oferecia aos 
cidadãos a estrutura mínima dentro da qual as partes pudessem solucionar seus conflitos por si 
mesmas. Inevitavelmente, a parte que pudesse invocar a assistência de mais escravos, 
familiares e amigos se encontrava em melhor posição do que aquela que dispusesse de menos 
recursos em seu favor. 
2. O DESENVOLVIMENTO DO DIREITO PELA INTERPRETAÇÃO 
Durante o período republicano, algumas disposições da Lei das XII Tábuas foram modificadas. 
Os credores de um devedor, assim reconhecido pelo iudex e que não solvesse seu débito 
espontaneamente, não mais podiam matá-lo, mas deviam deixá-lo quitar a dívida mediante 
trabalho forçado; posteriormente, outra solução se fixou, com o estabelecimento de um 
procedimento de venda forçada dos bens do devedor, para entrega aos seus credores do 
valor apurado. A despeito de tais mudanças, contudo, quinhentos anos após a edição da Lei 
das XII Tábuas, os romanos ainda costumavam olhar para trás e ver sua legislação como “a 
fonte de todo o direito público e privado” (Lívio), tendo Cícero afirmado que os estudantes, 
na escola, deviam conhecê-la com o coração. 
Os romanos possuíam uma forte impressão sobre seu direito, qual fosse, a de que ele possuía 
o atributo da longevidade e havia sido, desde a fundação de Roma, parte essencial do tecido 
cultural que a caracterizava. Ao mesmo tempo, eles tinham a expectativa de que esse mesmo 
direito lhes permitisse fazer o que quer que quisessem, desde que suas pretensões lhes 
parecessem razoáveis. Na primeira metade da república, a interpretação do direito, quer fosse 
da lex (Lei das XII Tábuas), quer fosse do ius (costumes não escritos), ainda estava nas 
mãos dos pontífices, que podiam interpretá-lo em um sentido extensivo, até mesmo produzindo 
institutos que haviam sido desconhecidos anteriormente. 
Um exemplo da extensão das possibilidades interpretativas é a emancipação dos filhos em 
relação ao poder de seu pai (pátrio poder). O poder do pater familias sobre seus 
descendentes durava até sua morte (do pai ou do filho). À época da Lei das XII Tábuas não 
havia meios de antecipar voluntariamente o termo (fim) desta relação. O costume permitia ao 
pater familias vender o filho como escravo, e a Lei das XII Tábuas continha uma previsão, 
aparentemente para refrear o uso abusivo desse direito concedido pelo costume, segundo a 
qual, se o pai vendesse o filho por três vezes como escravo (o que só ocorreria se o “vendido” 
fosse liberto nas duas primeiras ocasiões, retornando à casa paterna), o filho não voltaria ao 
domínio do pai ao ser liberto pela terceira vez. 
Como resultado da interpretação conjunta destes dois dispositivos, a venda por três vezes era 
utilizada pelo pai para emancipar seu filho. Ele fingia vender o filho por três vezes, para um 
amigo; após cada venda o amigo libertava o seu “escravo” e, após a terceira, em razão do 
texto da Lei das XII Tábuas, o filho a quem se queria emancipar estava livre, tanto do pai 
quanto de seu pretenso comprador. Pode-se perceber aí o uso do texto da lei, bem como do 
conteúdo do costume, para um propósito totalmente diverso daqueles pretendidos por ambos. 
E a interpretação veio a avançar ainda mais: a lei se referia apenas a filhos, silenciando sobre 
filhas e netos; mas a partir do momento em que a regra passou a ser vista como um recurso 
para a emancipação, entendeu-se não somente se que se estendia a estes outros 
descendentes, mas ainda o fez considerando uma só venda suficiente para que a emancipação 
ocorresse. 
Sem dúvida, muitos cidadãos teriam percebido que o que estava acontecendo era uma 
adaptação da Lei das XII Tábuas para propósitos nunca imaginados pelos decênviros. 
Contudo, para aqueles que a admiravam e viam-na como parte da essência cultural romana, 
era mais confortável entender tais desenvolvimentos de seu conteúdo como a explicitação de 
um sentido anteriormente implícito, ao invés de aceitar o evento de uma reforma legislativa. 
3. O PRETOR E O CONTROLE DOS REMÉDIOS LEGAIS 
Durante a maior parte do período republicano o direito romano se desenvolveu menos através 
da legislação e sua interpretação do que pelo controle dos remédios legais, ou ações (e 
outros instrumentos processuais posteriores). Originalmente, o primeiro estágio de um 
processo - procedimento legal seguido para a solução de litígios qualificados como jurídicos - 
era formal e técnico; havia alguns poucos modelos de ação, que se iniciavam mediante a 
pronúncia oral de palavras previamente fixadas, pelo autor da ação (requerente ou pleiteante) 
diante do réu e do magistrado. O requerente que não pronunciasse exatamente as palavras 
previstas podia perder a ação. Estas legis actiones também só podiam ser intentadas em dias 
específicos. E, uma vez mais, somente os pontífices estavam familiarizados com as frases e 
as datas para o início de tais ações, até que tais formas verbais e o calendário viessem a ser 
publicados, o que somente ocorreu por volta de 300 a.C., quando o pontificado se tornou 
acessível também aos plebeus. 
Os magistrados, originalmente dois cônsules eleitos anualmente que haviam sucedido ao rei 
como chefes de Estado, eram responsáveis pelo desempenho de todas as atividades 
governamentais. A administração da Justiça era apenas uma parte minoritária de seus deveres 
e o procedimento lhes deixava pouco espaço para inovação. Com a expansão de Roma, um 
magistrado especial, denominado pretor e também eleito anualmente, foi criado em 367 a.C., 
para lidar exclusivamente com a administração da Justiça. Ele não tinha nenhum treinamento 
ou expertise especial, mas esperava-se que supervisionasse o estágio inicial, formal, de cada 
procedimento legal. O pretor manteve a característica dual (dois estágios) das ações, sendo o 
primeiro relacionado à classificação do litígio em termoslegais e o segundo, o julgamento 
propriamente dito, baseado nos fatos ocorridos entre as partes. O segundo estágio sempre 
havia sido – e continuaria assim – relativamente informal. Este procedimento, como um todo, 
era bastante econômico em termos de consumo de tempo e trabalho oficiais. O magistrado 
ocupava-se somente do primeiro estágio, o que era essencial, mas era o segundo estágio 
aquele que mais consumia tempo e trabalho. Os romanos haviam percebido que em muitas 
situações os litígios surgiam não devido a discordâncias em torno do direito, para eles 
suficientemente claro, mas sim acerca dos fatos que teriam ocorrido e originado o litígio; e, 
portanto, que um cidadão comum, mesmo sem experiência nenhuma em relação à lei, era 
efetivamente capaz de decidir sobre o que teria acontecido entre as partes litigantes. 
