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aula 5 - release cobertura

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2º CONGRESSO INTERNACIONAL DE 
CONTROLE DE CÂNCER (ICCC) – INCA
25 A 28 DE NOVEMBRO (DOMINGO A QUARTA-FEIRA)
Testes clínicos avaliam esquemas 
Alternativos para vacinação contra HPV 
Iniciativa internacional procura estratégias para introduzir a vacina 
que combate o câncer de colo de útero em países em desenvolvimento
Quando a vacina para HPV chegou ao mercado, em 2006, a expectativa foi grande. Mas a frustração também: o produto que ajuda a combater o câncer do colo do útero, ao qual o HPV está ligado, é caro – mais de R$ 1 mil a dose, o que inviabiliza campanhas de vacinação em massa nos países pobres. Para contornar esta situação, pesquisadores do Cervical Cancer Vaccine Project, ligado à organização não-governamental PATH, dos Estados Unidos, desenvolvem estudos sobre alternativas vacinais para os países em desenvolvimento que sejam adequadas às culturas locais, ao mesmo tempo em que garantem maior economia de recursos e adesão à imunização. As primeiras informações sobre um estudo clínico inédito realizado no Vietnã foram divulgadas durante o 2º Congresso Internacional de Controle de Câncer (ICCC 2007/INCA), que reunirá no Rio de Janeiro mais de 500 especialistas de diferentes partes do mundo entre os dias 25 e 28 de novembro. 
O estudo, que está avaliando esquemas alternativos de vacinação contra HPV entre 800 meninas no Vietnã, poderá abrir caminho para estratégias compatíveis com a realidade dos países em desenvolvimento, onde ocorrem mais de 80% dos cerca de 500 mil novos casos anuais e das 270 mil mortes relacionadas ao câncer de colo de útero anualmente. “A primeira dose foi aplicada há algumas semanas e vamos apresentar durante o Congresso os primeiros passos deste estudo”, sintetiza a epidemiologista Vivien Tsu, coordenadora do Cervical Cancer Vaccine Project, financiado pela Bill & Melinda Gates Foundation. O atual esquema de vacinação é baseado em três doses, sendo o reforço dado 1 mês e 6 meses depois da primeira dose. Serão testados três esquemas alternativos de vacinação, que terão sua eficácia comparada com o original. Os três esquemas que a serem testados alteram os prazos para aplicação das doses de reforço para 3 e 9 meses, 6 e 12 meses e ainda para 12 e 24 meses, após a primeira dose.
“Este é certamente um dos primeiros estudos clínicos sobre dosagens alternativas de vacinação. Atualmente, um grupo no Canadá está desenvolvendo um esquema com duas doses. No nosso caso, estamos mantendo o esquema de três doses, como os fabricantes recomendam, mas estamos testando novos tempos de intervalo entre as doses”, explica Tsu.
O principal objetivo, segundo a epidemiologista, é ajudar os países em desenvolvimento a gerar informações que lhes permitam decidir quando e como introduzir a nova vacina. “A motivação deste projeto é a constatação de que as vacinas podem demorar muito tempo desde o momento em que foram desenvolvidas até serem incluídas nos calendários de vacinação nos países em desenvolvimento. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a vacina contra hepatite B, que levou de 15 a 20 anos para ser disponibilizada nos países em desenvolvimento. A indústria farmacêutica deu um grande passo ao desenvolver a vacina contra HPV. O objetivo do Cervical Cancer Vaccine Project é acelerar este processo, para que os países pobres possam ter acesso o quanto antes a este produto que pode salvar vidas”, resume, acrescentando que a maior parte das mortes por câncer de colo de útero acontece exatamente nesses países, o que torna ainda mais crítico disponibilizar a vacina nestes contextos. 
“A iniciativa pretende alcançar um consenso entre o quanto os governos podem ser flexíveis no estabelecimento de esquemas de vacinação que, por exemplo, possam ser introduzidos em outros calendários vacinais – o que reduz os custos com infra-estrutura e logística – ao mesmo tempo em que as vacinas mantenham comprovadamente sua eficácia”, aponta Tsu. “O câncer de colo de útero afeta um número desproporcional de mulheres nos países em desenvolvimento por falta de estrutura para exames de rotina. Nesse sentido, a vacinação é uma estratégia para evitar mortes desnecessárias”, afirma. 