Na segunda metade do período republicano uma importante modificação no processo foi 
introduzida. Quando as partes se apresentavam diante do pretor, ao invés de aderirem a 
formas verbais previamente fixadas (legis actiones) para expressar seus pedidos e defesas, 
elas passaram a fazê-lo dizendo-os em suas próprias palavras. O pretor, então, tendo 
identificado qual era o problema legal em questão, expressava-o em termos hipotéticos em um 
documento denominado formula (de onde o novo procedimento retiraria a designação de per 
formulas). Esta instruía o iudex (árbitro leigo) a condenar o réu, caso aquele concluísse pela 
veracidade das alegações feitas – e provadas – pelo requerente, ou a absolvê-lo, caso não se 
convencesse de tais alegações. A fórmula, uma vez fixada pelo pretor a partir das alegações 
das partes, era selada, para que o iudex, ao abri-la, pudesse certificar-se de sua autenticidade. 
O iudex derivava toda a sua autoridade da fórmula e, portanto, tinha que agir estritamente 
dentro de seus termos. Desde que assim se mantivesse, ele possuía significativa liberdade 
para conduzir o julgamento e, frequentemente, utilizava-se da consulta a um consilium de 
amigos para ajudá-lo a chegar a uma decisão. Nos primeiros anos da república as partes 
haviam representado a si mesmas, mas posteriormente adquiriu-se o hábito de recorrer a 
oradores profissionais, treinados em retórica, para defender suas posições no caso frente ao 
iudex. 
O pretor podia conferir uma fórmula ao requerente toda vez que acreditasse que o direito, em 
termos axiológicos (com referência aos valores protegidos pela comunidade romana) o 
justificasse, no sentido de que se considerava que, se um requerente aparentemente pudesse 
comprovar suas alegações, deveria então dispor de uma ação correspondente, um remédio 
legal, para garantir o direito arguído. A função do pretor era a de declarar o direito (jus 
dicere) e de dar efeito a ele através da concessão das fórmulas apropriadas. A maior parte das 
ações referia-se a litígios já conhecidos, tais como a ocupação resistida da propriedade imóvel 
do requerente pelo réu, ou a existência de dívida contraída em dinheiro (pecuniária). Contudo, 
o pretor podia conceder uma fórmula em situações para as quais até então não houvesse 
precedentes quaisquer. Oficialmente, nestes casos ele não estava criando direito; isto estaria 
além de seus poderes. Com efeito, o que ele estava fazendo, nestas situações, era afirmar que 
o pedido do requerente justificava a concessão de um remédio legal, ou seja, de uma ação 
apropriada para a restituição do direito violado e que, portanto, deveria-se conceder esta ação. 
A despeito de se pronunciar como se estivesse apenas implementando direito já existente, ele 
estava, de fato, criando direito novo. 
Uma vez que as ações novas eram apresentadas como uma expressão do direito antigo, a 
inovação era escamoteada. Por exemplo, o pretor não podia tratar como proprietário aquele 
que não o fosse sob a caracterização da lei civil, à qual este estava inexoravelmente 
submetido, e, portanto não se podia garantir a esse indivíduo a ação do proprietário para 
recuperar a coisa. Ele podia, contudo, dar ao não-proprietário uma ação alternativa para 
garantir-lhe o direito de obter o domínio físico da propriedade, e de protegê-lo nesse controle 
até que este se tornasse efetivamente proprietário, decorrido o tempo necessário para tanto 
(aquisição originária). Similarmente, ele podia garantir ao herdeiro ação para recuperar a 
propriedade do falecido desde que aquele fosse efetivamente herdeiro, de acordo com a lei 
civil; mas também podia conceder ao não-herdeiro uma ação para obter e manter a posse da 
coisa. Esta pessoa utilizava a coisa como posseiro, não como proprietário. Sem dúvida, para 
os romanos essa distinção era meramente semântica, mas para aqueles com maior 
conhecimento sobre o direito ela era significativa. Reconhecida, por um lado, a distinção, mas 
considerada a proximidade entre as situações no que se refere ao reconhecimento do direito 
existente também na situação nova, estava habilitado o pretor para conceder a uma parte 
merecedora um remédio legal, ou ação, quando ele sentisse que o senso popular de justiça o 
requeria, enquanto, ao mesmo tempo, mantinha incólume a integridade formal da lei civil. 
Ao início do ano de sua investidura, o pretor publicava um edito, no qual ele dispunha quais 
seriam as circunstâncias nas quais ele concederia uma fórmula, e eventualmente até indicava 
as fórmulas apropriadas. Possíveis litigantes consultariam, então, esse documento, podendo 
extrair dali qualquer fórmula presente no edito, desde que correspondente à situação fática 
suscitada. Um réu que contestasse as alegações do requerente não seria prejudicado pela 
concessão da fórmula ao seu oponente, pois ele estaria confiante de que este não lograria 
convencer o iudex da veracidade daquelas. 
A fórmula era um instrumento flexível e podia ser modificada para abrigar defesas específicas 
arguídas pelo réu. Por exemplo, onde a lei civil prescrevia uma forma particular para uma 
determinada transação, ela concernia, originalmente, apenas à aferição de se a forma havia 
sido obedecida ou não; nada inquiria para além da forma. Um importante contrato, 
mencionado na Lei das XII Tábuas e denominado stipulatio, consistia em um pronunciamento 
oral que podia converter quase qualquer acordo em uma obrigação. Se o pronunciamento, em 
forma de perguntas e respostas, fosse levado a efeito, o fato de o promitente ter sido induzido 
a fazer sua promessa por fraude ou ameaças infligidas pela outra parte era irrelevante. Nos 
últimos anos da república, contudo, o pretor permitiu que a fraude e a coação fossem 
integradas em uma fórmula através da sua inclusão no rol de defesas oponíveis a um 
requerente que exigisse a implementação da promessa; e caso o réu-promitente pudesse 
comprovar suas alegações feitas em sede de defesa, ele seria absolvido. 
Tal defesa, ou exceptio, era requerida quando o réu admitia a verdade da alegação do 
requerente (por exemplo, de que teria realmente feito a promessa vinculante), mas 
acrescentava outros fatos (por exemplo, de que somente teria se comprometido em face de 
fraude cometida pelo pretenso credor), os quais poderiam anular a pretensão do requerente. 
Ao permitir defesas em que o réu acrescentava suas próprias alegações, o pretor conferia 
reconhecimento legal ao princípio de que direitos oriundos de transações realizadas mediante 
o uso de fraude ou coação eram inexigíveis. Em certas fórmulas, o iudex era instruído a 
condenar o réu a pagar somente a quantia por ele devida segundo um critério de boa fé (ex 
fide bona), e em tais casos uma exceptio específica nem era necessária. A única modalidade 
possível de condenação por um iudex era aquela em danos materiais; isto se explica pelos 
limites previamente estabelecidos para a sua atuação; uma vez que ele julgasse a causa em 
favor de uma das partes, sua tarefa estava encerrada e ele deixava de existir como iudex. 
Sendo assim, ele não podia ordenara uma parte que fizesse ou deixasse de fazer algo uma 
vez que, quando chegasse o momento de aferir se a ordem houvesse sido obedecida, ele não 
mais seria iudex. Uma decisão de que o réu deveria pagar uma determinada soma é a 
conclusão adequada para vários tipos de disputas, mas não é cabível em todos os casos. 
Dessarte, nos últimos anos da república, quando se requeriam outros remédios legais 
diferentes das ações regularmente concedidas, o pretor não podia remetê-las a um iudex, 
tendo que julgá-las ele mesmo. 
O mais antigo destes remédios ditos “extraordinários” (ou seja, diversos daqueles 
“ordinários”, consistentes nas fórmulas) é, provavelmente, o interdito, uma ordem do pretor 
para se fazer ou não se fazer alguma coisa. Muitos interditos destinavam-se a prevenir 
interferências na posse pacífica de propriedade e a assegurar que reivindicações fossem feitas 
apropriadamente, através dos instrumentos legais. O pretor não concedia um interdito a partir 
do mero pedido do interessado, mas concedia-o mediante a presença de razões fáticas 
suficientes para tanto. Talvez o mais drástico dentre esses remédios seja a restitutio in 
integrum, que consistia na reversão dos efeitos de uma transação, sendo esta formalmente 
válida entre as partes, mas tendo gerado efeitos especialmente injustos para uma delas. Uma 
vez concedido este remédio, as partes podiam dispor de ações pretorianas especiais 
equivalentes às ações de que disporiam se a transação ofensiva não se houvesse realizado. O 
pretor devia demostrar cautela na concessão dessa restitutio, pois, se ela fosse concedida com 
muita freqüência, isto teria minado a confiança do público no direito. Afinal, para que aderir a 
uma fórmula transacional prescrita pela lei se uma das partes podia conseguir anulá-la, 
alegando prejuízos advindos de efeitos que ela não teria sido capaz de prever? Por outro lado, 
a recusa na concessão da restitutio poderia significar a perpetuação de uma injustiça. Por isto, 
os requisitos em face dos quais o pretor podia concedê-la eram cuidadosamente estabelecidos 
e incluíam fraude, coação, a ausência de uma parte em razão de serviço público por período 
durante o qual terceiro pudesse apossar-se sua propriedade de boa fé e apropriar-se dela pela 
prescrição e, finalmente, o fato de que o requerente, ainda que tecnicamente fosse 
considerado adulto, fosse muito jovem para compreender o que estava fazendo ou os efeitos 
jurídicos de seu ato. 
O exemplo seguinte ilustra a abordagem cautelosa dos romanos em face da reforma da lei 
e alteração no direito. A lei civil concedia a capacidade a qualquer menino que alcançasse a 
idade da puberdade, geralmente admitida como sendo aos quatorze anos. Nessa idade, ele 
poderia casar-se, e, se independente do poder do pater familias, lidar com propriedades por si 
mesmo. Esta idade era bastante apropriada considerando-se a simplicidade da sociedade 
romana do início da república, mas um jovem de quatorze anos podia não se mostrar capaz de 
lidar com um negociante esperto que o persuadisse a fazer o que ele não quisesse, 
efetivamente. Não há dúvida de que a maneira mais lógica de lidar com tal situação teria sido 
elevar a idade mínima para a aquisição da plena capacidade civil, mas teria sido uma mudança 
drástica na lei dispor que capacidade e puberdade não se alcançassem simultaneamente. Os 
romanos mostravam-se relutantes em promover tal mudança, que poderia ter conseqüências 
imprevisíveis. Preferiram, pois, deixar para o pretor, no exercício de sua discricionariedade, a 
tarefa de reverter os efeitos de transações nas quais parecesse ter-se obtido vantagens 
desproporcionais em razão da inexperiência da parte mais jovem. A conseqüência prática de 
tal opção é que usualmente as pessoas recusavam-se a negociar com jovens de menos de 
vinte e cinco anos de idade (a idade-limite estabelecida pelo pretor), a não ser que estes 
fossem aconselhados ou assistidos. 
O direito derivado da concessão dos novos remédios legais (ações, interditos e outros), 
contido nos editos dos pretores, tornou-se conhecido como ius honorarium (dos honores – 
honras - detidos pelos pretores eleitos). A maior parte dos desenvolvimentos que afetaram o 
direito civil na segunda metade do período republicano se realizou por meio desta categoria do 
direito romano. 
4. O JUS GENTIUM E O ADVENTO DOS JURISTAS 
Quanto uma ou ambas as partes envolvidas em um litígio não era um cidadão romano, era 
inadequado aplicar o direito civil na solução da disputa. Inicialmente, quando os não-cidadãos 
ainda eram presença rara, os romanos recorriam à ficção de que o estrangeiro era um cidadão, 
de modo a trazer o caso à jurisdição civil. Após a derrota dos cartagineses nas Guerras 
Púnicas do século III a.C., contudo, o domínio territorial romano se estendeu por todo o oeste 
do Mediterrâneo, e o número de não-cidadãos em contato diário com romanos cresceu a um 
nível que se teve que trazê-los ao âmbito do direito, expressamente, como estrangeiros em 
território romano (peregrinos). Em 242 a.C. um segundo pretor foi introduzido na 
administração da Justiça, para lidar especificamente com os casos em que uma ou ambas as 
partes não possuíam a cidadania romana; em razão disto, este segundo pretor foi denominado 
pretor peregrino, enquanto o outro designou-se como pretor urbano. 
O direito civil (dos cives, cidadãos) era uma prerrogativa exclusiva do cidadão romano, 
motivo de grande orgulho e, portanto, não podia ser estendido indiscriminadamente a 
estrangeiros. No terceiro século antes de Cristo, a cidadania era vista como um privilégio que 
distinguia os romanos de outros povos, e deles esperava-se que observassem parâmetros 
mais rígidos de conduta do que quaisquer outros estrangeiros. A Lei Opiana, de 215 a.C., 
requeria às matronas romanas que usassem vestimentas mais simples, sem excessos de 
ornamentos, enquanto as mulheres estrangeiras podiam transitar por Roma vestidas com 
opulência, em cores vivas e com profusão de adornos em ouro. Mas ainda que o direito fosse 
especialmente exigente em relação à conduta dos cidadãos, as disputas entre peregrinos, pelo 
menos, tinham que ser decididas segundo regras inequivocamente estabelecidas, tanto quanto 
os litígios entre romanos. 