Além do Vietnã, onde os trabalhos estão previstos para durar até 2010, também estão sendo desenvolvidas pesquisas na Índia, Peru e Uganda. “O projeto teve início em junho de 2006. Os países participantes foram selecionados em um processo cuidadoso, que incluiu critérios como os índices de incidência de câncer de colo de útero, a performance dos programas nacionais de imunização, os índices de escolaridade primária e o interesse do país em combater esse tipo de câncer. A dimensão populacional também foi importante – descartamos os países com menos de 5 milhões de habitantes”, enumera a pesquisadora. 
A idéia foi definir países em áreas distintas, de forma que cada experiência pudesse ser replicada regionalmente. A escolha da Índia foi inevitável: sozinho, o país concentra 25% de todos os casos de câncer de colo de útero no mundo. “Os resultados obtidos nesses contextos podem dar subsídios a ações em países com semelhanças nas áreas cultural, econômica e de saúde”, resume. A meta é reverter a realidade de ampliação do câncer de colo de útero: se a tendência atual for seguida, em 2050, haverá mais de 1 milhão de novos casos anuais. 
A epidemiologista ressalta que a vacina tem uma importante limitação: apenas é eficaz entre meninas que não tiveram contato com o HPV – que, estima-se, infecta 25% da população mundial. Como a primeira relação sexual vem ocorrendo cada vez mais cedo, este se torna um desafio na imunização. “A vacina não é curativa, ou seja, ela não imuniza contra os tipos de HPV que a mulher já contraiu. Não conhecemos exatamente por quanto tempo a imunidade natural pode durar – a imunidade para os tipos de HPV que foram contraídos anteriormente e que o organismo da mulher conseguiu combater com sucesso. Por isso, não sabemos se a mesma pessoa pode se tornar suscetível ao mesmo tipo do vírus, anos depois. A melhor forma de prevenção, portanto, para os amplos grupos de mulheres que não se enquadram à vacinação, é o acompanhamento ginecológico periódico, para detectar precocemente o câncer de colo de útero, já que em estágios iniciais ele é plenamente tratável e curável”, a pesquisadora recomenda. 
Sobre HPV e o câncer do colo do útero 
O HPV – Papiloma Vírus Humano – é a principal doença sexualmente transmissível da atualidade. Calcula-se que 25% da população mundial está infectada pelo vírus, mesmo sem apresentar qualquer sinal evidente da doença. No Brasil, estima-se que 15% das mulheres entre 18 e 60 anos  estejam infectadas. A incidência sobe para quase 40% quando consideramos a faixa entre 16 e 24 anos. Há uma centena de tipos de HPV, mas a maioria das infecções é causada por apenas quatro deles: os tipos 16 e 18 são responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo de útero, enquanto os tipos 6 e 11 respondem por 90% das verrugas genitais. As vacinas disponíveis no mercado são quadrivalentes contra o HPV, protegendo contra esses quatro tipos do vírus.
O câncer do colo do útero é a terceira neoplasia maligna mais comum entre as mulheres brasileiras, sendo superado pelo câncer de pele (não-melanoma) e pelo câncer de mama. É a quarta causa de morte por câncer em mulheres. Em 2006, foram mais de 19 mil novos casos de câncer do colo do útero.
A principal estratégia utilizada para prevenção em relação ao HPV é o uso de preservativo. Tendo em vista a prevenção do câncer do colo do útero, a detecção precoce da lesão precursora da doença é fundamental, feita através do exame preventivo de rotina, mais especificamente pelo exame Papanicolau, disponível em postos e unidades de saúde. O Papanicolau, que deve ser realizado pelo menos uma vez ao ano, detecta, em 80% dos casos, alterações celulares que podem se transformar em câncer. Se houver lesões em estágios iniciais, o que acontece na maioria dos casos de mulheres que realizam exames periodicamente, a chance de curaé de 100%.

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