O problema de estabelecer-se que direito aplicar aos estrangeiros foi resolvido de um modo 
singularmente pragmático. Os romanos reconheceram no seu direito a existência de dois tipos 
de instituições jurídicas; um era tipicamente seu e abrangia aquelas peculiarmente romanas, 
tais como a transferência solene de propriedade. As instituições pertencentes a esta primeira 
categoria, marcadas que eram por sua especificidade cultural, deveriam ser (e eram), portanto, 
reservadas somente aos cidadãos. Já quanto às instituições pertencentes ao segundo tipo, tais 
como muitos dos remédios pretorianos, consideravam os romanos que elas integravam o 
direito dos povos civilizados. Elas formavam, em conjunto, aquilo a que os romanos 
denominavam ius gentium (direito das gentes), ou direito das nações, em contraste com o 
tradicional direito civil. 
O ius gentium estava disponível tanto para os romanos quanto para os peregrinos. A noção 
de um direito inerente às “gentes” em geral, incluindo os romanos, permitiu que estes lidassem 
com um problema posto pela presença cotidiana dos peregrinos vivendo sob governo romano. 
Mais tarde, quando se especulou acerca das razões pelas quais tais regras de direito eram 
reconhecidas universalmente (nos termos do que se entendia como povos civilizados), 
sugeriu-se que o motivo seria o de que elas estariam fundadas não na prática costumeira, mas 
no bom senso, ou “razão natural”, de que todos os homens compartilhariam como 
manifestação de sua natureza humana. Por isso, o direito dos povos veio a ser 
freqüentemente referido como direito natural (ius naturale). Tornou-se aceita a noção de que 
o direito dos povos eo direito natural fossem similares, exceto pela presença, no primeiro, 
da instituição da escravidão. Sabia-se que esta se encontrava presente em todas as 
sociedades antigas e era, pois, parte integrante do direito das nações; mas era igualmente 
claro que não se tratava de algo ditado pelo senso comum e que, portanto, não poderia integrar 
o direito natural. 
Mais tarde, ainda no período republicano, o sistema per formulas e os remédios 
suplementares disponíveis para os litigantes tornaram-se cada vez mais técnicos, 
demandando a atuação de experts para dar o necessário aconselhamento. Nem o pretor nem 
tampouco o iudex, ou ainda os advogados que representavam as partes diante daqueles, 
possuíam conhecimento aprofundado do direito; portanto precisavam, eventualmente, de 
ajuda especializada. A partir da segunda metade do século III a.C. tem-se notícia de uma 
classe de especialistas no direito, os juristas, que não exerciam qualquer papel formal na 
administração da justiça, mas que estavam, em contrapartida, preparados para explicar o 
direito para aqueles que tomavam parte no “drama legal”, os operadores do direito. De início, 
estes especialistas não eram pagos por seus serviços, pois consideravam seu trabalho como 
forma de prestar um serviço público. Eles assumiram a custódia da lei, papel que 
anteriormente coubera aos pontífices; mas, ao contrário destes, atuavam abertamente e em 
público. 
O trabalho dos juristas romanos, desde o início, relacionou-se a casos concretos. Suas 
funções eram de sugerir fórmulas ou defesas apropriadas para determinadas situações fáticas, 
bem como de redigir documentos tais como contratos e testamentos, os quais deveriam 
provocar apenas os efeitos desejados pelos contratantes, e não outras conseqüências não 
previstas nem pretendidas. O peso das opiniões desses juristas de fins da república apoiava-se 
inteiramente em suas respectivas reputações, e aqueles que vieram a se tornar mais 
respeitados tiveram sua contribuições para o direito recolhidas em “digestos” (compilações de 
doutrina), servindo como referência para casos similares que viessem a ocorrer no futuro. Os 
juristas ocupavam-se sobremaneira do direito privado e normalmente não lidavam com 
questões criminais, religiosas ou de direito público. O direito relativo a estes tópicos era 
derivado do direito civil, que veio a se tornar, com o tempo, sinônimo de direito privado. 
Direito e Conhecimento do Direito: origens 
Direito como símbolo de retidão e equilíbrio. Diké: deusa grega da justiça, ligada ao próprio, a 
propriedade, ao que é de cada um. Em sociedade primitivas esse poder esta dominado pelo 
elemento organizador, fundado no principio do parentesco. Dentro da comunidade todos são 
parentes, o não parente é uma figura esdruxula. O poder de estabelecer o equilíbrio social liga-
se ao parentesco. No direito arcaico, so há lugar para uma única ordem: a existente, que é a 
única possível, a querida pela divindade e por isso sagrada. O direito é a ordem querida e não 
a criada por Deus. O direito obriga tanto o homem como a divindade que o defende, o impõe, 
mas não o produz nem o modifica. O direito confunde-se com as maneiras características de 
agir do povo (folkways), por exemplo, o direito de sentar em cadeira ou no chão, comer com 
as mãos, uso de roupas. Por exemplo, uma regra que consagra a expectativa geral de que 
ninguém deve toar o alimento destinado aos deuses é percebida quando alguém o come e é, 
assim tornado impuro, devendo ser expurgado. 
O direito continua sendo uma ordem que atravessa todos os setores da vida social (politico, 
econômico, religioso, cultural) mas que não se confunde com eles. 
O conhecimento do direito como algo diferenciado dele é uma conquista tardia da cultura 
humana. A distinção entre direito-objeto e direito ciência exige que o fenômeno jurídico 
alcance uma abstração maior, desligando de relações como parentesco. 
O desenvolvimento do saber jurídico não é linear. Nas diferentes culturas ele se faz na forma 
de progressos e de recuos. 
5 O IMPÉRIO E O DIREITO 
O último século da república romana foi marcado pela confusão e o conflito entre, de um lado, 
aqueles que queriam manter a constituição original (N.T.: “constituição” no sentido da 
organização estatal republicana), ainda que constatada a enfraquecida liderança que o governo 
desta exercia; e, de outro, aqueles que preferiam um governo forte, mesmo que ao custo de se 
desprezar o direito vigente no tocante aos limites impostos pela forma republicana ao exercício 
da política. O problema assumiu grandes proporções e veio a se impor no palco político ao 
longo da carreira de Júlio César, que abertamente desrespeitava a organização republicana e 
acabou assassinado em 44 a.C.. Os líderes da conspiração contra ele, Brutus e Cassius, 
eram, respectivamente, o pretor urbano e o pretor peregrino à época. 
Quando a República foi substituída pelo Império, o primeiro imperador, Augusto, esforçou-
se por manter a fachada da constituição republicana, a fim de mitigar a oposição ao novo 
regime. De início, as assembléias populares continuaram a reunir-se, como no peíordo anterior; 
contudo, na ausência de mecanismos de representação e requerendo, pois, a presença dos 
cidadãos interessados em participar, elas consistiam, na prática, em reuniões de multidões que 
viviam na própria cidade de Roma. Diante disto, os imperadores, silenciosamente, impediam 
que propostas legislativas sobre temas de maior importância fossem propostas às 
assembléias, tendo sido afinal o Senado, um corpo político constituído por ex-magistrados, que 
acabou assumindo a função de aprovar as leis. 
O edito pretoriano, publicado anualmente por sucessivos pretores, havia alcançado o ponto 
em que nada de seu conteúdo se alterava ano após ano. Em razão disto, no início do segundo 
século d.C., o imperador Adriano ordenou ao jurista Juliano que estabelecesse uma versão 
definitiva desse documento. Seu texto assim fixado começa com o procedimento a ser seguido 
em uma ação (formula) desde a defesa do réu até o fim da fase diante do pretor, cobrindo os 
vários remédios legais, cuidando, depois, dos procedimentos tendentes a assegurar a 
execução das sentenças e terminando, então, com uma seção destinada aos interditos e 
defesas alternativas. É provável que esta ordem tenha sido modificada em relação à Lei das 
Doze Tábuas. 
O imperador assumiu poderes legislativos, passando a emitir documentos denominados 
constituições imperiais, as quais eram, desde então, reconhecidas como fonte de direito com o 
status de lex. Ainda que eventualmente os imperadores legislassem através de editos, a maior 
parte destas constituições eram respostas, dadas em nome do imperador, a questões postas 
por litigantes ou servidores do Estado romano, tais como governadores de províncias. Estes 
documentos (denominados reescritos) eram emitidos por juristas a serviço da chancelaria 
imperial; normalmente, eles se limitavam a declarar a existência de uma lei ou a esclarecer seu 
conteúdo, sendo raros os casos em que se introduziam mudanças legislativas significativas. 
No segundo século d.C. o império já se estendia do sul da Bretanha, Gália e Península Ibérica 
a oeste, ao longo da margem ocidental do Rio Reno e da margem sul do Danúbio, até a Ásia 
Menor, Síria e Egito ao leste. A cidadania romana houvera se tornado menos exclusiva a esta 
época do que havia sido durante o período republicano. Ainda no fim da república, a propósito, 
a cidadania já havia sido estendida à maior parte da população residente na península itálica, 
na região abaixo do Rio Pó. Mas o governo imperial passou a utilizar-se da cidadania como 
modo de integrar aqueles que viviam em territórios romanos fora da Itália e, assim, acabou 
rompendo uma lógica que associava a cidadania romana à origem italiana. 
Progressivamente, vantagens políticas, sociais e econômicas sobreviriam àquelesnovos 
cidadãos, mas ao mesmo tempo o império procurou compatibilizar a cidadania com outras 
formas de manifestação de fidelidades locais, desde que estas não desafiassem o domínio 
romano. Membros mais ambiciosos das aristocracias locais eram estimulados a tratar Roma 
como sua terra de origem, quando, de fato, não o era. E efetivamente, nos primeiros anos do 
império, eram os membros das aristocracias provinciais que se mostravam os defensores mais 
ferrenhos dos valores romanos tradicionais. O funcionamento do império veio a depender de 
tais homens, que serviam como oficiais no exército imperial, como agentes tributários nas 
províncias, ascendiam então ao Senado, ao Consulado e, então, governavam as províncias 
militares nas fronteiras do território imperial. 
A política imperial estimulou a existência de municipia, comunidades mais ou menos 
autônomas de cidadãos ou latinos (grupo que detinha quase todas as prerrogativas dos 
cidadãos). Um cidadão morador de um municipium provincial possuía um status duplo, pois 
cada comunidade possuía seu direito municipal, prescrevendo em considerável detalhe de que 
modo a convivência era organizada localmente, com ênfase especial nos procedimentos legais 
a serem conduzidos nos casos de conflitos. A despeito de variações existentes em detalhes 
relativos a tais procedimentos, sabe-se que, ao menos nas províncias ocidentais, havia um 
direito-standard, um modelo que era utilizado na maior parte dos casos, e que assimilava ao 
máximo suas instituições e procedimentos àqueles vigentes em Roma, guardadas as devidas 
proporções. A principal evidência disto é uma inscrição em bronze descoberta em Irni, na 
Espanha, contendo dois terços da lei municipal desta comunidade. Partes dessa legislação, 
sabe-se, reproduzem o texto de fragmentos de outras leis municipais da época (primeiro século 
d.C.); esta identificação demonstra, pois, que as instituições romanas serviram como modelo 
ao qual as com unidades provinciais deviam aspirar, tanto quanto as circunstâncias locais o 
permitissem. Nas províncias de cultura grega do leste do império, contudo, as comunidades 
que se haviam organizado séculos antes como cidades-estado eram menos receptivas ao 
modelo romano, prendendo-se às suas leis e instituições tradicionais e resistindo à adoção de 
quaisquer “novidades” trazidas pelo conquistador. 
Os dois primeiros séculos da Era Cristã marcam o ponto máximo de desenvolvimento 
alcançado pelo direito romano, no sentido de que o apogeu de seu desenvolvimento técnico 
se atingiu neste período. Foi esse o momento em que o direito romano se sofisticou e refinou 
ao máximo, sendo reconhecido como o período clássico do direito romano. Contudo, esses 
mesmos duzentos anos também testemunharam algumas das mais bárbaras atrocidades 
cometidas por imperadores brutais, como Nero, Calígula e Domiciano. Há nisto um aparente 
paradoxo, pois seus governos conviveram com o apogeu do direito, acima mencionado, e do 
império como um Estado legalmente organizado. A resposta a tal paradoxo se encontra em 
uma distinção, aceita tacitamente, entre o direito privado e outras áreas sob influência do 
direito. O direito privado se ocupa das relações entre indivíduos. Os primeiros imperadores 
aceitaram o fato de que havia pouca vantagem em interferir nos negócios privados e que, 
portanto, era boa política manter e desenvolver o direito privado sem fazer interferências ou 
mudanças desnecessárias. 
6 OS JURISTAS NO PERÍODO CLÁSSICO 
O âmbito em que o direito romano mais se desenvolveu durante o período clássico foi o da 
literatura produzida pelos juristas, tanto por aqueles a serviço do império quanto pelos que 
ainda conduziam a sua prática autonomamente. Os juristas, como classe, eram favorecidos 
pelos imperadores; Augusto já havia garantido a certos juristas a autorização imperial, ou seja, 
o direito de emitir opiniões com a autoridade do imperador, possivelmente a fim de aliviar a 
pressão criada pela demanda por reescritos da chancelaria imperial, quando, um século mais 
tarde, Adriano decretou que, caso a opinião de todos os juristas que detinham a autorização 
imperial fosse unânime, esta teria a força de lei (lex). O que isto significa não é bastante claro, 
mas provavelmente refere-se a uma prática que vinha se tornando cada vez mais freqüente, 
qual fosse, a de citar opiniões expressas em pareceres jurídicos precedentes, emitidos sobre 
casos similares ocorridos no passado. 
O direito produzido pelos juristas no período clássico marcou-se por certas características 
que podem ser resumidas como se segue. Em primeiro lugar, há uma contínua sucessão de 
indivíduos, todos dedicados ao direito e, cada um, familiarizado com os esforços de seus 
predecessores, cujas opiniões e pareceres eles citam especialmente quando concordam com 
eles mas, também, quando discordam. Em segundo lugar, de cada um deles pode dizer-se que 
possuía um conhecimento abrangente do direito privado. O pretor mantinha-se no cargo por 
apenas um ano, o iudex concentrava-se apenas nos fatos concretos inerentes aos casos 
particulares de cuja solução se ocupava e, quanto aos advogados, estes se esmeravam mais 
na construção da argumentação (retórica) do que no conhecimento da lei. De fato, havia uma 
tendência, exemplificada por Cícero - que era um famoso advogado - de se debochar dos 
juristas, precisamente porque eles pareciam estar sempre imersos em minúcias legais, tais 
como o direito de se deixar a água da chuva que escorria em um telhado ser escoada para o 
telhado do vizinho. Em terceiro lugar, os juristas preocupavam-se com as questões 
relacionadas à prática cotidiana do direito e podiam, portanto, reconhecer quando modificações 
pontuais ou maiores reformas na lei eram necessárias. E ainda que freqüentemente 
aceitassem pupilos, não se pode considerar que esses juristas fossem professores nem 
acadêmicos “apartados da realidade”; eram, ao contrário, profundamente comprometidos com 
a solução de problemas práticos do direito, suscitados em casos concretos e inerentes, pois, à 
realidade da vida. Finalmente, eles gozavam de absoluta liberdade para manifestar opiniões 
divergentes; a propósito, a discussão jurídica realizada no bojo dos casos é inevitavelmente 
controvertida, já que há sempre dois lados em cada litígio e cada um deles deseja poder 
expressar um argumento em seu favor. Com isto não se quer dizer que os juristas 
distorcessem o conteúdo do direito para satisfazer a um cliente que os consultasse, mas sim 
que eles estavam prontos a explorar e testar os limites de cada regra de direito, o que era 
motivado pelos interesses antagônicos dos pólos da relação litigiosa. 
A direito clássico era, pois, o produto da disputa. As técnicas utilizadas diferiam de acordo 
com o objeto sobre o qual se debruçava o jurista, ou seja, se era direito escrito ou não. Caso 
se tratasse de texto de lei (lex) promulgada pela assembléia republicana, ou do edito 
pretoriano, ou de um contrato ou testamento, os problemas tinham que se resolvidos pela 
interpretação dada a frases particulares do texto e um número de argumentos era levantado a 
partir daí. Mas o que deveria prevalecer, a letra do texto ou seu “espírito”? A vontade do autor 
deveria prevalecer mesmo quando ele se houvesse expressado de modo ambíguo? Neste 
caso, como sua verdadeira intenção seria compreendida pelo intérprete? Diversamente, 
quando o direito se encontrava expresso oralmente apenas, ou registrado na opinião de 
juristas, e não envolvessse a forma de um texto autorizado e fixo (como o da lei e do edito 
pretoriano o eram), os juristas detinham um escopo mais amplo de possibilidades para 
reformulá-lo. 
No curso da transmissão dessa produção realizada por outras fontes – aquelas às quais nós 
tivemos acesso através da história – muitas das evidências das disputas e desacordos se 
perderam, já que opiniões minoritárias tendem a desaparecer;mas sabe-se da existência de 
duas escolas (no sentido de agremiações que se formam em torno de opiniões) entre os 
juristas no primeiro e segundo séculos do império, conhecidas como a dos Proculianos e 
dos Sabinianos. Há muito debate acadêmico ainda hoje sobre essas escolas e as idéias que 
professavam, mas seus respectivos defensores parecem ter divergido mais no que se refere a 
questões substantivas do direito do que quanto a métodos. Os Sabinianos tendiam a justificar 
suas opiniões com referências à prática tradicional e à autoridade dos juristas anteriores. Eles 
estavam mais preocupados em encontrar soluções justas para os casos individuais, ainda que 
isto significasse colocar em segundo plano a lógica e a racionalidade. Ao interpretar, eles não 
se incomodavam se as mesmas palavras eram utilizadas para expressar sentidos diferentes 
em textos distintos. Já os Proculianos favoreciam a interpretação estrita dos textos e insistiam 
em que às palavras e frases se deveria dar, em todos os casos, um sentido objetivo e 
consistente. No caso do direito não escrito (ou do direito escrito sem a autoridade de lex), 
eles assumiam que se tratava de um sistema coerente de regras e procuravam, por trás delas, 
por princípios que as houvessem inspirado (princípios implícitos). Deste modo, eles podiam 
estender a aplicação de tais regras, por analogia, a outros casos subjacentes ao mesmo 
princípio. Qualquer que fosse a afiliação dos juristas, contudo, eles não acreditavam na 
formulação e uso de princípios muito abrangentes; não porque não fossem capazes de 
formulá-los, mas porque entendiam que, quanto mais abrangentes sua formulação e seu 
escopo, maiores seriam as exceções à sua aplicação e, portanto, abrir-se-ia um perigoso 
espaço para a incerteza e imprevisão no direito. 
7 A ORGANIZAÇÃO DO DIREITO 
A elaboração do direito clássico permaneceu predominantemente centrada nos casos, 
fossem estes reais ou hipotéticos, elaborados a título de exemplo. Inevitavelmente, um 
sistema casuístico se torna excessivamente intricado e complexo, e acaba por demandar um 
trabalho de sistematização. O processo de colocar o direito em alguma ordem começou ao fim 
da república, sob a influência dos métodos de classificação desenvolvidos pelos gregos. Estes 
não haviam aplicado tais técnicas ao direito, pois não possuíam uma classe profissional de 
juristas e tampouco o seu direito, tal como se caracterizava, permitiria o desenvolvimento 
técnico realizado pelos juristas romanos. 
Em torno do ano 100 a.C. o jurista Quintus Mucius Scaevola publicou um pequeno tratado 
sobre o direito civil. Ele se inicia com testamentos, legados e a sucessão não-testamentária, 
os quais ocupam aproximadamente um quarto de todo o tratado. Problemas emergentes da 
sucessão à herança de alguém que houvesse falecido produziam mais disputas do que 
quaisquer outros casos. A ordem social, à época, ainda se baseava na família como unidade e 
o principal propósito de um testamento era o de designar os herdeiros que, em razão da morte 
do pater familias, tomariam seu lugar e conduziriam a família até a próxima geração. Além de 
estabelecer quem seriam seus herdeiros no testamento, o testador podia constituir legados, 
apontar turores para os menores impúberes e libertar escravos. Uma vez que a propriedade da 
família se concentrava nas mãos do pater familias, ao invés de se distribuir entre seus 
membros, não surpreende o fato de que à sucessão por morte se dedicassem tantas 
disposições legais. Além da sucessão, Mucius incumbiu-se de agrupar os modos de aquisição 
da propriedade e posse; quanto aos temas remanescentes de direito privado, parecem ter sido 
ajuntados no restante do seu tratado sem uma ordem reconhecível. 
Um século mais tarde, outro jurista, Masurius Sabinus, que deu seu nome à escola sabiniana, 
debruçou-se sobre o esquema de Scaevola e lhe agregou alguns outros temas, dos quais se 
começava a reconhecer estarem relacionados entre si e com outros já presentes no tratado 
anterior. Por exemplo, Scaevola houvera tratado o roubo/furto de propriedade e o dano à 
propriedade separadamente, como temas independentes entre si, mas Sabinus os agrupou, 
reconhecendo a partir daí a categoria de delito, a qual concedia à vítima uma ação civil para 
penalizar o perpetrante do ato. Sabinus, contudo, ainda não reconheceu a categoria genérica, 
do contrato, e lidou separadamente com os diversos modos através dos quais duas partes 
criavam uma obrigação vinculante. 
A maior parte dos juristas clássicos viria a apresentar seus repositórios de pareceres e 
opiniões na forma de um comentário ao tratado de Sabinus ou ao edito do pretor. Somente na 
metade do segundo século d. C. um grande avanço se faria na ordenação do material de 
direito privado, tendo, contudo, sido percebido na época apenas nos círculos acadêmicos. O 
autor era um jurista obscuro, conhecido simplesmente como Gaio (sem os três nomes, 
portanto, como era uso entre os romanos), cuja atividade era a de professor de direito. Juristas 
anteriores haviam tido pupilos, mas seu trabalho era relacionado apenas à prática. Gaio, 
contudo, parece ter-se dedicado exclusivamente à prática docente e, por isto, não alcançou, 
em sua época, a fama e o reconhecimento dos juristas. 
O esquema de seu manual dirigido aos estudantes, as Institutas, é baseado em uma 
classificação do direito em três partes principais. A tricotomia era uma divisão especialmente 
atraente para os professores, em razão de ser facilmente apreensível por estudantes que 
dispensassem pouca atenção ao objeto de estudo. As três partes do direito constantes do 
esquema de Gaio relacionavam-se às pessoas, coisas (bens) e ações. A primeira categoria 
agrupava os diferentes tipos de status pessoal, considerados a partir de três critérios, quais 
fossem, liberdade (o indivíduo em questão é livre ou escravo?), cidadania (o indivíduo em 
questão é um cidadão ou peregrino?) e posição na família (o indivíduo em questão é um pater 
familias ou se encontra sujeito ao poder de um ancestral?). 
A segunda categoria, das coisas (ou bens), constituiu-se na parte mais volumosa da 
classificação. Incluía qualquer coisa a que se pudesse atribuir valor e abrangia tanto as coisas 
corpóreas como as não corpóreas. Coisas com existência física, móveis ou imóveis, haviam 
sido reconhecidas desde sempre como coisas. Sob a nova classe de coisas (ou bens) 
incorpóreas, Gaio primeiramente incluiu as coletividades de coisas, que passam “em bloco” 
(per universitatem) de uma pessoa a outra, tais como a herança de uma pessoa, que é 
transmitida em bloco, como um todo, para os seus herdeiros. Tais coletividades podem incluir 
coisas corpóreas, mas são, em si mesmas, incorpóreas. O outro componente que Gaio incluiu 
sob a rubrica de coisas incorpóreas foi a noção de obrigações. Tal idéia já havia sido utilizada 
para descrever os vários modos pelos quais se uma pessoa se obrigava perante outra e havia 
sido pensada desde o ponto de vista da pessoa obrigada, o devedor. Assim, uma pessoa que 
fizesse uma promessa formal de pagar a outra uma soma em dinheiro se tornava obrigada 
diante desta; quem recebesse uma coisa de outrem, de modo a garantir o pagamento de um 
débito existente, tornava-se obrigado perante o outro a devolver a garantia quando o débito 
fosse quitado. Algumas vezes o pretor tratava as partes como obrigadas reciprocamente, 
meramente com base na força vinculatória de um acordo realizado entre elas. O exemplo 
principal disto era o acordo para a venda de bens. Uma vez que as partes houvessem se 
comprometido entre si a realizar a venda, de modo que o vendedor se comprometia a entregar 
a coisa vendida e o comprador, por sua vez, a pagar o preço, eles estavam obrigados entre si. 
Juristas anteriores a Gaio haviam já percebido que a maior parte das obrigações derivava de 
um acordo realizado previamente entre as partes, ainda que o queas vinculasse pudesse ser 
alguma coisa além do mero acordo. Portanto, a maior parte das obrigações eram vistas como 
possuindo uma característica comum, qual seja, a de que, o que quer que lhes houvesse dado 
força vinculatória, teria havido um acordo entre as partes. A categoria dos contratos, impondo 
deveres entre as partes, já havia nascido. Gaio então viu uma obrigação de um novo modo; 
ele a viu não apenas como um fardo sobre o devedor, mas também como um bem nas mãos 
do credor. Ao tratar o direito do credor de processar o devedor como uma obrigação, Gaio 
pode expandir a noção de obrigações e incluir na categoria não só os contratos, mas também 
os delitos como fontes de obrigações. 
A terceira parte do direito no esquema de Gaio eram as ações. Esta parte se ocupava não 
tanto dos procedimentos para se ajuizar um processo, mas, sobretudo, dos diferentes tipos de 
ações, tais como aqueles que podem ser ajuizados contra qualquer pessoa (por exemplo, 
ações para reclamar a propriedade), em contraste com aqueles que somente podiam ser 
dirigidos contra alguns indivíduos particulares, tais como ações para garantir ou impor 
obrigações. 
Na época de Gaio, o ápice do período clássico, os conteúdos do direito privado já se 
encontravam mais ou menos fixados, e ele então pode identificar seus componentes. Contudo, 
seu esquema trouxe algumas novidades. Ele incluiu as ações entre os fenômenos jurídicos a 
serem classificados, juntamente com as pessoas e os bens; ele reconheceu a existência de 
bens incorpóreos como algo a ser incluído na categoria geral de bens juntamente com os 
bens físicos, ou corpóreos; ele classificou heranças e obrigações como bens incorpóreos; e 
ele reconheceu tanto os contratos como os delitos como fontes de obrigações. 
O esquema institucional (ou seja, das Institutas) estava destinado a ter enorme influência no 
direito no futuro, mas na sua época ele teve pouco impacto fora do ambiente acadêmico. Afinal, 
os juristas profissionais não precisavam, àquela época, de uma ordenação sistemática do 
direito. 
8 O APOGEU DA JURISPRUDÊNCIA CLÁSSICA 
No início do terceiro século, o imperador Antoninus Caracalla emitiu um importante 
documento de teor legislativo que teve o efeito de transformar em cidadãos a maior parte dos 
residentes no império, quer estes o desejassem, que não. A Constitutio Antoniniana de 212 
d.C. não foi promulgada com quaisquer intenções liberais, mas provavelmente com motivações 
fiscais, a fim de fazer incidir, sobre um número maior de pessoas, o imposto de transmissão de 
bens causa mortis devido em função das propriedades imóveis em mãos de cidadãos. Outro 
resultado deste ato foi o de que, de muitas pessoas que não se consideravam romanas, que 
nem mesmo sabiam falar o latim, era esperado que passassem, como cidadãos romanos, a 
seguir o direito civil. 
O período clássico atingiria o seu clímax na década posterior à Constitutio Antoniniana, pelo 
trabalho de três juristas que as gerações posteriores considerariam os mais notáveis dentre 
todos: Papiniano, Paulo e Ulpiano. Cada um deles ocupou o mais alto cargo na burocracia do 
Império, qual seja, o de pretor-prefeito, sendo, simultaneamente, o principal servidor da justiça 
no império e o chefe de gabinete do imperador. Todos os três escreveram prolificamente sobre 
direito. Papiniano se destacou na análise de casos particulares e suas soluções demonstravam 
um teor moral inexcedível e o claro esforço de alcançar um resultado justo. Paulo e Ulpiano 
são conhecidos como excelentes comentadores, que sintetizaram o trabalho dos juristas de 
gerações anteriores e os expressaram de um modo, ao mesmo tempo, maduro e complexo, 
transmitindo-o às gerações seguintes. 
Em um trabalho corriqueiro e cotidiano, Ulpiano fez, pela primeira vez, uma clara distinção 
entre direito público e direito privado que viria a se tornar célebre. Até então a expressão 
“direito público” não possuía um significado claro e preciso e freqüentemente era utilizada 
para indicar aquelas leis, no direito civil, que não podiam ser alteradas por acordo entre as 
partes. Ulpiano inovou ao aplicar a expressão para designar o direito que dizia respeito, 
primariamente, ao interesse público, como por exemplo as disposições referentes aos poderes 
dos magistrados e à religião do Estado, em contraste com aquele que concernia ao interesse 
de indivíduos, considerados como tais. Seu objetivo ao fazer tal distinção só pode ser objeto de 
conjecturas, mas o fato de que ela surge em um trabalho imediatamente posterior à 
promulgação da Constitutio Antoniniana é significativo. Ulpiano provavelmente quis proteger o 
direito civil tradicional da interferência imperial e garantir aos novos cidadãos, destinatários 
desse direito para eles novo, que o direito civil era algo bem distinto do direito público. Tal 
distinção teria conseqüências duradouras, inimagináveis naquela época. 
Com a morte de Ulpiano, nas mãos de guardas amotinados, ocorrida em 223 d.C. (Papiniano 
havia sido executado, por ordens de Caracalla, uma década antes), termina o período 
clássico. O segundo século da Era Cristã havia sido um período raro de paz e estabilidade 
para o Império Romano. O historiador do sec. XVIII Edward Gibbons chamou-o de “período da 
história do mundo durante o qual a condição da raça humana foi mais feliz e próspera”. O 
terceiro século, em contraste, seria um período de considerável desordem social. Apesar dos 
esforços que se pode notar à leitura dos reescritos imperiais da época, no sentido de manter-se 
o grau de qualidade técnica alcançado no período anterior, há qualidade insuficiente nos 
escritos jurídicos para sustentar a vitalidade do direito. Este entrara, afinal, em decadência. 
9 A DIVISÃO DO IMPÉRIO 
O centro de gravidade do império estava agora se deslocando da Itália e de Roma. Já não era 
mais possível governá-lo como uma unidade. Em 284 d.C. Diocleciano tornou-se imperador e 
conduziu uma reorganização do governo. Sendo originário da Dalmácia (atual Croácia), ele 
visitou Roma pela primeira vez quando já governava havia vinte anos. Ele dividiu o império em 
duas metades, leste e oeste, cada uma chefiada por um Augusto. Em seguida escolheu o 
leste, o qual ele governou desde a capital Nicomedia, no noroeste da Ásia Menor. As 
províncias foram divididas em unidades menores e agrupadas em treze dioceses; estas, por 
seu turno, foram reunidas em quatro grandes prefeituras, sendo os governadores das dioceses 
(vicarii, ou vigários), representantes dos prefeitos. 
Essa estrutura administrativa marca o início do processo de divisão do império, com cada parte 
tendo seu próprio imperador. No início do quarto século Constantino construiu uma nova capital 
para o leste (Bizâncio, ou Constantinopla), enquanto o governo do oeste se baseava em 
Milão. Teoricamente, contudo, mesmo que as relações entre os dois lados fossem 
eventualmente hostis, o império ainda era considerado uma unidade, da qual os imperadores 
eram governantes em conjunto. Eles lutaram continuamente para manter as fronteiras do 
império ao longo da linha do Reno-Danúbio, em face de incursões repetidas de tribos 
germânicas. Estas, por sua vez, encontravam-se pressionadas por um movimento geral em 
direção a oeste, particularmente, dos temidos hunos. A defesa das fronteiras requeria um 
exército com em torno de quinhentos mil homens, e então a tribos menos hostis foi admitida, 
por tratado, a sua instalação dentro das fronteiras do império, como foederati (federadas), 
baseando-se na idéia de que elas ajudariam a defender a integridade do território. Proprietários 
de grandes áreas de terras foram obrigados a fornecer soldados dentre os habitantes de suas 
propriedades ou, alternativamente, a pagar por outros a serem recrutados alhures. Como 
resultado disto, muitos daqueles chamados de bárbaros foram recrutados para as fileiras do 
exército romano, alguns deles alcançando até mesmo

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